Download PDF
ads:
www.nead.unama.br
Universidade da Amazônia
O Homem que Sabia
Javanês
de Lima Barreto
NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Av. Alcindo Cacela, 287 – Umarizal
CEP: 66060—902
Belém – Pará
Fones: (91) 210—3196 / 210—3181
www.nead.unama.br
1
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
www.nead.unama.br
O Homem que Sabia Javanês
de Lima Barreto
Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro, contava eu as partidas
que havia pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver.
Houve mesmo, uma dada ocasião, quando estive em Manaus, em que fui
obrigado a esconder a minha qualidade de bacharel, para mais confiança obter dos
clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e adivinho. Contava eu isso.
O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas
vivido, até que, em uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a
esmo:
— Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo !
— Só assim se pode viver... Isto de uma ocupação única: sair de casa a
certas horas, voltar a outras, aborrece, não achas? Não sei como me tenho
agüentado lá, no consulado !
— Cansa-se; mas, não é disso que me admiro. O que me admira, é que
tenhas corrido tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático.
— Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de
vida. Imagina tu que eu já fui professor de javanês!
— Quando? Aqui, depois que voltaste do consulado?
— Não; antes. E, por sinal, fui nomeado cônsul por isso.
— Conta lá como foi. Bebes mais cerveja?
— Bebo.
Mandamos buscar mais outra garrafa, enchemos os copos, e continuei:
— Eu tinha chegado havia pouco ao Rio estava literalmente na miséria. Vivia
fugido de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar
dinheiro, quando li no Jornal do Comércio o anuncio seguinte:
"Precisa-se de um professor de língua javanesa. Cartas, etc." Ora, disse cá
comigo, está ali uma colocação que não terá muitos concorrentes; se eu capiscasse
quatro palavras, ia apresentar-me. Saí do café e andei pelas ruas, sempre a
imaginar-me professor de javanês, ganhando dinheiro, andando de bonde e sem
encontros desagradáveis com os "cadáveres". Insensivelmente dirigi-me à Biblioteca
Nacional. Não sabia bem que livro iria pedir; mas, entrei, entreguei o chapéu ao
porteiro, recebi a senha e subi. Na escada, acudiu-me pedir a Grande Encyclopédie,
letra J, a fim de consultar o artigo relativo a Java e a língua javanesa. Dito e feito.
Fiquei sabendo, ao fim de alguns minutos, que Java era uma grande ilha do
arquipélago de Sonda, colônia holandesa, e o javanês, língua aglutinante do grupo
maleo-polinésico, possuía uma literatura digna de nota e escrita em caracteres
derivados do velho alfabeto hindu.
A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos sobre a tal língua malaia e
não tive dúvidas em consultar um deles. Copiei o alfabeto, a sua pronunciação
figurada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e mastigando letras. Na minha
cabeça dançavam hieróglifos; de quando em quando consultava as minhas notas;
2
ads:
www.nead.unama.br
entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia para guardá-los bem na
memória e habituar a mão a escrevê-los.
À noite, quando pude entrar em casa sem ser visto, para evitar indiscretas
perguntas do encarregado, ainda continuei no quarto a engolir o meu "a-b-c" malaio,
e, com tanto afinco levei o propósito que, de manhã, o sabia perfeitamente.
Convenci-me que aquela era a língua mais fácil do mundo e saí; mas não tão cedo
que não me encontrasse com o encarregado dos aluguéis dos cômodos:
— Senhor Castelo, quando salda a sua conta?
Respondi-lhe então eu, com a mais encantadora esperança:
— Breve... Espere um pouco... Tenha paciência... Vou ser nomeado professor
de javanês, e...
Por aí o homem interrompeu-me:
— Que diabo vem a ser isso, Senhor Castelo?
Gostei da diversão e ataquei o patriotismo do homem:
— É uma língua que se fala lá pelas bandas do Timor. Sabe onde é?
Oh! alma ingênua! O homem esqueceu-se da minha dívida e disse-me com
aquele falar forte dos portugueses:
— Eu cá por mim, não sei bem; mas ouvi dizer que são umas terras que
temos lá para os lados de Macau. E o senhor sabe isso, Senhor Castelo?
Animado com esta saída feliz que me deu o javanês, voltei a procurar o
anúncio. Lá estava ele. Resolvi animosamente propor-me ao professorado do idioma
oceânico. Redigi a resposta, passei pelo Jornal e lá deixei a carta. Em seguida, voltei
à biblioteca e continuei os meus estudos de javanês. Não fiz grandes progressos
nesse dia, não sei se por julgar o alfabeto javanês o único saber necessário a um
professor de língua malaia ou se por ter me empenhado mais na bibliografia e
história literária do idioma que ia ensinar.
Ao cabo de dois dias, recebia eu uma carta para ir falar ao doutor Manuel
Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga, à Rua Conde de Bonfim, não me
recordo bem que numero. E preciso não te esqueceres que entrementes continuei
estudando o meu malaio, isto é, o tal javanês. Além do alfabeto, fiquei sabendo o
nome de alguns autores, também perguntar e responder "como está o senhor?" - e
duas ou três regras de gramática, lastrado todo esse saber com vinte palavras do
léxico.
Não imaginas as grandes dificuldades com que lutei, para arranjar os
quatrocentos réis da viagem! É mais fácil - podes ficar certo - aprender o javanês...
Fui a pé. Cheguei suadíssimo; e, Com maternal carinho, as anosas mangueiras, que
se perfilavam em alameda diante da casa do titular, me receberam, me acolheram e
me reconfortaram. Em toda a minha vida, foi o único momento em que cheguei a
sentir a simpatia da natureza...
3
www.nead.unama.br
Era uma casa enorme que parecia estar deserta; estava mal tratada, mas não
sei porque me veio pensar que nesse mau tratamento havia mais desleixo e cansaço
de viver que mesmo pobreza. Devia haver anos que não era pintada. As paredes
descascavam e os beirais do telhado, daquelas telhas vidradas de outros tempos,
estavam desguarnecidos aqui e ali, como dentaduras decadentes ou mal cuidadas.
Olhei um pouco o jardim e vi a pujança vingativa com que a tiririca e o
carrapicho tinham expulsado os tinhorões e as begônias. Os crótons continuavam,
porém, a viver com a sua folhagem de cores mortiças. Bati. Custaram-me a abrir.
Veio, por fim, um antigo preto africano, cujas barbas e cabelo de algodão davam à
sua fisionomia uma aguda impressão de velhice, doçura e sofrimento.
Na sala, havia uma galeria de retratos: arrogantes senhores de barba em
colar se perfilavam enquadrados em imensas molduras douradas, e doces perfis de
senhoras, em bandós, com grandes leques, pareciam querer subir aos ares,
enfunadas pelos redondos vestidos à balão; mas, daquelas velhas coisas, sobre as
quais a poeira punha mais antiguidade e respeito, a que gostei mais de ver foi um
belo jarrão de porcelana da China ou da Índia, como se diz. Aquela pureza da louça,
a sua fragilidade, a ingenuidade do desenho e aquele seu fosco brilho de luar,
diziam-me a mim que aquele objeto tinha sido feito por mãos de criança, a sonhar,
para encanto dos olhos fatigados dos velhos desiludidos...
Esperei um instante o dono da casa. Tardou um pouco. Um tanto trôpego,
com o lenço de alcobaça na mão, tomando veneravelmente o simonte de antanho,
foi cheio de respeito que o vi chegar. Tive vontade de ir-me embora. Mesmo se não
fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar aquele ancião, cuja velhice
trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de augusto, de sagrado. Hesitei,
mas fiquei.
— Eu sou, avancei, o professor de javanês, que o senhor disse precisar.
— Sente-se, respondeu-me o velho. O senhor é daqui, do Rio?
— Não, sou de Canavieiras.
— Como? fez ele. Fale um pouco alto, que sou surdo, — Sou de Canavieiras,
na Bahia, insisti eu. — Onde fez os seus estudos?
— Em São Salvador.
— Em onde aprendeu o javanês? indagou ele, com aquela teimosia peculiar
aos velhos.
Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei uma mentira.
Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de um navio mercante, viera ter à
Bahia, estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras como pescador, casara,
prosperara e fora com ele que aprendi javanês.
— E ele acreditou? E o físico? perguntou meu amigo, que até então me ouvira
calado.
— Não sou, objetei, lá muito diferente de um javanês. Estes meus cabelos
corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o
aspecto de um mestiço de malaio...Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios,
malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e
tipos de fazer inveja ao mundo inteiro.
— Bem, fez o meu amigo, continua.
4
www.nead.unama.br
— O velho, emendei eu, ouviu-me atentamente, considerou demoradamente
o meu físico, pareceu que me julgava de fato filho de malaio e perguntou-me com
doçura:
— Então está disposto a ensinar-me javanês?
— A resposta saiu-me sem querer: — Pois não.
— O senhor há de ficar admirado, aduziu o Barão de Jacuecanga, que eu,
nesta idade, ainda queira aprender qualquer coisa, mas...
— Não tenho que admirar. Têm-se visto exemplos e exemplos muito
fecundos... ?
— O que eu quero, meu caro senhor....
— Castelo, adiantei eu.
— O que eu quero, meu caro Senhor Castelo, é cumprir um juramento de
família. Não sei se o senhor sabe que eu sou neto do Conselheiro Albernaz, aquele
que acompanhou Pedro I, quando abdicou. Voltando de Londres, trouxe para aqui
um livro em língua esquisita, a que tinha grande estimação. Fora um hindu ou
siamês que lho dera, em Londres, em agradecimento a não sei que serviço prestado
por meu avô. Ao morrer meu avô, chamou meu pai e lhe disse: "Filho, tenho este
livro aqui, escrito em javanês. Disse-me quem mo deu que ele evita desgraças e traz
felicidades para quem o tem. Eu não sei nada ao certo. Em todo o caso, guarda-o;
mas, se queres que o fado que me deitou o sábio oriental se cumpra, faze com que
teu filho o entenda, para que sempre a nossa raça seja feliz." Meu pai, continuou o
velho barão, não acreditou muito na história; contudo, guardou o livro. Às portas da
morte, ele mo deu e disse-me o que prometera ao pai. Em começo, pouco caso fiz
da história do livro. Deitei-o a um canto e fabriquei minha vida. Cheguei até a
esquecer-me dele; mas, de uns tempos a esta parte, tenho passado por tanto
desgosto, tantas desgraças têm caído sobre a minha velhice que me lembrei do
talismã da família. Tenho que o ler, que o compreender, se não quero que os meus
últimos dias anunciem o desastre da minha posteridade; e, para entendê-lo, é claro,
que preciso entender o javanês. Eis aí.
Calou-se e notei que os olhos do velho se tinham orvalhado. Enxugou
discretamente os olhos e perguntou-me se queria ver o tal livro. Respondi-lhe que
sim. Chamou o criado, deu-lhe as instruções e explicou-me que perdera todos os
filhos, sobrinhos, só lhe restando uma filha casada, cuja prole, porém, estava
reduzida a um filho, débil de corpo e de saúde frágil e oscilante.
Veio o livro. Era um velho calhamaço, um in-quarto antigo, encadernado em
couro, impresso em grandes letras, em um papel amarelado e grosso. Faltava a
folha do rosto e por isso não se podia ler a data da impressão. Tinha ainda umas
páginas de prefácio, escritas em inglês, onde li que se tratava das histórias do
príncipe Kulanga, escritor javanês de muito mérito.
Logo informei disso o velho barão que, não percebendo que eu tinha chegado
aí pelo inglês, ficou tendo em alta consideração o meu saber malaio. Estive ainda
folheando o cartapácio, à laia de quem sabe magistralmente aquela espécie de
vasconço, até que afinal contratamos as condições de preço e de hora,
comprometendo-me a fazer com que ele lesse o tal alfarrábio antes de um ano.
Dentro em pouco, dava a minha primeira lição, mas o velho não foi tão
diligente quanto eu. Não conseguia aprender a distinguir e a escrever nem sequer
quatro letras. Enfim, com metade do alfabeto levamos um mês e o Senhor Barão de
Jacuecanga não ficou lá muito senhor da matéria: aprendia e desaprendia.
5
www.nead.unama.br
A filha e o genro (penso que até aí nada sabiam da história do livro) vieram a
ter notícias do estudo do velho; não se incomodaram. Acharam graça e julgaram a
coisa boa para distraí-lo.
Mas com o que tu vais ficar assombrado, meu caro Castro, é com a
admiração que o genro ficou tendo pelo professor de javanês. Que coisa Única! Ele
não se cansava de repetir: “É um assombro! Tão moço! Se eu soubesse isso, ah!
onde estava !”
O marido de Dona Maria da Glória (assim se chamava a filha do barão), era
desembargador, homem relacionado e poderoso; mas não se pejava em mostrar
diante de todo o mundo a sua admiração pelo meu javanês. Por outro lado, o barão
estava contentíssimo. Ao fim de dois meses, desistira da aprendizagem e pedira-me
que lhe traduzisse, um dia sim outro não, um trecho do livro encantado. Bastava
entendê-lo, disse-me ele; nada se opunha que outrem o traduzisse e ele ouvisse.
Assim evitava a fadiga do estudo e cumpria o encargo.
Sabes bem que até hoje nada sei de javanês, mas compus umas histórias
bem tolas e impingi-as ao velhote como sendo do crônicon. Como ele ouvia aquelas
bobagens !...
Ficava extático, como se estivesse a ouvir palavras de um anjo. E eu crescia
aos seus olhos !
Fez-me morar em sua casa, enchia-me de presentes, aumentava-me o
ordenado. Passava, enfim, uma vida regalada.
Contribuiu muito para isso o fato de vir ele a receber uma herança de um seu
parente esquecido que vivia em Portugal. O bom velho atribuiu a cousa ao meu
javanês; e eu estive quase a crê-lo também.
Fui perdendo os remorsos; mas, em todo o caso, sempre tive medo que me
aparecesse pela frente alguém que soubesse o tal patuá malaio. E esse meu temor
foi grande, quando o doce barão me mandou com uma carta ao Visconde de Caruru,
para que me fizesse entrar na diplomacia. Fiz-lhe todas as objeções: a minha
fealdade, a falta de elegância, o meu aspecto tagalo. — "Qual! retrucava ele. Vá,
menino; você sabe javanês!" Fui. Mandou-me o visconde para a Secretaria dos
Estrangeiros com diversas recomendações. Foi um sucesso.
O diretor chamou os chefes de seção: "Vejam só, um homem que sabe
javanês — que portento!"
Os chefes de seção levaram-me aos oficiais e amanuenses e houve um
destes que me olhou mais com ódio do que com inveja ou admiração. E todos
diziam: "Então sabe javanês? É difícil? Não há quem o saiba aqui!"
O tal amanuense, que me olhou com ódio, acudiu então: "É verdade, mas eu
sei canaque. O senhor sabe?" Disse-lhe que não e fui à presença do ministro.
A alta autoridade levantou-se, pôs as mãos às cadeiras, concertou o pince-
nez no nariz e perguntou: "Então, sabe javanês?" Respondi-lhe que sim; e, à sua
pergunta onde o tinha aprendido, contei-lhe a história do tal pai javanês. "Bem,
disse-me o ministro, o senhor não deve ir para a diplomacia; o seu físico não se
presta... O bom seria um consulado na Ásia ou Oceania. Por ora, não há vaga, mas
vou fazer uma reforma e o senhor entrará. De hoje em diante, porém, fica adido ao
meu ministério e quero que, para o ano, parta para Bale, onde vai representar o
Brasil no Congresso de Lingüística. Estude, leia o Hovelacque, o Max Müller, e
outros!"
Imagina tu que eu até aí nada sabia de javanês, mas estava empregado e iria
representar o Brasil em um congresso de sábios.
6
www.nead.unama.br
O velho barão veio a morrer, passou o livro ao genro para que o fizesse
chegar ao neto, quando tivesse a idade conveniente e fez-me uma deixa no
testamento.
Pus-me com afã no estudo das línguas maleo-polinésicas; mas não havia
meio!
Bem jantado, bem vestido, bem dormido, não tinha energia necessária para
fazer entrar na cachola aquelas coisas esquisitas. Comprei livros, assinei revistas:
Revue Anthropologique et Linguistique, Proceedings of the English-Oceanic
Association, Archivo Glottologico Italiano, o diabo, mas nada! E a minha fama
crescia. Na rua, os informados apontavam-me, dizendo aos outros: "Lá vai o sujeito
que sabe javanês." Nas livrarias, os gramáticos consultavam-me sobre a colocação
dos pronomes no tal jargão das ilhas de Sonda. Recebia cartas dos eruditos do
interior, os jornais citavam o meu saber e recusei aceitar uma turma de alunos
sequiosos de entenderem o tal javanês. A convite da redação, escrevi, no Jornal do
Comércio um artigo de quatro colunas sobre a literatura javanesa antiga e
moderna...
— Como, se tu nada sabias? interrompeu-me o atento Castro.
— Muito simplesmente: primeiramente, descrevi a ilha de Java, com o auxílio
de dicionários e umas poucas de geografias, e depois citei a mais não poder.
— E nunca duvidaram? perguntou-me ainda o meu amigo.
— Nunca. Isto é, uma vez quase fico perdido. A polícia prendeu um sujeito,
um marujo, um tipo bronzeado que só falava uma língua esquisita. Chamaram
diversos intérpretes, ninguém o entendia. Fui também chamado, com todos os
respeitos que a minha sabedoria merecia, naturalmente. Demorei-me em ir, mas fui
afinal. O homem já estava solto, graças à intervenção do cônsul holandês, a quem
ele se fez compreender com meia dúzia de palavras holandesas. E o tal marujo era
javanês — uf!
Chegou, enfim, a época do congresso, e lá fui para a Europa. Que delícia!
Assisti à inauguração e às sessões preparatórias. Inscreveram-me na seção do tupi-
guarani e eu abalei para Paris. Antes, porém, fiz publicar no Mensageiro de Bale o
meu retrato, notas biográficas e bibliográficas. Quando voltei, o presidente pediu-me
desculpas por me ter dado aquela seção; não conhecia os meus trabalhos e julgara
que, por ser eu americano brasileiro, me estava naturalmente indicada a seção do
tupi- guarani. Aceitei as explicações e até hoje ainda não pude escrever as minhas
obras sobre o javanês, para lhe mandar, conforme prometi.
Acabado o congresso, fiz publicar extratos do artigo do Mensageiro de Bale,
em Berlim, em Turim e Paris, onde os leitores de minhas obras me ofereceram um
banquete, presidido pelo Senador Gorot. Custou-me toda essa brincadeira, inclusive
o banquete que me foi oferecido, cerca de dez mil francos, quase toda a herança do
crédulo e bom Barão de Jacuecanga.
Não perdi meu tempo nem meu dinheiro. Passei a ser uma glória nacional e,
ao saltar no cais Pharoux, recebi uma ovação de todas as classes sociais e o
presidente da república, dias depois, convidava-me para almoçar em sua
companhia.
Dentro de seis meses fui despachado cônsul em Havana, onde estive seis
anos e para onde voltarei, a fim de aperfeiçoar os meus estudos das línguas da
Malaia, Melanésia e Polinésia.
7
www.nead.unama.br
8
— É fantástico, observou Castro, agarrando o copo de cerveja.
— Olha: se não fosse estar contente, sabes que ia ser ?
— Que?
— Bacteriologista eminente. Vamos?
— Vamos.
Gazeta da Tarde, Rio.28-4-l9ll.
Fim
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo