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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
NÍVEL MESTRADO
CLAUDINEI DE LIMA NASCIMENTO
A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS: UM
DIAGNÓSTICO NAS INSTITUIÇÕES LOCALIZADAS NA REGIÃO NORTE DO
ESTADO DO PARANÁ
São Leopoldo - Rs
2005
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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
NÍVEL MESTRADO
CLAUDINEI DE LIMA NASCIMENTO
A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS: UM
DIAGNÓSTICO NAS INSTITUIÇÕES LOCALIZADAS NA REGIÃO NORTE DO
ESTADO DO PARANÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Contábeis da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio de Souza
São Leopoldo - Rs
2005
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Dissertação A Qualidade do Ensino Superior de Ciências Contábeis: um diagnóstico nas
instituições localizadas na região norte do estado do Paraná, apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências Contábeis Nível Mestrado da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos pelo aluno Claudinei de Lima Nascimento, e aprovada em 08/04/2005, pela Banca
Examinadora
Prof. Dr. Marcos Antonio de Souza
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Visto e permitida a impressão
São Leopoldo,
Prof. Dr. Ernani Ott
Coordenador do PPG em Ciências Contábeis
3
À Inês pelo amor, respeito, compreensão e
apoio.
À minha mãe e minha irmã por todos os
cuidados recebidos na vida.
Ao meu pai que sei que sempre esteve ao
meu lado
4
AGRADECIMENTOS
Manifesto meus sinceros agradecimentos:
ao Prof. Marcos Antonio de Souza, pela orientação competente e precisa e por sua
dedicação e atenção.
ao Prof. Ernani Ott, pela dedicação com que conduz seu trabalho à frente do PPG em
Ciências Contábeis, tornando-se uma fonte de motivação e coragem para todos nós
alunos.
a todos os professores do programa, pelo comprometimento com a qualidade.
à secretaria do programa, especialmente à Ana Zilles, pela atenção e respeito.
à Universidade do Vale do Rio dos Sinos, pela oportunidade de realização do
mestrado e pelo incentivo financeiro, através da Bolsa Filantropia, que muito me
ajudou na sua conclusão.
à todos os colegas da turma de 2003, pelo respeito, consideração e bom-humor.
aos amigos Valmor, Thomas e Amauri, pelos momentos alegres e pela companhia.
à todos os coordenadores que participaram da pesquisa.
ao Prof. Olirio Sperandio, pelo apoio e incentivo antes e durante o mestrado.
ao Prof. Hamilton Luiz Favero, pelo incentivo profissional.
às minhas tias, Diva, Maria e Dulce, pelo carinho, apoio e suporte.
e, finalmente, à Deus, por minha vida.
5
RESUMO
Sabe-se que a dinâmica econômica e social do mundo contemporâneo exige o
desenvolvimento do conhecimento dos indivíduos, para que a sua aplicação possa trazer
benefícios à sociedade e à economia como um todo. Sabe-se, também, que é a educação,
especialmente a educação superior, o principal meio de promover esse desenvolvimento.
Motivado por isso, o Governo Federal, na última década, proporcionou à população brasileira
acesso à educação superior por meio da facilitação na criação de instituições privadas e na
abertura de cursos de graduação. Criou, também, em 1996, com o intuito de garantir não só o
acesso, mas a qualidade do ensino superior, o Exame Nacional de Cursos (ENC), que se
resume numa prova aplicada aos alunos formandos do último ano do curso. O Conselho
Federal de Contabilidade (CFC), preocupado com o nível de qualidade profissional dos
contadores formados pelos cada vez mais numerosos cursos de graduação em Ciências
Contábeis, instituiu como condição para o registro profissional de contador, o Exame de
Suficiência. Daí questiona-se, neste estudo, qual é a efetiva qualidade atingida pelos cursos de
Ciências Contábeis, considerados os resultados do ENC e do Exame de Suficiência. Para
resolver o problema e alcançar o objetivo deste estudo, foram coletados dados dos resultados
do ENC e do Exame de Suficiência de 16 cursos de graduação oferecidos na região norte do
estado do Paraná, além de terem sido feitas entrevistas com todos os coordenadores desses
cursos. A pesquisa é classificada como quali-quantitativa e os seus resultados apontam que a
maioria dos cursos da amostra possui qualidade insuficiente. As principais razões para essa
insuficiência referem-se: 1) ao despreparo dos alunos para o curso superior; 2) a ausência de
um sistema formal de recuperação do aprendizado; 3) a falta de laboratório de informática e
softwares exclusivos para o curso e; 4) ao regime de trabalho insuficiente do corpo docente
para atender a demanda por qualidade nos cursos.
Palavras-chaves: Educação; Ensino Contábil; Qualidade; Profissão Contábil.
6
ABSTRACT
It is well known that the contemporary world economical and social dynamics
demands the development of the individuals' knowledge so that the application of this
knowledge can bring benefits to the economy and society as a whole. It is also known that
education, especially higher education, is the main means for promoting that development.
Having that in mind, in the last decade, the Brazilian Government has provided the Brazilian
population access to the higher education by facilitating the creation of private institutions of
higher education and, consequently, the opening of numerous new courses. In 1996, the
government created the Exame Nacional de Cursos (ENC) (Higher Education National Exam)
with the intention of guaranteeing not only the access, but also the quality of higher education.
It consists of a test, which is applied to the students in their final year at college. The
Conselho Federal de Contabilidade (CFC) (Federal Accountancy Council), also concerned
with the professional quality level of students coming out from the ever increasing number of
Accounting Sciences Courses, has instituted the Exame de Suficiência (Sufficiency Exam) as
a pre-condition for the registration of professional accountants. Therefore this study aims at
investigating what is the actual level reached by Accounting Sciences courses, by taking into
consideration the ENC and of the Exame de Suficiência results as reference. To that aim, the
tests results from 16 graduation courses offered in the north area of Paraná State - Brazil were
collected, as well as interviews with all the courses coordinators were conducted. The
research is classified as quali-quantitative and the results seems to indicate that most of the
courses in the sample possesses insufficient quality. The main reasons for that inadequacy
refer to: 1) the students' lack of adequate preparation for university study; 2) the absence of a
formal system to bring students to the level required; 3) the lack of computer science
laboratories and exclusive software for the course and; 4) the insufficient work regimen by
teachers in order to assist the demand for quality in the courses.
Keywords: Higher Education; Accounting Teaching; Quality; Accounting Profession.
7
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Prerrogativas profissionais do contador ..................................................................49
Quadro 2: Conteúdo cobrado no Exame de Suficiência aplicado aos bacharéis......................50
Quadro 3: Dados que devem constar nos projetos encaminhados ao MEC .............................58
Quadro 4: Indicadores de qualidade de cursos considerados pelo MEC..................................59
Quadro 5: Dados avaliados para autorização do curso de Ciências Contábeis ........................60
Quadro 6: Diretrizes para as disciplinas dos cursos de Ciências Contábeis .............................61
Quadro 7: Quesitos avaliados para reconhecimento dos cursos de Ciências Contábeis ..........63
Quadro 8: Conceitos atribuídos aos cursos...............................................................................64
Quadro 10: Conteúdo da prova de Ciências Contábeis no ENC ..............................................72
Quadro 12: Data das realizações das nove edições do Exame de Suficiência........................101
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Evolução do número de instituições de ensino superior no Brasil............................22
Figura 2: Evolução do número de matrículas nas IES..............................................................23
Figura 3: Número de cursos de Ciências Contábeis no Brasil..................................................56
Figura 4: Evolução dos índices de aprovação e reprovação - amostra ...................................105
Figura 5: Resultados gerais do ENC - Brasil..........................................................................110
Figura 6: Resultados gerais do ENC - Paraná ........................................................................114
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Número de cursos de Ciências Contábeis no Brasil em 2002 ..................................57
Tabela 2: Resultado final da avaliação .....................................................................................65
Tabela 3: Cursos existentes no estado do Paraná .....................................................................91
Tabela 4: Cursos existentes na região norte do Paraná.............................................................92
Tabela 5: Amostra da pesquisa .................................................................................................93
Tabela 6: Tempo de existência dos cursos da amostra .............................................................94
Tabela 7: Tempo de reconhecimento dos cursos da amostra ...................................................94
Tabela 8: Resultados gerais do Exame de Suficiência por estado..........................................102
Tabela 9: Resultados gerais dos exames no Brasil .................................................................103
Tabela 10: Resultados gerais dos exames no Paraná ..............................................................104
Tabela 11: Resultados dos exames dos cursos da amostra .....................................................105
Tabela 12: Resultados dos exames dos cursos da amostra instituições públicas ................106
Tabela 13: Resultados dos cursos do 1º grupo sem os três melhores resultados....................106
Tabela 14: Resultados dos exames dos cursos da amostra instituições privadas................107
Tabela 15: Comparativo dos resultados dos exames – em %.................................................107
Tabela 16: Distribuição geral de conceitos - Brasil................................................................110
Tabela 17: Distribuição de conceitos por Categoria Administrativa - Brasil.........................111
Tabela 18: Crescimento do número de alunos e de cursos no ENC de 2002 e 2003 .............112
Tabela 19: Composição do corpo docente - Brasil.................................................................112
Tabela 20: Composição do corpo docente por categoria administrativa - Brasil...................113
Tabela 21: Distribuição de carga horária do corpo docente ...................................................113
Tabela 22: Distribuição geral de conceitos - Paraná ..............................................................115
Tabela 23: Distribuição de conceitos por categoria administrativa - Paraná..........................116
Tabela 24: Distribuição de conceitos dos cursos da amostra por categoria administrativa.117
Tabela 25: Composição do corpo docente - Amostra.............................................................118
Tabela 26: Regime de trabalho do corpo docente da amostra ................................................118
Tabela 27: Suposta influência da titulação e do regime de trabalho nos resultados do ENC.119
Tabela 28: Resultados consolidados dos cursos da amostra...................................................121
Tabela 29: Perfil dos Coordenadores Entrevistados...............................................................124
Tabela 30: Distribuição de Professores por área e titulação Cursos da amostra.................126
Tabela 31: Proporção de Professores por titulação Cursos da amostra ...............................127
Tabela 32: Eficácia dos resultados do ENC como indicador de qualidade ............................130
Tabela 33: Atribuição do nível de qualidade dos cursos por meio dos conceitos do ENC....136
Tabela 34: Classificação dos conceitos segundo as categorias administrativas .....................138
Tabela 35: Relação entre o nível de qualidade dos cursos e os resultados do ENC...............139
Tabela 36: Nível de qualidade dos egressos para profissão contábil segundo o ES...............142
Tabela 37: Interpretação dos coordenadores sobre os resultados do ES ................................143
Tabela 38: Relação entre a qualidade dos cursos e os resultados do ES ................................148
Tabela 39: Análise conjunta dos resultados............................................................................148
Tabela 40: Relação entre os resultados dos exames e o processo de ensino-aprendizagem..150
10
Tabela 41: Influência do corpo docente na eficiência do processo de ensino-aprendizagem 151
Tabela 42: Influência do corpo discente na eficiência do processo de ensino-aprendizagem152
Tabela 43: Influência da estrutura na eficiência do processo de ensino-aprendizagem.........153
Tabela 44: Influência da estrutura na eficiência do processo de ensino-aprendizagem.........153
Tabela 45: Panorama geral dos problemas que afetam o processo de ensino-aprendizagem 155
Tabela 46: Elaboração dos planos de ensino ..........................................................................164
Tabela 47: Características especiais dos cursos da amostra ...................................................165
11
LISTA DE SIGLAS
BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEE Comissão de Especialistas de Ensino
CFE Conselho Federal de Educação
CFC Conselho Federal de Contabilidade
CNE Conselho Nacional de Educação
CRC Conselho Regional de Contabilidade
CRCPR Conselho Regional de Contabilidade do Paraná
CRCs Conselhos Regionais de Contabilidade
CVM Comissão de Valores Mobiliários
ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
ENC Exame Nacional de Cursos
FEA-USP Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo
GERES Grupo Executivo da Reforma da Educação Superior
IES Instituição de Ensino Superior
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
MEC Ministério da Educação
ONU Organização das Nações Unidas
PAIUB Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras
PARU Programa de Avaliação da Reforma Universitária
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional
SENESu Secretaria Nacional de Ensino Superior
SESu/MEC Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação
SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................14
1.1 Contextualização........................................................................................................14
1.2 Caracterização do Tema...........................................................................................21
1.3 O Problema .................................................................................................................26
1.4 Objetivos......................................................................................................................27
1.4.1 Objetivo geral.......................................................................................................27
1.4.2 Objetivos específicos..........................................................................................27
1.5 Premissas....................................................................................................................28
1.6 Suposições..................................................................................................................29
1.7 Delimitação do Estudo...............................................................................................30
1.8 Justificativa..................................................................................................................31
1.8 Contribuição do Estudo.............................................................................................32
1.10 Estrutura do Estudo.................................................................................................33
2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................35
2.1 A Profissão Contábil..................................................................................................35
2.1.1 A origem da profissão contábil..........................................................................36
2.1.2 A importância da profissão contábil.................................................................40
2.2 O Exercício da Profissão Contábil...........................................................................48
2.2.1 A função dos Conselhos e as prerrogativas profissionais ...........................48
2.2.2 O Exame de Suficiência.....................................................................................49
2.2.3 A educação continuada......................................................................................53
2.3 A Evolução dos Cursos de Ciências Contábeis no Brasil...................................54
2.4 O Processo Oficial de Autorização e Reconhecimento de Cursos....................57
2.4.1 Autorização dos cursos de Ciências Contábeis.............................................57
2.4.2 Reconhecimento dos cursos de Ciências Contábeis....................................62
2.5 Avaliação do Ensino Superior..................................................................................67
2.5.1 Histórico das avaliações....................................................................................67
2.5.2 Exame Nacional de Cursos (ENC)...................................................................68
2.6 O Conhecimento Exigido e Avaliado pelo MEC e pelo CFC...............................72
2.7 Pesquisas Realizadas sobre o Ensino Brasileiro de Contabilidade...................74
2.7.1 Formação e atuação docente ...........................................................................76
2.7.2 Métodos de ensino..............................................................................................77
2.7.3 Ensino de disciplinas específicas.....................................................................81
2.7.4 Exigências do mercado de trabalho.................................................................83
3 MÉTODO DE PESQUISA................................................................................................87
3.1 Introdução....................................................................................................................87
3.2 Classificação da Pesquisa........................................................................................87
13
3.2.1 Quanto à natureza ..............................................................................................87
3.2.2 Quanto à forma de abordagem do problema .................................................88
3.2.3 Quanto aos objetivos..........................................................................................89
3.2.4 Quanto aos procedimentos técnicos................................................................90
3.3 População e Amostra ................................................................................................91
3.3.1 População ............................................................................................................91
3.3.2 Caracterização da amostra ...............................................................................92
3.4 Coleta de Dados.........................................................................................................95
3.5 Tratamento dos Dados..............................................................................................97
3.6 Limitações do Método................................................................................................98
4 RESULTADOS DA PESQUISA.....................................................................................100
4.1 Resultados Coletados do Exame de Suficiência................................................100
4.1.1 Resultados do Exame de Suficiência no Brasil............................................101
4.1.2 Resultados do Exame de Suficiência no Paraná.........................................103
4.1.3 Resultados do Exame de Suficiência da Amostra.......................................104
4.2 Resultados Coletados do ENC ..............................................................................109
4.2.1 Resultados do ENC no Brasil..........................................................................109
4.2.2 Resultados do ENC no Paraná.......................................................................114
4.2.3 Resultados do ENC da Amostra.....................................................................117
4.3 Resultados Consolidados dos Cursos da Amostra ............................................120
4.4 Resultados Coletados da Aplicação do Questionário........................................122
4.4.1 Primeiro grupo: Identificação do Curso.........................................................124
4.4.2 Segundo grupo: Estrutura do Curso..............................................................125
4.4.3 Terceiro grupo: Opinião do Coordenador do Curso....................................128
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES........................................................................168
5.1 Conclusão..................................................................................................................168
5.2 Recomendações.......................................................................................................173
REFERÊNCIAS...................................................................................................................175
ANEXOS...............................................................................................................................181
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
O caminho percorrido pelo desenvolvimento da sociedade tem origem no
conhecimento humano. Para Crawford (1994), a idéia central do paradigma da sociedade do
conhecimento é que os homens são capazes de uma transformação contínua. Nesta sociedade,
a economia é global e integrada
1
e o consumo e a produção se internacionalizam como
conseqüência da exploração do mercado mundial.
A tecnologia
2
, além de revigorar os métodos de produção, permite a comunicação
ilimitada por meios eletrônicos de rápido e fácil acesso, o que potencializa e intensifica a
atividade econômica caracterizada pela competição. Seguindo a tendência de regionalização
dos mercados, essa atividade se realiza em meio à tentativa do poder político de tornar as
economias de seus países mais fortes, com as idéias de livre comércio e moeda única.
À margem da discussão dos efeitos sobre os valores sociais criados e transformados
com o advento da internacionalização ou regionalização de mercado, o fato é que o
1
Para Drucker (1997, p. 112) essa é uma tendência de internacionalismo. Outras duas tendências existem,
sendo estas: 1) o regionalismo com a formação de blocos econômicos e 2) o tribalismo devido à necessidade
das pessoas de criar raízes, do convívio comunitário, além de outros aspectos. Segundo o autor “o
internacionalismo e o regionalismo desafiam a nação-estado soberana pelo lado de fora. O tribalismo a
enfraquece por dentro”.
2
Infere-se que a tecnologia é resultado da aplicação do conhecimento humano.
15
conhecimento, na sociedade atual, é o recurso fundamental que está na base do
desenvolvimento econômico e social.
Entender a evolução da sociedade implica em lançar um olhar para o passado, no qual
as sociedades primitivas, agrícolas e industriais, segundo Crawford (1994), tinham como
principal fator de produção a colheita, a caça e a pesca para a subsistência, a terra para a
produção do consumo, e o trabalho e o capital para a produção de bens padronizados,
respectivamente.
Nessa atual sociedade, é o indivíduo que está na base do desenvolvimento, pois é ele o
produtor e o detentor do próprio conhecimento. Portanto, a construção humana, por meio da
educação e da experiência, é o desafio maior desta sociedade, já que, a competitividade, cada
vez mais em nível internacional, tem sido reconhecida como um efeito irreversível da
tecnologia e das preferências dos consumidores.
Ocorrem, com a internacionalização dos mercados, duas situações que envolvem todas
as empresas, independentemente de suas origens e tamanhos: 1) situações de riscos, e 2)
situações de oportunidades. Sejam quais forem as situações em que se encontrem as empresas
- a busca pela diminuição dos riscos e/ou pelo aproveitamento das oportunidades, é o conjunto
de conhecimentos dos indivíduos, possuído
3
ou não pela empresa, que proporcionará a ela
atingir ou não os seus objetivos, seja de sobrevivência ou de crescimento no mercado em que
está inserida.
3
Segundo Pacheco (2002) o capital humano individual não pode ser comprado ou possuído por uma empresa.
No entanto, isso não é tão óbvio quando se trata da força de trabalho da empresa como um todo, pois esta é
“constantemente associada à empresa e pode ser construtivamente considerada como sendo ‘possuída’ por ela”
(p.11).
16
Cabe, portanto, à educação
4
, mais especificamente à educação superior, formar
pessoas capazes de compreender a complexidade deste ambiente e nele atuar como agentes
ativos na busca pelo crescimento social e econômico
5
do país.
Além disso sugerir a missão da educação superior, deve-se destacar que é também
uma questão de sobrevivência da sociedade pela busca da auto-suficiência em termos de
recursos tecnológicos, naturais e humanos. Envolve, portanto, a pesquisa científica e a estreita
e produtiva relação entre o governo, a universidade e o capital privado.
As áreas de conhecimento são todas participantes deste processo, pois nenhuma delas
escapa das influências do progresso tecnológico, das mudanças do trabalho dentro e fora das
organizações e das transformações das relações de negócio em todas as atividades
econômicas. No entanto, insere-se aqui o papel desempenhado pela Contabilidade e pelo seu
principal agente, o contador.
Historicamente, o avanço da Ciência Contábil está associado ao avanço da sociedade e
da economia. Isso porque, na medida em que a evolução ocorre e influencia as mudanças no
objeto e objetivo dessa Ciência Social, são necessárias informações bem elaboradas para a
gestão das organizações, a fim de que estas possam responder com eficácia as exigências do
mercado. Corroborando, em outras palavras, Pacheco (2002, p. 14) afirma que:
a geração de riquezas dentro de uma empresa reflete-se nas informações
contidas em seus registros contábeis. Logo, verificamos que uma das
principais funções atuais da contabilidade é fornecer à administração
informações instantâneas e precisas para que ela possa exercer sua função de
gerir o negócio.
4
“Dizer que não se desenvolve um país sem educação chega a ser um truísmo” (PUPATTO, 2003, p. 1).
5
Para Sguissardi (2002), crescimento econômico não necessariamente produz crescimento social. Estes fatos
poderiam ser, para a educação superior, dois objetivos distintos, que dependem da qualificação humana, técnica
e profissional, para serem alcançados.
17
Porém, a forte concorrência, aquém e além das fronteiras nacionais, as exigências e
preferências do consumidor, e as influências políticas e fiscais do governo, são alguns fatos
que, fortalecidos pela revolução tecnológica e pela tecnologia da informação,
indiscutivelmente tornam o mundo dos negócios mais complexo e dinâmico, provocando, de
fato, riscos e oportunidades para os seus participantes.
As informações, do ponto de vista estratégico e operacional, sustentam as decisões que
ocorrem quase sempre em condições de incerteza
6
. Alguém que investe no mercado de ações
sabe o valor de uma informação. Da mesma forma, um gestor reconhece o seu potencial
quando ela, a informação, lhe permite visualizar melhor os caminhos para investimentos
menos incertos.
Neste contexto, muitas profissões envolvidas com o mundo empresarial convivem
com a constante mudança de cenários políticos, econômicos e sociais que alteram, de uma
forma ou de outra, os rumos das organizações e delas (das profissões) exigem constantes
reflexões sobre a sua utilidade e importância no mundo prático.
No que se refere à gestão das organizações, há uma forte exigência do mercado para
que o contador, segundo Marion e Santos (1998), esteja em constante evolução técnica e
intelectual e possua uma série de atributos indispensáveis nas diversas especializações da
profissão contábil. Segundo os mesmos autores, os atributos podem ser descritos como saber
traduzir, avaliar, comunicar e reportar informações, além de ter a capacidade de gerir
mudanças.
6
Para Ross, Westerfield e Jaffe (2002), um administrador de empresas toma decisões de investimentos, de
financiamentos e de capital de giro necessário. A empresa deve criar valor para seus proprietários. Porém, fatores
políticos, econômicos e sociais geram incertezas quanto às decisões e conseqüentemente incertezas na
possibilidade de criação de valor para a empresa.
18
Resumidamente, é exigido do profissional contábil, saber organizar dados, extrair
informações e divulgá-las, através de um sistema de informação compartilhado e integrado,
para que elas subsidiem as decisões estratégicas e operacionais dos seus diversos usuários.
Deve o profissional contábil, beneficiar-se do avanço da tecnologia da informação e
possibilitar que os usuários aproveitem as oportunidades que o mercado oferece.
Nas entrelinhas dessa exigência, é possível perceber o atual estágio do ambiente
econômico. Por exemplo, o avanço da tecnologia da produção, a partir da segunda metade do
século XX, que possibilitou maior variedade de produtos fabricados numa mesma planta,
tornou a tarefa de organização de dados e extração e divulgação de informações mais difícil.
Ao mesmo tempo tem-se maior exigência quanto à capacidade informacional, à
medida que, para o alcance do objetivo empresarial de crescimento e lucratividade, a análise
da rentabilidade por produtos, por mix de produtos e por clientes, passou a ser tarefa gerencial
de extrema importância no contexto da gestão.
Alia-se ao exemplo anterior, a mudança na formação de preços de venda, que, numa
economia de livre concorrência é o mercado que determina, culminando com a necessidade
ainda maior de controle e análise de custos. Além disso, a estabilização econômica e o
aumento da concorrência, inclusive no nível internacional, são fatos que, nos últimos anos,
interferem bruscamente na vida das organizações e, conseqüentemente, na profissão contábil.
Os grupos de usuários da informação contábil são os mesmos, mas as suas
necessidades de informações, bem como a intensidade delas, modificaram-se de forma
acentuada. Para Martins e Silva (2001), nos primórdios da Contabilidade um modelo de
informação baseado no custo histórico atendia as necessidades da época. Porém, no contexto
19
atual esse modelo pode não atender mais às necessidades de informações de um número cada
vez maior de interessados no valor das empresas.
A criação do novo mercado
7
pela BOVESPA, por exemplo, dá sinais de que os
investidores precisam e querem investir em empresas que tenham compromisso com a
transparência. As empresas reconhecem a importância dos investidores para os seus negócios
e também das boas práticas de governança corporativa. O profissional contábil está
diretamente envolvido neste contexto, por ser ele o organizador e o provedor de informações
importantes para esses investidores, considerando a Contabilidade como um banco de dados.
A geração de riquezas, tão importante para a economia nacional, deve ocorrer em
consonância com exigências recentes que se materializam através da busca pela ética
empresarial
8
. A responsabilidade social que envolve, entre outros, temas como balanço social
e contabilidade ambiental, faz parte do cotidiano de muitas empresas e exige do profissional
contábil o conhecimento sobre a sua aplicação e sobre os benefícios sociais e econômicos
envolvidos, além do cumprimento das leis ambientais.
Embora outras profissões estejam inseridas neste contexto, a profissão contábil mais
uma vez se insere em função da necessidade das organizações pela mensuração e
evidenciação dos impactos ambientais e sociais causados com a exploração do meio ambiente.
7
De acordo com a Bovespa (2002, p. 5) “O Novo Mercado é um segmento de listagem destinado à negociação de ações
emitidas por empresas que se comprometem, voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa e
disclosure adicionais em relação ao que é exigido pela legislação”.
8
Para Moreira (1999, p. 31) “O comportamento ético por parte da empresa é esperado e exigido pela sociedade.
Ele é a única forma de obtenção de lucro com respaldo da moral. Esta impõe que a empresa aja com ética em
todos os relacionamentos, com clientes, fornecedores, competidores e seu mercado, empregados, governo e
público em geral”.
20
Não apenas nas organizações privadas, mas também nas públicas, a profissão contábil
-se envolvida nas mudanças que impactam na manutenção do patrimônio. Assim, a
responsabilidade fiscal que visa o equilíbrio das contas públicas também envolve o contador.
Por meio da ética profissional envolvida na questão, das técnicas contábeis utilizadas e
do conhecimento do conteúdo legal, o profissional contábil, nas organizações públicas, é um
importante agente na luta contra a falta de transparência no uso dos recursos públicos e,
conseqüentemente, na luta contra um dos fenômenos que mais prejudicam a sociedade de uma
forma geral: a corrupção.
Soma-se a tudo o que foi abordado até aqui sobre as exigências para a profissão
contábil, o grande número de incorporações, fusões, cisões e aquisições ocorridas nos últimos
anos. Além disso, a busca pela evidenciação coerente do valor da empresa, em especial pela
mensuração dos ativos intangíveis
9
em geral, e do capital intelectual em particular que na
opinião de alguns autores
10
, é um dos principais responsáveis pelo crescimento econômico das
empresas.
Os temas abordados nesta parte do estudo estão na agenda da busca de conhecimento
pelo profissional contábil, pois as técnicas e teorias envolvidas com a atuação dele exigem a
busca por dados e a preparação e evidenciação das informações para os diversos grupos de
usuários da informação contábil.
9
Segundo Schmidt e Santos (2002, p.12) é preocupante a diferença que existe entre o valor econômico de uma
entidade e o seu valor contábil, sendo o primeiro, em média, o dobro do valor do segundo na maioria das bolsas
de valores do mundo. “Deste cenário resultam problemas de como as entidades devem avaliar e tratar
contabilmente seus intangíveis, inclusive o goodwill”.
10
Stewart (1998, p. 60), por exemplo, define capital intelectual como “o conhecimento existente em uma
organização e que pode ser usado para criar uma vantagem competitiva”.
21
1.2 Caracterização do Tema
A dinâmica das exigências e mudanças no mundo real, a formação acadêmica e o
desenvolvimento profissional do contador, despertam o interesse para a discussão sobre os
caminhos do ensino contábil no Brasil. A relevância desta discussão também é reconhecida
por Marion (1996, p. 11) quando afirma que “a universidade (ou qualquer outra instituição de
ensino superior) é o local adequado para a construção do conhecimento, para a formação da
competência humana”.
Segundo Vergara (2000), a competência humana é formada, na universidade, pela
reflexão, pelo questionamento do por que e do para quê num sentido político e social, e pela
crítica do próprio ambiente de negócios e sua gênese capitalista. Mas, essa dependência na
educação superior para formar profissionais competentes, ocorre num momento em que não
faltam desafios a serem vencidos para que a competência humana seja de fato formada no
mundo acadêmico.
Conforme o projeto SINAES (2003, p. 11) promovido pelo MEC,
a globalização educacional e a internacionalização do conhecimento, em
resposta aos desafios da globalização econômica, trazem consigo o enorme
desafio de a educação superior conciliar as exigências de qualidade e
inovação com as necessidades de ampliar o acesso e diminuir as assimetrias
sociais.
O ingresso cada vez maior de pessoas no ensino superior tem sido resolvido com a
participação do capital privado. Para ilustrar isso, basta verificar que o acesso à educação
superior foi ampliado pelo crescente número de instituições de ensino particular que,
autorizadas pelo governo, passaram a oferecer à sociedade, nas últimas décadas, a
oportunidade da educação superior, até então exercida de forma predominante pelo número de
vagas ofertadas pelo governo nas instituições públicas do país.
22
A Figura 1 confirma tal entendimento.
0
500
1000
1500
2000
1960 1996 2002
Nº total de instituições
Nº Instituições particulares
Nº Instituições Públicas
Figura 1: Evolução do número de instituições de ensino superior no Brasil
Fonte: Gioielli e Bertolucci (2004) e MEC/INEP (2004a).
Em 1960, as instituições públicas de ensino superior correspondiam a 71% (247
instituições) de um total de 350 instituições. Em 1996, observa-se uma inversão nessa
estrutura, com as instituições privadas representando 77% do total das 922 instituições de
ensino superior existentes no país. Em 2002, tal representatividade cresceu para 88% de um
total de 1.637 instituições.
Nota-se que no período de 1996 a 2002, enquanto o número de instituições cresceu
368% (de 350 para 1637) a representatividade das instituições privadas aumentou em 1.300%
(de 103 para 1.442). Obviamente, a criação de instituições privadas de ensino superior abriu
oportunidades de acesso a milhares de estudantes brasileiros.
Exemplificando, apenas entre os anos de 1998 e 2002, o número de matriculas
aumentou em 64%, sendo que do total de 3,5 milhões de alunos matriculados em 2002, 70%
estudavam em instituições privadas. O aumento do número dessas instituições, apenas entre
os anos de 1998 e 2002, levou um pouco mais de um milhão de alunos adicionais aos bancos
escolares dos cursos superiores do país, enquanto que as instituições públicas absorveram
mais 247.000 alunos.
23
Isso pode ser melhor visualizado na Figura 2.
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
1998 2000 2002
Instituições particulares
Instituições públicas
Figura 2: Evolução do número de matrículas nas IES
Fonte: MEC/INEP (2004a)
Na área da Contabilidade, a situação não foi diferente. De acordo com os dados do
INEP, enquanto que em 1996 havia 384 cursos de Ciências Contábeis no Brasil, em 2002
havia 641 cursos, dos quais 515 (80%) eram em instituições privadas. Quanto ao número de
alunos matriculados em tais cursos em 2002, de um total de 147.475 alunos, 112.342 (76%)
estavam em instituições particulares. Em outras palavras, os contadores, no Brasil, formam-se
predominantemente em instituições privadas. Além disso, pode-se constatar também o
seguinte:
nas últimas quatro décadas, o ensino superior foi praticamente “privatizado
11
;
a responsabilidade pela construção do conhecimento humano, predominantemente,
está sob a guarda do capital privado; e
houve uma rapidez fenomenal no aumento da oferta de cursos superiores no Brasil,
basicamente concentrada nas instituições privadas, o que motiva questionar se a
qualidade do ensino superior cresceu na mesma direção e com a mesma velocidade.
11
Essa conclusão ainda é reforçada pelo desejo do governo de possibilitar que 30% da população entre 18 e 24
anos estejam na educação superior nos próximos anos. Atualmente, esse percentual é de 9% (SINAES, 2003).
Ou seja, pode-se prever que mais da metade dessa população entrará em cursos privados.
24
A constatação sobre a “privatização” do ensino superior está ancorada em fatos e não
é, de forma alguma, uma tentativa de julgar tal fenômeno. Mesmo porque, essa é uma
tendência mundial e ocorreu também em outros setores de atividades, antes sob a iniciativa
governamental, como é o caso da geração e distribuição de energia e das telecomunicações,
por exemplo.
É motivo de discussão se a iniciativa privada está preparada e estruturada para cumprir
com a missão de concentrar a construção do conhecimento humano, conciliando o acesso e a
qualidade de ensino. Para garantir tal cumprimento, o governo instituiu, em 20 de dezembro
de 1996, a Lei nº 9.394, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação, disciplinando,
entre outras providências, um processo regular de avaliação do ensino.
Com isso, o governo, que deu oportunidade à iniciativa privada de investimentos na
educação superior, facilitando a criação de instituições de ensino superior particulares, tenta
garantir que a qualidade dos cursos no Brasil acompanhe o ritmo de crescimento na oferta do
ensino
12
.
É com esse objetivo que foi instituída a Lei nº 9.131, de 1995, criando o ENC
13
, como
um dos elementos da prática avaliativa e com o objetivo de subsidiar os processos de decisão
e de formulação de ações voltadas para a melhoria dos cursos de graduação. Os resultados do
ENC, juntamente com os outros elementos avaliativos, o Censo da Educação Superior, a
12
O art 7º, da Lei 9.394/96, está assim redigido: “O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes
condições: (...) II autorização de funcionamento e avaliação de qualidade pelo Poder Público (...)”.
13
O ENC foi substituído pelo ENADE, através da Lei nº 10.861, de 14 de Abril de 2004. As principais
diferenças entre as avaliações é que o ENADE é aplicado no primeiro e no último ano do curso e os alunos que
fazem o exame são escolhidos através de procedimentos amostrais. Porém, como não é objetivo deste estudo
discutir a validade das avaliações feitas pelo MEC e também em função de que o novo sistema de avaliação, até
a conclusão deste estudo, não foi aplicado nenhuma vez nos cursos de Ciências Contábeis, optou-se por discorrer
apenas sobre o ENC.
25
Avaliação das Condições de Ensino e a Avaliação Institucional, formam o Sistema de
Avaliação da Educação Superior
14
.
Assim, em 1996, o ENC é aplicado para os alunos do último ano dos cursos de
Administração, Direito e Engenharia Civil. Em 2002, pela primeira vez, o curso de Ciências
Contábeis passou a ser avaliado pelo exame com a participação de 408 cursos de graduação,
envolvendo 22.693 alunos pertencentes ao último ano de curso
15
.
A inclusão do curso de Ciências Contábeis no ENC aumenta as possibilidades de
análises e avaliações sobre a qualidade dos cursos e, conseqüentemente, de inferir sobre a
qualificação dos contadores recém-formados que estão saindo do mundo acadêmico e
entrando no mundo profissional da área de Contabilidade.
A preocupação com a qualificação profissional do futuro contador fez o CFC, instituir,
por meio da Resolução CFC nº 853/99, o Exame de Suficiência como requisito para a
obtenção do registro profissional junto ao CRC, com o objetivo de aferir a existência de um
conjunto mínimo de conhecimentos necessários ao exercício profissional de contador.
A instituição desse exame foi amplamente discutida e analisada em eventos contábeis,
e para o CFC (2002), o Exame de Suficiência pode estimular a modernização das instituições
de ensino e os currículos dos cursos de Ciências Contábeis.
14
Este sistema foi substituído pelo SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior que foi
instituído pela Lei nº 10.861 de 14 de Abril de 2004. O SINAES é formado por três componentes principais: a
avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes. Este último elemento ocorre através do já
mencionado ENADE que substituiu o ENC, por meio da referida Lei.
15
Dados extraídos da base de dados do INEP.
26
O exame é aplicado duas vezes por ano para os técnicos
16
e os bacharéis em Ciências
Contábeis, com provas distintas para os dois níveis de formação. A realização da 1ª edição do
exame ocorreu no primeiro semestre de 2000 e contou com a participação de 1.547 bacharéis
candidatos ao registro profissional.
Em 2004, na 9ª edição, 7.193 candidatos bacharéis participaram do exame, um número
3,6 vezes maior do que no primeiro exame de 2000. O Exame de Suficiência vem se
consolidando como instrumento fundamental para que a profissão contábil atenda aos
interesses da sociedade, através da qualificação profissional do contador.
1.3 O Problema
A Ciência Contábil como área de conhecimento humano, vem merecendo atenção
especial e justa no que diz respeito à construção da competência do futuro profissional, que
tem a responsabilidade de atender às exigências do ambiente atual em que se situam as
organizações. Tem-se, então, que de um lado, o ENC busca avaliar os cursos de
Contabilidade, e, de outro lado, o Exame de Suficiência visa avaliar a qualificação do
profissional contábil.
Os dois critérios de avaliação, da qualidade dos cursos e da qualidade do profissional
contábil, são bases para reflexão sobre a qualidade do ensino contábil no Brasil, tendo em
vista a rápida ascensão da oferta de cursos na área de Contabilidade.
Se os objetivos de ambos os exames são avaliar tanto a qualidade dos cursos de
Ciências Contábeis quanto à qualificação do profissional contábil, formula-se, então, para este
estudo, o seguinte problema de pesquisa:
16
Formados no ensino médio.
27
Qual é a qualidade atingida no ensino superior de Ciências Contábeis,
considerando-se os padrões de avaliação oficiais do Ministério da Educação - o Exame
Nacional de Cursos, e do Conselho Federal de Contabilidade - o Exame de Suficiência?
1.4 Objetivos
1.4.1 Objetivo geral
O objetivo geral desta pesquisa é aferir a qualidade com que o ensino de Ciências
Contábeis está sendo praticado pelas instituições de ensino superior, regularmente
estabelecidas. Acredita-se que o alcance de tal objetivo é possível utilizando como
indicadores os resultados do ENC, aplicado aos alunos formandos dos cursos de Ciências
Contábeis e promovido pelo MEC, e os resultados do Exame de Suficiência, aplicado aos
bacharéis formados como requisito para obtenção do registro junto ao CRC.
1.4.2 Objetivos específicos
Para o alcance do objetivo geral, esta pesquisa tem como objetivos específicos os
seguintes:
descrever os critérios utilizados pelo MEC nas avaliações que objetivam o
credenciamento e reconhecimento dos cursos;
coletar os conceitos atingidos pelos cursos de Ciências Contábeis por ocasião do ENC;
coletar os resultados do Exame de Suficiência promovido pelo CFC, como exigência
para a habilitação do profissional contábil;
analisar os resultados dos exames de forma interdependente;
28
conhecer as opiniões dos coordenadores dos cursos de Ciências Contábeis sobre os
motivos dos resultados dos cursos no ENC e dos alunos formados, no Exame de
Suficiência.
1.5 Premissas
A autorização para o funcionamento de cursos de graduação em Ciências Contábeis é
concedida pelo MEC/INEP, se forem atendidos os padrões de qualidade exigidos. Tais
padrões foram elaborados pela CEE da área de Contabilidade, vinculada a SESu/MEC. Além
da autorização, as IES devem encaminhar solicitação para obterem o reconhecimento do curso
o que lhes permitirá emitir diplomas aos alunos formados.
Tanto o pedido de autorização como de reconhecimento, deve ser feito mediante
preenchimento do “Formulário para Avaliação de Pedidos de Autorização e de
Reconhecimento de Cursos de Graduação de Ciências Contábeis”
17
, no qual a instituição de
ensino deve apresentar informações referentes:
ao Projeto Pedagógico do curso e metodologia didático-pedagógica: identifica a
instituição de ensino, o coordenador do curso e sua titulação acadêmica, a missão e o
objetivo do curso, além do perfil do egresso desejado, da estrutura do curso e sua
organização curricular e das práticas pedagógicas utilizadas;
ao corpo docente: identifica a qualificação do corpo docente em relação à titulação
acadêmica e regime de trabalho, além da aderência do corpo docente às disciplinas;
a qualificação do coordenador: identifica o coordenador do curso e sua titulação
acadêmica e regime de trabalho;
17
Este formulário (versão de 24 de maio de 2001) encontra-se nos anexos deste estudo.
29
a infra-estrutura física e recursos materiais: identifica a estrutura geral, ou seja, as
instalações físicas e os recursos materiais disponíveis;
a infra-estrutura tecnológica e laboratório: Identifica a existência de laboratório, de
computadores disponíveis por aluno, além de softwares específicos; e
a biblioteca: identifica a existência de biblioteca e a qualidade do acervo disponível
para alunos e professores.
Portanto, a avaliação já feita pelo MEC/INEP quanto aos itens mencionados, tendo
como objetivo garantir os padrões de qualidade dos cursos de Ciências Contábeis dispensa,
para o alcance do objetivo desta pesquisa, a sua verificação in loco nas instituições de ensino.
Assume-se, então, como 1ª premissa, que a qualidade dos cursos de Ciências
Contábeis, em relação aos itens mencionados, está garantida em função da autorização e
reconhecimento concedidos pelo MEC/INEP.
Como 2ª premissa, assume-se que o ENC e o Exame de Suficiência são elaborados
tendo como base as exigências do mercado de trabalho atual para o profissional de
Contabilidade. Em outras palavras, esses exames expressam o que o mundo real exige e
espera do profissional contábil, considerando as dificuldades e os desafios da economia e
sociedade atuais.
1.6 Suposições
Dada a natureza do problema a ser resolvido pela pesquisa e sua amplitude, são
formuladas suposições adiante citadas, elaboradas com base em uma percepção inicial do
autor deste estudo, fruto de suas atividades docentes.
30
S1: Considerando os resultados do ENC e do Exame de Suficiência, os cursos de
Ciências Contábeis, predominantemente, possuem qualidade insuficiente para a
formação adequada de profissionais habilitados para o ambiente econômico e social
atual.
S2: Os motivos da qualidade insuficiente do ensino contábil são atribuídos à formação
acadêmica, à formação profissional e ao regime de trabalho inadequados do corpo
docente.
S3: Os alunos que ingressam nos cursos de Ciências Contábeis estão despreparados
para a vida acadêmica superior, pois não têm uma formação de base adequada para
assimilar adequadamente os conteúdos ministrados.
1.7 Delimitação do Estudo
A primeira delimitação do tema é quanto à área do conhecimento a ser investigada que
é a área de Ciências Contábeis. Dessa forma, ainda que o ENC seja aplicado em outras áreas e
ainda que elas também possuam exames de qualificação profissional que requerem
conhecimentos contábeis, apenas os resultados da área específica de Ciências Contábeis serão
estudados.
Este estudo abrangerá os cursos de Ciências Contábeis autorizados e reconhecidos na
região norte do Estado do Paraná, quando se tratar dos resultados do ENC, e os bacharéis em
Ciências Contábeis, quando se tratar dos resultados do Exame de Suficiência. Excluem-se,
portanto, os cursos de Contabilidade que não foram reconhecidos pelo MEC, em vista do que
foi assumido como premissa neste estudo, e os técnicos em Contabilidade, em função do
objetivo da pesquisa que trata dos cursos de nível superior.
31
Não serão estudadas as exigências do mundo real, ou seja, aquilo que o mercado de
trabalho espera do profissional de Contabilidade. Não será feito comparativo de opiniões entre
profissionais contábeis e profissionais de ensino sobre a qualidade dos cursos de Ciências
Contábeis.
A qualidade será aferida com base nos resultados encontrados no ENC realizado em
2002 e 2003, e no Exame de Suficiência realizado de 2000 a 2004. Não cabe a esta pesquisa
questionar ou debater sobre a validade destas avaliações, ou seja, sobre suas virtudes ou
problemas ou, ainda, sobre a eficiência com que as avaliações são aplicadas ou sobre a
eficácia com que os resultados são utilizados pelos órgãos responsáveis pelas avaliações.
1.8 Justificativa
Um estudo como esse pode trazer, à luz da realidade da sociedade moderna e do atual
estágio em que se encontra a Ciência Contábil, subsídios para um melhor aproveitamento dos
mecanismos de análise tanto dos cursos como dos profissionais contábeis, a fim de
proporcionar uma reflexão crítica mais objetiva com o intuito de fazer um juízo de valor do
ensino contábil.
Na sociedade atual, aqueles que detêm o conhecimento têm maiores possibilidades de
colaborar para o crescimento e desenvolvimento social e econômico, através da utilização
deste conhecimento em benefício das organizações e da sociedade.
Neste contexto, é assumido que a educação superior é, sem dúvida, a grande
responsável pela formação de indivíduos com estas características e, na área contábil, assim
como em tantas outras, não é possível mais que os egressos saiam do mundo acadêmico sem
os requisitos necessários para o exercício profissional e sem a compreensão do mundo atual.
32
Sob esse aspecto, este estudo é relevante por possibilitar o diagnóstico da eficácia do
ensino na área contábil.
A discussão em torno dessas questões, aliada a outras, pode revelar soluções gerais ou
específicas com o objetivo de melhorar o ensino contábil e, conseqüentemente, melhorar o
estado da profissão contábil no mundo dos negócios.
1.8 Contribuição do Estudo
Este estudo busca contribuir com as IES, professores, coordenadores de cursos, alunos
de graduação e pós-graduação, membros do MEC, do CFC e dos CRCs, pesquisadores da área
de ensino e com a sociedade em geral, no sentido de fornecer uma reflexão crítica sobre a
atual qualidade do ensino contábil.
Busca contribuir, também, com o avanço do conhecimento sobre as características dos
resultados das avaliações do MEC e do CRC, buscando identificar suas causas e com isso
proporcionar que outros possam dar continuidade a pesquisas como esta, bem como
aproveitar a mesma para fazer inferências específicas ou gerais sobre a realidade da educação
superior em Ciências Contábeis no Brasil.
A partir das inferências mencionadas, podem os agentes envolvidos com o ensino
contábil no país, principalmente aqueles envolvidos diretamente com a prática do ensino,
identificar eventuais falhas, promover alterações ou correções no gerenciamento dos cursos
ou, ainda, certificar-se dos critérios utilizados para mensuração da qualidade alcançada no
processo de ensino-aprendizagem.
33
1.10 Estrutura do Estudo
No presente capítulo, buscou-se evidenciar a importância da educação diante do atual
cenário econômico e social, o desenvolvimento da profissão contábil neste cenário, bem como
do ensino superior contábil. Elaborou-se o problema da pesquisa e seus objetivos, assumindo-
se premissas nas quais o estudo está baseado e suposições que nortearam o seu
desenvolvimento. São também apresentadas a delimitação do estudo, sua justificativa e
contribuição.
No capítulo 2, estão expostas as origens e a importância da profissão contábil e a
forma como ela está regulamentada e submetida ao CFC e aos CRCs. Estão também descritas:
a evolução dos cursos de Ciências Contábeis, o processo oficial de autorização e
reconhecimento dos cursos, a forma de avaliação do ensino superior contábil e do profissional
contábil estabelecida pelo MEC e pelo CFC, além das pesquisas sobre o ensino contábil
realizadas no Brasil nos últimos anos.
No capítulo 3, é descrito como a pesquisa está classificada quanto à sua natureza,
forma de abordagem, objetivos e procedimentos técnicos. Também neste capítulo, são
demonstradas a população e amostra da pesquisa, a forma de coleta e tratamento dos dados e
as limitações do método de pesquisa utilizado.
O capítulo 4 apresenta os resultados da pesquisa. Primeiro, os resultados coletados dos
exames aplicados no período delimitado, e segundo, os resultados coletados das entrevistas
feitas na pesquisa de campo. Tais resultados são acompanhados de respectivas análises e
interpretações.
34
Finalmente, nas Conclusões e Recomendações, são feitas as análises conclusivas dos
resultados da pesquisa com abordagens que visam responder o problema deste estudo,
considerando as suas suposições. São feitas também, recomendações que buscam contribuir
para a execução de estudos posteriores sobre o mesmo tema.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A Profissão Contábil
A exemplo de outros ramos de conhecimento, as mudanças sociais, econômicas,
tecnológicas e políticas, também são sentidas pela profissão contábil, de diversas maneiras.
Isso porque essas mudanças impõem às organizações um novo ambiente operacional que
exige delas respostas capazes de torná-las aptas a atuarem em novos contextos.
Isso tem reflexo na atuação do profissional contábil e impõe a ele um esforço pela
constante atualização de seus conhecimentos. Por exemplo, esse ambiente exige a adoção de
novas práticas gerenciais, ou a transformação daquelas tidas como necessárias para as
organizações sobreviverem e se desenvolverem, tais como: ABCActivity-Based Costing;
Custo-Alvo; Custeio por Ciclo de Vida, Logística; JITJust-in-time; Kaizen; BSC-Balanced
Scorecard; Planejamento Estratégico; Planejamento Tributário; entre outros.
Também são necessários conhecimentos relacionados à evolução tecnológica em
geral, e à tecnologia da informação em particular, que devem ser desenvolvidos em função
dos benefícios que podem proporcionar para as organizações e, no âmbito deste estudo, para
os profissionais da Contabilidade.
Nesse sentido, Drucker (2000, p. 48) menciona:
36
O aparecimento explosivo da Internet (...) está modificando profundamente
economias, mercados e estruturas setoriais; os produtos e serviços e seu
fluxo; a segmentação, os valores e o comportamento dos consumidores; o
mercado de trabalho. O impacto, porém, pode ser ainda maior nas
sociedades e políticas empresariais e, acima de tudo, na maneira como
encaramos o mundo e nós mesmos dentro dele.
De fato, os avanços na tecnologia da informação provocam mudanças na sociedade e
no mundo empresarial, e essas mudanças têm impacto na profissão contábil, alterando,
conforme Deitos (2003), os instrumentos e procedimentos necessários para o processamento
dos fatos contábeis e na forma de geração de informações.
O não acompanhamento das mudanças mencionadas, aliado ao não atendimento das
exigências provocadas por tais mudanças, podem tornar ultrapassado o conhecimento do
profissional contábil. Por outro lado, o adequado acompanhamento destas mudanças e a
aquisição constante de novos conhecimentos podem levar este profissional a contribuir com o
desenvolvimento das organizações, e com seu próprio progresso profissional.
Para compreender o envolvimento da profissão contábil com o ambiente mencionado,
inicia-se este capítulo com uma breve descrição da origem dessa profissão como ponto de
partida deste referencial teórico, sobretudo para dar suporte às abordagens daqueles que aqui
serão citados, bem como ao estudo como um todo.
2.1.1 A origem da profissão contábil
A necessidade de controlar o patrimônio deu origem ao desenvolvimento da
Contabilidade e, por conseqüência, o surgimento da profissão contábil. Segundo Schmidt
(2000), antes mesmo do surgimento da escrita e da contagem abstrata, tem-se a origem da
Contabilidade, marcada pela utilização de fichas de barro para o controle do produto agrícola
37
e de animais pelas primeiras comunidades do Oriente Próximo, no período de 8.000 a 3.000
anos a.C.
Com a intensificação das atividades comerciais das cidades do norte da Itália, a partir
do século XIII, fruto da transferência dos excedentes agrícolas
18
para o comércio estimulando
o crescimento das cidades, mercados e feiras desde o final do século X
19
, surgiram as
primeiras grandes empresas, e a Contabilidade passou a ser utilizada como um instrumento
mais sistematizado de informação para o gerenciamento dos negócios (SCHMIDT, 2000).
Isso porque, de acordo com Cosenza (2001), antes do século XIII a Contabilidade já
era usada não só para o registro do patrimônio, mas também para o registro das causas e
efeitos de sua variação, em função dos negócios praticados. Era o fim do feudalismo e o início
do capitalismo que criou novas condições sociais, permitindo a distribuição e a acumulação
de riquezas.
A obra de Luca Pacioli, intitulada Summa de arithmetica, geometria, proportioni et
proportionalitá, de 1494, instruía os comerciantes da época a controlar os seus negócios por
meio dos registros de seus direitos e obrigações pelo método das partidas dobradas,
ensinando-lhes, também, como trabalhar as contas do balancete. Pacioli alertava o
comerciante que “(...) não sendo um bom contador em seus negócios, andará como um cego, e
muitas perdas poderão surgir (...)” (PACIOLI apud HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999, p.
40). É possível concluir, portanto, que, de maneira mais organizada e formal, os primeiros
contadores da história foram os próprios comerciantes.
18
Para Hunt e Sherman (2004, p. 24) esses excedentes agrícolas surgiram da difusão da utilização de novas
tecnologias de produção agrícola a partir do século XI, que consistiam em um sistema de rodízio em dois e três
campos, o que culminou “num aumento extraordinário da produtividade agrícola”.
19
Segundo Hunt e Sherman (2004, p. 25) “(...) as condições para o desenvolvimento do comércio foram criadas
pelas transformações econômicas ocorridas no interior da Europa”.
38
Ocorre, nos séculos XVIII e XIX, conforme Hendriksen e Van Breda (1999) um
expressivo desenvolvimento tecnológico, representado principalmente pela máquina a vapor e
pela máquina de fiar. Foi tal desenvolvimento que intensificou a chamada revolução
industrial, provocando o surgimento de grandes empresas industriais e comerciais na
Inglaterra. Como conseqüência, tem-se o surgimento do mercado de ações e de especialistas
em Contabilidade, até que, em 1880, foi aprovada pela Rainha Vitória a criação do Instituto
de Contadores da Inglaterra e do País de Gales.
Com a industrialização nos Estados Unidos da América do Norte, no final do século
XIX, dez contadores fundaram a American Association of Public Accountants AAPA, em
1887. Em 1896, outra entidade de classe, denominada New York Institute of Accountants
NYIA foi autorizada a emitir certificado de capacitação profissional aos contadores que
possuíam títulos de universidades estaduais. A AAPA e a NYIA fundiram-se, em 1936,
surgindo a American Institute of Accountants AIA, que, mais tarde, em 1957, transformar-
se-ia na atual American Institute of Certified Public Accountants AICPA (SCHMIDT, 2000;
HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999).
Ainda nos Estados Unidos da América do Norte, a regulamentação da Contabilidade,
fez com que os contadores passassem a obedecer regras e procedimentos para a prática
contábil. Isso porque a Securities and Exchange Commission SEC, criada em 1934, passou a
só aceitar demonstrações contábeis que obedecessem aos pronunciamentos do Committee on
Accounting Procedure CAP, criado em 1936, que posteriormente passaram a ser
estabelecidos pelo Accounting Principles Board APB, criado em 1959. Atualmente tais
pronunciamentos são emitidos pelo Financial Accounting Standards Board FASB, criado
em 1972 (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999).
39
No Brasil, no começo do século XX, o início da expansão industrial, a implantação do
imposto de renda, além da existência do Código Comercial de 1850 que obrigava as empresas
comerciais a manterem escrituração contábil e elaborarem anualmente o Balanço Patrimonial,
fizeram surgir os primeiros cursos que ensinavam Contabilidade (SCHMIDT, 2000).
Com a criação das faculdades de Ciências Contábeis, a profissão contábil foi
considerada como carreira universitária em 1945, quatorze anos depois do Decreto nº 20.158
de 30 de junho de 1931, que regulamentou a profissão de contador. Em 1946, foi criado o
CFC e os CRCs, pelo Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio, que também tratou das atribuições
do profissional contábil (SCHMIDT, 2000).
O impulso normativo para a Contabilidade no Brasil se deu pelo Decreto-Lei nº 2.627,
de 1940, que foi a primeira Lei das Sociedades por Ações, a qual estabeleceu os
procedimentos para a contabilidade praticada no país.
Em 1976 é instituída a nova Lei das Sociedades por Ações, Lei nº 6.404, e é criada,
por meio da Lei nº 6.385, a CVM. O Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, adequou o regulamento
do imposto de renda à nova Lei das Sociedades por Ações e o CFC emitiu a Resolução CFC
nº 529, em 1981, disciplinando as Normas Brasileiras de Contabilidade.
Esse breve resgate da evolução e formatação da Contabilidade evidencia que ela não
tem mais liberdade para se desenvolver de forma local e isolada, como em outros tempos. A
profissão contábil, que se desenvolveu no início pela necessidade da administração dos
negócios, agora precisa seguir os regulamentos instituídos com a finalidade de resguardar os
interesses do governo, dos acionistas, da administração, dos credores e de diversos outros
órgãos interessados nas atividades e resultados das empresas.
40
Acrescenta-se que há ainda, o interesse dos governos, administradores, acionistas e
credores internacionais que, em virtude da internacionalização dos mercados, geram a
discussão sobre a harmonização dos padrões contábeis
20
.
2.1.2 A importância da profissão contábil
A própria regulamentação da Contabilidade, por meio da qual os profissionais
contábeis são orientados para o exercício profissional, poderia indicar a importância da
profissão para o mundo dos negócios e, conseqüentemente, para a sociedade como um todo.
Porém, as origens da profissão contábil encontraram raízes na necessidade de controle
do patrimônio e assim evoluiu originalmente, sem regras, mas buscando fundamentação
teórica como apoio à gestão das organizações. O desenvolvimento das organizações na
amplitude do contexto social, baseado num sistema capitalista, agora globalizado, é que gerou
a necessidade de regulamentação.
Portanto, o profissional contábil atua tanto sob as orientações da regulamentação das
esferas públicas institucionais, quanto em função das necessidades operacionais e estratégicas
da gestão das organizações. Daí a diferença entre a Contabilidade Societária, para fins legais,
e a Contabilidade Gerencial direcionada a subsidiar a gestão das empresas.
A primeira está ancorada na regulamentação fiscal, societária e nos princípios e
normas contábeis, já a segunda, baseada nas necessidades de informações que apóiem a
gestão organizacional frente às exigências do atual mercado, proporciona maior flexibilidade
20
O IASB - International Accounting Standards Board, fundado originalmente em 1973 como IASC -
International Accounting Standards Committee, tem, entre outros, o objetivo de desenvolver padrões de
Contabilidade globais (IASB, 2004).
41
de atuação, mas exige maior abrangência na criatividade e complexos conhecimentos
estruturais e operacionais do profissional contábil.
As organizações se desenvolvem por meio de diversas práticas que impactam seu
patrimônio e que, portanto, necessitam de mensuração e evidenciação. Disso decorre a razão
da existência do profissional contábil nas organizações.
É justamente isso que está presente na natureza da função contábil, conforme assinala
o CRCSP (2000, p. 35), ao referir que
(...) a aplicação da Contabilidade a uma Entidade particularizada, busca
prover os usuários com informações sobre os aspectos de natureza
econômica, financeira e física do Patrimônio da Entidade e suas mutações, o
que compreende registros, demonstrações, análises, diagnósticos e
prognósticos, expressos sob a forma de relatos, pareceres, tabelas, planilhas
e outros meios.
A Entidade, pela sua autonomia patrimonial, pode ser uma pessoa física, qualquer tipo
de sociedade, instituição ou conjunto de pessoas, tais como: famílias, empresas, governos nas
diferentes esferas do poder, sociedades beneficentes, religiosas, culturais, esportivas, de lazer,
técnicas, sociedades cooperativas, fundos de investimentos e outras modalidades afins
(CRCSP, 2000).
Dessa forma, é perceptível a amplitude de atuação do profissional contábil e sua
importância no contexto das organizações de forma geral, considerando-se os objetivos da
Contabilidade que, por sua vez, trazem em si, os interesses e as necessidades dos usuários de
informações econômicas, financeiras e físicas. Tais interesses e necessidades têm suas origens
na busca pelo controle efetivo, eficiente e eficaz do patrimônio e da riqueza que este pode
gerar.
42
2.1.2.1 A profissão contábil e a economia
O controle do patrimônio e a busca da geração de riqueza acontecem em meio aos
desafios, para qualquer organização, em sobreviver e se desenvolver num mercado que é
global e que oferece oportunidades e riscos para os seus participantes.
Isso porque, conforme Pereira e Santos (2001, p. 12), “com as nações integrando-se a
uma economia global, já não está mais claro quem vai fazer o quê. Mergulha-se em uma
redistribuição de trabalho e da produção”. Essa redistribuição, para as organizações, revela as
oportunidades de exploração de mercados, os riscos, e a necessidade de aumento da sua
capacidade de competir com continuidade.
O resultado da combinação entre oportunidades e riscos é a incerteza, que para Otley
apud Martinewski e Gomes (2001), desafia a capacidade da organização em controlar o seu
destino.
Corroborando com tal entendimento, Cosenza (2001, p.44), afirma que:
A partir do final do século XVIII, o desenvolvimento tecnológico alcançou
grande progresso. Concomitantemente, o espaço de tempo entre uma
descoberta científica e sua subseqüente produção comercial foi decrescendo
substancialmente (...) Em função desse quadro, as pessoas estão sendo
forçadas a uma contínua necessidade de andar ligadas, sempre observando e
acompanhando as mudanças, as poucas oportunidades e as ameaças que se
apresentam, de modo a replanejarem rapidamente seu rumo de ação e, assim,
fugirem das adversidades identificadas.
Dessa forma, a ênfase da gestão está na estratégia, o que requer prognósticos. Baseado
em Drucker e Porter, Cosenza (2001, p. 46) entende que “o futuro será de quem souber criá-lo
estrategicamente”. A crença é de que, na atual economia, a riqueza do patrimônio é gerada
por ativos intangíveis mais do que por ativos tangíveis.
43
Nesse sentido, a profissão contábil é mais exigida em função da relevância das
informações estratégicas que as empresas necessitam. O mérito da discussão da importância
da profissão contábil neste contexto econômico está no fato de reconhecer os eventos
econômicos, interpretá-los e gerar informações relevantes para a administração, o que requer
a convivência com a subjetividade para a mensuração dos efeitos econômicos no patrimônio,
gerados tanto pelos ativos tangíveis como pelos ativos intangíveis. Para Wernke (2001, p. 42),
“aos Contadores cabe o papel de buscar alternativas para suprir a necessidade informativa dos
gestores (...)”.
Para Carvalho (1999), essa busca deve ocorrer através do diálogo multidisciplinar com
engenheiros, advogados, pessoal do chão da fábrica, especialistas em compras, em vendas, em
finanças, entre outros.
De outra forma, pela importância que têm as empresas para as economias nacionais no
que se refere à distribuição de renda, à geração de empregos, à manutenção das funções do
Estado, por meio do recolhimento dos tributos, ao desenvolvimento científico e tecnológico,
entre outros fatores, é compreensível que a ONU tenha preocupação com a formação
profissional dos futuros contadores.
Em publicação específica de 1999, a ONU, segundo Sá (2001), afirmou clara e
ostensivamente que o profissional da Contabilidade é imprescindível para o desenvolvimento
econômico, social e até político de qualquer nação.
2.1.2.2 A profissão contábil e a sociedade
É reconhecido o fato de que as empresas necessitam de recursos humanos e naturais,
além de outros, para o desenvolvimento de suas atividades. Para Ribeiro e Lisboa (1999), a
44
sociedade precisa da empresa, mas esta precisa ainda mais da sociedade. O fato de gerar
empregos, por si só, já é uma contribuição.
Porém, a elevação da concentração de renda e os impactos ambientais e sociais
indesejáveis, frutos da expansão da indústria e das mudanças nos padrões de consumo
(SAMPSON, 1996; THUROW, 1998 apud ALIGLERI; BORINELLI, 2001), ensejaram
discussões nas últimas décadas sobre a responsabilidade social das empresas.
Num sentido mais amplo, vem-se buscando nas últimas décadas em vários
países novos modelos institucionais de gestão social. Em especial, estas
buscas procuram respostas para desafios como a justiça social, a
consolidação democrática, a erradicação da corrupção a sustentabilidade
ambiental, entre outros (ALIGLERI; BORINELLI, 2001, p. 2).
A busca por novos modelos institucionais de gestão social requer, entre outras
providências, a evidenciação da contribuição das empresas para a sociedade. Daí, o
surgimento do balanço social como “instrumento de informação da empresa para a sociedade”
(RIBEIRO; LISBOA, 1999, p. 1). As respostas a questões sobre a contribuição social das
empresas podem ser evidenciadas por meio da análise de três vertentes que, segundo os
mesmos autores, são: a de Recursos Humanos, a Ambiental e a do Valor Adicionado.
No Brasil o balanço social ainda não se constitui em uma obrigação legal para as
empresas, e não necessariamente tem que ser elaborado por um profissional da área de
Contabilidade.
Porém, as informações financeiras, os indicadores sociais, a distribuição da riqueza
gerada, além de outras informações, fazem parte do banco de dados da Contabilidade, e o
profissional contábil, no âmbito de sua responsabilidade em gerar informações para os mais
diversos usuários, tem os mecanismos necessários para colaborar com a mensuração e a
45
evidenciação dos impactos sociais e ambientais provocados pelas empresas. Dessa forma, a
profissão contábil se relaciona com a sociedade, através do próprio objetivo da Contabilidade
em gerar informações para um novo tipo de usuário, que é a própria sociedade.
No âmbito público, com a instituição da Lei de Responsabilidade Fiscal nº 101, de
2000, em que é exigida maior transparência na utilização dos recursos, aumentou também a
responsabilidade do profissional contábil no que se refere ao controle do patrimônio e a
evidenciação dos resultados da gestão pública.
A referida Lei, segundo Militz e Velásquez (2003, p. 75), “atribuiu um valor especial à
profissão contábil, ao reconhecer a importância das informações contábeis e disciplinar os
procedimentos de sua elaboração e divulgação”. Os autores vão ainda além, afirmando que
um grupo importante de usuários destas informações é a sociedade, representada pelos
contribuintes.
Assim, a responsabilidade social e fiscal torna o profissional contábil um importante
agente para o desenvolvimento da sociedade e, pelos próprios objetivos de sua área de
atuação, torna-se também importante para a consolidação da democracia. A esse respeito,
tem-se o pronunciamento de Trevisan (2000, p. 13):
Precisamos ajudar a democracia a se consolidar cada vez mais no país. Que
país tem democracia sem informações claras? Esta é uma questão que cada
vez mais eu vejo com carinho. Um país democrático é um país com
informações claras e exatas.
As palavras de Trevisan foram ouvidas durante o XVI Congresso Brasileiro de
Contabilidade, realizado em 2000, cujo título era “A Profissão Contábil como fator de
proteção da sociedade”. A partir de sua realização, segundo Varella (2000), o papel social do
46
profissional contábil passa a ser a bússola para guiar os movimentos profissionais e políticos
pertinentes à classe contábil.
De fato, seja atuando em entidades privadas, ajudando no desenvolvimento das
empresas e na prática da responsabilidade social, seja atuando em entidades públicas,
ajudando na transparência da administração pública através da aplicação da Lei de
Responsabilidade Fiscal, o profissional contábil cumpre, por meio dos objetivos da
Contabilidade, importante papel diante da sociedade.
É diante de tal abrangência de atuação que se manifestam Marion e Santos (1998, p.
15), sobre a exposição do profissional contábil: “poucas profissões se expõem tanto à
corrupção quanto a Contabilidade”.
2.1.2.3 A profissão contábil e a ética
A afirmação de Marion e Santos (1998) a respeito da facilidade com que a profissão
contábil está exposta à corrupção
21
é explicada pelo fato de a atividade contábil estar
intimamente ligada com as demonstrações de resultados que são de interesse dos mais
variados agentes econômicos. Por isso esta profissão está sujeita a partilhar de esquemas
espúrios.
É possível tomar como exemplos o caso da Parmalat, da Enron, da WorldCom, do
Banco Econômico e do Banco Nacional. Em todos os casos as demonstrações contábeis não
representavam a verdadeira situação econômica das entidades.
Neste contexto, Carvalho (2002, p. 38) afirma que
21
Para Trevisan et al (2003), a corrupção é um dos grandes males do poder público, em qualquer país, e,
conseqüentemente, compromete sensivelmente a vida das gerações atuais e futuras.
47
na execução da profissão contábil, uma conduta não ética de um contabilista,
pode em um primeiro momento agradar a quem se beneficia diretamente
desta conduta. Porém, a médio e longo prazo, este fato apenas contribui para
denegrir não somente o profissional que o praticou, mas à comunidade
contábil como um todo.
A postura ética é uma reflexão de análise e crítica dos fundamentos e princípios que
regem o sistema moral, que é visto como a prática de costumes e valores aceitos (SUNG;
SILVA, 2000).
Para Carvalho (2002, p. 38), quando o profissional contábil recusa-se a participar de
esquemas ilegais “prova que sua conduta é coerente não só com a ética, mas também com a
moral social e pessoal”. Em tais situações, revela-se que a importância da profissão contábil
está na postura ética do profissional e na contribuição social dessa postura. Esta postura
colabora para, por exemplo, proteger o patrimônio público
22
. Passos (2004) afirma ser a ética
um dos pilares da profissão contábil.
Em 1996, o CFC aprovou por meio da Resolução CFC nº 803, o Código de Ética
profissional do contabilista. Carvalho (2002) indica que o caminho para que a ética seja de
fato aplicada na Contabilidade, inicia-se no período de formação acadêmica deste profissional
que, adquirindo consciência dos valores éticos da profissão, da importância de seu papel na
sociedade e das conseqüências das condutas não éticas, responderá às exigências que lhe faz a
sociedade.
Ao afirmar isto, Carvalho (2002, p. 40) fundamenta-se basicamente no fato de que:
(...) o contabilista é peça fundamental para a sobrevivência das empresas,
subsidiando as tomadas de decisões. Revela-se, no concurso para a
continuidade das entidades, seu papel social, sendo na colaboração de
22
Segundo Brasiliense (2004), até julho de 1998, o Banco Central cobriu prejuízos superiores a R$ 20 bilhões
em socorro a oito bancos, entre eles os Bancos Econômico e Nacional.
48
manutenção dos empregos e até criação de novos, como na geração do bem-
estar da coletividade.
O papel da profissão contábil se completa quando cumpre suas funções com alicerce
na ética profissional. O cumprimento de tais funções, nesta condição, contribui com o
desenvolvimento econômico e social. É perceptível, portanto, a importância do ensino
contábil na formação desse profissional, para que se possa contar com os benefícios da
existência dessa profissão no contexto geral da sociedade.
2.2 O Exercício da Profissão Contábil
2.2.1 A função dos Conselhos e as prerrogativas profissionais
O CFC e os CRCs foram criados pelo Decreto-Lei nº 9.295, de 1946. O CFC é o órgão
central do sistema contábil e os CRCs, presentes nas 27 Unidades da Federação, são
subordinados a este órgão central.
Ao CFC cabe a responsabilidade pela padronização das normas contábeis definidas
pelas Resoluções Normativas que compreendem: os Princípios Fundamentais de
Contabilidade, as Normas Brasileiras de Contabilidade, o Código de Ética Profissional do
Contabilista, entre outros.
Cabe ainda, a este Conselho, a fixação de valores de anuidades, a resolução de dúvidas
suscitadas pelos CRCs, o funcionamento como Tribunal Superior de Ética Profissional em
última instância, a normatização de interesse do exercício da profissão e a aprovação dos
regimes internos elaborados pelos CRCs (CFC, 2002).
O CRC é responsável pelo registro do profissional contábil e pela permanente
fiscalização do exercício da atividade contábil pelos profissionais, além de oferecer diversos
49
serviços à classe contábil, por meio da realização de seminários, cursos e outros eventos
ligados à área. A união legal do CFC com os CRCs forma o Sistema Contábil Brasileiro que,
em conjunto, fazem parte da vida do profissional contábil no exercício de sua profissão (CFC,
2002).
O artigo 25 do Decreto-Lei 9.295, de 1946, dispõe sobre as atribuições do profissional
contabilista e a Resolução CFC nº 560, de 1983, elucida tais atribuições no seu artigo 3º, onde
dispõe sobre as atividades privativas dos profissionais de atividades contábeis. São quarenta e
oito itens relacionados a tais atividades.
O quadro 1 mostra um resumo elaborado por Koliver (1999), das atividades
profissionais atribuídas ao profissional contábil, baseado na Resolução CFC nº 560 de 1983.
Itens do art. 3º Descrição
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 Avaliações e reavaliações.
7, 9, 10, 11, 12, 13, 47 Atividades ligadas à escrituração contábil.
14, 15, 16, 17 Levantamento de demonstrações contábeis.
18 Apuração, cálculo e registro de custos.
19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 27 Análise econômico-financeira.
27 e 28 Elaboração e programação de orçamentos.
30, 31, 32, 33, 34, 35, 36 Auditoria, perícia e prestação de contas.
37, 38, 39, 40, 41 Atividades organizacionais.
42 e 43 Assistência a conselhos fiscais, comissários e síndicos.
44 e 45 Magistério
46 Estabelecimento de normas e princípios de Contabilidade.
Quadro 1: Prerrogativas profissionais do contador
Fonte: Koliver (1999, p. 11).
2.2.2 O Exame de Suficiência
Para o exercício profissional de Contabilidade, o contador deve registrar-se no CRC.
Para obter este registro ele deve participar do Exame de Suficiência, que foi instituído pela
50
Resolução CFC nº 853, de 1999, e que vem sendo realizado, com essa finalidade, desde 2000,
duas vezes por ano.
O exame contém questões objetivas e é aplicado com provas distintas para os técnicos
em Contabilidade e para os bacharéis em Contabilidade. O conteúdo aplicado na prova para
os bacharéis é dividido conforme demonstra o quadro 2.
Temas
Contabilidade Geral
Contabilidade de Custos
Contabilidade Pública
Contabilidade Gerencial
Noções de Direito Público e Privado
Matemática Financeira
Teoria da Contabilidade
Legislação e Ética Profissional
Princípios Fundamentais de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade
Auditoria Contábil
Perícia Contábil
Português
Conhecimentos sociais, econômicos e políticos do país
Quadro 2: Conteúdo cobrado no Exame de Suficiência aplicado aos bacharéis
Fonte: CFC (2003)
Iudícibus e Marion (1986)
23
já apontavam como uma das deficiências do ensino
contábil a falta de Exame de Suficiência em âmbito nacional para o exercício profissional. A
instituição desse exame veio atender a debates que procuravam resguardar a qualidade dos
serviços profissionais contábeis.
Na visão de Koliver (1999), o diploma de graduação não é igual à competência plena
para o exercício profissional contábil. O autor demonstra sua insatisfação com a formação do
23
Para Iudícibus e Marion (1986, p. 53) o Exame de Suficiência forçaria o aluno a “aprender realmente e não ir
apenas em busca de diploma”.
51
contador pelos cursos de graduação no país. O Exame de Suficiência seria uma forma de
separar os profissionais com potencial para o exercício profissional daqueles sem tal requisito.
Nesse sentido, Coelho (1999) vê, como aspecto relevante na implantação do exame, a
gradativa melhora no ensino da contabilidade, reconhecendo, inclusive, que o CFC e os CRCs
deveriam alertar as faculdades em relação à conscientização da exigência na melhora da
qualidade dos cursos que são oferecidos. O conceito do Exame de Suficiência foi assim
definido pelo CFC:
Exame de Suficiência é a prova de equalização destinada a comprovar a
obtenção de conhecimentos médios, consoante os conteúdos programáticos
desenvolvidos no curso de bacharelado em Ciências Contábeis e no curso
Técnico em Contabilidade (CFC, 2003, p. 105).
Para ser aprovado no exame, o candidato ao registro profissional deve alcançar, no
mínimo, 50% dos pontos possíveis na prova, conforme o artigo 5º da referida Resolução. Fica
clara a intenção do CFC em permitir o registro àqueles profissionais que, no mínimo,
adquiriram conhecimentos médios em Ciências Contábeis, ou seja, àqueles com potencial de
virem a ser bons profissionais contábeis.
Koliver (1999, p. 7) descreve a essência do Exame de Suficiência como:
Um exame de equalização, cujo objetivo é garantir a posse, de parte dos
recém-formados em cursos de graduação em Contabilidade tanto de nível
médio como superior -, de conhecimentos gerais e técnicos e de algumas
habilidades em nível mínimo, consoante a formação que deveriam possuir,
segundo a natureza do curso e de acordo com a legislação do ensino
vigente.
Portanto, na interpretação de Koliver, o Exame de Suficiência visa avaliar a posse de
conhecimentos em nível mínimo, o que, representa 50% do total dos pontos possíveis de
serem atingidos.
52
A responsabilidade em formar profissionais com nível mínimo de conhecimentos é da
instituição de ensino, como pressupõe a emissão do diploma. Koliver (1999) ainda aponta a
necessidade de Exame de Suficiência, basicamente, em função dos desníveis de qualidade nos
cursos de graduação em Ciências Contábeis e aponta como razões para este problema
inúmeros fatores, entre os quais se destacam:
a qualidade do alunado e do corpo docente;
a carência de recursos materiais (bibliotecas, recursos didáticos, meios
computacionais, etc.);
o magistério de disciplinas contábeis por leigos;
o próprio mercantilismo de muitas entidades mantenedoras.
Corroborando com Koliver, Madeira apud Passos (2004, p. 18) afirma, com base em
uma pesquisa que realizou sobre os resultados do Exame de Suficiência, que “o índice de
acerto dos egressos revela um desempenho mediano, o que evidencia a fragilidade dos
cursos”.
Tem-se, então, que o Exame de Suficiência surgiu da necessidade de garantir um
mínimo de qualidade ao exercício profissional. Tal qualidade passou a ser motivo de
preocupação face à expressiva evolução do número de oferta de cursos superiores em
Ciências Contábeis, como conseqüência do aumento do número das IES ocorrido nas ultimas
décadas.
53
2.2.3 A educação continuada
Em 2002, foi aprovada a NBC-P-4
24
, que trata da educação continuada para os
contadores na função de auditor independente com registro no CRC e na CVM. Esta Norma
fundamenta-se na importância da auditoria independente que exige segundo a Resolução CFC
945/02, “atualização e aprimoramento técnico e ético, para manter-se e ampliar-se a
capacitação para feitura de trabalhos com alto nível qualitativo”.
O item 4.1.1 da referida Norma, alterada pela Resolução 1.014/04 está assim descrito:
Educação Profissional Continuada é a atividade programada, formal e
reconhecida que o Contador, na função de Auditor Independente, com
registro em Conselho Regional de Contabilidade, inscrito no Cadastro
Nacional de Auditores Independente (CNAI), e aquele com cadastro na
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), aqui denominado Auditor
Independente, e os demais Contadores que compõem o seu quadro funcional
técnico deverão cumprir, com o objetivo de manter, atualizar e expandir seus
conhecimentos para o exercício profissional.
Para atingir o objetivo de fazer com que o auditor independente mantenha-se
atualizado e tenha seus conhecimentos expandidos, a referida Norma estipula um mínimo de
32 horas por ano, a partir de 2005
25
, de educação continuada, que poderão ser cumpridas,
entre outros, com participações em cursos de instituições, denominadas de Capacitadoras.
Para o CFC (2004, p. 5),
capacitadora é a entidade que exerce as atividades de Educação Profissional
Continuada: o CFC, os CRCs e o Instituto de Auditores Independentes do
Brasil (Ibracon) são capacitadores-natos, assim como as instituições de
ensino superior, credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC).
Desta forma, caberá também às Instituições de Ensino a responsabilidade não só em
formar contadores com habilidades e competências necessárias para o exercício profissional
24
A NBC-P-4 foi aprovada pela Resolução CFC 945/02 que ganhou nova redação pela Resolução CFC 995/04.
25
A exigência dessa Resolução por horas de educação continuada começou a ser feita a partir de 2003, de forma
progressiva. Ou seja, em 2003, a exigência era de 12 horas por ano, em 2004 passou a ser de 24 horas por ano, e
só a partir de 2005 passou a ser de 32 horas por ano.
54
como, também, no caso dos contadores que exercem auditoria independente, mantê-los
atualizados e em constante evolução de seus conhecimentos.
Como mencionado no primeiro parágrafo do item 2.1 deste estudo, a rapidez com que
as mudanças ocorrem no ambiente operacional das empresas exigem do profissional contábil
o esforço pela constante evolução de seus conhecimentos e cabe, portanto, às IES, manterem
cursos de graduação e de educação continuada aptos a atender essa demanda.
2.3 A Evolução dos Cursos de Ciências Contábeis no Brasil
Uma das primeiras ações direcionadas à formação do profissional contábil, segundo
Schmidt (2000), foi a criação do Instituto Comercial do Rio de Janeiro, em 1856. Neste
Instituto, a partir de 1863, foi oferecida a disciplina de Escrituração Mercantil como forma de
qualificar seus alunos para a prática do registro contábil.
Apenas em 1905, com o Decreto Federal nº 1.339, foi oficialmente reconhecido o
primeiro curso de Contabilidade. Nesta época, intitulado como curso técnico de Guarda-
Livros e de Perito-Contador, oferecido pela Escola de Comércio Álvares Penteado
(SCHMIDT, 2000).
Até 1923, de acordo com Favero (1987), muitas escolas de comércio haviam se
constituído e, naquele ano, através do Decreto 4.724-A, essas escolas tiveram seus diplomas
equiparados aos da Escola de Comércio Álvares Penteado. Ainda segundo Favero, o Decreto-
Lei nº 1.535, de 23 de agosto de 1939, alterou a denominação do curso de Perito-Contador
para a de Contador.
55
Já nessa época os cursos eram criticados por não atender às necessidades dos
contabilistas. Em função de tais críticas, em setembro de 1945, por meio do Decreto-Lei nº
7.988, foi criado o curso de Ciências Contábeis e Atuariais, conferindo aos formandos o grau
de bacharel.
Com o Decreto-Lei nº 8.191, de 20 de novembro do mesmo ano, as categorias de
cursos de guarda-livros, atuários, contadores, perito-contadores e bacharéis, seriam agrupadas
em apenas duas: Técnico em Contabilidade no nível médio e Contador ou Bacharel para os de
nível superior (FAVERO, 1987).
Em 1946, foi fundada a FEA-USP, onde foi criado o curso de Ciências Contábeis e
Atuariais. Segundo Marion (1996), a partir da década de 1960, com a entrada de empresas de
auditoria anglo-americanas que acompanhavam as empresas multinacionais que chegavam ao
Brasil, o ensino contábil, até então influenciado pela escola italiana, passou a sofrer influência
da escola americana.
Essa mudança de tendência, segundo o autor, foi sentida através dos trabalhos
realizados dentro do centro de pesquisa do Departamento de Contabilidade da FEA-USP. A
consolidação da escola americana é um fato definitivamente consumado com a Lei das
Sociedades por Ações Lei nº 6.404, de 1976, que tem sua parte contábil inspirada na
doutrina americana.
Assim, os cursos de Ciências Contábeis passaram a ser oferecidos com as influências
do núcleo de pesquisas do Departamento de Contabilidade da FEA-USP, que, por sua vez,
seguia as tendências da escola americana.
56
A Figura 3 mostra a evolução dos cursos de Ciências Contábeis no Brasil, a partir do
ano de 1973.
131
166
194
384
641
0
100
200
300
400
500
600
700
1973 1976 1986 1996 2002
Nº de Cursos
Figura 3: Número de cursos de Ciências Contábeis no Brasil
Fonte: Nossa (1999) e MEC/INEP (2004a)
Destaca-se nesta figura, a rápida expansão do número de cursos de Ciências
Contábeis, a partir da década de 1990. De 1996 a 2002, ou seja, em apenas sete anos, foram
criados 257 cursos, enquanto que no período de 1973 a 1986, ou seja, em 13 anos, foram
criados 63 cursos. Em outras palavras, 40% dos cursos existentes em 2002 foram criados a
partir de 1996.
Do total de 641 cursos existentes em 2002, 515 (80%) são ofertados em instituições
privadas. Cabe ressaltar que essa expansão ocorreu com a anuência do governo por meio da
Lei nº 9.394, de 1996, que é, em relação às que lhe antecederam, mais flexível no que diz
respeito à criação de cursos de graduação.
A Tabela 1 demonstra o número de cursos existentes no Brasil em 2002, por categoria
e por região. Destaca-se que 65% dos cursos encontram-se localizados na região Sul e Sudeste
e de que, em todas as regiões, os cursos são oferecidos majoritariamente por instituições
privadas.
57
Tabela 1: Número de cursos de Ciências Contábeis no Brasil em 2002
Região Categoria
Univ.
Centro
Univsert.
Fac.
Integ.
Faculdade
Centros
Tec.
Total %
Pública 10 1 11 29%
Privada 2 3 2 19 1 27 71% Norte
Sub-Total 12 3 2 20 1 38 100%
Pública 29 2 1 32 29%
Privada 8 3 2 59 5 77 71% Nordeste
Sub-Total 37 3 2 61 6 109 100%
Pública 16 3 8 27 10%
Privada 64 37 30 105 2 238 90% Sudeste
Sub-Total 80 40 30 113 2 265 100%
Pública 28 8 1 37 25%
Privada 61 9 5 35 3 113 75% Sul
Sub-Total 89 9 5 43 4 150 100%
Pública 18 1 19 24%
Privada 7 3 11 37 2 60 76%
Centro-
Oeste
Sub-Total 25 3 11 38 2 79 100%
Pública 101 3 0 20 2 126 20%
Privada 142 55 50 255 13 515 80%
Total
Geral
Total 243 58 50 275 15 641 100%
Fonte: MEC/INEP (2004a)
2.4 O Processo Oficial de Autorização e Reconhecimento de Cursos
2.4.1 Autorização dos cursos de Ciências Contábeis
De uma forma geral, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394, de 1996,
estabelece, em seu artigo 3º, os princípios pelos quais o ensino deve ser oferecido à sociedade.
Dentre eles estão os de coexistência entre instituições públicas e privadas e os de garantia de
padrão de qualidade.
Com base nesses princípios, é concedido à iniciativa privada o direito de investir na
educação superior e, para garantir o padrão de qualidade dos cursos por ela ofertados,
estabelece-se o processo de autorização, reconhecimento e avaliação dos cursos de ensino
superior.
Os procedimentos de autorização de funcionamento de cursos superiores foram
instituídos pela Portaria nº 181, de 23/02/1996 do MEC. Tal Portaria enfatiza os indicadores
58
de qualidade que deverão ser apreciados nos projetos de novos cursos superiores de
graduação.
Esses projetos devem evidenciar todos os dados necessários para que seja possível a
avaliação do MEC. Tais dados dizem respeito à necessidade social do curso, além de dados
sobre a entidade mantenedora, sobre o estabelecimento de ensino e sobre o curso objeto do
pedido de autorização.
No item IV, do Artigo 3º da referida Portaria, em relação ao curso objeto do pedido de
autorização para funcionamento, os dados que deverão constar no projeto elaborado pela
instituição de ensino encontram-se demonstrados no Quadro 3.
Dados sobre o curso que devem constar no projeto encaminhado ao MEC
Concepção, finalidade e objetivos
Currículo pleno proposto com ementário das disciplinas e indicação de bibliografia básica
Perfil profissional do egresso pretendido
Corpo docente contendo a sua titulação
Plano de qualificação e de remuneração do corpo docente
Regime escolar, vagas anuais, turno de funcionamento e dimensões das turmas
Biblioteca (organização, acervo, periódicos especializados, área física, entre outros)
Edificações e instalações (conjunto de plantas, planos de expansão física, entre outros)
Laboratórios e demais equipamentos (descrição e serventia)
Quadro 3: Dados que devem constar nos projetos encaminhados ao MEC
Fonte: MEC (2004b)
Os indicadores de qualidade dos cursos que são avaliados pelo MEC para autorização,
constam no artigo 4º da referida Portaria. Tais indicadores de qualidade estão demonstrados
na Quadro 4.
59
Indicadores de qualidade considerados pelo MEC
Adequação do projeto pedagógico às inovações tecnológicas, às mudanças sociais e à realidade
local
Professores com títulos de doutores, mestres e especialistas relacionados à sua área de atuação e
comprovada experiência docente
Plano de remuneração dos docentes, incluindo a remuneração do tempo destinado ao planejamento
didático, às atividades de extensão e/ou pesquisa
Acervo bibliográfico disponível ou previsto bem como o grau de informatização da biblioteca
Laboratórios e equipamentos atualizados e em quantidade suficiente para atendimento aos alunos e
professores
Regime escolar, vagas anuais, turno de funcionamento e dimensões das turmas
Biblioteca (organização, acervo, periódicos especializados, área física, entre outros)
Edificações e instalações (conjunto de plantas, planos de expansão física, entre outros)
Laboratórios e demais equipamentos (descrição e serventia)
Quadro 4: Indicadores de qualidade de cursos considerados pelo MEC
Fonte: MEC (2004b)
No parágrafo único dessa Portaria, consta que a avaliação do projeto será feita, sempre
que possível, por especialistas na área do curso proposto. De acordo com a Resolução nº 10,
de 11/03/02, do CNE, a autorização de cursos ocorre em duas situações distintas. Primeiro,
quando a instituição não está credenciada e, segundo, quando já possui o credenciamento.
No primeiro caso, o comitê do MEC verificará in loco a viabilidade institucional de
implantação do projeto do curso e seu desenvolvimento. No segundo caso se a previsão de
criação do curso consta no PDI
26
fica dispensada a verificação in loco.
Em relação ao projeto para autorização para os cursos de Ciências Contábeis, os dados
devem ser preenchidos, pela instituição de ensino, no “Formulário para Avaliação de Pedidos
de Autorização e de Reconhecimento de Cursos de Graduação de Ciências Contábeis”
27
.
26
Conforme o Art. 6º, da Resolução 10/02, do CNE, o PDI se constitui em compromisso da mantenedora com o
MEC. Deve ser desenvolvido com a mantida, e preparado para um prazo de cinco anos. Tal Plano é apresentado
durante a fase de credenciamento da IES junto ao MEC.
60
Os dados relativos aos cursos são divididos em seis grupos, conforme demonstra o
Quadro 5. Os dados analíticos devem ser enviados pelas IES ao MEC mediante
preenchimento do referido formulário na forma de projeto para autorização de funcionamento
de curso de graduação.
Atualmente, o MEC disponibiliza este formulário eletronicamente e a instituição de
ensino, por meio de um responsável por ela escolhido, o preenche via internet. O
preenchimento deste formulário alimenta diretamente a base de dados desse órgão.
Grupos Sub-Grupos Dados Analíticos
Identificação
da Instituição
Número de referência, mantenedora, mantida,
dirigente principal da instituição, nome do
coordenador do curso, titulação máxima e regime
de trabalho do coordenador.
Do curso
Denominação, total de vagas anuais, número de
alunos por turma, turnos de funcionamento, regime
de matrícula, carga horária total do curso,
integralização de carga horário do curso.
Do projeto
pedagógico
Missão/Objetivo do curso e perfil do egresso
pretendido.
Estrutura do
curso
Organização curricular, disciplinas e bibliografia,
atendimento à resolução 03/92.
Projeto pedagógico do curso e
metodologia didático-pedagógica
Metodologias
didático-
pedagógico
Procedimentos formais de avaliação dos discentes e
dos docentes, incentivo aos alunos às atividades de
pesquisa contábil e práticas pedagógicas.
Corpo docente
Qualificação
do corpo
docente
Informações sobre os docentes, quadro resumo da
titulação docente, do regime de trabalho docente, da
produção e da aderência do corpo docente às
disciplinas.
Qualificação do Coordenador Geral
Formação acadêmica, experiência, livros e artigos
publicados, entre outros.
Infra-estrutura física e de materiais Geral
Laboratórios de informática especiais para o curso,
televisores, vídeos, retroprojetores, entre outros.
Infra-estrutura tecnológica/laboratórios Geral Equipamentos e programas existentes.
Biblioteca Geral
Salas de estudos, assinaturas de jornais e revistas
relacionados com a Contabilidade. Para
autorização, devem existir no mínimo 200 títulos de
livros relacionados à Contabilidade e, para o
reconhecimento, no mínimo 800 títulos.
Quadro 5: Dados avaliados para autorização do curso de Ciências Contábeis
Fonte: MEC (2003a)
27
Este formulário encontra-se nos anexos deste estudo
61
A Resolução nº 03/92
28
, do CFE
29
, entre outros, trata do currículo dos cursos de
Ciências Contábeis. O atendimento a esta resolução pelas IES requer que o curso seja
estruturado de forma a oferecer conhecimentos de formação humanística e social, formação
profissional e formação complementar. Os conhecimentos, descritos no Quadro 6, constantes
na referida Resolução, formam um corpo de diretrizes básicas que devem ser atendidas e
cumpridas pelos cursos para a obtenção da autorização de funcionamento.
Conhecimentos de Formação Geral de Natureza Humanística e Social
Língua Portuguesa, Noções de Direito, Noções de Ciências Sociais, Ética geral e Profissional e outros.
Conhecimentos de Formação Profissional
Conhecimentos Obrigatórios de Formação
Profissional Básica
Administração Geral, Economia, Direito Aplicado
(incluindo Legislação Societária Comercial Trabalhista e
Tributária), Matemática e Estatística.
Conhecimentos de Formação Profissional
Específica
Contabilidade Geral, Teoria da Contabilidade, Análise das
Demonstrações Financeiras, Auditoria, Perícia Contábil,
Administração Financeira e Orçamento Empresarial,
Contabilidade Pública e Contabilidade e Análise de Custos.
Conhecimentos ou Atividades de Formação Complementar
Conhecimentos ou Atividades de Formação
Complementar
Computação e atividades obrigatórias de natureza prática
Quadro 6: Diretrizes para as disciplinas dos cursos de Ciências Contábeis
Fonte: MEC (1992)
Os dados dos cursos de Ciências Contábeis são enviados, em forma de projeto, para a
SESu/MEC que, de posse desse material, envia uma comissão para verificação in loco das
condições constantes no projeto para a autorização do curso. Isso no caso de entidades ainda
não credenciadas ou já credenciadas, porém sem a previsão desse curso em seu PDI.
28
Em 08/04/2004, foi publicada a Resolução 6/04 que instituiu novas diretrizes para os cursos de Ciências
Contábeis. Porém, neste estudo optou-se por descrever apenas a Resolução 03/92 em virtude de que os cursos
atuais já reconhecidos ainda deverão adaptar-se às novas diretrizes da recente Resolução.
29
O CFE foi substituído pelo CNE, através da instituição da Lei 9.131, de 24 de Novembro de 1995.
62
Em virtude da autonomia que gozam as Universidades e os Centros Universitários,
essas são dispensadas de solicitar autorização para abertura de cursos de graduação, inclusive
os de Ciências Contábeis, conforme prevê o inciso I, do artigo 53, da Lei 9.394, de 1996.
2.4.2 Reconhecimento dos cursos de Ciências Contábeis
Depois de autorizado o funcionamento do curso, para que possa outorgar diploma aos
alunos formados, é obrigatório que ele seja devidamente reconhecido pelo MEC. O
reconhecimento é uma necessidade legal de todos os cursos superiores do país, independente
do tipo de instituição que os oferece. De acordo com o § 1º do Art. 1º da Portaria nº 990/02 do
MEC, o reconhecimento de cursos é realizado pelo INEP, por solicitação da SESu/MEC.
Conforme a Portaria nº 73/02 do INEP, os profissionais que formam as comissões que
fazem a verificação in loco nas IES para reconhecimento de cursos, devem possuir
experiência de cinco anos em docência e em gestão da educação em cursos superiores, além
de participar de programas de capacitação promovidos e elaborados pelo INEP.
As referidas comissões, de acordo com o item VI do Art. 7º da Portaria nº 990/02 do
MEC, deverão elaborar relatório descritivo-analítico em relação aos aspectos que foram
avaliados e emitir parecer conclusivo sobre os resultados de tais avaliações. O Art. 2º dessa
mesma Portaria dispõe sobre os aspectos que são verificados e avaliados pelas comissões.
Art. 2.º Para proceder à avaliação das IES e das condições de ensino dos
cursos de graduação, serão utilizados instrumentos organizados pelo INEP
que possibilitem avaliar:
I - organização institucional ou organização didático-pedagógica dos cursos;
II - corpo docente, considerando principalmente a titulação, a experiência
profissional, a estrutura da carreira, a jornada de trabalho e as condições de
trabalho;
63
III - adequação das instalações físicas gerais e específicas, tais como
laboratórios e outros ambientes e equipamentos integrados ao
desenvolvimento do curso; e
IV - bibliotecas, com atenção especial para o acervo especializado, inclusive
o eletrônico, para as condições de acesso às redes de comunicação e para os
sistemas de informação, regime de funcionamento e modernização dos
meios de atendimento.
Com relação aos cursos de Ciências Contábeis, os quesitos avaliados pela comissão de
especialistas do MEC para o reconhecimento são aqueles que constam no Quadro 7. Este
quadro foi elaborado com base no Formulário descrito anteriormente no Quadro 5.
Grupo Quesitos
Adequação dos Conteúdos à Missão/objetivos e ao Perfil do Egresso
Pretendido
Análise do Fluxo do Currículo Pleno
Análise das Disciplinas
Análise do Conteúdo do Ementário
Análise da Bibliografia das Disciplinas Propostas
Avaliação Discente
Avaliação Docente
Avaliação das Atividades de Pesquisas Contábeis (Só Reconhecimento)
1) Projeto Pedagógico
Práticas Pedagógicas (Só Reconhecimento)
Regime de Trabalho corpo Docente Disciplinas de Contabilidade
Regime de Trabalho do Corpo Docente Disciplinas Correlatas
Titulação Disciplinas Contabilidade
Titulação Disciplinas Correlatas
Produção Acadêmica na Área de Ciências Contábeis - Docentes de
Contabilidade
Produção Acadêmica em Outras Áreas
Docentes de Disciplinas Correlatas
Participação em Congressos
Compatibilidade Docentes de Disciplinas de Ciências Contábeis
Compatibilidade Docentes de Disciplinas de Outras Áreas
2) Corpo Docente
Política de Aperfeiçoamento/Qualidade/Atualização Docente
Coordenadoria Regime de Trabalho
Coordenadoria Titulação
3) Coordenador
Coordenadoria Publicação (Só Reconhecimento)
4) Infra estrutura física e recursos materiais
5) Infra estrutura tecnológica / laboratório
6) Biblioteca
Quadro 7: Quesitos avaliados para reconhecimento dos cursos de Ciências Contábeis
Fonte: MEC (2003a)
64
Aos quesitos são atribuídos conceitos que são divididos de acordo com o Quadro 8.
Conceito Descrição
CMB Condições muito Boas
CB Condições Boas
CR Condições Regulares
CI Condições Insuficientes
Quadro 8: Conceitos atribuídos aos cursos
Fonte: MEC (2003a)
Tem-se, como exemplo, os seguintes casos:
1) Análise do Conteúdo do Ementário: neste quesito são analisados o perfil desejado do
egresso, a integração conceitual entre os conteúdos interdisciplinares e a atualidade dos
conhecimentos propostos no ementário.
2) Titulação Acadêmica: quando 60% ou mais do corpo docente que atua nas disciplinas
específicas de Contabilidade for formado por Doutores e Mestres em Contabilidade ou
em áreas de Administração, Economia ou Controladoria, porém, com graduação em
Contabilidade, é dado o conceito CMB. De 30% a 59% é dado conceito CB. Quando tiver
100% de Especialistas em Contabilidade é dado conceito CR e quando não ocorrem essas
hipóteses é dado conceito CI, e inviabiliza-se o reconhecimento do curso.
3) Infra-estrutura Tecnológica e Laboratório: os conceitos são dados a cada um dos
seguintes itens: a) espaço adequado no laboratório para o número de alunos no curso; b)
relação computadores/número de alunos (relação máxima de 3 alunos por computador); c)
funcionários e monitores específicos alocados no laboratório; d) programas
computacionais de uso geral; e) programas computacionais de contabilidade; f) acesso à
deficientes físicos; g) modernização dos computadores. A cada um destes itens é dado um
conceito e a ponderação final é a seguinte: cada CMB equivale a 3 pontos; cada CB é
igual a 2 pontos; cada CR é 1 ponto e cada CI é zero ponto. Acima de 18 pontos, é dado
conceito CMB para este quesito, de 14 a 18 pontos, conceito CB, de 10 a 14 pontos,
conceito CR e abaixo de 10 pontos é dado conceito CI que inviabiliza o reconhecimento.
Cada um dos seis grupos recebe um conceito: CMB para o grupo em que 70%, no
mínimo, do total dos quesitos forem conceituados neste nível. Fica com conceito CB o grupo
que tiver 70% do total dos quesitos conceituados como CMB e CB. Se o grupo tiver 70% dos
65
quesitos com conceito CMB, CB e CR, é dado o conceito final CR. O grupo que tiver 30% ou
mais dos quesitos conceituados como CI fica com este nível de conceito final.
Depois de conceituados cada um dos seis grupos, é calculado o resultado final da
avaliação.
Tabela 2: Resultado final da avaliação
Grupo
Conceito
Valor Atribuído
(*)
Peso
Valor Ponderado
(Vr. x Peso)
1) Projeto Pedagógico 3
2) Corpo Docente 2
3) Qualificação do coordenador 1
4) Infra estrutura Física e Recursos
Materiais
1
5) Infra Estrutura Tecnológica 1
6) Biblioteca 2
Média Fina (MF) 10
(*) Valor Atribuído: CMB = 3 pontos, CB = 2 pontos, CR = 1 ponto e CI = 0 pontos
Fonte: MEC (2003a)
Neste momento, cada grupo tem um conceito final que equivale ao número de pontos
especificados na última linha da Tabela 2 e que completa a coluna “Valor Atribuído”. Os
pontos de cada grupo são multiplicados por seus pesos correspondentes, o que resulta no
Valor Ponderado. O total da soma dos valores ponderados é dividido por 10 e resulta na
média final em pontos.
A transformação de pontos em conceitos é feita de acordo com as seguintes diretrizes:
se a média final ficar acima de 2,4 pontos, o conceito global final do curso é CMB; se a média
final ficar entre 1,5 e 2,4 pontos, o conceito global final do curso é CB; se a média final ficar
entre 0,6 e 1,5 pontos, o conceito global final do curso é CR e se a média final ficar abaixo de
0,6 pontos, o conceito global final do curso é CI.
66
De acordo com o parecer conclusivo da comissão do MEC, a partir das informações
contidas no Formulário, não serão recomendados os cursos que não se adequarem à
Resolução 03/92 do CFE, e cursos com conceito CI em itens específicos da avaliação
considerados imprescindíveis ao seu bom funcionamento.
Também não serão recomendados os cursos com conceito final CI em qualquer um
dos seis grupos, além dos cursos que obtiverem este mesmo nível no conceito global final. O
relatório da comissão é enviado, com parecer favorável ou desfavorável ao reconhecimento ou
autorização do curso, ao INEP, em ofício de encaminhamento.
De acordo com o artigo 46 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a autorização e o
reconhecimento têm prazos limitados de validade e devem ser renovados após processo de
avaliação, que tem o mesmo enfoque da avaliação para reconhecimento. O § 1º do mesmo
artigo, prevendo que os cursos possam ter deficiências, prevê um prazo para saneamento
destas e realização de nova avaliação. Na reavaliação, se os problemas não forem sanados, o
curso poderá ser desativado através de intervenção, suspensão temporária ou
descredenciamento da instituição de ensino.
A verificação in loco para reconhecimento e renovação do reconhecimento de cursos
superiores é um procedimento chamado pelo MEC de Avaliação das Condições de Ensino
que, juntamente com o Censo da Educação Superior, a Avaliação Institucional e o ENC,
formam o Sistema Nacional de Avaliação da Educação.
O sistema busca cumprir as obrigações da União Federal, instituídas pelo artigo 9º da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação que, entre outras, são: “VIII - assegurar processo
67
nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas
que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino”.
2.5 Avaliação do Ensino Superior
2.5.1 Histórico das avaliações
O tema avaliação da educação superior vem sendo discutido desde a Reforma
Universitária ocorrida pela Lei 5.540/68, que provocou transformações na estrutura e
funcionamento do ensino superior em face da obrigatoriedade do ensino-pesquisa para
fomentar a produção científica.
Segundo o MEC/INEP (2003b), em junho de 1982, foi aprovada pelo CFE a proposta
da Câmara de Ensino Superior, de desenvolver o PARU. Sua finalidade era conhecer as
condições de ensino e identificar subsídios para a formulação de alternativas para a melhoria
do ensino superior propondo as mudanças desejadas.
Para a consecução do que se propôs, o PARU desenvolveu estudos sobre a
realidade de diferentes IES, levando em conta a implementação das
propostas da Reforma Universitária do final da década de 60, assim como
peculiaridades regionais e institucionais (MEC/INEP, 2003b).
O programa contou com a participação de 33 IES públicas e privadas. Foi considerada
a eficiência externa, ou seja, as necessidades e perspectivas da sociedade, e a eficiência
interna: ensino, pesquisa e desempenho da gestão acadêmica e financeira.
Embora tenha desenvolvido uma metodologia de avaliação, o PARU não teve
continuidade. Em 1986, o GERES propôs a criação de um sistema de avaliação que teria a
participação da comunidade acadêmica e transparência na metodologia e resultados obtidos.
Porém, o significado em termos políticos dos resultados da avaliação suscitou críticas e a
proposta não foi adiante (MEC/INEP, 2003b).
68
Em 1990, foi constituído um grupo de trabalho formado pela então SENESu
precedente da SESu que, com base na análise do ensino superior, fez recomendações a
respeito da legitimidade do processo de avaliação com a participação efetiva e voluntária das
instituições com o desenvolvimento da avaliação interna e externa dos cursos e delas próprias.
Assim, iniciou-se a construção do PAIUB, que foi criado oficialmente em 1993. O
objetivo era o aperfeiçoamento e a transformação qualitativa das instituições de ensino e
engloba o ensino, a produção acadêmica, a extensão e a gestão.
Com a reorganização do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior, através
do Decreto nº 2.026, de 10 de outubro de 1996, o PAIUB ganhou novas características e,
como parte do Sistema Nacional de Avaliação, foi estruturado como Avaliação Institucional,
respondendo pela avaliação individual das IES.
2.5.2 Exame Nacional de Cursos (ENC)
Em face da já comentada expansão do número de IES no Brasil e a obrigação
constitucional de conduzir o processo de melhoria da qualidade do ensino superior e da
formação profissional para o trabalho
30
, o Governo Federal criou o ENC por meio da Lei nº
9.131, de 1995.
Segundo o MEC/INEP (2003b, p. 1) o ENC “foi concebido para avaliar o ensino de
graduação ministrado pelas Instituições de Educação Superior - IES, tendo como objetivo
maior contribuir para a melhoria da sua qualidade”.
30
Artigo 214 da Constituição Federal
69
Segundo Benedetti (2003), contribuindo com o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior, o ENC visa complementar as avaliações mais abrangentes que analisam
os fatores determinantes da qualidade e eficiência das atividades de ensino, pesquisa e
extensão.
O ENC é elaborado com base nas diretrizes e nos conteúdos curriculares dos cursos de
graduação e, também, nas exigências decorrentes dos novos e atuais cenários geopolíticos,
culturais e econômicos. Prestam o exame, todos os alunos que estão no ano de conclusão do
curso. A participação no ENC, para os alunos, é utilizada como condição para a obtenção do
diploma.
As provas são elaboradas por Comissões de Cursos, compostas por especialistas e
constituídas por Portaria Ministerial que é elaborada e publicada pelo MEC. Essas Comissões
de especialistas são responsáveis pela definição dos objetivos, do perfil desejado do
formando, das habilidades e conteúdos programáticos que são avaliados pelo ENC
(BENEDETTI, 2003).
São utilizadas regras estatísticas para formatação dos resultados de cada curso no
ENC. A esses são atribuídos conceitos, sendo calculadas as seguintes médias: a média geral
de cada curso e a média geral da área do curso. O desvio-padrão mede a dispersão da média
geral de cada curso em relação à média geral da área do curso.
Os conceitos são distribuídos em cinco faixas (A, B, C, D e E) e, de acordo com a
distribuição feita, segundo os critérios do Quadro 9, evita-se a comparação individual dos
cursos, caso prevalecessem como nota final a média individual do curso, e evidencia-se a
diferença relativa entre os cursos da mesma área.
70
Conceito Critério
A Média acima de 1 desvio-padrão (inclusive) da média geral da área.
B Média entre 0,5 (inclusive) e 1 desvio-padrão acima da média geral da área.
C
Média entre 0,5 desvio-padrão abaixo e 0,5 desvio-padrão acima da média geral da
área.
D Média entre 0,5 (inclusive) e 1 desvio-padrão abaixo da média geral da área.
E Média abaixo de 1 desvio-padrão
Quadro 9: Critérios de atribuição de conceitos do ENC
Fonte: MEC/INEP (2003b)
Os relatórios do ENC com os respectivos resultados são encaminhados pelo INEP à
SESu/MEC que poderá usá-los para orientar as ações voltadas para a melhoria da qualidade
do ensino superior.
O reconhecimento e a renovação do reconhecimento, assim como o credenciamento e
recredenciamento periódicos das IES, são deliberados pelo CNE levando em consideração,
como um dos critérios, os resultados do ENC. Os relatórios com os resultados individuais do
curso são enviados também para as IES, podendo contribuir para a avaliação e validação
interna e permanente a respeito das virtudes e deficiências das práticas pedagógicas do curso.
2.5.2.1 A participação dos cursos de Ciências Contábeis no ENC
Em 1996, foi aplicado pela primeira vez o exame para os cursos de Administração,
Direito e Engenharia. Na última edição do ENC, em 2003, participaram 26 áreas, entre elas, a
de Ciências Contábeis, a qual iniciou sua participação no ENC no ano de 2002.
Segundo a Portaria nº 3018, de 21/12/01, e a Portaria nº 3818, de 24/12/02, que
estabeleceram os conteúdos e as características do ENC de Ciências Contábeis, ele tem como
objetivo a melhoria da qualidade do ensino contábil no país e o seu contínuo aperfeiçoamento
com o intuito de formar profissionais com conhecimentos gerais, humanísticos e técnicos
necessários ao exercício da profissão contábil.
71
Ainda, segundo as referidas Portarias, o exame tem também como objetivo construir
uma série histórica de dados e informações quantitativas e qualitativas como subsídios ao
diagnóstico do ensino contábil, identificando as necessidades e demandas do processo de
formação do graduando com base nas exigências sociais, econômicas, políticas, culturais e
éticas.
Além disso, também tem o propósito de estimular as IES a promoverem a formulação
de políticas voltadas para o ensino e a avaliarem e aprimorarem seus projetos pedagógicos, as
condições do processo de ensino-aprendizagem e o ambiente acadêmico do curso.
O ENC de Ciências Contábeis toma como referência que o formando deve apresentar
o perfil de um profissional com formação generalista-humanística, teórico-prática e técnico-
científica, que tenha postura ética, responsabilidade social, visão crítica global e atualizada do
cenário econômico e financeiro nacional e internacional em que se insere a Contabilidade.
Além disso, o formando deve, também, ter visão holística, sistêmica e gerencial, e consciência
da importância da profissão contábil. Para tanto, deve desenvolver as competências e
habilidades necessárias para o exercício profissional.
As competências e habilidades gerais que devem ser desenvolvidas pelos graduandos
referem-se ao correto uso da língua portuguesa na capacidade de expressão e organização do
pensamento e ao processo de raciocínio lógico nas análises e emissões de opinião. As
habilidades específicas referem-se à capacidade de analisar e interpretar os fenômenos que
dão origem à prática contábil, utilizando apropriadamente a linguagem contábil na elaboração
e análise das informações para fins decisórios.
72
Os conteúdos da prova de Ciências Contábeis no ENC, que têm como objetivo avaliar
os formandos de acordo com as características mencionadas nos dois últimos parágrafos, são
os descritos no Quadro 10, conforme as referidas Portarias. O exame aborda temas de
Formação Geral e Profissional. Para abordar os temas de Formação Profissional, o exame o
divide em Formação Profissional Básica e Formação Profissional Específica.
Temas Conteúdos
Língua Portuguesa
Noções de Direito
Noções de Ciências Sociais
Formação Geral
Ética Geral e Profissional
Administração Geral
Economia
Direito Aplicado (Incluindo Legislação societária, comercial, trabalhista e
tributária)
Matemática
Formação Profissional Básica
Estatística
Contabilidade Geral
Teoria da Contabilidade (incluindo Normas Brasileiras de Contabilidade)
Análise das Demonstrações Financeiras
Auditoria
Administração Financeira e Orçamento Empresarial
Contabilidade Pública
Formação Profissional
Específica
Contabilidade e Análise de Custos
Quadro 10: Conteúdo da prova de Ciências Contábeis no ENC
Fonte: MEC/INEP (2003c)
Para o estabelecimento dos conteúdos e as características do ENC de Ciências
Contábeis, são consideradas as definições estabelecidas pela Comissão de Avaliação do Curso
de Ciências Contábeis nomeada pelo MEC. Segundo Benedetti (2003), essas comissões são
compostas por especialistas de notório saber atuantes na área e seus membros contam com
subsídios das organizações que os indicaram e com os subsídios encaminhados pelas IES.
2.6 O Conhecimento Exigido e Avaliado pelo MEC e pelo CFC
Com o intuito de facilitar a visualização do conhecimento exigido pelo MEC, tanto por
meio das suas diretrizes quanto da aplicação do ENC, bem como aquele exigido pelo CFC,
73
por meio do Exame de Suficiência para o registro profissional no CRC, elaborou-se o Quadro
11 com as diretrizes e os conteúdos de tais exames.
Diretrizes do MEC
Conteúdo do Exame de
Suficiência
Conteúdo do ENC
Língua Portuguesa Português Língua Portuguesa
Noções de Direito
Noções de Direito Público e
Privado
Noções de Direito
Noções de Ciências Sociais Conhecimentos Sociais do País
Noções de Ciências
Sociais
Ética Geral e Profissional Legislação e Ética Profissional
Ética Geral e
Profissional
Conhecimentos
Gerais
Conhecimentos Políticos do País
Administração Geral Administração Geral
Economia Conhecimentos Econômicos Economia
Direito Aplicado Direito Aplicado
Matemática e Estatística Matemática Financeira Matemática e Estatística
Contabilidade Geral Contabilidade Geral Contabilidade Geral
Teoria da Contabilidade Teoria da Contabilidade Teoria da Contabilidade
Análise das D.Fs. Análise das D.Fs.
Auditoria Contábil Auditoria Contábil Auditoria
Perícia Contábil Perícia Contábil
Administração Financeira e
Orçamento Empresarial
Administração
Financeira e Orçamento
Empresarial
Contabilidade Pública Contabilidade Pública Contabilidade Pública
Contabilidade de Custos
Conhecimentos de Formação Profissional
Contabilidade e Análise de Custos
Contabilidade Gerencial
Contabilidade e Análise
de Custos
Quadro 11: Conhecimentos exigidos pelo MEC e pelo CFC
Fonte: MEC/INEP (2003c); MEC (1992) e CFC (2003)
Nota-se que as diretrizes e os conteúdos dos exames são equivalentes, com destaque
para o fato de que o Exame de Suficiência não avalia, para fins de registro no CRC, os
conhecimentos de Administração Geral e de Administração Financeira e Orçamento
Empresarial. Já o ENC de Ciências Contábeis contém praticamente todos os conteúdos do
Exame de Suficiência, excluindo apenas conhecimentos de Perícia Contábil e Conhecimentos
Políticos. Os conhecimentos de Análise das Demonstrações Contábeis, no Exame de
Suficiência, são cobrados junto com os de Contabilidade Geral.
A importância deste quadro reside no fato de que, em termos acadêmicos, os exames
buscam, em sua essência, voluntária ou involuntariamente, medir o conhecimento adquirido
74
pelo formando e pelo bacharel em Ciências Contábeis. Não há diferenças significativas
quanto aos conteúdos dos exames.
Logo, os bons e maus resultados em tais exames refletem os conhecimentos adquiridos
durante o curso de graduação, ou seja, as causas para os resultados podem ser dimensionadas
de diversas maneiras e possuem origem única: o ensino contábil.
Na próxima seção, são mencionados alguns autores que discorrem sobre as virtudes e
deficiências dos cursos de Ciências Contábeis no Brasil.
2.7 Pesquisas Realizadas sobre o Ensino Brasileiro de Contabilidade
Alguns estudos discorrem sobre o ensino contábil com enfoques diferentes. Os
enfoques discutidos por estes estudos são:
Formação e Atuação Docente
Métodos de Ensino
Ensino de Disciplinas Específicas
Exigências do Mercado de Trabalho
O intuito de tais estudos é colaborar com o aumento da qualidade do ensino contábil,
considerando o fato de que, como afirmam Oliveira, Espíndola e Arquirusai (1999), os futuros
profissionais da área estão herdando um mundo novo que exige conscientização em relação à
valorização profissional. Por isso, devem atuar com pesquisas e atualizar-se, adquirindo
competência. É necessária, também, a prática da ética nos seus relacionamentos profissionais
e com a sociedade em geral.
75
O mundo novo a que se referem os autores pode ser entendido como o mundo de
economia globalizada, suportada por alta tecnologia, e seu rápido e constante avanço,
levando-se em conta que a sociedade está mais exigente, principalmente em relação ao
mercado de trabalho. Para Silva (1996), a conscientização em relação à valorização
profissional deve ocorrer por parte de professores, estudantes e instituições de ensino.
De um modo geral, o que se discute é o processo educacional e sua importância na
formação de pessoas capazes de não só aproveitar as oportunidades que se apresentam, mas,
também, de abrir espaços, transformando as condições sociais existentes. Nesse sentido, a
educação, segundo Tardif (2002), tornou-se, no século XX, um elemento central no processo
de desenvolvimento da sociedade moderna e, segundo Silva (1996), constitui-se num
instrumento de vital importância para o homem desempenhar suas funções na sociedade.
O consenso em relação ao papel da educação pode ainda ampliar-se nas palavras de
Schwez (1998, p. 76):
A educação, que é considerada como uma fenomenologia que procura o
desenvolvimento do ser humano, constitui necessidade fundamental para
atender às necessidades biológicas e sociais deste no transcurso de sua vida.
A Contabilidade, por sua importância já mencionada na seção 2.1.2 e, segundo Silva
(1996), por ser útil à sociedade em virtude de sua capacidade de estudar e controlar o
patrimônio alheio, permitindo a atribuição de evidências de geração de riqueza patrimonial,
insere-se no contexto das pesquisas realizadas como uma área que precisa ser bem ensinada e
aprendida e assim melhor tratada, tanto pelas IES quanto pelos próprios professores e alunos.
76
2.7.1 Formação e atuação docente
Em função da importância da qualidade da educação, que passa pela seriedade,
dedicação e compromisso assumido pelos professores na formação de bons profissionais,
Nossa (1999) realizou um estudo para identificar as possíveis deficiências do ensino contábil,
tendo concluído que as mesmas existem e devem-se à deficiente formação do corpo docente.
O problema maior, segundo o autor, é a expansão do ensino, argumentando que
aumentaram apenas as instituições, os cursos e as vagas sem a devida preocupação com a
qualidade do ensino. Complementa afirmando que jovens profissionais foram recrutados sem
nenhuma experiência docente e sem preparo para o exercício do magistério.
Para ingressar na docência do ensino superior, o professor não tem muitas
exigências legais no que se refere à titulação e à formação pedagógica (...) A
única exigência que a atual LDB faz é de que um terço do corpo docente,
pelo menos, deve ter Curso de Mestrado ou Doutorado (NOSSA, 1999, p.
76).
Porém, como visto na seção 2.4 deste estudo, tanto a autorização quanto o
reconhecimento de cursos superiores dependem da verificação in loco da Comissão de
Especialistas do MEC/INEP, que, entre outros atributos, avalia a formação do corpo docente,
no que se refere à sua qualidade, experiência e produção científica.
Tal ação do MEC/INEP deveria, pelo menos em tese, fazer com que a expansão do
ensino em si não fosse, de fato, o problema da qualidade dos cursos de Ciências Contábeis, já
que essa expansão ocorre estruturada nas normas de autorização e reconhecimento de cursos
que visam a assegurar justamente a qualidade deles. O problema poderia estar no processo de
verificação in loco do MEC, ou seja, na forma como são feitas tais avaliações.
77
Mas Nossa (1999) não traz, em sua pesquisa, um estudo mais profundo sobre em que
condições se encontram os professores nos cursos superiores em relação à experiência,
titulação
31
, produção científica, entre outros.
Outras constatações feitas pelo autor, que prejudicam o desempenho docente dizem
respeito a:
a) reduzido número de programas de mestrados e doutorados em Contabilidade e à falta
de pesquisas;
b) falta de investimentos por parte das IES;
c) processos de recrutamento e seleção de professores;
d) falta de recursos financeiros que estimulem os docentes a participarem de programas
de aperfeiçoamento, além de congressos, convenções e outros eventos.
Os dados utilizados por Nossa para diagnosticar as razões da falta de formação
adequada do corpo docente dos cursos de Ciências Contábeis, além do estudo de outras
pesquisas, foram coletados através de entrevistas com professores e profissionais de ensino,
componentes da Comissão de Especialistas de Ensino de Ciências Contábeis, vinculada ao
MEC/SESu, e o presidente do CFC.
2.7.2 Métodos de ensino
Com o objetivo de identificar os procedimentos metodológicos utilizados por quinze
professores do curso de Ciências Contábeis numa instituição na cidade de Curitiba,
Romanowsky e Beuren (2002) mencionam que os resultados da pesquisa indicam uma grande
31
O autor mostra um gráfico com a titulação dos professores de Ciências Contábeis no Brasil em 1997, baseado
nas informações que as IES enviaram para o MEC/SESu. Neste gráfico, 59% dos professores possuem títulos de
especialistas, 22% de graduação, 15% de mestrado e 4% de doutorado.
78
preocupação dos professores em integrar os alunos no processo de aprendizagem, com a
participação em atividades de pesquisas, atividades complementares (exercícios) e
participação em atividades desenvolvidas em sala de aula.
Porém, tal processo é preponderantemente conduzido pelo professor e o pensamento e
a reflexão dos alunos a respeito dos conteúdos ficam sujeitos apenas ao conhecimento e à
experiência docente. Romanowsky e Beuren (2002, p. 91) entendem que:
quanto a uma proposta em que os alunos passem da condição do ensino pelo
professor para uma opção por um ensino de qualidade, em que o aluno
elabora sua própria proposta de atuação profissional, há muito a ser feito e
aprendido.
Os mesmos autores apontam que ao contrário do ensino tradicional com aspectos
meramente formais e desvinculados da realidade, o ensino de qualidade exige uma
significação social e comprometimento com o presente. Mais ainda, no ensino de qualidade,
as experiências dos alunos são reelaboradas de forma crítica e isso presume reflexão e
pensamento crítico por parte dos próprios alunos.
Essa postura do ensino e, principalmente, do professor, encontra barreiras nas próprias
deficiências encontradas na formação do corpo docente, conforme pesquisa de Nossa (1999),
descrita na seção 2.7.1.
Para Romanowsky e Beuren (2002, p. 91)
uma proposta que privilegie estes pressupostos não se restringe à aplicação
dos conhecimentos teóricos na prática profissional. O desafio é, de fato,
além da aplicação, o que requer condições de trabalho para que os
professores dos cursos de ensino superior tenham espaço para realizar
reflexão sobre sua prática de ensino para uma nova direção de melhoria e
qualidade.
79
A forma de compreensão dos conteúdos preferida pelos professores é a formulação de
problemáticas do exercício profissional, e as formas preferidas de avaliação utilizadas são
trabalhos de pesquisas, provas e testes. Segundo Romanowsky e Beuren (2002), há
preocupação dos professores com uma formação técnica, fundada em problemáticas do
cotidiano e com o fato de que a avaliação é vista como final da aprendizagem e não como
diagnóstica, durante as aulas.
Os autores concluem que deve haver co-participação no processo de ensino-
aprendizagem entre alunos e professores. Os elementos norteadores da melhoria do ensino-
aprendizagem devem ter como ponto de partida o conhecimento básico dos alunos, a prática
como referência no ensino, o trabalho e a pesquisa em parceria.
Em outra pesquisa, corroborando com as conclusões de Romanowsky e Beuren, o
método do caso é apresentado “como um instrumento educacional, permitindo ao estudante a
postura de um tomador de decisões ou solucionador de problemas” (SOUZA; MARION,
2000, p. 19).
Os autores justificam o uso do método do caso concluindo que a ênfase de um método
de ensino, ou pedagogia, que une a sala de aula à realidade do mundo dos negócios, é um
instrumento poderoso no ensino da Contabilidade.
Infere-se, portanto, que não faltam pesquisas que apontam para métodos que podem
contribuir para a melhoria do ensino contábil. Também não faltam críticas aos métodos
tradicionais de ensino, como a de Souza e Marion (2000, p. 10):
Temos defendido exaustivamente a necessidade de se repensar a
metodologia de ensino da Contabilidade. Há forte tendência em criticar o
80
estilo do ensino atual da Contabilidade, baseado nas preleções de professores
como fonte primária do ensino.
Os autores referem-se ao ensino baseado na repetição de conteúdos de livros em aulas
expositivas em que o aluno participa de forma passiva no processo de aprendizagem.
Souza e Marion (2000) baseiam seu estudo, também, no fato de que a participação
ativa e o envolvimento dos alunos através da busca pelo conhecimento, através de pesquisas e
participações em aula, tendo o professor como um facilitador do processo de construção do
conhecimento, tornam o ensino mais qualificado e, como conseqüência, formam profissionais
mais acostumados com a dinâmica do mercado de trabalho.
O uso de métodos eficazes de ensino é propiciado por meio de uma formação docente
qualificada e comprometida com o processo educacional. Tal comprometimento passa pela
dedicação dos professores com o curso, tendo tempo e recursos para buscar a melhoria dos
métodos de ensino, a realização de pesquisas e identificação de fatos reais que podem ser
utilizados em sala de aula para melhorar o aprendizado dos alunos.
Vale destacar, no entanto, que tal comprometimento é prejudicado tendo em vista
alguns fatores na atuação docente, entre eles, o regime de trabalho. Dos quinze professores
entrevistados, na pesquisa de Romanowsky e Beuren (2002), apenas três possuem tempo
integral, sendo os demais horistas.
Além disso, a formação acadêmica do corpo docente foi apontada por Romanowsky e
Beuren como um fator preocupante. Segundo os autores:
esta situação implica uma possível interferência quanto à possibilidade de
formação docente nas faculdades isoladas. Nestas instituições, a maioria não
possui mestrado ou doutorado e, possivelmente, não apresenta condições de
81
realizar uma formação adequada (...).(ROMANOWSKY E BEUREN, 2002,
p. 87)
Os próprios autores apontam, em sua pesquisa, a constatação de uma irregularidade.
Do total dos professores do curso um era mestre em Contabilidade e outro estava, na época,
em fase de conclusão. Configura-se, portanto, um desrespeito a Lei nº 9.394/96 que determina
que um terço do corpo docente tenha titulação acadêmica de mestrado ou doutorado. Os
professores entrevistados ministravam disciplinas específicas de Contabilidade.
2.7.3 Ensino de disciplinas específicas
Uma das preocupações de alguns autores em relação ao curso de Ciências Contábeis é
quanto à motivação dos alunos. Daí a busca por novos métodos de ensino que podem
apresentar a Contabilidade de modo a atrair o interesse dos estudantes.
Molina (2001) entende a escrituração como o terreno áspero da Contabilidade, que
mais cedo ou mais tarde deve ser ensinada. Porém, para motivar os alunos, o ensino da
disciplina de Contabilidade Geral deve partir dos relatórios contábeis para a escrituração.
No mesmo sentido, Sá (1999) afirma ser a escrituração uma prática básica, e, se não
abordada de forma apropriada pode conduzir o aluno a pensar que a profissão se resume a
isso.
Em pesquisa realizada em 133 cursos de Ciências Contábeis no Brasil, Theóphilo et al
(2000) atestaram a existência de grande diversidade de tratamentos, por parte das faculdades,
em relação ao desenvolvimento da disciplina de Teoria da Contabilidade.
82
A maior parte dos cursos oferece a disciplina nos dois primeiros anos do curso, sendo
quase equivalente o número de cursos que oferecem a disciplina nos dois últimos anos do
curso. Na maioria dos cursos não há pré-requisitos para essa disciplina e praticamente metade
dos cursos possui carga horária menor que 60 horas.
Quanto ao conteúdo programático, de acordo com a pesquisa, assuntos como
escrituração contábil, procedimentos contábeis e planos de contas são tratados na disciplina de
Teoria da Contabilidade. Essa pesquisa apurou que em 69 cursos do total de 133, a maior
dificuldade para ministrar a disciplina é a pouca bibliografia existente e em 39 cursos, a falta
de interesse dos alunos.
No entanto, em 22 cursos pesquisados, o fato de o professor da disciplina não a ter
cursado na sua formação acadêmica é a maior dificuldade encontrada para ministrar as aulas.
Os autores concluem que a maior inadequação está em oferecer a disciplina nos dois
primeiros anos do curso, pelo fato de o corpo discente não estar amadurecido o bastante para
o necessário aproveitamento do seu conteúdo. Nesse caso, o que ocorre é apenas uma
introdução aos conhecimentos contábeis, desprezando-se o verdadeiro valor da Teoria da
Contabilidade.
Em outra pesquisa realizada sobre o ensino da disciplina de Contabilidade de Custos,
Coelho, Chagas e Nossa (1998) concluíram que os conteúdos programáticos dessa disciplina
ministrados em 92 cursos de Ciências Contábeis de 17 estados diferentes são
significativamente iguais.
Coelho, Chagas e Nossa (1998, p. 77) afirmam o seguinte:
83
Analisando-se os programas de ensino, constata-se uma forte concentração
de conteúdos voltados para o reconhecimento, mensuração e comunicação
de custos industriais, especialmente de grandes empresas, em detrimento de
outros segmentos, tais como o setor público, as empresas de prestação de
serviços, agropecuárias, etc., e pouca ou nenhuma referência aos custos das
pequenas e médias empresas.
É possível perceber que o ensino da disciplina de Contabilidade de Custos prepara o
aluno não só para trabalhar em indústrias mas em grandes indústrias. Não são considerados os
aspectos regionais onde estão inseridos os cursos.
Sem apresentar uma formação adequada em Teoria da Contabilidade e com um
conhecimento apenas específico de Contabilidade de Custos, o aluno certamente encontrará
dificuldades para entrar no mercado de trabalho e manter-se nele. O reflexo disto pode estar
descrito nas palavras de Coelho, Chagas e Nossa (1998, p. 78)
Muitas práticas contábeis realmente ignoram os avanços e as mudanças da
economia, da sociedade e dos processos internos da empresa. Entretanto,
seria injusto não reconhecer a riqueza conceitual e filosófica da
contabilidade e os esforços acadêmicos voltados à busca de soluções para as
novas demandas.
Os autores referem-se ao fato de que, com um ensino deficiente, as organizações são
privadas de toda a capacidade que tem a Contabilidade, no que se refere a sua contribuição
para a gestão empresarial. Tal contribuição poderia estar refletida na utilização de práticas de
gestão como aquelas mencionadas no segundo parágrafo da seção 2.1 deste estudo. Práticas
essas mais modernas e mais associadas aos avanços e às mudanças acima citadas e
referenciadas por Coelho, Chagas e Nossa (1998).
2.7.4 Exigências do mercado de trabalho
São muitas as opiniões a respeito das exigências do mercado de trabalho para o
profissional contábil. Para Souza e Marion (2000), o exercício da profissão contábil tem
84
passado e ainda passará por muitas transformações, principalmente em função do avanço da
tecnologia da informação.
De fato, tal avanço ocorre em um ambiente competitivo entre as empresas e em
mercados mais abrangentes, onde a informação é, sem dúvida, uma importante aliada do
processo gerencial das organizações. Gerar informação é o objetivo da Contabilidade e,
portanto, nem a área e nem seus profissionais podem estar fora deste contexto.
Nesse sentido, conforme Silva (1996), a educação deve ser vista como um fator
positivo ao progresso do país e, por essa razão, toda a sociedade é responsável pela busca de
melhoria da qualidade de ensino com o objetivo de formar profissionais que atendam às
necessidades do mercado de trabalho.
Coelho (2001) realizou uma pesquisa em que procurou conhecer as opiniões de
profissionais de 64 empresas e de 13 profissionais de ensino de cursos superiores de Ciências
Contábeis da cidade do Rio de Janeiro, a respeito da ênfase que deve ser dada pelos cursos na
formação de profissionais que atendam às exigências do mercado de trabalho.
A pesquisa encontrou convergências e divergências de opiniões entre os grupos. As
convergências foram as seguintes:
o profissional contábil deve ter uma postura correta e ter conhecimento de atividades
ligadas à contabilidade geral e à legislação fiscal e tributária. Entende-se por postura
correta, a ética e a responsabilidade para com a profissão e para com os clientes que
demandam os serviços contábeis;
os cursos de Ciências Contábeis da cidade do Rio de Janeiro, atualmente, não
preparam adequadamente os alunos para o mercado de trabalho;
85
legislação tributária, direito e línguas devem ser conhecimentos enfatizados nos cursos
de Ciências Contábeis;
o contador, atualmente, participa mais do processo de gestão; deixou de ser um mero
escriturador.
Em relação ao último item, as opiniões convergem no sentido de que reconhecem,
ambos os grupos, acadêmicos e profissionais, que o profissional contábil atualmente participa
mais do processo de gestão. Porém, essa participação está submetida a diferentes enfoques em
ambos os grupos. Tais enfoques ficam mais evidentes quando descritas as divergências de
opiniões entre os grupos, que foram as seguintes:
na opinião dos acadêmicos, a principal atribuição requerida dos profissionais contábeis
no mercado de trabalho atual é a gestão empresarial. Na opinião dos profissionais de
empresas, as duas principais atribuições requeridas pelo mercado de trabalho atual são:
contabilidade geral e legislação fiscal e tributária;
os profissionais das empresas pensam ser papel dos cursos de Ciências Contábeis dar
mais ênfase ao conhecimento de administração;
os profissionais de ensino pensam ser papel dos cursos de Ciências Contábeis dar mais
ênfase ao conhecimento de matemática, estatística e economia.
Embora a pesquisa não tenha se aprofundado nas convergências e nas divergências, o
contato com o mercado é imprescindível para a administração dos cursos de Ciências
Contábeis, sem o qual, como afirma Coelho (2001), seus currículos podem estar enfatizando
conhecimentos e competências às quais o mercado de trabalho dá pouca ou nenhuma
importância.
O referencial teórico construído até aqui leva em consideração o fato de que os
problemas mencionados no ensino contábil, através das pesquisas realizadas, possuem causas
86
que, pelo menos em tese, deveriam ser evitadas em função do processo de autorização e
reconhecimento de cursos realizados pelo MEC/INEP.
Isso conduz a questionamentos sobre como o ensino da Ciência Contábil se
desenvolve no país. Tais questionamentos podem ter vertentes diferentes, dependendo do
enfoque que se queira dar ao tema.
Com base no enfoque da avaliação de cursos realizada pelo MEC, e na avaliação dos
profissionais formados, realizada pelo CFC, questiona-se como poderiam ser formatados,
analisados e interpretados os resultados desses exames como indicadores de qualidade do
referido ensino.
No capítulo seguinte, descreve-se o Método de Pesquisa utilizado para dar suporte à
abordagem do tema deste estudo em sua perspectiva prática.
3 MÉTODO DE PESQUISA
3.1 Introdução
Neste capítulo serão descritos os métodos de pesquisa que foram utilizados neste
estudo. A pesquisa, segundo Cervo e Bervian (2002, p. 63) “é uma atividade voltada para a
solução de problemas teóricos ou práticos com o emprego de processos científicos”. Tais
processos são identificados nas próximas seções, envolvendo:
a natureza da pesquisa;
a forma de abordagem do problema;
a classificação quanto aos seus objetivos;
os procedimentos técnicos que foram utilizados.
Também será caracterizada a amostra utilizada e descrita a forma como os dados
foram coletados e tratados. Finalmente, serão tratadas as limitações do método de pesquisa
adotado.
3.2 Classificação da Pesquisa
3.2.1 Quanto à natureza
Existem duas classificações possíveis para a pesquisa quanto à sua natureza: pesquisa
pura e pesquisa aplicada. Segundo Cervo e Bervian (2002, p. 65), “a pesquisa pura não tem
88
aplicação prática e nela o pesquisador tem como meta o saber, buscando satisfazer a uma
necessidade intelectual pelo conhecimento”.
A pesquisa aplicada preocupa-se em gerar conhecimentos para aplicação prática em
soluções de problemas específicos e, nela, segundo Cervo e Bervian (2002, p. 65), “o
investigador é movido pela necessidade de contribuir para fins práticos mais ou menos
imediatos”.
Dado que os resultados e as conclusões deste estudo podem direcionar ações práticas
na construção do conhecimento a respeito de um objeto de estudo maior que é o ensino
contábil, esta pesquisa é classificada como de natureza aplicada.
3.2.2 Quanto à forma de abordagem do problema
Considerando os dados e as informações obtidos nas bases de dados do MEC e do
CFC, e da entrevista que foi realizada por meio da aplicação de questionário com perguntas
fechadas e abertas, a pesquisa é quantitativa, pois ela traduz em números as respostas
convergentes e divergentes dos entrevistados a respeito da qualidade do ensino superior
contábil.
É quantitativa, também, porque foram tratados estatisticamente, de forma descritiva,
os dados e os resultados do Exame de Suficiência do CFC e do ENC de Ciências Contábeis do
MEC. Tem também uma abordagem qualitativa, pois foram interpretadas as opiniões dos
entrevistados que não podem ser mensuradas, por se tratarem de opiniões abertas e subjetivas
a respeito do ensino contábil.
89
Em resumo, trata-se de uma pesquisa quali-quanti, tendo em vista os aspectos
qualitativos e quantitativos envolvidos na sua elaboração.
3.2.3 Quanto aos objetivos
Quanto aos seus objetivos a pesquisa é descritiva. Segundo Cervo e Bervian (2002, p.
66), a pesquisa descritiva “busca conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na
vida social, política e econômica e demais aspectos do comportamento humano (...)”.
A pesquisa descreve baseada nas informações coletadas, a qualidade com que os
cursos de Ciências Contábeis são ministrados, ou seja, busca descrever o comportamento de
uma atividade social baseada nas opiniões e dados obtidos dos agentes que interferem direta
ou indiretamente em tal comportamento.
As pesquisas descritivas, segundo Gil (2002), também têm como objetivo básico
descrever as características de populações e de fenômenos. Porém, algumas vão além da
simples identificação da existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a
natureza dessa relação, aproximando-se das pesquisas exploratórias.
De fato, como o objetivo é aferir a qualidade com que o ensino contábil é oferecido,
baseado nas variáveis dos resultados dos exames e nas opiniões dos coordenadores dos
cursos, pode-se dizer que ela também pode ser vista como exploratória, no sentido de estar
buscando identificar a natureza dos resultados dos exames, ou seja, os seus significados,
baseado no que pensam aqueles mais envolvidos com a realidade do ensino contábil.
90
3.2.4 Quanto aos procedimentos técnicos
Os procedimentos técnicos de coleta de dados que foram utilizados na pesquisa são os
de pesquisa documental, levantamento e pesquisa de campo.
A pesquisa documental, segundo Godoy (1995), “consiste no exame de materiais de
natureza diversa que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que podem ser
reexaminados, buscando-se interpretações novas e/ou complementares”.
Para Gil (2002), o levantamento busca a precisão estatística e a pesquisa de campo
busca mais a profundidade do que a precisão.
Desta forma, foram duas as fases desta pesquisa, sendo a primeira a que utilizou a
pesquisa documental e o levantamento de dados dos resultados do ENC de Ciências Contábeis
junto à base de dados do INEP e dos resultados do Exame de Suficiência junto à base de
dados do CFC.
Em relação a estes últimos, os resultados gerais, em nível de Brasil, foram coletados
na base de dados do CFC, e os resultados dos cursos da amostra foram coletados junto ao
CRCPR, que atendeu à solicitação por escrito para que fornecesse tais resultados.
Na segunda fase foi utilizada a pesquisa de campo, que buscou a opinião dos
coordenadores dos cursos de Ciências Contábeis. Para Cervo e Bervian (2002), na pesquisa de
opinião procura-se saber das pessoas que têm relação com o assunto discutido, suas atitudes,
pontos de vista e preferências.
91
3.3 População e Amostra
3.3.1 População
O ambiente no qual foi desenvolvida esta pesquisa é o Estado do Paraná, onde, de
acordo com a base de dados do INEP, existem sessenta e cinco cursos de Ciências
Contábeis
32
.
Conforme a Tabela 3, estes cursos são majoritariamente oferecidos nas regiões Norte e
Leste, correspondendo a 71% do total.
Tabela 3: Cursos existentes no estado do Paraná
Região Quantidade de Cursos %
Norte 22 34
Sul 9 14
Leste 24 37
Oeste 10 15
Total 65 100
Fonte: MEC/INEP (2004a)
A escolha da região Norte para a realização da pesquisa justifica-se: (1) por sua
conveniência; e (2) por ser a segunda região com maior número de cursos de Ciências
Contábeis do Estado.
Os vinte e dois cursos de graduação em Ciências Contábeis da região norte do estado
do Paraná estão distribuídos em quatorze cidades diferentes. As cidades de Londrina com seis
e Maringá com três, são as que possuem maior número de cursos.
Destes vinte e dois cursos, dezesseis são reconhecidos pelo MEC, conforme
demonstrado na Tabela 4.
32
A consulta à base de dados do INEP foi realizada em abril de 2004.
92
Tabela 4: Cursos existentes na região norte do Paraná
Cidades Quantidade de Cursos Cursos Reconhecidos
Apucarana 2 1
Campo Mourão 1 1
Cianorte 1 1
Cornélio Procópio 1 1
Ivaiporã 1 1
Jandaia do Sul 1 1
Londrina 6 3
Mandaguari 1 1
Maringá 3 2
Paranavaí 1 1
Rolândia 1 1
Santo Antônio da Platina 1 1
Sarandi 1 0
Umuarama 1 1
Total de Cursos 22 16
Fonte: MEC/INEP (2004a)
Considerando a delimitação deste estudo, onde se descreve que, em virtude dos seus
objetivos gerais e específicos irá considerar apenas os cursos devidamente autorizados e
reconhecidos pelo MEC, embora a população total de cursos na região norte seja formada por
vinte e dois cursos, a amostra será composta por dezesseis cursos que atendem aos critérios
mencionados de autorização e reconhecimento.
3.3.2 Caracterização da amostra
Busca-se, nesta parte do estudo, identificar as características dos cursos de Ciências
Contábeis que fizeram parte da amostra da pesquisa. Desta forma, optou-se por descrever um
perfil que pudesse tornar evidente e claro com que tipo de organizações de ensino superior
esta pesquisa se envolveu, ou seja, em quais instituições são oferecidos os cursos, há quanto
tempo são oferecidos, entre outros aspectos.
Os dezesseis cursos que fazem parte da amostra estão relacionados na Tabela 5 que os
demonstram ordenados pela sua data de autorização junto ao MEC, mostrando o nome da IES
93
que oferece o curso, bem como a sua categoria administrativa, a cidade onde se localiza, além
das próprias datas de autorização e reconhecimento que foram concedidas pelo MEC/INEP.
Tabela 5: Amostra da pesquisa
Instituição Tipo Cidade
Data
Autorização
Data
Reconhecimen
to
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de
Mandaguari
Pública Mandaguari 18/06/1966 24/05/1991
Universidade Estadual de Londrina Pública Londrina 26/10/1971 27/09/1976
Universidade Estadual de Maringá Pública Maringá 30/10/1972 21/09/1976
Faculdade Estadual de Ciências
Econômicas de Apucarana
Pública Apucarana 08/02/1974 15/02/1979
Faculdade Paranaense Privada Rolandia 09/05/1974 13/12/1976
Faculdade Estadual de Educação Ciências e
Letras de Paranavaí
Pública Paranavaí 24/05/1976 28/05/1980
Faculdade Estadual de Ciências e Letras de
Campo Mourão
Pública Campo Mourão 15/02/1979 14/10/1982
Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e
Letras de Cornélio Procópio
Pública
Cornélio
Procópio
16/02/1981 15/09/1983
Universidade Paranaense Privada Umuarama 20/03/1981 03/08/1983
Universidade Estadual de Maringá Pública Cianorte 16/07/1985 24/05/1991
Centro Universitário de Maringá Privada Maringá 12/04/1994 03/08/1999
Universidade Norte do Paraná Privada Londrina 02/12/1994 07/11/2001
Faculdades Integradas do Vale do Ivaí Privada Ivaiporã 18/11/1995 10/04/2002
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de
Jandaia do Sul
Privada Jandaia do Sul 16/02/1998 11/03/2002
Centro Universitário Filadélfia Privada Londrina 16/12/1998 17/07/2003
Faculdade do Norte Pioneiro Privada
Santo Antonio
da Platina
01/07/1999 24/08/2004
Fonte: MEC/INEP (2004a)
Dos dezesseis cursos que foram pesquisados, 50% são de instituições privadas de
ensino e 50% são de instituições públicas de ensino. Os cursos oferecem em conjunto um total
de 1.285 vagas por ano. Todos os cursos são anuais e noturnos, sendo que em apenas dois
deles o curso também é oferecido no período diurno. A média da carga horária dos cursos é de
3.089 horas, dez deles têm duração de quatro anos e os outros seis têm duração de cinco anos.
Os cursos têm em média vinte anos de existência e estão reconhecidos em média há
quinze anos. Para uma melhor visualização da amostra quanto ao tempo de existência dos
94
cursos na região, elaborou-se a Tabela 6. Para a visualização do tempo em que estes cursos
estão reconhecidos pelo MEC, elaborou-se a Tabela 7.
Tabela 6: Tempo de existência dos cursos da amostra
Tempo de existência Quantidade de Cursos Representatividade
De 1 a 10 anos 6 38%
De 11 a 20 anos 1 6%
Acima de 21 anos 9 56%
Total 16 100%
Fonte: MEC/INEP (2004a)
Tabela 7: Tempo de reconhecimento dos cursos da amostra
Tempo de reconhecimento Quantidade de Cursos Representatividade
De 1 a 10 anos 6 38%
De 11 a 20 anos 2 12%
Acima de 21 anos 8 50%
Total 16 100%
Fonte: MEC/INEP (2004a)
Os seis cursos que têm o tempo de existência e reconhecimento do MEC/INEP de 1 a
10 anos são de instituições privadas de ensino. Dos cursos que têm tempo de existência e de
reconhecimento do MEC/INEP acima de 21 anos, seis são de instituições públicas.
Nota-se que houve uma predominante abertura de cursos de Ciências Contábeis nas
instituições públicas nas décadas de 70 e 80 e, a partir da década de 90, a predominância foi
de abertura de cursos em instituições privadas. Este fato está em consonância com o que foi
abordado no primeiro capítulo deste estudo a respeito do aumento considerável de instituições
privadas de ensino superior nos últimos anos em todas as áreas do conhecimento.
95
3.4 Coleta de Dados
A obtenção dos dados ocorreu em duas fases distintas. Primeiramente, foram obtidos
os dados dos resultados do ENC de Ciências Contábeis junto à base de dados do INEP,
disponível na internet na home-page do MEC. Os seguintes dados foram coletados:
conceitos obtidos por curso nos exames de 2002 e 2003;
número de alunos por curso participante dos exames de 2002 e 2003;
perfil dos cursos, no que se refere à formação acadêmica e regime de trabalho dos
professores.
Foram coletados os conceitos de todos os cursos de Ciências Contábeis do Brasil que
participaram dos exames em 2002 e 2003. Assim, foi possível ter um resultado global da
distribuição de conceitos obtidos pelos cursos e, também, foi possível comparar tal
distribuição, em nível de Brasil, com a distribuição de conceitos obtidos pelos cursos do
estado do Paraná e pelos cursos da amostra.
Foram seguidos os mesmos mecanismos de comparação com os outros dados obtidos
dos exames com o objetivo de contribuir para a busca da solução do problema formulado
nesta pesquisa.
Ainda nesta fase da coleta de dados, foram coletados os dados dos resultados do
Exame de Suficiência junto à base de dados do CFC, que os disponibiliza desde a primeira
edição do exame em 2000. Como estes dados não apresentavam os resultados por curso, foi
enviada uma solicitação formal para o CRCPR em 09/07/2004, solicitando números de
aprovados e reprovados no exame por curso no estado do Paraná. Tal pedido foi concedido
em 16.07.2004.
96
Desta forma, os seguintes dados do Exame de Suficiência foram coletados:
número de candidatos ao registro que participaram do exame - Brasil;
número de candidatos aprovados e reprovados no exame - Brasil.
número de candidatos ao registro que participaram do exame por curso Paraná.
número de candidatos aprovados e reprovados no exame por curso - Paraná.
Os participantes do Exame de Suficiência são bacharéis formados por tais cursos e a
sua aprovação ou reprovação indica a sua preparação para o exercício profissional. Interpretar
os resultados deste exame e aferir a qualidade do ensino são objetivos a serem alcançados
nesta pesquisa.
Na segunda fase de coleta de dados, com base nos dados obtidos do ENC de Ciências
Contábeis e do Exame de Suficiência, foi elaborado um questionário, com perguntas fechadas
e abertas com o objetivo de conhecer a opinião dos coordenadores dos cursos que fazem parte
da amostra desta pesquisa sobre os resultados dos exames.
O questionário, segundo Gil (2002), é um dos instrumentos mais utilizados para a
coleta de dados e consiste basicamente em traduzir os objetivos específicos da pesquisa em
itens bem redigidos. O objetivo foi identificar, na opinião dos coordenadores entrevistados, as
virtudes e os problemas dos cursos e o que pode levar os alunos a atingir os diversos níveis de
resultados no ENC e serem aprovados ou reprovados no Exame de Suficiência.
A premissa aqui é a de que os coordenadores, ao longo do curso, sabem: 1) como o
curso foi oferecido para os alunos; 2) o que faltou como requisito para atingir um nível
satisfatório de qualidade e; 3) aquilo que de fato foi oferecido com este intuito.
97
Também assume-se que os coordenadores dos cursos são capazes de avaliar o que os
resultados de tais exames refletem sobre a prática do ensino contábil. São eles capazes até,
antes mesmo de sair os resultados, prevê-los com base no conhecimento que têm dos alunos e
dos cursos.
Para alcançar um número satisfatório de retorno dos questionários enviados aos
coordenadores, quatorze deles foram aplicados por meio de entrevistas pessoais, e dois foram
enviados pelo correio. A opção da entrevista pessoal permite ao entrevistador suprimir
eventuais dúvidas a respeito das perguntas do questionário diretamente, bem como conseguir
esclarecimentos adicionais a respeito das respostas, principalmente nas questões abertas.
O questionário foi elaborado após a análise dos resultados dos exames, em virtude de
que sendo estes conhecidos, poderiam ser feitos direcionamentos mais objetivos e estratégicos
para a obtenção de respostas que efetivamente pudessem contribuir para a elaboração deste
estudo.
3.5 Tratamento dos Dados
Os dados, tanto dos resultados dos exames quanto dos resultados dos questionários,
foram tratados utilizando-se os conceitos da Estatística Básica: médias relativas e absolutas.
Tais técnicas foram utilizadas tanto para coletar quanto para interpretar os dados do ENC, já
que estes trazem resultados utilizando a estatística básica. O tratamento dos dados foi feito
com o apoio do programa Excel da Microsoft que permite a geração de tabelas com
tratamentos estatísticos.
As questões abertas do questionário foram tratadas apenas de forma descritiva,
qualitativamente, ou seja, foram compostas as respostas por assunto com a indicação apenas
98
da freqüência com que cada resposta aparece no questionário e destacadas aquelas mais
esclarecedoras. Tal procedimento almejou tanto à interpretação do assunto abordado na
questão quanto a possibilidade de um maior aproveitamento das questões para a consecução
dos objetivos da pesquisa.
3.6 Limitações do Método
As duas fases desta pesquisa utilizaram a pesquisa documental, o levantamento e a
pesquisa de campo. Em relação às duas últimas técnicas, segundo Gil (2002), nas pesquisas
descritivas, o levantamento tem como objetivo descrever com precisão as características de
populações e fenômenos que conduzem a resultados de natureza quantitativa. No estudo de
campo, o objetivo maior é com a profundidade e não com a precisão, por isso utilizam-se
entrevistas e depoimentos.
Nesta pesquisa, a precisão ocorre no levantamento junto à base de dados do INEP e do
CFC e junto aos dados fornecidos pelo CRCPR. Na pesquisa de campo houve uma
profundidade maior em função de poder interpretar os resultados e buscar as opiniões dos
coordenadores dos cursos sobre os mesmos.
Porém, não foi possível aprofundar-se nas causas mais analíticas do nível de qualidade
de ensino oferecido nos cursos de Ciências Contábeis, pois, para isso, ter-se-ia que utilizar
parâmetros mais precisos e específicos na identificação de como os cursos são oferecidos, em
termos de estrutura administrativa e pedagógica, bem como do perfil dos alunos.
Também se restringe esta pesquisa à opinião dos coordenadores dos cursos. Tem-se
aqui uma das principais limitações do método utilizado, tendo em vista a não consideração de
professores, alunos e profissionais da área contábil.
99
A pesquisa trata dos cursos da região norte do estado do Paraná, não podendo os seus
resultados ser extrapolados nem para o universo de cursos de Ciências Contábeis no estado do
Paraná, e, nem para os cursos existentes no país. Os cursos oferecidos na região norte do
Paraná e que fazem parte da amostra desta pesquisa representam 34% do total dos cursos do
estado e 3% dos cursos existentes no Brasil.
100
4 RESULTADOS DA PESQUISA
Neste capítulo são apresentados os resultados da pesquisa. Nela, como descrito na
seção 3.4 deste estudo, os dados foram coletados em duas fases. Na primeira fase foram
coletados os dados dos resultados do Exame de Suficiência do CFC e do ENC do MEC. Na
segunda fase, foi aplicado um questionário com o objetivo de conhecer, em relação aos
resultados dos dois exames, a opinião dos coordenadores dos cursos que fazem parte da
amostra.
Os resultados da pesquisa são apresentados na seguinte ordem:
resultados coletados do Exame de Suficiência;
resultados coletados do ENC;
resultados coletados da aplicação do questionário
4.1 Resultados Coletados do Exame de Suficiência
O Exame de Suficiência vem sendo aplicado no Brasil desde o ano 2000. Sua primeira
edição foi realizada em 26 de março desse mesmo ano. Os resultados deste exame, coletados
nesta pesquisa junto à base de dados do CFC e dos dados fornecidos pelo CRCPR,
compreendem as nove primeiras edições realizadas entre o período de março de 2000 a março
de 2004.
101
As datas das realizações das edições do exame são demonstradas no Quadro 12.
Edições Data da Realização do Exame
1ª edição 26 de Março de 2000
2ª edição 24 de Setembro de 2000
3ª edição 25 de Março de 2001
4ª edição 30 de Setembro de 2001
5ª edição 14 de Abril de 2002
6ª edição 29 de Setembro de 2002
7ª edição 30 de Março de 2003
8ª edição 28 de Setembro de 2003
9ª edição 28 de Março de 2004
Quadro 12: Data das realizações das nove edições do Exame de Suficiência
Fonte: CRCPR (2004)
4.1.1 Resultados do Exame de Suficiência no Brasil
O Exame de Suficiência é aplicado em todas as vinte e sete Unidades da Federação no
mesmo dia e no mesmo horário. Os resultados divulgados pelo CFC evidenciam, em cada
edição do exame, o número de candidatos inscritos e ausentes no dia do exame, além do
número e do índice percentual de candidatos aprovados e reprovados, tanto dos bacharéis
como dos técnicos em Contabilidade. Todos os resultados são evidenciados por Unidade da
Federação.
Na Tabela 8 são demonstrados os resultados somados de todas as edições do exame.
Tais resultados são apresentados por Unidade da Federação obedecendo-se a ordem
alfabética. O número de candidatos participantes do exame é a diferença entre o número de
candidatos inscritos e o número de candidatos ausentes no dia do exame, ou seja, são aqueles
que efetivamente realizaram a prova.
Nesta Tabela, em função dos motivos expostos no item 1.7 sobre a delimitação deste
estudo, não são apresentados os resultados dos candidatos ao registro de técnico em
Contabilidade.
102
Tabela 8: Resultados gerais do Exame de Suficiência por estado
U.F. Participantes Aprovados % Reprovados %
AC 37 13 35 24 65
AL 662 421 64 241 36
AM 1.107 585 53 522 47
AP 275 170 62 105 38
BA 2.852 1.942 68 910 32
CE 1.438 1.043 73 395 27
DF 2.670 1.708 64 962 36
ES 2.157 1.174 54 983 46
GO 1.824 843 46 981 54
MA 840 538 64 302 36
MG 7.116 4.655 65 2.461 35
MS 1.406 569 40 837 60
MT 1.506 725 48 781 52
PA 1.699 929 55 770 45
PB 1.182 645 55 537 45
PE 1.662 1.110 67 552 33
PI 1.045 638 61 407 39
PR 5.886 3.466 59 2.420 41
RJ 8.073 4.760 59 3.313 41
RN 919 547 60 372 40
RO 689 345 50 344 50
RR 176 102 58 74 42
RS 5.434 3.705 68 1.729 32
SC 3.897 2.391 61 1.506 39
SE 484 413 85 71 15
SP 14.773 8.166 55 6.607 45
TO 475 291 61 184 39
Total 70.284 41.894 60 28.390 40
Fonte: CFC (2004a)
Os estados do Sergipe, do Ceara, da Bahia, do Rio Grande do Sul e de Pernambuco
são os que possuem maiores índices de aprovação neste exame. Porém, os estados de São
Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Paraná e do Rio Grande do Sul são os estados
que possuem maior número de participantes no exame. Percebe-se que o Rio Grande do Sul
está entre os estados com maior número de participantes e com maiores índices de aprovação.
A Tabela 9 demonstra a evolução do número de participantes no exame, bem como, a
evolução do número e do índice percentual de candidatos aprovados e reprovados. Os
103
resultados são gerais e contemplam todas as Unidades da Federação em todas as edições do
exame.
Tabela 9: Resultados gerais dos exames no Brasil
Fonte: CFC (2004a)
Participaram das edições do Exame de Suficiência 70.284 candidatos ao registro nos
CRCs. Destes, 60% obtiveram êxito nos exames e foram aprovados e, 40% não conseguiram
aprovação.
A primeira edição do exame, que contou com o menor número de participantes de
todas as edições, tem o melhor índice de aprovação (88%). Na quinta edição, que contou com
o maior número de participantes de todas as edições, este índice caiu para 59%.
Nos dois últimos exames, o número de aprovados e reprovados é quase o mesmo
(cerca de 50%), ou seja, de todos os candidatos que participaram destes dois exames,
aproximadamente metade foi aprovada e metade foi reprovada.
4.1.2 Resultados do Exame de Suficiência no Paraná
Os resultados específicos do estado do Paraná são apresentados na Tabela 10. O
número de participantes do estado nas nove edições do exame (5.886) representa 8% do total
de participantes no Brasil.
Edições Participantes Aprovados % Reprovados %
1.547 1.358 88 189 12
4.025 2.563 64 1.462 36
8.120 5.991 74 2.129 26
8.132 4.866 60 3.266 40
11.425 6.742 59 4.683 41
10.015 5.079 51 4.936 49
10.911 7.202 66 3.709 34
8.916 4.488 50 4.428 50
7.193 3.605 50 3.588 50
Total 70.284 41.894 60 28.390 40
104
Tabela 10: Resultados gerais dos exames no Paraná
Fonte: CFC (2004a)
A tendência de queda do número de candidatos aprovados e, consequentemente, do
aumento do número de candidatos reprovados no estado do Paraná é quase a mesma vista em
relação ao Brasil. O estado do Paraná é o quarto estado em termos de número de participantes,
somadas todas as edições, ficando atrás dos estados de São Paulo (14.773), Rio de Janeiro
(8.073) e Minas Gerais (7.116). Neste item, o estado do Rio Grande do Sul (5.434) é o quinto
estado.
Dos cincos estados citados que tiveram maior número de participantes em todas as
edições do exame, o estado do Paraná é o quarto em termos de índice de aprovação no exame
(59%) e segundo em termos de índice de reprovação (41%)
33
.
4.1.3 Resultados do Exame de Suficiência da Amostra
A amostra desta pesquisa é formada por dezesseis cursos de graduação em Ciências
Contábeis. Deste total, oito são oferecidos em instituições públicas e oito em instituições
privadas. Os resultados do exame de todos os cursos da amostra estão demonstrados na
Tabela 11.
33
Dentre estes cinco estados, o estado do Rio Grande do Sul possui maior índice de aprovação (68%) e o menor
índice de reprovação (32%). Porém, considerando todos os vinte e sete estados, o estado do Sergipe (85%) é o
estado com melhor índice de aprovação, porém, em termos de número de participantes, este estado é o 23º com
484 participantes em todas as edições.
Edições Participantes Aprovados % Reprovados %
157 141 90 16 10
318 195 61 123 39
750 529 71 221 29
592 299 51 293 49
1.160 711 61 449 39
814 390 48 424 52
566 349 62 217 38
688 411 60 277 40
841 441 52 400 48
Total 5.886 3.466 59 2.420 41
105
Tabela 11: Resultados dos exames dos cursos da amostra
Edições Data Participantes Aprovados % Reprovados %
Março de 2000 69 61 88 8 12
Setembro de 2000 118 65 55 53 45
Março de 2001 241 159 66 82 34
Setembro de 2001 218 105 48 113 52
Abril de 2002 371 230 62 141 38
Setembro de 2002 278 127 46 151 54
Março de 2003 187 110 59 77 41
Setembro de 2003 235 147 63 88 37
Março de 2004 298 155 52 143 48
Total 2.015 1.159 58 856 42
Fonte: CRCPR (2004)
Participaram do exame pouco mais de dois mil candidatos e, destes, 58% foram
aprovados e 42% foram reprovados. A tendência de queda nos índices de aprovação e
aumento nos índices de reprovação segue o que ocorre, tanto em âmbito nacional, quanto
regional.
Essa tendência é demonstrada também no gráfico da Figura 4 que evidencia a queda
nos índices de aprovação e o aumento nos índices de reprovação.
Todos os Cursos da Amostra
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
Aprovados
Reprovados
Figura 4: Evolução dos índices de aprovação e reprovação - amostra
Fonte: CRCPR (2004)
Os resultados gerais da amostra foram divididos em dois grupos. O 1º grupo é formado
pelos oito cursos oferecidos em instituições públicas. O 2º grupo é formado pelos oito cursos
oferecidos em instituições privadas. Os resultados do 1º grupo estão evidenciados na Tabela
12.
106
Tabela 12: Resultados dos exames dos cursos da amostra instituições públicas
Edições Data Participantes Aprovados % Reprovados %
Março de 2000 55 50 91 5 9
Setembro de 2000 84 48 57 36 43
Março de 2001 148 107 72 41 28
Setembro de 2001 149 82 55 67 45
Abril de 2002 240 163 68 77 32
Setembro de 2002 185 100 54 85 46
Março de 2003 97 61 63 36 37
Setembro de 2003 157 111 71 46 29
Março de 2004 144 85 59 59 41
Total 1.259 807 64 452 36
Fonte: CRCPR (2004)
Três cursos de duas instituições públicas possuem os melhores resultados em relação
ao total da amostra, no que se refere à quantidade e ao índice percentual de candidatos
aprovados e reprovados. Se estes cursos fossem retirados deste grupo, este teria o cenário
apresentado pela Tabela 13.
Tabela 13: Resultados dos cursos do 1º grupo sem os três melhores resultados
Participantes Aprovados % Reprovados %
666 349 52 317 48
Fonte: CRCPR (2004)
Embora o total de participantes tenha caído quase que pela metade, observa-se que o
índice de aprovação foi reduzido substancialmente, o que torna os cursos das outras cinco
instituições públicas com resultados piores do que os das médias nacional e regional.
Em outras palavras, cinco cursos de instituições públicas dos oito cursos deste 1º
grupo possuem índices de aprovação no Exame de Suficiência abaixo da média geral do
Brasil e do estado do Paraná.
Estes números são melhor interpretados quando comparados aos números dos cursos
do 2º grupo. Os resultados deste grupo estão demonstrados na Tabela 14.
107
Tabela 14: Resultados dos exames dos cursos da amostra instituições privadas
Edições Data Participantes Aprovados % Reprovados %
Março de 2000 14 11 79 3 21
Setembro de 2000 34 17 50 17 50
Março de 2001 93 52 56 41 44
Setembro de 2001 69 23 33 46 67
Abril de 2002 131 67 51 64 49
Setembro de 2002 93 27 29 66 71
Março de 2003 90 49 54 41 46
Setembro de 2003 78 36 46 42 54
Março de 2004 154 70 45 84 55
Total 756 352 47 404 53
Fonte: CRCPR (2004)
Neste 2º grupo, o índice de aprovação não chega a 50%, ficando na média em 47%.
Nas duas últimas edições do exame os índices de aprovação são ainda menores do que a
média final.
Deve-se ressaltar que, apenas dois cursos do 2º grupo possuem média de aprovação
superior a 50%. Os outros seis cursos têm média inferior a 50% e em dois deles a média é de
cerca de 30%. A Tabela 15 demonstra um resumo geral dos resultados dos cursos no âmbito
nacional e regional e dos cursos da amostra.
Tabela 15: Comparativo dos resultados dos exames em %
Fonte: CFC (2004a) e CRCPR (2004)
De forma geral, comparando os resultados da amostra com os resultados do estado do
Paraná e do Brasil, os cursos da amostra possuem, em sua grande maioria, médias de índices
Resultados
No
Brasil
No Paraná Da Amostra
Geral 5 Inst. Públicas
8 Inst.
Privadas
3 Inst.
Públicas
Aprovados 60 59 58 52 47 77
Reprovados 40 41 42 48 53 23
108
de aprovação menores dos que os do estado do Paraná e do Brasil. No geral, o índice de
aprovação dos cursos da amostra (58%) é menor do que o índice do Paraná (59%) e do Brasil
(60%).
Cinco de oito cursos de instituições públicas do primeiro grupo possuem índices
médios de aprovação (52%) menores do que a média da amostra como um todo (58%) e,
naturalmente, menores do que a média regional (59%) e nacional (60%). Todas as instituições
privadas da amostra possuem índices médios menores do que todos os grupos mencionados
com 47%.
Em resumo, dos dezesseis cursos da amostra, seis não chegam a média de 50% de
aprovação. Outros seis têm índices de aprovação muito próximos de 50%, enquanto que
apenas quatro possuem índices de aprovação superiores, tanto à média nacional, quanto à
média regional.
Destes quatro cursos com melhores desempenhos, três são oferecidos em instituições
públicas. Em outras palavras, dos dezesseis cursos da amostra, 12 cursos (75%) possuem
índices médios de aprovação menores do que 52%
34
.
Desta forma, podem ser feitas algumas inferências a respeito dos cursos da amostra:
do total de alunos formados por 75% da amostra (especificamente a 12 cursos),
praticamente metade é reprovada no Exame de Suficiência.
deste número de 12 cursos, cinco deles são de instituições públicas. Ou seja, em 63%
dos cursos de instituições públicas, quase metade dos alunos é reprovada no Exame de
Suficiência.
34
Este percentual pode ser verificado adiante na Tabela 28
109
dos alunos formados em cursos de instituições privadas, mais da metade é reprovada
no Exame de Suficiência. Em alguns cursos, cerca de 70% dos alunos são reprovados.
a região norte do estado do Paraná, possui 12 cursos de Ciências Contábeis que
possuem índices de reprovação maiores do que os índices da média regional e da
média nacional.
cerca de 42% dos alunos dos cursos de Ciências Contábeis da região norte do Paraná
são reprovados no Exame de Suficiência. Índice este maior do que a média regional e
nacional.
4.2 Resultados Coletados do ENC
Os resultados do ENC foram coletados junto à base de dados do INEP. Tais resultados
foram divididos em três grupos. O primeiro grupo é geral e contêm todos os cursos do Brasil
que participaram dos exames de 2002 e 2003. O segundo grupo contém todos os cursos do
estado do Paraná e o terceiro grupo é formado pelos cursos que compõem a amostra.
4.2.1 Resultados do ENC no Brasil
Em 2002, quando a área de Ciências Contábeis passou a fazer parte do ENC,
participaram 408 cursos, dos quais, de acordo com dados do INEP, dois destes cursos ficaram
sem conceito
35
(um do estado da Bahia e outro do estado de São Paulo). Em 2003,
participaram 454 cursos, dos quais, seis deles ficaram sem conceito (um do estado do Rio
Grande do Sul, um do estado de Santa Catarina e quatro de São Paulo)
36
. Isso é demonstrado
na Figura 5.
35
Ficam sem conceito os cursos que tiveram participação de 1 ou de nenhum aluno.
36
Idem
110
2
6
58
77
158
54
59
69
76
173
57
73
0
50
100
150
200
A B C D E SC
2002 - 408 cursos
2003 - 454 cursos
Figura 5: Resultados gerais do ENC - Brasil
Fonte: MEC/INEP (2004)
O aumento do número de cursos que participaram do ENC de 2002 para 2003, que foi
de 46 cursos (11%), não alterou, significativamente, em termos relativos, seus resultados, pois
estes apresentam, em ambos os anos, certa similaridade no que se refere à distribuição de
conceitos. Isso é evidenciado na Tabela 16.
Tabela 16: Distribuição geral de conceitos - Brasil
2002 2003
Conceito
Nº Cursos % Nº Cursos %
A 59 14 73 16
B 54 13 57 13
C 158 39 173 38
D 77 19 76 17
E 58 14 69 15
SC 2 0 6 1
Total 408 100 454 100
Fonte: MEC/INEP (2004)
Há uma concentração significativa de cursos com conceito C. Na média dos dois anos,
este conceito é atingido por cerca de 38% do total de cursos. A distribuição de cursos nos
outros conceitos é mais equilibrada. Na média dos dois anos, cerca de 15% dos cursos
obtiveram o conceito A, 13% alcançaram o conceito B, o conceito D foi obtido por cerca de
17% e o conceito E foi alcançado por cerca de 15% dos cursos.
111
Em relação aos conceitos do ENC por Categoria Administrativa (CA), infere-se, com
base na Tabela 17, que os cursos de Ciências Contábeis de instituições públicas têm um
desempenho diferente do desempenho dos cursos de instituições privadas.
Por exemplo, em 2003, cerca de 53% dos cursos de instituições públicas obtiveram
conceitos A e B, enquanto que, estes mesmos conceitos foram obtidos por cerca de 21% dos
cursos de instituições privadas.
O conceito C é mais alcançado por cursos de instituições privadas. Em ambos os
exames, cerca de 76% dos cursos destas instituições obtiveram conceitos C, D e E, enquanto
que esse mesmo percentual, aproximadamente, de cursos de instituições públicas obtiveram
conceitos A, B e C.
O número de cursos de Ciências Contábeis de instituições privadas que participaram
do exame, em ambos os anos, representa aproximadamente 78% do total dos cursos, enquanto
que o número de cursos de instituições públicas representa cerca de 22%.
Tabela 17: Distribuição de conceitos por Categoria Administrativa - Brasil
Conceitos - %
Ano CA
Nº de
cursos
A B C D E
Pública 84 29 14 35 13 10
Privada 322 11 13 40 20 16
2002
Total 406 14 13 39 19 14
Pública 97 33 21 26 14 6
Privada 351 12 11 42 18 18 2003
Total 448 16 13 38 17 15
Fonte: MEC/INEP (2004)
No ENC de 2002 participaram 22.693 alunos e no ENC de 2003 participaram 23.014
alunos, o que representa um crescimento de cerca de 1%. Comparando este crescimento com
112
o crescimento no número de cursos de cerca de 11%, infere-se que o aumento do número de
alunos é proporcionalmente cerca de nove vezes menor do que o aumento do número de
cursos. Isso é demonstrado na Tabela 18 pela média de alunos por curso.
Tabela 18: Crescimento do número de alunos e de cursos no ENC de 2002 e 2003
Descrição 2002 2003 Crescimento
Número de Alunos 22.693 23.014 1%
Número de Cursos 408 454 11%
Média de Alunos por Curso 55,62 50,69 -9%
Fonte: MEC/INEP (2004)
Junto com a divulgação dos conceitos do ENC, o INEP disponibiliza também dados
referente à Titulação (T) e ao Regime de Trabalho (R.T.) do corpo docente dos cursos que
participaram do ENC. Porém, tais dados não compreendem a totalidade dos cursos. Em 2002,
estes dados estavam disponíveis em 335 cursos dos 408 que participaram do exame. No ano
de 2003, 375 dos 454 cursos que participaram do exame continham esses dados. A Tabela 19
demonstra a composição do corpo docente, em termos percentuais, nos itens mencionados.
Tabela 19: Composição do corpo docente - Brasil
Ano Nº Prof. Doutores % Mestres % Especialistas % Graduados %
2002 8.616 5 30 52 13
T.
2003 9.617 6 36 47 10
Ano Nº Prof. 40h % 20h 39h % 8h 19h % 8h %
2002 8.616 23 24 32 22
R.T.
2003 9.617 21 22 32 24
Fonte: MEC/INEP (2004)
Em relação à titulação do corpo docente dos cursos de Ciências Contábeis, cerca de
40% dos professores são doutores e mestres e cerca de 60% são especialistas e graduados
37
.
A Tabela 20 evidencia a distribuição percentual do corpo docente por titulação e por
Categoria Administrativa (CA). Tais dados correspondem ao ano de 2003.
37
A área de formação do corpo docente não é informada na base de dados do INEP.
113
Tabela 20: Composição do corpo docente por categoria administrativa - Brasil
CA Nº Prof. Doutores % Mestres % Especialistas % Graduados %
Privada 7.471 5 37 49 10
Pública 2.146 10 36 42 12
Total 9.617 6 36 47 10
Fonte: MEC/INEP (2004)
As instituições públicas e privadas possuem praticamente a mesma proporção de
mestres. No entanto, as instituições públicas possuem o dobro de doutores em relação às
instituições privadas. As instituições privadas possuem uma proporção um pouco maior de
professores especialistas.
No que se refere ao regime de trabalho, cerca de 79% dos professores dos cursos das
instituições públicas possuem regime de trabalho entre 20 e 40 horas. Nos cursos de
instituições privadas, cerca de 34% dos professores possuem este mesmo regime de trabalho.
Nestas instituições prevalece o regime de trabalho até 19 horas com cerca de 67% dos
professores contratados. Tais dados referem-se ao ano de 2003, conforme demonstrados na
Tabela 21.
Tabela 21: Distribuição de carga horária do corpo docente
CA Nº Professores 40h % 20h 39h % 8h 19h % 8h %
Privada 7.471 12 22 39 28
Pública 2.146 55 24 11 10
Fonte: MEC/INEP (2004)
De acordo com os dados apresentados, infere-se que os conceitos A e B são mais
alcançados por cursos de instituições públicas. Tais cursos possuem uma proporção maior de
doutores e mestres nos seus quadros de docentes (cerca de 46%) e cerca de 79% dos seus
professores são contratados por regime de trabalho de 20 horas a 40 horas.
114
Os conceitos C, D e E são mais alcançados por cursos de instituições privadas. Tais
cursos possuem uma proporção de mestres e doutores parecida com a proporção das
instituições públicas, porém, os seus professores são contratados predominantemente por
regime de trabalho de até 19 horas.
4.2.2 Resultados do ENC no Paraná
No estado do Paraná, em 2002, participaram do ENC, 33 cursos de Ciências Contábeis
com a presença de 1.811 alunos e, em 2003, 42 cursos participaram do ENC com a presença
de 2.437 alunos. Em termos de número de cursos que participaram do ENC, este estado está
entre os seis maiores do Brasil
38
. A Figura 6 apresenta um gráfico com a distribuição do
número de cursos por conceito obtido no ENC.
Resultados Gerais
3
4
18
3
5
2
10
12
8
10
0
5
10
15
20
A B C D E
2002 - 33 cursos
2003 - 42 cursos
Figura 6: Resultados gerais do ENC - Paraná
Fonte: MEC/INEP (2004)
Em termos relativos, os resultados são parecidos com os resultados do Brasil, no que
se refere à predominância de cursos com conceito C em ambos os exames, como demonstra a
Tabela 22, comparativamente à Tabela 16.
38
Os resultados do ENC de Ciências Contábeis de 2002 e 2003 por estado encontra-se nos anexos.
115
Percebe-se que o percentual de cursos com conceitos A e B, em 2003, aumentou
significativamente, passando de cerca de 24% em 2002 para cerca de 42% em 2003. Isso
porque, dos nove cursos a mais que participaram do ENC de 2003, 6 deles obtiveram
conceitos A e B. Destes seis novos cursos, 4 são de instituições públicas
39
e 2 de instituições
privadas.
O percentual de cursos com conceito C, que em 2002 era de 55%, em 2003 passou
para 29%. Além do aumento do número de cursos, essa redução na representatividade de
cursos com conceito C, se deve ao fato de que dos 18 cursos que obtiveram conceito C em
2002, 5 deles migraram para o conceito D, o que explica também o aumento da
representatividade de cursos com este conceito (12% para 24%).
Tabela 22: Distribuição geral de conceitos - Paraná
2002 2003
Conceito
Nº Cursos % Nº Cursos %
A 5 15 10 24
B 3 9 8 19
C 18 55 12 29
D 4 12 10 24
E 3 9 2 5
Total 33 100 42 100
Fonte: MEC/INEP (2004)
Em relação à Categoria Administrativa (CA) dos cursos que participaram do ENC em
ambos os exames, a distribuição dos conceitos, assim como no Brasil, é diferente para
instituições públicas e privadas.
Conforme a Tabela 23, em 2003 cerca de 53% dos cursos das instituições públicas
obtiveram conceitos A e B, enquanto que tais conceitos foram obtidos por cerca de 33% dos
39
Esses 4 cursos de instituições públicas não são necessariamente novos. São cursos de instituições estaduais.
Ocorre que estes cursos não participaram do ENC de 2002 em função de uma greve de servidores públicos no
Paraná que ocorreu neste ano, que os impossibilitou de participarem do exame. Assim, os dados de 2003 são
mais consistentes, em função de que, neste ano, nenhum curso do estado do Paraná ficou de fora do ENC.
116
cursos de instituições privadas. Em 2002, cerca de 31% dos cursos de instituições públicas
alcançaram os conceitos A e B e, aproximadamente 18% dos cursos de instituições privadas
obtiveram tais conceitos.
Em 2003, quando todos os cursos do estado aptos a participarem do ENC assim o
fizeram, 67% dos cursos de instituições privadas obtiveram conceitos C, D e E, enquanto que,
48% dos cursos de instituições públicas alcançaram tais conceitos. Neste mesmo ano, houve
um predomínio de cursos de instituições públicas com conceito A (33%), enquanto que, o
conceito C foi predominantemente obtido por 43% dos cursos de instituições privadas.
Tabela 23: Distribuição de conceitos por categoria administrativa - Paraná
Conceitos - %
Ano CA
Nº de
cursos
A B C D E
Pública 16 25 6 56 0,00 12
Privada 17 6 12 53 24 6
2002
Total 33 15 9 55 12 9
Pública 21 33 19 14 29 5
Privada 21 14 19 43 19 5 2003
Total 42 24 19 29 24 5
Fonte: MEC/INEP (2004)
Em relação ao corpo docente dos cursos do estado, tanto as instituições públicas
quanto as privadas possuem, aproximadamente, a mesma proporção de doutores (5%),
mestres (40%), especialistas (45%) e graduados (7%).
Em relação ao regime de trabalho, aproximadamente 94% dos professores das
instituições públicas são contratados entre 20 horas e 40 horas semanais. Nas instituições
privadas 46% dos professores são contratados nesse mesmo regime.
117
De acordo com os dados apresentados, infere-se que, no estado do Paraná os conceitos
A e B também são mais alcançados por cursos de instituições públicas. Tais cursos possuem
uma proporção maior de doutores e mestres nos seus quadros de docentes (cerca de 47%) e
cerca de 94% dos seus professores são contratados por regime de trabalho de 20 horas a 40
horas. Os conceitos C, D e E são mais alcançados por cursos de instituições privadas.
4.2.3 Resultados do ENC da Amostra
Em relação à amostra desta pesquisa, formada por dezesseis cursos de Ciências
Contábeis, em 2002 participaram do ENC treze cursos, sendo que seis deles eram de
instituições públicas e sete de instituições privadas. Fizeram o exame, neste ano, 582 alunos.
Em 2003, participaram do ENC todos os dezesseis cursos da amostra, sendo oito
cursos de instituições públicas e oito cursos de instituições privadas, desta vez, com a
presença de 1.004 alunos. Em relação à concentração de cursos com conceito C, os resultados
da amostra não diferem dos níveis do Brasil e do estado do Paraná. A distribuição de
conceitos dos cursos da amostra é demonstrada na Tabela 24.
Tabela 24: Distribuição de conceitos dos cursos da amostra por categoria administrativa
Conceitos - %
Ano CA
Nº de
cursos
A B C D E
Pública 6 17 0 67 0 17
Privada 7 0 0 57 29 14
2002
Total 13 8 0 62 15 15
Pública 8 12 25 12 37 12
Privada 8 12 0 62 12 12
2003
Total 16 12 12 37 25 12
Fonte: MEC/INEP (2004)
Em 2002, 62% dos cursos obtiveram conceito C, e, em 2003, 37% dos cursos
alcançaram o mesmo resultado. A redução significativa de cursos com este conceito deve-se
118
ao fato de que em 2003, participaram pela primeira vez, dois cursos de instituições públicas
40
que alcançaram conceitos A e B e um curso de instituição privada que alcançou conceito D.
Além disso, dois cursos que haviam alcançado conceito C em 2002, obtiveram conceitos D e
E no ano seguinte.
Em 2003, cerca de 74% dos cursos da amostra obtiveram conceitos C, D e E e 24%
alcançaram conceitos A e B. Os conceitos A e B foram obtidos por quatro cursos, sendo três
de instituições públicas e um de instituição privada. A Tabela 25 demonstra os dados sobre a
composição do corpo docente dos cursos da amostra, quanto à titulação acadêmica.
Tabela 25: Composição do corpo docente - Amostra
CA Nº Prof. Doutores % Mestres % Especialistas % Graduados %
Privada 135 4 32 58 7
Pública 207 6 37 51 7
Total 342 5 35 54 7
Fonte: MEC/INEP (2004)
Os cursos de instituições públicas possuem mais doutores e mestres (43%) do que as
instituições privadas (36%). As instituições privadas possuem mais especialistas. Porém, é no
regime de trabalho do corpo docente que reside diferenças mais significativas em relação às
categorias administrativas. Essas diferenças são demonstradas na Tabela 26.
Tabela 26: Regime de trabalho do corpo docente da amostra
CA Nº Professores
40h
%
20h 39h
%
8h 19h
%
8h
%
Privada 135 16 19 39 25
Pública 207 61 32 6 0
Fonte: MEC/INEP (2004)
40
Esses cursos não participaram do ENC de 2002, em função da já mencionada greve.
119
Os cursos das instituições públicas, predominantemente, mantêm contrato de 20 horas
a 40 horas semanais com mais de 90% de seus professores. Já os cursos das instituições
privadas possuem 35%, em média, de seus professores com este mesmo regime de trabalho.
A participação de mestres e doutores no quadro do corpo docente e o regime de
trabalho parecem fazer alguma diferença nos resultados do ENC dos cursos. A Tabela 27
mostra um exemplo que pode dar suporte a essa suspeita
41
.
Tabela 27: Suposta influência da titulação e do regime de trabalho nos resultados do ENC
Conceitos
Curso CA
2002 2003
Nº Prof.
Drs. e Ms.
%
20 hs à 40 hs
%
1 Pública A B 56 57 100
2 Pública C D 19 10 99
3 Privada E E 19 31 32
Fonte: MEC/INEP (2004)
O curso 1 é superior aos dois últimos nos conceitos do ENC e na composição do corpo
docente em relação à titulação acadêmica e ao regime de trabalho. Do total de 56 professores
desse curso, 57% são doutores e mestres e 100% trabalham de 20 a 40 horas por semana no
curso.
O curso 2 possui resultados menos expressivos do que o curso 1. A diferença entre
eles é a representatividade de doutores e mestres em seus quadros docentes. O curso 2 possui
apenas 10% de seus 19 professores com essa titulação. Já o curso 3 possui a predominância de
professores especialistas (68%) e a predominância de professores que trabalham menos de 20
horas no curso (68%).
41
Considera-se suspeita em função de que, para se fazer a afirmação de que cursos com mais mestres e doutores,
e maior número de professores com regime de trabalho mais extenso, possuem mais facilidade de alcançar
conceitos A e B no ENC, seria necessário uma pesquisa mais específica onde se poderia utilizar de modelos
estatísticos. Seguindo os objetivos deste estudo, segue-se apenas com a suspeita.
120
Dos dezesseis cursos da amostra, quatro deles obtiveram conceitos A e B nos dois
exames. Destes cursos, três deles são de instituições públicas e um de instituição privada. Ou
seja, sete dos oito cursos de instituições privadas alcançaram no máximo conceito C no ENC.
Isso ocorreu também em cinco dos oito cursos de instituições públicas.
4.3 Resultados Consolidados dos Cursos da Amostra
Na tentativa de demonstrar uma relação entre os resultados do Exame de Suficiência e
do ENC, elaborou-se a Tabela 28. Esta Tabela está ordenada pela coluna de índice de
aprovação no Exame de Suficiência. Os índices são resultados da coleta de dados feita junto
ao CRCPR, que forneceu os resultados com o número de aprovados e reprovados por curso
deste estado. Tais índices referem-se a todas as edições do Exame de Suficiência (de 2000 a
2004).
Uma das instituições da amostra oferece dois cursos de Ciências Contábeis em duas
cidades diferentes. O CRCPR enviou os números somados de aprovados e reprovados destes
dois cursos, o que impossibilitou conhecer os resultados individuais de cada um deles.
Portanto, o índice de aprovação do curso da linha 3 é o resultado, na verdade, de dois cursos
oferecidos pela mesma instituição em cidades diferentes. Um destes dois cursos atingiu
conceito A no ENC e o outro atingiu conceito B.
O curso (linha 1) com melhor índice de aprovação no Exame de Suficiência obteve
conceitos A e B em ambos os anos do ENC. Outros dois cursos (linha 3) que também
obtiveram conceitos A e B no ENC de 2003 possui índice de aprovação de 65% no Exame de
Suficiência.
121
A exceção desta relação fica por conta do curso da linha 2 que obteve conceito D no
ENC, porém, possui índice de aprovação no nível dos cursos que possuem conceitos A e B. A
diferença é que, enquanto os cursos das linhas 1 e 3 tiveram cerca de 600 alunos que
participaram de todas as edições Exame de Suficiência, o curso da linha 2 teve a participação
de 15 alunos em todas as edições. Portanto, a inexpressiva participação desse curso no Exame
de Suficiência é fator de limitação para comparações entre os cursos das três primeiras linhas.
Tabela 28: Resultados consolidados dos cursos da amostra
Conceitos do ENC
Curso
2002 2003
Índice de Aprovação no
Exame de Suficiência
%
1 A B 90
2 D 73
3 A e B 65
4 C D 58
5 C C 55
6 C E 54
7 C C 54
8 C C 49
9 C D 48
10 C C 47
11 D A 46
12 D C 43
13 E D 43
14 C C 32
15 E E 29
Fonte: MEC/INEP (2004) e CRCPR (2004)
O curso com menor índice de aprovação no Exame de Suficiência obteve conceito E
nas duas edições do ENC. Já o curso que possui o penúltimo maior índice de aprovação,
obteve conceito C no ENC, em ambos os anos. Dos seis cursos que possuem índices de
aprovação entre 40% a 50%, um alcançou conceito A em uma das edições do ENC. Portanto,
nestes seis cursos, foram obtidos um conceito A (8%), seis conceitos C (50%), quatro
conceitos D (34%) e um conceito E (8%).
122
Nos quatro cursos que possuem índices de aprovação entre 50% e 60%, foram obtidos
seis conceitos C (74%), um conceito D (13%) e um conceito E (13%). Considerando estes
números, pode-se afirmar que os cursos que possuem índices de aprovação no Exame de
Suficiência que não chegam a 50%, possuem uma tendência a obter mais conceitos D e E do
que os cursos que tem índices de aprovação pouco maiores do que 50%. Estes últimos tendem
a obter mais o conceito C.
De forma geral, em relação aos cursos da amostra, com exceção do curso da linha 2 e
do curso da linha 11, os cursos que possuem conceitos A e B têm índices de aprovação no
Exame de Suficiência maiores do que 65%. Os cursos que possuem conceitos C, D e E, têm
índices de aprovação no exame de Suficiência entre 40% e 60%. O único curso que obteve
dois conceitos E consecutivos possui o menor índice de aprovação no Exame de Suficiência.
Poder-se-ia concluir que o aluno que estuda no curso da linha 1, tem cerca de 90% de
chance de ser aprovado no Exame de Suficiência, ou que, o aluno que estuda no curso da
linha 15 tem cerca de 30% de chance. Tais diferenças seriam atribuídas à qualidade de um
curso e a má qualidade de outro curso.
Há, no entanto, a necessidade de mais elementos que subsidiem tal interpretação.
Assim, foram ouvidos os coordenadores dos cursos da amostra para que os resultados, vistos
até agora, sejam enriquecidos com outros elementos que propiciem atingir os objetivos deste
estudo.
4.4 Resultados Coletados da Aplicação do Questionário
Nesta seção serão descritas as opiniões dos coordenadores a respeito dos resultados
dos exames, sobre os fatores que mais contribuem para o alcance destes resultados e algumas
123
especificidades do processo de ensino de cada curso pesquisado. Foram realizadas dezesseis
entrevistas, das quais quatorze delas foram feitas pessoalmente e duas foram feitas através de
envio do questionário pelo correio. As entrevistas foram realizadas nos meses de outubro e
novembro de 2004.
O questionário aplicado
42
foi dividido em três grandes grupos, organizados da seguinte
forma:
primeiro grupo: IDENTIFICAÇÃO DO CURSO. Neste grupo são identificados os
dados oficiais de cada curso e de cada instituição de ensino, bem como dados a
respeito dos coordenadores.
segundo grupo: ESTRUTURA DO CURSO. Buscou-se neste grupo identificar um
perfil de cada curso em relação ao seu corpo discente, ao seu corpo docente e em
relação a algumas de suas particularidades, tais como: existência de laboratórios, de
exigência de trabalhos de conclusão de curso, existência de empresa junior, entre
outros.
Terceiro grupo: OPINIÃO DO COORDENADOR DO CURSO. Este grupo
compreende as opiniões e informações de cada coordenador entrevistado sobre os
resultados do ENC e do Exame de Suficiência, sobre o processo de ensino-
aprendizagem e sobre algumas questões diversas complementares. Este grupo está
constituído de quatro perguntas centrais, e, cada uma destas quatro perguntas contêm
questões mais específicas que visam aprofundar o assunto abordado nas referidas
perguntas.
42
Este questionário encontra-se nos anexos deste estudo.
124
A seguir é apresentado o conjunto de dados e informações correspondentes a cada um
dos referidos grupos.
4.4.1 Primeiro grupo: Identificação do Curso
Quanto à identificação dos cursos, além dos dados demonstrados na Tabela 5 da seção
3.3 deste estudo, pode-se apresentar um breve perfil dos dezesseis coordenadores que
participaram da pesquisa, no que se refere a sua titulação e a sua área de formação. Isso é
demonstrado na Tabela 29.
Tabela 29: Perfil dos Coordenadores Entrevistados
Formação Acadêmica Quantidade Proporção
Especialista 9 56%
Mestre em Ciências Contábeis 4 25%
Mestre em Outras Áreas 3 19%
Total 16 100%
Todos os nove coordenadores especialistas possuem este título na área contábil.
Apenas 25% dos cursos da amostra são coordenados por mestres em Ciências Contábeis.
Pode-se argumentar que este perfil deve-se, particularmente, ao reduzido número de
mestrados em Ciências Contábeis no Brasil (atualmente são 8 mestrados reconhecidos pela
Capes). No Paraná, não há nenhum mestrado nessa área. Três cursos da amostra são
coordenados por mestres em outras áreas: Engenharia de Produção e Administração.
Todos os dezesseis coordenadores entrevistados possuem mais de cinco anos de
experiência docente. Apenas um coordenador não exercia este cargo nos anos de 2002 e 2003,
períodos em que foram realizadas as edições do ENC. Portanto, quinze coordenadores
exercem este cargo há pelo menos três anos.
125
4.4.2 Segundo grupo: Estrutura do Curso
Quanto à estrutura dos cursos, foi constatado, em relação ao corpo discente, que 4.563
alunos estão matriculados nos cursos da amostra. Destes, 2.889 (63%) estão matriculados em
cursos de instituições públicas, e 1.674 (27%) estão matriculados em cursos de instituições
privadas. Essa distribuição de alunos em instituições públicas e privadas, num primeiro
momento, contraria o que foi exposto na Figura 2 do capítulo 1, em que a maior parte das
matriculas nos cursos superiores no Brasil são de instituições privadas.
Ocorre que a amostra desta pesquisa é composta por 16 cursos reconhecidos, sendo 8
de instituições privadas e 8 de instituições públicas. Porém, na região norte existem 22 cursos,
incluindo os ainda não reconhecidos, sendo 14 de instituições privadas e 8 de instituições
públicas. O número de alunos nas instituições privadas tende a se equiparar ao número de
alunos das instituições públicas, e até ultrapassar, na medida em que aumenta a proporção de
instituições privadas, que no caso da área de Ciências Contábeis é de 80% em todo o Brasil.
Nos cursos de instituições públicas, estão ocupadas cerca de 90% das vagas
disponíveis e, nos cursos de instituições privadas, 62%
43
. O total de vagas disponíveis em
cada curso foi coletado junto ao INEP.
Em relação a algumas particularidades dos cursos da amostra, constatou-se que a
média de alunos por sala é de aproximadamente 40 alunos em todos os cursos da amostra.
Todos os cursos exigem trabalho de conclusão de curso e, em apenas um curso, este trabalho
não passa por banca examinadora. Cerca de 57% dos cursos de instituições públicas possuem
laboratório de informática dedicado ao curso de Ciências Contábeis com software de
43
Nos cursos das instituições privadas da região, 38% das vagas estão ociosas. O estudo do Censo da Educação
Superior de 2003 “aponta que 42,2% das vagas oferecidas pelas universidades privadas estão ociosas”
(Universidades..., 2004, p. 4).
126
Contabilidade instalado. Nos cursos de instituições privadas, este percentual é de
aproximadamente 87%.
No que se refere à Empresa Junior, esta modalidade de atividade acadêmica está
presente em cerca de 57% dos cursos das instituições públicas e em 37% dos cursos das
instituições privadas. Todos os cursos da amostra promovem eventos periódicos que dão
oportunidades para os seus alunos apresentarem trabalhos. A Tabela 30 evidencia dados sobre
o corpo docente dos cursos.
Tabela 30: Distribuição de Professores por área e titulação Cursos da amostra
Total de
Professsores
Graduados Especialistas Mestres Doutores
Formação
% % % % %
Em Contábeis 175 53 0 0 113 65 59 33 3 2
Em Outras Áreas 156 47 2 1 44 28 95 61 15 10
Todas as Áreas 331 100 2 1 157 47 154 47 18 5
Quanto ao corpo docente, 331 professores ministram aulas nos cursos da amostra. Este
número é geral e abrange professores de todas as disciplinas dos cursos, ou seja, de todas as
áreas de conhecimento que fazem parte da grade curricular dos cursos de graduação em
Ciências Contábeis.
Do total de professores, 175 (53%) têm formação, em nível de pós-graduação, na área
específica de Contabilidade. Destes, 113 (65%) são especialistas em Contabilidade
44
. É
predominante, portanto, o número de especialistas nos cursos. Em dois deles, o corpo docente
é formado apenas por especialistas e em outros três, existe apenas um mestre em Ciências
Contábeis em cada um.
44
As especializações predominantes são nas áreas de Custos, Auditoria e Controladoria.
127
Destaca-se o menor percentual de professores mestres e doutores em Contabilidade em
relação ao total de mestres e doutores que ministram aulas nos cursos. Esta relação é
demonstrada na Tabela 31.
Tabela 31: Proporção de Professores por titulação Cursos da amostra
Formação Mestres % Doutores % Total %
Em Contábeis 59 38 3 16 62 36
Em Outras Áreas 95 62 15 84 110 64
Todas as Áreas 154 100 18 100 172 100
Constata-se a predominância de professores mestres e doutores de outras áreas (64%)
ministrando aulas nos cursos de Ciências Contábeis. Isso é reflexo do, já mencionado,
reduzido número de mestrados e doutorados em Ciências Contábeis no país.
Em resumo, os dados fornecidos pelos coordenadores coincidem com os dados
extraídos da base de dados do INEP expostos na Tabela 25, no que diz respeito à titulação dos
professores, independentemente da área de conhecimento. Essa Tabela demonstra que cerca
de 43% dos professores dos cursos das instituições públicas são mestres ou doutores, e,
segundo os coordenadores entrevistados este percentual é de 44%.
A Tabela 25 demonstra também que nos cursos das instituições privadas cerca de 36%
dos professores são mestres ou doutores. Porém, segundo os coordenadores entrevistados este
percentual é de 57%. Essa diferença é significativa. Entretanto, como não é objetivo deste
estudo confrontar estas informações, faz-se a inferência de que as informações fornecidas
pelos coordenadores sejam mais atuais em relação aos dados do INEP
45
.
45
Os dados sobre a titulação dos professores estão disponíveis, na base de dados do INEP, juntamente com os
resultados do provão de 2003 realizado em junho deste mesmo ano. No entanto, não há uma data específica no
INEP como referencia da coleta dos dados disponíveis.
128
Quanto ao regime de trabalho dos professores, quatro coordenadores não informaram
este dado sobre os professores que ministram aulas no curso de Ciências Contábeis, mas que
não pertencem ao departamento de Contabilidade da Instituição. Sendo assim, os dados
referentes ao regime de trabalho referem-se a 272 professores de um total de 371.
As informações fornecidas pelos coordenadores sobre o regime de trabalho coincidem
com as informações contidas na base de dados do INEP e demonstradas na Tabela 26, visto
que nas instituições públicas o regime de trabalho predominante se concentra na carga horária
de 20 a 40 horas semanal, enquanto que, nas instituições privadas, a predominância é de
regime de trabalho de até 20 horas semanais.
Os coordenadores dos cursos das instituições públicas informaram que 78% de seus
professores trabalham entre 20 e 40 horas semanais, enquanto que na base de dados do INEP
este percentual é de cerca de 93%. Nas instituições privadas os coordenadores informaram
que 34% dos seus professores trabalham entre 20 e 40 horas semanais, enquanto que, na base
de dados do INEP este percentual é de 36%.
Professores mestres e doutores, inclusive mestres em Contabilidade, existem tanto em
cursos de instituições públicas quanto em cursos de instituições privadas quase que na mesma
proporção. A diferença reside no fato de que, em função do regime de trabalho, há maior
dedicação dos professores com os cursos das instituições públicas do que com os cursos das
instituições privadas, que os contratam, predominantemente, como horistas.
4.4.3 Terceiro grupo: Opinião do Coordenador do Curso
Esse terceiro grupo foi constituído de quatro perguntas. A primeira refere-se à opinião
dos coordenadores em relação aos resultados dos exames. A segunda, sobre os fatores que
129
mais contribuem para o alcance desses resultados. Na terceira pergunta são identificadas
algumas características especificas do processo de ensino-aprendizagem dos cursos da
amostra, e, finalmente, a quarta, constituí-se de duas perguntas complementares a tais
processos.
4.4.3.1 Opinião dos coordenadores sobre os resultados dos exames (1ª pergunta)
A pergunta central que buscou conhecer a opinião dos coordenadores a respeito dos
resultados dos exames foi:
Pergunta 1: Como podem ser avaliados, de forma geral, os resultados do Exame
de Suficiência e o do Exame Nacional de Cursos?
Sendo esta uma pergunta ampla onde cada coordenador poderia concentrar-se em
diferentes focos sobre tais resultados, o que poderia prejudicar a análise das respostas no
conjunto, optou-se por subdividi-la em seis questões
46
mais objetivas e mais específicas.
Essas questões serviram como guias para que cada coordenador pudesse expor seu ponto de
vista.
A primeira dessas seis questões foi feita da seguinte forma
Questão 1A: Os resultados do Exame Nacional de Cursos são eficazes para
diferenciar os cursos de graduação em termos qualitativos?
Conforme demonstra a Tabela 32, oito coordenadores disseram que sim, os resultados
realmente diferenciam os cursos. Sete coordenadores apontam alguma limitação para se fazer
46
A numeração dessas questões corresponde aquela constante do questionário que encontra-se nos anexos deste
estudo. Como a pergunta central é a número 1, as seis questões receberam a numeração 1A, 1B, 1C, 1D, 1E e 1F.
130
essa afirmativa com segurança e um coordenador pensa que os resultados do ENC não
indicam isso.
Tabela 32: Eficácia dos resultados do ENC como indicador de qualidade
Respostas Nº de Respostas %
Sim, totalmente 8 50
Sim, porém, há algumas limitações. 7 44
Não 1 6
Total 16 100
As dificuldades apontadas pelos sete coordenadores que mencionaram limitações
quanto ao uso dos resultados do ENC para aferir com segurança a qualidade dos cursos são as
seguintes:
Motivo 1: falta de preocupação e comprometimento do aluno com o ENC: cinco
coordenadores apontaram esta limitação.
Motivo 2: o foco do curso não é o foco avaliado pelo ENC: dois coordenadores
apontaram esta limitação.
Segundo os cinco coordenadores que mencionaram o motivo 1, o ENC avalia o curso
e não o aluno. Desta forma, o aluno não se dedica o suficiente para alcançar boas notas neste
exame. Logo, os resultados ficam comprometidos. A palavra “dedicação” deve ser aqui
entendida como o esforço do aluno em acertar todas as questões da prova, já que o
comparecimento do aluno no dia do exame é obrigatório sob pena do aluno ficar impedido de
receber diploma.
Um dos oito coordenadores que afirmam que os resultados do ENC, de fato,
diferenciam os cursos em termos qualitativos, discorda da visão destes cinco coordenadores,
afirmando que:
131
Mesmo que o aluno vá para o local da prova sem muita motivação, mas tem
uma boa formação, ele vai conseguir fazer uma boa prova e acaba se
motivando, inclusive durante a prova, com as questões que vão aparecendo
para ele como se fossem desafios. O aluno que não sabe nada vai para o
local da prova sem motivação, e durante a prova continua desmotivado e
acaba por fim indo mal.
Percebe-se que o problema da preocupação e do comprometimento com que o aluno
faz o ENC possui origens na própria formação do acadêmico e na relação deste com a
instituição de ensino. Esta limitação também foi apontada em outra pesquisa.
Dezenove dirigentes de seis instituições de ensino superior de Santa Catarina e três de
São Paulo fizeram parte da pesquisa realizada por Lousada (2003). Segundo a autora o
compromisso do aluno em realizar bem o ENC é um aspecto que preocupa os dirigentes das
instituições.
Linhares (2002) aponta para o fato de que o MEC exige apenas que o aluno assine
presença no dia da prova, garantindo assim o recebimento de seu diploma. Então, se o aluno
entregar a prova em branco ou “chutar” as questões, ele não sofrerá nenhuma conseqüência, a
não ser a sua instituição.
No entanto, pode-se aqui assumir uma premissa. O aluno bem preparado se preocupará
com o seu resultado e o resultado do seu curso no ENC. Este aluno é aquele que obteve da
instituição condições para alcançar essa preparação. Isto reflete no seu comprometimento em
fazer bem a prova.
O fundamento desta premissa é de que o conceito de um curso no ENC é obtido por
meio do nível de desempenho da maioria de seus alunos. Pode-se afirmar que um curso com
conceito E, por exemplo, alcançou este resultado em função de que seus alunos não se
comprometeram com a prova, e, por conseqüência, com o curso.
132
Entretanto, está implícito nesta afirmação, que a maioria dos alunos deste curso não
se comprometeu com seus próprios resultados e com os resultados de seu curso. Por que a
maioria dos alunos de um curso teria esse comportamento mesmo, tendo conhecimentos para
realizar bem o ENC, e mesmo tendo recebido uma boa formação de sua instituição?
Pode-se inferir que existe uma via de mão dupla na relação instituição-aluno. A
instituição se compromete com o aluno e este se compromete com a instituição. Até porque é
missão de qualquer instituição de ensino interferir positivamente no desenvolvimento da
sociedade, como visto na parte introdutória deste estudo.
É questionável uma instituição de ensino cumprir sua missão sem o devido
comprometimento com a maioria de seus alunos. Isso será discutido com maior profundidade
quando forem demonstradas e avaliadas as opiniões dos coordenadores a respeito dos
resultados do Exame de Suficiência.
O motivo 2, que refere-se ao fato do foco do curso ser diferente do foco avaliado pelo
ENC, foi mencionado por dois coordenadores. Um deles afirmou que “o curso que coordena
tenta atender ao mercado e não àquilo que está sendo cobrado no ENC”. O outro afirmou que:
O ENC está focado na parte da Contabilidade Financeira e não envolve a
parte gerencial, e hoje os cursos de melhor qualidade são aqueles que
trabalham a parte gerencial da Contabilidade.
De uma forma ou de outra, ainda que o ENC cubra realmente apenas a parte da
Contabilidade Financeira, esta é a base para que um contador possa desenvolver trabalhos que
vão além, que são aqueles exigidos pelo mercado.
133
Na seção 2.7.4 do capitulo 2 deste estudo, cita-se a pesquisa de Coelho (2001).
Segundo este autor, profissionais de empresas e acadêmicos na cidade do Rio de Janeiro
concordam que o mercado exige do profissional contábil conhecimentos de Contabilidade
Geral, Legislação Tributária, além de ter postura ética.
Estes conhecimentos são cobrados pelo ENC, além de outros. Pode-se afirmar que são
requisitos básicos para que um profissional corresponda às expectativas do mercado, como
ficou claro na pesquisa de Coelho. Se a maioria dos alunos não acerta questões relacionadas a
estes conhecimentos numa prova, não se pode afirmar que o curso prepara, com qualidade, o
acadêmico para o mercado.
Mesmo porque o mercado é amplo e o espaço para o profissional contábil envolve as
empresas que exigem contabilidade gerencial. Porém, muitas são as organizações que exigem
o conhecimento muito sólido sobre a Contabilidade Financeira, tais como: empresas de
auditoria e perícia contábil, escritórios de assessoria contábil, governos federais, estaduais e
municipais, entre outros. Preparar um aluno a atuar apenas com contabilidade gerencial é
limitá-lo quanto às suas possibilidades de atuação na profissão contábil.
Ainda de acordo com a Tabela 32, houve um coordenador que afirmou que os
resultados do ENC não diferenciam os cursos em termos qualitativos. Para justificar sua
resposta, menciona que os preparativos internos, ou aulas preparatórias para o ENC, e os
incentivos aos alunos por parte das instituições para que participem dessas aulas, prejudicam
os resultados.
Este coordenador não entrou no mérito dos incentivos, ou seja, quais incentivos são
oferecidos. Porém, quanto às aulas preparatórias, isso não foi feito no seu curso, ou seja, ele
134
está se referindo aos cursos de outras instituições. Para dirimir esta dúvida foi elaborada a
questão 4B
47
que foi assim formulada:
Questão 4B: Foi realizado algo especial para preparar os alunos para o ENC?
Dos dezesseis entrevistados, nove admitiram ter feito algo especial em relação ao
ENC, desde conversas de conscientização dos alunos sobre a importância do ENC para eles e
para a instituição, passando pela introdução de questões do ENC nas provas normais de
avaliação das disciplinas, em que os conteúdos trabalhados permitiram isso, até aulas de
recapitulação do conteúdo aprendido durante o curso.
Segundo um coordenador “a recapitulação é importante, não adianta sermos utópicos
em achar que o aluno vai lembrar no quarto ano aquilo que ele viu no primeiro. Esta revisão
ocorre em função disso.
Porém, há que se considerar que o conhecimento é cumulativo. Em outras palavras, há
uma integração lógica e seqüencial entre as disciplinas do curso. À medida que o aluno
avança nas disciplinas o seu conhecimento se acumula já que um assunto aprendido é base
para outro a ser aprendido. No quarto ano, este aluno não precisaria de revisões já que o
conhecimento que ele adquiriu no primeiro ano, foi efetivamente utilizado e agregado até o
último ano do curso.
Por outro lado, se um aluno não aprendeu desta maneira, ou seja, da maneira integrada
e sequencial e no tempo certo, é questionável isso ocorrer em pouco dias ou semanas de
revisão. Talvez não haja nem o que recapitular.
47
Foram feitas duas questões complementares para auxiliar na análise das outras questões. Essas duas questões
receberam a numeração 4A e 4B que corresponde aquela constante do questionário que encontra-se nos anexos
deste estudo.
135
Mais grave do que esta situação, seria o fato de uma instituição transformar seu curso
de Ciências Contábeis inteiro numa grande preparação para o ENC, com a finalidade de se
promover junto ao MEC e ao mercado. Essa é uma critica de Catani (2001, p. 9) ao ENC
quando afirma que “os projetos curriculares dos cursos de graduação, no que tange,
sobretudo, aos conteúdos e habilidades, estão sendo reorientados e margeados pelas diretrizes
curriculares e, sobretudo, pelo ENC.
Isso não foi sentido durante as entrevistas e em nenhum momento mencionado por
qualquer coordenador. Suas opiniões, ao longo das entrevistas, denotam preocupação muito
maior com a formação do profissional de acordo com diretrizes do MEC e exigências do
mercado, do que com as diretrizes do ENC.
Finalizando a análise da questão 1A, dos oito coordenadores que disseram que os
resultados do ENC diferenciam os cursos em termos qualitativos, três deles são de cursos de
instituições privadas e quatro são de instituições públicas. Estes coordenadores coordenam
cursos que obtiveram conceitos no ENC entre A, B, C e D.
Dos sete coordenadores que disseram que há alguma limitação para diferenciar os
cursos em termos qualitativos por meio dos resultados do ENC, cinco deles são de instituições
privadas e dois de instituições públicas. Estes coordenadores coordenam cursos que obtiveram
conceitos C, D e E.
O único entrevistado que discorda totalmente da referida diferenciação de qualidade
com base nos resultados do ENC, coordena um curso de instituição pública que alcançou em
ambos os exames, conceitos C e D.
136
De acordo com esses dados, parece que se o curso alcançou conceitos A ou B, o
coordenador deste curso aceita melhor os resultados do ENC como indicadores de qualidade
que diferenciam os cursos. Porém, se o curso é de instituição privada e alcançou conceitos D
ou E, o coordenador deste curso resiste em aceitar os resultados do ENC para tal objetivo.
A segunda das seis questões foi feita da seguinte forma:
Questão 1B: O fato de que a maioria dos cursos de Ciências Contábeis obteve
conceito C no ENC, efetivamente indica qual nível de qualidade destes cursos?
Como demonstra a tabela 33, um pouco mais da metade dos coordenadores entende
que este é um conceito que indica uma qualidade média do curso. Para três coordenadores, o
conceito indica que a qualidade do curso é ruim.
Tabela 33: Atribuição do nível de qualidade dos cursos por meio dos conceitos do ENC
Respostas Nº de Respostas %
Média 9 56
Se o curso for de IE Pública Ruim
Se o curso for IE Privada Bom
4 25
Ruim 3 19
Total 16 100
Para os doze coordenadores (e 3ª linhas da Tabela 33), o conceito C indica que o
curso precisa de melhorias. Para um destes onze coordenadores “é sinal de que falta alguma
coisa na formação dos alunos destes cursos”.
Porém, para outros quatro coordenadores, da 2ª linha, se o curso que tem conceito C
for de instituição privada, o curso pode ser considerado de boa qualidade, e, se for de
instituição pública, pode ser considerado de qualidade ruim. A justificativa é que como a
137
instituição pública é gratuita, ela tem um processo de seleção melhor. Na instituição privada,
o processo de seleção é ineficiente.
Há aqui, por parte dos coordenadores, um entendimento de que nas instituições
públicas entram os alunos mais bem preparados nos níveis de ensino anteriores ao nível
superior, e nas instituições privadas, acabam entrando alunos que não tiveram uma boa
formação anterior. Por essa razão, segundo um coordenador toda instituição pública deveria
ter conceito A.
Para um outro coordenador “as instituições privadas recebem alunos de qualidade
inferior e precisam fazer todo um trabalho de recuperação do aprendizado de 1º e 2º graus”.
Para este coordenador, se nestas circunstâncias, o curso atinge conceito C, pode-se afirmar
que foi feito um bom trabalho, ou seja, que o curso tem boa qualidade.
Entretanto, houve coordenadores que, mesmo coordenando cursos com conceitos D ou
E, admitiram que o conceito C é um conceito que indica qualidade média. Ou seja,
reconhecem que o curso que coordenam está abaixo da média, em termos de qualidade.
O objetivo desta questão era encontrar uma classificação qualitativa para os conceitos.
Infere-se, diante do exposto que os conceitos A e B são conceitos ótimo e bom,
respectivamente. O conceito C é médio, e os conceitos D e E são conceitos ruins.
Pode-se inferir então que, segundo os resultados do ENC de 2003, apenas quatro
cursos da região são considerados com qualidade acima da média, seis cursos estão na média
e outros seis cursos são de qualidade ruim. Em outras palavras, segundo tais critérios, 12
cursos (75%) da amostra possuem qualidade média ou abaixo da média.
138
Se forem considerados os critérios dos 4 coordenadores a respeito das categorias
administrativas das instituições, pode-se ter uma classificação um pouco diferente conforme a
Tabela 34.
Tabela 34: Classificação dos conceitos segundo as categorias administrativas
Cursos de Instituições Privadas
Cursos de Instituições Públicas
Conceitos A/B C D/E Total A/B C D/E Total
Nº Cursos 1 5 2 8 3 1 4 8
Cinco dos oito cursos de instituições privadas possuem boa qualidade por conseguirem
atingir o conceito C, e, cinco dos oito cursos de instituições públicas possuem qualidade
insuficiente por terem alcançado conceito C, D e E. Neste caso, 7 cursos (43,75%) da amostra
possuem qualidade ruim. Estes 7 cursos estão destacados em destaque na Tabela 34.
No entanto, independentemente da classificação usada, o fato é que apenas quatro
cursos dos dezesseis, ou seja, 25% alcançaram conceitos A e B que podem ser considerados
como atribuíveis a cursos capazes de formar profissionais contábeis de qualidade. Isso por
que:
Mesmo classificando o conceito C para um curso de instituição privada como reflexo
de um curso de boa qualidade, os coordenadores com esta opinião reconhecem que a
formação do profissional, sob ponto de vista do ENC, é incompleta, ou seja, falta
alguma coisa. O formado vai para o mercado sem uma formação plena,
independentemente se isso é responsabilidade de uma formação fundamental e média
ruim ou não.
Nenhum coordenador contestou os conceitos A e B como sendo conceitos de cursos de
alta qualidade.
139
Quinze dos dezesseis coordenadores admitiram não existir diferenças significativas
dos conteúdos do ENC com os conteúdos ministrados durante o curso. Essas respostas
foram dadas à questão complementar 4A que foi assim formulada: “Existem
diferenças significativas entre os conteúdos das grades curriculares dos cursos de
Ciências Contábeis e os conteúdos do ENC e do Exame de Suficiência?”.
A terceira das seis questões foi feita da seguinte forma:
Questão 1C: Existe relação entre o nível de qualidade dos cursos de Ciências
Contábeis e os conhecimentos exigidos dos alunos para realizarem o ENC?
A Tabela 35 mostra que para quinze coordenadores, existe relação entre a qualidade
dos cursos e os seus resultados no ENC, e para um coordenador, não existe tal relação.
Tabela 35: Relação entre o nível de qualidade dos cursos e os resultados do ENC
Respostas Nº de Respostas %
Sim 15 94
Não 1 6
Total 16 100
As respostas à esta questão, se comparadas com as respostas da questão 1A
evidenciadas na Tabela 32, demonstram que os resultados do ENC evidenciam a qualidade
dos cursos, porém, não são capazes, segundo a maioria dos coordenadores, de diferenciar os
cursos em termos qualitativos.
Em outras palavras, praticamente todos os coordenadores acreditam que um conceito
expressa a qualidade do curso que o obteve, mas para a maioria dos coordenadores, esse curso
não pode ser comparado com outro que obteve um conceito melhor ou pior.
140
Para um dos coordenadores da primeira linha da Tabela 35 “quando o curso tem
qualidade o conceito do ENC sobe”. Para outro coordenador “a qualidade do curso se reflete
nos resultados do ENC”. Num curso onde não houve nenhum tipo de preparação para o ENC,
o coordenador afirmou o seguinte:
Nossos alunos realizaram o ENC com bastante seriedade. A primeira turma
ficou com conceito A e, então, a segunda turma queria conseguir o mesmo
conceito de qualquer forma. Eles levaram bastante a sério e acabaram
obtendo conceito B. Mas eles fizeram o ENC com os conhecimentos que
eles tinham adquirido durante o curso, por isso achamos que existe sim
relação entre a qualidade dos cursos e os resultados do ENC.
Poderia se argumentar que o referido curso caiu de qualidade, pois passou de A para
B. No entanto, o conceito B ainda é um conceito que, no mínimo, coloca o curso numa
classificação de qualidade acima da média.
O único coordenador que entende não haver relação entre a qualidade dos cursos e os
resultados do ENC, também afirmou que os conceitos do ENC não diferenciam os cursos em
termos qualitativos. Para este coordenador, isso somente seria verdadeiro se a base fosse:
os conhecimentos adquiridos pelos alunos durante o curso, sem nenhuma
preparação especial para o ENC. Isto é, se os alunos forem realizar a prova
sem nenhum tipo de preparação especial.
O coordenador refere-se ao fato de que alguns cursos revisam os conteúdos e
preparam seus alunos para o ENC. Como visto, isto aconteceu em cinco cursos da amostra,
porém, torna-se complexa a tarefa de identificar se tais preparações de fato corrigiram os
problemas.
Também é extremamente complexa a tarefa de medir os efeitos destas preparações.
Por exemplo, qual seria o conceito que um curso obteria se não tivesse implementado aulas de
revisão para os seus alunos? A diferença seria substancial? Implicitamente, discutir revisões
141
ou preparações para o ENC, é discutir o ensino no plano da falta de qualidade. Porém, os
próprios resultados do ENC evidenciam isso sobre os cursos, não sendo necessário ou
possível discutir a influência de tais revisões e preparações no alcance de conceitos.
Como descrito no 2º parágrafo da seção 2.5.2 deste estudo e de acordo com a
regulamentação oficial do MEC, o objetivo maior do ENC é a melhoria da qualidade do
ensino. É razoável crer que, se os coordenadores acreditam na relação entre os resultados do
ENC com a qualidade do ensino, estes, a médio e longo prazos e com base em tais resultados,
tomem providências no sentido de melhorar a qualidade dos cursos que coordenam.
Daí a importância de um sistema de avaliação, mesmo quando não se chegue a uma
unanimidade quanto à sua eficácia, e mesmo que muitas formas de exploração dos resultados
sejam utilizadas pelas instituições. Quase todos os coordenadores entrevistados possuem
alguma idéia ou projeto a serem implantados e que estão em fase de estudos pelo corpo
diretivo das instituições.
Tais idéias e projetos vão desde implantação de novos projetos pedagógicos a
parcerias com empresas privadas, no sentido de aproximar o curso do mercado.
Evidentemente que a busca pela melhoria dos cursos, por parte destes coordenadores, não se
deve exclusivamente ao ENC, mas é reconhecido por todos eles, que este exame desencadeia
novas iniciativas, inclusive de professores que, segundo um coordenador, “também se sentem
mais cobrados”.
A quarta das seis questões foi feita da seguinte forma:
142
Questão 1D: Os resultados do Exame de Suficiência indicam o nível de
preparação dos egressos para o exercício da profissão contábil?
A Tabela 36 demonstra que a maioria dos coordenadores (75%) acha que os resultados
do Exame de Suficiência indicam plenamente o nível de preparação dos egressos para o
exercício da profissão contábil.
Tabela 36: Nível de qualidade dos egressos para profissão contábil segundo o ES
Respostas Nº de Respostas %
Sim 12 75
Sim, com algumas limitações. 2 12
Não 2 12
Total 16 100
Para dois coordenadores, que entendem que há algumas limitações, o exame é muito
fácil e passam muitos candidatos que na verdade não têm condições de exercer a profissão
contábil com qualidade.
Para outros dois coordenadores, os resultados não indicam a preparação, sem
entretanto, explicar as razões. Estes foram os únicos coordenadores que responderam o
questionário e o enviaram pelo correio.
A quinta das seis questões foi feita da seguinte forma:
Pergunta 1E: Como você interpreta o fato de que aproximadamente 50% dos
candidatos ao registro no CRC, não atinge a pontuação mínima necessária para
aprovação no Exame de Suficiência?
A Tabela 37 demonstra que para 50% dos coordenadores isso se deve a problemas
com os próprios alunos. Entretanto, 44% deles, reconhecem que isso indica problemas nos
143
cursos. Um coordenador acha que isso é um resultado normal. Este “normal” é no mínimo
estranho como opinião por vir de um agente que, pelo menos em tese, teria a responsabilidade
de contribuir com a construção humana, discutida no capítulo 1 deste estudo.
Tabela 37: Interpretação dos coordenadores sobre os resultados do ES
Respostas Nº de Respostas %
Problemas com os próprios alunos 8 50
Problemas nos cursos 7 44
Normal 1 6
Total 16 100
Todos os coordenadores foram unânimes em afirmar que os 50% dos alunos que
reprovam no Exame de Suficiência de fato não têm conhecimentos mínimos para exercer a
profissão.
Porém, eles centraram suas repostas, muito mais nas causas deste despreparo. Os
problemas nos cursos, apontados por sete coordenadores, conforme demonstra a Tabela 37,
são:
Paternalismo e ineficiência nos processos de avaliação do alunos (provas);
Ineficiência no processo de ensino.
Quanto ao processo de avaliação, afirma um dos coordenadores de curso de instituição
pública que:
Por mais cuidado que a gente tenha, os critérios de aprovação de alunos
durante o curso, ainda são paternalistas. Todas as regras são feitas para
alunos que têm dificuldades. Tem avaliações normais, exame final e ainda
tem a figura da dependência, em que a média de 6 pontos cai para 5 pontos.
Então, é um critério paternalista, pois um aluno que passa com uma nota 5
vai tirar “cinco” lá fora também. Ele passa e se forma, mas tem uma
formação deficiente.
Para um outro coordenador, de um curso de instituição privada:
144
Durante o curso, se tenta segurar o aluno que não tem condições, mas o
aluno sempre acha uma alternativa de passar, ou colando, ou participando de
grupos e tirando notas sem merecer. Então tem muito aluno que acaba se
formando, mas sem condições de atuar no mercado.
Os problemas nos cursos consistem em formar o aluno no final do curso, mesmo ele
não tendo uma boa formação. A responsabilidade do curso não é ser paternalista, ou seja, o
curso não existe, ou não deveria existir apenas para passar alunos sem condições para isso.
Cabe à coordenação em conjunto com os professores, encontrar ferramentas que
impeçam que alunos sejam mais astutos e até mais “inteligentes” que os professores no
momento de uma avaliação numa determinada disciplina. Sob este ponto de vista, o Exame de
Suficiência faz o que o curso não faz, ou seja, reprova alunos incapazes
48
.
Com isso, podem surgir outros problemas, de ordem moral e profissional para os
alunos formados pela instituição de ensino e reprovados pelo órgão de classe. Também as
instituições de ensino e o curso podem ter problemas de continuidade.
Quanto à ineficiência no processo de ensino, um coordenador afirmou o seguinte:
Temos uma grande crise na questão de “interpretações e definições”, não
bem trabalhadas em nossos cursos, sendo estes, em sua maioria “tecnicista”,
isto é, prepara mais o aluno para fazer cálculos, quadros e estruturações, até
com o auxilio do computador.
O coordenador refere-se ao fato de que o aluno aprende mecanicamente a fazer
Contabilidade, mas não aprende a teoria contábil, não aprende conceitos, ou seja, não exerce
raciocínio critico sobre o que lê, o que escreve e o que pratica. Isso dificulta no momento em
48
Na seção 2.2.2 deste estudo foi exposta uma visão de Koliver (1999) em que afirma que o diploma da
graduação não é igual à competência plena para o exercício da profissão contábil. Por isso, então, a existência
deste exame.
145
que o aluno se defronta com questões no Exame de Suficiência, que exigem dele essas
habilidades.
Problemas com os alunos, foram apontados por oito coordenadores, conforme
demonstra a Tabela 37. Dentre estes problemas, estão:
Problemas de interpretação;
Desinteresse dos alunos durante o curso.
Aqui os problemas de interpretação decorrem da formação do aluno nos níveis de
ensino anteriores ao nível superior. É questionável, no entanto, que o aluno entra no curso
superior com dificuldades de interpretação de textos, percorre quatro anos de curso superior,
sendo aprovado por todos os seus professores, e, se ele reprova no Exame de Suficiência, é
porque teve um ensino médio e fundamental deficiente.
Questioná-se o fato de não haver melhorias neste quesito em todo o tempo de curso
superior. Essa justificativa remete apenas ao fato de que o curso em si possui as falhas
descritas anteriormente, ou seja, paternalismo e ineficiência nos processos de avaliação dos
alunos durante o curso.
O desinteresse dos alunos durante o curso também é um problema, segundo o relato de
um coordenador de curso de instituição privada:
Eu posso dizer especificamente do meu curso. Eu conheço alunos que
reprovaram no Exame de Suficiência e posso descrever o perfil deles. São
alunos que ou não assistiam às aulas, ou não queriam seguir carreira na área
contábil e não se interessavam por elas, ou que, em algum momento do
curso, descobriram que não era o curso que queriam fazer e não
abandonaram porque já estavam no fim, ou porque os pais não deixaram.
146
O que se questiona com este relato, é o seguinte: como alunos com este perfil são
aprovados durante o curso?. Na mesma linha de pensamento deste coordenador, um outro
coordenador, também de curso de instituição privada afirma o seguinte:
Todo curso tem um conteúdo a ser seguido, então o interesse é do aluno. Eu
acho que não é a instituição que faz o aluno, isso depende do aluno. Claro
que se ele estiver numa boa instituição é melhor, mas vai depender sempre
muito mais dele do que da própria instituição. Em minha opinião a causa da
reprovação é o despreparo do aluno, mas dele e não do curso que ele fez.
Sendo estes, coordenadores de instituições privadas, é necessário recordar que, é o
curso, através dos apelos comerciais das IES, que atrai os alunos, convence
49
os alunos a
fazerem opção por ele. Com base nestes relatos, parece que, a responsabilidade do curso é
trazer o aluno pra dentro da instituição e não formá-lo com qualidade, já que isso irá depender
exclusivamente do próprio aluno.
Um coordenador de um curso de instituição pública que possui uma média de quase
90% de alunos aprovados no Exame de Suficiência fez o seguinte relato:
No nosso curso, todos nós professores temos compromisso com a qualidade,
isso é discutido em reuniões. O aluno tem que aprender. Nós discutimos
então como fazer isso acontecer, e todos se envolvem. Um ponto a nosso
favor é que não nos preocupamos com a aprovação pura e simples do aluno e
sim com o seu aprendizado. Aqui o aluno só passa se ele sabe. Não existe
paternalismo no nosso curso. A partir do ano que vem o aluno fará quatro
provas bimestrais durante o ano, se ele alcançar média seis, ele passa, senão
fica para dependência no ano seguinte. Não existe recuperação.
Essa é uma das vantagens dos cursos de instituições públicas, segundo alguns
coordenadores, ou seja, o fato de que não precisam se preocupar com aprovação ou
reprovação de alunos, principalmente pela questão financeira implicita. Essa questão
financeira, nos cursos de instituições privadas, é um ponto mais sensível, e influi, diretamente
49
Não é necessário descrever as promessas de sucesso profissional que as instituições de ensino fazem para os
alunos que optarem por seus cursos superiores.
147
na continuidade dos cursos, bem como na qualidade dos profissionais formados por estes
cursos.
À margem desta discussão, considerando os objetivos deste estudo, o importante é que
estes relatos apontam para falhas existentes muito mais nos cursos do que nos alunos, mesmo
quando alguns argumentam que o problema maior é a falta de interesse de alunos.
A não aprovação do aluno no Exame de Suficiência reflete que ele não tem o
conhecimento mínimo desejado. Quando 50% ou mais não passa, alguma coisa muito mais
grave existe. Todo o sistema deve ser rediscutido dentro e fora dos cursos. Isso porque estes
alunos (50% reprovados) foram formados pelos cursos, ou seja, os professores os avaliaram e
os aprovaram até se formarem. A falta de interesse dos alunos não pode ser a única razão para
esse mal desempenho.
Comparando as repostas, percebe-se que, os maus resultados no ENC são
interpretados por alguns coordenadores como falta de comprometimento do aluno com o
curso. Se isso é verdadeiro, no Exame de Suficiência, como o interesse é todo dos alunos, os
resultados deveriam ser melhores, mas não são.
De acordo com a Tabela 28 demonstrado na seção 4.3 deste estudo, oito cursos de
qualidade média ou abaixo da média no ENC possuem índices de aprovação no Exame de
Suficiência menores que 50%. Em outras palavras, o mau resultado no ENC corresponde,
quase sempre, também a um mau resultado no Exame de Suficiência.
Essa é uma análise que cada coordenador deve fazer em relação aos resultados de seus
cursos e de seus egressos em tais exames.
148
A sexta das seis questões foi feita da seguinte forma:
Questão 1F: Existe relação entre a qualidade com que o ensino de Ciências
Contábeis é oferecido ao aluno e o seu resultado no Exame de Suficiência?
A Tabela 38 demonstra que para quinze coordenadores (94%) existe relação entre a
qualidade do ensino e os resultados do Exame de Suficiência. Para um coordenador (6%) não
existe tal relação.
Tabela 38: Relação entre a qualidade dos cursos e os resultados do ES
Respostas Nº de Respostas %
Sim 15 94
Não 1 6
Total 16 100
Estas opiniões estão condizentes com as da questão 1C que trata da mesma questão no
âmbito do ENC. Portanto, a maioria dos coordenadores entende que existe relação entre os
resultados do ENC e do Exame de Suficiência com a qualidade dos cursos. Os resultados de
ambos os exames refletem, para a maioria dos coordenadores, a qualidade com que os cursos
são oferecidos.
A Tabela 39 fornece a possibilidade de uma análise conjunta dos resultados de ambos
os exames.
Tabela 39: Análise conjunta dos resultados
Resultados ENC Exame de Suficiência
Conceito A/B 25% -
Conceito C/D/E 75% -
Alunos aprovados 25%
Alunos reprovados 75%
Total 100% 100%
149
De acordo com esta Tabela, 12 cursos (75%) da amostra obtiveram no máximo
conceitos C, D e E no ENC e, também, 12 cursos (75%) possuem índices de reprovação em
torno de 50% no Exame de Suficiência. Em outras palavras, é legitimo afirmar que se um
curso tem conceitos médios ou abaixo da média no ENC, espera-se que seus alunos (a maioria
ou quase a maioria) seja reprovada no Exame de Suficiência.
Infere-se, portanto, que a maioria dos cursos da região não possui qualidade suficiente
para formar profissionais contábeis aptos para atuar no mercado de trabalho com qualidade,
de acordo com os resultados de ambos os exames e das opiniões dos coordenadores. Resta,
portanto, conhecer alguns fatores que contribuem para o alcance destes resultados e isso será
visto adiante.
4.4.3.2 Opinião dos coordenadores sobre as causas dos resultados (2ª pergunta)
A pergunta central que buscou conhecer a opinião dos coordenadores sobre os fatores
que contribuem para o alcance dos resultados nos exames foi:
Pergunta 2: Quais fatores que mais contribuem, de forma geral para os atuais
desempenhos dos alunos em ambos os exames?
Da mesma forma que na pergunta 1, essa foi subdividida em cinco questões
50
mais
objetivas e específicas que serviram como guias para que cada coordenador pudesse expor, de
forma ordenada, seu ponto de vista, e houvesse, dessa forma, o máximo de opiniões,
convergentes ou divergentes, sobre vários focos da mesma pergunta.
50
A numeração dessas questões corresponde aquela constante do questionário que encontra-se nos anexos deste
estudo. Como a pergunta central é a número 2, as cinco questões receberam a numeração 2A, 2B, 2C, 2D e 2E.
150
Um coordenador de curso de instituição privada, que enviou o questionário respondido
pelo correio não respondeu essas cinco questões. Portanto, tem-se a opinião, para esse
conjunto de questões, de quinze coordenadores.
A primeira dessas cinco questões foi feita da seguinte forma:
Questão 2A: O alcance de resultados satisfatórios em ambos os exames indica um
processo eficiente de ensino-aprendizagem?
Como demonstra a Tabela 40, dos quinze coordenadores, quatorze responderam que
sim, que o alcance de resultados satisfatórios nos exames indica um processo eficiente de
ensino-aprendizagem. Apenas um coordenador de curso de instituição privada respondeu
negativamente.
Tabela 40: Relação entre os resultados dos exames e o processo de ensino-aprendizagem
Respostas Nº de Respostas %
Sim 14 93
Não 1 7
Total 15 100
Como visto, nas Tabelas 38 e 35, para 15 dos 16 coordenadores, quanto maior é a
qualidade do curso, melhores são seus resultados no ENC e de seus alunos no Exame de
Suficiência. A Tabela 40 propicia complementar este raciocínio afirmando que, para os
coordenadores, resultados melhores em ambos os exames, dependem da eficiência do
processo de ensino-aprendizagem.
Em outras palavras, a eficiência do ensino-aprendizagem determina a qualidade do
curso. Como a maior parte dos cursos da região possui qualidade insuficiente, se considerados
os resultados dos exames, esta falta de qualidade origina-se da ineficiência do processo de
151
ensino-aprendizagem. Ou seja, tais cursos possuem um processo ineficiente de ensino-
aprendizagem.
Buscou-se identificar, portanto, por meio das quatro questões subseqüentes, os fatores
que causam esta ineficiência. Isso foi feito para descobrir se a ineficiência da qualidade dos
cursos da região, originada pela ineficiência do processo de ensino-aprendizagem, se deve
principalmente, ao corpo docente, aos alunos ou à estrutura dos cursos.
A segunda das cinco questões foi feita da seguinte forma:
Questão 2B: No seu curso, em relação ao corpo docente, quais fatores comprometem a
eficiência no processo de ensino-aprendizagem e que dificultam o alcance de resultados
satisfatórios em ambos os exames?
Os problemas citados pelos coordenadores, em relação ao corpo docente, encontram-
se na Tabela 41.
Tabela 41: Influência do corpo docente na eficiência do processo de ensino-aprendizagem
Respostas Nº de Respostas %
Regime de trabalho 5 33
Falta de professores 3 20
Qualificação docente 2 13
Comprometimento de professores 2 13
Falta de titulação do corpo docente 1 7
Cinco coordenadores (33%) apontaram o Regime de Trabalho como um fator que
prejudica o processo de ensino-aprendizagem. A Falta de Professores foi mencionada por três
coordenadores (20%). Análises mais específicas são demonstradas mais adiante.
A terceira das cinco questões foi feita da seguinte forma:
152
Questão 2C: No seu curso, em relação ao corpo discente, quais fatores comprometem a
eficiência no processo de ensino-aprendizagem e que dificultam o alcance de resultados
satisfatórios em ambos os exames?
Os problemas citados pelos coordenadores encontram-se na Tabela 42.
Tabela 42: Influência do corpo discente na eficiência do processo de ensino-aprendizagem
Respostas Nº de Respostas %
Despreparo do aluno para o curso superior 13 87
Comprometimento de alunos durante o curso 2 13
Treze dos quinze coordenadores apontaram o despreparo do aluno para o curso
superior como principal fator que prejudica a eficiência do processo de ensino-aprendizagem,
e, consequentemente os resultados nos exames.
Aqui, este despreparo refere-se à falta de conhecimentos que deveriam ter sido
adquiridos no ensino fundamental e médio e não à falta de vontade dos alunos, que foi
mencionada por apenas um coordenador. Outras e mais específicas análises são demonstradas
mais adiante.
A quarta das cinco questões foi feita da seguinte forma:
Questão: No seu curso, em relação à estrutura, quais fatores comprometem a eficiência
no processo de ensino-aprendizagem e que dificultam o alcance de resultados
satisfatórios em ambos os exames?
Os problemas citados pelos coordenadores, em relação à estrutura dos seus cursos,
encontram-se na Tabela 43.
153
Tabela 43: Influência da estrutura na eficiência do processo de ensino-aprendizagem
Respostas Nº de Respostas %
Laboratório 8 53
Biblioteca 3 20
Recursos Pedagógicos 2 13
A falta de Laboratório ou suas limitações foi apontada por oito coordenadores (53%)
como a principal falha na estrutura dos cursos que prejudicam a eficiência do processo de
ensino-aprendizagem, e consequentemente os seus resultados nos exames. As análises destes
fatores são demonstradas adiante com depoimentos dos entrevistados.
A quinta das cinco questões foi feita da seguinte forma:
Questão 2E: Além destes, que outros fatores comprometem a eficiência no processo de
ensino-aprendizagem e que dificultam o alcance de resultados satisfatórios em ambos os
exames?
Na Tabela 44, outros problemas foram citados pelos coordenadores ou percebidos pelo
pesquisador. São problemas mais específicos que possuem relação direta ou indireta com o
corpo docente, corpo discente e estrutura dos cursos.
Tabela 44: Influência da estrutura na eficiência do processo de ensino-aprendizagem
Respostas Nº de Respostas %
Sistema de recuperação do aprendizado 11 73
Falta de exigência de pesquisas para publicações 2 13
O curso não prepara o professor 1 7
Dos quinze coordenadores nenhum mencionou um processo sistemático de aulas de
recuperação para alunos que, ao fim do período, não conseguiram alcançar a média final. É
comum em três cursos que alguns professores, mais comprometidos, se coloquem a
154
disposição dos alunos para que ocorram essas aulas, mas isso para acontecer depende dos
alunos.
Ou seja, o sistema de recuperação que existe nos cursos da amostra é da nota, e não do
aprendizado. Isso não ajuda em nada a resolver ou amenizar o problema do despreparo do
aluno para o curso superior. Qualquer sistema formal de recuperação do aprendizado é melhor
do que o sistema que visa apenas a recuperação de notas.
Na opinião de dois coordenadores entrevistados, a falta de exigência de trabalhos para
apresentação em eventos e publicação em revistas e anais de congressos limita a atividade do
aluno apenas para dentro de sala de aula, além de limitar também a produção científica do
professor.
Um coordenador apontou para a falha existente na formação do contador para a
docência, ou seja, existe uma dificuldade de transformar profissionais formados para atuar no
mercado em professores com qualidades didáticas e boas práticas pedagógicas
51
. Os
problemas residem na preparação de aula, como abordar assuntos em sala de aula, de prova,
entre outros.
A Tabela 45 apresenta um panorama geral dos problemas descritos pelos
coordenadores. Está ordenada pelos problemas mais mencionados para os menos
mencionados. Estes problemas, segundo os entrevistados, são os que prejudicam a eficiência
do processo de ensino-aprendizagem, e, consequentemente, prejudicam o alcance de
resultados satisfatórios dos cursos no ENC e dos alunos no Exame de Suficiência.
51
Essa opinião é corroborada com a opinião de Nossa (1999), exposta na seção 2.7.1 deste estudo, que afirma
que jovens profissionais foram recrutados, para a docência, sem nenhuma experiência e preparo para o exercício
do magistério.
155
Tabela 45: Panorama geral dos problemas que afetam o processo de ensino-aprendizagem
Respostas Nº de Respostas %
Despreparo do aluno para o curso superior 13 87
Sistema de recuperação do aprendizado 11 73
Laboratório 8 53
Regime de trabalho 5 33
Falta de professores 3 20
Biblioteca 3 20
Qualificação docente 2 13
Comprometimento de professores 2 13
Recursos Pedagógicos 2 13
Falta de exigência de pesquisas para publicações 2 13
Falta de titulação do corpo docente 1 7
Comprometimento de alunos 1 7
O curso não prepara o professor 1 7
Para os coordenadores, o despreparo do aluno para o curso superior é o problema que
mais afeta a qualidade dos cursos de Ciências Contábeis da região. O aluno de hoje, segundo
os coordenadores, não tem uma formação de base adequada e, por isso, tem dificuldades para
acompanhar um curso superior. Segundo um coordenador de curso de instituição privada:
Muitos alunos já entram fracos no curso e depois eles não têm
acompanhamento à parte para reduzir as suas deficiências. Quando você fala
em Contabilidade que envolve muita legislação, muita responsabilidade
civil, como a faculdade vai ser responsável em formar um bom profissional,
se muitas vezes, os alunos não têm a base do ensino fundamental e médio
para isso? Aí você tem dois caminhos, ou resolve o problema dessa
deficiência e diminui a ênfase no conteúdo do curso, ou toca adiante o
conteúdo e forma um profissional incompleto.
Corroborando, um outro coordenador de curso de instituição pública questiona “como
vamos recuperar quatro anos de ensino fundamental e mais quatro anos de ensino médio em
nossa grade curricular?”. Boa parte dos coordenadores aponta para deficiências dos alunos em
relação à interpretação de textos, gramática e matemática.
Por exemplo, no ENC existe o problema da compreensão dos textos e é aí
que muitas vezes o conceito vai pra baixo. Neste caso, o conceito do ENC
não reflete em si muitas vezes o curso, mas as pessoas, por causa da
formação que adquiriram no ensino fundamental e médio.
156
O coordenador que citou este exemplo está ligado a curso de instituição privada. Para
ele, alguns conhecimentos cobrados, tanto no ENC quanto no Exame de Suficiência, não
dependem apenas do que o aluno aprendeu no curso superior, mas também do que aprendeu
nos níveis anteriores de ensino.
Além disso, a postura e o comportamento do aluno também foram vistos como
problemas que afetam a qualidade dos cursos. Os alunos ingressam com menos idade nos
cursos superiores e, de acordo com um coordenador, “o aluno de hoje sai de um curso quando
ele deveria estar entrando”. Isso é um problema em função da sua imaturidade como pessoa e
como profissional.
Para ilustrar isso, um coordenador de curso de instituição pública faz o seguinte relato:
Quando eu estudei na escola pública, os alunos tinham que ir todos
uniformizados. Se era meia preta e você ia com meia marrom, não te
deixavam entrar na escola. Atualmente, os alunos aparecem aqui, no curso
superior, de bermudas, de chinelo de dedo, de camiseta regata, etc. Acredite
ou não, a qualidade do aluno está por trás disso e a qualidade sempre começa
pela disciplina.
Os coordenadores apontaram a escola pública de nível fundamental e médio como a
que não possui qualidade, embora existam exceções. Segundo o coordenador de curso de
instituição pública que obteve os melhores resultados no ENC e no Exame de suficiência, em
seu curso, 40% dos alunos vêm de escola publica e estes apresentam as maiores dificuldades
no acompanhamento do curso.
Um outro coordenador de curso de instituição pública afirmou que 90% dos seus
alunos vêm de escola pública. Este curso obteve conceitos C e E no ENC e possui média de
45% de alunos reprovados no Exame de Suficiência. Este curso está em uma cidade que
possui cerca de 46.000 habitantes. O curso citado no parágrafo anterior, com melhores
157
resultados nos exames, e que possui cerca de 40% de alunos de escola pública, está numa
cidade com mais de 400.000 habitantes.
Portanto, embora os dois cursos sejam de instituições públicas, o que está na cidade
menor recebe muito mais alunos de escola pública e possui uma relação candidato-vaga no
vestibular do curso de Ciências Contábeis de 3 por 1. O curso que está na cidade maior recebe
mais alunos de escolas privadas e possui uma relação de 15 por 1.
Um outro coordenador que coordena um curso de instituição privada na mesma cidade
de mais de 400.000 habitantes relatou o seguinte:
Nós fizemos uma pesquisa aqui na instituição e constatamos que mais de
90% dos alunos que fazem contábeis, estudaram em escola pública no ensino
fundamental e médio. Isso é interessante, o aluno que estuda em escola
pública, no nível superior vai para a privada. O aluno que estuda em escola
privada, no ensino superior vai para a pública. Isso quer dizer que, no nível
fundamental e médio, a escola privada é melhor do que a pública.
Isso também pode tornar a escola pública, no nível superior, melhor do que a privada.
Essa é a visão de quatro coordenadores que defendem a idéia de que nas instituições públicas
se tem os melhores alunos, e por isso, os resultados dos exames são melhores.
Porém, como visto, existem cursos de instituições públicas que por estarem em
cidades pequenas, também falham no processo de seleção e recebem muito mais alunos de
escola pública do que privada.
É possível afirmar que a escola pública no nível superior, para ser melhor do que a
privada, em termos de seleção de alunos, deve pertencer a uma cidade grande que propicie o
alcance de alta relação candidato-vaga no vestibular como forma de selecionar os melhores
alunos.
158
Isso condiz com o que foi pesquisado. Os dois cursos de Ciências Contábeis com
melhores resultados em ambos os exames, são de instituições públicas e estão situados nas
duas maiores cidades da região que possuem mais de 300.000 habitantes e relação candidato-
vaga de 10 a 15 por 1.
Sendo o despreparo anterior do aluno o maior problema, é natural que os cursos
busquem amenizar isto com ações que propiciem que o aluno supere suas dificuldades. Entre
outras ações, há o sistema de avaliação que deve contemplar os critérios para aprovação nas
disciplinas do curso. Disto decorre a alternativa do sistema de recuperação do aprendizado,
que é o 2º maior problema citado.
O fato de não existir um processo sistemático que recupere o aprendizado do aluno
que, independente do motivo, não alcançou conhecimento suficiente para ser aprovado de
forma direta, trás consigo ou é seu próprio resultado, o problema do paternalismo. O impacto
disso pode ser assim descrito:
Paternalismo: se um aluno nas provas normais não atinge nota mínima para
aprovação no ano letivo, tem que fazer uma prova de recuperação. Neste caso, a
média, em muitos cursos cai, exatamente para facilitar a aprovação do aluno. Do dia
da ultima prova até o dia da prova de recuperação, e isso ocorre em quase todos os
cursos da amostra, o aluno não conta com aulas que visam recuperar seu aprendizado e
prepará-lo para prova definitiva. Assim, é propiciado aos professores aplicarem provas
fáceis para poderem aprovar alunos que não alcançaram conhecimentos suficientes
para passar para o período letivo seguinte. Essa prática, repetida durante os anos do
curso e em quase todas as disciplinas, cria uma cultura paternalista, difícil de mudar,
que mais prejudica do que ajuda, e que possui reflexos diretos nos resultados do ENC
159
e do Exame de Suficiência, uma vez que tal sistema não só aprova alunos
despreparados, mas também os mantêm assim até o final do curso, em função da
cultura que se criou
52
. Ou seja, a médio e longo prazos, o próprio curso (também a
instituição) e o próprio aluno são prejudicados. Evidentemente que o paternalismo não
está presente apenas nesse item (sistema de recuperação do aprendizado), mas foi
objetivamente constatado nele. Se o aluno já vem com deficiências do ensino
fundamental e médio, não ter sistema formal de recuperação do aprendizado só agrava
esse problema.
O terceiro maior problema citado pelos coordenadores refere-se ao Laboratório de
Informática dedicado ao curso de Ciências Contábeis. Para um coordenador “se o curso
oferece a estrutura, mais cedo ou mais tarde o aluno vai se beneficiar dela”. Para outro
coordenador de curso de instituição pública:
Um laboratório de informática facilita o desempenho de professores e alunos
em suas atividades. Também é útil e importante para ampliar as
possibilidades de aulas, além de beneficiar o trabalho de pesquisas, tanto de
professores quanto de alunos.
Dos onze cursos que possuem laboratórios de informática exclusivos para o curso de
Ciências Contábeis, quatro deles precisam de mais e melhores computadores, segundo seus
coordenadores. Destes quatro cursos, dois são de instituições públicas e outros dois de
instituições privadas.
Um destes cursos de instituições públicas possui laboratório porque seus alunos, ao
longo dos anos, conseguiram os computadores por meio de doações de entidades privadas.
52
A premissa aqui é que se o aluno sabe que terá facilidades no fim do período letivo, não se dedicará
adequadamente durante esse período. Essa cultura se espalha na instituição entre alunos e professores, e por isso,
é difícil mudar. Nas instituições privadas, o risco do aluno reprovar e abandonar o curso agrava ainda mais isso,
pela questão financeira da instituição.
160
Segundo o coordenador deste curso:
Faltam computadores para o laboratório e também sistemas contábeis.
Reivindicamos isso para o governo estadual há quatro anos, mas não fomos
atendidos até hoje. Os nove computadores que temos aqui foram
conseguidos através de gincanas de alunos promovidas em nosso evento
anual.
Este curso obteve conceito C nas duas edições do ENC e possui média de 45% de
alunos reprovados no Exame de Suficiência. Embora seja um curso de instituição pública, a
relação candidato-vaga no vestibular gira em torno de 3 a 4 por 1 e os alunos que entram no
curso vêm, predominantemente, de escolas públicas. Os doze professores deste curso são
especialistas, e, destes, apenas cinco possui regime de trabalho acima de 30 horas semanais.
Fazendo então uma comparação, o curso com melhores resultados no ENC e no
Exame de Suficiência, não possui laboratório exclusivo para o curso e também é de instituição
pública. Porém, a relação candidato-vaga no seu vestibular é de 15 por 1, e dos alunos que
entram no curso, pouco mais de 40% vem de escolas particulares. Dos dezoito professores
deste curso, treze são mestres e um é doutor, além de todos os dezoito professores serem
contratados por 40 horas semanais.
Essa é uma comparação que remete ao quarto maior problema enfrentado pelos cursos
da região: o regime de horário dos professores. Cinco coordenadores disseram ser este um dos
problemas em seus cursos. Destes, dois coordenadores são de instituições públicas e três de
instituições privadas.
Para todos os quinze entrevistados, o regime de horário do professor é importante para
atendimento aos alunos fora de sala de aula, participação em reuniões e envolvimento maior
com a instituição e com o curso. Porém, é para alcançar a melhoria do processo de ensino-
161
aprendizagem que os coordenadores pensam ser o regime de trabalho, um fator importante.
Isso porque, segundo um coordenador:
O professor pago por hora aula, não tem tempo de assistir aos alunos e de
preparar melhores aulas, além de aulas mais atualizadas. Também não tem
tempo para pesquisa. Muitas vezes o aluno não se sente confortável de fazer
perguntas dentro de sala de aula, então se ele tem a disponibilidade do
professor, ele, numa conversa individual, se solta mais, consegue até se
expressar melhor, perde o medo.
Para um outro coordenador “o regime de trabalho maior possibilita que professores
preparem melhor suas aulas e até dêem aulas de nivelamento”. Este é um ponto que poderia
amenizar o problema do aluno que entra no curso superior sem uma formação de base
adequada.
Em relação à formação do professor, há uma unanimidade quanto à necessidade de
que o professor de Ciências Contábeis tenha uma experiência relevante na área. Para um
coordenador “na nossa área, ter um professor com regime parcial ou integral é importante
para ele ser um pesquisador. Mas para efeito de formação do aluno, o professor tem de ter
uma formação profissional na área”.
Embora esta seja uma opinião compartilhada por todos os coordenadores, ficou claro
que, as duas características mais importantes para o corpo docente, segundo os coordenadores,
são:
Regime de trabalho maior para preparação de aulas melhores e mais atualizadas,
atendimento a alunos, participação em reuniões, pesquisas individuais e com alunos,
entre outros, além do horário em sala de aula.
O professor deve ter experiência no mercado de trabalho. Deve trazer sua experiência
para sala de aula. Não pode ficar só “limitado” aos livros.
162
Porém, tais características denotam um paradoxo. Os coordenadores preferem
professores com experiência profissional, de preferência que estejam atuando no mercado,
porém, também desejam o professor com regime de trabalho suficiente para dedicação ao
curso.
Isso gera um questionamento: como um professor pode conciliar o tempo que deve se
dedicar ao curso com o tempo que deve estar atuando no mercado de trabalho, para não se
desatualizar?
Há uma tendência, no entanto, de a maioria dos coordenadores dos cursos da região
preferir mais os professores com experiência prática e com menos dedicação ao curso,
especialmente quando a experiência prática de um professor concorre com a titulação de outro
professor. Isso porque a visão que se tem dos mestres e doutores é uma visão que coloca este
professor como alguém que conhece apenas a teoria.
São descritos adiante, alguns relatos dos coordenadores sobre mestres e doutores e
também sobre suas qualidades como professores.
O que a gente observa é que o professor que faz o mestrado vem com um
cabedal de conhecimentos que, quando relacionados com a prática,
provocam um choque muito grande.
Os professores mestres ou doutores, na sala de aula, até apresentam
dificuldades com aquilo que é óbvio para ele e é novidade para o aluno. O
professor mestre ou doutor tem dificuldades de voltar ao mundo da
graduação, isso no que se refere à diferença de conhecimentos e também à
linguagem que muitas vezes é usada pelo professor.
Os títulos de mestrados e doutorados são importantes? São. Mas os
profissionais que estão dentro das empresas no dia-a-dia delas se dão melhor
em sala de aula. É importante ensinar novos conceitos como o ABC e o
BSC, mas o professor titulado vem da teoria e não conhece a prática, e às
vezes estes novos conceitos, na verdade, não têm muita utilidade.
Nós, professores aqui do curso, estamos na ativa, estamos no mercado, ou
seja, estamos atualizados com a realidade da profissão. Nós não estamos em
163
cima de livros, vivemos o dia-a-dia da nossa profissão e estamos atualizados
em todos os sentidos.
Conheço casos em que o professor, depois de escrever sua tese ou
dissertação, não consegue mais falar sobre outra coisa que não seja o assunto
abordado no trabalho que ele fez. Ele não consegue mais pegar aquele
conteúdo programático e segui-lo e desenvolvê-lo em sala de aula sem se
reportar ou sem manifestar a sua tese ou dissertação. Por exemplo, sobre
prática tradicionais em Contabilidade, em um curso de especialização, eu
ouvi um professor dizendo: - esquece, isso é lixo. Aí ele vem com novas
idéias de sua tese.
Essas são as opiniões de coordenadores a respeito de mestres e doutores como
docentes, e não como pesquisadores. Não é objetivo desta pesquisa discutir tais opiniões com
muita profundidade, e isso não será feito. Mas é necessário desfazer-se de preconceitos pré-
estabelecidos e analisar cada caso, uma vez que é conhecido o fato de que bons e maus
professores existem independentemente de serem graduados, especialistas, mestres ou
doutores.
Quanto à atualização profissional do professor e a validade de novos conceitos que
emergem nos livros e artigos científicos da área contábil, tem-se a visão de Souza, Lisboa e
Rocha (2004, p. 58) que afirmam o seguinte:
Quanto aos trabalhos acadêmicos direcionados a novos desenvolvimentos ou
novos entendimentos conceituais, deve ser destacado que a academia, para
bem cumprir a sua missão, deve ter um comportamento de vanguarda e não
apenas ficar “amarrada” àquilo que a prática tradicionalmente tem aceitado
como válido. Acrescente-se a isso o fato de que mesmo que novas práticas
não tenham uma ampla e efetiva aplicação, são importantes no
direcionamento e/ou aperfeiçoamento de outras assim utilizadas.
Essa visão, quase que unânime dos coordenadores a respeito de mestres e doutores,
justifica o fato de que eles não vêem a falta de professores com titulação como um problema
relevante nos cursos. Por outro lado, em função do problema reconhecido pelos
coordenadores, em relação ao regime de trabalho, adicionalmente, dois entrevistados
mencionaram a falta de comprometimento dos professores como um problema.
164
4.4.3.3 Especificidades do processo de ensino-aprendizagem (3ª pergunta)
A 3ª pergunta foi assim formulada:
Pergunta 3: Como é o processo de ensino na sua instituição?
Os dezesseis coordenadores entrevistados responderam essa pergunta e foram
questionados sobre algumas especificidades do processo de ensino-aprendizagem nos cursos
que coordenam. Porém, essa pergunta, pelos mesmos motivos descritos nas perguntas 1 e 2,
também foi subdividida em seis questões
53
.
A primeira das seis questões foi feita da seguinte forma
Questão 3A: Por quem são elaborados os planos de ensino de cada disciplina?
A Tabela 46 demonstra que em apenas um curso, os planos de ensino são elaborados
pelos professores. Em dez cursos, participam da elaboração dos planos de ensino, além dos
professores, os membros do departamento do curso ou do seu colegiado que, inclusive o
aprovam. Em cinco cursos os planos já são pré-estabelecidos ou pelo departamento do curso
ou pelo seu colegiado.
Tabela 46: Elaboração dos planos de ensino
Respostas Nº de Respostas %
Pelos professores e aprovado pelo departamento ou colegiado 10 62
Pelo departamento ou colegiado 5 31
Pelos professores 1 7
Total 16 100
53
A numeração dessas questões corresponde aquela constante do questionário que encontra-se nos anexos deste
estudo. Como a pergunta central é a número 3, as seis questões receberam a numeração 3A, 3B, 3C, 3D, 3E e 3F.
165
As respostas às questões que vão da 3B à 3F são apresentadas na Tabela 47. Embora
alguns comentários adicionais tenham sido feitos pelos coordenadores entrevistados, as
questões foram direcionada a obterem respostas objetivas e desta forma são apresentadas na
Tabela 47.
Tabela 47: Características especiais dos cursos da amostra
Respostas
Questões
Sim Não
3B
São feitas reuniões entre os professores para discutir os planos de ensino de
cada disciplina e suas relações com outras disciplinas?
100%
3C
Existe algum controle sobre os professores no sentido de assegurar que o
plano de ensino seja cumprido?
31% 69%
3D
Os alunos do curso são convidados a participar de reuniões de avaliação de
professores ou do curso como um todo?
44% 56%
3E
A instituição oferece apoio financeiro aos professores para pesquisas,
participações em eventos relacionados à área contábil, formação
acadêmica, etc.?
93% 7%
3F Há controle/acompanhamento da carreira profissional dos alunos egressos? 13% 87%
Todos os dezesseis coordenadores afirmaram na questão 3B, que são feitas reuniões
entre os professores para discussão dos planos de ensino e integração das disciplinas. Em dois
cursos, essas reuniões ocorrem predominantemente no inicio do período letivo. Nos outros
cursos, tais reuniões ocorrem com mais freqüência, mensais ou bimestrais.
Em relação à questão 3C, quanto ao controle do coordenador em saber se os planos de
ensino foram ou não cumpridos pelos professores, apenas cinco coordenadores disseram que
possuem este controle e onze coordenadores disseram que não possuem nenhum controle.
Dos cinco coordenadores que disseram sim, apenas um disse como faz. Este exige que
os professores passem cópias das provas para a coordenação fazer a checagem entre o que
está sendo cobrado e o que deveria ser de acordo com o plano.
A questão 3D indaga se os alunos são convidados a participar de reuniões com o
coordenador e com os professores. Em nove cursos (56%) isso não é feito. Nos sete cursos,
166
onde os alunos são convidados a participarem de reuniões, isso é feito formalmente, ou seja,
os alunos têm representação no colegiado e um ou mais representantes participam
efetivamente das reuniões.
Dos nove cursos em que isso não é feito, em cinco deles os coordenadores admitiram
promover conversas informais com alguns alunos. Em tais conversas, os coordenadores
buscam informações sobre o andamento das disciplinas e informações sobre a atuação dos
professores.
A questão 3E procura saber se a instituição de ensino oferece apoio financeiro aos
professores, especificamente, para participação em eventos, pesquisas, entre outros. Quinze
coordenadores (93%) disseram que existe ajuda da instituição e em apenas uma, essa ajuda
não ocorre.
A questão 3F busca saber se a vida profissional do egresso é acompanhada pelo curso.
Isso é feito, formalmente, em apenas dois cursos (13%), em que questionários são enviados
para egressos a cada dois anos. Nos outros quatorze cursos (87%) os coordenadores ficam
sabendo da vida profissional dos egressos, ocasionalmente de forma informal.
As respostas obtidas à essa 3ª pergunta, em boa parte dos casos, mostram uma situação
tida como ideal, como reuniões mensais entre professores, a participação democrática dos
alunos, o apoio financeiro das instituições, entre outros. Estas situações apontam para a
necessidade de estudos específicos sobre elas e sobre os benefícios que elas trazem ao
processo de ensino-aprendizagem.
167
Isso porque, não tendo os cursos da amostra qualidade suficiente, como já
mencionado, é questionável que alguns itens desta 3ª pergunta sejam plenamente satisfeitas.
Por exemplo, se um dos problemas identificados pelos próprios coordenadores é o regime de
trabalho insuficiente do corpo docente, é natural que se deduza que o corpo docente não tenha
tempo para participar de reuniões mais aprofundadas nos problemas efetivos do curso.
16
8
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
5.1 Conclusão
Tem-se nesta parte do trabalho a sua conclusão que pretende finalizá-lo por meio da
resposta ao problema enunciado e da análise das suposições, descritos no primeiro capítulo.
Resposta ao problema enunciado
O problema desta pesquisa é: “Qual é a qualidade atingida no ensino superior de
Ciências Contábeis, considerando-se os padrões de avaliação oficiais do Ministério da
Educação - o Exame Nacional de Cursos, e do Conselho Federal de Contabilidade - o Exame
de Suficiência?”.
Com relação ao ENC
Considerando os padrões de avaliação oficial do MEC, dos dezesseis cursos
pesquisados, apenas três possuem qualidade para formar profissionais aptos para
atender o mercado. Tais cursos obtiveram conceitos A ou B nas duas edições do
exame. Tais conceitos foram qualificados pelos próprios coordenadores dos cursos
como conceitos que expressam ótima qualidade.
169
Com relação ao Exame de Suficiência
Considerando os padrões de avaliação do CFC, apenas um curso possui qualidade para
formar profissionais aptos para atender o mercado. Este curso possui um índice médio
de 90% de candidatos aprovados neste exame. Além disso, três outros cursos possuem
índice médio de aprovação de 73% e 65%, e tais cursos podem ser considerados como
sendo cursos de qualidade, no mínimo acima da média nacional que é de 50%.
Resposta geral
Considerando os padrões de avaliação do MEC e do CFC, doze cursos possuem
qualidade média ou abaixo da média, por terem alcançado conceitos tidos como
médios pelos coordenadores e por terem índices de alunos aprovados no Exame de
Suficiência pertos da média nacional de 50%.
Considerando os padrões de avaliação do MEC e do CFC, cerca de 65%
54
dos alunos
formados pelos cursos de Ciências Contábeis da região norte do estado do Paraná, não
está apta a exercer a profissão contábil com a qualidade que o mercado de trabalho
espera.
Análise das suposições
As análises sobre se as suposições foram ou não rejeitadas são feitas adiante. A
primeira suposição foi assim redigida:
Primeira suposição
S1: Considerando os resultados do Exame Nacional de Cursos e do Exame de
Suficiência, os cursos de Ciências Contábeis, predominantemente, possuem qualidade
54
Este percentual representa os alunos matriculados nos cursos que atingiram no máximo conceito C no ENC e
possuem índices de reprovação em torno de 50% no Exame de Suficiência.
170
insuficiente para a formação adequada de profissionais habilitados para o ambiente
econômico e social atual.
Esta suposição não foi rejeitada. De fato, predominantemente, os cursos possuem
qualidade insuficiente para formação de profissionais contábeis de qualidade, considerando os
resultados dos exames. Isso porque, onze cursos da amostra (69%) não alcançaram, em
nenhuma das duas edições do ENC, conceitos A ou B e também possuem índices de
reprovação no Exame de Suficiência de mais de 40%.
Segunda suposição
S2: Os motivos da qualidade insuficiente do ensino contábil são atribuídos à formação
acadêmica, à formação profissional e ao regime de trabalho inadequados do corpo
docente.
Essa suposição foi parcialmente aceita. Quanto à formação acadêmica, nos onze
cursos que não alcançaram, em nenhuma das duas edições do ENC conceitos A e B e também
possuem índices de reprovação no Exame de Suficiência de mais de 40%, todos os seus
professores possuem pós-graduação.
Nestes onze cursos há duzentos e vinte quatro professores em todas as áreas
envolvidas na grade curricular. Destes professores, 56% são especialistas, 40% são mestres e
4% são doutores. Com pós-graduação em Ciências Contábeis, existem cento e cinco
professores, o que representa 47% do total de professores. Destes, 70% são especialistas em
Contabilidade e 30% são mestres em Contabilidade.
171
Portanto, não há nestes cursos problemas de titulação de professores, nem nas diversas
áreas que compõem as grades curriculares dos cursos, nem na área especifica de
Contabilidade. Por isso, não se tem elementos para afirmar, nesta pesquisa, que a falta de
qualidade destes cursos se deve a deficiências na formação acadêmica do corpo docente.
Quanto à formação profissional do corpo docente, nesta pesquisa, foi constatado que
60% dos professores que atuam nos referidos onze cursos de Ciências Contábeis possuem
outras atividades profissionais além da docência. Este percentual é relativo ao total dos
duzentos e vinte e quatro professores, e dentre eles, existem muitos professores cujas
formações são estritamente voltadas para a docência, como é o caso de professores de
Português, Matemática, Sociologia, entre outros.
Neste caso, este percentual representa que um número relevante de professores que
ministram aulas nestes cursos, possui experiência no mercado profissional. Isso confirma a
tendência de que os coordenadores, de forma geral, preferem aqueles professores com este
tipo de característica para ministrar aulas nos seus cursos. Portanto, também não há nestes
cursos problemas com a formação profissional do corpo docente.
No entanto, quanto ao regime de trabalho, 42% dos professores possuem contratos
com a instituição de mais de 20 horas semanais. A maioria dos professores, neste caso, são
horistas. Isso é coerente com o fato de que a maioria também possua outras atividades além da
docência. Se por um lado a experiência profissional do professor é importante para o curso,
por outro lado, a dedicação ao curso também é, e neste ponto os cursos falham.
Essa afirmação é ainda melhor sustentada pelo fato de que o regime de trabalho foi
apontado como o quarto maior problema dos cursos. Em função de que nem os números e
172
nem os coordenadores remetem a problemas com a falta de professores titulados ou sem
experiência profissional, a suposição H2 é rejeitada neste item. Portanto, é aceita a suposição
de que o motivo da qualidade insuficiente do ensino contábil é parcialmente atribuído ao
regime de trabalho inadequado do corpo docente.
Terceira suposição
S3: Os alunos que ingressam nos cursos de Ciências Contábeis estão despreparados
para a vida acadêmica, pois não têm uma formação de base adequada para assimilar
adequadamente os conteúdos ministrados.
Para aceitar ou rejeitar essa suposição, são consideradas apenas as opiniões dos
coordenadores dos cursos, e, estes foram quase unânimes em afirmar que os alunos que
ingressam atualmente nos cursos de Ciências Contábeis não estão preparados para a vida
acadêmica, por não ter formação de base adequada para isso. É, portanto, aceita a terceira
suposição.
Concluindo, com base nos resultados do ENC e do Exame de Suficiência, e também
com base nas opiniões dos coordenadores, os cursos de Ciências Contábeis da região norte do
estado do Paraná, predominantemente, não possuem qualidade considerada como suficiente
para formar profissionais aptos para o mercado de trabalho. Essa insuficiência se deve ao
regime de trabalho inadequado do corpo docente destes cursos e ao despreparo dos alunos
destes cursos para a carreira acadêmica de nível superior.
Pode-se afirmar que, como os alunos, predominantemente, vêm de uma formação
deficiente no ensino fundamental e médio, eles precisam encontrar no curso superior algo que
os faça superar estes problemas, para poderem de fato, tornarem-se bacharéis com qualidade.
173
Porém, essa não uma função do curso superior. Como a maior parte dos professores é horista,
ainda que tivessem boa vontade, não teriam tempo disponível para ajudar alunos com essas
deficiências. Daí, os resultados do ENC e do Exame de Suficiência serem quando muito,
apenas medianos.
O fato de que a maior parte dos professores é horista gera problemas que podem ser
desde a falta de entrosamento entre os professores de um curso até a própria falta de
comprometimento dos mesmos.
5.2 Recomendações
Verificou-se que o ensino superior em Ciências Contábeis carece de outros estudos.
Diante disso, relacionam-se aqui sugestões para novas pesquisas que tanto possam vir a suprir
as lacunas desta, quanto contribuir para a melhoria da qualidade da educação superior em
Ciências Contábeis. São as seguintes as recomendações:
Avaliar internamente os cursos, ou seja, verificar com mais profundidade como se dá o
processo de ensino-aprendizagem. A postura dos alunos, dos professores, e como os
coordenadores se envolvem com os problemas do curso. Isso talvez conduza a estudos
de casos múltiplos.
Estudar a influencia do modelo de gestão das instituições sobre a qualidade dos cursos
de Ciências Contábeis. Isso no sentido de se verificar os níveis de relacionamento
entre o corpo administrativo e pedagógico das instituições, a atraibuição de
autoridades e responsabilidade para coordenadores e professores, a autonomia
orçamentária dos cursos, entre outros. O interesse das IES pelos cursos que oferecem,
principalmente das privadas, é fator importante para determinar o nível de qualidade
que os cursos possam ter.
174
Conhecer a opinião de profissionais do mercado sobre a qualidade dos cursos de
Ciências Contábeis do ponto de vista da formação para o mercado.
Os cursos devem atender a necessidades gerais e específicas da comunidade a que
pertencem. Por isso, pesquisar a conexão dos conteúdos programáticos e objetivos dos
cursos em relação ao seu ambiente externo.
Replicar esta pesquisa em outras regiões do país com a finalidade de fundamentar e
comparar resultados ampliando o alcance de cursos.
Conhecer, com maior profundidade, o perfil dos coordenadores que estão hoje a frente
dos cursos de Ciências Contábeis, com o objetivo de buscar elementos que indiquem a
influência dos mesmos na qualidade dos cursos.
175
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VARELLA, Marcio. O contabilista ganha bússola social. In: Revista Brasileira de
Contabilidade, v. 29, n. 126, 2000, p. 9-14.
180
VERGARA, Sylvia Constant. Universidade Corporativa: a parceria possível entre empresa e
universidade tradicional. In: Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 5,
2000, p. 181-188.
WERNKE, Rodney. Contabilidade para a nova economia. In: Revista Brasileira de
Contabilidade. Brasília, v. 30, n. 131, 2001, p. 31-43.
181
ANEXOS
182
Autorização para disponibilização do trabalho (última página)
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
NÍVEL MESTRADO
AUTORIZAÇÃO
Eu, Claudinei de Lima Nascimento CPF 816.327.549-91 autorizo o Programa de Mestrado em
Ciências Contábeis da UNISINOS, a disponibilizar a Dissertação de minha autoria sob o título A
Qualidade do Ensino Superior de Ciências Contábeis: um diagnóstico nas instituições localizadas na
região norte do estado do Paraná, orientada pelo(a) professor(a) doutor Marcos Antonio de Souza para:
Consulta (X) Sim ( ) Não
Empréstimo (X) Sim ( ) Não
Reprodução:
Parcial ( ) Sim ( ) Não
Total (X) Sim ( ) Não
Divulgar e disponibilizar na Internet gratuitamente, sem ressarcimento dos direitos autorais, o texto
integral da minha Dissertação citada acima, no site do Programa, para fins de leitura e/ou impressão
pela Internet
Parcial ( ) Sim ( ) Não
Total (X) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, especifique:
Sumário: ( ) Sim ( ) Não
Resumo: ( ) Sim ( ) Não
Capítulos: ( ) Sim ( ) Não
Quais____________
Bibliografia: ( ) Sim ( ) Não
Anexos: ( ) Sim ( ) Não
São Leopoldo, _____/________/__________
Assinatura do(a) Autor (a) Visto do(a) Orientador(a)
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