Dão-se quotidianamente casos e produzem-se fatos que se não deixam de todo espantados,
conseguem, pelo menos chamar atenção, e um desses casos é o que tratarei de expor a todos
aqueles que se derem ao trabalho de ler esta coluna.
Existem aqui em Pelotas grupos de seres semelhantes a homens que se dizem libertários, livres
de preconceito, inimigos da moral burguesa, revolucionários convictos, anarquistas e muitas
outras coisinhas da mesma categoria, e com este grupo acontece o mesmo que com os
materialistas, quando menos julgam estão sob domínio dos espíritos.
Dizem-se libertários e querem ser, ou já o são, verdadeiros ditadores, não se admitem que se lhes
mostrem os erros , querem ser infalíveis, absolutos, e para tais seres os outros, são, sem exceção
de um só, seres atrasados, sem critérios, homens a quem não se pode confiar coisa nenhuma;
este é que é o primeiro erro, são libertários e querem impor aquilo que eles bem entendem,
quando não podem, fogem, não comparecem às reuniões, com receio de serem desmascarados
na presença de todos.
Dizem-se livres de preconceitos e enfurecem-se, rabiam-se, esperneiam, gritam, berram, dão
guinchos, ficam hidrófobos quando lhes apontam um erro, uma falta cometida.
O pândego é o que grita; os burgueses são uns canalhas, perseguem os trabalhadores, forma
intrigas nos seios operários, difamam os mais conscientes e ativos...
E esse grupo procede da mesma forma; eles criticam, difamam, caluniam, a prova está, clara,
palpável, insofismável, essa prova é o proceder destes seres com os inteligentes camaradas
Zenon de Almeida, Santos Barbosa e ultimamente Alberto Lauro (M. Rita); intrigam-se estes
camaradas com os operários de Pelotas, difamaram os mesmos e agora se descobre que é tudo
inveja, tudo orgulho baixo e mesquinho, tudo pretensão, mal íntimo; e a conclusão que chego é
que estes seres semelhantes que formam este grupo são mais canalhas e porcos que a burguesia;
estes ao menos combatem aos que a prejudicam, o açambarcamento, a exploração, mas estes?
Intrigam, difamam, caluniam os seus próprios amigos, os seus próprios camaradas de idéias,
aqueles que são mais inteligentes do que todos eles juntos.
Há quatro ou cinco anos, todos eles eram anarquistas, por entusiasmo ou vaidade, ou mesmo por
inveja de não poder dominar como atualmente governa a burguesia, mas por convicção; agora já
não mais anarquistas, são maximalistas, são ditadores e dizem-se maximalistas por convicção, já
não são mais anarquistas convictos, são maximalistas.
Um qualquer que fique de parte e julgue estes tais libertários, concluem que são uns idiotas, uns
pobres diabos que o acaso fez com que a organização operária lhes caísse de joelhos, julgando-
se ao lado dos seus amigos, dos seus defensores, sem no entanto investigar, meditar, ver enfim
que são uns infelizes, uns excitados qualquer, mais covarde que qualquer ladrão.
Dizem eles, como todas as coisas, que a derrocada da burguesia se aproxima, mas quem analisar
sem paixões, sem orgulho, sem critério, verá facilmente que em tal passo o que se aproxima é a
derrocada do pouco que fizeram os três companheiros citados acima, será em tal passo mais fácil
a derrocada do maximalismo, da ditadura operária, do que a da burguesia, e daqui destas colunas
digo: a doutrina, o programa maximalista, é sublime, é justo, é aceitável, é racional, mas se é
posto em prática da mesma forma que se propaga, ou melhor, que é propagada por este grupo,
desgraçado do povo russo, infeliz da Rússia que será uma nação de canalhas e malucos, de
patifes, difamadores e intrigantes de tal força.
Se os russos são de tal convicção como estes, maldito seja o maximalismo.
Sou e serei revolucionário, não posso adapatar-me a este ambiente, desejo uma sociedade livre,
como livre é o sol, não é a ditadura que eu quero, eu quero é a anarquia, mas vou afastar-me
daqui em diante da propaganda até que o povo de Pelotas resolva correr a ponta pés, da liga,
todos estes sátrapas.
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