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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Cláudia de Paiva Fragomeni
A QUESTÃO AMBIENTAL:
UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-JURÍDICA
(NORTE DO RIO GRANDE DO SUL)
Passo Fundo
2005
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Cláudia de Paiva Fragomeni
A QUESTÃO AMBIENTAL:
UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-JURÍDICA
(NORTE DO RIO GRANDE DO SUL)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Hisria, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade de Passo Fundo como requisito parcial e final para
obtenção do grau de mestre em História, sob orientação do Prof.
Dr. Astor Antônio Diehl.
Passo Fundo
2005
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Consciente da distância que se abre e em tão pequeno
espaço, a família (Juliano, Angélica, Luiz Felipe e...) acompanha,
curiosa, atenciosa, o trabalho que se desenvolve na composição de
uma dissertação. Nem reclama a ausência nos feriados, fins de
semana, nas horas menos prováveis, porque se acostuma a esperar,
afinal, o ciclo ler, estudar, escrever, revisar, pesquisar ... – um dia
vai acabar. E, quando chegar ao final, sabe, mesmo que guarde
apenas no coração, que sua compreensão, seu silêncio, seu apoio,
estão em cada capítulo que a ela aqui dedico.
Entendo que agradecer é uma etapa que se processou na
minha memória, no momento em que quis, de alguma forma,
explicitar o reconhecimento a pessoas e instituições que
socializaram os seus saberes ou estenderam o seu apoio durante a
realização desta pesquisa. São muitas, e por isso talvez eu não
consiga identificar a todas, todavia as guardarei no recanto da
sensibilidade que se expande em meu coração. Agradeço a: UPF,
Direção e Coordenação da Faculdade de Direito, Arquivo Histórico
Regional, Gesp, Gegv, Prana, Psiu, Ibama, Smam, Ministério
Público, Jornal “O Nacional”, Jornal Diário da Manhã”, Rádio
Diário da Manhã” AM, Rádio Uirapuru AM. Agradeço, em
especial, a dedicação, paciência e apoio do Prof. Dr. Astor Antônio
Diehl, que com sua competente orientação estimulou a realização
da pesquisa.
Tanto amor perdido no mundo
Verdadeira selva de enganos
A visão cruel e deserta
De um futuro de poucos anos
Sangue verde derramado
O solo manchado
Feridas na Selva
A lei do machado
Avalanches de desatinos
Numa ambição desmedida
Absurdos contra os destinos
De tantas fontes de vida
Quanta falta de juízo
Tolices fatais
Quem desmata, mata
Não sabe o que faz
[...] Todos os gigantes tombados
Deram suas folhas ao vento
Folhas são bilhetes deixados
Aos homens do nosso tempo
Quantos anjos queridos
Guerreiros de fato
De morte feridos
Caídos no mato.
(Autor desconhecido – gravação Roberto Carlos – 2004)
RESUMO
O tema desta dissertação traz uma abordagem sobre o meio ambiente,
especialmente na região Norte do estado do Rio Grande do Sul, em termos históricos,
considerando a importância da relação sócio-histórica com outras áreas das humanidades
como a pedagogia, antropologia, geologia, biologia, química, sica, paleontologia, direito,
economia. Essas ciências, que caminham juntas na consciência ambiental e residem na
hisria dos homens, procuram oferecer respostas à sociedade e à comunidade científica
por meio de institutos jurídicos que surgiram para acompanhar e tutelar as situações e
circunstâncias atinentes ao desenvolvimento social. A pesquisa foi instrumentalizada pelo
conceito qualitativo; o método de estudo caracterizou-se como dialético e as informações
foram expostas na ordem cronológica decrescente. A estrutura capitular está organizada em
três etapas correspondentes aos capítulos: I, no qual aborda alguns aspectos relacionais da
questão ambiental na história e no direito; II, onde a temática adentra pela busca de
conhecimentos sobre a consciência preservacionista e sua evolução pela cultura da
necessidade; III, momento que apresenta os resultados da coleta de dados qualitativos junto
a instituições que objetivam o resguardo da natureza. O estudo conclui que ONGs e INGs
da região Norte do estado trabalham no sentido de conscientizar a humanidade sobre o
significado da ação predaria do homem sobre a natureza pela equivocada relação do
progresso com ações destrutivas das matas, disseminação dos agentes poluidores, alteração
do curso dos rios, alterações climáticas, e mau uso dos recursos naturais.
Palavras – chave: meio ambiente, conscientização, direito, legislações, história.
ABSTRACT
The subject of this dissertation brings a boarding on the half environment,
especially in the region North of the Rio Grande do Sul, in historical terms, considering the
importance of the partner-historical relation with other areas of the humanities as the
pedagogy, anthropology, geology, biology, chemistry, physics, paleontology, right,
economy. These sciences, that walk together in the ambient conscience and inhabit in the
history of the men, look for to offer answers to the society and the scientific community,
through the legal justice codes that had appeared to follow and to tutor the situations and
circumstances to the social development. The research was instrumentalist by the
qualitative concept; the study method was characterized as dialectic and the
systematization of the information had been displayed in the decreasing chronological
order. The structure to capitulate was organized by three corresponding stages to the
chapters: in the I chapter some relation aspects of the ambient question in history and the
right had been boarded; in II the chapter the thematic on for the search of knowledge on
the preservationist conscience and its evolution for the culture of the necessity; in III the
chapter one presents the results of the collection of qualitative data together the institutions
that objectify the defense of the nature. It was observed, in this last topic, that ONGs and
INGs, of the region North of the State work in the direction to acquire knowledge on the
meaning of the predatory action of the man on the nature and the make a mistake relation
of the progress with destructive actions of the bushes, of the dissemination of the polluting
agents, the alteration of the course of the rivers, of the climatic alterations, the bad use of
the natural resources.
Keywords: half environment, conscience, right, legislators, history.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
- AHR – Arquivo Histórico Regional
- APA – Área de Preservação Ambiental
- ARIE – Área de Relevante Interesse Ecológico
- ATPF – Autorização para Transporte de Produtos Florestais
- BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento
- Cetap – Centro de Tecnologias Alternativas Populares
- CMF – Conselho Nacional Florestal
- CNBBConselho Nacional dos Bispos do Brasil
- CND – Certidão Negativa de Débito
- CNE – Conselho Nacional de Educação
- ConsemaConselho Nacional do Meio Ambiente
- Corsan – Companhia Riograndense de Saneamento
- Defap – Departamento de Florestas e Áreas Protegidas
- ETE – Estação de tratamento de esgotos
- Gegv – Grupo Ecológico Guadiões da Vida
- Gesp/AT – Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas/Amigos da Terra
- IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
- Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
- IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
- IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- ING – Individuo Não Governamental
- Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
- LPA – Licença de Pesca Amadora
- LPU – Licença de Porte e Uso de moto-serras
- MDLMecanismo de Desenvolvimento Limpo
- MMA – Ministério do Meio Ambiente
- OMS – Organização Mundial da Saúde
- ONG – Organização Não Governamental
- ONU – Organização das Nações Unidas
- Oscip – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
- PIN – Programa de Interação Nacional
- PNADPesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
- Pnuma – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
- Prana – Associação Ambientalista
- Probio – Programa Nacional de Conservação da Diversidade Biológica Brasileira
- Psiu – Parceiros do Silêncio Urbano
- RPPN – Reservas Participação do Patrimônio Nacional
- SemaSecretaria Estadual do Meio Ambiente
- Sisnama – Sistema Nacional do Meio Ambiente
- SMAM – Secretaria Municipal do Meio Ambiente
- Uinc – União Mundial para a Natureza
- Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
- UPF – Universidade de Passo Fundo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 13
1 ASPECTOS RELACIONAIS DA QUESTÃO AMBIENTAL NA
HISTÓRIA E NO DIREITO: LEGISLAÇÃO DE HOJE PARA O
PASSADO...........................................................................................................
24
1.1 O direito, a história e as demais ciências humanas............................ 26
1.2 História nacional e regional, relação espaço temporal, escala de
análise e valoração...................................................................................
31
1.3 Medidas ambientais adotadas pela Constituição Federal de 1988:
ambiente como direito do homem, competências, obrigatoriedade da
recuperação do meio degradado...............................................................
39
1.4 Lei dos Crimes Ambientais Lei 9605/98 - a criminalização das
condutas e a aplicabilidade da lei: o perfil do agente ativo do crime
ambiental e a reprovação social...............................................................
44
1.4.1 O crime ambiental e a prática da
necessidade...................................................................................
46
1.4.2 O perfil do agente ativo do crime ambiental e a
reprovação social..........................................................................
49
1.4.3 O histórico da impunidade pelo descrédito da
justiça............................................................................................
57
1.5 A primeira Lei de Terras no Brasil lei 601/1850............................ 59
2 A ECLOSÃO DA CONSCIÊNCIA PRESERVACIONISTA E SUA
EVOLUÇÃO PELA CULTURA DA NECESSIDADE......................................
65
2.1 A questão ambiental da história ao momento atual............................
70
2.1.1 Do desmatamento................................................................ 70
2.1.2 Outros danos ambientais......................................................
78
2.2 Ambientalista cético: outras verdades, críticas e justificativas.......... 85
2.3 Biodiversidade e biotecnologia: a interferência do homem na
natureza. O enfrentamento religioso e o direito à saúde..........................
90
2.4 Característica ambiental do Estado e as políticas protetivas
implementadas e em desenvolvimento.....................................................
96
2.5 Passo Fundo: delimitação territorial e espacial. Reflexos na
qualidade ambiental..................................................................................
101
2.5.1 Equação território, população e saneamento básico............ 101
2.5.2 A história do problema ambiental do rio Passo Fundo: a
ponte como marco inicial do progresso e da desestabilização
natural, fauna e flora aquática......................................................
106
2.6 A prática do desmatamento e a influência no progresso da região:
Notícias pelo jornal O Nacional desde 1927............................................
109
3 AS PROPOSTAS E AÇÕES DE CARÁTER NACIONAL E GLOBAL........ 115
3.1 Organizações não governamentais: a inflncia do terceiro setor
brasileiro no despertar dos movimentos ecológicos.................................
122
3.2 Dos grupos de pressão: ONGs e INGs em Passo Fundo.................... 126
3.2.1 Centro de Tecnologias Alternativas Populares....................
127
3.2.2. Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas – Amigos da
Terra.............................................................................................
129
3.2.3. Grupo Ecológico Guardiões da Vida.................................. 130
3.2.4. Prana - Associação Ambientalista...................................... 131
3.2.5. Parceiros do Silêncio Urbano ............................................ 133
3.3 Entidades públicas.............................................................................. 133
3.3.1. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente............................... 134
3.3.2 Secretaria Municipal De Meio Ambiente............................ 136
3.3.3 Ministério Público do Estado do Rio Grande Do Sul - 1ª
Promotoria De Justa Especializada............................................
137
3.4 Programas rádios/Tv’s/jornais........................................................... 138
3.4.1 Rádio Uirapurú e o Programa Uirapurú Ecologia.............. 140
3.4.2 Rádio Diário da Manhã – Por falar em ecologia................ 141
3.3.3 Jornal Via Eco......................................................................
141
3.3.4 Campanhas publicitárias e de conscientização.................... 146
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 146
REFERÊNCIAS................................................................................................... 155
INTRODUÇÃO
Não vemos, efetivamente, que necessidade haveria de se proibir o que
ninguém deseja realizar. Aquilo que se acha severamente proibido tem
que ser objeto de um desejo.
Freud
O presente estudo tem como propósito fazer uma retrospectiva histórica sobre a
questão ambiental da região Norte do Rio Grande do Sul, abrangendo o contexto social no
período de 1930 a 2004. Torna-se pertinente descrever as práticas e condutas do período
em estudo no concernente ao meio natural e sua conservação, destacando a subordinação
da sociedade ao poder do Estado. A problemática consiste em localizar os dilemas,
transformações e evoluções que envolveram queses ambientais no processo de
modernização, bem como a contrapartida através da conscientização dos cidadãos sobre a
matéria, o meio natural e sua conservação.
Objetiva-se, sobretudo, elucidar a evolução histórica da consciência sobre a
preservação do ambiente para os homens socialmente construídos, que serão diretamente
beneficiados com a análise, uma vez que, buscando no passado, têm-se condições
infinitamente melhores de se fazer uma previsão dos resultados subjetivos para sua
contextualização em todas as áreas do conhecimento. Ao mesmo tempo, faz-se uma análise
do surgimento dos regramentos, da aplicação das leis, dos modos de proteção do meio
ambiente e da atuação do Estado na violação e agressão da natureza na forma geral.
Contemplam-se ainda, os dispositivos legais existentes na época e a evolução dos
regulamentos jurídicos.
O problema ambiental e suas interferências como norteador do estudo é relevante
no contexto da ciência do direito e da história, por isso é tratado em conjunto neste
trabalho, além de se apresentar como inédito nos termos que se propõe, Não se tem
conhecimento de estudo desenvolvido segundo esta proposta que contemple a retrospectiva
14
hisrica da questão ambiental no contexto social com enfoque na região Norte do Rio
Grande do Sul.
Justifica-se a relevância do tema pela importância sócio-histórica e pela atualidade
do objeto da pesquisa, considerando a interação direta entre a história e a modernidade,
posto que uma inexiste sem a outra. Acredita-se ser importante pesquisar a evolução do
homem como agente, ao mesmo tempo, de destruição e de preservação da natureza; a sua
consciência e os modos de que o Estado se utiliza para inibir os agentes sociais “nocivos”;
os reflexos e a reprovação comunitária das ações. As comunidades, historicamente, vivem
em função do ambiente natural em que estão inseridas, cujas transformações resultaram em
outras riquezas, mas também trouxeram conseqüências que, ao serem constatadas,
despertam para a conscientização da necessidade de reconstrução e preservação, ignoradas
em momento anterior.
Para Diehl, uma relação característica de autoridade e dominação entre o Estado
e o povo, representada por um corpo administrativo cuja autoridade se baseia na crença ou
na legitimidade, elementos fundamentais para a estabilidade da relação de autoridade que é
materializada pela prática de ordens dadas e que devem ser, invariavelmente, obedecidas
1
.
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa, sobre uma temática que é
uma preocupação social, realizada através de uma reflexão crítico-analítica chancelada
pelo método dialético, o qual, para Diehl e Paim, “fundamenta-se na dialética proposta por
Hegel, na qual as contradições se transcendem dando origem a novas contradições, que
passam a requerer solução”
2
. Buscaram-se na literatura disponível os momentos históricos
de 1930/2004 e a coleta de informações pertinentes ao tema junto a instituições
prevencionistas. Como fonte documental, foram utilizados documentos legais, artigos e
publicações periódicas. Os resultados fornecem um conjunto de conhecimentos da área em
estudo, representando um avanço no campo histórico-jurídico, mas, sobremaneira, no
campo potico-social. Tanto o material bibliográfico como documental ou os resultados de
entrevista foram analisados, especialmente os casos concretos, bem como os diversos
entendimentos doutririos e jurisprudenciais, com o intuito de se chegar ao conhecimento
hisrico da teoria e da prática desenvolvida no período em estudo. Trata-se, portanto, de
uma pesquisa de teor histórico e jurídico.
1
DIEHL, Astor Antônio. A cultura historiográfica brasileira: década de 1930 aos anos 1970. Passo Fundo:
UPF, 1999. p. 104.
2
DIEHL, Antônio Astor; PAIM, Denise Carvalho. Metodologia e técnica de pesquisa em ciências sociais
aplicadas. Passo Fundo: Clio, 2002.
15
Atualmente, observa-se uma revolução na pesquisa histórica, que passa a abranger
o estudo do movimento e das mudaas das sociedades humanas, das mentalidades, dos
discursos, das representações, pela combinação de história de eventos com a de estruturas,
isto é, uma história de longa duração, das práticas cotidianas, do imaginário social,
segundo a tradição iniciada pela Escola de Annales, onde o risco repousa na plausibilidade
da narrativa histórica. Foi com o advento da Escola de Annales que se construíram novos
horizontes para a pesquisa historiográfica. Segundo Le Goff:
[...] a crítica da noção de fato histórico tem, além disso, provocado o
reconhecimento de ‘realidades’ históricas negligenciadas por muito tempo pelos
historiadores..., junto a História política e econômica nasceu a história social, à
história cultural e das representações..., ainda a história do imaginário que
permite tratar o documento literário e artístico como documentos históricos de
pleno direito [...].
3
A história nova trouxe novas perspectivas para pesquisa historiográfica, ampliando
significativamente o foco para a análise do historiador, como define Le Goff com os novos
objetos, as novas abordagens e os novos problemas
4
. Com a história nova, a pesquisa volta
seu olhar para os lugares, as comunidades e os sujeitos até então ocultos nas grandes
análises, trazendo-os ao centro da historiografia.
Cada um dos sentidos humanos conta com seu próprio corpo de entidades
discriminadas, conhecidas quando relacionadas a elementos não discriminados por tal
sentido. Whitehead diz que as pessoas detêm um sentido geral das relações espaciais entre
a entidade revelada pela visão e a entidade revelada pelo tato.
5
Considera-se que cada uma
dessas entidades é conhecida como um termo relacional num sistema geral de relações
espaciais e, também, com determinada relação mútua particular dessas entidades enquanto
mutuamente contextualizadas nesse sistema geral. Segundo o autor:
a natureza é aquilo que observamos pela percepção obtida através dos sentidos.
Nessa percepção sensível, estamos nscios de algo que não é pensamento e que
é contido em si mesmo com relação ao pensamento. Essa propriedade de ser
auto-contido com relação ao pensamento está na base da ciência natural.
Significa que a natureza pode ser concebida como um sistema fechado cujas
relações mútuas prescindem da expressão do fato e do que se pensa acerca das
mesmas
6
.
3
LE GOFF, Jacques. História e memória. 2. ed. Campinas: Unicamp, 1992. p. 11.
4
Idem.
5
WHITEHEAD, Alfred North. O conceito de natureza. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 63.
6
Ibid., p. 9.
16
Para Whithehead, como visto na citação acima, as relações espaciais da coisa vista
teriam necessitado de uma entidade, enquanto termo relacional, no lugar da coisa tocada,
ainda que certos elementos de seu caráter o houvessem sido revelados pelo tato. Assim,
à parte o tato, uma entidade dotada de determinada relação específica com a coisa vista
teria sido revelada na apreensão sensível, mas não discriminada sob outros aspectos com
respeito a seu caráter individual.
Dessa forma, analisar as tendências trico-metodológicas atuais da história é
possível por meio das várias fontes existentes, muitas delas conhecidas. Para este
trabalho, foram utilizados vários tipos de fonte, especialmente a legislação atual e antiga,
processos arquivados, matérias noticiadas pelos meios de comunicação e outras. Traz-se
para a discussão a riqueza de dados e a constatação da influência e da
transdisciplinariedade da problemática ambiental enquanto resultados e reflexos
econômicos e sociais no processo transtemporal.
Foi selecionado, dentro da linha de pesquisa proposta, um determinado contexto
territorial e temporal para a averiguação de semelhanças e diferenças dos processos
protetivos, de pressão e dos comportamentos em face da regulação da questão. A evolução
da temática no contexto atual não se configura em preocupação exclusiva da hisria ou do
direito, mas é grande preocupação interdisciplinar, que persegue todos os ramos científicos
do conhecimento nas mais diversas áreas.
Umberto Eco questiona acerca da opção por temas antigos ou contemporâneos,
dizendo que enfrentar essa questão é como reavivar a antiga querelle des anciens et des
modernes [...]”. Afirma que o problema inexiste para algumas disciplinas, mas estudar
autores contemporâneos é sempre mais difícil, entretanto aconselha: “Trabalhe sobre um
contemporâneo como se fosse um antigo, e vice-versa”.
7
Para Diehl, a categoria vida é entendida, em termos elementares, como
produtividade. A vida produz, dá existência, faz aparecer o que não existia, enfim, realiza e
realiza-se, historiciza-se. O novo projetado a partir da vida não necessariamente repõe
regularidades ou, mesmo, atualiza leis existentes. É típico da vida, também na sua
dimensão cotidiana, realizar a diferença, o singular, o novo no sentido radical; também
significa regularidade, como ocorre no próprio processo de modernização, o que pode dar
lugar à vivência e à experiência, ampliadas pelo acaso através da contingência.
8
7
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 18. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. p. 13-14.
8
DIEHL, Antônio Astor; PAIM, Denise Carvalho, op. cit., 2002. p. 70-71.
17
Conforme os vários enfoques das ciências, existem as teorias sobre o surgimento da
vida e do meio ambiente, entendidas como amplo conjunto de conhecimentos que contêm
fatos comprovados cientificamente, algumas hipóteses em fase de verificação e algumas
especulações acerca das interações dos sistemas que ditam o ritmo da evolução do meio
ambiente terrestre.
Giddens, um dos sociólogos mais respeitados na atualidade por suas convicções
políticas e suas obras, defensor da “alta-modernidade”, traz nas suas obras uma nota
provocativa acerca da interpretação das transformações sociais decorrentes da
modernidade. Argumenta que ainda não se alcançou a pós-modernidade, mas que já se está
a caminho da anunciada mudança para uma forma altamente reflexiva de vida, na qual as
práticas sociais são constantemente observadas e modificadas pelas informações recebidas,
alterando, assim, seu caráter, seu ritmo e o alcance da transformação social, sem prejuízo
dos reflexos nas instituições modernas, que ganham novas formas, novos valores e
contextos sociais.
9
Assevera o autor que é impossível separar a constituão das sociedades modernas,
sem considerar a globalização e os riscos que implica, quer para o indivíduo, quer para a
coletividade. A reflexão de Giddens está centrada no sujeito (eu) e nos mecanismos de
auto-identidade, que são constituídos pelos conceitos da modernidade, determinados por
influências exógenas capazes de forjar ações e de influenciar o indivíduo, ser social,
trazendo implicações e conseqüências para o conjunto social.
10
Assim, esta investigação procura realizar o estudo histórico da evolução do homem
enquanto agente na sua trajetória temporal e espacial, onde se incluem os controles do
corpo e da mente (volitivos ou instintivos) pela necessidade de construir um padrão ideal e
aceitável, considerados os riscos em contraponto da segurança das mudanças no mundo
globalizado, que conectam comunidades e organizações em novas combinações políticas,
culturais, sociais. Essas ligações entre nações podem provocar a desintegração das
identidades nacionais ou reforçá-las para resistência das idéias impingidas pelo processo
globalizante, além do nascimento de novas identidades hibridizadas pelo intercâmbio dos
rios elementos em fluxo, que o tomando espaço e os meios de representação.
9
Anthony Giddens é desde 1996, reitor do London School of Economics and Political Science (LSE),
membro do King’s College e professor de sociologia da Universidade de Cambridge. Entre seus trabalhos
mais recentes, contam-se The Constitution of Society (1984), The Nation-State and Violence (1985) e
Sociology (1989).
10
GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. p. 198.
18
Desses elementos da composição social se subtrai que, ao mesmo tempo em que
destruição e preservação da natureza, a consciência e os modos de que o Estado se utiliza
para inibir os agentes sociais “nocivos”, os reflexos e a reprovação social e legal das ações
humanas, vêm acompanhadas de perturbações e ansiedades generalizadas, impondo novas
identidades para as novas perspectivas da potica das decisões da vida.
Neste momento histórico urgem uma moralização da vida social e uma nova
conceituação e delimitação de espaço para as instituões da modernidade, dos conceitos,
para definir a complexidade dos mecanismos que separam o moderno do pré-moderno,
com reflexões que perpassam pelo social, pelas relações interpessoais, intelectuais e o
institucional desta organização social.
A função redentora da política no sentido de que se adequaria ao curso da história,
na qual quem avança seria considerado progressista e quem resiste aos impulsos do
progresso seria considerado reacionário, não mais se sustenta. A ideologia marxista ou a
religião, que teorizavam a compensação dos sacrifícios no futuro, não têm mais o condão
de exortar do mundo as coisas negativas, como a doença, a morte, a ignorância. O
processo de modernização traz transformações concretas e objetivas, numa dinâmica
processual que rompe com o passado, de modo que o estado de glória a ser atingido é a
evolução e quer-se chegar no “futuro” do presente.
11
Marschall Berman refere-se a uma experiência de tempo e espaço, de si e dos
outros, das possibilidades e dos perigos que denomina “vital-experiência”. Diz que ser
moderno é
encontrarmo-nos em um meio ambiente que nos promete aventuras, poder,
alegria, crescimento, transformação de nós mesmos e do mundo e, que ao
mesmo tempo, ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que conhecemos, tudo o
que somos. Ambientes e experiências modernas atravessam todas as fronteiras de
geografia e de etnias, de classe e de nacionalidade, de religião e ideologia: neste
sentido, pode-se dizer que a modernidade une todo o gênero humano. Mas é uma
unidade paradoxal, uma unidade desunida: envolve-se a todos num redemoinho
de desintegração e renovação, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia.
12
Conforme Remo Bodei, o passado é fundamentalismo. Ao mesmo tempo que
contesta o poder vertical do Estado, o autor reconhece que as “luzes” do iluminismo são
importantes, contudo, com o avanço da civilização, sempre se perde algo, porque o triunfo
da razão coincide com o enfraquecimento das paixões e dos instintos e traz a conseqüente
11
BODEI, Remo. A história tem um sentido?. São Paulo: Edusc, 2001. p. 15.
12
BERMAN Marschall. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Cia das Letras, 1988. p. 15.
19
perda da identidade. Na sua proposição de uma razão conjectural, Bodei inspira-se em
Condorcet para afirmar que as ações não são relativas ao passado, mas ao futuro,
demonstrando como vantagem que o historiador deixa de fazer profecias ou de inventar o
futuro. Como desvantagem menciona a total relativização da história, visto que tudo se
torna domínio do acaso
13
.
Refere Bodei que o sentido da história
[...] não é, portanto dado por quem comanda, por quem tem condição de
reconduzir as diferenças à unidade, mas pela polifonia, pela pluralidade de
significados que provém da soma das contribuições anônimas que cada povo é
capaz de trazer para as vicissitudes do mundo.
14
Bodei salienta ainda que racionalidade e sentido na história se permitir que
cada um exprima a própria natureza, porquanto coexistem a nação e a humanidade, ou
melhor, cresce e enriquece pelo intercâmbio recíproco. A imprevisibilidade da hisria é o
preço a ser pago por todas as passagens e transformações provocadas, desde a ação
individual até a coletiva, com todas as suas formas e interações. O autor cita Kant e Hegel,
que raciocinaram focalizando a idéia da heterogênese dos fins, ou seja, da involuntária
metamorfose que os objetivos de cada homem sofre quando suas ações ultrapassam as
inteões individuais, apresentando reflexos no conjunto da humanidade.
Não obrigatoriamente serão nefastos os efeitos uma vez que a história recicla as
ações malignas dos homens em função da utilidade coletiva. milênios a humanidade
existe, assim como milhões de anos o homem habita o planeta desde eras não históricas.
No entanto, a preocupação com o meio ambiente relacionada à sobrevivência da espécie
o é um fenômeno da Idade Contemporânea, porquanto é observada nos vários povos da
Antiguidade.
A normatização, as instituições e a estrutura social da condição de mundo sensato,
assim como tudo que foi transformado pela intervenção humana, são resultados das ações
dos nossos semelhantes em tempos e locais diferentes, com intensidade e extensão distinta;
são eventos hisricos, munidos de uma lógica do preterintencional
15
que dita o fio
condutor das idéias reguladoras da história para a sua compreensão.
Hegel é categórico ao defender que a história não se explica pelas intenções
conscientes dos homens, mas, sim, mediante as suas paixões e os seus interesses. Afirma
13
BERMAN, op. cit., p. 27.
14
BODEI, op. cit., p. 17.
15
Prática de um resultado maior do que o pretendido pelo agente.
20
que “as paixões são o verdadeiro motor da História” e traz a relação estabelecida pelo
homem com a natureza como a conciliação entre mecanismo e finalismo da natureza, tal
qual é tematizado na Crítica do Juízo, localizando como iia-cerne o trabalho humano,
que une os dois aspectos:
[...] consiste em utilizar, para finalidades estabelecidas pelos homens, forças
mecânicas naturais privadas de qualquer finalidade nos confrontos do homem. É
o homem que se apropria de tais forças e as submete a sua finalidade, colocando-
as em contraste umas com as outras. Utiliza assim a energia da água de uma
torrente para fazer girar as s de um moinho, de modo a acionar o moedor que
tritura o trigo e o transforma em farinha.
16
Whitehead, citando Schelling, esclarece que
[...] o sujeito-objeto denominado natureza em sua atividade de autoconstrução.
Para compreender isto devemos nos alçar a uma intuição intelectual da natureza.
O empirista não se alça a essa altura e, por essa razão, em todas as suas
explicações é sempre ele próprio que se revela a construir a natureza. Não
admira, pois, que sua construção e aquilo que deveria ser construído tão
raramente coincidam. Um Natur-philosoph alça a natureza à condição de
independência, faz que com construa a si própria e jamais é acometido, portanto,
pela necessidade de contrapor a natureza tal como é construída (i.e., como
experiência) à natureza real ou de corrigir a primeira por intermédio da
segunda.
17
A relação do espaço com o tempo estabelece o movimento e todas as mutações dos
rios elementos que compõem a natureza.
18
A possibilidade da formação de uma teoria da
congruência temporal sustentava-se na mudança perceptível da natureza observada pela
humanidade, a qual restou incapaz para explicar tais fatores e seus eventos.
19
A filosofia ocupou-se de apresentar teorias para o surgimento da vida. Dentre essas
se ressalta a que concebe que as ciências da natureza estudam duas ordens de fenômenos:
os sicos e os vitais, ou as coisas e os organismos vivos; constituem, assim, duas grandes
ciências: a física
20
e a biologia
21
. Consideram-se como ciências da natureza os fatos
passíveis de serem observados e experimentados; aqueles que estabelecem leis que
16
BODEI, op. cit., p. 177.
17
WHITEHEAD, op., cit., p. 53.
18
Ibid., p. 163.
19
Ibid., p 162-163. Rei Alfredo “O Grande” ignorava as leis do movimento, mas sabia o que entendia por
dimensionamento do tempo. Previa descobertas curiosas das referidas leis do movimento, ao estudar a
queima de velas e o uso da areia nas ampulhetas, prática oriunda de eras passadas, pelo esvaziamento dos
bulbos em tempos iguais.
20
Fazem parte: a química, a mecânica, a óptica, a acústica, a astronomia, o estudo dos sólidos, quidos e
gasosos, etc.
21
Ramificada em fisiologia, botânica, zoologia, paleontologia, anatomia, genética, etc...
21
exprimem relações necessárias e universais entre os fatos investigados e que são de tipo
causal; que concebem a natureza como um conjunto articulado de seres e acontecimentos
interdependentes, ligados por relações necessárias de causa e efeito, subordinação e
depenncia, ou por relações entre funções invariáveis e ações variáveis; que buscam
constâncias, regularidades, freqüências e invariantes dos fenômenos, isto é, seus modos de
funcionamento e de relacionamento, bem como estabelecem os meios teóricos para a
previsão de novos fatos.
22
A intervenção científica está cada vez mais aperfeiçoada em razão da invenção de
objetos tecnogicos de pesquisa, que se dividem em: método experimental-hipotético-
indutivo, pelo qual o cientista observa inúmeros fatos em diferentes condições de
observação, elabora uma hipótese e realiza novos experimentos ou induções para confirmar
ou negar a hipótese a fim de chegar à lei do fenômeno estudado; o todo-hipotético-
dedutivo, que, tendo alcançado a lei, o cientista pode formular novas hipóteses, deduzidas
do conhecimento já adquirido e com elas prever novos fatos, ou formular novas
experiências, que o levam a conhecimentos novos. Evidencia-se que o ideal moderno da
ciência é dominar a natureza.
23
A ciência da natureza, desde sua gênese nos estudos gregos, sempre afirmou que a
natureza segue leis naturais, racionais e necessárias, isto é, sempre negou o acaso ou a
contingência no mundo natural; defende ser o acaso uma forma de ignorância, pois seria
originário de fatos cuja causa ainda permanece desconhecida, mas virá a ser conhecida, se
o for um acontecimento individual que o afete as leis universais da natureza.
No século XIX, a afirmação da universalidade e da necessidade plena que
governam as relações causais da natureza levou ao conceito de determinismo
24
. A
formulação do determinismo como princípio universal e como uma doutrina sobre a
natureza foi feita pela primeira vez pelo astrônomo e físico Laplace, que escreveu:
Devemos considerar o estado presente do Universo como efeito de seu estado
passado e como causa daquilo que vi a seguir. Uma inteligência que, num
único instante, pudesse conhecer todas as forças existentes na Natureza e as
posições de todos os seres que nela existem poderia apresentar numa única
fórmula uma lei que englobaria todos os movimentos do Universo, desde os
maiores até os mínimos e invisíveis. Para ela, nada seria incerto aos seus olhos, o
passado, o futuro e o presente seriam um único e só tempo
25
.
22
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002. p. 263.
23
Idem..
24
Segundo o determinismo, sempre será possível determinar a causa de um fenômeno, seu estado
subseqüente que será seu efeito necessário.
25
CHAUÍ, op. cit., p. 264-266.
22
Os princípios da razão suficiente, ou da causalidade, e da iia de previsibilidade
absoluta dos femenos naturais exprimem essa casualidade e essa previsibilidade; por
isso, não existiria acaso no universo
26
. Essa situação perdurou até que a sica
contemporânea trouxesse de volta o acaso, pelo pleno funcionamento do princípio da razão
suficiente ou da causalidade, e do determinismo universal, a idéia de substância, de uma
realidade que permaneça idêntica a si mesma, seja causa ou efeito. Einstein
27
, com sua
teoria, entende ser a física tal como é em face da posição do observador ou do sujeito do
conhecimento porque o espaço é relativo ao observador; ainda, afirma que a ciência da
natureza não é universal e necessária em si mesma, mas exprime o ponto de vista do
sujeito do conhecimento
28
.
Destarte, observa-se que o que realmente interessa na pesquisa histórica e jurídica é
a conduta do homem no âmbito das suas relações, com suas particularizações, com seus
conceitos, métodos e conexões, já que a crise se encontra no oposto, isto é, no isolamento e
no não-estabelecimento do liame entre significações culturais e universais nas suas
especificidades, pois conceito de cultura é de valor.
A eficácia do conhecimento está submetida aos critérios analíticos adotados para a
construção do conhecimento, seus intercâmbios e inter-relações sociais, endógenas e
exógenas, temporais e espaciais, enfim, a procedimentos reais detalhados. Assim, uma
ação aparentemente insignificante pode sugerir uma relação de cadeia de várias
perspectivas
29
.
Para Diehl o conteúdo da crise da historiografia está em sua envergadura máxima,
qual seja, a da significação cultural do passado, que envolve os chamados “critérios de
cientificidade da história moderna. O que fica é uma história como plausibilidade da
realidade, pela qual se quer compreender a realidade complexa e culturalmente diversa da
26
CHAUI, op. cit., p. 264-266.
27
“Contraposta pelo jurista Pontes de Miranda, autor de uma grande obra que objetivava construir a ciência
do Direito segundo a idéia positivista, intitulada Systema de Sciencia Positiva do Direito, e mereceu uma
resposta de Einstein durante o jantar em sua última noite da sua visita ao Brasil”. TOLMASQUIM, Alfredo
Tiomno. Constituição e diferenciação do meio cientifico brasileiro no contexto da visita de
Einstein em 1925. Museu de Astronomia e Ciências Afins Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.tau.ac.il/eial/VII_2/tolmasquim.htm>. Acessado em: 06 set. 2004.
28
“Teoria de Einstein. A medida da velocidade do movimento é a velocidade da luz, que nesta velocidade,
toda a matéria se transforma em energia, deixando de possuir massa e volume. Do ponto de vista da
velocidade da luz, todo movimento é relativo, isto é, não como distinguir observador e observado”.
CHAUÍ, op., cit., p. 266-267.
29
LEVI, Giovanni. Sobre a escrita da história In: BURKE, Peter. (Org.). A escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992. p. 137.
23
vida que nos rodeia e na qual se encontra situado o que ela tem de mais específico, os
motivos pelos quais se desenvolveu assim, não de outro modo
30
.
Para alcançar os objetivos, o texto foi dividido em três capítulos. No primeiro
delineia-se a probletica da história e do direito com enfoque na legislação atual e antiga
e suas respectivas inter-relações; estudam-se o espaço e as conseqüências sofridas pela
alteração desse espaço. No segundo, faz-se uma análise da situação regional, no norte do
Rio Grande do Sul, com o mapeamento da situação ambiental dos seus rios, florestas e
lavouras, como os crimes ambientais estão sendo veiculados pela mídia, a freqüência e o
enfoque dado, bem como as reflexões provocadas.
No terceiro e último capítulo trata-se das formas de pressão utilizadas para a
equação da problemática ambiental; da questão ambiental na sistemática política cultural
brasileira; das práticas adotadas, projetos e ações em andamento; dos métodos
educacionais em andamento no contexto da educação brasileira; dos princípios e objetivos
da educação ambiental, bem como da forma de conscientização através de trabalhos sociais
nas comunidades via ações poticas.
30
DIEHL, Antônio Astor; PAIM, Denise Carvalho, op. cit., 2002. p. 90-93.
1 - ASPECTOS RELACIONAIS DA QUESTÃO AMBIENTAL NA
HISTÓRIA E NO DIREITO: LEGISLAÇÃO DE HOJE PARA O
PASSADO
A natureza sempre esteve em contato com as ações e interações humanas
individual ou coletivamente, pela percepção obtida através dos sentidos, pelo
pensamento ou pelas modificações que essas podem produzir. Pode-se ver o que
não se pode tocar e, tocar o que não se enxerga, ouvir sons que revelados na
apreensão sutil, afluem do externo e que são discriminados e discernidos pelos
sentidos humanos. (Marilena Chaui)
O homem, ao longo da história, perseguindo a idéia de bem-estar, transformou os
recursos naturais em utilidades, que, por conseguinte, produziram conseqüências na vida
prática, dando surgimento a conflitos de interesses até então inexistentes. Essas novas
relações do homem com o meio levaram à regulamentação a fim de se preservar e se
restabelecer o equilíbrio na medida em que, com a exploração das riquezas naturais, o
homem produz fatos que a lei considera relevantes para proteção do direito e da própria
vida da humanidade.
Relata, a respeito, Alain Lipietz:
O homem, [...] quanto mais se afasta da animalidade, tanto mais traz influência
sobre a natureza/ambiente adquire o caráter de uma ação prevista, que se
desenvolve segundo um plano, dirigido no sentido de objetivos antecipadamente
conhecidos e determinados [...]. O animal apenas utiliza a Natureza, nela
produzindo modificações somente por sua presença; o homem a submete, pondo-
a a serviço de seus interesses determinados, imprimindo-lhes as modificações
que julga necessárias, isto é, domina a Natureza. E esta é a diferença essencial e
decisiva entre o homem e os demais animais, e, por outro lado, é o trabalho que
determina esta diferença. Mas o nos regozijemos demasiadamente em face
dessas vitórias humanas sobre a Natureza. A cada uma dessas vitórias, ela exerce
a sua vingança. Cada uma delas, na verdade, produz, em primeiro lugar,
conseqüências com que podemos contar, mas, em segundo e terceiro lugares
produz outras muito diferentes, não previstas, que quase sempre ativam essas
primeiras conseqüências.
31
31
LIPIETZ, Alain. Le capital et son espace. Paris: Maspero, 1977. In: SILVA, Marcos A. da. (Coord.)
República em migalhas. História regional e local. São Paulo: Marco Zero, 1990. p. 29.
25
Salientam-se a disposição e a participação do homem na natureza, como animal
social que altera o meio e que se utiliza da natureza produzindo nela modificações e, ao
mesmo tempo, sofre as conseqüências de suas ações, que podem ser, em muito,
potencializadas com a passagem do tempo. Portanto, o auxílio de várias outras disciplinas
para a compreensão do objeto de pesquisa, como a arqueologia, a antropologia, a
geografia, a economia, a sociologia, o direito
32
, entre outras, permitiu à historiografia
novos ângulos de análise e compreensão do objeto.
O processo de ampliação do direito na ruptura do hermetismo passou a encarnar
reivindicações e lutas sociais que implicaram transformações socioeconômicas e poticas
que deixaram marcas indeléveis na sociedade. As importantes conquistas sociais que a
humanidade alcaou foram todas originárias de passagens hisricas, de lutas
democráticas e populares específicas na forma de expressar os anseios do grande grupo,
nascidas na história e depois refletidos no direito.
Essas lutas evidenciam os avanços na conquista de espaços de liberdade coletiva e
material que possibilitam condões de viabilidade para a felicidade humana. Foi com esse
viés que, após a Segunda Guerra, essas necessidades foram ratificadas pelo direito
irmanado de várias nações, destacando-se o direito à paz, o direito ao desenvolvimento, o
direito de autodeterminação dos povos, direito a um meio ambiente saudável e
ecologicamente equilibrado, direito à utilização do patrimônio comum da humanidade.
Bobbio, em relação aos direitos conquistados pela humanidade, questiona:
Não está em saber quais, quantos são esses direitos, qual a sua natureza e o seu
fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos; mas
sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das
solenes declarações, eles sejam continuamente violados.
33
Os direitos tutelados, protegidos e recepcionados pela legislação
34
mundial como
direitos de terceira geração estão presentes na Constituição Federal Brasileira de 1988, nos
artigos 225 e outros
35
, os quais serão objeto de análise mais aprofundada, restringindo-se
aqui apenas a uma observação acerca da municipalização do ambiente.
32
LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. (Org.). História: novos problemas. 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1988. p. 15.
33
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 30.
34
BRASIL. Declaração Universal dos Direitos Humanos. [S.n.t.]
35
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 29. ed. São Paulo: Saraiva,
2002. p. 135-136.
26
A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 18 e 34
36
, combinados com a
resolução Consema 04/2000, autonomia para o exercício do poder público municipal,
isto é, trata da viabilidade e da necessidade de legislar sobre as coisas particulares do local
por quem viva o problema ou próximo dele. Com esse intuito, as questões ambientais da
região em estudo podem ser legisláveis e, até mesmo, requeridas por quem sofra e
visualize o caso, como as organizações sociais e populares, a fim de efetivar medidas
preventivas ou curativas de forma mais imediata e eficaz.
1.1 O direito, a história e as demais ciências humanas
A história e o direito são disciplinas fundamentais para o desenvolvimento de uma
sociedade pelas relações que estabelecem entre si, assim como com outras áreas do
conhecimento. É impossível tratar das leis naturais sem adentrar na história e sem
estabelecer vértices entre estas e a lei jurídica. As leis, não se restringem a representar a lei
moral, mas agregam uma conseqüência artificial à conseqüência natural do fato, e a
construção dessa elaboração passa, obrigatoriamente, pela história.
O estudo da questão ambiental estabelece uma abordagem transdisciplinar acerca
da vinculação da história com o direito e, nessa seara, visa à compreensão dos fundamentos
conceituais e dos mecanismos explicativos que venham a esclarecer o funcionamento do
poder e sua reprodução, enquanto prática social adotada para a conservação natural e suas
inter-relações, bem como as influências dos vários estudiosos, das várias áreas do saber no
tema ambiental.
Para a elaboração deste capítulo, foram feitas revisões bibliográficas, análise de
legislações, estudo de jornais e documentos, atuais e passados, obtidos dos meios de
comunicação e seus reflexos nas práticas legislativas nos respectivos períodos, bem como a
36
“Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos [...]. Art. 34. A União o intervirá nos Estados
nem no Distrito Federal, exceto para: I - manter a integridade nacional; II - repelir invasão estrangeira ou de
uma unidade da Federação em outra; III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; IV -
garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; V- reorganizar as finanças da
unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos
[...]; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos
estabelecidos em lei;VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; VII - assegurar a
observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime
democrático;b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal;d) prestação de contas da administração
pública, direta e indireta”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
29. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
27
influência nas condutas sociais das comunidades. O jornal mais utilizado para estudo da
realidade ambiental e do nível de destruição natural da região de Passo Fundo, na ótica
especial do desmatamento, foi O Nacional, único com circulação de 1925 em diante, com
larga distribuição para a época, quando chegava até Cruz Alta, cidade-mãe de Passo
Fundo.
Cabe explicar que a escolha pela ligação da história com o direito deu-se em face
do liame existente entre as duas áreas afins, as quais mutuamente se socorrem e se
debruçam na busca de evolução e atualização dos seus procedimentos, pelos estudos dos
rios institutos em contextualização com momentos histórico-político-jurídico-sociais
pelos quais perpassou a humanidade.
Basileu Garcia
37
é pontual ao dizer: “conhecer as leis pela História e a História
pelas leis”. Nos resultados imediatos pelas ações no e do passado e, por serem ambas as
disciplinas ciências abertas e, como tal, passíveis de construção pelos componentes
estruturais extremamente mutantes na hermenêutica, na dialética e no todo do estudo
das suas concepções, proporcionam a percepção das experiências do indivíduo como
sujeito do micro e do macro, sem prejuízo da história e da lei.
A questão de método na história e no direito permite observar-se que a história
pode cumprir nos momentos de mudança um papel legitimador do status quo, um papel
restaurador e reacionário no novo regime, ou, procurando uma expressão mais neutra, um
papel crítico. Para desempenhar este último, tem de desenvolver uma atitude de suspeita
permanente para com suas próprias aquisições. Alguns recursos de método da nova
hisria serão também os da nova história do direito, visto que começa por deslocar seu
centro de atenções de uma certa potica, especialmente para da potica do Estado e do
Estado nacional, para a vida material, como registra Braudel
38
.
O conceito de direito está estreitamente ligado ao conceito de Estado e, para saber
o que é direito, precisa-se saber o que é Estado, que, segundo Carnelutti, é uma palavra
mais transparente, ou seja, tem sua origem do verbo latino stare e significa o que se
através do cristal, transparece idéia de coesão, do que está. O povo, quando consegue
dirimir conflitos ou alguma coesão, converte-se em Estado.
37
GARCIA, Basileu. Instituições de direito penal. São Paulo: Max Limonad, 1951. v. 1. p. 159.
38
LOPES, JoReinaldo de Lima. O direito na história: lições introdutórias. São Paulo: Max Limonad,
2000. p. 18-28.
28
Conforme o autor:
Entre o povo e o Estado existe a mesma diferença que entre os tijolos e o arco de
uma ponte. O Estado é verdadeiramente um arco...Há sem dúvida, uma força que
mantém os tijolos unidos no arco. Mas esta força não atua aque o arco esteja
completo. E como se faz para completá-lo? Eis aqui o problema. Os engenheiros
sabem que o arco, enquanto é construído, precisa de uma armadura. Sem
armadura, o arco somente pode resistir depois de concluído, mas, antes, se a
armadura não a sustentasse, o arco se precipitaria a terra. O Direito é a armadura
do Estado. O Direito é o de que se necessita para que o povo possa conseguir sua
coesão
39
.
Além do direito está o bem-estar social da sociedade, pelo respeito que deve ser
impingido às ações humanas, absorvidas suas deficiências, fragilidades e o igualmente
frágil juízo humano, na tentativa de distinguir os civilizados dos incivilizados. Quem tem o
poder de julgar e quem são os julgadores; a verdade produzida pode ser assim, como pode
o ser. A res judicata não é a verdade absoluta, mas se considera como verdade ou um
substituto da verdade na construção social.
Também este é um dos aspectos da crise da civilização: tudo se pede e tudo se
espera do Estado, ou seja, do direito, mas o porque o Estado e direito sejam a mesma
coisa, mas porque o direito é o único instrumento do qual, em última análise, o Estado
pode se servir. Como cada fase da civilização tem o seu ídolo, o ídolo da que se atravessa
hoje é o direito, subentendendo-se que os homens se tornaram adoradores do direito. Ora,
o experiência, como a experiência penal, apta a destruir essa idolatria; as misérias do
processo penal são aspectos da miséria fundamental do direito. o se trata de desvalorar o
direito, mas de evitar que seja sobrevalorado, em suma, de desenganar o homem comum de
que basta ter boas leis e bons juízes para alcançar a civilidade.
40
O condenado pode ou não ser culpado; o erro deve ser considerado. Se condenado,
ainda que não culpado, inicia-se outra jornada longa, desairosa, que passa e que em breve
o mais será lembrada, como se a passagem para a penitenciária fosse a trilha para um
cemitério, embora o agente ainda viva. Diz Carnelutti na obra As misérias do processo
penal que a penitenciária deveria ser um hospital, não um cemitério, onde o tratamento
pudesse a todo tempo ser revisto e modificado para a cura final da libertação.
A tarefa do juiz, com o auxílio do direito respaldado na lei, é de reconstruir a
hisria, absolvendo ou condenando com base na mesma lei. Se absolvido por falta de
provas, conforme determina a lei, significa que não cometeu o crime ou que o cometeu,
39
CARNELUTTI, F. Arte do direito. Campinas: Edicamp, 2003. p 16-17.
40
CARNELUTTI, F. As misérias do processo penal. Campinas: Bookseller, 2001. p. 65-67.
29
mas a justa foi incapaz de elucidar o fato a ponto de poder considerar culpado. Não que
seja o agente culpado, mas, igualmente, não é totalmente inocente, encerrando-se o feito
com um nada de fato. E a figura do acusado continua a ser acusada por toda a vida, na
medida em que, se inocente fosse e perfeita a justiça, o poderia ter figurado como réu
nem se submetido às misérias do processo penal. Até porque o supcio de uma segregação,
que passa pela mácula dos valores éticos, morais, pelo abismo do abandono, vai muito
além dos limites da suportabilidade e envolve outras abordagens. Explica Foucault:
Do outro lado desses muros do internamento não se encontram apenas a pobreza
e a loucura, mas rostos, bem mais variados e silhuetas cuja estatura comum nem
sempre é fácil de reconhecer. É evidente que o internamento em suas formas
primitivas, funcionou como um mecanismo social, e que esse mecanismo atuou
sobre uma área bem ampla, dado que se estendeu nos regulamentos mercantis,
elementares ao grande sonho burguês de uma cidade onde imperaria a síntese
autoritária da natureza e da virtude. Daí supor que o sentido do internamento se
esgota numa obscura finalidade social que permite ao grupo eliminar os
elementos que lhe são heterogêneos ou nocivos, apenas um passo. O
internamento seria assim a eliminação espontânea dos “a-sociais”; a era clássica
teria neutralizado, com segura eficácia – tanto mais segura quanto cega – aqueles
que, não sem hesitação, nem perigo, distribuímos entre as prisões, casas de
correção, hospitais psiquiátricos ou gabinetes de psicanalistas.
41
O direito, como fenômeno social, segundo Kelsen
42
, tem como objeto algo diverso
da natureza, na medida em que é uma conexão de elementos totalmente diferentes. A
ciência do direito não deve tornar-se ciência da natureza, pois o direito deve distinguir-se
claramente da natureza, porém o autor reconhece o fracasso da sua idéia em razão da
existência do direito natural.
Thomas Hobbes rejeitou, da literatura clássica, a sociabilidade humana na forma
que lhe pretendiam atribuir. Entendia que, por sua natureza, o homem é individualista e
egoísta, demonstrando que o que pode ser natural ao homem é a defesa do próprio interesse
e, nesses termos, é o contrato, o pacto social, que cria um modo de convivência possível,
mas não democrático.
Afirma Hobbes que, se houve um estado de natureza, este foi a guerra de todos
contra todos:
41
FOUCAULT, Michel. História da Loucura. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 79.
42
KELSEN, H. Teoria pura do direito: introdução à problemática científica do direito. 2. ed. São Paulo: RT,
2002. p. 52.
30
Na verdade, o estado de natureza de Hobbes, como de todos os jusnaturalistas,
não é uma hipótese de fato, empírica, que se imagina tenha algum dia existido. É
uma espécie de postulado, ou pode-se dizer que é um experimento da razão: ou a
ordem ou a guerra de todos contra todos, ordem ou anomia. Além disso, em
Hobbes o voluntarismo e a autoridade do direito positivam tornam-se
exemplares: o Estado assume o direito e não restam direitos aos súditos, senão
aqueles reconhecidos pelo soberano.
43
O direito natural precisa permanecer, para a manutenção do pacto social, com um
mínimo de ordem para que seja eficaz, sob pena da perda da legitimidade e, por
conseguinte, do poder representativo. Para Marc Bloch:
A História... tem prazeres estéticos que lhe são próprios, que não se assemelham
aos de nenhuma outra disciplina. É que o espetáculo das atividades humanas, seu
objetivo particular, é, acima de qualquer outro, de natureza a seduzir a
imaginação dos homens.
44
A hisria e o direito estão unidos pela natureza das duas disciplinas, que, no
desenvolvimento e na produção do conhecimento, se complementam, quer para contar a
hisria, quer para fazer o direito, inexistindo uma sem a outra. Não existiria o direito sem
a história para tratar dos povos, sinais e culturas de tempos e espaços que não são
passíveis de reconstrução.
Quando os elementos já não existem, resta a garimpagem de vestígios na busca da
recuperação das formas de vida, das exigências, dos hábitos, da cultura que determinada
sociedade desenvolveu e na qual se apoiou num dado momento histórico. Com a
reconstituição da história observam-se as primeiras formas de manifestação do direito
ainda nos povos sem escrita, cujas populações tiveram um desenvolvimento jurídico
importante. Tais constatações resultaram de consagrados trabalhos hisricos
desenvolvidos para reconstruir o antigo nos seus diferentes aspectos, com base nos
vestígios.
Todavia, o problema das origens da maior parte das instituições jurídicas é quase
que insolúvel, conforme relata Gilissen:
43
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história. São Paulo: Max Limonad, 2000. p. 192.
44
BLOCH, Marc, Introdução à História, 3. ed. Lisboa: Publicações Europa-América, [s.d.]. p. 14.
31
Antes do período histórico, cada povo tinha, no entanto, percorrido uma longa
evolução jurídica. Esta pré-história do direito - escapa quase que inteiramente
ao nosso conhecimento; pois se os vestígios deixados pelos povos pré-históricos
tais como esqueletos, armas, utensílios, cerâmicas, jóias, restos de moradias,
permitem ao especialista reconstituir, é certo que de uma maneira muito
aproximativa, a evolução militar, social, econômica e artística dos grupos sociais
antes da sua entrada na história, estes mesmos vestígios não podem de forma
alguma fornecer indicações úteis para o estudo das suas instituições.
45
A hermenêutica, utilizada para a interpretação dos textos bíblicos e outros da
Antigüidade, inclusive as legislações, estabelece uma ligação visível entre as ciências
hisricas e o direito, mutáveis pela dinamicidade dos seus conceitos e estruturas e ainda
hoje utilizada como forma de interpretação do direito.
Gilissen assinala que
a história do direito é muitas vezes tratada com um condescendente desdém, por
aqueles que entendem ocupar-se apenas do direito positivo. Os juristas que se
interessam por ela, quase sempre à custa de investigações muito longas e muito
laboriosas, são freqüentemente acusados de pedantismo... Uma apreciação deste
gênero não beneficia aqueles que a formulam. Quanto mais avançamos no direito
civil, mais constatamos que a História, muito mais do que a Lógica ou a Teoria é
a única capaz de explicar o que as nossas instituições são as que e porque é que
são as que existem.(H. De Page, Trai de droit civil belge, t. VI, Bruxelles
1942,806).
46
No momento que os povos entram na história, observa-se uma organização social
relativamente desenvolvida, com numerosos grupos sociopoticos existentes e ativos, com
a maior parte das instituições civis existentes, nomeadamente o casamento, o poder
paternal/maternal, a propriedade (mobiliária precede a imobiliária), a sucessão, a doação,
além de diversos contratos, tais como de troca e empréstimo. Esses institutos evoluíram
graças ao desenvolvimento das muitas teorias e das relações a elas ligadas.
1.2 História nacional e regional, relação espaço temporal, escala de análise e
valoração
A forma de ocupação do solo envolveu processos temporais distintos nas várias
microrregiões, com as etnias e as influências exógenas de cada uma delas, dando origem a
45
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. p.
32.
46
Ibid., p. 13.
32
sistemas econômicos e sociais peculiares, com conseqüências para a história, para a
geografia e para rias ciências. O debate sobre história nacional e história regional é
bastante amplo, profundo, e o problema da valorização de uma em detrimento da outra não
se restringe ao tempo atual.
Westphalen questiona: limitar o campo de estudo é, porventura, diminuir a história?
Reduzir seu objetivo para melhor atingi-lo não seria mais eficaz e produtivo? Não seria,
sobretudo, uma metodologia, uma estratégia operacional?
47
A expansão dos estudos da hisria regional petite histoire - foi objeto de
análise até o século XVIII, quando a vida era muito mais marcada pela região do que pela
nação. Os estudos da evolão das comunidades e das características da ocupação do
território ocorreram em diversos níveis estruturais, visto que um grande número de
variáveis a serem analisadas e mostram-se inadequados os modelos rígidos. Os processos
temporais, a concentração demográfica, a economia (madeira, charqueada, erva-mate,
pecuária), a vida social, cultural religiosa, étnica, o meio onde estão representados e as
ideologias de opressão adotadas em determinado tempo, preservando o interesse das elites
no poder, são alguns dos elementos de interação.
Essa multidisciplinaridade se efetiva pelo contato dos historiadores com a geografia
humana, quando há uma mudança no conceito de região pelo esgotamento das macro-
abordagens. Os cursos de pós-graduação contribuíram para a formação de uma nova
geração de historiadores e, por conseguinte, para as transformações recentes da
historiografia brasileira, com o reordenamento da relação entre as regiões brasileiras pela
modificação e atenção ao espaço/estados nas respectivas regiões. A hisria regional
enfrenta uma gama de dificuldades para sua pesquisa, que vão desde as dificuldades das
fontes documentais à carência de bibliografia básica, porque grande parte do acervo se
encontra em mãos de particulares, o que torna inacessível e obstaculiza o acesso ao
material, fazendo do trabalho do pesquisador uma verdadeira tarefa de garimpagem.
A região caracteriza-se pela multiplicidade de identidades em todas as suas
variantes culturais, de alimentação, atividades ecomicas, idioma e dialetos e influências
políticas. A palavra região” rex, regis, rego, regula, vem de “regência”, “comando”,
guiar”, “governar”, denotando uma porção do terririo de comando que, segundo Silva
48
,
47
WESTPHALEN, Cecília Maria. História nacional, história regional. Estudos Brasileiros. Curitiba: nº 3, p.
29-34, jun. 1977.
48
SILVA, Marcos. A história e seus limites. Revista História e Perspectivas, Uberlândia, 06, p. 59-65,
Jan./Jun., 1992.
33
remete a uma historiografia de compromissos conservadores, provinciana, trazendo para a
hisria regional uma série de preconceitos.
Segundo Revel
49
, a palavra “rego” não existia antes de 1820, ou seja, até o
advento da Revolução Francesa a visão de espaço regional variava, significativamente, no
decorrer dos diferentes períodos da história, sem idéia definida de contornos regionais. O
autor afirma que “a revolão trouxe à tona estas discussões e ao tentar romper com as
iniciativas regionalistas em prol da centralização do Estado, acabou por definir, por si
própria, os contornos dos espaços regionais”.
50
A utilização do termo “regiãoremete-nos para conceitos da geografia, tais como
espaço, relevo e suas noções, além dos aspectos socioeconômicos e potico-ideológicos e
da biogeografia, como clima, fauna, flora, recursos hídricos, etc. No senso comum, traduz
noção imediata de localização ou extensão.
51
No meio geográfico toma a noção de um
tempo não absoluto, mas um tempo concreto, mensurável e de espaço, relações entre
períodos históricos, como a singularidade da totalidade.
O espaço, dentro de um determinado tempo histórico, é atributo dos seres; a
disposição e a participação do homem na natureza, a ação humana na sua transformação,
como animal social que altera o meio e que se utiliza da natureza produz modificações e
sofre as conseqüências.
Há, entretanto, várias esferas de utilização do termo que perpassam pelo conceito
administrativo de divisão regional pelo qual se exerce hierarquia e controle na
administração do Estado, ou, ainda, o tecido regional é definido por competências
administrativas e pelo limite das autonomias. Nas ciências em geral, região” está mais
associada à localização de certo domínio.
Nas magistraturas romanas, regione significavam regras gerais hegemônicas
utilizadas para a administração local. A conotação de poder sempre esteve presente na
composição de região na Idade Média, quando houve a divisão de espaço para
estabelecimento da hierarquia nas unidades autônomas. Essa condição de poder se perderia
na Idade Moderna pela uniformização da política, da sica, da economia e da cultura.
No século XIX houve uma redefinição no papel do Estado e uma quebra dos pactos
territoriais, levando ao ressurgimento das questões regionais e às manifestações
regionalistas de interesse local. Observa-se, então, a dificuldade de chegar a um conceito
49
REVEL, Jacques. A invenção da sociedade. Lisboa: Difel e Bertrand, 1989. p. 51.
50
Ibid., p. 52.
51
Região montanhosa ou a configuração econômica.
34
de região, pela ligação das relações de poder nos vários períodos de desenvolvimento da
humanidade. Dificuldade da mesma dimensão encontra-se para a formulação de um
conceito de poder e seu liame com a compreensão da história.
A abordagem renovada da história potica aponta caminhos mais simplificados.
Para Viscardi
52
, a definição de região e os critérios de definição do espaço regional são um
dos primeiros problemas com que se defronta o historiador. Demonstrando a contribuição
da escola marxista, instrumental que ressalta as relações de produção e a dinâmica da luta
de classes, definidos a partir do objeto, não do sujeito, utilizado por vários autores, dentre
eles Silveira, Milton Santos, Ciro F. Cardoso, Viscardi adota o conceito elaborado por
Francisco Oliveira, da mesma corrente:
Uma região, em suma, é o espaço onde se imbricam dialeticamente uma forma
especial de reprodução do capital, e por conseqüência uma forma especial de luta
de classes, onde o econômico e o político se fusionam e assumem uma forma
especial de aparecer no produto social e nos pressupostos de reposição
53
.
Para Silveira
54
, região são leis de reprodução de capital; já para Santos
55
, é uma
abstração empírica, isto é, o espaço geográfico deixou de ser estático e passa a ser uma
produção coletiva dos homens cuja fuão seria expressar o modo de produção em vigor.
Pelos critérios de delimitação do espaço, Silva
56
acredita que a região pode ser
vista pelo enfoque sistêmico, ou seja, a região constitui-se num subsistema de um todo,
mantém com ele inter-relações; quanto às fronteiras regionais, podem ou não coincidir com
as divisões juridicamente estabelecidas, pois se ampliam ou diminuem ao longo do tempo
em função dos ajustes da natureza política. Aqui, a região é entendida como parte de um
sistema (econômico, potico e social) mais amplo de uma engrenagem com as interações
pertinentes. Segundo a autora, para se delimitar uma região, “[...] não se deve levar em
conta só os aspectos jurídico-administrativos, nem somente aspectos exclusivamente
econômicos, mas os de ordem social e, sobretudo, política”.
57
52
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. História, região e poder: a busca de interfaces metodológicas. Lócus
Revista de História, v. 3, n. 1, Juiz de Fora, 1997. p. 84.
53
Ibid., p. 84.
54
SILVEIRA, Rosa. O regionalismo nordestino: existência e consciência da desigualdade regional. São
Paulo: Moderna, 1984.
55
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo:
Hucitec, 1978.
56
SILVA, Vera Alice Cardoso. Regionalismo: o enfoque metodológico e a concepção histórica. In: SILVA
Marcos (Org.). República em migalhas: História regional e local. São Paulo: Marco Zero, 1990. p. 43-50.
57
Ibid., p. 43-50.
35
Desse prisma, Mattos
58
esclarece que o espaço regional é socialmente constrdo
por meio das experiências históricas vividas por seus atores; seus limites, antes de serem
geográficos, são sociais.
A identidade estabelecida por quem vive e come o imaginário daqueles que a ela
se referem como delimitação do espaço de determinada região é a contribuição da
antropologia através de Bourdieu
59
, que auxiliou no estabelecimento de critérios para a
delimitação regional. O autor parte do pressuposto de que o critério de divisão regional
surgiu simbolicamente e foi sendo reconhecido e legitimado a posteriori. Para ele, “a
divisão regional não existe na realidade, pois esta mesma realidade é a representação que
dela se faz. A identidade regional é, pois, um produto da construção humana”.
60
Efetivamente, duas correntes de entendimento a respeito da definição e
delimitação do espaço regional: pela primeira, a definição parte do objeto, não do sujeito
do conhecimento; na segunda, a definição de região e de suas fronteiras dá-se pela análise
do sujeito. Nesta linha observa-se o trabalho de Bourdieu e de Ângelo Priori, que tratam da
região como construção do sujeito a partir de padrões próprios, fundados na realidade
existente.
As leis nacionais e o sistema influenciaram diretamente na evolução e no
desenvolvimento da história regional, em seus estudos e racionalização. Definida a região
em seus aspectos, surge um grupo dominante que defende seus interesses localistas ou
regionalistas; a manifestação de defesa dos interesses regionais pelos grupos dominantes e
o comportamento potico sempre convergem em relação ao centro.
Para Viscardi
61
, regionalismo é um comportamento potico de defesa de interesses
comuns, porém, para Silva
62
, o importante é ter clara a diferença do regionalismo como
todo de investigação e como concepção interpretativa. Para a autora, o regionalismo é
um movimento de defesa da identidade regional constrda e sua eficácia está relacionada
ao poder de quem o enuncia. Realiza-se através de lutas simbólicas contra regiões que se
colocam como dominantes”.
63
Segundo Rocha Netto, o Brasil sem regionalismo seria incompreensível. Nação e
região, nacionalismo e regionalismo não entram, necessariamente, em conflito. “[...] Que o
regionalismo como alta expressão de criação cultural e de caracterização deve ser
58
MATTOS, Ilmar. O tempo saquarema: a formação do estado imperial. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1990.
59
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1998. Cap V.
60
Ibid., p. 88.
61
VISCARDI, op. cit., p. 87.
62
SILVA, Marcos, op. cit., p. 43-50.
36
cultivado, para que o Brasil não perca a autenticidade de sua civilização, feita de legítimas
variedades regionais, que se integram através do espírito, um tempo unitário e plástico
de sua cultura [...]”.
64
Há, porém, outros conceitos para regionalismo, como o de Love:
Regionalismo é definido como um comportamento (político) caracterizado, de um lado,
pela aceitação de uma unidade política mais abrangente, mas, de outro, pela busca de
um certo favoritismo e de uma certa autonomia de decisão (em matéria política e
econômica), mesmo ao risco de pôr em perigo a legitimidade do sistema político
vigente. Assim, a ênfase não é na peculiaridade regional per se (folclore, traje típico,
maneiras locais de falar, etc.), mas naqueles fatores que podem afetar, provadamente, as
relações políticas, econômicas e sociais com outras regiões e com a unidade maior de
governo, no caso, a União
65
.
Embora houvesse a crença de que as regiões eram unidades autônomas que exigiam
devotamento e fidelidade, observa-se que, nos levantes contra a União, havia
manifestações de sentimento para o nacionalismo os quais levaram ao consenso de que
podem coexistir os ambientes regional e global de forma integrada na organização
nacional.
Dentro desse processo de coexistência entre nação e região e seus sentimentos,
grande ênfase têm as imagens e representações coletivas obtidas ao longo do tempo, as
quais influenciam na memória potica dos povos e em realidades imaginárias, que muitas
vezes se afastam totalmente da realidade histórica, mas têm poder de mobilização dos
atores poticos que vão se perpetuando ao longo do tempo. Tais construções trouxeram um
conceito de cultura política que passou a ser utilizado largamente. Bernstein, citado por
Viscardi, “define cultura política como um conjunto de comportamentos coletivos, de
sistemas de representação potica e de valores poticos de uma dada sociedade, podendo
sua extensão variar de um período a outro da História e de um sistema político a outro”.
66
A política passou a ter expressão e torna-se objeto de estudos de muitos
historiadores na atualidade pelo estabelecimento de novas fronteiras teóricas entre a
antropologia, a psicologia e a crítica literária. Adota-se um recorte espacial microscópico
no qual os indivíduos são os agentes e os seus imaginários transformam-se em foco de
estudo nas relações mais cotidianas vivenciadas. Para Le Goff
67
, a história potica não
63
SILVA, Vera Alice Cardoso, op. cit., p. 43-50.
64
ROCHA apud WESTPHALEN, op. cit., p. 32.
65
LOVE, Joseph. A locomotiva: São Paulo na federação brasileira (1889-1937). Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1982. p. 11.
66
BERNSTEIN, Serge, L’Historien et la culture politique. Vingtième Siècle Revue d’Histoire, n. 35,
juil/sept. 1992, apud VISCARDI, História, região e poder: a busca de interfaces metodológicas., p. 93.
67
LE GOFF, Jacques. A política será ainda a ossatura da História? apud: VISCARDI, Claudia Maria. O
maravilhoso e o cotidiano no ocidente medieval. 70. ed. Lisboa: 1990. p. 91.
37
pode pretender-se autônoma nem se constituir enquanto a ossatura da história, mas deve
ser o seu núcleo. Nessa nova discussão da potica, novas fontes foram incorporadas às
anteriormente existentes fontes escritas na sua maioria para a utilização das fontes
orais, o estudo dos mitos, rituais, emblemas e símbolos, festas, datas comemorativas,
utilizadas como forma de expressão de um povo.
Continuando, Cláudia Maria Viscardi, na obra O maravilhoso e o cotidiano no
Ocidente Medieval, afirma que “cada época tem o seu cerimonial potico cujo significado
compete ao historiador descobrir. A renovação da história potica passa pelo resgate do
estilo narrativo, que consiste em organizar o material em seqüência cronológica, numa
hisria coerente, diferenciando-se da história estrutural por ser mais descritiva e menos
analítica e tratar mais do particular, não do quantitativo. Essa forma de escrita vai
explicando ao leitor como a história foi sendo feita ou narrada, com as dificuldades
inerentes à recuperação de documentos, de fontes e à integração dessas para a
sistematização dos dados.
Na década de 1970, observa-se que, além das mudanças mencionadas, houve um
redimensionamento da análise da história pela mudança de escala, capaz de trazer
expressivas modificações para o resultado final da produção histórica. Nascidas como uma
reação, uma tomada de posição, do confronto de experiências de pesquisa, reflexões
críticas ativeram-se à produção histórica e a leituras das mais variadas áreas, sugerindo
reformulação de concepções, de exigências e procedimentos, como sintoma operado pela
crise de desconfiança.
Para Revel
68
, a mudança de escala de análise é essencial para a definição e
compreensão da microistória. Modificar forma trama e as suas representações no
enriquecimento da análise social, tornando suas variáveis mais numerosas, mais complexas
e também mais móveis, permitindo um alargamento dos horizontes de análise em suas
realidades. A microanálise tem seu espaço monográfico feito de dados e provas e a sua
abordagem microistórica é profundamente diferente em suas intenções e procedimentos da
hisria social, que atenta para relações num espaço macro. Disso se conclui que o
individual não é contraditório ao social, mas consiste em abordagem diferente por se
acompanhar o destino de um homem, de um grupo de homens, nos vários espaços e
tempos.
68
REVEL, Jacques. (Org.). Jogos de escala: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro: FGV, 1998. p.
23-150.
38
Essas particularidades tipo duração do evento, tempo, espaço permitem encontrar o
mesmo indivíduo em contextos sociais diversos, demonstrando a importância decisiva da
análise local e geral, bem como as influências exógenas sofridas no contexto, com
destaque ao problema. Denota-se a influência antropológica ao se enfatizar a abordagem
dos comportamentos humanos diante dos femenos de agregação e desagregação social.
Segundo Simona Cerutti, o jogo das estratégias individuais e familiares revoga certezas,
conduzindo a que tudo seja passível de elaboração, de redefinição e torne-se objeto de
conflito, sempre em caráter provirio. A partir das escolhas, são observados os
mecanismos de mediação existentes entre “a racionalidade individual e a identidade
coletiva”.
69
Na versão clássica, a história foi concebida como história das entidades sociais; da
comunidade de residência aldeia, paróquia, cidade, bairro, grupo profissional, da ordem,
da classe - sem colocá-las em questão; se mudança na escala de observação, as
realidades podem ser muito diferentes. Levi demonstrou com seus estudos que os fatos
podem ser recuperados por meio de pequenos acontecimentos, aparecendo uma outra
configuração das relações entre forte e fraco. Um dos efeitos da passagem para micro é a
possibilidade de transformação da informação e sua relação com o historiador.
70
Parafraseando Ginzburg quando escreve que “com um microscópio se pode ver e
examinar até um elefante”
71
, observa-se a extensão da reflexão sobre a microisria e a
distância que se pretende estar do objeto de análise para suas possibilidades. Essas escolhas
acarretaram a necessidade de redefinições que devem ser observadas quanto aos
pressupostos de análise sócio-histórica baseada em critérios explícitos (gerais/locais) e
substitda pela microanálise (constituição e deformação).
Variar escalas é fundamental pela profusão de detalhes, visto que é possível passar
de uma história para outra ou para várias outras, inexistindo oposição entre história global
hisria local. A história local não é uma versão atenuada, parcial ou mutilada de realidades
macrossociais, mas uma versão diversa, um encolhimento do campo de observação para
uma descrição mais realista do comportamento humano nas suas especificidades
excepcional normal. O historiador é o intérprete das fontes, isto é, não se insere no local de
estudo e faz a leitura do material oriundo da antropologia.
69
CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no Século XVIII.
In: REVEL, Jacques. (Org.). op. cit. p. 23-26.
70
LEVI, Giovani. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter. (Org.) A escrita da história: novas perspectivas.
São Paulo: Unesp, 1992. p. 133-161.
71
GINZBURG, op. cit., p. 170.
39
Os processos de desenvolvimento social das comunidades, com boas perspectivas
de pesquisa histórica, denotam que as histórias locais, as relações sociais e suas interações
são fundamentais para a mudança nas suas continuidades e descontinuidades. Essas são
com base nas memórias dos sujeitos envolvidos diretamente nas ações evolutivas da
sociedade, como somatório de esforços de colaboração, propiciando que a vocação social
do historiador em seu papel não caia no esquecimento. Assim, os indivíduos tornam-se
sujeitos históricos e, como tal, passam a compreender seu processo de desenvolvimento,
dando movimento à hisria. Essa movimentação vai desabrochar em meios ativos, que
representarão as interações sociais e poticas que estarão representadas e refletidas na
legislação, no seu desenvolvimento para a nação sob sua circunscrição e abrangência.
1.3 Medidas ambientais adotadas pela Constituição Federal de 1988: ambiente como
direito do homem, competências, obrigatoriedade da recuperação do meio degradado.
Indiscutivelmente, a sobrecarga dos ecossistemas em absorver a crescente matéria
poluidora de origem industrial e urbana traduz-se em desaguadouros de rejeitos e dejetos
diretamente nos meios naturais, sem qualquer tipo de tratamento, causando grande impacto
ambiental. Nesse contexto a mudança de rumos deve consistir muito em prevenção que em
remediação.
Vários instrumentos legais foram utilizados na tentativa de se buscar uma melhora
nas condições de preservação do meio, todavia nenhum foi tecnicamente tão perfeito como
a Constituição Federal de 1988, o que determinou a repetição do seu texto em várias outras
legislações, não só no que pertine ao ambiente, mas a várias outras áreas do direito.
A “Constituição Cidadã”, promulgada em outubro de 1988, consolidando o Estado
democrático de direito e com lida formação humanista em consonância com as
legislações internacionais, traz nove títulos que cuidam dos princípios fundamentais, dos
direitos e garantias fundamentais, da organização do Estado, da organização dos poderes,
da defesa do Estado e das instituições democráticas, da tributação e do orçamento, da
ordem econômica e financeira, da ordem social e disposições gerais. A Constituição
declara como direito de todos o meio ambiente ecologicamente equilibrado e o considera
bem transgeracional, de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
40
impondo, portanto, ao "poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preser-lo
para as presentes e futuras gerações”.
72
Os sete incisos e os seis parágrafos do artigo 225 da Constituição Federal detalham
as responsabilidades do poder público em termos de preservação, restauração e
manutenção dos processos ecológicos essenciais e das formas de prover o manejo das
espécies e ecossistemas; de preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético
do país e de fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e à manipulação do material
genético. Define também, em todas as unidades da federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, de tal modo que alterações e supressões
permitidas através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justificam sua proteção. Exige formas legais para instalação de obras ou
atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente estudo
prévio de impacto ambiental (EIA), a que deverá ser dada publicidade.
73
A Carta brasileira versa sobre o controle da produção, da comercialização e do
emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente, estabelecendo a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e necessidade de conscientização pública para a preservação do meio ambiente com
medidas protetivas da flora e a fauna; veda, ainda, práticas que coloquem em risco a
organização ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade de qualquer tipo.
74
A Constituição Federal determinou que a proteção do meio ambiente, o combate à
poluição em qualquer de suas formas e a preservação das florestas, da fauna e da flora são
de competência comum da União, dos Estados e Distrito Federal e dos municípios
75
. Esses
e outros dispositivos constitucionais referentes ao meio ambiente e ao equilíbrio ecológico
vieram ao encontro da pretensão dos ecologistas e demais grupos de interesse e pressão
ligados às questões ambientais, embora nem sempre sejam obtidos resultados satisfatórios,
ou comparáveis, de região a região, ou caso a caso.
72
BRASIL. Constituição (1988). Artigo 225 caput. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado, 1988.
73
BRASIL. Constituição (1988). Art. 225 parágrafo 1 inciso IV.Constituição da República Federativa do
Brasil, combinado com Resolução Conama n. 001/86. Brasília, DF: Senado, 1988.
74
BRASIL. Constituição (1988). Art. 225 parágrafo 1 inciso VII.Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
75
BRASIL. Constituição (1988). Art. 23, Incisos VI e VII. Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado, 1988.
41
A figura da municipalização trazida pela Constituição Federal em seus artigos 18 e
34,
76
combinada com a resolução Consema 004/2000, traduz o reconhecimento da
existência do poder local dos municípios, isto é, da viabilidade e da necessidade de se
tratar das peculiaridades e particularidades do local por quem esteja junto do problema e
possa constatar seus efeitos consubstanciados na vivência, com a pesquisa in loco. Com
esse intuito, as questões ambientais das regiões devem ser “legisláveis” por quem visualize
o caso concreto através de medidas preventivas ou curativas, conforme o caso, de forma
mais imediata e definitiva, sempre norteados pelo regramento máximo
77
.
Denota-se no país, atualmente, uma tendência/necessidade à descentralização das
políticas, muito em razão da constatada inaptidão real das “poticas de gabinete” em
país de grande extensão territorial. Os legisladores, muitas vezes, não conhecem a matéria
ou o local sobre o qual criarão normas que deverão ser cumpridas incondicional e
indistintamente.
Bessa Antunes defende a competência municipal na forma do artigo 23 da
Constituição Federal para defender o meio ambiente e combater a poluição:
76
“A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. Art. 34. A União o
intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: I - manter a integridade nacional; II - repelir
invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;III - pôr termo a grave comprometimento da
ordem pública;IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;V -
reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da vida fundada por mais
de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;b) deixar de entregar aos Municípios receitas
tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;VI - prover a execução de lei
federal, ordem ou decisão judicial; VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a)
forma republicana, sistema representativo e regime democrático;b) direitos da pessoa humana;c) autonomia
municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta”. BRASIL. Constituição (1988).
Art. 18. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
77
BRASIL. Conselho Estadual do Meio Ambiente – CONSEMA. Resolução n004, de 2000. “O Conselho
Estadual do Meio Ambiente - CONSEMA, no uso de atribuições que lhe confere a Lei nº 10.330, de 27 de
dezembro de 1994, considerando: - a necessidade de integrar a atuação dos órgãos componentes do Sistema
Estadual de Proteção Ambiental RESOLVE: Art. 1º - Os Municípios para realizarem o licenciamento
ambiental das atividades de impacto local, conforme dispõe a Resolução CONSEMA nº 005/98, deverão
habilitar-se junto à SEMA. Art. - Visando à habilitação junto a SEMA para a realização do licenciamento
ambiental das atividades consideradas de impacto local, deve o Município: a) ter implantado Fundo
Municipal de Meio Ambiente; b) ter implantado e em funcionamento Conselho Municipal de Meio
Ambiente, com caráter deliberativo, tendo em sua composição, no mínimo, 50% de entidades não
governamentais; c) possuir nos quadros do órgão municipal do meio ambiente, ou a disposição deste órgão,
profissionais legalmente habilitados para a realização do licenciamento ambiental, emitindo a devida
Anotação de Responsabilidade Técnica (ART); d) possuir servidores municipais com competência para
exercício da fiscalização ambiental; e) possuir legislação própria disciplinando o licenciamento ambiental e
as sanções administrativas pelo seu descumprimento; f) possuir Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, o
Município com população superior a 20.000 habitantes, ou Lei de Diretrizes Urbanas, o Município com
população igual ou inferior a 20.000 habitantes; g) possuir Plano Ambiental, aprovado pelo Conselho
Municipal de Meio Ambiente, de acordo com as características locais e regionais [...].”
42
A importância dos Municípios é evidente por si mesma, pois as populações e as
autoridades locais reúnem amplas condições de bem conhecer os problemas e
mazelas ambientais de cada localidade, sendo certo que são as primeiras a
localizar e identificar o problema. É através dos Municípios que se pode
implementar o princípio ecológico de agir localmente, pensar globalmente.
Alguns princípios constitucionais permanecem sem aplicabilidade, como é o caso
do parágrafo do art. 225, que comina àquele que explorar recursos minerais a obrigação
de "recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo
óro público competente, na forma da lei". Os campos de mineração não recebem
qualquer tratamento ou recuperação, mas a Carta brasileira segue declarando que estão
sujeitas a sanções administrativas e penais as "condutas e atividades consideradas lesivas
ao meio ambiente".
Essa norma constitucional, na prática, não alcança o objetivo do legislador visto
que nem sempre é possível essa recuperação. Nas regiões mineradoras, por exemplo, são
praticamente impossíveis a restauração e a devolução dos recursos naturais ao status quo
ante. Nas outras formas de lesão, como em regiões de florestas, cerrado e outras
vegetações, é viável a recuperação, prática que, inclusive, é adotada na região pelos
danos cometidos pelas distribuidoras de energia elétrica, por exemplo.
Como em todas as questões complexas, às referentes ao meio ambiente, podem ser
vistas de mais de uma ótica, todavia o mais difícil é encontrar pontos de convergência e
equilíbrio entre conservadores e exploradores destemidos. O fato de uma parte ponderável
dos recursos naturais a ser preservado localizarem-se em terras indígenas, supostamente
ricas em minerais preciosos e outros, é um complicador extra da questão ambiental que
deverá ser objeto de uma análise mais acurada, para que a intervenção de oportunistas não
se efetive em detrimento dos recursos naturais e das áreas destinadas às populações
indígenas.
Até pouco tempo, a questão do meio ambiente encontrava-se compartida de forma
estanque entre fauna, flora, água, ar, aspectos culturais, etc. Hoje, tem a concepção de um
meio ambiente como objeto uno de tutela jurídica, com a necessária integridade e
interdependência entre todas essas categorias, o que veio a ser observado ainda na década
de 1980, e consagrado na Constituição Federal de 1988. A partir de então, o meio
ambiente aparece tutelado em outra dimensão, diferente da anterior quando se encontrava
fragmentado nas legislações esparsas, com partes nos códigos Florestal, Civil e Penal, além
de instrumentos administrativos e suas regulamentações. Essa fragmentação em muito
dificultava a sua aplicabilidade e oportunizava muitos equívocos de natureza oportunista.
43
Entende-se que, do ponto de vista jurídico, duas são as questões paradigticas na
questão ambiental: a primeira é a concepção do meio ambiente como direito à vida e à
saúde, como direito fundamental do cidadão e acolhido em prol do homem e em
consonância com a Declaração dos Direitos Humanos; a segunda é a questão da sua
integridade enquanto objeto de tutela jurídica, à qual se acrescentam as categorias de meio
ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. O ambiente, como bem de uso comum,
de fruição individual transgeracional, não se exaure para apenas essa geração, mas também
deve estender-se às futuras. Nessa concepção de integralidade do bem tutelado, atinge-se
uma outra dimensão para a proteção jurídica, considerada de forma mais ampla e crítica.
As Leis Orgânicas Municipais nas cidades estruturadas já trazem a abordagem
ambiental, como é o caso de Passo Fundo-RS, que destacou no título VI, capítulo II - “Da
Ordem Social” na seção IV, Do Meio Ambiente (art.187 a 189), e na seção V “Do
Saneamento” (art. 190 a 193). A legislação municipal acompanha as legislações estadual e
federal nos seus regramentos, demonstrando a compatibilidade entre os entes federativos e
a possibilidade de convincia harmônica e integrada das legislações por uma potica
ambientallida.
78
78
SEÇÃO IV - DO MEIO AMBIENTE - Art. 187 Todosm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Município e à coletividade o dever de
defen-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, garantindo-se a proteção dos ecossistemas e o uso racional dos
recursos ambientais. § 1º - Para assegurar a efetivação desse direito, incumbe ao Poder Público Municipal cumprir e fazer
cumprir os preceitos e normas estabelecidos no parágrafo 1º do artigo 250 e artigo 258 da Constituição Estadual. § 2º - A
conduta e as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 3º - As pessoas físicas ou jurídicas
que exeam atividades poluidoras, terão definidas em lei responsabilidades e medidas a serem adotadas com os resíduos por
elas produzidos, e seo obrigadas, sob pena de suspensão do licenciamento, a cumprir as diretrizes estabelecidas pelo órgão
competente, na forma da lei. § 4º - No florestamento e reflorestamento em áreas de domínio do Município serão utilizadas,
preferencialmente, essências nativas da região. § 5º - Os recursos oriundos de multas administrativas e condenações judiciais
por atos lesivos ao meio ambiente, e de taxas incidentes sobre a utilizão dos recursos ambientais, seo destinados à
preservão e à recuperão do meio ambiente, na forma da lei. § 6º - As margens dos rios, os riachos, as fontes dágua e
demais recursos hídricos devem ser protegidos com cobertura florestal nativa, permanente, de acordo com o que
estabelecem as leis estadual e federal. § 7º - Há cem metros das margens dos rios, cujos cursos dágua servem de colheita
para abastecimento da população, o poderá ser usado agrotóxico. § 8º - As unidades de conservação ( zonas de
preservão ecológica e de mananciais, santuários ecológicos, jardins botânicos ) são consideradas patrinio blico
municipal inalievel, sendo proibida, inclusive, sua concessão ou cedência, bem como qualquer atividade ou
empreendimento blico ou privado que altere ou danifique as suas características naturais. § 9º - Fica proibida a
canalizão de rios e riachos na área do Município. § 1 - Fica proibida a instalação, o trânsito, o depósito, e a produção de
equipamentos nucleares bélicos no Município. Art. 188 - O Município deverá apoiar o programa de manejo integrado do
solo, da água, da flora e das estradas, por meio de microbacias hidrogficas, visando a preservão do meio ambiente e a
melhoria sócio-ecomica da população, através de convênios ou de consórcios. Art. 189 - O Poder Executivo Municipal
deverá participar da implantão, implementação e fiscalização dos trabalhos de preservão e recuperão ambiental nos
leitos, faixas de domínio e áreas de captação do Rio Passo Fundo, Arroio Miranda e seus afluentes, e de outros que venham a
ser utilizados com tal finalidade, na medida dos recursos oamentários. Seção V - DO SANEAMENTO - Art. 190 - O
Município, juntamente com o Estado, instituirá, com a participação popular, programa de saneamento urbano e rural, com o
objetivo de promover a defesa da saúde pública, respeitada a capacidade do meio ambiente de suportar os impactos
causados. Art. 191 - É de competência comum do Estado e do Município implantar o programa de saneamento referido no
artigo anterior, cujas premissas básicas serão respeitadas quando da elaboração do plano diretor da cidade. Art. 192 - O
saneamento básico é servo público essencial e, como atividade preventiva do meio ambiente e dasões de saúde, tem
44
A Constituição delegou, ou determinou, ao poder público e à sociedade o dever de
preservar o ambiente saudável aos que sucederão as gerações atuais. Nessa perspectiva é
que veio concebida a nova lei ambiental, como expectativa de um meio ambiente mais bem
protegido, inclusive repetindo alguns pontos já contemplados pela lei maior.
1.4 Lei dos Crimes Ambientais (lei 9605/98); a criminalização das condutas e a
aplicabilidade da lei: o perfil do agente ativo do crime ambiental e a reprovação social
A Lei dos Crimes Ambientais (lei 9.605), de 12 de fevereiro de 1998, trouxe
grandes mudanças conceituais e práticas posto que, além de sistematizar ordenamentos
dispersos, tipificou como crime vários ilícitos que até então eram tidos apenas como
contravenções, além de ter tornado a pessoa jurídica passível de indiciamento criminal por
lesões ao meio ambiente, prática já utilizada largamente nos países de Primeiro Mundo.
Embora seja amplamente justificada pelos evidentes e crescentes abusos cometidos
por empresas de atividades muito invasivas ao meio, tais como desmatamento extensivo,
poluição d’água, solo, sonora e ar em grandes proporções, gera críticas em razão da forma
e da ineficácia das medidas
79
sob a argumentação de que os conceitos de vontade e
culpabilidade elementares para a tipificação do delito foram elaborados em função
exclusiva da pessoa física. Assim, seria necessária a adaptação desses elementos para a
nova proposta, sob pena de invalidade.
80
De outra banda, a lei não quis deixar impune a pessoa sica autora, co-autora ou
partícipe, uma vez que as responsabilidades são diferentes, ainda que apuradas num mesmo
processo penal, podendo, inclusive, acontecer a absolvição ou a condenação de um e de
outro, separada ou conjuntamente. A legislação discorre, ainda, sobre as condutas lesivas
abrangência municipal, podendo sua execução ser concedida ou permitida na forma da lei. § 1º - O saneamento básico
compreende a captação, o tratamento e a distribuão final dos esgotos cloacais, bem como a drenagem urbana. § 2º - É
dever do Município a extensão progressiva do saneamento básico a toda a populão urbana e rural, como condição da
qualidade de vida, da proteção ambiental e do desenvolvimento social. § 3º - A lei disporá sobre o serviço de saneamento
básico, o controle, a destinão e a fiscalização do processamento do lixo e dos resíduos urbanos, industriais, hospitalares,
laboratoriais, de análises clínicas e outros. Art. 193 - O Município formulará a política e o planejamento de execuções de
saneamento básico, respeitadas as diretrizes estaduais quanto ao meio ambiente, aos recursos dricos e ao desenvolvimento
urbano. Parágrafo único - Os distritos industriais procedeo ao tratamento e reciclagem de seus efluentes de forma
individual ou coletiva.
79
Disponível em: <http://www.ebape.fgv.br>. Acesso em: 12 jul. 2004.
80
As penas aplicáveis às pessoas jurídicas previstas no art. 21 são de multa; restritivas de direitos e prestação
de serviços à comunidade.
45
ao meio ambiente, a responsabilidade penal e administrativa do poder público, o processo
penal e a interação internacional para preservação do ambiente.
Conforme referido, pelo novo ordenamento foram criminalizadas condutas que
antes eram tratadas como contravenção penal, dentre as quais se destaca a proteção à flora.
Nesse aspecto as condutas, em sua maioria, restaram deficientes em razão da inexistência
de um maior rigor legislativo, que efetive as ações protetivas, mas não, obrigatoriamente,
deva se estabelecer na órbita penal. As penas insculpidas aos crimes ambientais constantes
da lei 9.605/98, de modo geral, não ultrapassam quatro anos e são passíveis de serem
substitdas por penas restritivas de direitos, prestação de serviços para comunidade,
interdição de direitos, suspensão parcial ou total de atividades, penas pecuniária e
recolhimento domiciliar, nos termos do que determina os artigos e do diploma em
estudo.
Constatam-se algumas exceções no artigo 35, que determina uma pena maior de
quatro anos para os crimes de pesca mediante o uso de explosivos ou de substâncias
xicas; no art. 40, quando causar dano às unidades de conservação, e, no art. 54 par. 2º,
sobre poluição qualificada. Esses, contudo, são exceções. No Brasil, geralmente, o se
aplica a pena máxima cominada para um crime em face de existirem na legislação penal e
processual penal outros elementos que interferem no cálculo da aplicação da pena
definitiva. Disso se conclui que a pena de prisão, excetuados os casos de reincidência, não
será aplicada ao criminoso ambiental porque, pelo sistema vigente, para que seja
determinado o cumprimento de pena em regime fechado, necessário se faz que seja a pena
cominada igual ou superior a oito anos de reclusão.
No direito penal da atualidade, período de grandes evoluções em defesa dos direitos
humanos garantidos, constata-se uma grande contrariedade ao sistema carcerário nacional
vigente, que, comprovadamente, não ressocializa, nem regenera, mas perverte, corrompe,
destrói o sujeito nos seus valores mais intrínsecos, encaminhando o egresso para a
reincidência; por isso, popularmente é conhecido como "escola do crime". O direito penal
moderno muito modificou seus conceitos e o espírito do direito criminal. As terríveis
penas e os suplícios que perpassavam pela pena de morte foram muito utilizados ao longo
do tempo, porém, estão sendo afastadas e banidas.
Na argumentação de Beccaria:
46
Enquanto o texto das leis não for um livro familiar, uma espécie de catecismo,
enquanto forem escritas numa ngua morta e ignorada do povo, e enquanto
forem solenemente conservadas como misteriosos oráculos, o cidadão que não
poder julgar por si mesmo as conseqüências que devem ter os seus próprios atos
sobre a sua liberdade e sobre seus bens, ficará na dependência de um pequeno
numero de homens depositários e intérpretes das leis. Colocai o texto sagrado
das leis nas mãos do povo e, quanto mais homens houver que o lerem, tantos
menos delitos haverá; pois o se pode duvidar que, no espírito daquele que
medita um crime, o conhecimento e a certeza das penas ponham freio à
eloqüência das paixões
81
.
Por tudo isso, é entendimento geral dos operadores do direito no Brasil que as
medidas de internação sejam restritas aos delinqüentes perigosos, sem recuperação, cujo
convívio em sociedade deva ser interrompido de alguma forma para garantir o bem-estar e
a tranqüilidade geral da população, ainda que mediante paga desse bem-estar, que deveria
ser prestado pelo Estado de forma incondicional.
82
Para os demais criminosos uma
alternativa para as penas com as medidas substitutivas da prisão, eficazes e menos
maléficas, relativamente novas, que acompanham o anseio social da descriminalização dos
tipos penais menos gravosos, através da lei 9.099/95.
Entretanto, dificuldades existem quanto à aplicação da Lei de Crimes Ambientais
pelo fato de tratar-se, na sua maioria, de norma penal em branco, ou seja, norma que
necessita de complementação para sua aplicação, que pode advir do próprio Poder
Legislativo Federal (homólogas) ou de esferas legislativas hierarquicamente inferiores
(heterólogas), como leis estaduais, leis municipais, decretos, regulamentos, portarias etc.
1.4.1 O crime ambiental e a prática da necessidade
Na grande maioria dos casos de crime ambiental, o infrator, a exemplo do que
ocorre com agentes ativos de outros crimes, como do colarinho-branco”, contra a
economia popular, é visto como inovador e é tratado como um agente que tem problemas
de socialização e de interiorização de normas; assim, não sofre a discriminação social que
é impingida aos demais delinqüentes, ainda que o cidadão comum tenha sido lesado pelo
seu ato ilícito.
Pessoalmente, o agente ativo do crime ambiental o se considera um marginal ou
um criminoso comum, como os que praticam crimes que resultam em derramamento de
81
BECCARIA. Cesare. Dei delitti e delle pene. São Paulo: Tecnoprint [s.d.]. p. 32.
82
Cada preso custou aos cofres públicos, em média, o valor de 2,5 salários mínimos mensais, em 2004.
47
sangue. Para ele, em razão dos valores culturais, socioecomicos e políticos que
lhe respaldam uma situação de poder, sua conduta é “moralmente” correta. Essa situação
acaba por gerar um grande desconforto quando da repressão e censurabilidade das
condutas criminosas na medida em que se justifica sua ação delitiva no âmbito do
desenvolvimento econômico pela geração de renda, empregos, etc; considerando a
realidade de um país onde pelo menos um terço da população ainda passa fome.
83
Como poderia se qualificar ou quantificar um crime praticado que tem por
justificativa a diminuição ou o fim da fome? quem a sofre sabe o tamanho do tormento
que representa, o qual aflige toda a estrutura física e emocional da pessoa, que fica o tempo
todo conectada com essa sensação por terminações “nervosas”. Benincá garante:
As razões por quê falta pão, arroz, feijão e outros itens desta natureza no prato de
uma multidão brasileiros são sabidas e, quase sempre, desconsideradas. Não
existem justificativas éticas nem econômicas para que este mal prossiga
corroendo os intestinos de tanta gente. Os índices da fome estão e o um
escândalo nacional. Pesquisas apontam que o Brasil é o segundo país com maior
número de desempregados do mundo (11,454 milhões), ficando atrás apenas da
Índia (cf. ZH, ed. 29/05/2002, p. 21). E sabe-se: A fome é uma das primeiras
herdeiras do desemprego. Alto lá. Um apelo está no ar. No dia de Corpus Christi
(30/05), a Igreja Católica lançou o “mutirão nacional para a superação da miséria
e da fome. Trata-se de um chamamento para r ponto final (.) a esta epidemia
social que submete cerca de 23 milhões de brasileiros à situação de indigência. É
um grito que parte da consciência ética e evangélica. Um clamor pela justiça e
pela cultura da solidariedade.
84
Os números da fome no país variam conforme a metodologia utilizada pelos
institutos para efetuar sua medida. Segundo o Instituto de Pesquisa Ecomica Aplicada
(Ipea), 24,7 milhões de brasileiros vivem em situação de indigência, ou seja, 14,6% da
população está submetida a condões subumanas de sobrevincia. Se forem incluídos os
denominados pobres”, que precisam escolher entre comer ou se vestir, ou vice-versa, os
números do Ipea sobem para consideráveis 57 milhões. Isso implica dizer, segundo o
óro, que uma em cada quatro crianças brasileiras vive sob ameaça de fome, significando
um total de 330 mil na Grande São Paulo.
85
83
CERCA de 1/3 da população passa fome. Folha de São Paulo. São Paulo, 18 mar. 2002. p. A6.
84
BENINCÁ, Pe. Dirceu. Mestrando em Ciências Sociais, PUC/SP. Texto enviado por correio eletrônico.
Dispovel em: <www.fomeponto.com.br>. Acesso em: 14 jul. 2004.
85
Porcentagem de indigentes* per capita: 01º - Maranhão: 63,72%, 02º - Piauí: 61,75%, 03º Ceará: 55,73% (grifo nosso), 04º -
Alagoas: 55,43%, 05º - Bahia: 54,80%, 06º - Tocantins: 51,17%, 07º - Pernambuco: 50,95%, 08º - Paraíba: 50,22%, 09º - Sergipe:
50,14%, 10º - Rio Grande do Norte: 46,93%, 11º - Pará: 41,75%, 12º - Amazonas: 38,79%, 13º - Amapá: 36,56%, 14º - Acre: 31,28%,
15º - Minas Gerais: 26,79%, 16º - Espírito Santo: 26,31%, 17º - Mato Grosso: 25,89%, 18º - Goiás: 25,46%, 19º - Rondônia: 22,35%,
20º - Mato Grosso do Sul: 22,26%, 21º - Paraná: 20,88%, 21º - Roraima: 20,16%, 23º - Rio Grande do Sul: 16,76%, 24º - Distrito
Federal: 16,21%, 25º - Rio de Janeiro: 16,21%, 26º - Santa Catarina: 14,40%, 27º - São Paulo:10,4%.
48
Para o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), no Brasil
44 milhões de desnutridos, índice utilizado pelo programa Fome Zero do governo Lula.
Pelo Relatório População 2002, feito pela ONU e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, são 54 milhões os que ganham menos de meio sario-nimo por mês.
86
o
Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas calcula em 50 milhões o número
de pobres brasileiros, ou seja, 29,3% da população que vivem com menos de R$ 80,00 por
mês. Segundo os dados:
A miria no Brasil - Estudo da FGV- SP revela que 50 milhões de brasileiros
são miseráveis, vivem com menos de R$ 80 por mês. A pesquisa ainda mostra
que se cada brasileiro cedesse R$ 14 mensais para um indigente, a fome no
Brasil estaria totalmente erradicada. São necessários R$ 1,69 milhões/mês para
acabar com a fome no Brasil, segundo estudo divulgado esta semana pelo Centro
de Políticas Sociais da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo). Para
se chegar neste número, bastaria cada brasileiro 'não-miserável' ceder R$ 14 por
mês para os indigentes. Contando todos os cidadãos, inclusive os miseráveis, a
ajuda mensal cairia para R$ 10/mês. Os valores a serem destinados aos
miseráveis variam de Estado para Estado. No Piauí, por exemplo, cada cidadão
teria que ceder R$ 24,35 para os indigentes, enquanto que cada paulista poderiam
transferir somente R$ 4,15. O estudo considerou indigentes* os mais de 50
milhões de brasileiros que o conseguem juntar R$ 80 mensais para sobreviver
(29,3% da população). Segundo o estudo da FGV, este é o valor nimo
necessário para que um indivíduo consiga se alimentar conforme as
recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde), dentro dos preços
praticados em São Paulo. A pesquisa, chefiada pelo economista Marcelo Neri e
intitulado "Mapa do Fim da Fome no Brasil", foi feita com base nos dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnads) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
87
Conforme a matéria veiculada denota-se que soluções existem e são passíveis de
serem alcaadas desde que haja interesse e colaboração de todos, especialmente de quem
detém o poder na gestão do país e das receitas provenientes da população, constituídas por
árdua gama de impostos tomados sob a moldura do desenvolvimento social, mas que têm
servido muito mais para interesses particulares de pessoas amorais, antiéticas e sem
sentimentos.
Quando se é dado assistir aos concidadãos, dentre eles crianças e idosos, padecerem
pela fome, o país noticia a improbidade administrativa, desvio de receitas da saúde e das
rias áreas. Evidencia-se, pois, o divórcio definitivo entre a moral e a economia, visto que
onde a riqueza, a estabilidade econômica e o progresso material de um povo dependem não
86
Disponível em: <http://www.revistaeducacao.com.br/leia_mais.php?edicao=26id=76>. Acesso em 14 jul.
2004.
87
A MISÉRIA no Brasil. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/almanaque/miscelanea/brasil.htm>.
Acesso em: 14 jul. 2004.
49
da observância dos preceitos normativos positivos, como o direito de propriedade e às
leis da livre iniciativa, mas de hábitos sociais virtuosos, consistentes em esforço social
mútuo e coeso, em capacidade profissional adquirida pelo estudo e trabalho, vontade e
força de poupar, moderar gastos e discernimento na condução dos negócios,
principalmente no concernente à economia, posto que dela depende o fim dessa epidemia.
1.4.2 O perfil do agente ativo do crime ambiental e a reprovação social
Os perfis criminológicos dos agentes têm variantes no sentido da justificativa pelas
ações, cujas negações delitivas não são exclusividade dos “crimes limpos”. Exemplifica-se
com o caso do parricídio do século XIX apresentado por Foucault, quando o delinqüente
Pierre Rivière narra o triplo homicídio que vitimou sua família, afirmando ter degolado sua
e, irmã e irmão justificando, a sua premeditada e desmedida ação por determinação
divina. Refere que Deus lhe ordenara e que lera no Deuteronômio e nos Números a
chancela divina para seu bárbaro crime.
88
Historicamente, as condutas criminosas são
negadas ou justificadas por seus agentes em qualquer ilícito, todavia o crime ambiental
vem como elemento novo e destitdo de valores de reprovação social.
As leis espelham os anseios dos cidadãos. Assim, a partir do momento em que a
sociedade não está adequadamente imbuída dos valores constantes da lei, permanece
absorvida pelas relações de poder impostas, que lhe indicam que a população criminosa é
aquela das classes mais baixas, de status típico das periferias e comunidades
desfavorecidas, que compõem a nossa tessitura social.
89
As condutas inadequadas nem
sempre partem de resultados dos processos de favelização, podem estar nos meios sociais e
culturais mais elevados; o que se altera são as variantes de valores de cada indivíduo e sua
comunidade:
88
FOUCAULT, Michel. Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão. Rio de
Janeiro: Graal, 1977.
89
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal: Introdução à sociologia do direito
penal. 3. ed . Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 65-67.
50
A visão relativizante da sociologia coloca em crise, assim, a linha artificial de
discriminação que o direito assinala entre atitude interior conformista (positiva) e
atitude desviante (reprovável), sobre a base da assunção acrítica de uma
responsabilidade do individuo, localizada em um ato espontâneo de
determinação pelo ou contra o sistema institucional de valores. Esta distinção
entre atitude interior positiva e atitude interior reprovável, que remete ainda ao
fundamental principio do bem e do mal que caracteriza a ideologia penal, é feita
também sobre a base de uma assunção acrítica do conjunto de valores e dos
modelos de comportamento protegidos pelo sistema penal, como o conjunto dos
critérios positivos de conduta social compartilhados pela comunidade ou pela
grande maioria dos consócios.
90
No caso dos valores ambientais construídos por uma cultura preservacionista
relativamente nova, as leis, no momento da sua implementação, passam a ser consideradas
injustas e, portanto, as penas são de difícil aplicação, pela total ignorância, quer do povo,
quer das autoridades encarregadas de legislar mais e de explicar/informar menos. Portanto,
necessário se faz, antes de qualquer forma de repressão aos crimes, inserir nos conjuntos
integrantes da sociedade princípios ambientais, fomentando seu desenvolvimento e
contribuição para a formação de valores próprios de moral e ética. assim será possível
contar com eficazes e sólidos propósitos de prevenção, já que o direito constitucional
garantido de um ambiente saudável é direito de fruição e indisponível, de modo que os
crimes praticados contra o ambiente sempre o serão em prejuízo da coletividade, seja rica
ou pobre, com ou sem poder. Anota Santos acerca da dificuldade da prova e da
condenação:
Penso que a sociedade brasileira não está convencida da existência de crimes
ecológicos, ainda que a legislação brasileira contemple uma grande gama deles.
Pergunta-se: por que são escassas as condenações? A resposta não será simples.
Existem fatores de natureza sociológica e de natureza cultural. Dentre os fatores
internos posso citar, a título de exemplo, a complexidade da prova técnica
necessária para fundamentar uma condenação, um sistema processual que
privilegia em demasia a posição do réu.
91
De outro enfoque, Foucault, no capítulo que dedica à soberania e disciplina na obra
Microfísica do poder, relata:
A burguesia não se interessa pelos loucos mas pelo poder; não se interessa pela
sexualidade infantil mas pelo sistema de poder que a controla; a burguesia não se
importa absolutamente com os delinqüentes nem com sua punição ou reinserção
social, que o tem muita importância do ponto de vista econômico, mas se
interessa pelo conjunto de mecanismos que controlam, seguem, punem e
reformam o delinqüente.
92
90
BARATTA, op. cit., p. 74.
91
SANTOS, Pedro Sérgio. Crime ecológico: da filosofia ao direito. Goiânia: AB UFG, 1964. p. 94.
92
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 9. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1979. p. 186.
51
Relata Santos:
Sendo a vida humana o maior bem jurídico tutelado, independe ela das demais
formas de vida? Confirmada a dependência da vida humana das demais formas
de vida, pode-se afirmar, com certeza, que os “crimes’ dolosos e culposos contra
a vida humana apenas ocorrem quando um ou mais sujeitos ativos agem
diretamente contra o(s) sujeito(s) passivo(s), como é o caso do homicídio
praticado com arma de fogo, faca, atropelamento, etc.? Neste sentido, o que se
poderia dizer das mortes provocadas por poluição de mananciais de água, por
intoxicação alimentar, por radiação nuclear, por manipulações genéticas
inescrupulosas, dentre outras formas? Será que nestes casos não poderíamos
vislumbrar a existência de crimes culposos, preterdolosos, ou até crimes de dolo
eventual?
93
O anteprojeto de reforma do Código Penal, em tramitação, deverá dedicar um
capítulo na parte especial aos delitos contra o meio ambiente, (402 a 416). Tal medida se
faz necessária em virtude da descontextualização da norma com a realidade social vivida,
na qual não alcança a prestação adequada para a qual se destina, porque advinda de
tempos em que as ciências eram herticas e não se desenvolviam em integração. Urge
uma redefinição de crime contra a vida para que seja feita a releitura dos quatro tipos
existentes na lei penal datada de 1940 (1. homicídio; 2. induzimento, instigação e
participação em suicídio; 3. infanticídio; 4. aborto), por tratar-se de uma época em que os
problemas ambientais eram incipientes ou de pequena atenção e reprovação.
94
Na lição de
Paulo de Bessa Antunes:
A responsabilidade criminal dos poluidores e degradadores do meio ambiente é
uma questão que tem suscitado controrsias em todos os países. Isto porque
vários fatores influem no sentido de que a maria o esteja pacificamente
contemplada por todos. Em primeiro lugar há que se considerar que para que
haja uma condenação criminal é necessário que o Ministério Público proponha a
competente ação penal.
95
A nova lei ambiental não quer, nem pode, simplesmente, segregar pessoas, mas,
fundamentalmente, visa a reeducar o infrator; por isso, apresenta mecanismos alternativos,
como a reparação do dano, para que possa haver a suspensão do processo; a apreensão dos
objetos ilícitos (principalmente em relação à madeira), não devolvidos ao infrator, mas
doados a entidade assistencial a ser designada; a prestação, pelo infrator, de serviços à
comunidade, preferencialmente, na área ambiental. A dimensão do dano ambiental ainda
o está situada na mentalidade da população, que ainda é incapaz de se sentir vitimada
93
SANTOS, Pedro Sérgio. Crime ecológico: da filosofia ao direito. Goiânia: AB UFG, 1964. p. 98
94
Ibid., p. 97.
95
ANTUNES, Paulo de Bessa. Curso de Direito Ambiental. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1992. p. 107.
52
por ações lesivas contra o ambiente, assim como incapaz de observar que o dano cometido
contra o meio é cometido contra todos. Observa Antunes:
A repressão penal representa a manifestação mais grave de reprovação social,
esta se exerce eficazmente para proteger valores afirmados na sociedade,
indiscutíveis; pessoas, bens, costumes, honra. Ao contrário, ela é mal adaptada
para proteger de um valor ainda precariamente inscrito na consciência social.
96
Para a efetividade das leis é imperiosa a participação da comunidade na provocação
das autoridades representativas, atuando na imediata comunicação dos fatos ilícitos ao
Ministério Público e buscando maior agilidade da justiça no alcance do infrator, pois,
quanto mais rápida for a sanção, mais eficiente será a ação.
A prevenção é o meio mais eficaz de se evitar a prática dos delitos. Uma justiça
célere e a fiscalização garantem a diminuição dos índices infracionais, mormente hoje,
quando a grande responsabilidade para o deslinde das infrações ambientais foi confiada à
Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente. A esse órgão cabe adotar medidas necessárias
para a investigação, prevenção e repressão, apurando as infrações penais lesivas ao meio
ambiente, incluindo-se os atos lesivos à fauna, à pesca, à flora, poluição, ordenamento
urbano e patrimônio cultural. Pode, para tanto, desenvolver programas, por iniciativa
própria ou conjugadamente com organismos rurais e entidades privadas, que objetivem a
eliminação dos processos de poluão prejudiciais ao bem-estar da comunidade, à sua
saúde, segurança e outros pertinentes à proteção do meio ambiente.
A aceleração do processo punitivo aos crimes ambientais, pela aplicação da lei
9.099
97
Lei dos Juizados Especiais Criminais –, a qual criou institutos que permitem a
autocomposição entre a vítima e o acusado baseada na reparação dos danos civis sofridos e
a possibilidade de transação entre o acusado e o Ministério Público, a disponibilidade da
ação penal e a suspensão condicional do processo, instituiu e viabilizou a lavratura do
Termo Circunstanciado”(TC), aplivel aos crimes que tenham pena máxima de um ano,
indicando ao infrator a hora, a data e local para comparecer em juízo. Evitando-se,
assim, as delongas temporais permissivas do Código de Processo Penal, que podem levar à
prescrição pelo decurso de tempo de tramitação dos feitos, que pode chegar aos dez anos.
96
ANTUNES, op. cit., p. 107-108.
97
BRASIL. Decreto-Lei n.º 9.099/95. Regula crimes de menor potencial ofensivo penas até 04 anos. Art. 89 "caput" preceitua:
"Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público,
ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo
processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional
da pena (art. 77 do Código Penal).
53
A possibilidade de aplicação de penas alternativas, como a prestação de serviços à
comunidade em parques ou jardins zoológicos, ou de prestação pecuniária, onde o infrator
pode pagar ao Estado, ao ofendido, fornecendo cestas básicas ou material escolar para uma
entidade, também agilizou o processo de execução efetiva da pena.
Outra prática permitida e adotada é o “Termo de Ajustamento de Condutas”, pelo
qual o promotor de justiça, mediante termo firmado, ime ao agente ativo do delito, na
maioria das vezes pessoas jurídicas representadas legalmente, a assunção do compromisso
com o restabelecimento da condição natural anterior ou, nos casos de impossibilidade,
determina-lhe a recuperação de outra área degradada, sem prejuízo da pena de multa e da
apresentação e aprovação de projeto realizado por técnicos, especialmente para a área de
recuperação. O descumprimento do acordo implica a competente demanda criminal e a
responsabilidade civil reparatória.
Ainda ponto positivo que emergiu a partir da Lei de Crimes Ambientais
98
diz
respeito à divulgação da matéria legislada, tornando-se conhecida e provocando ampla
discussão da questão ambiental nas várias esferas. Apesar do uso de terminologia técnica
que leva ao hermetismo indesejado, é passível de traduzir-se ao entendimento mediano, de
modo que conseqüências práticas já se podem observar pela mudança de conduta do
infrator ambiental, que já procura o órgão público para reparar seu erro, pagar as multas,
com vista a livrar-se das conseqüências da aplicação da legislação, que, em alguns casos,
pode ser muito sofrível.
Constatam-se como efeitos positivos os Juizados Especiais, tanto criminal, como
cível, pela celeridade, pela oralidade e pela aplicação das correções no curto prazo, o que
contribui para a formação da nova consciência porque o sujeito não ficar esperando, ad
eternum, para ser penalizado. A legislação em estudo também corrigiu alguns equívocos
existentes na anterior, quer pela rigidez, quer pela incoerência da desproporção dos delitos
e das penas, que muitas vezes valoravam mais a vida de animais e plantas que a própria
vida humana.
Essa rigidez no concernente à fauna, em que os crimes eram inafiançáveis e
imprescritíveis, com penas de um até cinco anos, foi alterada pela nova lei para penas que
variam de três meses a um ano, exceto no caso de agravantes específicos, para animais em
extinção, a caça profissional ou noturna, quando passa a ser de dois a cinco anos,
98
BRASIL. Decreto-Lei n.º 9.605/98.
54
impossibilitando a aplicação da Lei dos Juizados Especiais
99
e, por conseguinte, o uso do
termo circunstanciado, tendo o processo penal rito comum.
No período de vincia da antiga legislação, o desequilíbrio ornou
vergonhosamente o ordenamento jurídico e ético patrio, visto que, como dito, uma vida
humana valia menos do que um animal da fauna ou espécime da flora. Então, muito se
ouvia que era preferível matar o agente florestal ou fiscal que constatava e apreendia a
caça, se fosse o caçador (réu) primário, de bons antecedentes, com residência e trabalhos
fixos, uma vez que responderia pelo homicídio em liberdade, tendo chances significativas
de absolvição pela dificuldade da prova conclusiva em seu desfavor, já que a principal
testemunha o agente fiscalizador poderia o mais existir e, se existisse, o crime seria
na forma tentada, que diminuiria a probabilidade de uma pena expressiva considerando o
ordenamento penal.
Felizmente essa prática foi corrigida pela nova lei, conforme referido, assim
como outras iniidades existentes em sentido contrário, pelo excesso de complacência
legal, igualmente contemplada e regularizada, como a criminalização das antigas
contravenções da flora, que, pelo digo Florestal
100
, em nova reforma, mantinha como
único crime contra a flora a utilização de motosserra sem registro ou porte, ao passo que
derrubar uma floresta inteira com um trator era tratado como uma simples contravenção
penal. A conduta de maus-tratos aos animais, ainda que domésticos, também foi objeto de
normatização pela lei, deixando de ser contravenção para figurar dentre o rol dos crimes
propriamente ditos.
101
A internet rede mundial de computadores divulga a prática
criminosa de venda de animais silvestres e exóticos, os quais já estão sendo punidos com
base no ordenamento criminal em análise.
102
99
BRASIL. Decreto-lei n.º 9.099/95.
100
BRASIL. Código florestal brasileiro. Decreto 23.793, de 23 de Janeiro de 1934, revogado pela lei nº
4.771, de 15 de Setembro de 1965.
101
Foi preciso manifestação provocada do Supremo Tribunal Federal para que se dissesse que a farra do boi é
uma prática condenável pela evidência de maus-tratos, embora a existência da lei 10.519/2002, que dispõe
sobre a fiscalização dos rodeios, dos deveres dos organizadores para com os animais e pessoas participantes.
102
Mercadolivre.com é multado por comércio ilegal de animais silvestres - A decisão do IBAMA teve por
base a lei 9605/98 e o Decreto 3179/99.O site Mercado Livre foi autuado pelo IBAMA por comércio ilegal
de fauna silvestre e por introdução de espécies exóticas sem parecer favorável ou autorização. Foram
lavrados dois autos de infração de R$ 125 mil e R$ 16,4 mil respectivamente. O órgão tinha advertido aos
administradores do site quanto aos riscos dessas transações por meio eletrônico e, apesar disso, o Mercado
Livre manteve a prática. A única providência adotada foi exibir em sua página eletrônica uma mensagem na
qual se eximia de co-responsabilidade. A decisão do IBAMA teve por base a Lei 9605/98 e o Decreto
3179/99 que definem que “quem vende, expõe a venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou
depósito utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna, nativa ou em rota migratória, bem como
produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão,
licença ou autorização de autoridade competente”. O IBAMA tem ampliado sua atuação na fiscalização
55
Todas as inovações trazidas na lei acompanham a tendência hodierna do direito
ambiental, como a inclusão do patrimônio histórico, artístico e cultural, normas que regem
o ordenamento urbano como valores ambientais, conduzindo a que essas áreas recebam o
tratamento de "ambientais" pela representação que têm para o bem-estar físico e cultural da
humanidade. Já, quanto às penas atribuídas para os crimes praticados em relação à pesca,
entende-se que se tornaram excessivamente pesadas, sendo de um a três anos de reclusão,
excluída a pesca com uso de substâncias xicas ou explosivos, que, certamente, deve ter
as punições agravadas pelo que representa.
103
A aplicação da lei, na parte administrativa, que é atribuição do Ibama, tem sido
bastante complicada pela falta da regulamentação, o que facilita a prática infracional de
empresas, dos grandes poluidores, incentivando as infrações e não provocando qualquer
mudança de conduta do agente diante da insignificância das penas restritivas de direito
para as infrações ambientais, embora haja a previsão de pena de multa de até cinenta
milhões de reais. Além disso, muitos autos de infração são anulados pela justiça pela falta
de tipificação administrativa, o que só será resolvido com a regulamentação da lei.
A responsabilidade do poder público foi alterada com substancial
comprometimento com as práticas ambientais no âmbito da sua circunscrão; assim, o
funciorio blico responsável por qualquer falsidade de informação ou sonegação de
dados técnicos e científicos em procedimentos de autorização ou licenciamento ambiental
(art. 66), enquadra-se em crime doloso eclodindo a necessidade imperiosa de orientação
para pareceres técnicos mais aprimorados.
As licenças, autorizações e permissões, instrumento básico em todas as esferas
governamentais, em desacordo com a legislação e as normas ambientais para atividades,
obras e serviços cuja realização dependa do órgão ambiental figuram como crime
insculpido no artigo 67 e têm pena de detenção de um a três anos. Igualmente, a co-
responsabilidade do administrador pela não-apuração, na área administrativa, de uma
buscando coibir todo e qualquer tipo de comércio envolvendo a flora e a fauna silvestre, incluindo a internet
que se transformou num dos meios para promoção deste tipo de ilícito.”
103
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:
Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único.
Incorre nas mesmas penas incorrem quem: I pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com
tamanhos inferiores aos permitidos;II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização
de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;III - transporta, comercializa, beneficia ou
industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas. Art. 35. Pescar mediante a
utilização de: I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; II -
substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena - reclusão de um ano a cinco
anos. BRASIL. Código florestal brasileiro. Decreto 23.793, de 23 de Janeiro de 1934, revogado pela Lei
Nº 4.771, de 15 de Setembro de 1965.
56
infração ambiental contemplada pela legislação implica que sejam apuradas,
indistintamente, todas as denúncias mediante a abertura de um processo, aplicando-se a
legislação pertinente e devendo as infrações detectadas ser comunicadas ao Ministério
Público e à Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, para que procedam à
responsabilização penal da infração, como também à eventual reparação civil do dano
através de uma ação civil pública ou outro termo de ajustamento de conduta indicado para
o ato. Os prefeitos, igualmente, já estão sofrendo processos judiciais com condenações por
ação ou omissão.
104
A regulamentação do procedimento administrativo, que ainda não ocorreu, o que
prejudica a atuação dos órgãos ambientais, deverá ser objetiva e prática, servindo não
como norma geral de aplicação da nova lei ambiental para todos os órgãos ambientais,
como também aos órgãos ambientais estaduais e municipais que não tenham uma
legislação específica de proteção do meio ambiente. Além disso, deverão ser
disponibilizados estrutura, orçamento e recursos humanos necessárias para sua execução,
pela administração pública e a reforma dos conceitos da realidade ambiental, do contrário a
lei tornar-se-á vazia, inócua.
Assim, a Lei de Crimes Ambientais
105
, além de tipificar penalmente inúmeras
outras condutas como lesivas à natureza, adota princípios assentados nas principais
convenções mundiais sobre o meio ambiente, buscando sua preservação e um progresso
economicamente sustentável
106
. Foi um dos últimos eventos significativos na legislação
104
Prefeito de Guaporé condenado por crime ambiental (Criminal - 17.11.2003) A 4ª Câmara Criminal do TJRS condenou, na
última quinta-feira, a um ano de detenção, em regime inicial aberto, por haver cometido crime ambiental, o prefeito de Guaporé,
Fernando Postal. A condenação foi substituída pelo pagamento de 12 salários mínimos a uma entidade local com fim social, a ser
definida pelo Juízo de Guaporé. Segundo a decisão condenatória, Postal infringiu o artigo 38 da lei nº 9.605/98 a Lei dos Crimes
Ambientais ao ter determinado ou autorizado, na localidade de Linha Três de Maio, a destruição de 2,73 hectares de floresta nativa
em estágio inicial de regeneração (vassouras) e supressão de 7,67 ha de floresta mista, constituída de acácias e eucaliptos, situada ao
longo de um curso d´água, em área considerada de preservação permanente. Os fatos ocorreram entre 1997 e 1998 e o local serviu para
a implantação do Distrito Industrial de Guaporé. Os fatos foram comprovados pela Patrulha Ambiental da Brigada Militar e por
funcionários do Departamento Estadual de Florestas e Áreas Protegidas. O desembargador Vladimir Giacomuzzi, relator do processo-
crime, concluiu ter ficado comprovadoque o acusado determinou aos seus auxiliares que procedessem à implantação, no local, das
bases materiais para que ali viesse a se instalar, num futuro próximo, o Distrito Industrial de Guaporé, o que se fez, não se tendo no
entanto aguardado as necessárias autorizações das autoridades ou dos órgãos ambientais, sob o pretexto de morosidade ou retardo
administrativo. Para o Relator, o prefeito Postal agiu precipitadamente, com inobservância das obrigações legais que o momento
impunha a todos nas questões do meio ambiente, a começar pelas autoridades públicas. O prefeito passou determinações a seus
subordinados com desprezo às exigências das normas ambientais, pois os pedidos de licença sucederam-se às devastações da área
florestal protegida, refere o voto. Afirmou o magistrado que a Licença Pvia de setembro de 1998, continha expressa menção à
necessidade de obtenção de autorização de Exame e Avaliação da Área Florestal, pelo órgão competente, com menção destacada de
que estava proibida a tomada de qualquer iniciativa na área sem prévia autorização daquele órgão ambiental e, na Licença de Instalação,
de setembro de 2000, está expresso, como restrição, a obrigação de manter a faixa de preservação permanente ao longo da sanga ali
existente. O prefeito pode tentar um recurso especial ao STJ (Proc. nº 70001949361 - com informações do STJ). Espaço Vital, 17 de
novembro de 2003. Marco Advogados- www.marcoadvogados.com.br -123@marcoadvogados.com.br -PortoAlegre/RS.
105
BRASIL. Decreto-Lei n.º 9.605/98.
106
SALES, Miguel. A lei de crimes ambientais. Recife: Lex, 1999.
57
ambiental, encerrando um século XX caracterizado pela criação de novos órgãos públicos,
departamentos, institutos, superintendências, secretarias, cargos e fuões burocráticas
destinados a frear os desmatamentos sem precedentes, as queimadas, desastres ambientais,
biopirataria e perda do patrimônio produtivo e natural.
A gravidade dos problemas ambientais não está afetando apenas o volume
diariamente noticiado, mas envolve a diversidade de elementos que o desenvolvimento
tecnológico traz, sem ainda uma tipificação específica, o que impede a aplicação da lei e a
distribuição da justiça na proporção ao delito
107
.
1.4.3 O histórico da impunidade pelo descrédito da justiça
O sistema jurídico brasileiro, entre 1500 e 1822, não gozava de autonomia que lhe
permitisse a criação de normas próprias. Assim, tudo o que havia nesse momento em
termos de legislação estava submetido aos ditames de Portugal. Identificam-se três fases
distintas, que iniciam na época colonial (1500-1822), com características bem portuguesas,
seguem na imperial (1822-1889) e na republicana.
108
Em todas as fases citadas, como dito, denota-se a influência do direito português,
contido nas Ordenações do Reino, que compreendiam: as Afonsinas (1500-1514), no
século XV, encerradas sob o reinado de Afonso, de quem levaram o nome, compostas de
cinco livros e que continham regras de direito penal, civil, comercial, organização
judiciária, processual, etc; as Manoelinas (1514-1603), sobre as quais não se têm registros
de aplicação efetiva e que tiveram como compiladores Rui Boto, Rui da Grã e João
Cotrim, em trabalho iniciado em 1501, no reinado de Dom Manoel e, findado em 1514 e as
Filipinas, que tiveram vigência em conjunto com leis extravagantes, de 1603 1916.
109
As
ordenações já tratavam de matéria ambiental, ainda que de forma incipiente:
107
SANTOS, Pedro Sérgio. Crime ecológico: da filosofia ao direito. Goiânia: AB Editora da UFG, 1964. p.
94.
108
BITTAR, Eduardo C.B.(org). História do direito brasileiro. São Paulo: Atlas, 2003. p. 142.
109
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
58
Apesar de ser quase unânime no mundo inteiro a preocupação com o meio
ambiente, encontramos uma grande heterogeneidade no legal tratamento da
matéria, principalmente na área penal. No caso específico do Brasil, a nossa
história jurídica registra, de muito, as preocupações do Direito Penal com a
problemática ecológica, embora haja preocupações ainda setorizadas e nem
sempre motivadas pelo valor da preservação. nas Ordenações Afonsinas, que
vigeram longamente no Brasil, encontramos a proibição do corte de árvores
frutíferas. Mais precisamente no Livro V, Título LVIII, destas Ordenações, tal
conduta é tipificada como crime de injúria ao rei. Nas Ordenações Manoelinas
(1.521) poderemos verificar a proibição de caça a perdizes, lebre e coelhos, com
fios, rede ou quaisquer outros instrumentos que causassem sofrimento na morte
dos animais. Ainda era prevista a proibição da caça aos coelhos nos meses de
março, abril e maio em respeito à procriação. A pena prevista para o infrator era
do pagamento de mil reis e a perda dos instrumentos e dos cães utilizados na
caçada.
110
Santos segue relatando que, embora a legislação previsse punições severas, tais
como açoite, degredo, confisco de bens e até a pena de morte, o havia um interesse na
apuração dos fatos para a efetivação da justiça:
Vigorando em Portugal e no Brasil, as referidas ordenações, bem como as
anteriores, nem sempre encontravam a ressonância social do seu cumprimento.
Verdade mesmo é que raramente algumas destas leis eram observadas, bem
como raramente se encontrava na justiça disposição para a apuração e punição
dos culpados.
111
A impunidade fez-se tão presente que serviu de inspiração para a crítica poética de
Gregório de Matos Guerra, mais conhecido como O Boca do Inferno, que dizia:
E que justiça resguarda? ... Bastarda
É grátis distribuída? ...Vendida
Que tem que a todos assusta? ... Injusta
Valha-nos Deus o que custa
O que El-Rei nos dá de graça
Que anda a justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
112
Os crimes eram punidos com penas diferenciadas, conforme o estamento social a
que pertencia o agente ativo, conforme se exemplifica. Segundo as ordenações Manoelinas,
protegiam-se também as abelhas, sendo proibidas a destruição e a comercialização
indiscriminada de colméias; nesse caso, independentemente de classe social, deveria o
infrator pagar o quádruplo do valor obtido na venda das colméias. Se o agente do delito
110
SANTOS, Pedro Sérgio. op. cit., p. 81.
111
Ibid., p. 81.
112
MATOS, Gregório de Guerra. Poemas escolhidos. [S.n.t.]. p. 38.
59
fosse um “peão”, além da pena pecuniária, ainda cumularia as penas de açoite; já, se o
infrator fosse de classe mais elevada, poderia ser degredado por dois anos.
As ordenações Manoelinas e Filipinas mantiveram a tipificação das ordenações
Afonsinas referentemente ao corte de frutíferas, mas estabeleceram valores monetários às
árvores, os quais variavam, pois, quanto maior fosse o valor de uma árvore derrubada,
maior seria a pena, que poderia variar do oite ao degredo permanente na ilha de São
Tomé e no Brasil. Apesar dos protestos de Duarte Coelho, contrário à presença aqui desses
degredados, o Brasil, segundo Santos, acabou por receber todo um contingente de
destruidores ambientais expulsos de Portugal que aqui vieram se fixar. Certamente essa
o é a causa única da destruição ambiental no país, mas pode ter sido a nese da cultura
da destruição da natureza.
1.5 A Primeira Lei de terras no Brasil – Lei 601/1.850
A primeira Lei de Terras lei 601, de 18 de setembro de 1850, foi fruto de
idéias avaadas de José Bonifácio, que trouxe importantes avanços em matéria ambiental
e disciplinou a ocupação do território nacional em momento de evidente necessidade de
organização dos registros de terras doadas desde o período colonial e de legalização das
terras ocupadas, para evitar os abusos e conhecer quais seriam as terras devolutas, para pôr
fim ao caos fundiário criado pela ineficiência das sesmarias, ou seja, conhecer as terras de
que o Estado poderia dispor para promover e financiar o processo imigratório e a
colonização, além de valorizar a terra em substituição ao capital investido nos escravos e
em vésperas de ser perdido.
Entretanto, esses não foram os únicos motivos da aprovação da lei, posto que veio
num contexto de modificações estruturais, quando houve suspensão do tráfico de escravos
e anunciava-se a abolição da escravatura. Na época havia interesse em atrair imigrantes
europeus para o trabalho agrícola nas grandes propriedades. A partir da lei, a terra
transformou-se em propriedade imobiliária, com o que somente através da compra e venda
alguém poderia se tornar proprietário de terras; portanto, a medida dificultou o acesso à
propriedade pelos imigrantes europeus que chegavam ao Brasil, os quais se viram
60
obrigados a vender sua força de trabalho aos grandes proprietários, organizando de forma
viável o fim da escravidão, já previsível.
113
O texto da Lei de Terra iniciava-se dando conta da efetiva pretensão legal de dispor
sobre as terras devolutas e regularizar das áreas obtidas em desacordo com as
formalidades. Veja-se como estava redigida:
Lei n.º 601, de 18 de setembro de 1850 Dispõe sobre as terras devolutas no
Império, e acerca das que são possuídas por título de sesmaria sem
preenchimento das condições legais, bem como por simples titulo de posse
mansa e pacífica: e determina que, medidas e demarcadas as primeiras, sejam
elas cedidas a título oneroso, assim para empresas particulares, como para o
estabelecimento de colônias de nacionais e de estrangeiros, autorizado o
Governo a promover a colonização estrangeira na forma que se declara. D. Pedro
II, por Graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os Nossos
Súditos, que a Assembléia Geral Decretou, e Nós Queremos a Lei seguinte: Art.
1. Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título que não seja
o de compra. Excetuam-se as terras situadas nos limites do Império com países
estrangeiros em uma zona de 10 léguas, as quais poderão ser concedidas
gratuitamente.
A lei, quando de sua publicação, demonstra a severidade com que trataria as
atividades clandestinas, tanto de natureza possessória quanto predaria, conforme se
denota pelo que reza o seu Art. 2°:
Art. - Os que se apossarem de terras devolutas ou de alheias, e nelas
derrubarem matos ou lhes puserem fogo, serão obrigados a despejo, com perda
de benfeitorias, e demais, sofrerão as penas de dois a seis meses de prisão e
multa de cem mil reis, além da satisfação do dano causado [...] Parágrafo único:
Os Juízes de Direito nas correições que fizerem na forma das leis e
regulamentos investigarão se as autoridades a quem compete o conhecimento
destes delitos põem todo o cuidado em processá-los e puni-los, e farão efetiva a
sua responsabilidade, impondo no caso de simples negligência a multa de
50$000 a 200$000.
Ficava, então, a partir do texto do artigo 1º, proibida a tradicional apropriação de
terras por posse de sesmarias, na mesma medida em que ficaram legalizadas as terras
indubitavelmente ocupadas, com efetivos sinais de ocupação humana e agrícola.
114
113
BRASIL. Lei 601, de 18 de setembro de 1850. Art. 18. “O Governo fica autorizado a mandar vir
anualmente à custa do Tesouro certo número de colonos livres para serem empregados, pelo tempo que for
marcado, em estabelecimentos agcolas, ou nos trabalhos dirigidos pela Administração pública, ou na
formação de colônias nos lugares em que estas mais convierem; tomando antecipadamente as medidas
necessárias para que tais colonos achem emprego logo que desembarcarem. Aos colonos assim importados
são aplicáveis as disposições do artigo antecedente.
114
BRASIL. Lei n601 de 18 de setembro de 1850. Art. 5. Serão legitimadas as posses mansas e pacíficas,
adquiridas por ocupação primária, ou havidas do primeiro ocupante, que se acharem cultivadas, ou com
princípio de cultura e morada habitual do respectivo posseiro ou de quem o represente, guardadas as regras
seguintes:
61
Não teriam respaldo legal as ocupações repentinas, posto que a lei ressalvara os
critérios de avaliação do que seria uma posse efetiva, cujos conceitos muito se
aproximavam dos atuais.
115
A autonomia do governo imperial ficava resguardada para a
reserva e utilização das terras devolutas para os destinos que aprouvesse,
116
assim como as
terras indígenas seriam demarcáveis e reservadas.
117
Visando estimular a imigração
européia, a legislação facilitou a aquisão de terras para fins exploratórios da agricultura
ou indústria, bem como a naturalização depois de transcorridos dois anos de efetiva
exploração.
A Igreja foi mobilizada como meio de divulgação por permear diferentes
localidades no país. Assim, notícias e instruções para conhecimento dos cidadãos eram
dadas nos cultos religiosos pelo vigário das respectivas freguesias do Império, assim como
estes recebiam as declarações para o registro das terras.
118
Para a aplicação da lei urgiu que se regulamentassem alguns elementos executivos
que permitissem instar o povo ao cumprimento do mandamento legal, o que ocorreu em
1854. A Lei de Terras foi regulamentada em 1854, através do decreto 1.318/54, assim
redigido:
115
Idem. Art. 6. Não se haverá por prinpio de cultura para a revalidação das sesmarias ou outras concessões
do Governo, nem para a legitimação de qualquer posse, os simples rados, derribadas ou queimas de matos
ou campos, levantamentos de ranchos e outros atos de semelhante natureza, não sendo acompanhados da
cultura efetiva e morada habitual exigidas no artigo antecedente.
116
Idem. Art. 12. O Governo reserva das terras devolutas as que julgar necessárias.- 1., para a colonização
dos indígenas; 2., para a fundação de povoações, abertura de estradas, e quaisquer outras servidões, e assento
de estabelecimentos públicos; 3º, para a construção naval.
Art. 17. Os estrangeiros que comprarem terras, e nelas se estabelecerem, ou vierem à sua custa exercer
qualquer indústria no país, serão naturalizados,querendo, depois de dois anos de residência, pela forma por
que o foram os da colônia do S. Leopoldo, e ficarão isentos do serviço militar, menos do da Guarda Nacional
dentro do município.
117
Idem. Art. 72. Serão reservadas terras devolutas para colonização, e aldeamento de indígenas nos distritos, onde existirem hordas
selvagens. Art. 73. Os Inspetores e Agrimensores, tendo notícia da existência de tais hordas nas terras devolutas, que tiverem de medir,
procurarão instruir- se de seu gênio e índole, do número provável de almas, que elas contêm, e da facilidade, ou dificuldade, que houver
para o seu aldeamento; e de tudo informarão o Diretor-Geral das Terras Públicas, por intermédio dos Delegados, indicando o lugar mais
azado para o estabelecimento do aldeamento, e os meios de o obter; bem como a extensão de terra para isso necessária.
Art. 75. As terras reservadas, para colonização de indígenas, e por eles distribuídas, são destinadas ao seu usufruto; e não poderão ser
alienadas, enquanto o Governo Imperial, por ato especial, não lhes conceder o pleno gozo delas, por assim o permitir o seu estado de
civilização.
118
Idem. Art. 97. “Os Vigários de cada uma das Freguesias do Império são os encarregados de receber as declarações
para o registro das terras, e os incumbidos de proceder a esse registro dentro de suas Freguesias, fazendo-o por si, ou
por escreventes, que poderão nomear, o Ter sob sua responsabilidade.Art. 98. “Os vigários, logo que for marcada a
data do primeiro prazo, de que trata o art. 91, instruirão a seus fregueses da obrigão, em que estão, de fazerem
registrar as terras, que possuírem, declarando-lhes o prazo, em que o devem fazer, as penas em que incorrem, e dando-
lhes todas as explicões, que julgarem necesrias para o bom cumprimento da referida obrigão. Art. 99. “Estas
instrões serão dadas nas Missas conventuais, publicadas por todos os meios, que parecerem necessários para o
conhecimento dos respectivos fregueses.
62
Decreto n.º 1.318, de 30 de janeiro de 1854. Manda executar a Lei n. 601, de 18
de setembro de 1850. Em virtude das autorizações concedidas pela Lei n. 601, de
18 de setembro de 1850, hei por bem que, para execução da mesma Lei, se
observe o Regulamento que com este baixa, assinado por Luiz Pedreira do Couto
Ferraz, do meu Conselho, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do
império, que assim o tenha entendido, e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro
em trinta de janeiro de mil oitocentos e cinqüenta e quatro, trigésimo terceiro da
Independência e do Império. Com a Rubrica de Sua Majestade o Imperador.
(Luiz Pedreira do Couto Ferraz)
A “legislação executiva”, como foi chamado o decreto 1.318/1854, explicitou as
competências para o efetivo cumprimento da lei 605/1850. Dentre as responsabilidades,
destacaram-se as atribuídas aos juízes municipais, que eram os conservadores das terras
devolutas, os delegados e subdelegados, constantes do capítulo VIII “Da Conservação das
Terras Devolutas Alheias.”
119
As a lei n° 601/1850, que se destaca como um acontecimento importante, poucos
aspectos foram merecedores de estudo. Tem-se, por exemplo, o decreto n° 4.887, de 05 de
fevereiro de 1872, que autorizou o funcionamento da primeira companhia especializada no
corte de madeiras, a Companhia Florestal Paranaense. Por essa lei, a empresa era obrigada
a pedir licença ao governo para cortar árvores necessárias a sua atividade.
120
No entanto, observa-se que, no final da fase imperial, a devastação florestal era tão
violenta que preocupava as autoridades; então, o governo por ato do ministro da
Agricultura da época, reiterou, mediante carta circular, a todos os presidentes de província
a necessidade de reprimir os abusos de derrubadas de matas nacionais, recomendando a
aplicação da lei n° 601/1850 e seu regulamento.
A grande devastação florestal de araucária no Paraná, que se estendeu até os
planaltos sulistas, iniciou-se em 1885, com a construção da estrada de ferro que liga
Curitiba até Paranaguá, época em que se multiplicaram as serrarias por toda a região e a
119
Da Conservação das Terras Devolutas Alheias. Art. 87. Os juízes municipaes são os conservadores das terras
devolutas. Os delegados e subdelegados exercerão também as funções de Conservadores em seus distritos, e, como
tais, deverão proceder ex officio contra os que cometerem os delitos, de que trata o artigo seguinte, e remeter,
depois de preparados, os respectivos autos ao juiz municipal do termo para o julgamento final. Art. 88. Os juízes
municipais, logo que receberem os autos mencionados no artigo antecedente, ou chegar ao seu conhecimento, por
qualquer meio, que algm se tem apossado de terras devolutas, ou derrubado seus matos, ou neles lançado fogo,
procederão immediatamente ex officio contra os delinqüentes, processando-os pela forma, por que se processam os
que violam as posturas municipais, e impondo-lhes as penas do art. 2 da Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850.
Art. 89. O mesmo procedimento terão, a requerimento dos proprierios, contra os que se apossarem de suas terras,
e nellas derrubarem matos, ou lançarem fogo; com tanto que os indivíduos, que praticarem taes atos, não sejam
heréus confinantes. Neste caso somente compete ao heréu prejudicado a acção civil. Art. 90. Os Juízes de Direito,
nas correões que fizerem, investigarão se os Juízes Municipais em todo o cuidado em processar os que
cometerem tais delitos; e os Delegados e Subdelegados em cumprir as obrigões que lhes impõe o art. 87; e farão
efetiva a sua responsabilidade, impondo-lhes, no caso de simples neglincia, multa de cinqüenta a duzentos mil
is, e, no caso de maior culpa, prisão a ts meses.
120
MAGALHÃES, J. P. A evolução do direito ambiental no Brasil. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998. p. 43.
63
exportação de pinho transformou-se na principal atividade econômica do momento. Essa
situação de destruição estendeu-se até a primeira metade do século XX ou mais, quando
surgiu a preocupação ecológica, porém a transformação da paisagem tinha acontecido de
forma irreversível e boa parte dos pinheirais haviam desaparecido, transformados em
madeira.
121
Um acordo entre o governo brasileiro e empresas dos Estados Unidos e do Reino
Unido agravou a situação já demonstrada, ao estabelecer que, a medida que as estradas de
ferro fossem construídas através do planalto sul-brasileiro, novas terras fossem abertas para
os imigrantes europeus, que poderiam explorar livremente as florestas.
O processo evolutivo do direito ambiental apresentou-se em três períodos, que
datam de 1889 a 1981, de 1981 a 1988 e a partir de 1988, respectivamente. Durante esse
tempo a legislação ambiental sofreu um processo de mudanças significativas. Num
primeiro momento demonstrava preocupação com a defesa das florestas porque
representavam inestimável valor econômico; então, defendia-se a riqueza nacional segundo
o conceito herdado dos colonizadores, que, com o tempo, foi evoluindo e amadurecendo,
propiciando uma mudança do foco da preocupação: o legislador não se voltava apenas
para o aspecto econômico, mas também atentava para o aspecto ecológico, dando sinais de
conscientização. Iniciou-se o século com a criação de uma reserva florestal, elemento
desencadeador de uma persecução mais célere dos recursos sustentáveis. São dessa época
alguns dos principais organismos de defesa ambiental, tais como os primeiros digos de
proteção dos recursos naturais, como o florestal, o de mineração, o de águas, o de pesca, o
de proteção à fauna, etc.
Dentre outros fatos importantes que datam desse período e merecem destaque, estão
a imposição de limitações ao exercício do direito de propriedade imposto pelo Código
Florestal de 1934, por tratar-se de matéria até então restrita ao digo Civil; a criação da
responsabilidade objetiva nos casos de danos nucleares
122
; na década de 1970, os dois
planos nacionais de desenvolvimento, nos quais se pode notar, pela primeira vez, o esboço
de uma política nacional para a defesa ambiental, visto que o problema é tratado com
acuidade em nível nacional. As diretrizes constantes nesses planos resultaram em medidas
121
MAGALHÃES, J. P. A evolução do direito ambiental no Brasil. Leia mais em: NOS TRILHOS da
devastação. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 02 nov. 2004. p. 38.
122
BRASIL. Decreto-Lei n° 6.453/1977.
64
posteriores eficientes em termos de proteção ambiental, acarretando real evolução da
legislação ambiental, com significativas mudanças jurídicas.
2 - A ECLOSÃO DA CONSCIÊNCIA PRESERVACIONISTA E SUA
EVOLUÇÃO PELA CULTURA DA NECESSIDADE
A natureza fez tudo a nosso favor, nós, porém pouco ou nada temos feito a favor
da Natureza. Nossas terras estão ermas, e as poucas que temos roteado são mal
cultivadas, porque o são por braços indolentes e forçados. Nossas numerosas
minas, por falta de trabalhadores ativos e instruídos, estão desconhecidas ou
mal aproveitadas. Nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo e
do machado destruidor da ignorância e do egoísmo. Nossos montes e encostas
vão-se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltarão as chuvas
fecundantes que favoreçam a vegetação e alimentem nossas fontes e rios, sem o
que o nosso belo Brasil, em menos de dois séculos, ficará reduzido aos páramos
e desertos áridos da Líbia. Virá então este dia (dia terrível e fatal), em que a
ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos.
José Bonifácio de Andrada e Silva,
Representação à Assembléia Constituinte e Legislativa
Do Império do Brasil sobre a escravatura, 1823.
123
Os historiadores mapeiam o passado considerando que as paisagens históricas se
diferenciam das paisagens cartográficas por serem fisicamente inacessíveis, pois qualquer
pessoa que se proponha elaborar um mapa de determinada região poderá visitá-la,
fotografá-la e até medi-la, ao passo que os historiadores trabalham depois de fatos
acontecidos, logo, com parcos vestígios. Por isso comparam-se os historiadores com o
advogado criminalista ou um físico, conforme Pádua:
Os historiadores estão na mesma situação espinhosa de um advogado
criminalista que se esforça para reconstruir um crime que ele não presenciou; ou
um físico que confinado ao leito em virtude de uma gripe toma conhecimento de
seus experimentos por meio dos relatórios de seu técnico de laboratório. O
historiador nunca chega antes de a experiência ser concluída. Mas em
circunstâncias favoráveis, ela deixa atrás de si certos resíduos os quais os
historiadores podem ver com seus próprios olhos.
124
123
PÁDUA, José Augusto. Um sopro de destruição: pensamento potico e crítica ambiental no Brasil
escravista (1786-1888). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
124
GADDIS, John Lewis. Paisagens da história. Rio de Janeiro: Campus, 2003. p. 51.
66
O novo paradigma que surge aponta para uma atuação inspirada na consciência
pessoal, em conexão com a consciência dos outros e com a natureza. Deve-se prevenir ou
impedir a ocorrência de danos ambientais irreparáveis. As medidas ecomicas, sociais e,
mesmo, políticas não são suficientes por elas mesmas para mudar o curso da história. É
aqui que entra a responsabilidade, como um aspecto inerente à atuação do advogado. Agir
de maneira responsável e consciente deve ser uma característica inalienável do advogado
neste milênio. Salienta Ginzburg que o paradigma de natureza indiciária, fundamentado na
semiótica, o qual emergiu silenciosamente no âmbito das ciências humanas”
125
,
configurou-se no final do século XIX, pom era operante em esferas da atividade
humana desde tempos remotos.
Uma retomada histórica que passa pela semiologia médica, arte divinatória e
atividade da caça em períodos longínquos permite ao autor destacar as raízes antigas de um
saber que se constrói sobre indícios. Em certo sentido, ele toma o antigo caçador como o
precursor dessa forma de saber dizendo que,por trás desse paradigma indiciário ou
divinatório, entrevê-se o gesto mais antigo da história intelectual do gênero humano: o do
caçador agachado na lama, que escruta as pistas da presa”.
126
A elaboração sobre o
paradigma indiciário ou semiótico desdobra-se por meio de argumentos que apontam a
importância dos pormenores considerados negligenciáveis no estudo dos femenos,
apoiados nas formas de conhecimento do perito, do detetive e do psicanalista.
Em relação ao modelo da ciência moderna, Ginzburg critica o desprezo pelo
individual, que esse modelo toma a investigação de eventos singulares como embaraço
para um conhecimento científico rigoroso. A crítica estende-se também a outros
pressupostos dessa forma de racionalidade na busca de leis universais, com a crença na
transparência da realidade; a separação entre sujeito e objeto; o modo exclusivo de
conhecimento sistemático e com regras formais, orientados apenas para as regularidades da
natureza. Ginzburg contrapõe a essas visões a riqueza da conjeturalidade do conhecimento
humano e a valorização do singular. Permanecendo por longo tempo marginal ou implícito
na esfera científica, o saber conjetural pode ser reconhecido nas mais diversas esferas de
atividade da vida cotidiana. Vincula-se a uma intuição que vem dos sentidos e que supera o
sensorial. Esse saber, quando incorporado ao âmbito da ciência, pode atender a demandas
de rigor, cuja austeridade é, antagonicamente, necessariamente “flexível”.
125
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras,
1989. p. 43.
126
Ibid., p. 154.
67
A valorização do singular é outro aspecto central do paradigma, tendo em vista que
as formas de saber assumidas implicam uma atitude orientada para casos individuais, que
devem ser reconstruídos, compreendidos por meio de sinais, signos, pistas, indícios ou
sintomas variados. Contudo, decifrar e ler pistas é estabelecer elos coerentes entre eventos;
por isso, o componente narrativo faz parte das interpretões indiciárias. Apesar de
privilegiar o singular, o se abandona a idéia de totalidade, pois esse modelo
epistemológico busca a interconexão de femenos, não o indício no seu significado como
conhecimento isolado. A realidade é complexa, mas nela passagens abertas, que
permitem interconexões favoráveis à compreensão da totalidade.
[...] pode se converter num instrumento para dissolver as névoas da ideologia
que, cada vez mais, obscurecem uma estrutura social como a do capitalismo
(contemporâneo). Pois se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas -
sinais, indícios - que permitem decifrá-la.
127
Cabe destacar, em razão das considerações de Ginzburg, que a ação predaria do
homem sobre a natureza é tão antiga quanto a sua própria exisncia. Através dos séculos,
constata-se que, desde a mais primitiva sociedade, ele praticou atividades causadoras de
degradação ambiental na produção de bens de consumo, tais como energia, alimentação,
utensílios, por exemplo.Todavia, para um resgate do inconsciente coletivo, a subjetividade,
a intuição e o método servem como instrumento para desvelar o real.
Observa-se, no processo de reconstrução do passado, que desde as antigas
civilizações havia o interesse e normas preservacionistas das coisas da natureza. Destaca-
se, assim, a relevância histórica e atual deste tema, que, apesar do ancestral alerta, ainda se
mostra, sem grandes signos evolutivos.
Os povos da Antigüidade fizeram referências à proteção ambiental reafirmando o
papel preponderante das florestas como reguladoras dos ciclos da água e defensoras dos
solos contra a erosão e os processos de desertificação. Na Roma antiga, Cícero considerava
inimigos do Estado os que abatiam as florestas da Macedônia
128
. Nessas civilizações
127
GINZBURG, op. cit., p. 178.
128
Não são novas as relações jurídicas ambientais, posto que são encontradas entre as mais antigas
civilizações (Dinastia Chow 1122 A.C / 255 A.C) havia recomendação imperial para a conservação das
florestas e, nas que sucederam a prática de reflorestamento de áreas desmatadas, criação de estações
experimentais. No início do século XIV leis proibiram serrarias hidráulicas em proteção das florestas
dominiais na Inglaterra. Em 1669, na França foi promulgado o Decreto das Águas e Florestas elaborado por
Jean Baptiste Colbert, ministro de Luiz XIV. A ciência denominada ecologia surgiu em 1895, por obra do
professor Eugen Warming, da Universidade de Copenhague. Até este momento, os problemas ecológicos
pertenciam a “Economia da Natureza”, por onde constatou-se que a depredação ambiental, estava ligada à
68
havia leis de proteção da natureza; desde a primeira legislação escrita, a Lei das XII
Tábuas (450 a.C.), continha disposições para prevenir a devastação das florestas, como na
tábua segunda, onde prescrevia: “[...] Se alguém sem razão, cortar árvores de outrem, que
seja condenado a indenizar à razão de 25 asses
129
por árvore cortada [...]”.
130
Na legislação romana, pode-se também verificar a preocupação pela conservação
do meio, entretanto a punição não assumia caráter de ilícito penal, restringindo-se à pena
pecuniária, bem a contento dos interesses privatísticos e ecomicos característicos dos
romanos, dando forma inicial ao instituto da responsabilidade civil e indenização, hoje
largamente utilizados. Entre os povos antigos o interesse pela riqueza e diversidade do
bioma
131
não se restringiu a proteção das matas, mas também abrangeu a caça de animais,
que foi regulamentada e proibida nos períodos de reprodução, numa demonstração da
preocupação com a preservação das espécies, desde àquela época
132
.
Hoje, é sabido que a degradação ambiental tem intensidades distintas, obedecendo à
equação tamanho da população, os padrões de consumo e sistemas de produção por ela
utilizados.
133
Pode-se exemplificar com o empobrecimento do setor agrícola pela perda de
fertilidade e pela contaminação do solo do país na década de 1980, especialmente do Rio
Grande do Sul, historicamente utilizado com a pecuária e agricultura de fartura e extensão
(monocultura). Sem qualquer implemento de recuperação e uso contínuo, o solo foi levado
à exaustão quase que total das suas forças produtivas.
134
O cansaço da terra, o uso desmedido de agrotóxicos e as queimadas que levaram à
improdutividade conduziram ao empobrecimento da produção primária numa dificuldade,
cujos reflexos foram, incontestavelmente, denotados por toda a sociedade ao final de cada
safra agrícola, nas várias esferas econômico-sociais, fruto de relações econômicas nascidas
do interesse de um grupo dominante e suas inter-relações.
135
economia e aos seus interesses. GIMPEL, J. A revolução Industrial na Idade Média. (trad). Álvaro Cabral,
Rio de Janeiro: Zahar, 1977. p. 60.
129
Moeda romana (de cobre).
130
GIMPEL, op. cit., p. 60.
131
Meio ambiente: conjunto de elementos abióticos (energia solar, solo, água e ar) e bióticos (organismos
vivos) que integram a fina camada da Terra chamada biosfera, sustentáculo e lar dos seres vivos. Bioma
grande ecossistema com fauna, flora e clima próprios.
132
Na África existem santuários da fauna criados há séculos pelos reis locais, com intuito de proteção do rico
meio. GIMPEL, op. cit., p. 60.
133
HOGAN, D. J. A relação entre a população e ambiente: desafios para a demografia. In: TORRES, H;
COSTA, H. (Org.). População e meio ambiente. São Paulo: Senac, 2000. p. 21-52.
134
ZARTH, Paulo Afonso. História agrária do Planalto Gaúcho.(1850-1920). Ijuí: Unijui, 1997. p. 135-149.
e: A ATIVIDADE agrícola e a contaminação química do solo dispovel em
<http://www.cnpab.embrapa.br/servicos/baby/contamin.html
>. Acesso em: 25 dez. 2004.
135
EDUCAÇÃO para um futuro sustentável: uma visão transdisciplinar para ações compartilhadas. Unesco.
Brasília: Editora Ibama, 1999. p. 21-26.
69
Para minimizar o problema, necessário se fez o processamento de uma agricultura
mais técnica, o uso de adubos e outros produtos químicos para recuperação do solo, bem
como a rotatividade de culturas. O efeito primeiro foi obtido e os resultados na
produtividade foram evidentes. Todavia, um sinal de desestruturação dos recursos naturais
como a contaminação das águas, abatimento das matas, aterramento e drenagem de
banhados, prejudicou gravemente outras formas de vida, inclusive e, especialmente, a
humanidade, com aparecimento de doenças degenerativas e outras decorrentes da
administração indireta destes produtos químicos lesivos à saúde.
136
Argemiro Luís Brum
137
garante que o desenvolvimento é um processo que busca a
melhoria da eficiência na alocação dos recursos públicos, o fomento à eqüidade na
distribuição da riqueza e do emprego e a satisfação das necessidades presentes e futuras da
população, tendo sempre em conta um adequado uso dos recursos naturais e do meio
ambiente, ou seja, não é sinônimo de crescimento. Este último representa o aumento no
acúmulo de riquezas geradas pelos agentes econômicos instalados num país ou região, ao
passo que o desenvolvimento significa o resultado da melhor utilização possível, em
termos de bem-estar social, pelo conjunto da população deste país ou região, dessa
riqueza.
138
Em face do problema exposto, a água ingerida diariamente, necessita de altos
índices de cloro e outros produtos para minorar as conseqüências da poluição sofrida, com
agrotóxicos e agro-químicos violentos, dentre os quais vêm aumentando o número de
doenças para todo tipo de vida na terra. Todos são atingidos de forma mediata ou imediata
e precisam do socorro. Assim, deve-se perseguir um desenvolvimento sustentável para a
reversão do quadro estabelecido e a recuperação do meio pela consciência da vida para a
vida, no locus onde somos todos habitantes/sobreviventes.
139
136
SOARES, I.A.A. e col. Resultados de análises de resíduos de inseticidas clorados e fosforados em frutas e
hortaliças comercializadas no Ceasa/MG e analisadas no Centro Integrado de Apoio à Produção - Ciap - 1983
a 1984. Dados apresentados no Encontro de Analistas de Resíduos de Pesticidas Instituto Adolfo Lutz -
Maio - 1985. Comunicação Verbal, 1985.
137
Professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijui).
138
DESENVOLVIMENTO regional: uma nova fase. Disponível em: <www.agrolink.com.br>. Acesso em:
27 set. 2004.
139
A HISTÓRIA do cloro na saúde pública. Dispovel em: <http://www.clorosur.org/historia.html>. Acesso
em 29 dez. 2004.
70
2.1 A questão ambiental da história ao momento atual
2.1.1 Do desmatamento
O homem tem sido capaz de modificar seu meio natural para adaptá-lo às suas
necessidades, mas foi com a Revolução Industrial que realmente se deflagrou a
transformação da face do planeta, da natureza de sua atmosfera e da qualidade de sua vida
na terra.
Desde o início da colonização do Brasil, as florestas vêm sendo abatidas,
inicialmente, na região costeira; as matas de jacarandá e de outras madeiras nobres na
região do sul da Bahia, do norte do Espírito Santo e na denominada Zona da Mata de
Minas Gerais. De um total de, aproximadamente, 1,3 milhão de quilômetros quadrados da
Mata Atlântica primitiva restam, apenas, cerca de 50 mil km
2
, ou seja, 7,3% da área
original
140
.
A mata que ainda abriga várias populações indígenas perpassa pelos terririos de
17 estados brasileiros
141
e foi, ao longo dos anos, sendo abatida para dar lugar a áreas de
cultivo de milho, trigo e videira, etc. Os colonos alemães e italianos deflagraram o
processo, na primeira metade do século, com a exploração indiscriminada da madeira,
quando árvores gigantescas e centenárias foram derrubadas e queimadas, sem considerar
que 70% da população brasileira vive na área de donio da Mata Atlântica e da sua área
de donio tem retirado 70% do PIB nacional.
É desnecessário frisar a importância das matas para o país, porque nelas se
encontram nascentes e mananciais hídricos que proporcionam água de qualidade para as
populações das cidades, além de regular as condições climáticas de temperatura, umidade,
chuvas, etc. Além disso, contém plantas de uso medicinal, muitas delas desconhecidas e
outras muito cobiçadas, tendo a maior e mais ameaçada biodiversidade.
Originariamente, as matas de araucárias, ou pinheiros-do-paraná, estendiam-se do
sul de Minas Gerais, passando por São Paulo e chegavam ao Rio Grande do Sul,
integralizando cerca de 100.000 Km
2
de matas de pinhais. À sombra desses pinheiros
cresciam outras espécies de madeiras nobres, como a imbuia, o cedro, a canela, entre
outras, o que deflagrava maior interesse econômico por esse tipo de formação florestal,
pela rentabilidade que representava.
140
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica, Inpe e Instituto Sócioambiental.
141
RS, SC, PR, SP, GO, MS, RJ, MG, ES, BA, AL, SE, PB, PE, RN, CE, PI.
71
No Estado do Rio Grande do Sul 47% da paisagem é composta pela mata Atlântica
presente em outros 14 estados da federação, e por 63% de paisagem exclusiva
encontrada aqui.
142
Com a destruição de mais da metade desse bioma, que por mais de cem
anos alimentou a indústria madeireira, desapareceram várias espécies de roedores que se
alimentavam do pinhão, aves, insetos, etc., além de formações florísticas de pequeno porte
que conviviam com a floresta.
A destruição, sem precedentes, dos pinheirais da região Sul do país, para atender à
demanda de carvoeiros e lenhadores para suprir as demandas do mercado, desrespeitando
as restrições legais de proteção de matas nativas, de nascentes, limites das margens dos
cursos d’água, encostas com declives acentuados e topos de morros, levou à desertificação
e à ameaça da fertilidade em vários pontos.
No norte do estado do Paraná, as matas de perobas e outras espécies de madeiras-
de-lei foram extintas, sem o devido aproveitamento nas serrarias, para a ocupação da área
para plantios de cafezais.
143
As áreas desmatadas da Floresta Amazônica, da Mata
Atlântica e do Cerrado somam 2,5 milhões de Km
2
(250 milhões de hectares) - quase 30%
do território brasileiro, ou a soma das superfícies formadas pelos estados das regiões
Nordeste e Sudeste. Os técnicos florestais do Ibama estimam que o desmatamento, em todo
o território é superior a 300 milhões de hectares de matas.
144
A preocupação com nossos recursos florestais, além de o ser uma temática atual,
o se limitou aos cientistas do Brasil, mas foi objeto de obras de autores estrangeiros, que
nos idos de 1.923 indicavam grande preocupação com o ambiente terrestre de uma
forma geral. Os florestólogos Zon e Sparhawk foram responsáveis pela obra Forest
ressources of the world
145
(Recursos Florestais do Mundo). Conforme noticiado na época
no único jornal da região, a obra demonstrou problemas constatados no mundo pela
devastação das matas, trazendo dados atualizados e úteis sobre o Brasil. Segundo os
autores e a obra, num país bem organizado as áreas territoriais devem ser distribuídas nas
proporções de 30% de matas, 60% de terras cultivadas e 10% ocupadas pelas cidades e
142
IBGE traça em mapas a vegetação do Brasil. Zero Hora, Porto Alegre, 22 maio 2004. p. 25.
143
BRITES, Ricardo Miranda de. Biólogo que trabalhou como coordenador técnico do diagnóstico dos
remanescentes florestais da Floresta com Araucária no Paraná. FUPEF - FUNDAÇÃO DE PESQUISAS
FLORESTAIS DO PARANÁ (2001). Conservação do Bioma Floresta com Araucária: relatório final -
Diagnóstico dos remanescentes florestais. Curitiba, 2001, v.2, 456 p. e IBDF - INSTITUTO BRASILEIRO
DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL (1984). Inventário Florestal Nacional: Florestas/Nativas
Paraná/ Santa Catarina, Curitiba: FUNPAR, 1984, 309p. Disponível em:
<http://www.redeprouc.org.br/news>. Acesso em 16 out. 2004.
144
Idem.
145
ZON, Raphael; SPARHAWK, William.N. Forest resources of the world. New York: McGraw-Hill Book
Company Inc., 1923, 2v., 997p.
72
povoados”. Seguem afirmando que a queda das reservas florestais em proporção abaixo
dos 20% é desastrosa e provam essa asserção com os casos da Espanha, Grécia e da Itália,
países onde a taxa é, respectivamente, de 14, 15 e 18%. Considerando a área total dos
continentes excluída as regiões polares, verifica-se que 22,5% dessa área são cobertos por
florestas. A obra foi matéria do jornal local e inicia de forma impactante:
De palpitante interesse e para vos o problema dos recursos das mattas, pois que
entre nós a indústria das madeiras é a maior fonte de riqueza. Pela “Bolsa”
revista de sciencia econômica, foi publicado há pouco, o seguinte artigo, em
torno de um livro recentemente dado á luz da publicação...
146
Na obra dos autores ao Brasil foram reservadas 35 laudas, em capítulo especial,
baseado em bibliografia que abrange 48 publicações. Entre outras informações, destaca
que no país, quando do descobrimento, havia 58,6% da supercie revestida por matas,
consignando a proporção de 40% de cobertura, com o índice de 11,2 hectares de floresta
por habitante. Este cálculo pareceu excessivo, tendo-se por base outros trabalhos já
publicados.
Na avaliação da área florestal e das principais esncias que se encontram nas
matas brasileiras, referem-se os florestólogos Zon e Sparhawk que se encontram nas
florestas da Amazônia, da região litorânea, dos pinheirais do sul e das matas do interior as
principais essências, avaliam em número de 3.000 e enumeram 82 espécies com indicações
superficiais de cada uma. Avaliaram ainda que as madeiras brasileiras eram abatidas na
proporção de 1m
2
per capita, prevendo a duplicão do consumo nos seguintes vinte anos.
Demonstraram os autores grande cuidado com o consumo mundial de madeira das
coníferas pela pequena quantidade de representação que tinham nas florestas do mundo,
somando um terço do total geral das florestas e o seu consumo é de três quartos do gasto
geral em madeira. No Brasil esta população alcança um décimo das florestas.
Equivocaram-se, entretanto, os autores Zon e Sparhawk ao afirmarem estar o Brasil
fora do mercado madeireiro mundial, visto que grande parte das reservas florestais nobres
foi direcionada para os países europeus desde o seu descobrimento. Possivelmente
estivesse excluído do mercado lícito, conforme se pode denotar pela publicação que segue:
146
OS RECURSOS florestais do mundo. As florestas no Brasil. O Nacional, Passo Fundo, 1 ago. 1928. p. 1.
73
O Brasil, accrescentam por assim dizer ainda não appareceu no mercado mundial
de madeiras, com as suas variadíssimas espécies e, si quizerem iniciar em grande
escala essa industria, terá que empatar grandes capitães, passando a trabalhar
pelos processos mecânicos modernos. Por outro lado, terá de ir substituindo as
mattas compostas de centenas e centenas de essências diversas, por outras mais
homogenias, construídas de poucas espécies, de crescimento rápido e maior
valor commercial.
147
Seguem os autores relatando:
A história ensina que os paizes dotados com abundantes recursos naturaes não
poupam taes riquezas que a natureza lhes proporcionou. Aumentando a
população e desenvolvendo as industrias, nasce então, pouco a pouco, na opinião
publica, a comprehensão do dever da economia. Effectivamente todas as nações
passaram por estas mesmas phases. Cuidem, pois as nações mais novas de tirar
proveito dessa licção da história, seguindo o exemplo dos paizes mais velhos, ja
beneficiados pelos cuidados que despensaram ás suas florestas, águas e terras.
148
Apesar da gravidade do problema como um todo, o desmatamento e as queimadas
da região Amazônica, por ser a maior das florestas primárias remanescentes do mundo,
centralizam as preocupações dos ambientalistas nas últimas décadas, pelos desequilíbrios
imprevisíveis causados ao ambiente, cujas conseqüências ainda são desconhecidas. A
destruição é assustadora
149
, tanto que somente nos últimos quatro anos mais de 77 mil Km
2
- uma área um pouco maior do que os estados do Rio Grande do Norte e Sergipe juntos -
foram devastados
150
.
A prática da extração ilegal de madeira para uso do solo, sob a forma de culturas e
para formação de pastagens, constitui a maior ameaça às florestas. A precária fiscalização
governamental permite a perpetuação de práticas clandestinas que atingem também as
áreas de reservas indígenas sem qualquer tipo de controle. Das mais de 17 madeireiras
“legalizadas” que atuam na região, apenas uma
151
é totalmente certificada pelo Conselho
de Manejo Florestal (CMF). A maioria utiliza tecnologia ultrapassada, que determina perda
de grandes quantidades de madeira, aproveitando apenas um terço para destinação do
147
OS RECURSOS florestais do mundo. As florestas no Brasil. O Nacional, Passo Fundo, 1 ago. 1928. p. 1.
148
Idem.
149
Várias madeireiras estrangeiras, principalmente da Indonésia, Malásia, China e Japão, estão instaladas na
região.
150
No ritmo atual se desmata 01 campo de futebol a cada 04 minutos. De 1985 a 1990 a média foi de 420
campos de futebol por dia. De 1990 a 1995 a média foi de 390 campos de futebol por dia. Fonte: Fundação
SOS Mata Atlântica, INPE e Instituto Sócioambiental.
151
A empresa Mil Madeiras é totalmente certificada pelo Conselho de Manejo Florestal.
74
produto final, além do alto custo da certificação manejo e condões de trabalho, etc., que
afasta até os grandes empresários do setor pela total impossibilidade de alcançá-la.
152
Com projetos de integração da região Amazônica com o resto do país, grande parte
das indústrias madeireiras do sul, agora sem disponibilidade de matéria-prima pelo
esgotamento das florestas em ponto de abate, migrou, acompanhando os projetos
agropecuários, para aquela região. Ali transformam as áreas cobertas por florestas para o
uso da agricultura e pecuária, movimentando importantes quantidades de madeira, que são
vendidas para madeireiras (86% mercado interno) ou queimadas por falta de compradores.
Segundo Bertha K. Becker, da Universidade Federal do Rio de Janeiro o
desmatamento deve continuar ainda que a política florestal procure incrementar a
lucratividaede e sustentabilidade do manejo florestal, uma vez que, na Amazônia, no Pará,
Mato Grosso e em Rondônia, a indústria florestal gera 15% do PIB e 05% do emprego; em
1998, estima-se que o setor tenha gerado R$ 2,2 bilhões em vendas e contribuído em torno
de 10% do total dos impostos recolhidos no Pará e Mato Grosso.
153
Portanto, o lucro de
agricultura e da extração da madeira é tão expressivo que o desmatamento continuará.
A questão já levava a discussão às mais remotas regiões do país nos idos da década
de 1920, onde as notícias pululavam dando conta, através dos jornais, de que a
preocupação se estendia pelo país. preocupação com o comprometimento do
patrimônio nacional que sua alienação a estrangeiros, como ao industrial americano Henry
Ford, para que explore imensa gleba do vale fértil do Amazonas, sem o indispensável
controle oficial dos altos poderes da nação. A atitude potica gerou críticas que foram
levadas a público:
Por um erro de visão, administrativa, ou por inconfessável móvel subalterno, os
Governos da Amazônia começaram de fazer concessões de terras naquella
região, pretendendo com isso, fazerem crer, que incentivam o desenvolvimento
do extremo norte de pai, sem medirem as consequencias desastrosas que podem
advir dessa política francamente condemnavel. A culpa de que no Brasil existam
Governos capazes de facilitar aos extrangeiros, a colonisação por methodo
“especial” das terras nacionaes, vem da Constituição Federal, organisando
Estados com demasiada extensão territorial, quando despovoados, e entregando-
os, com as faculdades de suas autonomias, a administradores sem a necessária
probidade profissional, que se requer para tão elevada funcção...
154
152
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Causas e dinâmica do desmatamento na Amazônia. Brasília:
MMA, 2001. p. 19. Leia mais em ABIMCI. Disponível em: <http://www:abimci.com.br/>. Acesso em: 29
out. 2003.
153
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Causas e dinâmica do desmatamento na Amazônia. Brasília:
Ministério Meio Ambiente, 2001. p. 18.
154
A ALIENAÇÃO do patrimônio nacional. O Nacional, Passo Fundo, 25 jul. 1928. p. 1.
75
Nos últimos vinte anos, a contribuição da Amazônia no mercado madeireiro
nacional saltou de 14% para 85%; deste total, segundo dados oficiais, 80% da exploração é
feita de forma ilegal. Apesar de evidência dos danos e das proporções, nem todas as
medidas governamentais adotadas alcançaram o intento de proteção, como se observa pela
elaboração do I Plano Nacional de Desenvolvimento
155
, a ser executado no período de
1972 a 1974, considerado inadequado na medida em que programas como o Programa de
Interação Nacional (PIN)
156
e o Programa de Redistribuição de Terras e Estímulos à
Agropecuária do Norte e do Nordeste (PROTERRA
).
157
Ao contrário, representou para a
Amazônia a maior devastação já ocorrida na região, pelo incentivo à pecuária e pela
facilidade para a aquisição de terras, que atraíram um grande contingente de predadores
ávidos de fortuna fácil. As conseqüências dessa potica foram as piores possíveis, pela
destruição em massa dos recursos naturais, deixando marcas indeléveis aos mananciais
naturais das regiões onde tais programas foram implementados.
Por interferência das ONGs ambientalistas, está sob análise a implementação de
novas áreas de preservação uma vez que ainda uma grande área íntegra, que perfaz dois
terços, que pode ser preservada, dependendo de ações finais, especialmente de ordem
político-administrativo.
A colonização no Rio Grande do Sul foi fundada sob o regime da pequena
propriedade. Os alemães, em 1824, receberam lotes coloniais de 77 há; em 1848, os lotes
coloniais foram reduzidos para 48 ha
158
, que era entendido como o tamanho ideal para um
lote ser ocupado com agricultura intensiva; e, em 1875, os lotes foram alterados para 25 ha,
medindo 200m a 250m de frente e 1.000m a 1.250m de profundidade, conforme descreve
Jean Roche em seu estudo sobre a colonização alemã no Rio Grande do Sul
159
.
O governo imperial havia pensado em todas as medidas para a instalação dos
estabelecimentos agrícolas por colonos europeus, como se demonstrou no capítulo anterior
no estudo sobre a Lei de Terras de 1850
160
; previa os procedimentos para a ocupação das
terras desde a chegada dos imigrantes ao país até sua instalação definitiva. Para agilizar e
controlar a ocupação das terras devolutas criou-se uma Repartição Geral das Terras
Públicas.
155
BRASIL. Decreto-Lei n° 5.727, de 4 de novembro de 1971.
156
BRASIL. Decreto-lei n° 1.106, de 16 de junho de 1960.
157
BRASIL. Decreto-lei n° 1.179, de 06 jul. 1971.
158
MANFROI, Olívio. A colonização italiana no Rio Grande do Sul, implicações econômicas, políticas e
culturais. Porto Alegre: Grafosul/IEL/DAC/SEC, 1975. p. 84.
159
ROCHE, J. A colonização alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 144.
76
Os imigrantes, de início, prestavam serviços na abertura de estradas, na construção
de barracões, na abertura de picadas em troca de somas que eram investidas em terras. Era
uma forma de trabalho assalariado que lhes permitia ganhar em dinheiro para pagar as
dívidas existentes. A dívida dos colonos era considerável e as dificuldades iniciais
enfrentadas não permitiam saldá-la nos primeiros anos. A Comissão Liidadora da dívida
colonial, que era subordinada à Comissão de Terras, atuou até 1894 com a finalidade de
saldar as dívidas feitas pelos colonos, sendo extinta em 1906.
Quanto ao registro das terras, no início da colonização, eram os vigários de cada
uma das freguesias do Império os encarregados de receber as declarações para os registros
das terras
161
. Cabia-lhes instruir seus fiéis sobre a obrigação de registrarem a terra dentro
do prazo estabelecido e esclarecer acerca das penas que sofreriam se não o fizessem,
dando-lhes todas as explicações necessárias para o cumprimento da referida obrigação.
Essas instruções deveriam ser transmitidas nas missas e publicadas por todos os meios
possíveis. Os vigários deveriam anotar esses registros num livro, aberto por eles,
numerado, rubricado e encerrado, no qual escreviam textualmente as declarações que lhe
eram apresentadas e cobravam do declarante dois réis por letra
162
.
Os pequenos proprietários de terra tornaram-se pequenos produtores, que, através
da mão-de-obra familiar, iniciaram a história da zona colonial com muito trabalho e
esforço. Apesar de a agricultura inicial ser marcada por culturas de sobrevincia, sem
traços de cultura permanente, foi uma lavoura que seguiu as práticas do tipo indígena.
Posteriormente, o sistema agrícola adotado foi o de rotação de terras, no qual predominava,
inicialmente, a cultura do milho. Esse sistema de lavoura, chamado de “rotação de terras
melhoradas”, prosperou apesar da pobreza do solo enfraquecido com o tempo em razão do
seu esgotamento.
163
A potica de colonização no Rio Grande do Sul foi êxitosa, uma vez que os
resultados históricos desse processo redundaram na construção de um estado de economia
diversificada, no qual a colonização representou um diferencial. A propriedade rural
colonial de pequena extensão no Brasil e no Rio Grande do Sul não foi resultado da
conquista de grupos subalternos nacionais, “nem o resultado de transformações sociais que
160
TERRAS E COLONIZAÇÃO, onde se encontram todas as leis referentes a estrutura de terras no Brasil no
Período do Império. BRASIL. Decreto-lei n.º 601/1850.
161
MANFROI, op. cit., p. 132.
162
Ibid., p. 137-138.
163
VALVERDE, Orlando. Álbum comemorativo do 7aniversário da colonização italiana no Rio Grande
do Sul. Porto Alegre: Globo, [s.d.]. p. 271.
77
tivessem tornado inviável a grande propriedade monocultora; foi uma concessão das
classes dominantes, latifundiárias para com os estrangeiros, tendo como finalidade salvar
os interesses da grande lavoura”.
164
Conforme Tedesco, a região de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a partir do
início do século XX, caracterizou-se pela ocupação privada e econômica da terra, pela
mistura de relações produtivas de uma agricultura de alimentos com características
hisricas da pecuária; pela dimensão rentável da terra com formas de apropriação
capitalista e produtiva da terra; pelo trabalho familiar do colono, pequeno camponês, com
trabalho escravo e semi-escravo de caboclos nas estâncias pecuaristas; pela corrida a
apropriação privada da terra por pequenos camponeses descendentes de imigrantes, pobres
livres que migraram pela região em busca de espaço e desenvolvimento cultural econômico
e social.
165
De acordo com Rückert, a colonização do norte do Rio Grande do Sul, baseada na
pequena propriedade camponesa, aconteceu na República Velha, entre 1889 e 1930. As
oligarquias fundiárias regionais reivindicavam, na década de 1870, que fossem povoadas
as terras de matas, o que, contudo, somente se concretizou a partir do período
republicano.
166
Em síntese apresentaram-se os elementos que fizeram parte do processo de
colonização no sul do país, decorrente da potica imigratória vigente no período imperial e
republicano. Por meio dessa potica, o governo imperial pretendia povoar as terras
devolutas do Rio Grande do Sul com a instalação do trabalho livre, o regime da pequena
propriedade e a agricultura subsidiária. Essa iniciativa favoreceria o desenvolvimento
econômico na medida em que se alterava o regime de trabalho, fortalecido pela instalação
das colônias agrícolas regida pela Lei de Terras de 1850.
167
A ocupação da terra pelos imigrantes e as poticas imigratórias que sustentaram o
processo de colonização levaram a que a instalação dos estabelecimentos agrícolas fosse
vitoriosa. A estruturação das colônias agrícolas no sul do Brasil refletiu a forma de
organização da terra, embora tenha gerado muitas desigualdades em razão da forma como
foi implementada. Segundo Zarth, a dicotomia campo-floresta contribuiu para formação
164
DE BONI, L.; COSTA, Rovílio. Os italianos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edusc, 1979. p. 33.
165
TEDESCO, João Carlos. Madeireiros, comerciantes e granjeiros: lógicas e contradições no processo de
desenvolvimento socioeconômico de Passo Fundo (1900-1960). Passo Fundo: UPF, 2002. p. 16-20.
166
CKERT, Aldomar A. A trajetória da terra: ocupação e colonização do centro-norte do Rio Grande do
Sul: 1827-1931. Passo Fundo: Ediupf, 1997. p. 111-120.
167
Ibid., p. 111-120.
78
das grandes fazendas de gado nas zonas de campo nativo e da agricultura de subsistência
nas áreas de florestas, que resultaram em pequenas propriedades.
168
A par do interesse do Estado na melhor ocupação do solo, vislumbra-se ação de
empreendedores de empresas colonizadoras e madeireiras, que viram como um meio de
enriquecimento a abertura das matas nativas e a comercialização da madeira. Com isso, as
florestas nativas, caracterizadas como as mais espetaculares do planeta, a floresta com
araucária, sofreram grande devastação, estando no século XXI praticamente dizimadas.
2.1.2 Outros danos ambientais
Uma das significativas formas de degradação ambiental se pela poluição
atmosférica, visto que, excetuados os seres aquáticos e os organismos anaeróbicos, todas as
demais formas de vida são dependentes do ar para sobreviver.
O maior dos impactos ambientais ocorre pelo uso de combustíveis fósseis, que têm
produzido o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO
2
) que se acumula na
atmosfera, agindo como teto ou estufa e dando lugar ao aumento da temperatura global da
Terra. Permite, assim, a passagem de mais calor das radiações solares, provocando
transformações climáticas, elevação do nível dos oceanos, a chuva ácida causada pela
emissão de gases tóxicos, principalmente enxofre e nitrogênio, que reagem com a umidade
presente na atmosfera, passando a ser mais um agente de destruição da natureza e das
riquezas de forma até então incontrolável.
Igualmente, os gases, tais como clorofluorcarbonos (CFC), elemento conhecido
comercialmente como “gás freon”, destroem a camada de ozônio estratosférico;
vastamente utilizados como propelentes nos aerossóis, líquidos de refrigeração (geladeiras
e ar condicionados), até há pouco tempo eram vendidos e utilizados livremente, sem
qualquer restrição.
Paradoxalmente, muitos males são causados pelo e ao ser humano e ao meio
ambiente. O uso de defensivos químicos, de pesticidas, mais conhecidos como
agrotóxicos”, contamina regiões agrícolas, água solo e subsolo, em níveis que já chegam a
35% das terras de cultivo do mundo, além de interferirem no metabolismo das aves e de
168
ZARTH, Paulo Afonso. História agrária do planalto gaúcho 1850-1920. Ijui: Editora Unijui, 1997. p. 36.
79
animais e de implicarem muitas mortes por intoxicação pela falta de cultura formal dos
operadores.
Para Paulo de Bessa Antunes, em curto prazo não haveuma solução em face das
rias relações exógenas, porém é de grande relevância a discussão sobre o controle dos
produtos:
A problemática dos agrotóxicos é extremamente complexa, pois implica,
inclusive, em questões à soberania nacional, dívida externa, auto-suficiência de
alimentos e, logicamente, o papel desempenhado pelas empresas transnacionais
no contexto do desenvolvimento de cada nação. Deve ser observado que, ainda
hoje, a agricultura sem produtos químicos é apenas uma esperança. Não se
logrou aaqui, uma produção agrícola isenta de produtos químicos que seja
grande o suficiente para suprir as necessidades básicas da humanidade.
169
A perda das terras virgens e o crescente problema mundial do abastecimento de
água, como conseqüência do esgotamento dos aqüíferos subterrâneos, assim como pela
queda na qualidade e disponibilidade da água, segundo dados da ONU, levam ao óbito 25
mil pessoas/dia por beberem água imprópria para o consumo humano opção única de dois
terços da humanidade. As áreas de terra cultivável no mundo giram em torno de 3.200
milhões de hectares, dos quais a metade está sendo explorada e quase 05 miles de
hectares estão perdidos pela degradação, que leva, geralmente, à desertificação.
170
As perspectivas de futuro, no que se refere ao meio ambiente, são obscuras ainda
que o interesse e a preocupação pelo assunto estejam atualmente em pauta, com o estudo
da biodiversidade e o espaço que desfrutam a ecologia, a biotecnologia, além da
legitimação dos comportamentos de preservação. Para reduzir a degradação do meio
ambiente e salvar o habitat da humanidade, as sociedades devem reconhecer que o meio
ambiente é finito e que está se encaminhando para a total exaustão das suas forças e
riquezas, sendo incapaz de auto-recuperação. Acredita-se, no entanto, que, com o
crescimento das populações e suas demandas, a idéia evolutiva de conscientização possa
abrir espaço para um uso mais racional dos recursos naturais, ainda que isso possa
ocorrer após uma substancial mudança de comportamento da humanidade para com a
paisagem e seu espaço.
169
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2004. p. 705.
170
UNEP The State of the World Environment. Ref. Unep/GC 14/6, Nairobi, Unep, 1987, p. III, 23-32.
80
O impacto da degradação ambiental produzida pela espécie humana tem sido
comparado às grandes catástrofes hecatombes
171
- do passado geológico da Terra;
independentemente do procedimento comportamental da sociedade em relação ao
crescimento desenfreado e contínuo, a humanidade deve reconhecer que agredir o meio
ambiente põe em perigo a sobrevivência de sua própria espécie na Terra. Portanto, a
preocupação com o meio ambiente nos países desenvolvidos, a qualidade do meio natural e
humano constituem hoje tema absorvente e da mais elevada consideração dentro da escala
de valores que regem as decisões potico-econômicas nacionais e mundiais.
Sem espanto, constata-se que as florestas vêm sofrendo progressiva degradação
172
,
que águas não se auto-regeneram, que o ar está poluído e que a grande produção de lixo
pela sociedade moderna, traduzida na poluição urbana, já alcança índices de 85% para 15%
das instrias e outras fontes poluidoras. na cidade de Passo Fundo são recolhidos 90
toneladas/dia de lixo doméstico;
173
no estado do Rio Grande do Sul, apenas quarenta
cidades tratam o esgoto, e a melhora desses índices não se faz sem custos financeiros e
ambientais crescentes e insuportáveis para a maioria dos municípios empobrecidos.
As insistentes notícias sobre a destruição da camada de ozônio que protege a
atmosfera
174
e a biosfera contra os raios ultravioletas, oriunda da relação do humano com a
natureza, o processo de acidificação da atmosfera em virtude da queima desenfreada de
combustíveis fósseis, a ameaça do descontrole da utilização da tecnologia nuclear e a
destruição das florestas pluviais tropicais são alguns dos principais problemas que se
demonstram à universalidade das questões que envolvem a preservação do meio para o
equilíbrio ecológico terrestre. O que está sob análise não é uma causa regional ou nacional,
171
Expressão grega que se refere ao sacrifício ou homenagem feita aos deuses para atrair-lhes os favores ou
agradecer-lhes uma graça concedida sacrifício feito solenemente com cem bois. Figuradamente, usamos a expressão
para nos referirmos à morte de um grande mero de pessoas.
172
Conforme divulgou o governo federal, a área de desmatamento registrada na Amazônia em 2003 foi de 23.750 ha
de floresta tropical, consideradas essenciais para a conservão de outras formas de vida. Desde 1988 quando deu
início o monitoramento, já se perderam mais de 270 mil ha de matas.
173
VEREADORES visitam usina de reciclagem de lixo, em Passo Fundo. Disponível em:
<http://www.pmpf.rs.gov.br/noticias>. Acesso em: 02 set. 2004.
174
“A atmosfera, que protege a Terra do excesso de radiões ultravioleta e permite a exisncia de vida, é uma
mistura gasosa de nitrogênio, oxigênio, hidronio, dxido de carbono, vapor de água, outros elementos e compostos
e partículas de . Aquecida pelo sol e pela energia radiante da Terra, a atmosfera circula em torno do planeta e
modifica as difereas rmicas. No que se refere à água, 97% se encontra nos oceanos, 2% es em forma de gelo e o
1% restante é a água doce dos rios, lagos, águas subterrâneas, umidade atmosférica e do solo. O solo é a fina cobertura
de matéria que sustenta a vida terrestre. É produto do clima, da rocha-mãe (atras do lodo arrastado pelas geleiras e
das rochas sedimentares), e da vegetão. De todos eles dependem os organismos vivos, incluindo o homem. As
plantas se servem da água, do dxido de carbono e da luz solar para converter marias primas em carboidratos,
atras da fotossíntese; a vida animal, por seu lado, depende das plantas numa” seência de vínculos
interconectados conhecida como cadeia trófica. RIZZINI, Carlos Toledo; COIMBRA FILHO, Adelmar; HOUAISS,
Antônio. Ecossistemas brasileiros. Rio de Janeiro: Índex, 1988.
81
de interesse de um determinado grupo de pessoas ou de uma relação de poder, mas, sim, a
existência da humanidade como um todo, na ampla extensão do planeta.
Quando se abre uma torneira, ato que se repete várias e inadvertidas vezes durante
um dia, dificilmente se associa que a água vem das bacias hidrográficas protegidas e
mantidas graças às matas ciliares e florestas do seu redor e vai pelo ralo
175
. Quando se
estuda a expansão dos ciclos econômicos, cafeeiro e açucareiro, não se ensina que a
qualidade dos solos que proporcionaram a expansão econômica foi preservada e garantida
pela existência das florestas, as quais, diuturnamente, são removidas impiedosa e
continuamente no afã de atender poticas governamentais imediatistas e voltadas a atender
aos interesses das forças comandantes do sucesso econômico.
O consumo doméstico de água é de 10%, da instria, de 20% e da agricultura, de
70%, mas toda forma de conscientização deve ser incrementada para uma nova cultura: de
economizar em todos os setores e de forma contínua. Segundo estimativas da Organização
Mundial de Saúde, até o ano de 2050, em torno de cinqüenta países enfrentarão crise no
abastecimento de água.
176
O desenvolvimento sustentável passa, pois, pela adoção e
implantação de processos de gestão ambiental com a reutilização dos produtos pela
reciclagem em tecnologias limpas. Como exemplo, algumas empresas gaúchas estudam
formas de reutilização de água proveniente de efluentes industriais da própria empresa
177
.
O governo federal promulgou o Estatuto da Cidade, lei federal nº 10.257/2001, para
regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, visando à política urbana para o
desenvolvimento sustentável. O fornecimento da água é um elemento do qual dependem a
vida e o bem-estar do cidadão, assim como o funcionamento de indústrias e de outros
estabelecimentos geradores de emprego e renda, conviventes da esfera urbana. Contudo,
o uso desmedido da água potável para todo e qualquer fim que não o de alimentar
homens e de outras destinações que, obrigatoriamente, devem ser com a água potável; são
utilizações que dispensam água desta qualidade, tais como resfriamento de caldeiras,
descarga de vasos sanitários, lavagem de calçadas, veículos e outros.
Como uma possível solução, já se vislumbra a possibilidade de um sistema paralelo
de abastecimento de água com a reutilização da água para esses fins. É a água “ordinária”,
como vem sendo chamada, que seria adequada para outras finalidades que não o consumo
175
“Cada pessoa de uma família consome em média 282 litros de água/dia”. ÁGUA 24 horas. ZH Ambiente.
Zero Hora, Porto Alegre, 24 jun 2004. p. 6.
176
A ÁGUA que vai pelo ralo. ZH Ambiente. Zero Hora, Porto Alegre, 24 jul. 2004. p. 6.
177
ZH – GESTÃO. Zero Hora, Porto Alegre, 04 mar. 2004. p. 4-5.
82
humano direto ou indireto e evitaria o desperdício da água que escoa pelo ralo, mas que
pode ter outra utilidade.
178
A organização e a conscientização de uma empresa para os cuidados ambientais em
todas as esferas perpassam pela preparação de todo o seu pessoal, desde o mais simples
funciorio do chão de fábrica até os técnicos de nível superior ou pós-graduados,
incluindo chefias e todas as escalas funcionais, para a preparação do processo de redução
do consumo de energia elétrica, de água, observão de toxidade dos produtos, aumento da
vida útil dos produtos, além da substituição de matérias primas-virgens por outras
recicladas.
Os homens são diariamente beneficiados pelos serviços que a natureza proporciona,
os quais, am da maravilhosa riqueza natural, representam grande potencial econômico
pela existência de minerais (metálicos e não) que já sustentaram a economia do país e
ainda representam índices econômicos importantes. Deve-se ter a consciência de que
milhões de espécies da fauna, flora e de microorganismos, evoluindo num complexo
equilíbrio durante milhões de anos, que garante a vida na terra, alimenta e abastece os seres
vivos nas suas várias formas.
A mata Atlântica, uma reserva natural em grandes proporções, que comporta
inúmeras espécies vivas e apresenta-se na região litorânea, nos planaltos e serras do
interior, inicia-se no Rio Grande do Norte e chega até o Rio Grande do Sul; estendendo-se
ao longo de toda a costa brasileira, tem largura que varia entre pequenas faixas e grandes
extensões, atingindo, em média, 200 Km. Ao longo da sua extensão, aproximadamente oito
mil quilômetros, apresenta uma variedade de formações rochosas e naturais, em
diversificado conjunto de ecossistemas florestais com estruturas e composões florísticas
acompanhando e variando conforme as características climáticas da vasta região por onde
passa. Por isso, ao longo dos anos, é objeto de estudo dos cientistas nacionais e
estrangeiros pelas peculiaridades que contém.
179
Tem-se na conscientização e na mudança do comportamento humano um desafio
para a sustentabilidade dos muitos modos de vida na Terra, que sucumbem diante do
impacto e da pressão sobre os remanescentes florestais e hídricos, imperiosos para a vida
dos seres vivos no planeta. Os grandes empreendimentos na área de reflorestamento hoje
existentes, articulados por uma potica de incentivos fiscais, com boa qualidade de
178
CONGRESSO Internacional de Direito Ambiental. Direito, água e vida. São Paulo: Imprensa Oficial,
2003. 2.v. p. 4-8.
179
Dados disponíveis em: <http://www.sosmatatlantica.org.br/?secao=conteudo&id=3_6>. Acesso em: 29
dez. 2004.
83
madeira e adaptabilidade ao clima e solos das reges Sul e Sudoeste do Brasil, compostos
de espécies do gênero pinus originárias do sul dos Estados Unidos, principalmente pinus
elliotti, pinus taeda e eucalyptus grandis, este originário da Austrália, são fonte de riqueza,
mas não propriamente uma forma de recuperação da natureza.
180
A partir da iniciativa privada e dos fomentos dos governos federal e estadual, a
metade sul do estado, antes castigada pela depressão econômica das últimas décadas,
demonstra a possibilidade de reversão do quadro com a mudança da matriz produtiva pelo
investimento em reflorestamento, que está transformando a paisagem com a implantação
de bosques de acácias, eucaliptos e pinus, que ocupam cerca de 40 mil hectares
dedicados à extração e ao beneficiamento de madeira
181
.
Observa-se no Rio Grande do Sul, segundo dados da Universidade Federal de Santa
Maria no Inventário Florestal do RS, 2001, o aumento de áreas destinadas para fins de
florestamento: 110 mil hectares de eucalipto, 100 mil hectares de acácia e 150 mil hectares
de pinus. Com um implemento de mão-de-obra que envolve em torno de 40 mil famílias, o
setor moveleiro movimenta 33 mil empregos diretos e 150 mil indiretos; as serrarias e
marcenarias, juntas, são responsáveis por 75 mil empregos, entre diretos e indiretos
182
, para
um faturamento anual total em torno de R$ 3,5 bilhões, além de responderem por
importante parcela da arrecadação de impostos dos municípios.
183
Recentemente, foi veiculada a informação de que a Aracruz Celulose tinha previsão
de assinar no dia 20 de julho de 2004, convênio de financiamento com o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento) para plantação de eucaliptos no Rio Grande do Sul.
184
É de
duvidar que mais de trinta anos a mesma empresa foi destaque nos jornais pelo
desmatamento causado nos ervais na região Sul para implantar grandes fábricas de papel,
na chamada “crise do chimarrão”
185
. Demonstra-se, pois, uma forma de reconstrução das
ações comprovadamente danosas para a própria continuidade do negócio.
Enquanto aqui esses fatos ocorreriam e se perpetuavam por muitos anos até a
tomada das medidas de retenção das práticas, na Noruega as autoridades locais pediam
pelo fim da poluição do rio Glomma, maior do país, pela instria de papel Borregard.
Num sábado da década de 1970, uma notícia do jornal Zero Hora trazia desconforto para o
180
Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel disponível em
<http://www.abtcp.org.br/m3.asp?cod_pagina=633>. Acesso em 29 dez 2004.
181
BOSQUES e parreiras na metade sul. ZH Campo e lavoura. Zero Hora, Porto Alegre, 23 jan. 2004. p. 1, 4
e 5.
182
ZERO Hora - Caderno Campo e Lavoura. Zero Hora, Porto Alegre, 23 jan. 2004.
183
Idem.
184
MADEEEIRA!!! Zero Hora, Porto Alegre, 18 jul. 2004. p. 26.
84
final de semana dos gaúchos. Em matéria de capa, o jornal, com letras negritadas e
garrafais, denunciava a mortandade de peixes no rio Guaíba. A situação foi atribuída ao
novo esquema adotado e posto em funcionamento pela indústria Borregard, que não
produzia mau cheiro para dar fim nas reclamações desta ordem
186
. As denúncias de crimes
contra a fauna aquática que naquele momento se iniciavam teriam continuidade numa luta
que renderia, ainda, muitos anos de destruição
187
e uma CPI
188
.
O rio Guaíba não foi apenas alvo da deselegância industrial, mas também da
ignorância da população em geral, que contribuiu para sua poluição ao longo dos anos. Em
momentos de estiagem prolongada, como a que se vivenciou recentemente no verão de
2004, a baixa das águas do rio permitiu constatar-se uma grande quantidade de produtos de
lenta degradação, tais como plásticos e vidro, depositados lentamente pela populão. Esse
fato reabriu a discussão sobre a necessidade de ampla conscientização dos atos contra o
ambiente.
189
A limitação legal ao desmatamento e as pressões ambientalistas m coibindo e
restringindo práticas ofensivas à natureza, pela implantação de grandes projetos de manejo
florestal sustentável e de projetos de reflorestamento com ou sem fins econômicos, com o
intuito de reconstruir a natureza, seus espécimes e formas de vida. A implantação de
viveiros florestais e a melhoria dos já existentes são alternativas encontradas e já em
projeto de implantação na metade sul do estado, onde serão produzidas 2,4 milhões de
mudas/ano. A discussão está deflagrada e foi objeto do Seminário de Fomento ao
Florestamento, acontecida em Morro Redondo e Hulha Negra em 5 de agosto de 2004.
190
Assim, com este estudo não se pretende esgotar o assunto, mas demonstrar que os
debates acerca da questão ambiental contribuíram para moldar o conceito de
conscientização de uma realidade vivida e para que as corporações busquem sua via de
participação no que é o principal desafio contemporâneo: planejar e fomentar o
crescimento para que se incorpore a quase metade da população humana nos benefícios
básicos da sociedade moderna, atualmente banida do mercado, sem, contudo, acelerar o
185
O DESMATAMENTO de ervais... Há 30 anos em ZH (8 jul.1974). Zero Hora, Porto Alegre, 8 jul. 2004.
186
UMA NOTÍCIA da agência UPI informa que na cidade norueguesa de Sarpsborg, as autoridades locais
estão pedindo que a fábrica da Indústria de Celulose Borregard, localizada, pare de poluir o Glomma,
maior rio do país. Há 30 anos em ZH (3 jul. 1974). Zero Hora, Porto Alegre, 3 jul. 2004.
187
MILHARES de peixes mortos no Rio Guaíba. Zero Hora, Porto Alegre, 13 abr. 1974.
188
DIREÇÃO da Borregard depõe em CPI. Zero Hora, Porto Alegre, 31 jul. 1974. p. 1.
189
A LIXEIRA do Guaíba. Zero Hora, Porto Alegre, 15 abr. 2004. p. 3.
190
IMPLANTAÇÃO de Viveiros Florestais. Disponível em: <www.ambienteja.com.br/new_site/index.asp>
Acesso em: 05 ago. 2004.
85
esgotamento crescente dos recursos naturais no planeta. Também busca despertar para a
consciência humana da sua finitude.
2.2 Ambientalista cético: outras verdades, críticas e justificativas
Nem tudo é consenso em termos do risco e do real estado de depredação ambiental
que se enfrenta na atualidade, pois quem defenda o desenvolvimento a qualquer preço,
apegando-se à mais rígida concepção antropocêntrica e elencando motivos e justificativas
para a minimização das advertências dos ecologistas. Obras científicas ou produzidas por
estudiosos invocam em seu favor dados que julgam irrefutáveis e também fazem sucesso
no mundo
191
, rebatendo as situações e as vies apresentadas sobre o ambiente e sua
destruição. Afirmam esses que a preservação da natureza hoje é uma preocupação das
sociedades que solucionaram problemas como a pobreza e a fome, ao passo que países
como o Brasil ainda precisam transpor esses obstáculos (BBC entrevista).
A obra polêmica, O ambientalista cético de autoria de Bjorn Lomborg, foi lançada
em meio a grande campanha de mobilização e conscientização da sociedade moderna em
defesa do meio ambiente. É indiscutível que Lomborg, um estatístico, defende a tese
chocante de que “alguns problemas localizados existem, mas o nosso meio-ambiente nunca
esteve tão bem e as previsões catastróficas que ouvimos todos os dias não têm nenhuma
comprovação científica”.
O livro que causou grande celeuma, o qual ainda repercute, instiga a todos os que
procuram argumentos para enxergar alarmismo” na pregação ecológica. De outra banda, o
livro do estatístico cético está sob suspeita, posto que teria apresentado dados parciais para
sustentar a sua tese, bem como teria feito uso das fontes em favor das suas crenças; em
resposta, o autor alegou a inexistência de má-fé, e o fato de não ser um especialista em
meio ambiente. A obra, obviamente, gerou inúmeros comentários favoráveis, mas
principalmente contrários, manifestações essas que foram objeto de publicações em todos
os meios de comunicação. O debate, certamente, ainda se alongará por muito tempo.
Talvez mais importante que os argumentos específicos trazidos por Lomborg seja a
discussão que estimula para conhecer-se a destruição do futuro pela ambição materialista
191
O ambientalista cético (Campus, 560), de Bjorn Lomborg. O autor de 37 anos, estatístico, professor associado do Departamento de
Ciências Políticas da Universidade de Aarhus da Dinamarca, vegetariano, considera-se de esquerda e antropocentrista e um ecologista
nato, tendo sido ativista do Greenpeace. É hoje uma voz ativa na crítica ao movimento ambientalista catastrofista. Baseia sua obra em
dados estatísticos e atenua a gravidade da situação apontada por ambientalistas e por entidades de proteção à natureza.
86
descontrolada, razão da destruição dos meios naturais. Ainda que, em alguns momentos,
Lomborg se revele otimista, seus argumentos são, em geral, bastante convincentes quando
versa sobre a realidade da saúde pública, fome, explosão populacional, desmatamento de
florestas, poluição, energia, água doce, chuva ácida, exposão a substâncias químicas,
biodiversidade, aquecimento global; apresenta conclusões surpreendentes sobre o que se
está acostumado a ouvir, com dados baseados em fontes seguras de informação originárias
de publicações de instituições internacionais de renome, como a ONU e suas diversas
subsidiárias, de artigos ou relatórios citados pelas próprias ONGs ambientalistas, como
evidências de nosso futuro infeliz.
De qualquer forma, fica claro que a questão ambiental não consiste meramente na
luta de um grupo de heis visionários contra capitalistas inescrupulosos em defesa do
futuro da humanidade. Interesses pessoais existem em ambos os lados, bem como esforços
bem intencionados, mas apenas um dos lados tem o apoio maciço da dia e, por tabela, da
opinião pública em geral.
O Brasil serve de exemplo, no papel de vilão, sobretudo na década de 1980, pela
destruição do "pulmão do mundo", a Amazônia, principal fonte de oxigênio do planeta. Na
sua crítica, o autor diz que tal idéia é tão sem fundamento que não é levada a sério por
nenhum profissional da área, mas foi divulgada com uma insistência que convenceu
praticamente toda a opinião pública mundial.
Sobre o livro, Nalini citando Marcelo Leite, que também fez observações sobre a
obra, lembrou-se da frase que foi atribuída ao estadista britânico Benjamin Disraeli sobre
os três tipos de falsidades voluntárias: as mentiras, as malditas mentiras e as estatísticas.
192
Segundo Leite:
[...] a tradição de sensibilizar consciências com números alarmantes é tão
estabelecida que engendrou a variante reacionária, na pessoa de Bjorn
Lomborg. Só que este, além da desaprovação científica, parece estar literalmente
pregando no deserto. As estatísticas da degradação costumam ser acolhidas
porque é dado a qualquer pessoa constatar o que vem ocorrendo em seu entorno.
Qualquer pessoa provida de boas memórias se recorda de Ubatuba ou Bertioga
nos anos 60. Não é preciso ir tão longe. A Avenida Paulista quatro décadas
tinha ipês plantados de ambos os lados do leito carroçável. Um pouco antes e os
paulistanos disputavam certames náuticos no Rio Tietê. Basta consultar a história
do Clube Espéria. Pescavam no Rio Pinheiros. Não é preciso enorme perspicácia
para verificar que os ticos ou estão errados ou estão de má-fé.
193
192
NALINI, José Renato. Jornal da Tarde, São Paulo, 14 fev. 2003.
193
Editor de Ciência do Jornal Folha de São Paulo.
87
As muitas notícias dão conta de que há questões sem respostas acerca da
depredação natural, todavia também constatação científica da recuperação de várias
espécies nos vários cantos do planeta que respaldam o otimismo
194
.
As informações que mais irritaram os ambientalistas e cientistas, dentre outras,
decorrem do fato de o autor afirmar que apenas 14% da floresta Amazônica foi destruída;
que a redução das florestas é de 0,5% ao ano, não de 2% a 4%; que a devastação de
florestas não reduz a biodiversidade.Argumenta, ainda, que as florestas dos Estados Unidos
estão reduzidas a 1% ou 2% de seu tamanho original e que se notou o desaparecimento
de uma espécie de pássaro. E ainda cita um exemplo brasileiro: restam 12% da mata
Atlântica, distribuída em grupos esparsos. Neste ponto, Lomborg afirma:
Segundo a regra utilizada pelos ecologistas, a metade das espécies deveria estar
extinta. No entanto, quando a União Mundial pela Conservação da Natureza
(UICN) e a Sociedade Brasileira de Zoologia, fizeram o recenseamento das 291
espécies conhecidas, nenhuma delas havia desaparecido. Podemos concluir com
isso que as espécies são muito mais resistentes do que se imagina.
195
Registra ainda na obra que, segundo estatísticas da ONU, a produção agrícola no
mundo em desenvolvimento teria aumentado em 52% por pessoa e a ingestão diária de
alimentos em países em desenvolvimento teria passado de 1.032 calorias em 1961 o
mínimo para sobreviver para 2.650 calorias em 1998, com previsão de aumento para
3.020 até 2030. Defendeu que a proporção das pessoas que passam fome nessas nações
diminuiu de 45% em 1949 para os atuais 18%, números que diminuir ainda mais, 12%
em 2010 e 06% em 2030; ainda, desde os anos 1800, os preços dos gêneros alimentícios
baixaram mais de 90%.
196
Quanto ao índice de crescimento da população humana, Lomborg manifesta que
atingiu seu pico no início da década de 1960, sendo superior a 2% anuais; hoje, situa-se em
1,26% e prevê-se que caia para 0,46% em 2050. Segundo o autor, a ONU calcula que a
194
Em 1960, havia 100 mil rinocerontes negros na África. Hoje o são mais de 2.500; cerca de 440 mil
pedaços de recifes de coral são arrancados e vendidos a cada ano, 350 mil dos quais são comprados por
norte-americanos; a Noruega tem 04 milhões de habitantes, mas um único de seus barcos de pesca é
responsável pela captura de 120 milhões de peixes por ano; são necessários mil anos para formar uma
polegada - 2,54 cm - de solo, e os Estados Unidos perderam 1/3 da camada de solo fértil nos últimos 40
anos; cabem dois aviões Boeing 747, o conhecido Jumbo, num estádio, mas 12 deles cabem em algumas das
maiores redes usadas em pesca oceânica.
195
DO CONTRA, dinamarquês não vê riscos de devastação ambiental. Dispovel em:
<http://www.redeambiente.org.br/Tanamidia.asp?Codigo_Noticia=6846&sessao=0>. Acesso em: 10 mar.
2004.
196
LOMBORG, Bjorn. Autor da obra Ambientalista Cético Entrevista ao Jornal Estadão de São Paulo.
Dispovel em: <http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2002/jul/03/159.htm>. Acesso em: 10 mar.
2004.
88
maior parte do crescimento demográfico do mundo terminará em 2100, estabilizando-se
pouco abaixo de 11 bilhões de pessoas. Assim, sustenta que não tem fundamento tanto
alarde acerca da finitude dos recursos naturais, garantindo que a vida na Terra está sendo
melhorada em todos os sentidos, segundo teses comprovadas pelo aumento da expectativa
de vida, que hoje é maior do que há cem anos; que houve a diminuição da pobreza mais em
cinqüenta anos do que nos últimos quinhentos; pela existência de energia útil em
abundância e de petróleo para mais 150 anos; porque 20% das florestas foram perdidas
para sempre, e o dois terços como se supunha; por se esperar que desapareçam apenas
0,7% das espécies nos próximos cinenta anos e não de 20 a 50%, e que a água está cada
vez menos poluída.
197
Como já referidos, todos os resultados apresentados, segundo o autor, estão
respaldados em estudos estatísticos oriundos de organizações como a ONU, o que lhes
conferiria veracidade, dificultando aos críticos apontar qualquer falsidade nas informações.
Para Lomborg, os problemas existem, mas a sua dimensão seria extremamente
exagerada pelos ambientalistas e pela mídia, que não divulgam com a mesma consideração
os problemas que foram solucionados. Essa visão apocalíptica prejudica o progresso
humano e favorece a credibilidade em ONGs em detrimento das organizações
empresariais. O autor questiona se a verdade estaria somente com essas ONGs e sustenta
ainda que o aquecimento global é um fenômeno importante dos pontos de vista ambiental,
político e econômico, diz que não dúvida alguma de que a humanidade tem contribuído
para o aumento das concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, o que provocará a
elevação da temperatura, todavia, saber quais são as melhores atitudes a serem tomadas
com relação ao futuro exige que se separe a hipérbole da realidade.
No que importa à poluição do ar, assinala:
A poluição do ar diminui a partir do momento em que uma sociedade se torna
suficientemente rica para se preocupar com o meio ambiente. No caso de
Londres, a poluição atingiu seu ápice por volta de 1890. Atualmente, o ar nunca
esteve mais puro e é preciso recuar até 1585 para encontrar uma qualidade de ar
semelhante. Esse fenômeno pode ser generalizado para todos os países
desenvolvidos.
198
O ambientalista cético vai de encontro a muitas previsões que o se confirmaram
em matéria de ambientalismo e explica a razão dessas falhas, citando o Relario do Clube
197
LOMBORG, op. cit.
198
Idem.
89
de Roma, “Limits to Growth”, de 1972
199
. Nele foram feitos prognósticos sombrios sobre a
escassez de energia, poluição, extinção de espécies animais e vegetais e crescimento da
população mundial, reafirmados em 1981 por seu presidente, A. Peccei, em “100 Pages
Pour l'avenir”. Também R. Malthus, em 1800 havia feito considerações catastrofistas sobre
o crescimento populacional e dos meios de subsistência na Terra.
Também P. R. Ehrlich
200
previu catástrofes maiores ao afirmar: “A batalha para
alimentar a humanidade acabou. Nos anos 70, o mundo passará por inanição de grandes
proporções; centenas de milhões de pessoas morrerão de fome”. Ainda previu que a
Inglaterra não existiria no ano 2000, contudo, como se observa, nenhuma das previsões se
confirmou.
De outro lado, Marijane Lisboa, diretora do Greenpeace
201
do Brasil, nega,
terminantemente, que Lomborg tenha tido algum registro na organização e defende-se
dizendo: “Os ambientalistas não se consideram pessoas pessimistas quanto ao futuro da
Terra. Ao contrário: acreditam que é possível salvar o planeta da destruição que o vem
atingindo nos últimos séculos e, por isso, arregaçam as mangas e se põem a trabalhar.”
202
Os ambientalistas levam a sério as ameaças reais sobre o meio ambiente e
asseguram que urgência em se tomar medidas efetivas de proteção ambiental. Em
situações nas quais haja indícios fortes de que danos irreparáveis ao meio ambiente possam
ocorrer, mesmo que não haja plena certeza científica sobre a dimensão e as características
desses prejuízos, julgam ser melhor prevenir do que remediar, propondo a adoção do
princípio da precaução. Por essas razões, consideram Lomborg como um anti-
ambientalista, que tenta convencer as pessoas de que não necessidade de se tomar
atitudes urgentes com relação a problemas tão graves quanto às mudanças climáticas, a
perda de biodiversidade ou a contaminação do planeta.
203
Apesar das críticas que a obra O ambientalista cético oportunizou, Lomborg
ganhou espaço representativo na mídia mundial e, recentemente, anunciou sua saída da
199
Fundação do Clube de Roma em 1968, quando trinta especialistas de áreas diversas reuniram-se com o
intuito de discutir a crise da humanidade e o seu futuro e quatro anos após, em 1972, publicou-se o relatório
“The Limits of Growth”, que alertava e denunciava que o crescimento do consumo mundial colocaria a
humanidade em risco de colapso, por isso, exigia atitudes de curto, médio e longo prazo com o objetivo de
conter e reverter essa tendência mundial. FUFRG. Revista do Mestrado em Educação Ambiental, v. 4,
out./nov./dez. 2000. Leia mais em: <www.ufrg.br>. Acesso em: 10 mar. 2004.
200
Biólogo e diretor do Centro de Estudos Populacionais da Universidade de Stanford, autor do ‘The
Population Bomb” (1968).
201
Disponível em: <http://www.greenpeace.org.br/geral/bjorn_lomborg.asp> Acesso em: 11 out. 2003.
202
O ECOLOGISTA descrente. Correio Braziliense, s.l., 08 set. 2001. Disponível em:
<http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-09-08/mat_11937.htm>. Acesso em: 23 abr. 2004.
203
O ECOLOGISTA descrente. Correio Braziliense, s.l., 08 set. 2001.
90
agência ambiental do governo dinamarquês, como diretor do Instituto de Assessoria
Ambiental, responsável pelo uso do dinheiro do governo na contenção da poluição,
passando a se dedicar à academia. Entretanto, o pesquisador mantém a sua opinião de que
a Terra, em média, está ficando mais limpa e a humanidade, mais rica e saudável.
204
De qualquer ótica em que seja analisada, a obra traz conceitos diversos que abrem
um novo espaço para discussão sobre o que realmente é factível e real na causa
ambientalista e o que é construção do imaginário, para a ampliação dos horizontes
científicos e do desenvolvimento humano no meio em atitude compatível com a cidadania
responsável.
2.3 Biodiversidade e biotecnologia: a interferência do homem na natureza. O
enfrentamento religioso e o direito à saúde
A biodiversidade designa a variedade de organismos vivos, animais e vegetais
existentes na Terra, bem como outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos
dos quais fazem parte, e a diversidade dentro da mesma espécie e entre espécies diferentes.
Tem o cunho conservacionista de uso sustentável de seus componentes e pressupõe a
divisão justa dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos, segundo as
regras principais estabelecidas pela Convenção
205
sobre diversidade biológica
206
.
204
BJORN Lomborg deixa agência ambiental. Folha de São Paulo. São Paulo, 23 jun. 2004.
205
Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de Janeiro, a 05 de junho de 1992, durante a
Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Ambiental, foi firmada pelo Brasil e por vários países do
mundo, excetuado os EUA.
206
Regras estabelecidas pela Convenção: “1. Os Estados têm direito soberano de explorar seus próprios
recursos, mas ficam obrigados a assegurar que as atividades desenvolvidas dentro de sua jurisdição não
causao danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas fora de sua jurisdição. 2. Ficam os Estados
incumbidos de apoiar as populações a implementar ações para recuperar áreas devastadas, nas quais a
biodiversidade tenha sido reduzida. 3. Ficam os Estados comprometidos a proteger e encorajar o uso de
recursos biológicos, de acordo com práticas compatíveis com o desenvolvimento sustentável. 4. A autoridade
para determinar o acesso aos recursos genéticos de cada país fica a cargo dos respectivos governos nacionais,
como maria de legislação interna. 5. Os Estados-membros da Convenção reconhecem que o acesso e a
transferência de tecnologia (incluindo a biotecnologia) são essenciais para que sejam atingidos os objetivos
daquele ato internacional. Devem eles facilitar o acesso e a transferência de tecnologia referente à
conservação e ao uso sustentável da biodiversidade e dos recursos genéticos, sem causar danos ao meio
ambiente dos países-membros. 6. O acesso e a transferência de tecnologia referidos no item anterior deverão
ser facilitados para os países em desenvolvimento, os quais têm direito a contratos especiais, respeitados os
direitos de propriedade intelectual, se for o caso.7. Os Estados-membros devem tomar providências
legislativas para que os países em desenvolvimento, especialmente os fornecedores de recursos genéticos,
tenham acesso às tecnologias que usem esses recursos, mesmo quando patenteadas.8. São ainda estabelecidas
diversas outras regras para a solução de conflitos, criação de um fundo para implementação dos objetivos da
Convenção etc.”
91
A Convenção da Biodiversidade acendeu uma discussão nos países em
desenvolvimento, em cujos territórios ainda subsiste uma grande e inexplorada diversidade
biológica, na medida que viram na sua assinatura possibilidades, ao mesmo tempo,
desejadas, como o acesso gratuito às tecnologias de ponta, capazes de resolver, pela via da
engenharia genética e outras técnicas, seus problemas de produção de alimentos e, em
conseqüência, de combate à fome, e outras temidas, pela possibilidade de ver a sua
diversidade biológica apropriada pelos países industrializados, sem compensação
satisfatória e sem a certeza no interesse da preservação dessa mesma diversidade no seu
território.
O interesse dos diversos países na biodiversidade não se restringe à conservação do
meio ambiente, mas vai muito além na busca de descoberta de novas substâncias
terapêuticas e de novas técnicas genéticas, cujo avanço científico pode significar a
movimentação de milhões de lares em produtos baseados no melhoramento e
aproveitamento dos recursos naturais para outras áreas do conhecimento.
Os estudiosos que lutam pela preservação da natureza são unânimes quando
garantem que ninguém sabe exatamente quantas espécies vivas existem atualmente sobre a
Terra. Contrariamente ao que foi dito por Lomborg o ambientalista cético - o acervo
das poucas grandes florestas restantes no mundo, dentre as quais a Amazônia, a maior
delas, é incalculável e, conforme algumas estimativas a extinção das espécies, processa-se
muito rapidamente, alcaando 27.000 espécies por ano, 74 por dia e três por hora.
Assegura que, nesse ritmo, independentemente do número de espécies existentes e hoje
vivas, a Terra caminha para a morte dos ecossistemas e dos sustentáculos da vida
207
.
Nessa linha de preocupação para o combate à extinção das espécies, mais de cem
representantes de países do mundo reuniram-se na Malásia em fevereiro de 2004 para
estudar uma forma de frear a prática, pois, segundo informações da ONU, entre animais e
plantas mais de sessenta mil espécies desaparecem a cada ano
208
.
No Rio Grande do Sul, na obra recém-lançada Areias do Albardão
209
, os cientistas
Lauro Barcellos, Ulrich Seelinger e César Cordazzo, da Fundação Universidade Federal de
Rio Grande, organizaram material recolhido em cadas de carreira, analisando 220 Km de
207
No México, só nos primeiros dias de 2004, as quadrilhas que matam tartarugas vitimaram mais de 500
animais com uso de arma de fogo. A carne tem comércio por U$50 dólares o quilo e a pele por valores entre
U$23 e U$ 60 lares.
208
VIAECO, n. 3 Ano II. Passo Fundo e região. Publicação sem fins lucrativos com tiragem de 10.000
exemplares/mês.
209
BARCELLOS, Lauro; SEELINGER, Ulrich; CORDAZZO, César (Org). Areias do Albardão. Rio
Grande: Editoras Jauá, Ecoscientia e Petrobras, 2004.
92
extensão de costa desde Rio Grande até o Chuí, catalogando mais de trezentas espécies de
animais e plantas, muitas delas em risco de extinção. Os autores também descrevem áreas
totalmente preservadas e intocadas as quais se apresentam como paraíso à preservação das
espécies. Outra obra importante que trata da dizimação das espécies é o Livro Vermelho
da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul, elaborado por 43 pesquisadores e
mais de cem colaboradores, publicado pela Editora da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, que nas suas 632 páginas demonstra a gravidade da situação.
Como forma de ação efetiva em favor da conscientização da preservação um
projeto piloto em desenvolvimento pelos pesquisadores do Jardim Botânico em Porto
Alegre, que envolve a pesquisa e a comunidade, com vistas a retirar 607 espécies da lista
de risco e, com isso, evitar a extinção de variedades da flora rio-grandense, trazendo uma
esperança de recuperação das paisagens e dos sistemas.
210
No Brasil, que é o país com maior biodiversidade, contando com um número
estimado entre 10 e 20% do número total de espécies do planeta, com a mais diversa flora
do mundo, com mais de 55.000 espécies descritas, o que significa 22% do total mundial
conhecido, além de uma gama de plantas de importância econômica, como o abacaxi, o
amendoim, a castanha-do-pará, a mandioca, o caju e a carnaúba, de uma forma geral, a
preocupação com as formas de preservação ainda é incipiente e resume-se a poucos e
isolados lutadores por uma causa preservacionista. Por muitos ainda é vista como medida
extremada e radical, antidesenvolvimentista, apesar da contemplação constitucional e
infraconstitucional sobre a matéria, que não olvidou reunir ou motivar mais
participantes.
211
No cenário potico nacional observa-se o desconhecimento sobre o assunto pela
demora na tramitação de todo e qualquer projeto de lei que pretenda tutelar a questão. O
primeiro deputado pró-ambiente fez indicação
212
ao Poder Executivo propondo a criação
de um Programa Nacional de Conservação da Diversidade Biológica Brasileira (Probio),
cujo primeiro objetivo é identificar e monitorar os principais recursos biológicos dos
ecossistemas, que devem ser conservados mediante incentivos ecomicos e sociais. Em
sua manifestação o deputado sustentou:
210
SALVANDO plantas. ZH ambiente – Flora. Zero Hora, Porto Alegre, 24 jul. 2004. p. 4.
211
Disponível em: <www.mma.gov.br>. Acesso em: 21 jul. 2004.
212
Meio legislativo utilizado para suprir problemas de competência exclusiva do Executivo em razão da
matéria.
93
A exata dimensão do que representa para a humanidade a perda da
biodiversidade permanece desconhecida. As funções da biodiversidade são ainda
pouco compreendidas, muito embora se considere que ela seja responsável pelos
processos naturais e produtos fornecidos pelos ecossistemas e espécies que
sustentam outras espécies e modificam a biosfera, tornando-a apropriada e
segura para a vida.
213
A biotecnologia constitui-se em outro problema cujo entendimento não impede seu
reconhecimento na órbita das ciências da vida. As grandes descobertas no campo da
biotecnologia iniciaram-se na década de 70 com a insulina recombinante, que revolucionou
a farmacologia, embora seu nascedouro tenha sido em 1953, quando da descoberta do
DNA. A nova técnica de DNA recombinante permitiu fazer o que antes era impossível,
como grandes quantidades de produtos que antes eram escassos, com uso potencial na
clínica de proteínas humanas e com inomináveis benefícios terapêuticos. Foi uma das
grandes descobertas para a saúde, a que, desde então, agregaram-se muitos lucros para a
indústria dos produtos fármaco-biotecnológicos.
214
Utilizando essas técnicas, os biólogos podem dirigir o movimento de segmentos
específicos e úteis de material genético entre organismos não relacionados, permitindo a
criação de plantas resistentes a insetos, vírus e herbicidas; de frutas resistentes ao
apodrecimento e já dotadas de vitaminas além daquelas que naturalmente lhe são
pertinentes, além de grãos mais nutritivos e econômicos.
215
A interferência do homem na natureza e nas formas de vida não foi vista com bons
olhos nem foi bem recepcionada pelos segmentos religiosos, que se demonstraram
contrários à prática. Essa reação se refletiu em interferências no processo legislativo que
versava sobre a propriedade industrial, quando se discutia a possibilidade ou não de serem
patenteáveis os produtos desenvolvidos a partir da engenharia genética e de outras técnicas
enviado pelo Executivo ao Congresso Nacional em 1991. Na ocasião, manifestou-se dom
Luciano Pedro Mendes de Almeida como presidente da CNBB:
213
Deputado Fábio Feldmann (PSDB/SP) atualmente ex-deputado ainda vinculado com a causa
ambientalista. CONGRESSO não dialoga com a comunidade científica. Publicada em: 15 out. 2004.
Dispovel em: <http://www.comciencia.br/entrevistas/feldman.htm>. Acesso em: 16 out. 2004.
214
Disponível em: <http:// www.anbio.org.br/palestras/marga2
>. Acesso em 16 out. 2004.
215
Dado obtido em debate (Chat). Disponível em: <biotecnologia.uol.com.br/biochat/>. Acesso em: 20 out.
2003.
94
Nossa preocupação é com a vida, com o direito à vida... que me parece bastante
afetado por esta lei. Basta ver o que ela traz dentro de si: a possibilidade de
processos que alteram o código genético, que utilizam conhecimentos dessa
alteração para novas mutações... s temos de abrir o coração para uma
comunhão muito grande de conhecimento científico. Quem não quer isso são as
grandes empresas, pois elas vão comercializar os produtos da pesquisa...
[enquanto] nós...vamos entrar agora num tirânico governo das empresas
internacionais, que vão deter em mãos os grandes destinos dos povos.
Na mesma audiência, o deputado Nelson Jobim
216
contraditou o presidente da
CNBB, o qual "não estabeleceu uma relação de causa e efeito entre (o patenteamento das
novas descobertas) e o prejuízo que os povos do mundo sofreriam com ele”. A questão em
discussão refere-se a estudos que transcendem a esfera dos direitos humanos e suscitam
outros conflitos que derivam da sacralidade da vida, defendida pela Igreja, da necessidade
de alimentar os vivos e famintos no mundo, o que se justifica em todos os foros, quer
internacional, quer internos das sociedades e nas famílias.
Os direitos fundamentais, o bem comum e a justiça social são sustentáculos de
defesa da evolução tecnológica e científica, com o fim de proporcionar para a humanidade
vida digna e saudável. A simples plausibilidade de desenvolvimento de novos produtos e
de novas variedades de espécies animais e vegetais - de maior produtividade, poder
nutritivo e resistência a pragas e doenças, modificando seres existentes, reproduzindo seres
inteiros a partir de pequenos fragmentos de um deles -, justifica ações nesse sentido. Em
13 de outubro de 1993 na reunião da Sociedade Americana para Pesquisa da Fertilidade,
realizada em Montreal (Canadá), as notícias davam conta da clonagem de um embrião
humano realizada pelos cientistas americanos Jerry Hall e Robert Stillman,.
217
A biotecnologia enfrenta, entre outros problemas, a barreira religiosa. A Igreja
Católica não aceita que a ciência possa intervir na vida. Em 1994, Dom Luciano Pedro
Mendes de Almeida manifestou suas preocupações assinalando, desde logo, "que a
intervenção da ciência [em organismos vivos], em benefício da saúde humana (...) pode ser
- costuma ser - benéfica e é, portanto, permitida". Faz sustentáculo do posicionamento
católico a moral cristã e que o dom da vida só a Deus pertence
218
.
A discussão que se alonga entre a Igreja e os cientistas têm novos desdobramentos a
cada manifestação na CNBB, que, agora, acusa os cientistas de “vendedores de ilusões”.
José Maria Mayrink, escreveu sobre o assunto para O Estado de São Paulo:
216
Deputado do PMDB/RS, referência no cenário político nacional.
217
Disponível em: <http://hp.vento.com.br/~sanderp/noticia/clona2.htm>. Publicada em 13 dez. 2003.
Acesso em: 19 maio 2004.
95
Cientistas que defendem a possibilidade de fazer pesquisas com lulas-tronco
embrionárias para o tratamento de doenças letais progressivas acham que a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) deveria ouvir sua opinião,
antes de acusá-los de ‘vendedores de ilusões’, como a presidência da entidade
fez, semana passada, em carta enviada aos senadores. Prossegue: ‘O que os
cientistas estão pedindo ao Senado, que discute e deve votar em breve o
Projeto de Biossegurança, é a oportunidade de realizar aqui as mesmas pesquisas
que são feitas no Japão, Austrália, Coréia, Israel, Canadá e na maioria dos países
da Europa’, disse a presidente da Associação Brasileira de Distrofia Muscular,
professora Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da Universidade de SP. [...]
que não tem esperança de mudar a opinião da CNBB, que tem posição fechada
sobre a questão, mas acha que os senadores o devem se curvar a seus
argumentos. ‘Somos um Estado laico e não são os bispos que vão determinar o
que se pode fazer’, adverte a professora, lembrando que a lei permite o divórcio e
o uso da camisinha, ‘apesar da proibição da Igreja’.
219
O papa João Paulo II expressou-se no mesmo sentido por ocasião da sua
manifestação da mensagem da Quaresma do ano de 2002, quando reafirmou que nem tudo
aquilo que é tecnicamente possível é lícito moralmente e, se é louvável o esforço da ciência
por garantir uma qualidade de vida mais em consonância com a dignidade do homem,
jamais deve ser esquecido que a vida humana é um dom que permanece um valor, mesmo
quando é atingida pelo sofrimento e pela velhice. É um dom que deve ser sempre acolhido
e amado: gratuitamente recebido e gratuitamente colocado a serviço dos demais
220
:
De graça recebestes de graça devereis dar”... Não será por acaso a nossa
existência totalmente marcada pela benevolência de Deus? O desabrochar da
vida e o seu prodigioso desenvolvimento é um Dom. E, precisamente por ser
Dom, a existência não pode ser considerada como domínio ou propriedade
privada, ainda que as potencialidades, de que hoje dispomos para melhorar sua
qualidade, poderiam fazer supor o contrário, ou seja, que o homem seja o seu .
De fato, as conquistas da medicina e da biotecnologia poderiam às vezes levar o
homem a imaginar-se criador de si próprio, e a ceder à tentação de manipular a
<árvore da vida> (Gn 3,24).
221
Mais recentemente, na IX Assembléia Geral da Pontifícia Academia para a Vida,
ocorrida em 21 de fevereiro de 2004
222
, o papa, no seu comunicado final disse que a
Igreja respeita e apóia a investigação científica, quando procura uma orientação
218
MOSER, Frei Annio. Biosegurança: Escolhe o caminho da vida. Disponível em:
<http://www.cnbb.org.br/bioetica/Artigo11.php>. Publicado em: 16 out. 2004. Acesso em: 16 out. 2004.
219
LULAS-TRONCO opõem CNBB e cientistas . O Estado de São Paulo, São Paulo, 29 jun. 2004; e
Jornal da Ciência. Disponível em: <http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=19719>. Acesso em
17 out. 2004.
220
MENSAGEM 610/2002. Encarte "Conjuntura Social e Documentação Eclesial" n.º 610 - Mensagem Do
Papa João Paulo II Para A quaresma de 2002. CNBB.
221
A Ética da Investigação Biomédica. Para uma visão cristã. Comunicado final da IX Assembléia Geral da
Pontifícia Academia para a Vida.
222
Disponível em: <www.vatican.va/roman_curia/pontifical_academies/>. Acesso em: 29 jul. 2004.
96
autenticamente humanista, evitando qualquer forma de instrumentalização ou destruição do
ser humano e mantendo-se livre da escravidão dos interesses poticos e econômicos.”
223
O Congresso Nacional legislou
224
de forma a estimular a pesquisa no campo da
biotecnologia, garantindo os aspectos éticos da interferência humana no processo de
criação, sobretudo no concernente a outros seres humanos. A controrsia deverá ter
continuidade e se estender pelos rios campos de desenvolvimento ainda por vir,
enquanto os países desenvolvidos já compreendem a biotecnologia
225
como uma nova
disciplina no campo da biologia e fazem dela um uso terapêutico
226
. As discussões ético-
religiosas acerca do assunto ainda permearão os contextos por longo tempo pelo que pode
se observar pela Carta da CNBB enviada aos senadores em 24 de junho de 2004.
227
Todavia, apesar da controvérsia potico-religiosa, a lei foi aprovada em 2 de março de
2005.
2.4 Característica ambiental do Estado e as políticas protetivas implementadas e em
desenvolvimento
O Rio Grande do Sul, por ser a região mais meridional do país, tem características
ambientais diferenciadas, com uma gama de ecossistemas com formações rochosas,
composição de solos, campos, montanhas, dunas, banhados, lagunas, lagoas e florestas que
223
Comunicado final da IX Assembléia Geral da Pontifícia Academia para a Vida, que, neste ano, foi
subordinada a um tema de grandes atualidade e impacto social: A ética da investigação biomédica para uma
visão cristã. CNBB. Dispovel em: <http://www.cnbb.org.br/bioetica/Artigo07.php>. Acesso em: 17 out.
2004. Disponível em: <http://alainet.org/active/show_text.php3?key=4540>. Acesso em: 29 jul. 2004.
224
O projeto de lei 285/1999 é um substitutivo adotado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara
ao projeto de lei 3.285/1992, aprovado após 11 anos de tramitação.
225
Biotecnologia na "nova" indústria de produtos farmacêuticos. Uma das descobertas recentes no campo da
biotecnologia diz respeito às moléculas de adesividade que recobrem as lulas, como uma espécie de cola -
The Glue of Life (a "cola da vida"), como a denominou a revista Time, de setembro de 1992. Aquelas
moléculas mantêm as lulas unidas, para formar os órgãos, e estes, o organismo. TRAVIS, John. Science,
matéria publicada pela Associação Americana para o Progresso da Ciência, fev. 1992.
226
A empresa suíça Hoffmann-La Roche firmou um contrato com o governo chinês para analisar e
determinar, a cada ano, as propriedades de mil espécies da imensa flora medicinal da China, algumas em uso
milênios. Pelo contrato, a Roche ficará com os direitos de exploração de tudo o que descobrir e a
obrigação de ajudar os laboratórios chineses a fazer pesquisas semelhantes, relativamente a outras espécies.
Qual a vantagem disso? As patentes das descobertas pertencerão, incondicionalmente, a quem as fizer: seja o
laborario Roche (do Japão), seja o instituto chinês. Outro exemplo: a mesma Roche desenvolve em
Basiléia, na Suíça, pesquisas referentes à maria e sua cura. Por que o no Brasil? Pela simples razão,
dizem os executivos da Roche, de que não poderiam patentear aqui as descobertas feitas em nosso País. Por
se pode avaliar o quanto precisamos andar em matéria de adequação do pensamento político às realidades
da vida, em todas as questões, inclusive quanto à biotecnologia e o enorme potencial que se apresenta
racionalmente explorados seus recursos.
227
Carta enviada pela CNBB aos Senadores. Brasília - DF, 24 jun. 2004. P – nº 0496/04.
97
são únicos. Nessa paisagem existe a reserva da biosfera da mata Atlântica
228
, que o áreas
especialmente protegidas em regiões de características ambientais relevantes, que
corresponde à área de 17,2% do território rio-grandense e está sendo implementada através
do desenvolvimento de projetos de integração do homem com a natureza reconhecidos pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (Unesco), Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a União Mundial para a Natureza
(Uinc), que, juntas, formam uma rede internacional de cooperação pela preservação e
desenvolvimento sustentável.
Muitas áreas contendo essas riquezas são áreas de preservação permanentes,
denominadas de “unidades de conservação”
229
. As áreas estaduais são administradas pelo
Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (Defap) da Secretaria Estadual de Meio
Ambiente (Sema), coordenadora do Sistema Estadual de Unidades de Conservação. As
unidades servem para atividades educacionais direcionadas ao ambiente, horto, pesquisa
científica, banco genético de espécies silvestres, parque, reserva biológica e APA
230
. Essas
áreas são de fundamental importância para a manutenção da paisagem, além de conterem
espécimes raros ou em extinção, monumentos naturais e nascentes de rios.
Com o mapa da figura 1 evidenciam-se algumas dessas unidades, tais
como o parque do Rio do Turvo
231
, parque estadual do Delta do Jacuí
232
, do
Espinilho, da Rondinha
233
, do Espigão Alto, do Itapuã, reserva biológica da Serra Geral,
228
Áreas experimentais do Litoral Norte, da Lagoa do Rio do Peixe e da Quarta Colônia Italiana.
229
São porções do território com características naturais relevantes, criadas pelo poder público federal,
estadual ou municipal, para Preservação da natureza e sua biodiversidade.
230
APA – Área De Preservação Ambiental.
231
Foi o primeiro a ser criado no estado. Localizado na região do Planalto, às margens do rio Uruguai, a 530
km da capital, é coberto pela Floresta do Alto Uruguai (Floresta Estacional Decidual), com árvores de até
30m de altura, como o cedro, a grápia, a canjerana e o louro. Abriga muitas espécies ameaçadas de extinção,
como a onça pintada, a onça-parda ou puma, o cateto e a anta; mais de 200 espécies de aves, como o pica-
pau-rei e o uru. O principal atrativo do parque é o Salto do Yucumã, "grande roncador", na divisa com a
Argentina, considerado uma das maiores quedas longitudinais do mundo, com 1.800 m de extensão. O
parque pode ser visitado de quarta a domingo, das 9h às 17h, com cobrança de ingresso. Município:
Derrubadas. Decreto de criação: n° 2.312, de 11 de março de 1947. Área: 17.491,40 há. Coordenadas:
27º00’ a 27º20’ S; 53º40’ a 54º10’W. Aberto para visitação mediante pagamento ingresso, por valores
determinados pela Lei Estadual 11.561/2000 que alterou a Lei Estadual 8.709/85.
232
Situado na região Metropolitana de Porto Alegre, no encontro dos rios Jacuí, Gravataí, Caí e Sinos, o
parque é formado por 30 ilhas e porções continentais com matas, banhados e campos inundados. Das ilhas
destacam-se a dos Marinheiros, a Pintada, a das Flores, a da Pólvora e a Mauá. Lontras, jacarés-de-papo-
amarelo, capivaras e uma grande variedade de aves aquáticas fazem parte da fauna do delta. O complexo de
ilhas funciona como filtro e esponja regulando a vazão dos rios em épocas de cheias, protegendo a população
da grande Porto Alegre. A elaboração do novo plano de manejo começa a inserir a população das ilhas e as
prefeituras nas decisões sobre a preservação e a melhoria da qualidade de vida. Municípios: Porto Alegre,
Canoas, Nova Santa Rita, Eldorado do Sul e Triunfo. Decreto de criação: nº 24.385, de 14 de janeiro de 1976.
Área: 17.245 há. Coordenadas: 29o 53’ a 30o 03’S; 51o 12’ a 51o 27’W. Não está aberto à visitação.
233
Localizado no Planalto, a 335 km de Porto Alegre, divide-se em Floresta de Araucária (Floresta
Ombrófila Mista) e campos (savanas) com destaque para pequenos butiazais e jaboticabais. Com 1.000 ha e
98
de Ibirapuitã, do São Donato, Estação Ecológica Estadual Aratinga e horto florestal Litoral
Norte.
Além das formas de preservação por influência da ação do Estado, algumas têm sua
gênese exclusivamente na iniciativa particular; são essas áreas de grande importância
ambiental reconhecidas pelo poder público: as reservas particulares do patrimônio natural
(RPPN). São áreas existentes desde 1990, que m por escopo a proteção dos recursos
ambientais de uma determinada região, sem, contudo, afetar o direito de propriedade em
face do reconhecimento total ou parcial da área, que, uma vez instituída, poderá ser
utilizada para o turismo, lazer e, sobretudo, para fins científicos da educação ambiental
234
.
Figura 1
uma forte pressão de uso agrícola do solo no entorno, a fauna encontra-se empobrecida, mas é ainda
siginificativa. ocorrência de quatis, serelepes, macaco-prego, tamanduá-mirim, papagaio-de-peito-roxo, o
mocho-diabo e o pica-pau-rei.• Município: Sarandi. Decreto de criação: n° 30.645, de 22 de abril de 1982.
Área: 1.000 há. Coordenadas: 27º45’a 27º58’S; 52º45’ a 52º55’W. Não está aberto para visitação.
234
Disponível em: <www.fepam.rs.gov.br/prog.htm> Acesso em: 12 maio 2004.
Disponível em: <http://www.sema.rs.gov.br/sema/html/imagens/mapa2.gif> Acesso em: 13 maio 2004.
Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul - Site Desenvolvido pela PROCERGS.
99
Como exemplo de RPPN pode-se citar o parque ecológico Souza Cruz, com área
verde de 208 ha, localizado em Cachoeirinha no Rio Grande do Sul, criado e mantido pela
empresa como forma de integração entre o desenvolvimento e o ambiente preservado.
Curiosamente, o parque fica no entorno de uma das maiores e mais modernas fábricas de
cigarros da América Latina.
235
Recentemente foi criticado de forma veemente o governo do Rio Grande do Sul
pela Rede de ONGs da Mata Atlântica, que congrega 17 entidades ambientalistas do
estado, pela firmatura do decreto que determinou a alteração de categoria do parque
nacional do Delta do Jacuí para “área de preservação ambiental”, condição menos
restritiva, o que poderá gerar perda substancial na preservação da região e dos
espécimes.
236
Afirmam essas que o ato é ilegal pela forma utilizada, via decreto, quando
deveria ser mediante lei:
O ato foi deliberadamente inconstitucional, pois fere o que estabelece o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, embora o Governo tenha sido
previamente alertado de que alterações no Parque poderiam ser feitas por
meio de Lei. O ato desrespeitou todo um processo de discussão em curso no
CONSEMA e na sua Câmara Técnica Permanente de Biodiversidade e Política
Florestal, no Comitê Estadual de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e no
Comitê do Lago Guaíba, assim como a todas as instituições e pessoas envolvidas
no processo. O decreto assinado pelo senhor Vice-Governador do Estado foi
gerado no seio do Departamento Estadual de Florestas e Áreas Protegidas -
DEFAP - e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente - SEMA -, as duas
instâncias responsáveis pela gestão das Unidades de Conservação estaduais e
pela implantação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação - SEUC -, o
que as torna co-autoras e co-responsáveis pelo Decreto e suas conseqüências.
Garantem ainda que foram desrespeitados outros aspectos e acusa o governo
estadual de uma gestão autoritária no que pertine ao ambiente, que pretende a redução do
tamanho das unidades de conservação ou mudanças de categoria para menos restritivas,
como o caso do parque do Delta do Jacuí.
235
UM PARQUE ecológico cheio de trilhas. E todas elas levam para um meio ambiente preservado. ZH
ambiente. Zero Hora, Porto Alegre, 24 jun. 2004. p. 5.
236
GOVERNO do RS pratica ato contra o Parque Estadual Delta do Jacuí. Disponível em:
<http://www.redeprouc.org.br/news.asp?codigo=78>. Acesso em: 17 out. 2004.
100
Figura 2 – Parque estadual do Turvo
Fonte: IBAMA Dispovel em: <www2.Ibama.gov.br/unidades/rppn/index0.htm>
Em 28 de dezembro de 1921, foi criado o Serviço Florestal do Brasil
237
, cujo
objetivo, insculpido no art. 1°, era a conservação e aproveitamento das florestas e que foi a
gênese do atual Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama). O Serviço Florestal Brasileiro foi sucedido pelo Departamento de Recursos
Naturais Renováveis, decreto 17.042/25, e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF)
238
, foi substituído pelo Ibama.
Durante o governo José Sarney foi elaborado e implementado o programa “Nossa
Natureza”, que consiste em enorme conjunto de projetos, iniciativas legais, organizacionais
e administrativas, gestadas com a participação ampla de setores técnicos, governamentais e
o governamentais. Nessa ocasião, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis, e criadas as bases para a crião do futuro Ministério
do Meio Ambiente.
239
Em 1990, foi criada a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência
da República (Semam), ligada à Presidência da República, que tinha no Ibama seu órgão
gerenciador da questão ambiental, responsável por formular, coordenar, executar e fazer
executar a Política Nacional do Meio Ambiente e da preservação, conservação e uso
racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais renováveis.
As Unidades de Conservação Federais são de competência do Departamento de
Unidades de Conservação do Ibama
240
, órgão integrante do Ministério do Meio Ambiente,
que, apesar de ter apenas 16 anos de criação, desempenha papel consolidado de
237
BRASIL. Decreto-Lei n° 4.421/1921
238
BRASIL. Decreto-Lei n° 289/67.
239
Disponível em: <www://águas.cnpm.embrapa.br>. Acesso: 24 jan. 2004.
240
Órgão executor do Ministério do Meio Ambiente, responsável pelas unidades de conservação nacionais.
101
credibilidade no país. Segundo a ministra Marina Silva, o Ibama é a face pública do
Ministério do Meio Ambiente e da política ambiental brasileira”.
241
Em demonstração da atividade dos órgãos federais em defesa da política ambiental
brasileira, em junho de 2004 foi criado mais um parque nacional, o da Serra do Itajaí, rico
pela fauna, flora e formações, com 57 mil hectares e abrangendo nove municípios de Santa
Catarina.
242
Entre as suas atribuições, o Ibama promove, coordena e supervisiona as atividades
relacionadas às unidades de conservação de uso. Como exemplo, podem-se citar os
parques nacionais (Parna), as reservas biológicas (Rebio), as estações ecológicas (Esec), as
reservas ecológicas, áreas de proteção ambiental (Apa), áreas de relevante interesse
ambiental (Arie), reservas particulares do patrimônio nacional (Rppn), florestas nacionais e
reservas extrativistas.
243
Vale salientar que os parques nacionais não são elementos novos na preservação
ambiental, pom não se pode deixar de destacá-los pela grande importância em termos de
recuperação dos remanescentes florestais e do ecossistema, como a rearborização da
floresta da Tijuca, iniciada em 1862. Essa unidade de proteção ambiental, localizada no
Rio de Janeiro, foi um legado do imperador Pedro II, atitude continuada no período da
República, quando a proteção ambiental tomou grande impulso através da conscientização
da necessidade preservacionista, que se materializou na criação de dois parques nacionais
no ano de 1876: Sete Quedas no Paraná e Ilha do Bananal no Tocantins. Em 1937,
aconteceria a criação do Parque Nacional de Itatiaia no Rio de Janeiro.
2.5 Passo Fundo: delimitação territorial e espacial. Reflexos na qualidade ambiental
2.5.1 Equação território, população e saneamento básico
Originariamente, por volta de 1809, o terririo rio-grandense dividia-se em quatro
grandes unidades potico-administrativas: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo
Antônio da Patrulha. Foram esses que deram, de fato, início à vida municipalista da terra
241
Discurso da ministra Marina Silva na posse do pesquisador Marcus Barros na presidência do Ibama no
início do governo Lula. Dispovel em: <www.mma.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2004.
242
Disponível em: <www.mma.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2004.
243
Disponível em: <www.ibama.gov.br>. Acesso em: 24 jan. 2004.
102
de São Pedro, configurando a primeira estrutura administrativo-territorial, que seria o
ponto de partida para os contornos que hoje o estado tem.
As muitas transformações que o território passo-fundense sofreria não foram
impeditivos de desenvolvimento e persecução dos ideais de prosperidade. Passo Fundo
tornou-se um município lo educacional, cultural, médico e comercial de uma grande
região, onde vivem em torno de três milhões de pessoas que, direta ou indiretamente,
servem-se dos benefícios potico-econômico-culturais que a cidade proporciona. Segundo
Rückert
244
, a ocupação e colonização do município de Passo Fundo, bem como do centro-
norte do Rio Grande do Sul, envolveu um importante processo de destruição e construção
da ordem territorial, no qual o ato de destruir foi a condição básica do próprio existir da
colônia que surgia.
O município de Passo Fundo tinha localização estratégica como ponto de passagem
entre as Missões e São Paulo, tendo sido espaço de conflitos entre os nativos (índios) e os
novos ocupantes. Assim como muitos municípios, a cidade sofreu transformações
territoriais, pelos processos de emancipações político-administrativas, que lhe deram,
desde 1857 até os dias atuais, novo formato pelos desmembramentos do território. Quando
foi desmembrado de Cruz Alta, apresentava uma área em torno de 24.802 Km
2
e abrangia
Soledade, Nonoai e Guaporé, posteriormente desmembrados e ocupando, assim, uma área
de cerca de 80.000 quilômetros quadrados. O município limitava-se ao sul com os
municípios de Rio Pardo (1809), Cachoeira (emancipado em 1819 de Rio Pardo) e Taquari
(de Triunfo em 1949); ao norte, com as terras pertencentes ao atual estado de Santa
Catarina; a leste e ao sul, pela Serra Geral, sem determinação de pontos, com os
municípios de Santo Antonio da Patrulha (1809), Taquari, Rio Pardo, Cachoeira e Santa
Maria; a oeste, com o terririo do município-mãe Cruz Alta (1834).
Em 1833, o terririo passo-fundense estava sob a jurisdição de São Borja e
formava o quarto quarteirão do município, mas em 1834, com a criação do município de
Cruz Alta, Passo Fundo passou à condição de quarto distrito da nova divisão territorial.
245
Em 1847, foi designada “Freguesia da Nossa Senhora da Conceição Aparecida do Passo
Fundo” e o distrito de Passo Fundo passou à categoria de município pelo advento da lei
340, de 28 de janeiro de 1857, cuja instalação se deu no mesmo ano.
246
O território passo-
244
RUCKERT, A. A. A trajetória da terra: ocupação e colonização do centro-norte do Rio Grande do Sul:
1827/1931. Passo Fundo: Ediupf, 1997. p. 27.
245
OLIVEIRA, Francisco Antonino Xavier e. Annaes do município de Passo Fundo: aspectos históricos.
Passo Fundo: Ediupf, 1990. v. 2. p.73.
246
OLIVEIRA, op. cit., p. 81.
103
fundense estendia-se até o Rio Uruguai e foi uma das maiores áreas em superfície de terras
da província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Em 1858, conforme dados do
recenseamento, Passo Fundo tinha uma população aproximada de 8.208 habitantes, dos
quais 1.692 eram escravos, 127 libertos e 6.389 habitantes livres, contava então com 1.638
habitações.
247
A estrada de ferro que ia de São Paulo a Rio Grande, passando por Passo Fundo, foi
o incremento que faltava para a eclosão da economia, dificultada pela precariedade das
estradas, impedindo o escoamento da produção, a ocupação e o desenvolvimento da região.
Com a ferrovia, aumentou o preço das terras, dentre outros fatores
desenvolvimentistas que se refletiram na destruição do meio natural. Rückert relata:
O incremento dos núcleos de colonização efetiva-se ao longo da estrada de ferro,
tornando-se a cidade de Passo Fundo um centro coletor da vida econômica e
social da vasta região que compreende o o Planalto Médio, mas ainda, o
Alto Uruguai e parte das Missões.
248
Em 1875, ou seja, depois de 18 anos de emancipação, o município de Passo Fundo
perdeu sua primeira parcela de território pela emancipação de Soledade, até então seu sexto
distrito, que levou cerca de 30% da sua área. A pxima transformação ocorreria 28 anos
mais tarde, em 1903, quando Guaporé se emancipou do município de Lajeado e levou uma
pequena parcela do território de Passo Fundo. Em 1918, 15 anos depois, o oitavo distrito
passou a constituir o município de Erechim, que se tornou o limite norte de Passo Fundo.
Os desmembramentos via emancipatória consumiram 35% da área original do município.
Denota-se que, entre as décadas de 1918 e 1931, a área do município estava em
torno de 8.638 Km
2
, “dos quais 4.290 em antigas florestas”.
249
Em 1931, Passo Fundo
desmembrava-se do município de Carazinho e, em 1934, Getúlio Vargas; em 1939, o
território de Passo Fundo perdeu sua ligação com o estado de Santa Catarina pela criação
do município de Sarandi. Quando Passo Fundo completou 77 anos de emancipação,
computava uma perda territorial de, aproximadamente, 66% de seu território, ou seja, cerca
de 16.434 Km
2
. Depois, criam-se os municípios de Marau, em 1954, e, em 1955, de
Tapejara. Na década de 1960 surgiram os municípios de Sertão, que se desmembrou em
1963, Ciríaco e David Canabarro, em 1965, período em que, além do território houve uma
perda populacional na ordem de 8.971 habitantes (8,78%).
247
OLIVEIRA, op. cit., p. 205.
248
RUCKERT, op. cit., p. 119.
249
Idem, p. 120.
104
Na onda emancipatória (1980-1990), o território de Passo Fundo perdeu área em
1988, quando se criou o município de Ernestina. Só em 1992, ocorreram as últimas
emancipações do território passo-fundense, quando se desmembraram Coxilha, Mato
Castelhano e Pontão, com o território do município-mãe ficando reduzido, então, a 759,4
Km
2
. Em 2004, Passo Fundo completou 147 anos de emancipação político-administrativa
e sua área atual é de 780,36 Km
2
, demonstrando uma redução de 96,8% do seu território
original.
Apesar das perdas territoriais, Passo Fundo, a terra dos Pinheiraes
250
, apresentou
processo inverso em termos populacionais. A evolução populacional do município no
período de 1940-2000 registra um crescimento significativo em decorrência das novas
relações de produção que ocorreram na região, com o aumento populacional urbano
concomitante ao êxodo rural. De 1940 a 2000, houve um incremento de 87.358 habitantes
(51,85% de aumento em sua população residente).
O aumento da população residente traz, entre outros problemas sociais, a discussão
sobre o saneamento básico, que é considerado sinônimo de qualidade de vida em todo o
mundo. Cada vez mais as pesquisas demonstram que a ausência de um sistema adequado
de saneamento reduz a expectativa de vida, aumenta o número de doenças e, muitas vezes,
leva ao óbito
251
. Esse problema atinge, geralmente, as populações mais pobres e que vivem
em condições inadequadas em moradias precárias. Desde a Antiguidade, o saneamento foi
objeto de preocupação das populações e governantes, mas sempre encontrou espaço apenas
nas mais desenvolvidas
252
. Gilissen relata:
250
Denominação dada por Francisco Antonino Xavier e Oliveira em obra de mesmo nome Terra dos
Pinhaes: série comemorativa do centenário do começo do povoamento do território passo-fundense pela
gente brasileira civilizada. OLIVEIRA, Francisco Antonino Xavier e. Terra dos Pinhaes. Passo Fundo:
Livraria Nacional, 1927.
251
MAGGIONI, Fabiano. “Esgotãoquase mata um homem no Bairro Schisler. O esgoto faz a primeira
vítima. O Cidadão Especial 11 anos. Passo Fundo, 01 a 30 jun. 2004. p. 7.
252
Historicamente, nos séculos XI e XII, bem como na África antes da colonização européia e também na
antiguidade, no minio antes de Cristo localizavam-se três grandes centros geográficos na origem das
grandes civilizações egípcia, mesopotâmica e hindu: o delta do Nilo, em que aparecem cidades como Busiris,
Letópolis, Saís, Bouto, e mesmo uma cidade santa, Heliópolis; a bacia do Tigre e do Eufrates, com Ur,
Lagash, Eridu; a bacia do Indo, com Harappa, Amri e Mohenjo-Daro. GILISSEN, op. cit., p. 47.
105
Estas cidades antigas são já relativamente desenvolvidas; as cidades do Indo, por
exemplo, tinham casas em andares, um sistema de esgotos, estabelecimentos de
banhos públicos. Elas são formadas por uma nova classe social, os comerciantes,
que o tardam a entrar em conflito com os elementos da hierarquia feudal,
sobretudo fundiária. A velha solidariedade étnica e clânica desagrega-se nas
cidades, ao mesmo tempo que a nobreza feudal; para os comerciantes, os bens
móveis substituem os imóveis na hierarquia dos valores econômicos. A
propriedade imobiliária é parcelada. As cidades têm dirigentes assistidos por
funcionários retribuídos. No egipto, certas cidades do milênio são dirigidas
por uma autoridade que actua em colégio, o “Colégio dos dez homens”, que pode
ser comparado aos escabinos das cidades flamengas da Idade dia. A
fiscalidade, a escrita e o calendário aparecem aí, do mesmo modo que o estado
civil, nomeadamente sob a forma do “recenseamento do ouro e dos campos”.
253
Nos dias atuais, a distribuição de água potável em Passo Fundo alcança índices de
99,8% dos domicílios, mas a situação dos serviços de esgotos sanitários é crítica, pois
atende apenas em torno de 20% dos domicílios abastecidos por água, ou seja, em torno de
18 Km de tubulação. O rio Passo Fundo encontra-se muito comprometido em face do
grande volume de efluentes domésticos, industrial e agrícola que suporta, diretamente, sem
qualquer tratamento, além da cultura da população de que o rio é depósito de lixo, móveis,
plásticos, etc.
A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) prometeu publicamente que
deverá veicular edital de concorrência para fins de conclusão das obras da Estação de
Tratamento de Esgotos - ETE Araucárias, localizada nas proximidades do bairro Jo
Alexandre Zacchia. A estação será composta de quatro lagoas de estabilização/decantação,
onde o esgoto receberá tratamento via processos naturais, sicos bioquímicos e biológicos
com o uso de bactérias e algas específicas. Quando a obra estiver concluída, permitirá o
tratamento de 100% dos esgotos coletados (20% dos domicílios ligados à rede cloacal) e
possibilitará a ampliação das redes coletoras em outros bairros, beneficiando em torno de
50% dos domicílios passo-fundenses
254
.
Segundo notícia veiculada pela mara de Vereadores
255
, até maio de 2005, Passo
Fundo terá 20% da rede com tratamento de esgoto. A afirmação foi feita pelo
superintendente da Corsan, Vladimir Rezende de Moura, que esteve na Câmara Municipal
participando de uma reunião com a Comissão de Obras blicas e Nomenclatura de Ruas,
esclarecendo aos vereadores quanto a dúvidas com relação ao andamento das obras da
Estação de Tratamento de Esgoto Araucárias.
253
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. p. 47.
254
Via Ecopublicação ambientalista. Passo Fundo, Ano II, n. 4, jul. 2004.
255
Disponível em: <www.pmpf.rs.gov.br>. Acesso em: 02 set. 2004.
106
Conforme o superintendente da Corsan, o tratamento de esgoto em Passo Fundo
o está sendo executado porque a estação existente foi construída na década de 1940 para
atender a uma população de 12 mil habitantes e hoje não tem capacidade para absorver a
demanda. A Corsan iniciou em 2001 a construção de uma nova estação de tratamento de
esgoto, cujas obras estão paralisadas, mas deverão ser retomadas nos próximos meses,
dependendo apenas de um processo de licitação, que está prestes a ser publicado.
A expectativa da Corsan é de que as obras estejam concluídas entre os meses de
abril e maio de 2005, entrando em operação imediatamente. Moura afirma que, a partir
desse momento, todo o esgoto que é coletado hoje em Passo Fundo, cerca de 20%, vai ser
tratado com altíssimo grau de eficiência em lagoas de estabilização e devolvido com
excelente qualidade aos afluentes do rio Passo Fundo. O não-tratamento de esgoto tem
causado problemas como mau cheiro, mau aspecto visual e de alguns prejuízos à fauna
aquática.
Moura avalia que mais de 99% da população do município é abastecida com água
tratada pela Corsan e de excelente qualidade, sem nenhum risco de transmissão de
doenças. A recomendação, porém, é de que a população evite contato com a água do rio
Passo Fundo, em virtude da grande quantidade de esgoto cloacal que ali é lançado, além de
outros dejetos de redes clandestinas ilegais que se interligam e lançam produtos xicos no
rio. Participaram da reunião
256
com o superintendente da Corsan os vereadores Ênio Luiz
de Oliveira (presidente), Luiz Miguel, Izoldino Candaten e Fernando Scortegagna.
2.5.2 A história do problema ambiental do rio Passo Fundo: a ponte como marco inicial
do progresso e da desestabilização natural, fauna e flora aquática.
A falta de saneamento básico e as doenças causadas pela convivência com dejetos
de toda a ordem, infiltrações que contaminam os poços etc. não se constituem em problema
novo para a comunidade local e para a municipalidade. A situação já preocupava os
governantes há anos, quando o tifo ou febre tifóide esteve entre as doenças epidêmicas que
ceifaram muitas vidas na cidade e região e cuja causa repousava na falta de higiene da
cidade pelo precário serviço de distribuição de água e esgotos. Em razão do problema, foi
chamado a Passo Fundo o notável higienista Belisário Penna a fim de que estudasse a
condição sanitária da cidade, por estar sendo tratada como “perigosa” tanto para os
107
habitantes como para os visitantes e viajantes; no caso destes, se diminuídas as suas vindas,
proporcionalmente, diminuiriam os negócios.
257
O conceito de cidade salubérrima que desfrutou por longo tempo, pelas qualidades
climáticas que faziam convergir pessoas que necessitavam curar ou evitar doenças,
especialmente as das vias aéreas superiores, foi se perdendo. A varíola (1905), a varicela
(1908), a tuberculose, a disenteria aqui chegaram como doenças “importadas”. Passo
Fundo passou a ser uma cidade insalubre, conforme noticiou o jornal da época. A
intranqüilidade tomou conta da comunidade, que não aprovava medidas políticas
desenvolvimentistas da cidade, tais como caamento de regiões até então pouco povoadas,
em detrimento de uma ação mais efetiva em prol da saúde e do saneamento básico. “Nada
se fez e o que era em 23 uma ameaça é hoje uma realidade pungente: as febres typhicas
têm entre nós, tanto como a tuberculose, assento permanente, repetindo-se os casos nos
mais diversos pontos da cidade”.
258
As promessas dos poticos sobre o recolhimento dos detritos fecais não se
efetivavam e a contaminação com rias doenças aumentava, para desgosto da população.
Noticiava-se então:
E o que é notável é que ante a uma situação premente a nossa municipalidade
vive numa inércia rigidamente chineza sem a menor preocupação de antepôr
barreiras ao crescimento do mal. A administracção actual prometteu, de inicio, a
organização de um serviço perfeito de remoção de matérias fecaes que ficou a
promessa em promessa, preferindo-se calçar o Boqueio deserto a cincoenta
contos por quadra e despender verba inutilmente com macadans archaicos e fora
de commercio. E entretanto, é tempo de se cuidar com interesse da solução desse
problema, mormente depois que o Congresso de Municipalidades tão
brilhantemente rasgou novos horizontes administrativos e políticos na vida
estadual. É tempo de emprehender-se alguma coisa de útil e alcançar e sahir-se
da classe dos estudos, dos projetos...
259
A inconformidade com as poticas públicas adotadas e o analfabetismo eram
conhecidas como “mazelas” do Brasil, segundo matéria publicada pelo Jornal O Nacional
datado de 10 de setembro de 1929. Dizia o texto que havia dois males terríveis no Brasil,
como a politicagem e o analfabetismo. A partir dessa constatação, observa-se
repetidamente nos jornais uma campanha: “A instrução é a maior e a melhor das
heranças”. Resta evidente, pois, a preocupação com a cultura direcionada para poucos.
260
256
Reunião Comissão Permanente da Câmara de Vereadores de Passo Fundo – Cebes em 16 abr. 2004.
257
ÁGUAS e esgottos. O Nacional, Passo Fundo, 18 maio 1929. p. 1.
258
UMA cidade insalubre. O Nacional, Passo Fundo, 25 jul. 1929. p. 1.
259
UMA cidade insalubre. O Nacional, Passo Fundo, 25 jul. 1929. p. 1.
260
MATÉRIA, O Nacional, Passo Fundo, 18 jul. 1928. p. 2.
108
A questão do saneamento básico, conforme se observou, permanece desatendida e
as conseqüências, ainda hoje, não são maiores e mais seqüeladas em face do
desenvolvimento da medicina pelas vacinas e outros medicamentos, assim como pelo
desenvolvimento de desinfetantes e anti-sépticos vigorosos. Contudo, ainda se conhecem
timas em razão da falta de saneamento básico, o que gera inquietações para as
comunidades ditas “civilizadas” e “evoluídas”.
A ponte do rio Passo Fundo foi por várias vezes matéria dos noticiosos, como ainda
hoje o é. Quando da sua construção, descrevia-se a forma utilizada indicando que, sob o
leito da ponte, fora depositada uma camada de pedras britadas para base do piso, sendo
também iniciada a construção das muradas de cimento armado. A ponte seria iluminada
com candelabros que já estavam depositados sob a responsabilidade da Intenncia
Municipal.
261
O rio Passo Fundo tem em suas nascentes águas límpidas e transparentes, contudo
esse não é o quadro que se visualiza no restante do seu curso nem a realidade com que
convivem as populações que se sucedem no seu uso após a passagem da cidade. Além dos
agentes poluidores decorrentes da falta de saneamento básico, dos rejeitos urbanos,
industriais e agrícolas lançados diária e diretamente, apresenta dificuldades em manter sua
população piscosa em razão de obras construídas sob a ponte na avenida Brasil, que, em
razão da execução inadequada, anualmente, impede a ocorrência da piracema.
Várias medidas foram adotadas no sentido de minorar as conseqüências, como
abertura de canais implantados sobre a laje de concreto, estudo sobre formas definitivas de
solução com alterações estruturais visando melhorar o acesso e percurso realizado pelos
peixes, entretanto ainda sem solução concreta.
262
Agentes blicos e ambientalistas locais
procuram, juntamente com a municipalidade, soluções para eliminar o problema, contudo,
mais uma piracema se passou sem que a vida pudesse ser reproduzida nos rios locais.
Estudos sobre a bacia hidrográfica do rio Passo Fundo no perímetro urbano
continuam sendo realizados atualmente em face da grande discussão sobre a questão da
água, materializada em grande e justificada preocupação dos alunos de Geografia da UPF,
em convênio com a Secretaria do Meio Ambiente, em implementar o projeto de
atualização do mapeamento do rio e seus afluentes no perímetro urbano, num percurso de 5
Km, do parque Farroupilha até o bairro José Alexandre Záchia.
261
A PONTE do rio Passo Fundo. O Nacional, Passo Fundo, 25 jul. 1928. p. 2.
262
MATÉRIA. O Nacional. Passo Fundo, 06 set. 2002. p. 11.
109
A bacia do rio Passo Fundo é de importância estratégica para o município, porque
nela estão localizados o arroio Miranda, a barragem do rio Passo Fundo e a barragem da
Fazenda da Brigada Militar, que são os mananciais da captação para abastecimento de água
do município. A exploração dos sistemas é feita pela Corsan em forma de concessão,
atendendo a 99% da população urbana através de 540 Km de extensão de rede e de um
volume de água produzido de 1.320.000 m
3
.
Apesar da existência de rígida legislação ambiental que pre a proteção das
florestas e a conseqüente preservação dos mananciais, a realidade é bastante diferente do
ideal que poderia ser alcançado pela aplicação rigorosa da lei. A degradação ambiental na
bacia é refletida nos recursos dricos, no solo e na cobertura vegetal. O extrativismo
vegetal praticado na área da bacia vem acarretando danos ao ecossistema e,
conseqüentemente, à hidrografia.
Ao longo do rio Passo Fundo, a ocupação desordenada e irregular das margens, que
inicia na cidade, gera uma série de problemas, pois a alta pressão exercida pela
urbanização com a criação de núcleos urbanos leva à supressão da mata ciliar, favorecendo
o assoreamento e as enchentes. Por sua vez, o despejo de esgoto doméstico degrada e
contamina as águas com coliformes fecais e outros elementos exógenos ao meio,
comprometendo a vida aquática. os efluentes industriais e a suspensão excessiva de
partículas na água comprometem a qualidade da água bruta a ser tratada na estação de
tratamento de água da Corsan, provocando o entupimento dos filtros. Esses agentes,
combinados, colocam em risco a qualidade e a quantidade da água disponível para o
abastecimento público.
Apesar da ação dos agentes de degradação observados, o rio Passo Fundo e seus
contribuintes ainda apresentam água de boa qualidade em várias partes do trajeto, resultado
da cobertura florestal remanescente, notadamente nos trechos mais íngremes, onde o
acesso é dificultado pela topografia.
2.6 Da prática do desmatamento e a influência no progresso da região: notícias pelo
jornal O Nacional desde 1927
No jornal O Nacional de 27 de agosto de 1927, em matéria de capa sob o titulo Alto
Jacuhy, valorizando o trabalho progressista em auxílio do povo, de Armando Annes,
110
relata-se uma viagem realizada pelos redatores do jornal, que contam sobre a exuberância
da natureza, bem como sobre a já instituída destruição em prol do progresso:
“Nesse dignificante afan ora se occupa de estradas, ora da actividade sempre
crescente do edil Armando Annes, ora do que ha de notávelo, grandioso e
importante pellos bellos campos, pelas férteis mattas e pelas movimentadas
zonas urbanas do município. Depois de uma excursão que fizemos pelo Alto
Jacuhy, onde crescíamos de admiração á propor;ao que nos embrenhávamos
pelos Mattos e pelas ras, procuraremos deixar aqui, fartamente descriptos, o
conforto a que nos assistimos e a agradável impressão que vivemos e que vimos
e estudamos...no bello passeio pela esplendida estrada que vae de Carasinho ao
Não-Me-Toque. Toda ela é situada como que numa garganta de campo. De
ambos os lados, há poucas quadras de distancia, divulga-se o azul-negro dos
vastos capões, todos erguendo para o céu copadas magestosas e symetricas dos
pinheiros. Ao longe, muito longe, um bello horizonte azul como que assentado
sobre um pedestal sem fim, todo azul-escuro dá-nos a idéia de que se vae
penetrar num outro mundo, onde póde haver toda a espécie de vidas, menos a
vida mais complexa e heterogênea, a vida humana...
263
Prossegue o texto salientando o grande volume de carroças carregadas de madeira
encontradas no caminho, as quais abasteceriam quinze vagões do trem:
[...] Tal impressão já se dissipa, pelo pó, pelas interrupções da marcha do
automóvel: são as enormes carras de taboa e de productos que ás dezenas se
encontrando. Vae se passando por carros enormes de sete a oito animaes, que
vão a caminho da via rrea com quasi meio vagon de carga.Tem se a bella
imaginação de formigas que lutam dia e noite para accumular o pão. E os
carroceiros passam, levando a riquiza do celleiro, do grande celleiro de Passo
Fundo, levando para longe, e o que é de lamentar a recompensa não é perfeita.
A quar-parte, mais ou menos, paga o mal renumerado serrador, pelo frete do Alto
Jacuhy á Via Férrea [...] Vínhamos falando das carroças; e no ligeiro rodar de
quarenta minutos pela bella via de rodagem, contamos cento e sete dellas entre as
que vinham da fonte de riquezas e entre as que voltavam para as riquezas do
trabalho. Por conseguinte encontramos conductores de carga, para nada menos
que quinze vagões dos usados pela V.F.R.G.S. Assim íamos pensando, quando
chegamos á borda da enorme e pitoresca mattaria que víamos ao longe. Na
entrada da famosa região do Alto Jacuhy tivemos a primeira surpresa:
Encontramos a primeira povoação o Não Me Toque, sede do Sétimo Districto
A’primeira vista é inacreditável que aquillo seja o o fallado Não-Me-Toque.
Em vez das selvagens mattas, com alguns claros de pequeninas roças dada a
extensão dos pinheirais, víamos no agradável ambiente de uma nova civilisada
villa, reflexo do trabalho e da força de um povo, todo vigor, todo esperança e
todo enthusiasmo.”.
264
A busca pelo desenvolvimento pretendia ir além com a conquista da ligação férrea
para facilitar o escoamento da produção madeireira e agrícola que despontava na região.
No mesmo jornal, sob o título “Estrada do Alto Jacuhy”, observa-se o empenho dos
madeireiros em fazer com que chegasse até suas terras, ou próximo a elas, o trem. A
263
ESTRADA do Alto Jacuhy. O Nacional. Passo Fundo, 27 ago. 1927. n. 227, p. 1 capa.
111
dificuldade surgida pela falta de recursos foi rapidamente resolvida com a doação dos
dormentos para a construção dos trilhos. Muitas discussões se fizeram em torno da
questão, visível em muitas manifestações no jornal citado:
[...] temos ouvido que inúmeros industrialistas, offerecem dormentos
gratuitamente e ao que parece muitos e muitos milhares delles já de inicio
estarão a disposição da municipalidade. Espera-se que essa despeza que seria
uma boa porção do capital, irá desapparecer com um gesto unânime dos
madeireiros offerecendo um pouco da produção de sua indústria em benefício da
Estrada. Ouvimos mais, e de fonte de absoluto credito que o Governo Federal,
dada a grande quantidade de que dispõe, não ira cobrar os trilhos que fornecer.
265
A região, ampla e minuciosamente descrita, revela a existência de grandes áreas de
mata nativa com expressiva população de pinheiros e que estavam, desde então, sendo
abatidas em grandes proporções, vangloriando-se as atitudes progressistas e aqueles que
tinham o poder de transformar a natureza em economia:
ALTO JACUHY - [...] Nosso intento trazer, do seio das vastas mattarias, que
cobrem mais de cinco districtos deste município, o que se encontra de grande em
torno do progresso, da indústria e do trabalho [...] O sonho dos ancestraes
daquella gente foi realizado. Há por uma gleba vigorosa que sabe aproveitar a
natureza, com todas as suas bonanças e, com a pureza da alma da gente de fora e
a robustez do corpo sadio, sabe aproveitar mesmo as adversidades da sorte e
desdenhar da ira da grande Mãe commum.
266
Data da mesma época a notícia do desenvolvimento que se estendia pela região,
causando surpresa na medida em que não se restringia à exploração natural de tantas
madeireiras, que, segundo a notícia, concorriam entre si, mas também indicava o
início da industrialização
267
do estado, sem afastar-se do objetivo de estar no primeiro
plano na produção madeireira. A extração da madeira na rego, sem dúvidas, representou
uma importante fatia da geração de riquezas da época, entretanto o negócio apresentava
muitos riscos, afetando não apenas os envolvidos, mas também a comunidade de forma
264
ESTRADA do Alto Jacuhy. O Nacional. Passo Fundo, 27 ago. 1927. n. 227, p. 1 capa .
265
ESTRADA do Alto Jacuhy. O Nacional, Passo Fundo, 31 ago. 1927. p. 2.
266
ALTO Jacuhy. O Nacional, Passo Fundo, 3 set. 1927. Capa.
267
ALTO Jacuhy IV centro Alto Jacuhy Empreza de Couros Mombelli centro Alto Jacuhy... O Nacional. Passo
Fundo, 24 set. 1927. n. 235, p. 1 “E’a mal denominada Tapera o centro commercial de uma rica e prospera conia
italiana com bellas moradias e gente civilisada. Amantes da arte e do bello, commemorando a immigrão dos seus
ascendentes... Lá no corão dos grandes pinheiraes das costas do Jacuhysinho, Dante Aligheri é amado e sentido,
como nos grandes centros de civilisão aprimorada. Am dos numerosos Engenhos de Madeira, que concorrem
abundantemente para colocar o Alto Jacuhy em primeiro plano de produção madeireira do Estado, quasi no
coração do povoado um cortum, attestado do grande desenvolvimento da Industria do Estado... Mais de uma centena
de operários...
112
indireta
268
, com a intervenção dos vizinhos argentinos e uruguaios influenciando no
comércio da madeira pela guerra dos preços:
Nesta região a madeira é indubitavelmente o ramo de negócio que abrange
maior capital e maior numero de interessados. Também não há ramo mais
incerto, mais inseguro; hoje excelente dando lucros descabidos, amanha péssimo,
causando prejuízos geraes, a madeira , tem sido entre nós não so uma fonte de
renda mas também uma fonte de surprezas, de prejuízos avultados e da rna
financeira de muitos [...] E enquanto se faz tudo isso, os nossos pinheiraes vão
desapparecendo na proporção em que nossos madeireiros vao adquirindo
cans precoces tudo em directo beneficio dos mercados argentinos e uruguayo
que impõe preço e fazem tudo o mais que lhe agrada e convem... (grifo nosso)
No final do ano de 1927, o negócio da madeira ocupava espaço publicitário nos
jornais, com ofertas de pagamento em dinheiro, indicando escritório de negócios em Passo
Fundo e chamando proprietários dos pinhais para comércio.
269
A venda e compra de
madeira seguiram sem limitações, com farta publicidade e facilidades de negociação,
conforme se denota pelos anúncios destacados dos jornais da época: “Pinhaes em Qualquer
Município - Bem pago - compra A. Levi Exportador de madeiras Rua Independência,
58 - Passo Fundo – (Pagamento á dinheiro).”
A madeira, seguida pela banha e pela erva-mate beneficiada, representava o
elemento econômico que sustentava o desenvolvimento. Em matéria de capa, o jornal
expressou:
A exportação, thermometro da vida dum povo, tem sido, sempre, promissora,
para a riqueza deste município, num significativo aumento de anno para anno, na
demosntraçào mais concludente do nosso progresso e desenvolvimento
economico...Apparece com maior factor na exportação do triênio citado, a
madeira, a banha e a erva mate beneficiada, [...]
270
Embora a economia crescente atilasse a produção de madeiras alimentando todas as
demais faces econômicas relacionadas, do centro do país as notícias já expressavam
moderada preocupação com o aniquilamento das florestas e suas conseências, bem como
medidas adotadas:
268
ALTO Jacuhy IV Centro Alto Jacuhy Empreza de Couros Mombelli. O Nacional, Passo Fundo, 24 set. 1927. n..
235. p. 1.
269
PINHAES. Ancio. O Nacional, Passo Fundo, dos dias 19 out. 1927; 21 jan. 1928; 28 jan. 1928.
270
EXPORTAÇÂO. O Nacional, Passo Fundo, 31 out. 1928.
113
RIO 24 O Jornal do Brasil trata longamente da necessidade de crear-se um
systema de proteção as mattas, evitando-se o nocivo aniquilamento de nossas
florestas. Commenta esse jornal as medidas adoptadas pelo governo de São
Paulo, mostrando que as mesmas providências deviam ser postas em prática por
todos os demais Estados.
271
Do ano de 1928, localizou-se a existência de uma manchete sobre a não-
contaminação das águas de Irahy
272
, o que demonstra a preocupação existente, se não com
a preservação dos recursos dricos, com a saúde da população que consumia o produto
engarrafado mediante o controle sanitário do Estado.
Na região de Soledade, o desenvolvimento e o processo extrativo de madeira foram
mais tardios, por dificuldades geográficas e poticas. O município
273
, que havia pertencido
ao imenso município de Rio Pardo
274
e, depois, a Cruz Alta por 23 anos, apesar do
desfalque territorial e populacional sofrido em face dos vários distritos que se
emanciparam - Sobradinho
275
, Espumoso
276
, Arvorezinha (1959) e na década de 60, Barros
Cassal, Fontoura Xavier e São José do Herval - continuava a crescer e se desenvolver,
conforme Costa:
[...] o quadro econômico se transformava. A indústria extrativa da madeira, antes
inexpressiva, ganhou impulso na medida que melhorava a rede rodoviária,
permitindo a penetração do caminhão. Cresceu a agricultura, também favorecida
pelo desenvolvimento das estradas. Nas áreas de campo, começou a progredir a
cultura mecanizada do trigo. A pecuária...sofreu mutações qualitativas,
abandonando as raças crioulas e entrando decididamente no caminho da seleção
dos rebanhos. Na cidade, começaram as primeiras iniciativas industriais [...]
277
Observa-se pela exposição do autor que, na década de 1960, ainda existiam regiões
preservadas de florestas e que o desenvolvimento se acentuava.
A prática do desmatamento também oportunizou com mais facilidade a caça de
animais silvestres, os quais, à medida que foram perdendo seu habitat, tornavam-se presas
mais fáceis aos caçadores. O aumento da caça pela facilidade deu origem ao comércio de
271
RIO 24. O Nacional, Passo Fundo, 25 jul. 1929.
272
AGUAS Irahy o estão contaminadas. O Nacional, Passo Fundo, 7 abr. 1928. Água mineral engarrafada
e vendida com controle sanitário do Estado.
273
Hoje o município de Soledade possui, aproximadamente, 30.077 habitantes e tem no extrativismo de
pedras semipreciosas e na agricultura e pecuária seu embasamento econômico. Disponível em:
<http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/pg_municipios_detalhe.php?municipio=Soledade>.
Acesso em: 28 jul. 2004.
274
Rio Pardo reunia em seu território freguesias distantes como Santana do Livramento e Taquari.
275
BRASIL. Decreto-lei n.º 311/1938, todas as sedes municipais alcançaram o título de cidade.
276
Lei de Borges de Medeiros datada de 1954.
277
COSTA, Franco Sérgio da. Soledade na história. Porto Alegre: Corag, 1975. Organizada e publicada sob
patrocínio da Prefeitura Municipal de Soledade em homenagem ao 1º. Centenário de emancipação do
município.
114
peles e couros, que se prolongou por muitos anos, sendo, inclusive, objeto de anúncio no
jornal a venda indiscriminada dos produtos oriundos da caça:
COUROS SILVESTRES CRÚS - Compro qualquer quantidade de couros
silvestres crus como: de lontra, gato do matto , grachaim, jaguatirica, raposa
d’água, veado pardo, capivara, porco do matto, pagando os mais altos preços do
mercado. José Diniz Escriptorio na Rua Gal. Bento Gonçalves, palacete
Apparicio Langaro. (ON vários números)
As práticas de destruição natural foram ao longo do tempo sendo observadas de
uma forma diferenciada, visto que, novos conceitos surgiam ditados pela necessidade e
pelo receio do comprometimento da vida em suas formas. Essa alteração comportamental e
conceitual de base propiciou uma movimentação social e cultural que se reflete nas
práticas, nas campanhas governamentais, nas legislações, no surgimento de grupos
organizados para proteção e para luta por políticas públicas eficazes e implementáveis.
No capítulo III analisar-se-ão as organizações não governamentais, as propostas de
ações em prol da conservação das reservas naturais da humanidade, formas de pressão
utilizadas para o alcance dos objetivos, os debates com os grupos que se dedicam à
matéria, os programas de rádio, televisão e jornais que nasceram com esse intuito.
Abordam-se, também o envolvimento institucional nos processos de distribuição de
valores humanos para com a natureza, as práticas poticas e ecomicas que envolvem,
bem como as práticas preventivas, curativas e repressivas destinadas à ação humana.
3 – AS PROPOSTAS E AÇÕES DE CARÁTER NACIONAL E
GLOBAL
[...] O grito do Ipiranga trouxe consigo nas vibrações do som o denodo dos lutadores, a
aspiração da pátria cimentada com sangue dos martyres da liberdade, dos pioneiros
divinos da libertação. Que as brisas do Brasil frescas e puras cheias da virgindade das
mattas e do rumor das cascatas, leve nesse dia risonho de sol e de patriotismo o beijo
sacrossanto do Brasil libertado a fronte dos heroes que dormem esquecidos. (Jornal O
Nacional, Anno III, 07 set. 1928. Capa)
Este capítulo trata das constatações, das formas de pressão utilizadas para a
equação da problemática ambiental; da questão ambiental na sistemática política cultural
brasileira, das práticas adotadas, projetos e ações em andamento, do contexto da educação
brasileira, dos princípios e objetivos da educação ambiental, bem como da sua forma de
realização pedagógica de conscientização através de trabalhos sociais nas comunidades,
via ações políticas.
A questão ambiental, que desde muitos anos é objeto de preocupação, inclusive
com a reprovação histórica das condutas predatórias, quando até mesmo a regulação da
matéria, apesar de existente, era precária, incipiente e ineficaz. Salienta-se que a
curiosidade acerca do tema teve início pela constante discussão da matéria ambiental e
pelo momento da leitura social dos fatos, dos discursos, dos signos, da repressão e da
reprovação social, consciente ou não, bem como do conhecimento dos processos de
grandes derrubadas na região, epidios datados da década de 1930 e seguintes. Esses
episódios perduraram por anos, até a quase extinção das reservas florestais, quando se
operou grande modificação da paisagem da região pela implementação de estradas de
rodagem, o que apressou ainda mais a exploração das florestas do planalto sul-brasileiro.
Então a indústria madeireira libertou-se da dependência exclusiva das composições férreas,
116
propiciando cada vez mais a penetração, antes, senão impossível, de grande dificuldade,
para o interior, a medida que se esgotavam as reservas florestais nativas.
278
Com o esgotamento das florestas de araucária e outras espécies de madeira de lei
encontradas na formação florestal da região, o ciclo madeireiro, no final da Segunda
Guerra Mundial, sofreu alterações representativas, pois se deu ao solo novo uso pela
agricultura e pecuária para o atendimento dos interesses ecomicos da época. Os abates
ocorriam para o abastecimento de fábricas de fósforo, móveis e caixas instaladas na região,
que chegou a suportar mais de trezentas madeireiras em funcionamento concomitante,
tendo como conseqüência a devastação quase total das matas da região e o surgimento de
grandes fortunas.
279
A sociedade brasileira, nas últimas duas cadas, tem se estruturado em
organizações, movimentos e associações sociais nos quais os indivíduos e instituições têm
atuado em conjunto, em prol de pessoas e comunidades historicamente menos favorecidas.
É um novo momento de equação das dificuldades por meio de reivindicações objetivas, da
descoberta da cidadania, enquanto individualidade e elemento de fruição da sua própria
hisria, considerando-se o pensar do desenvolvimento da comunidade, que abrange
aspectos e temáticas intrínsecos de cada organismo social, respeitando-se os aspectos de
individualidade, coletividade e colaboração.
Observa-se ser a questão ambiental um dos assuntos de maior evincia no
momento, que ocupa lugar central nas preocupações dos governos, especialmente nos
países industrializados. Os países de Terceiro Mundo, ainda têm como justa prioridade a
erradicação da pobreza e o estabelecimento dos direitos sociais, colocando em segundo
plano a questão ambiental. Contudo, tal atitude demonstra mudança pela compreensão
da necessidade de um desenvolvimento sustentável, capaz de suportar as gerações
futuras.
280
A preservação ambiental, enquanto conjunto de temáticas relativas o à
proteção das formas de vida no planeta, mas também à melhoria do meio ambiente e da
qualidade de vida das comunidades, está entre os assuntos de interesse nos meios poticos,
científicos e acadêmicos mais estudados e discutidos na atualidade nos rios contextos,
278
HOGAN, D. J. A relação entre a população e ambiente: desafios para a demografia. In: TORRES,
COSTA, H. (Orgs.). População e meio ambiente. São Paulo: Senac, 2000.
279
WENTZ, Liliane Irmã Mattje. Os caminhos da madeira: região norte do Rio Grande do Sul (1902-1950).
Passo Fundo: UPF: 2004. p. 72 – 73.
280
ZUCCA, Aldo Jacomo. O direito da terra rumo a um direito internacional ambiental efetivo. Rio de
Janeiro: Qualimark – Petrobrás, 1991. p. 21.
117
nos âmbitos internacional, nacional e regional, em constantes debates, encontros,
congressos etc, sobre o assunto.
281
O medo de catástrofes de destruição ambiental de grandes proporções e o
desregramento ecológico impulsionam o homem a uma prática de reavaliação da
importância da preservação ambiental, cuja conscientização tem como um de seus
fundamentos os crescentes fenômenos que causam prejuízos ecológicos de várias origens,
tais como os de origem química, petrolífera e nuclear. Esses, pela sua amplitude e
gravidade, provocam importante modificação no pensar humano no concernente ao seu
habitat. Esclarece Gonçalves:
Do movimento ecológico parte um brado que precisa adquirir um contorno
político-cultural profundo: nossa sociedade está destruindo as fontes vitais à sua
própria sobrevivência. E esse brado traz em si uma das características mais
especificamente humanas: a consciência da morte. Sabemos que muitos animais
deixaram de existir porque, como predadores, extinguiram suas presas...Nós
ecologistas, chamamos a atenção para a possibilidade de reversão dessa
tendência eco-suicida enquanto há tempo, desenvolvendo outras formas de
relação com a extensão de nosso corpo que é a natureza, o que, como vimos,
implica a adoçao de outras técnicas de outras relações entre os homens, enfim, o
desenvolvimento de uma outra cultura. Insistimos:1945 Hiroshima-Nagasaki –
é um marco singular da historia do processo civilizario, pois colocou
concretamente a possibilidade efetiva da extinção da vida não da espécie
humana, mas de toda espécie de vida. Eis a razão maior do movimento pela vida
que, como não podia deixar de ser, é um impulso radical, no sentido mais
profundo do termo, ou seja, que busca ir à raiz das coisas para dela fazer emergir
um pensar, um agir e um sentir mais lúcido. A história demonstrou que não
caminha necessariamente para frente. As sociedades que se consideram os mais
civilizados foram as responsáveis pelas maiores barbáries do nosso século:
Auschwitz, gulag e os bombardeios de napalm no Vietnã, por exemplo, não
podem ser apontados como símbolos de progresso da humanidade.
282
Nessa prática, vislumbra-se que a crise ambiental o é restrita a alguma questão
regional e de menor importância, mas está intimamente ligada pelo nexo causal a todos os
seres do planeta, de forma que qualquer alteração prejudicial na condução estrutural da
natureza em qualquer parte do globo afetará diretamente os seres humanos e sua sobrevida
na Terra. Na década de 1990, vários espaços de discussão se abriram sobre o meio
ambiente:
281
FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro. Planejamento ambiental para a cidade sustentável. São Paulo:
Annablume – FAPESP, 2001. p. 33.
282
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (des)caminhos do meio ambiente. 7. ed. São Paulo: Contexto,
2000. p. 99.
118
Na década atual, verificou-se um retrocesso quanto às preocupações sociais. Os
cientistas chamaram a atenção para problemas urgentes e complexos ligados à
própria sobrevivência do homem: um planeta em processo de aquecimento,
ameaças à camada de ozônio da Terra, desertos que devoram terras de cultivo.
Nossa resposta foi exigir maiores esclarecimentos e transferir os problemas para
instituições mal equipadas para lidar com eles. A deteriorização ambiental, vista
a princípio como um problema, sobretudo dos países ricos e como um efeito
colateral da riqueza industrial, tornou-se uma questão de sobrevivência para os
paises em desenvolvimento.Ela faz parte da espiral descendente do declínio
econômico e ecológico que muitas nações mais pobres se vêem enredadas.
283
Coube ao governo federal a iniciativa de propor e ver aprovada a realização no
Brasil, no Rio de Janeiro, da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a Rio 92, realizada com a participação de 170 países, que definiu pela
primeira vez importantes convenções, tratados e declarações em escala planetária. O
evento foi a maior reunião de chefes de Estado da história da humanidade, reunindo cerca
de 117 governantes de países, e contou também com a participação da sociedade civil
organizada. Cerca de 22 mil pessoas do terceiro setor, de nove mil organizações não-
governamentais, estiveram presentes nos dois principais eventos da Eco 92: a Cúpula da
Terra e o Fórum Global, este último promovido pelas ONGs. Em outubro de 1992, ocorreu
a criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), cuja fuão é estruturar a política do
meio ambiente no Brasil.
284
Outras formas protetivas foram adotadas, dentre as quais o Protocolo Verde, em
1995, a Agenda 21
285
e outros, que, desde as respectivas aprovações, permanecem à espera
de sua implementação. Com isso evidencia-se a falta de vontade política na problemática
das relações de poder, evolvendo sempre em discussões que não se efetivam, ora por
resistências identitárias, ora por ideologias diversas.
O Protocolo de Kyoto aponta como solão para o Brasil o desafio da busca de
energias limpas e sustentáveis para banir ou minimizar o uso das diversas atividades
apontadas como responsáveis pelo aumento de dióxido de carbono na atmosfera, o que
283
CMMDA, Comissão Nacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso futuro comum. Rio de
Janeiro: FGV, 1988. p. XIII.
284
Convenção da biodiversidade: estabelece metas para preservação da diversidade biológica e para e
exploração sustentável do patrimônio genético, sem prejudicar ou impedir o desenvolvimento de cada país.
285
Agenda 21: conjunto de 2.500 recomendações sobre como atingir o desenvolvimento sustentável,
incluindo determinações que prevêem a ajuda de nações ricas a países pobres. A Agenda 21 abarca temas que
vão desde energia nuclear ao desmatamento e questões éticas. Foi assinada por 179 países. Os signatários
assumiram o compromisso de elaborar e implementar Agendas 21 nacionais. Fonte: CONFERÊNCIA das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. 3ª. Ed. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de
Edições Técnicas, 2001.
119
gera o efeito estufa.
286
Os eventos ambientais, em geral, avaliam situações reais já
ocorridas para a análise dos riscos e das formas de se evitar a repetição dos eventos,
concentrando as temáticas na proteção ambiental nos desastres e nas formas de precaução.
No Brasil um ciclo de palestras foi proposto pela Comissão de Assuntos Nacionais
(CAN), o Confea-PR e o Crea-PR com o temário baseado na proteção ambiental e nos
desastres ambientais, para avaliar os mecanismos de proteção cabíveis e os riscos. A
contribuição foi para a inserção dos profissionais das mais variadas áreas do conhecimento
no balanço de acidentes ambientais nacionais.
287
Na ocasião foram apreciados os casos de
Goiânia (Césio 137)
288
, do Rio de Janeiro de 05 (rompimento duto PE-2 com vazamento de
óleo combustível)
289
, de Curitiba (vazamento petróleo)
290
e as queimadas, especialmente na
região Amazônica. Pela análise dos riscos realizada, ficou evidenciado que as falhas
podem ser previstas em termos de probabilidades. Segundo o painelista engenheiro
Ricardo Lisboa da Cunha, o sistema metodológico de cálculo de análise de risco e a
probabilidade de um acidente são iguais ao número de casos favoráveis pelo número de
casos possíveis.
291
Lembrou o painelista supra do caso da vila So, na entrada de Cubatão no estado
de São Paulo, onde, em 1984, um vazamento de gasolina vitimou trinta pessoas da favela
que ocupava a faixa de domínio do duto transportador de material combustível inflamável.
Referiu que a situação não é isolada e que, em Tramandaí, no Rio Grande do Sul, e na
Bahia, existem moradias ocupando essas faixas de donio, com populações que vivem em
constante situação de risco.
292
286
O Protocolo de Kyoto visa reduzir as emissões de gases poluentes dos países industrializados em 5,2% até
2010, em relação às taxas de 1990. Até agora, o protocolo não saiu do papel porque o foi assinado por
países como Estados Unidos. Dentre os países que mais emitem o CO2, estão Japão, Austrália e Canadá. Os
Estados Unidos lideram a lista e são responsáveis por 25% do total.
287
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE DESASTRES AMBIENTAIS. 2000: Curitiba, PR. Desastres
Ambientais/Seminário realizado em 7 e 8 de novembro de 2000. Brasília: O CONFEA, 2001.
288
10/09/1987 cápsula de equipamento para combate do câncer furtada de prédio semi demolido do antigo
Instituto Goiano de Radioterapia.
289
1,3 milhões de litros de óleo combustível aquecidos derramados na Baía de Guanabara-RJ em 97 e
repetido em 2000 com dois milhões de litros no mesmo duto PE – 2.
290
Vazamento de 4 milhões de litros de petróleo, sendo que 1,3 milhões de litros atingiram os rios Barigui e
Iguaçu, em aproximadamente 50 Km de margem de rios.
291
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE DESASTRES AMBIENTAIS. 2000: Curitiba, PR. Desastres
Ambientais/Seminário realizado, em 7 e 8 de novembro de 2000. Brasília: O CONFEA. 2001, p. 46.
292
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE DESASTRES AMBIENTAIS. 2000: Curitiba, PR. Desastres
Ambientais/Seminário realizado em 7 e 8 de novembro de 2000. Brasília: O CONFEA, 2001. p. 51.
120
Segundo, afirmou Joseph Newman, presidente da Renove
293
, que patrocinou o
evento Power Future:
o tema energias renováveis era mais moda que necessidade. Hoje, cada vez mais,
cresce a percepção da necessidade das energias renováveis. A Nasa revelou uma
avaliação por satélite da temperatura da Terra, comprovando que a Terra está
aquecendo, com mudanças de clima preocupantes. As energias renováveis têm
um papel importante nesse contexto
294
Garante Laura Teti, membro da Delegação Brasileira de Negociação do Protocolo
de Kyoto, que promover desenvolvimento com base na sustentabilidade é fundamental, até
porque a poluição custa dinheiro, qualidade de vida, saúde e agrava os problemas de
miséria. E continua:
O que quer dizer desenvolvimento em base sustentável? Vamos ser mais
modestos e só considerar que o vamos entregar para os nossos filhos e netos,
daqui a 15 anos, um mundo em que o ar não está mais poluído, nem a água mais
poluída e que a terra o esmais contaminada. Vamos cuidar de poluição.
Se a gente só fizer isso, como critério de sustentabilidade, já é bom.
295
Segundo a proposta do protocolo, o objetivo é diminuir a emissão de gases tóxicos
e de outros poluentes na atmosfera; os países ou empresas que conseguirem reduzir as
emissões abaixo de suas metas poderão vender os créditos da redução de gases para outros
que não atingiram o grau de diminuição. Os países industrializados também podem gerar
projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), investindo em países em
desenvolvimento. Mesmo que o Brasil não conste do rol dos países poluidores, pode
diminuir o uso de determinados tipos de combustíveis e, com isso, diminuir a emissão de
gases, desde já investindo em energias limpas e ou renováveis, as quais aqui são
abundantes; além disso, em cada região do país podem ser desenvolvidas segundo as
aptidões do local e da atividade ecomica.
As ações adotadas estão prescritas no livro Seqüestro de carbono, que trata da
viabilidade de serem substitdos combustíveis muito poluentes (fósseis e outros) por
outros com menos carbono. A adoção do uso de combustíveis renováveis, como o gás
293
Rede nacional de organizações não governamentais dedicadas à promoção e à inclusão de energias
renováveis na agenda do desenvolvimento sustentável brasileiro.
294
Matéria Disponível em: <http://www.sfiec.org.br/artigos/energia/energias_limpas.htm>. Acesso em: 15
nov. 2004. Leia mais no site: <http://www2.ipef.br/pipermail/bioenergia-l/2004-June/000903.html>. Acesso
em: 28 dez. 2004.
295
Palestra no rum Internacional Petróleo, Meio Ambiente & Imprensa ocorrido em março em Salvador
BA – Jornal O Povo.
121
natural, os biocombustíveis, o etanol da cana-de-açúcar e soja é opção cujas pesquisas
estão em desenvolvimento. Além dessas, outras fontes de energia limpa, que num país
tropical de dimensão continental, não se pode deixar de citar, as quais são a energia solar e
a lica. Apesar de toda a movimentação em torno da causa ecológica, as discrepâncias
das ações e medidas evidenciam que ainda não se observa uma reprovação real das práticas
destrutivas lícitas e ilícitas, que precisam, a todo tempo, ser apontadas.
296
Os processos de amoralização das condutas é uma forma de se demonstrar que
ações que por muito tempo foram criticadas, discriminadas socialmente e, sobretudo,
punidas podem num outro momento histórico ser aceitas com naturalidade sob outro nome
ou, mesmo, banalizadas.
297
Segundo Pinker:
a poluição, por exemplo, freqüentemente é tratada como um crime de profanação
do sagrado, como na canção do conjunto rock Traffic: “Why don’t we[...]try to
save this land, and make a promise not to hurt it again this holy ground” [Por que
não [...] tentamos salvar esta terra, prometendo o mais danificar este solo
sagrado]. Essa postura pode ser contrastada com a de economistas como Robert
Frank, que (aludindo aos custos da limpeza) declarou: “Existe uma quantidade
ótima de poluição no meio ambiente, assim como existe uma quantidade ótima
de sujeira em nossa casa”. Além do mais, todas as atividades humanas têm
conseqüências, freqüentemente com vários graus de benefício e malefício para
diferentes partes, mas nem todas são concebidas como imorais.
298
Esses procedimentos humanos de ora punir e discriminar determinado ato e
momentos depois de chancelar o mesmo ato demonstra quanto os homens são constituídos
de valores que são facilmente modificados ou redimensionados, conforme as influências
sócio-culturais que sofre em cada momento histórico e local. Geralmente, julgam-se
pessoas o pelo que fazem, mas pelo que são, sem perquirir em que condições o sujeito
agiu, nem se novamente agiria da mesma forma, quais suas ideologias, suas crenças e seus
tabus.
296
SANTOS Pedro rgio. Crime ecológico: da filosofia ao direito. Goiânia: AB Editora da UFG. 1964. p.
94.
297
PINKER, Steven Tabula Rasa: a negação contemporânea da natureza humana. Trad. Laura Teixeira
Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 376-377
298
PINKER, op. cit., p. 378.
122
3.1 Organizações não governamentais: a influência do terceiro setor brasileiro no
despertar dos movimentos ecológicos
O terceiro setor, no Brasil e no mundo, está constituído por organizações privadas
sem fins lucrativos, que geram bens, serviços blicos e privados, todas com o objetivo o
de desenvolvimento político, econômico, social e cultural no meio em que atuam. Teve
avanço nas décadas de 1960 e 1970, agindo paralelamente ao Estado nos limites e na
proporção da desatenção em determinados flancos. São instituições com grande potencial
de representatividade, podendo ser vistas como legítimas representantes dos interesses da
sociedade civil e têm essa denominação pela divisão porque o Estado é o primeiro setor, o
mercado, o segundo, as entidades da sociedade civil formam o terceiro setor, em franco
crescimento no país e no mundo.
O terceiro setor é assim chamado porque engloba instituições com fins blicos,
porém de caráter privado, que não se enquadram, portanto, no primeiro setor (Estado); são
regidas pelo direito privado, mas não possuem objetivos mercantis, ou seja, fazem parte do
denominado espaço público não estatal. Essas entidades objetivam o combate de
problemas sociais mundiais graves, como a fome, violência, poluição, analfabetismo,
racismo, etc., agindo no espaço deixado pelo Estado e pelos governos pela incapacidade na
execução de tarefas sociais e falta de abrangência dos seus órgãos engessados,
apresentando dificuldades na manutenção de programas implementados e morosidade
para os que deverão ser implantados pela dificuldade na alocação de valores.
Como exemplo de organizações do terceiro setor citam-se as organizações não
governamentais (ONGs), as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip),
associações e fundações, que, balizadas por palavras como altruísmo, associação e auto-
sustentação, desenvolvem ações de formação social e congregam pessoas interessadas em
agir coletivamente a favor de um fim compartilhado, unindo esforços com um objetivo e
sem nenhuma finalidade lucrativa. Atuam como agentes emergentes no meio social,
exercendo importante papel na tutela do meio ambiente como defensores implacáveis pela
causa ecológica nas esferas internacional, nacional e regional. Conforme o texto da
Agenda 21: "As organizações não-governamentais desempenham uma função fundamental
na modelagem e implementação da democracia participativa. A credibilidade delas repousa
sobre o desempenho responsável e construtivo que têm na sociedade".
299
299
MILOMEM, Santos Valmir Nascimento. ONGs e a preservação ambiental. Disponível em:
<http://www.estacaovida.org.br/vida/inicio.php?session_id=30&id=1757>. Acesso em: 21 ago. 04.
123
A construção do espaço para a humanidade conta de uma relação que, na busca
do bem-estar ou das condições ideais de vida, gera a destruição do patrimônio natural,
comprometendo a qualidade e as possibilidades da própria vida na Terra. O uso racional
dos recursos naturais passou a dominar a pauta das discussões mundiais diante do grande
número de catástrofes ambientais climáticas e de outras que comprometem muitas vidas, as
quais se acompanham diuturnamente pelos meios midiáticos.
As relações sociais regidas por normas, leis, valores e objetivos instituídos remetem
para uma nova simbologia das formas poticas e administrativas na busca e conquista de
um campo interdisciplinar, no qual a história, a literatura, a física, a química, a matemática,
a biologia, o direito e outras ciências se intercruzam por razões distintas na busca de um
bem comum. Visa-se a uma democracia na qual todos possam, literalmente, desfrutar de
todos seus direitos humanos e sociais, sem prejuízo do respeito ao próximo e às futuras
gerações.
A atuação das ONGs no âmbito ambiental conta da relativa incompetência e
impossibilidade do poder público para atender às demandas sociais evolutivas; assim,
evocam para si as responsabilidades desses problemas sociais, num ato de franca
materialização do exercício de cidadania.
300
Realizando ações abrangentes que se
materializam em educação, fomento à preservação através de campanhas publicitárias de
ampla extensão, que ocasionam o debate e a curiosidade da população acerca da
responsabilidade individual no problema, além da execução de projetos ambientais (contra
caça predatória, preservação de espécimes da fauna e flora) e, principalmente, da
influência na esfera das poticas públicas voltadas para a preservação ecológica, através de
legislação protetiva responsável, as ONGs vêm ganhando espaço e representatividade
social.
301
300
MILOMEM, Santos Valmir Nascimento. ONGs e a preservação ambiental. Disponível em:
<http://www.estacaovida.org.br/vida/inicio.php?session_id=30&id=1757>. Acesso em: 21 ago. 04.
301
ONGs propõem ampliação da largura das matas ciliares. A intenção deste critério, a ser apresentado aos
grandes compradores do grão para a safra 2005/06, é preservar a biodiversidade das matas, torná-las abrigos
para a avifauna e criar corredores ecológicos. Movimentos e organizações ambientalistas propõem a
ampliação da largura das matas ciliares nas áreas onde produção de soja. A duplicação ou triplicação da
largura das matas ciliares legalmente determinada poderá também reduzir o assoreamento e a contaminação
das águas dos rios por produtos químicos usados nas lavouras. Porém, a área acrescida com essa ampliação
não poderá ser considerada como parte da reserva legal. Este é mais um critério de compra que não é passível
de ser aplicado imediatamente, necessita de mais prazo para que os produtores possam se adaptar e adotá-lo.
Ainda, porque serão necessários laudos técnicos de organizações credenciadas e imagens de satélite para
servir como verificadores.No total são 12 cririos de compra a serem adotados em curto prazo e 8 em médio
e longo prazo. Eles foram criados durante um rum virtual entre ONGs realizado pela Articulação Soja -
Brasil entre fevereiro e maio deste ano. O objetivo principal é a redução dos impactos negativos na produção
de soja.
124
Nesse contexto, de forma extremamente organizada, as ONGs têm o poder/dever de
críticas e pressões que não ficariam restritas ao encaminhamento potico das questões, mas
interferem nas pretensões econômicas e em suas inter-relações, como se evidencia na
movimentação política da reforma do digo Florestal, cujos novos dispositivos já estão
sofrendo represália em face dos interesses econômicos que atingirão, tais como a
construção civil, entre outros.
As questões ambientais, nas suas várias órbitas, não estão restritas a um
determinado local ou país, mas generalizam-se em legislações novas, amplamente
divulgadas pela mídia, proporcionando a conscientização e a dinâmica do problema
ambiental e suas interações, com o envolvimento da sociedade no momento em que se
propõe a rever paradigmas e valores para compor uma nova cultura ambiental. A mídia faz
um enfrentamento da questão trazendo fatos e identidades para o fim de muitas condutas
adotadas por insipiência.
Através de publicações recentes e diariamente veiculadas nos meios de
comunicação de massa denota-se a oportunidade de se fazer crescente o processo
conscientizatório do problema da vida na terra com gerenciamento holístico, visto que o
homem é apenas um dentre muitos detalhes para a conscientização das populações do
mundo. Conforme estudos de Leilah Landim da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
entre 1991 e 1995 houve um crescimento de 30% no terceiro setor, que passou a ocupar
cerca de 1,4 milhão de pessoas no Brasil entre funcionários remunerados e voluntários, ou
seja, mais que o dobro do número de funcionários públicos federais na ativa. A
pesquisadora refere que, em 1991, estavam registradas no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda cerca de duzentas mil entidades sem fins lucrativos.
302
A multiplicação das ONGs e de outras categorias de organizações da sociedade
civil no Brasil ainda é incipiente visto que se apresentam números bastante inferiores aos
de países da Europa ou América do Norte
303
. Atualmente, o terceiro setor, nos Estados
Unidos, movimenta, seiscentos bilhões de lares por ano, empregando 12 milhões de
trabalhadores remunerados, além de imeros voluntários. Em países como Itália, França e
302
Pesquisa Global Civil Society Dimensions of the Nonprofit Sector. Leilah Landim, The Jonhs Hopkins
Comparative Nonprofit Sector Project, 1999. Os dados de 1995.
303
Nos Estados Unidos, é usual usar o termo terceiro setor paralelamente a outras expressões, como:
''Organizações sem fins lucrativos - Non Profit Organizations'', significando um tipo de instituição cujos
benefícios financeiros não podem ser distribuídos entre seus diretores e associados. Ainda como expressão
utilizada - Organizações Voluntárias, com significado complementar à citada. Em 1990, o setor movimentava
300 bilhões de dólares, em 1996, as organizações da sociedade civil americanas movimentaram 6,3% do
PIB, (320 bilhões de dólares, em números absolutos, metade do PIB brasileiro no mesmo ano).
125
Alemanha, as instituições sem fins lucrativos atingem, anualmente, mais de 03% do PIB
nacional.
304
Segundo pesquisadores americanos da John Hopkins University, o terceiro setor é a
oitava força econômica mundial, movimentando 1,1 trilhão de dólares/ano e gerando,
aproximadamente, 10,4 milhões de empregos. Esta pesquisa também levantou o perfil do
terceiro setor no Brasil pelo número de pessoas ocupadas nas respectivas áreas de atuação,
obtendo os seguintes números:
Tabela 1:
Área de atuação Número de pessoas %
Educação e pesquisa 381.098 34,0
Saúde 184.040 16,4
Cultura 175.540 15,7
Assistência social 169.663 15,2
Associações profissionais 99.203 08,9
Religião 93.769 08,4
Defesa dos direitos 13.721 01,2
Meio ambiente 2.499 00,2
Fonte: John Hopkins University – ISER/1998
305
Analisando os dados da tabela 1 observa-se que, no Brasil as ONGs já ocupam
expressivo espaço de uma forma geral, mas o meio ambiente ainda tem um
desenvolvimentonimo neste flanco em comparação com as demais áreas descritas,
ocupando o menor percentual de pessoas e ações, embora reflita em dados a serem
considerados. O Conselho da Comunidade Solidária informa que o terceiro setor no Brasil
conta com, aproximadamente, 250.000 entidades, empregando 1,5 milhão de pessoas e 12
milhões de voluntários.
O termo ING ou indivíduo não governamental, ao contrário de outras organizações,
atribui-se a cidadãos persistentes e conscientes que são capazes de manter uma luta pelo
direito difuso de toda a sociedade, mesmo quando a própria sociedade não se dispõe a
participar. Destacam-se nas lutas de entidades ou classes no mais das vezes com intenções
boas e obstinação incontestável, que acabam por receber o reconhecimento social pelas
304
Dados Fundação Getúlio Vargas- SP – Prof. Luiz Carlos Merege – FGV.
305
Disponível em: <http://www.iser.org.br/portug/oiser.html>. Acesso em: 13 jan. 2005.
126
lutas travadas, mas nem sempre vencidas; têm a capacidade de localizar o problema, de
superar e inventar soluções, todavia nem sempre plausíveis, porém polemizam, exigindo o
cumprimento das leis, denunciando danos de toda ordem e, graças a elas, agressões
ambientais têm sido evitadas.
306
Existem líderes ambientalistas que, por alguma razão, não exercem o trabalho em
equipe e sempre decidem tudo sozinhos. Nesse caso, sabe-se que a democracia é um
processo lento e é nas lutas, nas disputas internas e externas, que o cidadão vai se tornando
líder e vindo a participar de grupos.
Conforme exposto, as questões ambientais, nas suas várias órbitas, não estão
restritas a um determinado local ou país, mas generalizam-se em legislações novas,
amplamente divulgadas pelos meios midiáticos, proporcionando a conscientização e a
dinâmica do problema ambiental mundial, sempre permeadas de ideologias e tensões
sociais que interagem com a vida das comunidades, gerando os movimentos de
autoproteção. As diferenças entre os socialismos” do passado e os “ambientalismos” do
presente, apesar de serem significativas, constituem, na realidade, aspectos
complementares de um mesmo processo.
307
3.2 Dos grupos de pressão: ONGs e INGs em Passo Fundo
Toda a sociedade cria um conceito de natureza e institui relações sociais conforme
suas características econômicas e poticas. No Brasil, a preocupação desenvolvimentista
denota uma priorização dos processos de crescimento econômico sem análise dos riscos e
danos que podem interferir no sistema; importa apenas o fim a que se destina: o progresso
do capital e o aumento do trabalho. Para Gonçalves:
306
BERNA, Vilmar. Disponível em: <http://www.jornaldomeioambiente.com.br/TerceiroSetor/
TerceiroSetor.asp>. Acesso em: 15 set. 2004.
307
LEIS, Héctor Ricardo. In: Meio ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as ciências sociais.
3. ed. São Paulo: Cortez, Florianópolis UFSC, 2001. p. 29.
127
quando se procura refletir sobre o conceito de natureza que está ano centro da
constituição de cada povo-cultura, é preciso muito cuidado, pois a questão
envolve múltiplos aspectos, do ético ao tecnológico, do econômico e político ao
cultural...Quando falamos e uso racional dos recursos, e sabemos o quanto essa
bandeira e cara ao ecologistas, é preciso ficar atentos para as múltiplas
conseqüências que a palavra racional evoca. A razão técnica e científica não é a
razão no seu todo. Uma das conquistas da modernidade é o reconhecimento de
que não só a nossa relação com a natureza deve ser regida de modo racional, mas
também as relações entre os homens. Sabemos que o imaginário racionalista
separou a relação homem-natureza lugar da relação sujeito(homem)-
objeto(natureza), da relação homem-homem (sujeito-sujeito) e, o pior, tornou-as
equivalentes, Em outras palavras, deu a relação homem-homem o mesmo caráter
atribuído a relação homem-natureza(sujeito-objeto), instrumentalizando, assim,
as relações sociais.
308
Com esse enfoque, observou-se no decorrer deste estudo, que as relações sociais
comprometidas com a preservação, em Passo Fundo, levaram à criação de organizações
o governamentais, que já fazem parte da realidade da região através do desenvolvimento
de um organizado trabalho nas várias esferas. Elas ocupam um lugar importante no
movimento social conquistado com suas próprias ideologias e convicções. No concernente
à questão ambiental, existem várias ONGs regularmente estabelecidas e atuantes, que
contribuem de maneira efetiva nas respectivas áreas de aptidão e dedicação, as quais
destacam as principais referências apresentadas na IV Semana Municipal do Meio
Ambiente, evento oficial ocorrido em março de 2004. Os dados aqui apresentados foram
fornecidos pela organização do evento e pelas instituições nas respectivas áreas de atuação.
3.2.1 Centro de Tecnologias Alternativas Populares (Cetap)
O Cetap tem como missão contribuir para a afirmação da agricultura ecológica
familiar e suas organizações, particularmente atuando na construção da agricultura
sustentável com base em princípios agroecológicos, que abrange sementes e
biodiversidade, consumo consciente e solidário, apoio ao assentamento de agricultores,
alternativas de trabalho e renda para famílias carentes.
308
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (des)caminhos do meio ambiente. 7. ed. São Paulo: Contexto,
2000. p. 138.
128
a) Sementes e biodiversidade
Tem o objetivo de resgatar e melhorar sementes escies para adubos verdes,
milho, feijões, abóboras, plantas da mata nativa ameaçadas de extinção; de fazer
experimentos e estudos com agrofloresta - produção de alimentos em sistemas
agroflorestais com quatro unidades de referência na região.
b) Consumo consciente e solidário
Preconiza o estímulo ao consumo de produtos ecológicos como forma de apoio (dos
consumidores/moradores urbanos) para uma maior preservação ambiental; feiras (na praça
da Mãe, de economia popular e solidária, de mostra de sementes e biodiversidade);
trabalho em escolas (palestras, cursos); eventos em geral; visitas para intercâmbio de
experiências (entre agricultores das diversas regiões, com agricultores e entidade de outros
países, entre consumidores e agricultores); jantar ecológico (como o realizado em Santo
Antônio do Palma).
c) Apoio ao assentamento de agricultores
Prestar efetiva participação em reuniões para dar o apoio e idéias para o
assentamento de agricultores na comunidade de Bom Recreio, estimulando a produção
diversificada de alimentos (ao invés do monocultivo da soja) e de forma ecológica;
preservar a mata e água existente na área.
d) Alternativas de Trabalho e renda para famílias carentes. Conclusão das
atividades – vila Entre Rios
O Cetap, durante o ano de 2003, elaborou projeto e tentou o apoio (não
conquistado) para o desenvolvimento de ações de formação/capacitação para a
implementação de alternativas de trabalho e renda, saneamento básico, educação
ambiental. As ações a que se proe serão retomadas assim que houver condições e se
conseguido o apoio almejado.
129
3.2.2. Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas – Amigos da Terra (Gesp/AT)
Um dos mais atuantes no processo de participação, com expressiva representação
social e comunitária, o Gesp tem entre as atividades desenvolvidas e apresentadas na IV
Semana Municipal do Meio Ambiente de 2004 a educação ambiental em escolas, bairros,
associações populares e comitês de gerenciamento de recursos dricos; participação em
eventos locais, regionais, estaduais e nacionais; realização de minicursos, oficinas e
palestras em encontros e seminários; participação no Conselho Municipal do Meio
Ambiente, no Conselho Municipal da Saúde, no Comi de Gerenciamento da Bacia
Hidrográfica Alto Jacuí, na Comissão Proviria de Gerenciamento de Recursos dricos
da Bacia do Rio Passo Fundo, no Ato pela Paz, na Feira Municipal de Saúde, na Feira
Saúde e Meio Ambiente, nos programas Tabagismo, Fome Zero, Pré-Conferência Nacional
do Meio Ambiente e na Conferência das Cidades.
Em andamento, segundo o relatório do grupo, existem os projetos “Pró-Ecologia do
Futuro Sequóia”, “Roteiro Turístico Ecológico Cultural e “Roteiro do Rio Passo
Fundo”, “ARIE” (Área de Relevante Interessante Ecológico), Recuperação e Preservação
do Rio Passo Fundo”, Sociedade e Cidadania (Coletivo de Entidades), “Consciência”,
Preservação da Nascente Mãe do Rio Jacuí”, Reserva Biológica Arlindo Haas”,
Parque Banhado Vergueiro”.
O grupo ecológico trabalha também em ações coletivas com outras entidades
(Gegv/Abracc/SBPF) nos projetos da invasão APP na barragem Capingüi; na ão para
regularização da área rural Z. D. Costi; no levantamento de Problemas na Área Industrial
do bairro Petrópolis; no estudo técnico-científico para instalão de área de relevante
interesse ecológico – reserva Maragato e entorno.
O Gesp/AT, confirmando sua representatividade, recebe denúncias da comunidade
em geral, bem como de outros órgãos que fiscalizam as ações contra a natureza em
números expressivos. (Tab. 2)
130
Tabela 2:
Denúncias recebidas: Ronda Eco-ambiental = 199
Denúncias encaminhadas:
Ministério Público = 115
5ª Cia Ambiental = 16
Sema/Defap = 09
Smam = 06
SMS = 04
Unimed = 01
Pendentes = 48
Fonte: Gesp/AT – 2004.
3.2.3. Grupo Ecológico Guardiões da Vida (Gegv)
O grupo trabalha na preservação do ambiente com projetos claros na área
educacional, em feiras e eventos e participação expressiva junto aos órgãos e políticas
públicas para o desenvolvimento sustentável da região. No ano de 2004, desenvolveu
inúmeras atividades como palestras de educação ambiental em diversas escolas e
instituições, participação em feiras e eventos, dos quais se podem apontar a Feira de Meio
Ambiente, Saúde e Educação (Bunge, Sesi); Dia Mundial da Água (Rio Passo Fundo); Dia
da Criança (projeto “Comunidade Eco-Cidadã no Jardim do Sol”); Arborização (projeto
Plantando cidadania” fase Passo Fundo); debate potico “Políticas Públicas e Meio
Ambiente”, com canditados à Prefeitura Municipal de Passo Fundo.
Uma das grandes lutas do Gegv e do Gesp foi o combate à capina química,
recentemente solucionada por decisão judicial do magistrado da 3ª. Vara Cível de Passo
Fundo, que julgou procedente a demanda movida pelo Ministério Público visando à
proibição da utilização de produtos químicos para a eliminação de vegetação indesejada
em ruas, praças e outros locais de uso público. A ação foi movida em face da aprovação
pelo Conselho do Meio Ambiente do uso da capina química, apesar da ilegalidade e dos
riscos à saúde pública e ao meio que a atividade pode gerar.
309
309
VIAECO, n. 09, Ano II, Nov. 2004.
131
3.2.4. Prana - Associação Ambientalista
O Prana é uma ING (indivíduo não governamental) que tem como projeto principal
o Parque das Pontes, localizado nas imediações do mercado Bourbon, às margens do rio
Passo Fundo. Objetiva a desapropriação de toda a área que tem como limite a Avenida
Brasil, as ruas Sete de Setembro e Ângelo Preto. Esse projeto pode ser visualizado na
figura a seguir.
Figura 3 – Projeto de mudança em espaço central de Passo Fundo - Prana
No interior dos limites encontra-se:
a) o mercado Bourbon a ser transformado em área de lazer;
b) o depósito de bebida, a ser transformado em museu ecológico nativo;
c) área vaga, a ser transformada em zoológico nativo;
d) a área da Empresa Reunidas, a ser transformada em praça com árvores nativas
transplantadas;
e) nas áreas de banhado drenado, objetiva-se a construção de um gestor ambiental
municipal sobre palafitas, após sua recuperação.
132
A situação do Prana não é a única existente sobre um projeto que repousa na labuta
de um único indivíduo. Em Passo Fundo existe um médico, autodidata em ecologia, que
mais de quarenta anos se preocupa com questões ambientais, atuando voluntariamente
desde quando as ações prevencionistas ainda não eram foco dos noticiários, dos estudos ou
de qualquer discussão política ou outra. Por anos trabalha contribuindo de forma individual
para o processo de conscientização em manifestações em rádios, jornais e por outros meios
que abrem espaço para as questões ambientais, bem como em sala de aula na Faculdade de
Agronomia da UPF, onde, na década de 1970, distribui seu conhecimento entre os
alunos da graduação. Tem seu objetivo estabelecido na construção e conservação da
paisagem de uma forma geral, quer urbana, quer rural, e no seu apostolado inseriu um dos
filhos, o qual se destaca na continuidade do trabalho do pai, com formação e atuação
específica na área, dando continuidade ao trabalho antes iniciado
310
. Certamente, outros
existem, mas se destacam aqui as duas pessoas mais atuantes, social e publicamente
reconhecidas.
3.2.5. Parceiros do Silêncio Urbano (Psiu)
Psiu é uma entidade sem fins lucrativos que se ocupa da diminuição da poluição
sonora no município e nas atividades da vida urbana. No ano de 2004, realizou ações de
educação ambiental, orientação e repressão em parceria com a Promotoria de Justiça
Especializada, a 5ª Companhia Ambiental e a Appa no que tange aos problemas de ruído
urbano, de uma forma geral, mais especialmente aos problemas noturnos pela aglomeração
de pessoas em postos de gasolina, carros de propaganda móveis, lojas, casas noturnas e
automóveis particulares em pontos críticos da cidade. Por sua pressão foi institdo o Dia
Municipal do Silêncio”, a ser observado no dia 9 de outubro de cada ano, oportunidade em
que é realizado trabalho de conscientização e informação acerca dos malefícios do excesso
de barulho, assim como de uma legislação municipal específica para se adequar aos
mandamentos estaduais e federais sobre a matéria.
Entretanto, nem só de ONGs e INGs vive o ambientalismo passo-fundense e
regional. Entidades públicas estabelecidas representam o Estado nas ações e interações
310
Paulo Fragomeni, médico, com 84 anos de idade, professor da disciplina de fisiologia vegetal da
Faculdade de Agronomia da UPF.
133
sociais, efetivando medidas preventivas, curativas e punitivas, na medida da necessidade e
nas respectivas áreas de atuação isolada ou conjuntamente.
3.3 Entidades públicas
Em nível local, a atuação de entidades públicas tem seu espaço estabelecido pela lei
e suas ações oficiais fruem de credibilidade por parte da sociedade o que as auxilia nas
respectivas áreas de atuação. Adiante será discutido o trabalho do Escritório Regional do
Ibama, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e do Ministério Público, trazendo-se
alguns dados sobre sua atuação recente.
3.3.1. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama)
O Escritório Regional do Ibama vem trabalhando de forma efetiva no controle e na
fiscalização das ações lesivas ao meio, implementando medidas curativas e punitivas para
os casos analisados e comprovados de danos na região. No ano de 2003 em seu relatório de
atividades, evidenciou que o ano foi marcado pela vontade potica de modificar a forma de
atuação do Ibama.
Criado visando à gestão participativa, à educação ambiental e à mudança dos
paradigmas para um modelo de desenvolvimento social mais justo e ambientalmente
sustentável, o órgão vem sofrendo uma grande reestruturação interna para agilizar e tornar
mais eficiente sua atuação. Dentre as ações realizadas dentro desse novo espírito destaca-
se o processo de mobilização para a realização das Pré-Confencias Regionais do Meio
Ambiente Erechim, Passo Fundo, Tapejara e Palmeira das Missões-, preparatórias à Pré-
Confencia Estadual do Meio Ambiente, que culminou na realização da Conferência
Nacional do Meio Ambiente, um marco na maneira de encarar a gestão ambiental no país.
É nesse contexto que o Escririo Regional (Esreg Passo Fundo) tem realizado um
esforço de ampliar seu relacionamento com a sociedade. Como primeiro resultado desse
empenho destaca-se a participação no projeto de Zoneamento Ambiental da Bacia do Rio
Passo Fundo, apresentado ao prêmio Petrobrás Ambiental, tendo como proponente a
Universidade de Passo Fundo. O Esreg Passo Fundo tem na sua jurisdição 151 municípios.
Em número de municípios é o maior do estado e no ano de 2003, realizou operações de
134
fiscalização de rotina e de fiscalização em parceria com a Cia. Ambiental da Brigada
Militar e o Defap; operações especiais, como a Operação de Fiscalização do Transporte de
Cargas Perigosas e a Operação Piracema no rio Uruguai;
Dentre as atividades administrativas destacam-se a emissão de cerca de 21 mil
certies negativas de débito (CND); licenças para porte e uso de moto-serras (LPU);
licenças de pesca amadora (LPA); expedição e controle da autorização para transporte de
produtos florestais (ATPF) em áreas licenciadas pelo Ibama, exportação e transporte
interestadual; cadastro técnico federal; a realização de vistorias e resgate de fauna. Além
disso, participou do Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrário de Passo Fundo; nas
reuniões dos comitês das bacias dos rios Apuaê-Inhandava e Passo Fundo; no projeto de
recuperação da mata ciliar do rio Passo Fundo, entre outras reuniões e atividades.
Assim, tem como perspectiva ampliar a integração com a sociedade e, nesse
sentido, a expectativa é a realização de projetos e ações em conjunto, buscando, por meio
de uma agenda positiva e da educação ambiental, o comprometimento dos atores sociais
envolvidos na construção de um novo modelo de desenvolvimento, já implementado no
ano de 2004.
3.3.2 Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam)
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, como secretaria independente, é recente
e foi implantada pela da lei 3.580/2000. Antes existia vinculada à Secretaria da Saúde e
com um único secretário, que administrava os problemas de saúde pública e questões
ambientais. Como o município tem uma condição de reconhecimento na grande região
como um pólo médico, muito pouco de atuação era dada às questões ambientais, razão pela
qual se criou uma secretaria específica e com atribuições exclusivas.
A Smam surgiu em face da preocupação municipal com o meio ambiente e com o
cumprimento efetivo da legislação constitucional e específica que se refere às
responsabilidades e autonomia dos municípios para determinados atos, especialmente para
apreciação dos impactos no desenvolvimento dos espaços urbanos. Iniciou a atividade sob
o comando do secretário Ivaldino Tasca, pessoa da comunidade com reconhecimento pelo
trabalho e estudo na área, com obras publicadas sobre o tema, que encerrou o período em
31 de dezembro de 2004 com um reconhecido trabalho prestado em prol da comunidade
passo-fundense e sua natureza.
135
Dentre as atividades da Smam desenvolvidas em 2003 encontra-se a conclusão do
Plano Ambiental Municipal, que vislumbra o uso e estado dos recursos naturais nos limites
do município, causas dos impactos ambientais, minimização/compensação, etc.; a busca da
habilitação do município junto à Secretaria Estadual de Meio Ambiente; o licenciamento
ambiental das atividades de impacto local; a elaboração de projetos, tais como: Projeto
Passo Verde, com quatro subprojetos, sendo três de ajuste de conduta de empresas locais,
Projeto de Monitoramento do Rio Passo Fundo: coletas de água do rio (dias chuva e sol)
em pontos distintos, Educação Ambiental e Capacitação Técnica com o Programa
Municipal de Educação Ambiental: sensibilizar para preservar, palestras para os
funciorios da Auto Agrícola, Metasa e Bunge, curso de extensão universitária em
Licenciamento Ambiental de Impacto Local (Univates).
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente teve participação em vários eventos, tais
como o Seminário de Capacitação para Técnicos de Municípios, com vistas ao
licenciamento ambiental das atividades de impacto local (Sema - Porto Alegre), VII
Encontro dos Dirigentes Municipais de Meio Ambiente (Famurs – POA), Seminário
Interno Estudo da Legislação Ambiental (Smam).
As ações perpetuaram-se também nas condutas fiscalizatórias, traduzidas nas ações
e ocorrências elencadas na tabela 3.
Tabela 3 – Serviços realizados pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente / 2004:
Ações Número de ocorrências
Vistorias 154
Medição de som 61
Denúncias 112
Alvará de localização e funcionamento 128
Notificações 203
Pareceres Técnicos 108
Ofícios Promotoria 82
Ronda Ecológica 223
Total 1.071
Fonte: Relatório do ano de 2004Ano da Habilitação da Secretaria do Meio Ambiente de Passo Fundo.
As um longo esforço do poder público municipal e de diversos segmentos da
comunidade, conseguiu-se habilitar e colocar em pleno funcionamento a Secretaria
136
Municipal do Meio Ambiente. A habilitação para gestão ambiental das atividades de
impacto local, com certeza, trará enormes benefícios para a qualidade de vida dos passo-
fundenses.
Os principais dados sobre os trabalhos realizados pela equipe da Smam em 2004
foram obtidos em processos administrativos são: alvas de localização e funcionamento,
pareceres técnicos, solicitações diversas, denúncias (449); denúncias recebidas (227);
notificações (192); ocios do Ministério Público (87); processos internos (20);
procedimentos de gestão ambiental das atividades de impacto local através do
licenciamento ambiental (LP, LI, LO), autorizações, declarações, EIA (34); cursos de
capacitação dos funcionários da Smam (5); cursos promovidos pela Smam (3);
participação em eventos ambientais (20); projeto Monitoramento do Rio Passo Fundo;
participação em conselhos, como Comau, Cmma, Coaju, CMDI e da Floresta Nacional de
Passo Fundo; programa de estágios com a UPF (ICB e ICEG) com alunos de biologia e
geografia (20).
Embora o exíguo tempo de atuação efetiva da secretaria, é possível observar da
importância da sua atuação para a comunidade em geral no processo evolutivo urbano e
rural.
3.3.3 Ministério Público do Estado do Rio Grande Do Sul - Promotoria de Justiça
Especializada
A Promotoria de Justiça Especializada tem representativo papel junto a comunidade
no sentido de conscientizar, coibir e fiscalizar as ações contrárias ao bem-estar geral da
população. No ano de 2003, o Ministério Público trouxe as estatísticas das ações na região
Norte, demonstrando um trabalho ágil e que ganhou espaço. Foram 236 inquéritos
instaurados; 144 acordos firmados; 10 ações movidas; 86 inquéritos arquivados; 489
inquéritos em andamento; 97 processos criminais iniciados e um numerário obtido com
medidas compensatórias (multas e outras) no montante de R$ 69.463,25.
Dentre as principais ações estão a participação nas primeiras ações do projeto de
Recuperação do Rio Passo Fundo; a continuidade do trabalho de regularização da
destinação dos resíduos da área de saúde; atividades de preservação da barragem do
Capini, com responsabilização aos infratores; participação em projetos de educação
ambiental, com destaque para o jornal Via Eco; incentivo à construção do primeiro
137
depósito para a segregação de resíduos lidos na vila Entre Rios; desenvolvimento de
ações no combate à poluição sonora, visando especialmente aos veículos e às lojas de
conveniência dos postos de combustíveis; acompanhamento do trabalho da Ronda
Ecológica, com enfoque principal nos depósitos clandestinos de lixo; fiscalização da
regularidade dos poços artesianos, exigindo a apresentação de outorga, sob pena de
lacramento, além de outras atividades, como audiências, reuniões, palestras, atendimentos.
Toda a problemática que envolva a comunidade de forma mediata ou imediata
perpassa pela análise do Ministério Público no papel que lhe cabe como defensor do povo,
a quem compete a apuração dos fatos, dos danos e o encaminhamento para o procedimento
adequado para cada conduta. Comprovada a conduta delituosa, o MP pode publicamente
apresentar suas razões e esclarecer a população dos fatos, conscientizando os demais
integrantes da sociedade sobre as condutas passíveis de punição.
3.4 Programas rádios/tevês/jornais
A preocupação com a questão ambiental e a divulgação das ações públicas e
privadas em defesa da natureza e da humanidade trouxeram mais uma variante para o
jornalismo, que sentiu a necessidade de se integrar na luta deflagrada em prol do meio,
dando uma contribuição a um blico que não tem outra fonte de informação e
esclarecimentos. Além das campanhas publicitárias distribuídas pelos meios midiáticos,
programas específicos foram se criando e se desenvolvendo também no rádio, como uma
informação de massa. Encontram-se em Passo Fundo programas que se pautam pela
especificidade do tema veículos que utilizam pautas sobre a matéria em programas e
espaços isolados, mas igualmente propiciando a discussão, dando conta da presença e
atuação das ONGs locais.
Nos lugares onde as ONGs ambientalistas são mais atuantes e organizadas, o
noticiário ambiental tende a ser mais freqüente devido ao trabalho dos
ecologistas. No final de 1998, foi criada a Rede Brasileira de Jornalismo
Ambiental, uma articulação eletrônica de mais de 270 profissionais
especializados ou interessados no tema que atuam nas principais cidades
brasileiras em veículos (jornais, revistas, rádios, redes de tv’s, Internet),
assessorias de comunicação, universidades e entidades ligadas à ecologia.
311
311
VILAS BOAS, Sérgio. Formação & informação ambiental: jornalismo para iniciados e leigos. São Paulo:
Summus, 2004. p. 21.
138
O jornalismo brasileiro ganhou um novo instrumento de trabalho, que facilitará as
investigações e o acesso aos problemas ambientais. A lei 10.650/2003, proposta pelo ex-
deputado Flávio Feldmann e sancionada pelo presidente Luis Icio Lula da Silva, garante
acesso público aos dados ambientais, ficando as autoridades submetidas a fornecerem
informações aos jornalistas e a qualquer cidadão. Com isso, o volume de notícias
ambientais chegará à população de uma forma mais rápida e correta, propiciando
esclarecimentos sobre os riscos, saúde, catástrofes, contaminação, poluição, entre outros.
3.4.1 Rádio Uirapuru e o Programa Uirapuru Ecologia
Uma das primeiras emissoras nacionais de rádio a implantar um programa com fins
ecológicos foi a Rádio Uirapuru, em Passo Fundo, este surgido da necessidade de trabalhar
a educação ambiental junto à comunidade. Criou-se, então, um programa informativo que
orienta as pessoas a mudarem seus hábitos e atitudes para melhorar a qualidade de vida e
preservar o meio ambiente, pois a conservação dos recursos naturais deve ser permanente.
A população, tanto da cidade como do interior, precisa estar sempre alerta e ser
responsável por aquilo que contamina e destrói. A cidade de Passo Fundo é divisora de
águas do estado do Rio Grande do Sul, pois nela nascem o rio Jacuí e o rio Taquari,
responsáveis por 86% das águas do Guaíba. O rio Passo Fundo, juntamente com seus
afluentes, deságua na bacia do rio Uruguai. Portanto, a cidade e localidades vizinhas têm
uma importância primordial em qualquer projeto estadual sobre meio ambiente e ecologia.
Assim nasceu o Uirapuru Ecologia junto com os técnicos ambientalistas e responsáveis
pelo projeto Pró-Guaíba, que vislumbraram a necessidade preeminente de trabalhar, educar
e informar sobre as nascentes dos mananciais que abastecem o Guaíba.
Em 7 de abril de 2000, foi ao ar o primeiro programa numa parceria da Rádio
Uirapuru com o programa Pró-Guaíba. A parceria deu-se em face de a cidade ter em suas
terras a nascente-mãe do rio Jacuí, Taquari, além de ser uma região eminentemente
agrícola. Assim, o Pró-Guaíba passou a patrocinar o Uirapuru Ecologia e a Rádio
Uirapuru AM, por ser der em audiência em toda a região. Em 2000, a Uirapuru era a
terceira rádio no Brasil a destinar um espaço para as questões ambientais; as outras eram a
Eldorado, em São Paulo, e a Guaíba, em Porto Alegre.
O programa Uirapuru Ecologia tem como tema de abertura a música "Súplica do
rio", de Paulinho Pires, e a pauta dos programas semanais é composta de assuntos do
139
momento sugeridos pelos ouvintes, por grupos ecológicos de Passo Fundo e da região, bem
como pela própria Secretaria Estadual e Municipal do Meio Ambiente. Com a repercussão
e envolvimento da população e das mais variadas entidades, como o ambiente
universitário, o programa passou a ser pautado por ouvintes que contatam relatando
experiências e variadas sugestões. Incentiva, ainda, as escolas de Passo Fundo que
desenvolvem projetos de preservação do meio ambiente a se manifestarem na programação
relatando seus feitos. A partir de agora pretende também dar destaque às demais ações
desenvolvidas pelo governo do estado no que se refere ao meio ambiente, seja através de
entrevistas, seja de notícias e, até mesmo, da participação direta em feiras e eventos que
estejam de alguma maneira ligados à região.
O programa Uirapuru Ecologia, em dezembro de 2000, recebeu o prêmio
Interamericano de Jornalismo Ambiental na categoria “Programa de Rádio”, dado pela
Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental, dentro da programão
do 27º Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental, realizado em Porto
Alegre de 3 a 8 de dezembro. A entrega oficial do prêmio foi feita no dia 5 de dezembro,
no Teatro São Pedro, durante o evento. O Uirapuru Ecologia participou do prêmio com
dois programas: um sobre a qualidade da água e o outro sobre a importância dos banhados.
Entre os assuntos destacados no Uirapuru Ecologia estão os índios, crimes
ambientais, alimentação, agrotóxicos, banhados e nascentes, Código Florestal e reservas da
região, Dia Mundial do Meio Ambiente, lixo, água, árvores, queimadas, aproveitamento
integral dos alimentos, poluição, romaria das águas, problemas e soluções enérgicas e
incentivo e uso de energias alternativas, renováveis e ecológicas, águas de balneário, verão,
Companhia Ambiental, reflorestamento ambiental, cidades sustentáveis, Agenda 21, entre
outros.
O Uirapuru Ecologia sai dos estúdios da rádio para acompanhar eventos tais como
a Expointer, Fórum Social Mundial, além de outros realizados em Passo Fundo e na região,
como o programa Uirapuru Ecologia Especial do início da primavera, realizado na
avenida Sete de Setembro, na Feira de Produtos Ecológicos, no Museu Zoobotânico
Augusto Ruschi, da UPF, entre outros. Como um canal aberto, o programa tem recebido
denúncias e muitas informações de entidades e organizações que trabalham com as
questões ambientais, as quais são direcionadas para a solução pelas autoridades
competentes.
140
3.4.2 Rádio Diário da Manhã – Por Falar Em Ecologia
Outra rádio da cidade que optou pela realização de um programa exclusivo para
tratar assuntos ambientais foi a Diário da Manhã. O programa Por falar em ecologia está
sendo veiculado desde maio de 2004 e tem uma hora de duração, sendo apresentado aos
sábados pela Rádio Diário da Manhã – AM 570 MHz, das 8h 10min às 9h 10min.
O programa tem como objetivo utilizar o espaço do rádio como meio para veicular
mensagens educativas sobre ecologia. Entretanto, como se sabe que o “meio é a
mensagem”, pretende que os próprios ouvintes comecem a participar do processo expondo
suas idéias e ações em prol da causa. Além disso, pretende dar maior espaço para as pautas
do meio ambiente, especialmente fazendo análises dos acontecimentos, fatos e notícias. A
expectativa é contribuir com a construção da “sociedade correta” ecologicamente falando.
A principal razão do surgimento do Por falar em ecologia foi o fato de a mídia
local não disponibilizar espaço suficiente para as opiniões e posições dos ambientalistas,
que, geralmente, são vistos como radicais, e tamm, para aproximar as práticas dos
objetivos. A educação é excelente companheira, e Por Falar em Ecologia é uma
proposição, uma proação, uma posão. A pauta, segundo os objetivos da rádio, pode ser
um acróstico daquilo que acredita um ideal:
I de incluir (todos, sem exceção);
D de dialogar (impossível excluir o verbo como mecanismo de entendimento);
E de educação (conhecimento para todos);
A de ambiental (que é o holismo-dialético)
L de Lançar (dar início, é uma afirmação, é ir à busca).
A partir do debate, os assuntos englobam infra-estrutura e integração regional,
gestão dos recursos naturais, redução das desigualdades, ciência e tecnologia para o
desenvolvimento sustentável em cidades e na agricultura, na melhoria da qualidade da vida
urbana e rural. A participação da comunidade ocorre através da presença de escolas em
entrevistas, de depoimentos de lideranças comunitárias, de participações ao telefone, entre
outros. Apesar de ser uma participação ainda tímida, pois o tempo de programa é pequeno
para priorizar mais a participação do ouvinte, permite pensar nos temas tratados. Pelos sete
meses de programa, já se observa um bom entrosamento do público com a equipe,
constituindo o maior prêmio recebido a possibilidade de estar no ar prestando um serviço
ao público.
141
O programa tem feito inúmeros acompanhamentos de eventos, com boletins diretos
dos vários locais, dos quais se citam o V Fórum Brasileiro de Educação Ambiental
Goiânia; entrevista com a Diretoria da Agenda 21 Brasileira Brasília; discussão sobre
legislação ambiental com o parlamentar Carlos Minc ambientalista do Rio de Janeiro;
trabalho de campo do curso de Geografia da Universidade de Passo Fundo Turismo
ecológico” Palmeira das Missões; acompanhamento de acontecimentos nos bairros da
cidade de Passo Fundo. Para um programa que está poucos meses no ar, já desfruta de
uma condição de credibilidade importante, assumindo um espaço nas discussões da
comunidade e seus agentes.
3.4.3 Jornal Via Eco
O jornal Via Eco é o primeiro do gênero com publicação eminentemente
ambientalista. Publicação sem fins lucrativos que circula gratuitamente na cidade e na
região, com uma tiragem de dez mil exemplares, tem por escopo o processo
conscientizatório da comunidade acerca da questão ambiental. em seu segundo ano de
atividades, com nove edições em circulação, permite vislumbrar o reconhecimento pelo
trabalho desenvolvido, auxiliando na educação ambiental nas escolas e contribuindo para
uma visão diferente da relação do homem com o meio que vive, de valorização da natureza
no sentido da harmonia, não do confronto, da preservação, não da destruição. Estabeleceu
sólidas parcerias com os setores públicos e privados que confiaram no trabalho, permitindo
o aprimoramento gradativo das edições e das ações adotadas e noticiadas.
3.4.4 Campanhas publicitárias e de conscientização
Nas ações humanas nem sempre está presente o elemento volitivo do dano ou a
consciência da prática pelo agente, mas igualmente ocorre o resultado (dano). As
campanhas publicitárias de larga escala nos vários meios midiáticos traduzem, de forma
simples, o conhecimento das legislações e das punições nos mais longíqüos recantos por
um ou outro meio de publicidade, sem o hermetismo que impede à grande maioria de
brasileiros o entendimento do texto legal e seus restritivos. São campanhas novas ou
clicas cuja veiculação invade o consciente coletivo implantando objetivos e metas,
142
utilizando signos que se perpetuam. Já trouxeram questões como o racionamento de
energia, cuidados com a água, entre outras, com o que parcerias público-privadas
aconteceram com o mesmo intento: conscientizar a população da finitude dos recursos
naturais.
Para exemplificar, cita-se uma campanha nacional veiculada e que retorna à
pauta pelo terceiro ano em cartaz, rádio e televisão e outros meios de divulgação, contra os
agrotóxicos ilegais, realizada por iniciativa do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos
para Defesa Agrícola (Sindag) e da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos
Agrícolas e Veterinários (Andav). Com o tema “Agrotóxico ilegal causa perda e
destruição”, alerta sobre as conseqüências a que se sujeitam agricultores e revendedores
envolvidos com os produtos ilegais, como prisão, interdição de lavouras, prejuízos
financeiros, morais e materiais.
A campanha abrange ainda as formas de reconhecimento e denúncias dos produtos
ilegais, assim como alerta que a venda e o uso de agrotóxicos ilegais configuram crime
ambiental de acordo com a lei 9605, de 12 de fevereiro de 1998, pela qual os infratores
estão sujeitos a multas de até R$ 1 milhão. Além disso, o prejuízo causado pela
movimentação de agrotóxicos ilegais no Brasil chega a US$ 30 milhões por ano, segundo o
Sindag e a Andav:
312
O contexto inserido pelo conhecimento da ilicitude nas ações mais simples
proporciona a motivão para a reprovação das condutas e sua repressão através das
denúncias. O balanço dos dois primeiros anos foi positivo visto que, até março de 2004,
quatro toneladas de agroxicos ilegais foram apreendidas pelas autoridades nas principais
regiões agrícolas do Brasil. Também foram registradas mais de três mil chamadas para o
disque denúncia. As poticas repressivas efetivas geram novas denúncias na medida em
que o homemo suporta ter um encargo econômico para agir de forma lícita e ver
coroado de êxito quem enriquece utilizando-se de subterfúgios fraudulentos e ardilosos. A
condição de valores éticos intrínsecos é uma característica do ser humano.
312
Como reconhecer agrotóxicos ilegais: O idioma utilizado nos rótulos dos produtos é, na maioria dos casos,
o espanhol. As embalagens são do tipo sacos plásticos, metalizados ou caixas de papel cartão, com peso
líquido aproximado de 10 gramas a 200 gramas; As culturas mais visadas são soja, trigo e arroz. Produtos
visados pelas quadrilhas: Agruron, Callimuron, Chloryl, Clorimuron, Clorimusol, Clotyl, Clorinor, Flash,
Herbex, Huron, Herbimet, Koan, Parisud, Metsulfuron Agrotec, Sinochem Hebei, Meturon, Naok, Poker,
Spin 25 e Terriz.; Denúncias podem ser feitas pelo telefone 0800-940-7030. A ligação é gratuita e o
denunciante tem sua identidade preservada. Fontes: Sindag e Andav publicado no Caderno Campo e Lavoura
de ZH.
143
Refletindo sobre este estudo e, especialmente, sobre as ações prevencionistas
existentes em Passo Fundo e na região Norte do Rio Grande do Sul, percebem-se alguns
detalhes que podem embasar a análise, como o fato de que qualquer pessoa, ligada a um
grupo ou o, possui uma ideologia. O homem é um ser pensante, portanto é um ser
ideológico, e a história não é, nem nunca foi neutra ou imparcial. De acordo com Sandra
Jatahy Pesavento, “a história não pode, pois, ser neutra, mas é constituída a partir da
ideologia, que corresponde a determinados interesses de classe, com seus valores
específicos”.
313
Com esse fim, as ciências históricas e jurídicas estão diretamente implicadas na
análise proposta, por terem a visão dos atos e condutas que foram, ao longo do tempo,
criminalizados, efetivados pela devastação em todas as suas formas, quer direta, quer
indiretamente. Pode-se dizer ainda que o tema proposto, atualmente, tem sido objeto de
reflexão importante na movimentação de várias disciplinas, tais como geografia, biologia,
física, filosofia, e deve, por isso, representar para a história um ponto de vista interessante,
tanto no que concerne ao diálogo interdisciplinar quanto ao estabelecimento de um olhar
crítico voltado para própria disciplina.
É pertinente ainda destacar a importância de se conhecer historicamente as práticas
e condutas nas épocas respectivas no concernente ao meio natural e sua conservação,
enfocando-se a subordinão da sociedade ao poder do Estado e a conscientização dos
cidadãos para a causa. A elucidação da evolução histórica da consciência da preservação
do ambiente para homens e animais através dos tempos trará benefícios, uma vez que,
buscando o passado, têm-se condições de fazer uma previsão dos resultados subjetivos
para a contextualização da matéria em outras áreas do conhecimento no momento atual e
visualização de possibilidades para o futuro. Analisar o surgimento dos regramentos, a
aplicação das leis e modos de proteção do meio ambiente, em contraponto com a atuação
do Estado e sua postura atual, pode ser uma resposta para a violação e agressão da natureza
na sua forma gerica.
Essas mudanças comportamentais têm seus reflexos no ordenamento jurídico
brasileiro com o agravamento e a modificação das punições, a reprovação social pela
destruição do natural, enquanto meio de sobrevincia e qualidade de vida. Isso se pela
313
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Historiografia e ideologia. In: DACANAL, José Hildebrando; GONZAGA,
Sergius (Org.). RS: cultura e ideologia. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1980. p. 62.
144
contraposição ao desenvolvimento econômico e aos fins do capitalismo, cujos reflexos são
a destruição, a alteração de hábitos, de higidez, do trabalho.
A modernidade, como paradigma da ciência, desenvolve-se pela alise das
particularidades, produzindo o conhecimento histórico na seara do debate contemporâneo
pela chamada “crise da modernidade”. A observação dessa realidade se dá-se a partir do
deslocamento do sujeito das proposições tradicionais, permitindo o estudo diverso dos
limites e possibilidades da nova condição da história e suas estruturas dentro das recentes
tendências e da plausibilidade científica que a produção do seu conhecimento implica.
O pensamento histórico e historiográfico sofreu mudaas significativas nas
décadas de 1970 e 1980, delineando uma nova fase do desenvolvimento teórico-
metodológico para os processos de reconstrução do passado, fustigando o debate nos
rios níveis e trazendo o homem para o foco da hisria pelo processo de
antropologização”.
314
O ser humano está inserido no mundo e dele participa em interação
entre ato e potência visando a um fim ou ao bem comum que é para todos
(universalmente), ao mesmo tempo que será de fruição individual, ou seja, para cada um,
em reciprocidade. É a diatica da parte e do todo (holística) do mundo histórico
(sociedade) e humano (natureza sica), que, na teoria tomista (ação humana), busca a
felicidade (ética e virtude) possível e natural, segundo os parâmetros da liberdade e das
necessidades na vida humana, de forma otimista e afirmativa
315
.
Essas mudanças intensificaram, também, as manifestações em defesa do meio
ambiente, o que, neste recorte temporal (1930-2004), pode ser visto através da literatura e
das organizações criadas com esse fim, como se viu nos relatos das entidades
prevencionistas de Passo Fundo. Essas entidades fazem parte, no cotidiano das suas ações,
dos legados da ciência e da natureza; fazem a história que gostariam de legar às futuras
gerações; são, portanto, importantes na contribuição que oferecem, voluntariamente, à
constituição hisrica das ciências humanas. São posicionadas científico-ideologicamente
na condição potica que fará surgir o novo sujeito, com o compromisso de falar a
linguagem da garantia da sua própria sobrevivência na face da Terra e de agir
coerentemente com a ciência e o equilíbrio: o bom senso.
314
DIEHL, Astor Antônio. Do método histórico. 2. ed. Passo Fundo: Ediupf, 2001. p. 15.
315
LOPES, J. R. L. O direito na história: lições introdutórias. São Paulo: Max Limonad, 2000. p. 144-153.
145
O objeto das ciências humanas não é, pois, a linguagem (falada, contudo, apenas
dos homens), mas, sim, esse ser que, do interior da linguagem pela qual está
cercado, se representa, ao falar, ao sentido das palavras ou das proposições que
enuncia e se dá, finalmente, a representação da própria linguagem. Vê-se que as
ciências humanas não são uma analise do que o homem é por natureza; são antes
uma analise que se estende entre o que o homem e em sua positividade (ser que
vive, trabalha, fala) e o que permite a esse mesmo ser saber (ou buscar saber) o
que é a vida, em que consistem a essência do trabalho e suas leis, e de que modo
ele pode falar. As ciências humanas ocupam, pois, essa distância que separa (não
sem uni-las) a biologia, a economia, a filologia daquilo que lhes dá possibilidade
no ser mesmo do homem.
316
As ONGs e INGs referenciadas convivem, ainda, com a dinâmica e a
funcionalidade do poder no contexto da sociedade; exercem suas tarefas e exercitam o
poder mesmo que de forma diferente do Estado, mas estão com ele articuladas, pois isso é
indispensável à sua sustentação e atuação eficaz. À medida que o poder o eslocalizado
exclusivamente no aparelho de Estado, mas perpassa-o e complementa-o, sabe-se que nada
mudana sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo e ao lado
desse aparelho não forem modificados.
316
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1985. p. 370.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A temática desenvolvida nesta pesquisa comporta uma preocupação social para
com o problema do meio ambiente na região Norte do estado do Rio Grande do Sul, mais
precisamente em Passo Fundo, onde foram colhidos dados sobre o processo sócio-histórico
e suas implicações nas várias esferas da sociedade que refletem o trabalho comunitário das
entidades desenvolvido em benecio do cidadão como forma de conservação da qualidade
do meio natural.
Ao elaborar esta dissertação, teve-se o cuidado de elencar os propósitos que
formaram a pauta essencial do que se pretendia explorar para dar resposta à problemática e
cumprir os objetivos. Assim, fez-se uma retrospectiva histórica sobre a questão ambiental
no norte do Rio Grande do Sul, apontando as práticas através da localização das ONGs e
INGs que batalham incansavelmente para mudar as condutas depredatórias, conscientes ou
inconscientes, para conscientizar a populão sobre formas de evitar o caos a que se
chegará se não forem respeitados os mínimos princípios de conservação ambiental.
O objetivo principal, de esclarecer sobre o momento da eclosão da consciência
preservacionista e as reações sociais adotadas a partir da constatação da relação do homem
com a natureza pela necessidade de melhor qualidade de vida, e conjugado, na análise,
com os riscos que o progresso traz, com bônus e ônus. Várias são as áreas do
conhecimento que interagem no mecanismo da construção social da nova mentalidade,
com inovadoras fórmulas e práticas a serem observadas em consonância com a legislação
específica nos respectivos momentos históricos.
No primeiro capítulo, fez-se uma abordagem sobre alguns aspectos que marcaram a
evolução histórica do pensamento prevencionista e da legislação brasileira, sua aplicação e
regramentos; também se teve a preocupação de enlaçar o direito com as circunstâncias
hisricas, conferindo que o estudo sobre meio ambiente encontra-se fortemente
147
vinculado às expressões legais que existem para assegurar a defesa ambiental. A ligação da
hisria ao direito evidenciou que ambas as áreas se socorrem na busca da evolução e da
atualização dos seus conceitos pelo estudo dos vários institutos em contextualização com
momentos histórico-potico-jurídico-sociais pelos quais passou a humanidade. Em
resumo, no primeiro capítulo foi delineada a problemática da história e do direito, com
enfoque na legislação atual e antiga, suas respectivas inter-relações, e estudado o espaço e
as conseqüências sofridas pela alteração dessa paisagem.
No segundo capítulo, o foco da temática fixou-se nas relações que se firmam entre
a história e o direito, visualizando a legislação brasileira atual e aquela que no passado
regrou o direito, responsável pela mudança da paisagem causada pelo desmatamento para o
cultivo agrícola ou para a construção do espaço urbano; que causou danos à qualidade dos
recursos naturais e extinção de muitas espécies de animais silvestres, os quais perderam
seu habitat e tornaram-se presas fáceis para o deleite dos homens. O comércio de peles e
couros prolongou-se por muitos anos, dando conta do volume e da normalidade da conduta
que vitimou a fauna local e regional.
Em Passo Fundo, um dos fatores que mais agridem e poluem a natureza é a falta de
organização do saneamento básico, que fica muito aquém da realidade do município. Os
dejetos industriais, agrícolas e, mesmo, domésticos lançados na natureza sem qualquer
tratamento, acabam por contaminar o rio Passo Fundo e seus afluentes. O risco à vida dos
animais aquáticos já é tão visível que a piracema está praticamente comprometida pela
construção de uma rampa fora dos moldes exigidos para garantir a realização do femeno.
Esta, inclusive, está sendo objeto de preocupação da UPF para que seja encontrada uma
solução, uma vez que também a expectativa com relação à melhoria dos locais, como a
arroio Miranda, a barragem do rio Passo Fundo e a barragem da Fazenda da Brigada
Militar, que garantem a captação da água utilizada no município. Nesse tópico, buscou-se a
interação hisria-direito apresentando-se os avanços da Constituição Federal de 1988,
assim como da Lei dos Crimes Ambientais (lei 9.605/98). Foi importante para este estudo
somar conhecimentos através da leitura e da interpretação da primeira Lei de Terras no
Brasil lei 601/1850.
No terceiro capítulo, aproveitando-se dos resultados da IV Semana Municipal do
Meio Ambiente, expuseram-se informações sobre a ação das entidades que atuam
concretamente na defesa e proteção do meio ambiente, fazendo eclodir a consciência
preservacionista e evoluindo na medida em que as mudanças culturais começam a ser
sentidas, assim como a necessidade de salvaguardar a vida.
148
Muitos movimentos pró-defesa do meio ambiente têm surgido em Passo Fundo e na
região, alguns já reconhecidos como entidades que criaram raízes e têm participação
marcante nos movimentos socioambientais. Esses realizam projetos de conscientização
popular e acionam os poderes públicos instituídos para tomarem as providências
necessárias para solucionar a demanda de problemas ambientais que surgem, via de regra,
pela ação humana.
O Cetap preocupa-se com a agricultura ecológica e suas ações envolvem a
orientação a famílias para melhorar sementes, multiplicando a consciência da agricultura
sustentável. Além disso, presta apoio nos locais de assentamentos e assessora as famílias
na composição de trabalho e renda. Seu trabalho não se destina apenas à região, pois
participa de eventos e faz visitas a outros países, intercambiando experiências.
O trabalho do Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas é por demais conhecido na
comunidade passo-fundense, por ter importante inserção em conselhos e comissões
comunitários, assim como apóia programas institucionais que visam minorar as
dificuldades da população carente. O grupo tem vários projetos em andamento, como de
ser visto no último capítulo deste estudo, todos de alta relevância para a rego. É, ainda,
um alerta presente nos casos de denúncias públicas, fiscalizando a ação dos poderes
instituídos no que toca à superação dos malefícios causados pela ação predatória.
O Grupo Ecológico Guardiões da Vida busca o desenvolvimento sustentável
através da conscientização. Como os demais, participa ativamente da vida comunitária,
dedica-se à educação ambiental, fazendo palestras em escolas, feiras; por diferentes formas
conscientiza a população sobre a importância de gestionar junto aos poderes públicos para
obter projetos de poticas blicas que garantirão um meio ambiente saudável e
sustentável. Uma das suas mais importantes lutas recentes foi a proibição da capina
química nas ruas de Passo Fundo.
O Prana - Associação Ambientalista é uma associação de um homem só, que vem
apresentando um interessante projeto de transformação de uma área ocupada por empresas
que margeiam o rio Passo Fundo, para que ali se instale um gestor ambiental. A atitude do
Prana não é isolada; há outras pessoas da comunidade que se dedicam, independentemente
de organização grupal, a trabalhar pela qualidade do meio ambiente. Um dos exemplos
mais concretos é uma vida inteira de contribuições aos movimentos dessa área é de um
dico, que faz da profissão um meio de conscientizar sobre a conservação das riquezas
naturais.
149
O Psiu preocupa-se com a poluição sonora, tendo entre seus êxitos a conquista do
Dia Municipal do Silêncio(9 de outubro), quando se congrega com outras organizações
para realizar atividades de conscientização e informação sobre os problemas causados por
excesso de ruídos não pertinentes à saúde auditiva.
Além das organizações não governamentais, esta pesquisa colheu informações
sobre a atuação de órgãos públicos, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente,
Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Ministério blico do Estado do Rio Grande do
Sul - 1ª Promotoria de Justiça Especializada. Também um notável trabalho sobre ecologia
vem sendo feito pelas rádios Uirapuru e Diário da Manhã, que, além da preocupação em
passar princípios ambientalistas educativos em toda a programação, ainda instituíram
programas especiais que chegam com facilidade à população pela linguagem acessível e
atrativa com que comunicam. Além das rádios, cumpre missão semelhante o jornal Via
Eco.
Salienta-se a pertinência de uma retrospectiva histórica dessas organizações na
forma de memória oral para que se garanta a hisria do nosso cotidiano na esfera
ambiental e, no futuro, possa-se averiguar as ações e seus resultados para a sociedade.
As campanhas nos meios midiáticos de comunicação iniciaram-se muitos anos,
como já referido “A instrução é a maior e a melhor das heranças”, demonstrando a
preocupação da região com a conscientização, a preservação e a educação. Muitas
campanhas ainda são utilizadas como meio de atingir ao povo com o mesmo objetivo
elucidativo dos perigos e riscos que a destruição desordenada dos recursos naturais
representa para a própria humanidade. Programas de rádio, televisão e jornal, igualmente,
mobilizam-se na conscientização da complexa engrenagem ecológica.
Para se entender as complexidades existenciais de ONGs e INGs junto às
instituições públicas, é necessário que se debata sobre o papel do Estado, pois na
democracia não se configura como o ponto inicial necessário, o foco absoluto, o lócus. Foi
fora dos limites do Estado e de seus aparelhos que se instituíram as relações de poder, que,
com tecnologias específicas e relativamente autônomas, foram apropriadas e utilizadas por
formas mais gerais de dominação concentradas no aparelho estatal. No caso das
organizações não governamentais existentes em Passo Fundo e que defendem o meio
ambiente na região Norte do Rio Grande do Sul, vê-se que são agrupamentos humanos
permeados por relações de poder uma vez que os pressupostos básicos para manifestações
desse tipo são as relações pertinentes à vida social, ao convívio, ao cotidiano. No âmbito
dessa compreensão, o Estado passa a perder a condição soberana que faz a análise político-
150
jurídica que sempre lhe foi reservada. O Estado, no topo dessa compreensão, não possui a
prerrogativa de ser o centro único e preponderante das relações de poder, porque é preciso
considerar que o fenômeno da dominação, com as várias faces do poder que lhe são
imanentes, antecede o próprio Estado.
Deve-se abandonar qualquer padrão centralizador, isto é, o poder não deve ser
entendido como essencialmente originário de um órgão central e absoluto. Assim deve-se,
pois, compreender essa nova dinâmica das relações de poder tendo como pressuposto a
idéia de que inúmeros focos de poder que permeiam todo o corpo social, tais como o
Estado, a prisão, o hospital, a fábrica, a família, os sindicatos, as igrejas, os partidos
políticos, as universidades, enfim, todos esses locais constituem microespaços
institucionais em que as relações de poder se manifestam e se efetivam nas suas várias
formas.
Os poderes exercem-se em níveis variados, com certa autonomia e em pontos
diferentes da rede social, isto é, os micropoderes existem integrados ou não ao Estado, e
essa relativa independência ou autonomia significa que as transformações em nível capilar,
minúsculo, do poder não estão, obrigatoriamente, ligadas às mudaas efetivadas no
âmbito do Estado.
O Brasil não trabalha com estratégias que permitam o crescimento sem danos ao
ambiente. Para ilustrar, vale lembrar que, na China, as empresas automobilísticas calculam
que cada pessoa que tenha uma renda de U$ 4 mil por ano é um potencial comprador de
automóveis. Lá teria sucesso certo qualquer empresa automobilística pelo mercado de
muitos milhões de pessoas, todavia fábricas de automóveis baseadas em motores de
combustão interna ou combustível fóssil o são autorizadas nem bem-vindas.
317
Em
oposição, o Brasil clama para que empresas de qualquer natureza venham aqui se instalar,
dando todas as condições para que o progresso econômico ocorra, sem observar a
deterioração social a que pode dar causa. É a falta de estratégias e de poticas públicas que
tenham uma concepção de sociedade hígida, posto que o tempo é quem dirá das efetivas
conseqüências das medidas adotadas sem prévia análise de riscos.
Essa busca pelo progresso e o desenvolvimento como propulsores da conformação
social gera o conflito entre a ciência e seus agentes, sejam cientistas, filósofos,
historiadores, literatos, técnicos ou qualquer homem do povo. As áreas do conhecimento
integram-se para identificar o lugar da ecologia ou das ciências que visam à proteção ou ao
317
SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE DESASTRES AMBIENTAIS. 2000: Curitiba, PR. Desastres
Ambientais/Seminário, realizado em 7 e 8 de novembro de 2000. Brasília: O CONFEA. 2001, p. 384.
151
estancamento do uso desenfreado dos meios naturais, provocando todo tipo de discussão e
estudos. A educação será sempre a forma de evitar ou resolver uma série de problemas,
dentre os quais os políticos, que têm como último julgamento nas urnas.
A problemática dos países subdesenvolvidos ainda perquire atenção para a fome, as
doenças, a discriminação, entre outras, que não podem ser esquecidas. Felizmente, já se
observa uma mobilização em torno das causas sociais, denotando uma consciência para
recepcionar, de alguma forma, as diferenças e dificuldades. A integração social dos
deficientes, dos doentes, dos negros, mulheres etc., que antes eram tratados como inúteis e
hoje são forças vivas da sociedade organizada, é prova da mudança atitudinal social
alcançada da nos últimos anos, como se demonstrou pelo expressivo número de pessoas
participantes das ONGs no mundo que se ocupam em proporcionar uma melhor qualidade
de vida à humanidade.
A dificuldade de se organizar natureza e sociedade repousa no fato de que, nos
conceitos sociais ocidentais, elas se excluem, ou seja, as ciências da natureza e as ciências
do homem são dois mundos diferentes que não se comunicam.
318
Assim, como
compatibilizar o crescimento econômico com a sustentabilidade? Certamente, mediante o
emprego de políticas blicas adequadas, com medidas integradoras, com fiscalização
rigorosa da execução dos projetos e com participação ativa da sociedade civil valorizando
e conservando as diferenças regionais nas várias concepções.
Um dos efeitos nefastos do modelo de crescimento extensivo adotado pelo Brasil e
que agora sinais dos danos efetivados ao meio deve ser dimensionado e calculado
com o controle do risco e as implicações, conhecidas ou não, que a devastação pode causar
ao planeta. A produção agrícola não é a única culpada pelo processo de degradação e do
desmatamento, mas deve ser observada. O Estado deve limitar o estímulo para atividades
poluentes ou predatórias e redirecionar interesses para projetos que visem ao
desenvolvimento sustentável com uma agricultura consciente, capaz de alimentar o mundo
sem retirar a expectativa de uma vida digna para a sociedade, com um bom índice de
desenvolvimento humano (IDH), com projetos turísticos, paisagísticos, entre outros,
atentando para as peculiaridades de cada uma das regiões e suas exubencias.
O Brasil, em termos de qualidade de vida, segundo dados do relatório de 1999 do
Programa das Nações Unidas que estabeleceu a classificação de 174 países, ficou em 79º.
lugar e classificado entre os países de médio desenvolvimento humano. A avaliação do
318
GONÇALVES, op. cit., p. 140.
152
IDH leva em consideração três fatores, quais sejam, educação (alfabetização e taxa de
matrícula), saúde (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB).
Segundo a análise, embora tenha havido uma modificação na qualidade de vida dos
brasileiros, a alteração nos fatores de medição teriam sido a causa do rebaixamento para o
nível médio. A qualidade de vida é um termo originário da medicina e abrangia apenas das
condições dos recém-nascidos, mas sua aplicação foi se estendendo para outros fins, para a
psicologia da saúde, hospitalar, da psicoterapia e medicina comportamental. O termo
alcançou também a qualidade de vida ambiental, a psicologia ambiental, gerando muitos
estudos e discussões.
319
O planejamento ambiental é uma alternativa capaz de mitigar as conseqüências e de
recuperar uma condição de vida mais adequada para esta e para as próximas gerações,
como um esforço conjunto na direção da preservão. Desde a Pré-História, o homem
causa danos à natureza, todavia, devido a sua prática itinerante, permitia-se a recuperação
do meio até que outro grupo voltasse para o mesmo local.
320
A palavra “planejamento” carrega o sentido semântico de empreendimento, de
projeto, de sonho ou intenção de fazer algo para transformar uma situação estabelecida.
Assim também o é o planejamento ambiental, que parte do princípio da valoração e
conservação das bases naturais de um determinado território, considerando as interações e
relações, visando à auto-sustentação e à capacidade dos ecossistemas.
321
Segundo Maria
de Assunção Ribeiro Franco, o planejamento ambiental pressupõe três princípios de ação
humana sobre os ecossistemas que podem ser combinados: da preservação, da recuperação
e da conservação.
322
Destarte, uma metodologia é necessária para um planejamento ambiental eficiente
para a construção de novos cenários ambientais porque a ação humana (antrópica) sofre
influências socioculturais, econômicas, poticas, entre outras, dentro de um Estado
democrático. O processo de conscientização para a questão ambiental passa,
obrigatoriamente, pela educação em suas várias esferas para alcançar a todos
indistintamente.
No contexto da obrigatoriedade da educação ambiental no ensino formal, destaca-se
que a educação ambiental deverá ser desenvolvida como uma prática educativa integrada,
319
BOLLMAN, Harry Alberto. Indicadores ambientais: conceitos e aplicações. (Orgs.). Nilson Borlina
Maia, Henry Lesjak Martos, Walter Barrella. São Paulo: EDUC/COMPED/INEP, 2001. p. 48-49.
320
FRANCO. Maria de Assunção Ribeiro. Planejamento ambiental para a cidade sustentável. São Paulo:
Annablume: FAPESP, 2001. p. 34.
321
Ibid., p. 35.
153
contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. Ainda no
mesmo âmbito da educação ambiental formal, destaca-se que o decreto n.º 4.281/02
estabelece, em seu artigo , I, que deverão ser criados, mantidos e implementados, sem
prejuízo de outras ões, programas de educação integrados em todos os veis e
modalidades de ensino, com a integração da educação ambiental às disciplinas, com a
adequação dos programas vigentes de formação continuada de educadores.
No que se refere à educação ambiental não-formal, constante do artigo 13 da lei n.º
9.795/99, enquanto conjunto de ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da
coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da
qualidade do meio ambiente, vale ressaltar que compete ao poder público (federal, estadual
e municipal), como parte do processo educativo mais amplo e partindo do princípio de que
todos têm direito à educação ambiental, incentivar a ampla participação da escola, da
universidade e de organizações não governamentais na formulação e execução de
programas e atividades educacionais do ambiente.
Para tanto, necessidade de definição de poticas blicas que incorporem a
dimensão da problemática ambiental, com a intervenção dos órgãos e entidades integrantes
do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), Conselho Nacional de Meio Ambiente
(Conama), do Conselho Nacional de Educação (CNE), de instituições educacionais
públicas e privadas, de órgãos públicos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
de entidades não governamentais, de entidades de classe, veículos de comunicação e
demais segmentos da sociedade, com a fiscalização do poder público.
323
As escolas, de uma maneira geral comam a se conta da preocupação ambiental e
se denota nos alunos a conscientização de um desenvolvimento garantido e
ecologicamente sustentável, incentivando a análise da questão e a produção literária acerca
do assunto:
Preciso de pão, de chão, de certidão, preciso de saúde, família e educação: deixe-
me respirar, existir e ter esperança porque sou criança. Danimar de Castro de
Jaboticaba (13 anos) em ZH 12/09/2004. p. 44. Vencedor do concurso de frases
nas escolas.
Bem evidente a preocupação do aluno Danimar de Castro, vencedor do concurso de
frases nas escolas, que, mesmo com a liberdade de escolha do assunto, fez uma abordagem
322
FRANCO, op. cit., p. 36.
323
Idem, p. 37.
154
racional e direcionada da sua indignação: quer pão, chão, saúde, família e educação, quer,
enfim, respirar e existir.
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