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KARLA ALVES MAGALHÃES
NÍVEIS DE URÉIA OU CASCA DE ALGODÃO NA ALIMENTAÇÃO DE
NOVILHOS DE ORIGEM LEITEIRA EM CONFINAMENTO
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação
em Zootecnia, para obtenção do Título de
Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2003
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KARLA ALVES MAGALHÃES
NÍVEIS DE URÉIA OU CASCA DE ALGODÃO NA ALIMENTAÇÃO DE
NOVILHOS DE ORIGEM LEITEIRA EM CONFINAMENTO
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação
em Zootecnia, para obtenção do Título de
Magister Scientiae.
Aprovada: 11 de julho de 2003.
__________________________________ __________________________________
Prof. Mário Fonseca Paulino Prof
a
. Rilene Ferreira Diniz Valadares
(Conselheiro) (Conselheiro)
__________________________________ __________________________________
Prof. Odilon Gomes Pereira Profª. Maria Ignez Leão
___________________________________________
Prof. Sebastião de Campos Valadares Filho
(Orientador)
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A Deus, por me guardar sempre em Seu coração,
pela certeza de que nunca me deixará só e pelas
graças e vitórias que me concedeu.
“..pois, sem Mim, nada podeis fazer...”
João 15, 5
A Nossa Senhora, pela constante intercessão,
por me ouvir em todos os momentos iluminando
sempre o meu caminho.
A minha amada bisavó Tina (in memoriam), pelo exemplo de vida e fé, pelo
carinho com que sempre me recebeu, pelos momentos tão felizes vividos dos
quais sinto tanta saudade.
Ao meu querido e inesquecível vovô Joaquim (in memoriam), pelos
ensinamentos e pela dedicação à nossa família.
A minha amada mãe, exemplo de perseverança, por sempre me aconselhar e
incentivar em todos os momentos.
Ao meu amado pai, exemplo de força e trabalho, pela certeza de poder contar
sempre com a sua ajuda.
A minha querida irmã, pelo carinho e paciência e pelo apoio incondicional.
Ao Pedro, pelo amor e carinho, pela ajuda indispensável e pela presença em
minha vida.
Dedico.
ii
AGRADECIMENTO
A minha família:
Aos meus pais, minha irmã e minha afilhada Jéssica;
À vovó Aurora, vovó Judite e vovô Zé Alves;
Aos tios Elvira, Graça, Julinho, Miriam (Dindinha!), Marly (Lita!), Paulo,
Valéria e Zé Ovídeo;
À tia Cida e aos primos Janice, Janaína e Juliano;
À tia Cris, tio Jura e aos primos Simone e Wellington (Étu!);
À tia Mércia, tio Antônio (Dedonha) e à prima Soninha;
Á tia Marisa (Trem Chique!), tio Xandinho, à prima Pate e a minha
afilhada Priscila;
Aos tios Geraldo e Elisa e ao primo Guilherme;
Aos tios João Bosco e Tedy e aos primos Rafael e Daniel;
Aos tios Joel e Helena e aos primos Hellen, André e Carol;
À tia Perpétua, tio Zé Antônio e aos primos Juliano e Isabela (Belinha);
Aos tios Tilu e Vilma e aos primos Jane, Jean e Jovane;
Aos tios Euribes e Gracinha e aos primos Cassinha, Juliana, Jonatan e
Stéfani;
Agradeço de coração aos meus familiares pelas orações, pela “torcida
organizada”, por terem me apoiado em todos os momentos. Por tudo que
fizeram por mim, direta ou indiretamente, serei sempre grata.
iii
À Universidade Federal de Viçosa, em especial ao Departamento de
Zootecnia, por tornar possível a realização deste curso.
Ao CNPq pela concessão da bolsa de estudos e do financiamento de
parte da pesquisa.
Ao Prof. Sebastião de Campos Valadares Filho, pelo apoio e
oportunidades concedidas ao longo de minha formação acadêmica, pela
confiança e amizade, pelos valiosos ensinamentos e pela excelente orientação.
À Profª Rilene Ferreira Diniz Valadares, pelo carinho e amizade e pela
maneira alegre e disposta com que sempre me recebeu e auxiliou.
Ao Prof. Mário Fonseca Paulino, pelo exemplo de profissionalismo e pela
contribuição em minha formação acadêmica e na realização deste trabalho.
Ao Prof. Odilon Gomes Pereira, pela amizade e consideração e pela
agradável convivência.
À Profª Maria Ignez Leão, pelas sugestões sempre oportunas e pelo
convívio alegre e prazeroso.
Aos amigos Zezé, Marcelo, Joélcio e Pum, pela ajuda indispensável
durante a realização dos experimentos, pelo agradável convívio e pelos
momentos alegres vividos na “cozinha” do Laboratório Animal.
Aos funcionários do Abatedouro do DZO/UFV, Nuvanor, Vicente, Toca,
Sérvulo, Antônio e Graça, pela grande colaboração durante os abates dos
animais.
Aos funcionários do Laboratório de Nutrição Animal do DZO/UFV,
Fernando, Monteiro, Valdir, Vera e Wellington, pela disposição com que
sempre me ajudaram.
Aos funcionários administrativos do DZO/UFV, em particular, Adilson,
Celeste, Edson, Márcia, Paolon, Raimundo, Rosana e Venâncio, por estarem
sempre aptos a auxiliar quando for necessário.
Aos estagiários Marlos, Marcos, Kamila, Alexandre, Rafael (Mosquito),
Márcio, Sílvia e Leandro (Paçoca), pela amizade e pela ajuda indispensável na
realização dos dois experimentos.
À Mônica, Douglas e Polyana, pelo auxílio com as análises laboratoriais.
Ao George, André (Boca) e Aloízio, pela colaboração durante os abates
dos animais.
iv
As queridas amigas Angela, Camila, Karina e Nívea, pelo carinho,
confiança e incentivo, pelos momentos inesquecíveis que passamos juntas e
pela forte amizade consolidada em nossos corações.
Ao meu querido amigo Frederico, pela paciência, atenção e incentivo,
por estar sempre disposto a ouvir e a ajudar no que for preciso, por ser um
amigo de todas as horas.
Aos amigos Eduardo e Kamila (Tantãs), Fernando (Rufião), Mário e
Fefê, Patrícia Campos, Adriano (Foquinha) e Ritinha Rangel, Carlos Elísio
(Casé), Daniel e Camila (Japa), amigos que tive o prazer de conhecer e
compartilhar momentos que ficarão sempre guardados e lembrados com muito
carinho.
Aos amigos Vicente (Chefinho!), Fernando Hernández, Allan, Joanis,
Marcos Lana, Tiago (Fião Galã), Kátia Gobbi, Antônio, Vinícius, Wil, Alex e
Jane, pelos momentos de convívio prazerosos.
Ao Coutinho e Janaína (Espetáculo!) pelo carinho, amizade e
consideração e à D. Zita pelos abençoados conselhos e pelo ânimo que
sempre me transmitiu.
À família Bhering Fialho, Sr. Ivo, Patrícia e Simone, pelos anos de
agradável convívio e amizade.
Ao Reuber Rodrigues e família, tia Marina, tia Marisa e seus familiares,
pela acolhida, carinho e sincera consideração.
Aos amigos Paulo Cecon e família, Buru e família, Terezinha e família,
pelo carinho e consideração.
Enfim, ao querido tio Julinho (“Careca é seu passado!”), que sempre me
apoiou e incentivou a fazer o curso de Zootecnia na Universidade Federal de
Viçosa.
Foi quando tudo começou...
v
BIOGRAFIA
KARLA ALVES MAGALHÃES, filha de Juracy Mauro Magalhães e Maria
Argentina Alves Magalhães, nasceu em Viçosa, Minas Gerais, em 27 de junho
de 1978.
Em agosto de 2001, graduou-se em Zootecnia pela Universidade Federal
de Viçosa.
Em agosto de 2001, iniciou o Curso de mestrado em Zootecnia, na
Universidade Federal de Viçosa, concentrando seus estudos na área de
Nutrição de Ruminantes, submetendo-se à defesa de tese em de 11 julho de
2003.
vi
CONTEÚDO
Página
RESUMO ........................................................................................................... ix
ABSTRACT....................................................................................................... xii
INTRODUÇÃO....................................................................................................1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................12
Desempenho, Digestibilidade e Características de Carcaça de Novilhos
em Confinamento Alimentados com Diferentes Níveis de Uréia ......................17
Resumo.............................................................................................................17
Abstract.............................................................................................................19
Introdução .........................................................................................................21
Material e Métodos............................................................................................23
Resultados e Discussão....................................................................................30
Conclusões .......................................................................................................39
Referências Bibliográficas.................................................................................39
Desempenho, Digestibilidade, Composição Física e Características da
Carcaça de Novilhos em Confinamento Alimentados com
Diferentes Níveis de Casca de Algodão............................................................45
Resumo.............................................................................................................45
Abstract.............................................................................................................47
Introdução .........................................................................................................48
vii
Material e Métodos............................................................................................49
Resultados e Discussão....................................................................................55
Conclusão .........................................................................................................62
Referências Bibliográficas.................................................................................63
Produção de Proteína Microbiana, Concentração Plasmática de
Uréia e Excreções de Uréia em Novilhos Alimentados com Diferentes
Níveis de Uréia ou Casca de Algodão ..............................................................67
Resumo.............................................................................................................67
Abstract.............................................................................................................69
Introdução ........................................................................................................71
Material e Métodos............................................................................................74
Resultados e Discussão....................................................................................77
Conclusões .......................................................................................................82
Referências Bibliográficas.................................................................................82
RESUMO E CONCLUSÕES.............................................................................86
viii
RESUMO
MAGALHÃES, Karla Alves, M.S., Universidade Federal de Viçosa, julho de
2003. Níveis de uréia ou casca de algodão na alimentação de
novilhos de origem leiteira em confinamento. Orientador: Sebastião de
Campos Valadares Filho. Conselheiros: Mário Fonseca Paulino e Rilene
Ferreira Diniz Valadares.
O presente trabalho foi desenvolvido à partir de dois experimentos. No
primeiro, avaliou-se o efeito dos níveis de uréia na dieta de novilhos de origem
leiteira, em confinamento, sobre os consumos e digestibilidades aparentes
totais da matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB),
extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN) e carboidratos não-
fibrosos (CNF) e consumo de proteína degradável no rúmen (PDR) e nutrientes
digestíveis totais (NDT), além da avaliação das características de carcaça e
rendimento dos cortes básicos. Além disso, avaliou-se o efeito da correção da
fibra em detergente neutro (FDN) para cinzas e proteína sobre a digestibilidade
total da FDN e dos carboidratos não-fibrosos. Foram utilizados 27 novilhos
mestiços, com peso vivo médio inicial de 300 kg, castrados, sendo que três
animais foram abatidos ao início do experimento, para servirem de referência
para estudos posteriores e os 24 restantes foram alocados em delineamento
inteiramente casualizado, a quatro tratamentos: 0; 0,65; 1,30 e 1,95% de uréia
na base da MS total, em substituição à proteína do farelo de soja, contendo
ix
aproximadamente 22, 37, 50 e 63% da PB na forma de compostos
nitrogenados não-protéicos. Como volumoso foi utilizada uma mistura de
silagem de milho e silagem de capim-elefante, na proporção 70:30,
respectivamente, sendo que a relação volumoso:concentrado da dieta total foi
de 65:35. Os consumos não foram afetados (P>0,05) pelos níveis de uréia das
dietas, com exceção do consumo de PDR, que apresentou comportamento
linear crescente (P<0,05). As digestibilidades da MS e PB aumentaram
linearmente (P<0,05) com os níveis de uréia nas rações. A presença de cinzas
e proteína na FDN subestima a digestibilidade da FDN e superestima a dos
CNF. Não houve efeito dos níveis de uréia (P>0,05) sobre as características de
carcaça e rendimento dos cortes básicos dos animais. A uréia pode substituir
totalmente o farelo de soja, para novilhos de origem leiteira em confinamento,
com ganhos de peso próximos a 1,0 Kg/dia. No segundo experimento,
objetivou-se avaliar o efeito dos níveis de casca de algodão sobre os consumos
e digestibilidades aparentes totais da MS, MO, PB, EE, FDN e CNF e o
consumo de NDT, além da determinação da composição física da carcaça e
avaliação das características de carcaça e rendimento dos cortes básicos.
Foram utilizados 18 novilhos mestiços, com peso vivo médio inicial de 230 kg,
sendo que dois animais foram abatidos ao início do experimento, para servirem
de referência para estudos posteriores e os 16 restantes foram distribuídos em
delineamento inteiramente casualizado, a quatro tratamentos: 0, 10, 20 e 30%
de casca de algodão na base da MS total, em substituição à silagem de capim-
elefante, sendo a relação volumoso:concentrado de 60:40. A inclusão de casca
de algodão em níveis crescentes na dieta aumentou linearmente (P<0,05) os
consumos de EE, bem como os de MS e FDN expressos em relação ao peso
vivo. As digestibilidades dos nutrientes não foram influenciadas (P>0,05) pelos
níveis de casca de algodão nas rações. Não houve efeito dos níveis de casca
de algodão (P>0,05) sobre a composição física da carcaça, características de
carcaça e rendimento dos cortes básicos dos animais. O nível máximo de
casca de algodão utilizado no experimento de 30% na MS total, resultou em
desempenho adequado de novilhos de origem leiteira em confinamento. Além
disso, nos dois experimentos estimou-se a produção de proteína microbiana
através dos derivados de purinas na urina e determinou-se a concentração de
x
uréia plasmática (NUP) e excreções urinárias de uréia. As amostras de urina
foram obtidas por meio da coleta de urina spot, 4 horas após a alimentação,
quando os animais urinaram espontaneamente. Na urina foram determinados
os derivados de purinas (alantoína e ácido úrico). No soro, como também na
urina, foram analisadas as concentrações de uréia e creatinina. Não houve
efeito dos níveis de uréia, tampouco dos de casca de algodão, sobre os
derivados de purinas e sobre a eficiência de síntese microbiana. A
concentração de NUP e a excreção de uréia não foram influenciados pelos
nívies de uréia. A concentração de NUP decresceu linearmente com a inclusão
da casca de algodão na dieta. Tanto a uréia quanto a casca de algodão podem
ser utilizadas até o nível de 1,95% e 30% na MS total da dieta de novilhos de
origem leiteira, respectivamente, sem afetar a eficiência de síntese microbiana.
xi
ABSTRACT
MAGALHÃES, Karla Alves, M.S., Universidade Federal de Viçosa, july of 2003.
Urea or cottonseed hulls levels in diets for confined dairy steers.
Adviser: Sebastião de Campos Valadares Filho. Committee Members:
Mário Fonseca Paulino and Rilene Ferreira Diniz Valadares.
The present work was developed based on two experiments. In the first
one the effect of urea levels of the diets under the intake and total apparent
digestibility of dry matter (DM), organic matter (OM), crude protein (CP), ether
extract (EE), neutral detergent fiber (NDF) and non-structural carbohydrate
(NSC) and degradable protein (DP) intake and total digestible nutrients (TDN)
intake, as well as under the carcass characteristics and basic cuts percentage
of confined dairy steers was evaluated. In addition, the effect of correcting NDF
for ash and protein under the total digestibility of NDF and NSC was evaluated.
Twenty-seven crossbred steers with initial live weight (LW) of 300 kg were
used. Three were slaughtered in the beginning of the trial, performing the
reference group and the remaining were uniformly allotted to a complete
randomized design, in four treatments: 0; 0,65; 1,30 and 1,95% of urea in the
total dry matter basis, replacing soybean meal protein, resulting in 22, 37, 50
and 63% of crude protein as non-protein nitrogen compounds. The roughage
constituted 65% of the total diet and it was composed by corn silage and
elephant grass silage in the ratio of 70:30. The nutrients intakes were not
xii
affected (P>0,05) by urea levels, excepted for DP intake that increased linearly
(P<0,05). The digestibility of DM and CP increased linearly (P<0,05) with the
inclusion of urea in the diets. The presence of ash and protein in the NDF
underestimates the digestibility of NDF and overestimates the digestibility of
NSC. Soybean meal can be totally replaced by urea, for confined dairy steers,
allowing performance near to 1,0 kg of live weight/day. In the second trial, the
effect of cottonseed hulls levels of the diets under the intake and total apparent
digestibility of DM, OM, CP, EE, NDF and NSC and TDN intake, as well as the
determination of physical carcass composition, carcass characteristics and
basic cuts percentage of confined dairy steers was evaluated. Eighteen
crossbred steers with 230 kg of initial live weight (LW) were used. Two were
slaughtered in the beginning of the trial, performing the reference group and the
remaining were uniformly allotted to a complete randomized design, in four
treatments: 0, 10, 20 and 30% of cottonseed hulls in the total dry matter basis,
replacing elephant grass silage. The roughage:concentrate ratio was 60:40. The
inclusion of cottonseed hulls in the diets increased (P<0,05) the intake of EE
linearly, as well as the intake of DM and NDF expressed as LW percentage.
The nutrients digestibilities were not affected (P>0,05) by the cottonseed hulls
levels. There was no influence (P>0,05) of cottonseed hulls levels under
physical carcass composition, carcass characteristics and basic cuts
percentage. The highest level of cottonseed hulls used in the experiment (30%
in total dry matter basis) resulted in appropriate performance of confined dairy
steers. In addition, in both trials the microbial protein production, determined
using the purine derivatives (PD) urinary excretion, and the plasma urea
concentration and urea excretions in steers were evaluated. The urine samples
were obtained through spot urine collection, approximately 4 hours after
feeding. The purine derivatives (allantoin and uric acid) were determined in spot
urine samples and the creatinine and urea concentrations were also analyzed in
plasma. The purine derivatives and the microbial protein production were not
influenced (P>0,05) by both urea and cottonseed hulls levels. There was no
significant difference (P>0,05) in plasma urea concentration and urea
excretions within urea levels. The plasma urea concentration decreased linearly
(P<0,05) with the inclusion of cottonseed hulls in the diet. Urea as well as
xiii
cottonseed hulls can be used until the level of 1,95% and 30% in the total dry
matter basis in diets for dairy steers, respectively, without affecting the
efficiency of microbial synthesis.
xiv
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, nota-se uma grande mudança de conceitos em toda a
cadeia produtiva da carne bovina. Os consumidores, a cada dia mais
exigentes, e outras forças, como qualidade do alimento, nutrição e segurança
alimentar, preocupação ambiental e bem-estar animal, tornaram-se muito
importantes (Pedroso, 2002).
Possivelmente, o Brasil é o único país entre os produtores mundiais que
tem nitidamente potencial para crescimento do rebanho bovino e condições de
aumentar a quantidade de cabeças abatidas e seu índice de desfrute médio.
Contudo, apesar do País ser detentor do maior rebanho bovino
comercial do mundo e com um efetivo estabilizado nos últimos anos em torno
de 167 milhões de cabeças (ANUALPEC, 2002), os índices de produtividade
ainda são baixos. Esta situação tem sido atribuída, principalmente, ao fato de
os animais serem criados, predominantemente, em sistemas extensivos, onde,
em função da estacionalidade das plantas forrageiras, alternam períodos de
ganho e perda de peso. Dessa forma, verifica-se que a baixa produtividade do
rebanho bovino brasileiro é, em grande parte, reflexo das carências nutricionais
a que os animais são submetidos.
Neste contexto, o confinamento surge como uma estratégia alimentar e
gerencial para a fase de engorda dos animais, com o propósito de se melhorar
a produtividade da exploração. Essa prática tem se tornado muito importante
se forem levadas em consideração algumas de suas vantagens, tais como,
1
aumento da carga animal, uma vez que há liberação de maiores áreas de
pastagens para outras categorias de animais, giro de capital mais rápido, maior
taxa de desfrute, diminuição da mortalidade e da infestação de ecto e
endoparasitas, melhor aproveitamento do esterco e comercialização na
entressafra, conseguindo-se melhores preços. Porém, a alimentação é um dos
fatores que mais onera a atividade e pode, normalmente, ultrapassar 70% do
custo operacional total.
Com relação ao aproveitamento de bovinos oriundos de rebanhos
leiteiros (em especial da raça Holandesa) para produção de carne, as
pesquisas no Brasil são escassas; as existentes têm relatado que estes
animais apresentam bom potencial como produtores de carne em face dos
resultados obtidos quanto ao rendimento de carcaça e à excelente qualidade
da carne (Biondi et al., 1984). Um estudo recente mostrou que
aproximadamente 50% da carne produzida na Europa é proveniente de
bovinos holandeses (Eguinoa et al., 2003). O grande problema é que os
animais da raça Holandesa não se adaptam às condições rústicas dos
sistemas de produção mais extensivos, devendo ser terminados em regime de
confinamento.
A alimentação dos animais é constituída de uma fração volumosa,
oferecida ad libitum e outra concentrada, com oferta limitada, dependendo dos
objetivos a serem alcançados em termos de desempenho animal, respeitando-
se obviamente, a relação custo/benefício no momento de se determinar qual a
participação do concentrado na ração total (Feijó et al., 1996).
O volumoso, na maioria das situações, é o ingrediente mais barato da
ração total, devendo seu uso ser sempre maximizado. A produção de
volumosos deve ser buscada sempre se preocupando com altos índices de
produtividade, associados a qualidade nutricional superior e, evidentemente, a
custos reduzidos (Valadares Filho et al., 2002).
Dessa forma, a casca de algodão surge como um alimento volumoso
alternativo na alimentação de ruminantes. Até o presente momento, não há
relatos na literatura brasileira a respeito da utilização desse ingrediente na dieta
de bovinos, existindo poucas informações na literatura internacional.
2
A casca de algodão é um subproduto interessante em termos
nutricionais, possuindo características que diferem da maioria dos alimentos
fibrosos. Compreende a camada externa da semente do algodão com algum
línter aderido, que é separado durante a produção do óleo. Para cada tonelada
de caroço de algodão processado resultam aproximadamente 245 kg de casca
(Hall & Akinyode, 2000). Estima-se que a safra 2002/2003 proporcione
produção de mais de um milhão de toneladas de caroço de algodão, o que teria
o potencial para gerar cerca de 316 mil toneladas de casca (CONAB, 2003).
Até o presente momento são raras as pesquisas desenvolvidas a
respeito da inclusão da casca de algodão na dieta de bovinos de corte.
Portanto, não há uma recomendação adequada para o seu uso, tampouco dos
possíveis efeitos sobre o metabolismo e desempenho dos animais.
As rações fornecidas para animais em confinamento são oriundas da
combinação de diferentes alimentos, mas o custo dos concentrados, em
especial os protéicos, tem dificultado a prática; portanto esse fato implica na
busca de ingredientes que proporcionem combinação adequada, de modo a
obter-se melhor eficiência de conversão alimentar, aliada à economicidade.
Nestas condições, a substituição de fontes de proteína verdadeira,
notadamente milho e soja, por fontes de nitrogênio não-protéico (NNP), como a
uréia, tem se constituído em boa alternativa de redução dos custos da
alimentação de bovinos confinados. Tem sido viável incluir a maior quantidade
possível de uréia na dieta, sem que haja decréscimo na produtividade ou
aparecimento de problemas de saúde nos animais (Huber, 1984).
O nitrogênio é reconhecido como um elemento essencial para os
animais há muitos anos. O uso do NNP na nutrição dos ruminantes teve sua
origem em 1879, na Alemanha. A uréia começou a ser fabricada
industrialmente em 1870, quando Bassarow promoveu sua síntese à partir do
gás carbônico e da amônia. Mas foi no período de 1914 a 1918, devido a
escassez de alimentos ocasionado pela primeira guerra mundial, que a
Alemanha intensificou a utilização de uréia como fonte protéica na alimentação
de ruminantes, visando uma produção intensiva e de baixo custo de carne
como também de leite (Santos et al., 2001).
3
Apesar de existir uma variedade de compostos nitrogenados não-
protéicos como compostos de purinas e pirimidinas, biureto, ácido úrico,
glicosídeos nitrogenados, alcalóides, sais de amônio e nitratos, a uréia tem sido
mais empregada em função do seu custo, facilidade de utilização e
disponibilidade no mercado (Santos et al., 2001).
No que concerne a níveis de substituição, a recomendação
tradicionalmente adotada pela maioria dos pesquisadores é que o nitrogênio
não-protéico pode substituir até 33% do nitrogênio protéico da dieta dos
ruminantes (Velloso, 1984). Ainda tem sido sugerido limitar a quantidade de
uréia em até 1,0% na matéria seca total da dieta (Haddad, 1984). De acordo
com Salman et al. (1996), o uso da uréia pelos ruminantes é limitado em
virtude de sua baixa palatabilidade, sua segregação quando misturada com
farelos e sua toxicidade em doses mais elevadas. Porém, vários estudos
realizados com níveis de uréia acima dos recomendados mostraram que não
houve prejuízo aos animais (Thomas et al., 1984; Hussein & Berger, 1995;
Shain et al., 1998).
De posse dos resultados encontrados na literatura, verifica-se que as
recomendações acerca da utilização de uréia para bovinos, principalmente
aqueles com maior grau de sangue Holandês, não têm se mostrado
adequadas, uma vez que níveis acima do recomendado, têm propiciado
desempenho satisfatório dos animais. Entretanto, ainda não foi evidenciado
qual nível máximo de inclusão de uréia afetaria negativamente o desempenho
dos mesmos.
O consumo de alimentos é considerado o fator mais importante na
determinação da performance animal (Van Soest, 1994; Illius & Jessop, 1996).
A alta correlação existente entre produção animal e ingestão de alimentos se
deve ao fato de que este último é o ponto determinante do ingresso de
nutrientes necessários para o atendimento dos requisitos de mantença e
produção pelos animais. Segundo Mertens (1994), a ingestão de alimentos é
regulada por mecanismos físicos, fisiológicos e psicogênicos. Para esse autor, o
mecanismo físico refere-se à distensão física do rúmen-retículo, o fisiológico é
regulado pelo balanço energético e a regulação psicogênica envolve a resposta
comportamental do animal, frente a fatores inibidores ou estimuladores no
4
alimento, ou no manejo alimentar, que não é relacionada ao valor energético do
alimento, nem ao efeito de enchimento.
Outras características da dieta também influenciam a regulação da
ingestão de alimentos, entre elas, a deficiência de compostos nitrogenados (N),
seja na forma de amônia, aminoácidos ou peptídeos. Quando o suprimento de
N, proveniente do alimento ou da reciclagem endógena, não atende aos
requerimentos microbianos, ocorre limitação do crescimento dos
microrganismos (Sniffen et al., 1993) e depressão da digestibilidade da parede
celular (Wilson & Kennedy, 1996), resultando em diminuição do consumo de
MS e, conseqüentemente, do desempenho animal.
Em um trabalho conduzido com novilhos na fase de terminação (347 kg
de PV, em média) que foram submetidos a dietas com níveis crescentes de
uréia (0; 0,35; 0,7; 1,05 ou 1,4% na MS) e 83% de milho laminado a seco,
houve efeito quadrático sobre o consumo de MS, que apresentou o maior valor
com a inclusão de 1,05% de uréia (9,7 kg de MS) na dieta dos animais. O nível
ótimo de uréia para ganho de peso e conversão alimentar, obtido por meio de
análise de regressão, foi de 0,9% (Milton et al., 1997).
Shain et al. (1998), no entanto, em experimentos com bovinos de 343 kg
de PV em média, em confinamento, submetidos a dietas à base de milho
laminado a seco (79,5%) e com níveis crescentes de uréia na ração (0; 0,88;
1,34 ou 1,96% na MS) calculadas para apresentarem, respectivamente, 9,7;
12; 13,5 ou 15% de PB, observaram que o consumo de MS pelos animais não
diferiu entre os tratamentos, apresentando valor médio de 11,72 kg de MS.
Além do conhecimento do consumo e da composição bromatológica dos
alimentos, torna-se importante obter informações sobre a utilização dos
nutrientes pelo animal, o que é obtido por estudos de digestão. Van Soest
(1994) define digestão como o processo de conversão de macromoléculas da
dieta em compostos mais simples, que podem ser absorvidos no trato
gastrintestinal dos animais. Para Coelho da Silva & Leão (1979), a
digestibilidade do alimento, basicamente, é a capacidade de permitir que o
animal utilize em maior ou menor escala os seus nutrientes. Essa capacidade é
expressa pelo coeficiente de digestibilidade do nutriente, sendo uma
característica do alimento e não do animal.
5
Em pesquisas que objetivam determinar a digestibilidade total dos
alimentos em ruminantes, torna-se necessário a quantificação da produção
fecal dos animais. A recuperação de frações indigestíveis do alimento é a base
para o uso de indicadores internos, que são utilizados em experimentos nos
quais são necessárias estimativas de digestibilidade, e a coleta total de fezes é
inconveniente (Van Soest, 1994). Tem sido sugerido que as frações fibrosas
indigestíveis do alimento, como as fibras em detergente neutro (FDNi) e ácido
(FDAi) indigestíveis, incubadas por 144 horas, podem ser utilizadas para
estimar a produção de MS fecal em bovinos (Ítavo et al., 2002), uma vez que
apresentam resultados semelhantes aos obtidos pela coleta total de fezes
(Berchielli et al., 2000).
Existem muitos fatores que afetam a digestibilidade dos nutrientes da
dieta. Segundo Merchen et al. (1997), a digestão realizada pelos ruminantes é
o resultado de uma sequência de processos que ocorrem em diferentes
segmentos do trato gastrintestinal. Nesta seqüência incluem-se a fermentação
dos componentes dietéticos pelos microrganismos do rúmen-retículo, a
hidrólise ácida e a degradação pelas enzimas do abomaso e intestino delgado
e a fermentação no intestino grosso.
A otimização da fermentação ruminal e a maximização da eficiência de
síntese de proteína microbiana, tem sido foco de várias pesquisas, uma vez
que 50 a 100% da proteína metabolizável exigida pelo bovino de corte, pode
ser atendida pela proteína de origem microbiana (NRC, 1996). Por apresentar
um perfil de aminoácidos essenciais de alta qualidade e relativamente
constante, a proteína microbiana supre a maioria dos aminoácidos no intestino
delgado (NRC, 2001).
As disponibilidades ruminais de N e energia são os principais fatores que
limitam o crescimento microbiano (Clark et al., 1992). A maioria dos
microrganismos presentes no rúmen utilizam amônia como fonte de N para seu
crescimento. A concentração de amônia no rúmen é função das suas taxas
relativas de entrada e remoção (Nolan, 1993). Mehrez et al. (1977) afirmaram
que o máximo da atividade fermentativa ruminal é obtida quando o N amoniacal
alcança valores entre 19 e 23 mg N/100 ml de líquido ruminal, enquanto Satter
6
& Slyter (1974) estabeleceram que 5 mg N/100 ml de fluido ruminal, seria
suficiente para promover taxas máximas de crescimento microbiano in vitro.
Shain et al. (1998), trabalhando com animais fistulados no rúmen
submetidos a dietas à base de milho laminado a seco (79,5%) e com níveis
crescentes de uréia na ração (0; 0,88; 1,34 ou 1,96% na MS), observaram que
os níveis de amônia aumentaram linearmente com a inclusão de uréia.
A uréia é rapidamente hidrolisada pelas bactérias aderidas ao epitélio
ruminal e a amônia resultante é incorporada no nitrogênio bacteriano, sendo a
disponibilidade de energia o principal fator que determina a taxa de assimilação
desse nitrogênio (Huntington & Archibeque, 1999). O conceito relativamente
simples da sincronização entre a fermentação ruminal do nitrogênio e as fontes
de carboidratos torna-se complicada pelos inúmeros fatores associados,
incluindo taxas de consumo voluntário, taxas de passagem de líquido e matéria
seca pelo rúmen, fermentação de produtos e transferência de metabólitos
através da parede do rúmen, adaptação da microbiota ruminal às condições
adversas e interações que afetam a eficiência do crescimento microbiano
(Huntington & Archibeque, 1999).
Os métodos utilizados para medir a quantidade de compostos
nitrogenados microbianos baseiam-se em indicadores microbianos, como
bases purinas (RNA), ácido 2,6 diaminopimélico (DAPA),
35
S e
15
N. Entretanto,
de acordo com Perez et al. (1996), a excreção de derivados de purinas na urina
constitui-se em um método simples e não-invasivo para estimar a produção de
proteína microbiana no rúmen. Essa técnica assume que os ácidos nucléicos
no duodeno são de origem predominantemente microbiana e após sofrerem
digestão intestinal e absorção, os nucleotídeos são catabolizados e
recuperados proporcionalmente na urina como derivados de purinas,
principalmente na forma de alantoína, mas também como ácido úrico,
hipoxantina e xantina. Vários estudos confirmaram a relação existente entre a
produção de proteína microbiana e a excreção de derivados de purina na urina
(Verbic et al., 1990; Valadares et al., 1999; Rennó et al., 2000; Orellana Boero
et al., 2001).
Rennó et al. (2000) determinaram a produção de proteína microbiana,
em novilhos de corte, comparando o método das bases purinas obtidas com
7
coletas realizadas no abomaso, com a excreção dos derivados de purinas na
urina, e concluíram que o método de excreção urinária de derivados de purinas
pode ser utilizado para estimar a produção de proteína microbiana, e que a
excreção de xantina e hipoxantina, por ser irrisória em bovinos, não necessita
ser determinada.
O método baseado na excreção de derivados de purinas urinários
requer coleta total de urina, o que não é viável como rotina experimental.
Entretanto, segundo Valadares et al. (1997), pode ser possível simplificar a
coleta de urina, utilizando-se a excreção de creatinina na urina como um
indicador da produção urinária, uma vez que essa excreção é relativamente
constante em função do peso vivo e pelo fato de ser pouco ou não afetada
pelos tratamentos. Dessa forma, se for coletada uma única amostra diária de
urina, denominada de amostra spot, e determinada a concentração de
creatinina nessa urina, o volume urinário pode ser estimado (Valadares et al.,
1999).
Com o objetivo de estimar a produção de proteína microbiana,
utilizando-se a excreção urinária dos derivados de purinas em função dos
níveis de uréia na ração (0; 0,65; 1,30 e 1,95% na MS) de 16 novilhos de
diferentes grupos genéticos, fistulados no abomaso, Rennó et al. (2002)
conduziram um experimento e concluíram que os níveis de uréia da ração não
afetaram a estimativa da produção de N microbiano a partir da excreção dos
derivados de purinas na urina e que a coleta de urina spot consiste em
metodologia rápida e eficaz para determinação dessa estimativa.
Apesar dos microrganismos poderem utilizar amônia para seu
crescimento, em muitos casos a velocidade de produção excede a de
utilização, aumentando a excreção de compostos nitrogenados e o custo
energético da síntese de uréia pelo fígado (Russell et al., 1992). Uma vez
liberada para o sangue, a uréia é excretada na urina ou reciclada para o rúmen
através da saliva ou por difusão através da parede ruminal (Huntington &
Archibeque, 1999).
A quantidade de uréia que é sintetizada no fígado é proporcional à
concentração de amônia produzida no rúmen, e sua concentração sangüínea
está diretamente relacionada com o aporte protéico e a relação
8
energia:proteína dietéticos (Harmeyer & Martens, 1980). Existe correlação
positiva entre ingestão de N e concentração de uréia no plasma (Preston et al.,
1965). Para Broderick (1995), citado por Valadares et al. (1997), a
concentração elevada de uréia plasmática está relacionada com a utilização
ineficiente da proteína bruta da dieta. Entretanto, não foi relatada ainda uma
concentração plasmática de uréia a partir da qual se pudesse afirmar que
estaria havendo perda de proteína, utilização ineficiente de nitrogênio ou
condição nutricional inadequada.
Para complementar a avaliação do desempenho do animal durante o
seu desenvolvimento, é de suma importância incluir a avaliação das
características de carcaça dos animais (Jorge et al., 1999). À medida que a
pecuária de corte evolui e o mercado consumidor torna-se mais exigente, maior
atenção tem de ser dada ao produto final da atividade, a carne. Infelizmente, no
Brasil, ainda não se pratica a adequada remuneração ao produtor pela
qualidade das carcaças. Algumas iniciativas têm surgido com esse intuito como
a produção do Novilho Precoce, o Programa de Qualidade Nelore Natural e as
parcerias entre produtores, frigoríficos e supermercados, visando abater os
animais dentro de certos padrões estabelecidos, buscando uma remuneração
diferenciada.
O objetivo da avaliação das carcaças é a determinação de parâmetros
diretamente relacionados com os aspectos qualitativos e quantitativos de sua
porção comestível, e o primeiro índice considerado é o rendimento das
mesmas (Castillo Estrada, 1996).
A área transversal do músculo Longissimus dorsi, ou área de olho de
lombo (AOL), é outro fator considerado na avaliação servindo como indicador
de desenvolvimento muscular. A gordura de cobertura é uma fração
importante, pois serve como proteção (gordura subcutânea) contra a
desidratação no resfriamento das carcaças (Moletta & Restle, 1996), mas o seu
excesso pode diminuir o rendimento de carne magra. Uma cobertura de
gordura subcutânea satisfatória para uma boa preservação deve ter no mínimo
2 - 3 mm (Luchiari Filho, 2000).
O valor econômico da carcaça depende basicamente de dois fatores: a
qualidade e o rendimento da porção comestível dos cortes com maior demanda
9
e valor comercial. Os cortes básicos das carcaças de bovinos no mercado
brasileiro são o dianteiro com cinco costelas, a ponta de agulha e o traseiro
especial. Economicamente, seria desejável maior rendimento do traseiro
especial em relação aos outros cortes, pois nele se encontram as partes
nobres da carcaça que têm maior valor comercial. Segundo Luchiari Filho
(2000), é desejável que uma carcaça apresente em torno de 45 a 50% de
traseiro especial, 38 a 43% de dianteiro com cinco costelas e 12 a 16% de
ponta de agulha.
Hussein & Berger (1995), em experimento com novilhos holandeses,
não verificaram comprometimento das características de carcaça dos animais,
quando 50% da proteína do farelo de soja foi substituída pela uréia. Shain et al.
(1998), trabalhando com animais de 343 kg em confinamento recebendo níveis
crescentes de uréia na ração (0; 0,88; 1,34 e 1,96% na MS), não encontraram
diferenças no peso de carcaça quente e na espessura de gordura subcutânea
(EGS) entre os tratamentos. Resultados semelhantes foram encontrados por
Milton et al. (1997), usando níveis crescentes de uréia (0; 0,5; 1,0 e 1,5% na
MS) na ração de novilhos em terminação, verificando que a AOL não foi
afetada pelos diferentes níveis, mas a EGS aumentou linearmente com o nível
de uréia.
Diante do exposto, o presente trabalho foi realizado à partir de dois
experimentos, objetivando:
• avaliar os efeitos dos níveis crescentes de uréia ou casca de algodão
na ração dos novilhos sobre o desempenho, digestibilidade,
características de carcaça e rendimento dos cortes comerciais;
• avaliar a casca de algodão na alimentação de bovinos, como substituto
parcial da silagem de capim-elefante;
• avaliar o efeito da correção da fibra em detergente neutro (FDN) para
cinzas e proteína sobre a digestibilidade total da FDN e dos carboidratos
não-fibrosos;
• determinar a composição física da carcaça de novilhos alimentados
com diferentes níveis de casca de algodão;
10
• estimar a produção de proteína microbiana através dos derivados de
purinas na urina em novilhos alimentados com níveis crescentes de
uréia ou casca de algodão;
• determinar a concentração de uréia plasmática e excreções de uréia
em novilhos alimentados com níveis crescentes de uréia ou casca de
algodão.
Os trabalhos a seguir foram elaborados segundo as normas da Revista
Brasileira de Zootecnia.
11
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16
Desempenho, Digestibilidade e Características de Carcaça de Novilhos
em Confinamento Alimentados com Diferentes Níveis de Uréia
Resumo Avaliou-se o efeito dos níveis de uréia na dieta de novilhos de
origem leiteira em confinamento sobre os consumos e digestibilidades
aparentes totais da matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta
(PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN) e carboidratos não-
fibrosos (CNF) e consumo de proteína degradável no rúmen (PDR) e nutrientes
digestíveis totais (NDT), além da avaliação das características de carcaça e
rendimento dos cortes básicos. Além disso, avaliou-se o efeito da correção da
fibra em detergente neutro (FDN) para cinzas e proteína sobre a digestibilidade
total da FDN e dos carboidratos não-fibrosos. Foram utilizados 27 novilhos
mestiços, com peso vivo médio inicial de 300 kg, castrados, sendo que três
animais foram abatidos ao início do experimento, para servirem de referência
para estudos posteriores e os 24 restantes foram alocados em delineamento
inteiramente casualizado, a quatro tratamentos: 0; 0,65; 1,30 e 1,95% de uréia
na base da MS total, em substituição à proteína do farelo de soja, contendo
aproximadamente 22, 37, 50 e 63% da PB na forma de compostos
nitrogenados não-protéicos. Como volumoso foi utilizada uma mistura de 65%
de silagem de milho e silagem de capim-elefante, na proporção 70:30,
respectivamente. Os consumos não foram afetados (P>0,05) pelos níveis de
uréia das dietas, com exceção do consumo de PDR, que apresentou
17
comportamento linear crescente (P<0,05). As digestibilidades da MS e PB
aumentaram linearmente (P<0,05) com os níveis de uréia nas rações. A
presença de cinzas e proteína na FDN subestima a digestibilidade da FDN e
superestima a dos CNF. Não houve efeito dos níveis de uréia (P>0,05) sobre
as características de carcaça e rendimento dos cortes comerciais. A uréia pode
substituir totalmente o farelo de soja, para novilhos de origem leiteira em
confinamento, com ganhos de peso próximos a 1,0 Kg/dia.
Palavras-chave: nitrogênio não-protéico, consumo, digestibilidade, carcaça,
holandês
18
Performance, Digestibility and Carcass Characteristics of Steers Fed With
Different Urea Levels
Abstract – The effect of urea levels of the diets under the intake and total
apparent digestibility of dry matter (DM), organic matter (OM), crude protein
(CP), ether extract (EE), neutral detergent fiber (NDF) and non-structural
carbohydrate (NSC) and degradable protein (DP) intake and total digestible
nutrients (TDN) intake, as well as under the carcass characteristics and basic
cuts percentage of confined dairy steers was evaluated. In addition, the effect of
correcting NDF for ash and protein under the total digestibility of NDF and NSC
was evaluated. Twenty-seven crossbred steers with initial live weight (LW) of
300 kg were used. Three were slaughtered in the beginning of the trial,
performing the reference group and the remaining were uniformly allotted to a
complete randomized design, in four treatments: 0; 0,65; 1,30 and 1,95% of
urea in the total dry matter basis, replacing soybean meal protein, resulting in
22, 37, 50 and 63% of crude protein as non-protein nitrogen compounds. The
roughage constituted 65% of the total diet and it was composed by corn silage
and elephant grass silage in the ratio of 70:30. The nutrients intakes were not
affected (P>0,05) by urea levels, excepted for DP intake that increased linearly
(P<0,05). The digestibility of DM and CP increased linearly (P<0,05) with the
inclusion of urea in the diets. The presence of ash and protein in the NDF
underestimates the digestibility of NDF and overestimates the digestibility of
19
NSC. Soybean meal can be totally replaced by urea, for confined dairy steers,
allowing performance near to 1,0 kg of live weight/day.
Key-words: non-protein nitrogen, intake, digestibility, carcass, Holstein.
20
Introdução
A crescente demanda por carne bovina de qualidade e com regularidade
de oferta tem provocado mudanças nos principais segmentos do complexo
pecuário brasileiro. O manejo nutricional é, sem dúvida, um dos principais
fatores a ser considerado na produção de bovinos de corte. A adoção do
confinamento como estratégia alimentar para a engorda de animais tem
proporcionado melhorias na produtividade da exploração. Entretanto, a
alimentação é responsável pela maior parcela dos custos da atividade o que
leva produtores e pesquisadores a utilizarem alimentos de mais baixo custo e
que proporcionem aos animais desempenhos satisfatórios.
A fração protéica das rações deve merecer atenção especial em razão
do seu custo relativo ser um dos mais elevados. Dessa forma, a substituição
parcial ou total de fontes de proteína verdadeira pelo nitrogênio não-protéico
(NNP) tem sido foco de várias pesquisas (Milton et al., 1997). Sabe-se que o
ruminante, devido às características anatomofisiológicas do estômago, é o
único animal capaz de converter NNP em proteína (Coelho da Silva & Leão,
1979) de excelente qualidade.
A uréia tem sido o composto nitrogenado não-protéico mais amplamente
utilizado na dieta de bovinos em virtude de seu baixo custo por unidade de
nitrogênio, disponibilidade no mercado, facilidade de utilização (Santos et al.,
2001) e por não provocar decréscimo na produtividade ou aparecimento de
problemas de saúde nos animais (Huber, 1984).
O grau com que dietas suplementadas com uréia são capazes de
suportar ganhos de peso em novilhos confinados tem sido inconsistente,
necessitando estudos mais acurados para definir a quantidade de uréia que
poderia ser utilizada (Thomas et al., 1984). No que concerne a níveis de
substituição, a recomendação tradicionalmente adotada pela maioria dos
pesquisadores é que o NNP pode substituir até 33% do nitrogênio protéico da
dieta dos ruminantes (Velloso, 1984). Ainda tem sido sugerido limitar a
quantidade de uréia em até 1,0% na matéria seca total da dieta (Haddad,
1984).
21
De acordo com Salman et al. (1996), o uso da uréia pelos ruminantes é
limitado em virtude de sua baixa palatabilidade, sua segregação quando
misturada com farelos e sua toxicidade em doses mais elevadas. Porém, vários
experimentos realizados com níveis de uréia acima dos recomendados
mostraram que não houve prejuízo aos animais (Thomas et al., 1984; Hussein
& Berger, 1995; Shain et al., 1998, Souza et al., 2002).
De posse dos resultados encontrados na literatura, verifica-se que as
recomendações acerca da utilização de uréia para bovinos, principalmente
aqueles com maior grau de sangue Holandês, não têm se mostrado
adequadas, uma vez que níveis acima dos recomendados têm propiciado
desempenho satisfatório dos animais. Entretanto, ainda não foi evidenciado
qual nível máximo de inclusão de uréia afetaria negativamente o desempenho
dos mesmos.
Segundo Mertens (1994), o desempenho animal é função direta do
consumo de alimentos. Shain et al. (1998), avaliando o desempenho de
bovinos em terminação, submetidos a dietas à base de milho laminado à seco
e com níveis crescentes de uréia (0; 0,88; 1,34 e 1,96% na MS), concluíram
que o consumo de MS pelos animais não diferiu entre os tratamentos,
apresentando valor médio de 11,2 kg de MS/dia.
Além do conhecimento do consumo e da composição bromatológica dos
alimentos, torna-se importante obter informações sobre a utilização dos
nutrientes pelo animal, o que é obtido por estudos de digestão. Para Coelho da
Silva & Leão (1979), digestibilidade é característica do alimento e indica a
porcentagem de cada nutriente de um alimento que o animal pode utilizar.
Contudo, a inclusão de um ingrediente a determinada ração pode modificar sua
digestão, devido ao efeito associativo entre alimentos (Coelho da Silva & Leão,
1979; Moore et al., 1997). Nesse sentido, Faria & Huber (1984) e Hennessy et
al. (1995) desenvolveram ensaios e não relataram influência da suplementação
com uréia na dieta de novilhos sobre a digestibilidade da MS.
Para complementar a avaliação do desempenho do animal, é
extremamente importante analisar as características de carcaça, bem como o
rendimento dos cortes básicos, que estão diretamente relacionados com os
aspectos qualitativos e quantitativos da carcaça e da carne.
22
Dessa forma, objetivou-se estudar os consumos e digestibilidades dos
nutrientes; avaliar o efeito da correção da fibra em detergente neutro (FDN)
para cinzas e proteína sobre a digestibilidade total da FDN e dos carboidratos
não-fibrosos e estudar as características de carcaça e rendimento dos cortes
básicos de novilhos de origem leiteira em confinamento, alimentados com
diferentes níveis de uréia.
Material e Métodos
O experimento foi realizado nas dependências do Laboratório de
Animais e no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia do
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-
MG, sendo a fase de campo realizada durante o período compreendido entre
os meses de setembro e dezembro de 2001.
A cidade de Viçosa está localizada na Zona da Mata do Estado de Minas
Gerais e tem como coordenadas geográficas de posição 20º45’20” de latitude
sul e 45º52’40” de longitude oeste de Greenwich e altitude de 657m. A
temperatura média e a precipitação pluviométrica observadas nos anos de
2000 e 2001 foram de, respectivamente, 20ºC e 1217,9 mm e 20,7ºC e 1148
mm (Universidade Federal de Viçosa, 2002).
Foram utilizados 27 bovinos mestiços de origem leiteira com predomínio
de sangue Holandês, com peso vivo médio inicial de 300 kg, confinados em
baias individuais, providas de comedouro e bebedouro, com área total de 30
m
2
, sendo 8 m
2
cobertos com telhas de amianto.
Inicialmente, os animais foram pesados, castrados, vermifugados e
previamente adaptados às dietas, por um período de sete dias. Após esse
período, três novilhos foram abatidos servindo de referência para estudos
posteriores. Os 24 animais restantes foram pesados e distribuídos em
tratamentos, em função dos níveis crescentes de uréia nas dietas (0; 0,65; 1,30
e 1,95% na base da MS total), em substituição à proteína do farelo de soja,
contendo aproximadamente 22, 37, 50 e 63% da PB na forma de compostos
23
nitrogenados não-protéicos (NNP). O delineamento experimental utilizado foi
inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e seis repetições. O
experimento foi realizado em três períodos de 28 dias cada.
O volumoso fornecido foi composto de silagem de milho e silagem de
capim-elefante, na proporção 70:30, respectivamente, sendo que a dieta total
foi constituída de 65% de volumoso e 35% de concentrado, na base da matéria
seca. As rações foram balanceadas de forma a conter em torno de 12,0% de
PB na MS total.
As proporções dos ingredientes nos concentrados estão apresentadas
na Tabela 1, a proporção dos ingredientes nas dietas experimentais na Tabela
2, a composição químico-bromatológica dos ingredientes na Tabela 3 e a
composição média das dietas na Tabela 4.
Tabela 1 – Proporção dos ingredientes nos concentrados, na base da matéria
natural, e custo total do concentrado para os diferentes
tratamentos.
Níveis de Uréia (%)
Ingredientes
(%)
0 0,65 1,30 1,95
Grão de sorgo moído
Farelo de soja
Uréia
Sulfato de amônia
Sal
Fosfato bicálcico
Calcário
Premix mineral
1
61,86
36,42
-
-
0,63
0,25
0,80
0,04
72,09
24,38
1,64
0,16
0,63
0,26
0,80
0,04
82,43
11,22
3,29
0,33
0,63
0,25
0,81
0,04
92,82
-
4,95
0,48
0,64
0,26
0,81
0,04
Custo total
2
(US$/100 kg)
3
17,34
15,56
13,47
11,97
1
– Composição: sulfato de cobalto, 1,43%, sulfato de cobre, 22,41%, iodato de
potássio, 0,46%, selenito de sódio, 0,13%, sulfato de zinco, 75,57%
2 –
Preço dos ingredientes (maio/2003): uréia (R$ 1,10/kg); sulfato de amônia (R$
0,40/kg); sal branco (R$ 0,18/kg); fosfato bicálcico (R$ 1,00/kg); calcário (R$ 0,07/kg);
premix mineral (R$ 2,40/kg); sorgo (R$ 0,32/kg); farelo de soja (R$ 0,87/kg)
3 –
Dólar = R$ 3,00
24
Tabela 2 – Proporção dos ingredientes nas dietas experimentais, na base da
matéria seca, para os diferentes tratamentos.
Níveis de Uréia (%)
Ingredientes
(%)
0 0,65 1,30 1,95
Silagem de milho
Silagem de capim elefante
Grão de sorgo moído
Farelo de soja
Uréia
Sulfato de amônia
Sal
Fosfato bicálcico
Calcário
Premix mineral,
1
45,5
19,5
21,60
12,71
-
-
0,25
0,32
0,10
0,02
45,5
19,5
25,11
8,49
0,65
0,06
0,25
0,32
0,10
0,02
45,5
19,5
28,63
4,25
1,30
0,13
0,25
0,32
0,10
0,02
45,5
19,5
32,17
-
1,95
0,19
0,25
0,32
0,10
0,02
1
– Composição: sulfato de cobalto, 1,43%, sulfato de cobre, 22,41%, iodato de
potássio, 0,46%, selenito de sódio, 0,13%, sulfato de zinco, 75,57%.
Tabela 3 – Composição químico-bromatológica dos ingredientes das rações
experimentais.
Ingredientes
Itens
Silagem de milho Silagem de capim Grão de sorgo Farelo de soja
MS (%) 27,44 28,66 88,72 90,64
MO
1
93,88 87,28 98,29 93,13
PB
1
6,28 5,38 9,88 45,10
PDR
2
75,31 41,59 59,53 70,43
NNP
3
57,12 55,33 10,11 4,73
NIDN
3
5,07 8,62 3,29 0,89
NIDA
3
12,32 22,02 18,97 2,14
EE
1
2,29 0,97 4,06 2,29
CHOT
1
85,31 80,93 84,35 45,74
FDN
1
53,70 75,33 11,25 17,27
FDNcp
1
51,07 70,92 10,62 15,50
CNF
1
34,24 10,01 73,73 30,24
FDA
1
33,03 55,26 5,95 13,27
Lignina
1
6,08 11,55 1,81 2,52
FDAi
1
12,29 30,62 1,05 0,66
Ca
1
0,41 0,83 0,04 0,45
P
1
0,22 0,25 0,48 0,45
Na
1
0,04 0,04 0,04 0,04
K
1
1,35 1,97 0,60 2,23
Mg
1
0,19 0,32 0,21 0,19
1
- % na MS;
2
- % da PB,
3
- % do N total
25
Tabela 4 – Teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta
(PB), proteína degradável no rúmen (PDR), nitrogênio não-protéico
(NNP), nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN), nitrogênio
insolúvel em detergente ácido (NIDA), extrato etéreo (EE),
carboidratos totais (CHOT), fibra em detergente neutro (FDN), FDN
corrigida para cinzas e proteína (FDNcp), carboidratos não-fibrosos
(CNF), lignina, nutrientes digestíveis totais (NDT), cálcio (Ca),
fósforo (P), sódio (Na), potássio (K) e magnésio (Mg), das dietas
experimentais, com base na matéria seca, para os diferentes
tratamentos.
Níveis de Uréia (%)
Itens
0 0,65 1,30 1,95
MS (%) 49,46 49,47 49,46 49,45
MO 92,82 92,33 91,85 91,36
PB 11,78 12,04 12,30 12,54
PDR
1
67,06 71,35 75,28 79,27
NNP 22,94 37,07 50,63 63,71
NIDN 4,81 4,90 4,97 5,05
NIDA 14,27 14,84 15,42 16,0
EE 2,40 2,44 2,49 2,54
CHOT 79,32 80,42 81,51 82,61
FDN 43,75 43,41 43,07 42,74
FDNcp 41,33 41,06 40,77 40,49
CNF 37,99 39,36 40,74 42,12
Lignina 5,73 5,68 5,65 5,60
NDT 58,88 60,80 67,17 67,71
Ca 0,52 0,51 0,49 0,47
P 0,37 0,37 0,36 0,36
Na 0,13 0,13 0,13 0,13
K 1,35 1,31 1,24 1,15
Mg 0,24 0,23 0,22 0,21
1
– % da PB
As rações foram fornecidas à vontade, às 7 h, e ajustadas de forma a
manter as sobras em torno de 5 a 10% do total fornecido, com água
permanentemente à disposição dos animais. Foram feitas anotações diárias
tanto da quantidade de ração fornecida quanto das sobras para cada animal,
como também amostragens das silagens, dos concentrados e das sobras. As
amostras diárias foram agrupadas em amostras semanais que por fim
constituíram as amostras compostas, para cada período de 28 dias, sendo
devidamente processadas ao final de cada período experimental. As amostras
26
foram pré-secas em estufa ventilada a 65ºC e moídas em moinho com peneira
de malha de 1 mm, para posteriores análises laboratoriais.
As determinações de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
nitrogênio total, extrato etéreo (EE), lignina e minerais foram realizadas
conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), sendo a proteína bruta
(PB) obtida pelo produto entre o teor de nitrogênio total e o fator 6,25. A
determinação do nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e ácido
(NIDA), foi obtida conforme descrição de Van Soest et al. (1991) e compostos
nitrogenados não-protéicos (NNP) de acordo com Licitra et al. (1996).
Os teores de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente
ácido (FDA), foram determinados conforme metodologia descrita por Pell &
Schofield (1993), denominada de método da autoclave, que consiste na
pesagem de aproximadamente 0,5 g de amostra que é, posteriormente,
colocada em frascos de vidro de 50 ml juntamente com 25 ml de solução de
detergente neutro (ou ácido). Os frascos são então tampados com rolhas de
borracha e lacres de alumínio e posteriormente levados à autoclave para serem
fervidos durante uma hora, à temperatura de 105ºC.
Decorrida essa análise, o resíduo de cada frasco foi filtrado em cadinho
filtrante, lavado com água destilada quente para tirar o excesso do detergente
utilizado, e posteriormente com acetona. Os cadinhos foram secos em estufa a
105ºC, por aproximadamente 12 horas. Em seguida, os resíduos foram
pesados e utilizados para determinação de cinzas e proteína bruta, conforme
técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002). A correção da FDN para cinzas e
proteína (FDNcp) foi realizada nas amostras de alimentos, sobras e fezes, para
cálculo das digestibilidades da FDN e dos carboidrados não fibrosos (CNF).
Os carboidratos totais (CHOt) foram obtidos por intermédio da equação:
CHOt = 100 - (%PB + %EE + %Cinzas), segundo Sniffen et al. (1992).
Devido à presença de uréia nas dietas, os CNF foram calculados como
proposto por Hall (2000):
CNF = 100 – [(%PB - %PB derivada da uréia + % de uréia) + %FDNcp +
%EE + %cinzas].
Os teores de nutrientes digestíveis totais (NDT) foram obtidos a partir da
seguinte equação somativa:
27
NDT = PBD + FDNcpD + CNFD + 2,25 x EED, sendo que PBD,
FDNcpD, CNFD e EED, significam, respectivamente, proteína bruta digestível,
fibra em detergente neutro (isenta de cinzas e proteína) digestível, carboidratos
não fibrosos digestíveis e extrato etéreo digestível.
Os teores de proteína degradável no rúmen (PDR) foram calculados
conforme recomendações do NRC (2001) através da seguinte equação:
PDR = A + B * kd
Kd + kp
em que A, B, kd e kp, significam, respectivamente, fração solúvel em
água, fração insolúvel em água e potencialmente degradável, taxa de
degradação da fração B e taxa de passagem da PB pelo rúmen. Os valores de
A (%), B (%) e kd (%/h) adotados foram 54,72; 36,0 e 6,68 para a silagem de
milho; 22,8; 44,04 e 3,72 para a silagem de capim-elefante; 18,21; 78,59 e 9,9
para o farelo de soja; e 29,13; 60,8 e 5,0 para o sorgo (Valadares Filho et al.,
2002), enquanto que os valores de kp foram estimados segundo as equações
do NRC (2001), resultando em 4,63%/h para silagem de milho e silagem de
capim e 5,73%/h para farelo de soja e sorgo, sendo utilizado o valor médio de
5%/h para todos os ingredientes das dietas.
No segundo período experimental foram realizadas coletas de fezes dos
animais para determinação das digestibilidades aparentes dos nutrientes. As
fezes foram coletadas diretamente no piso, imediatamente após a defecação,
em dois períodos (manhã e tarde), em dias consecutivos. As amostras de fezes
foram homogeneizadas, acondicionadas em recipientes de alumínio e pré-
secas em estufa de ventilação forçada, a 65
º
C, durante um período de 72
horas. Em seguida, foram moídas em moinho com peneira de malha de 1mm e
agrupadas de forma proporcional, constituindo-se amostras compostas de cada
animal.
Utilizou-se a fibra em detergente ácido indigestível (FDAi) para se
estimar a produção de matéria seca fecal, conforme proposto por Cochran et
al. (1986). Entretanto, utilizou-se incubação ruminal em sacos de ankom (filter
bag F57), por 144 horas, em vez da digestibilidade in vitro, sugerida no
protocolo original. Foram incubadas amostras de sobras, fezes e dos
ingredientes das dietas. O material remanescente da incubação foi submetido à
28
fervura em detergente ácido por uma hora, sendo o resíduo dessa análise
considerado FDAi.
Os animais foram pesados ao início do experimento e, posteriormente, a
cada 28 dias para determinação do ganho médio diário de peso vivo (GMD),
sendo as pesagens sempre precedidas por jejum alimentar de 16 horas. Ao
final do experimento todos os animais foram abatidos, sendo o abate realizado
por meio de atordoamento mecânico (marreta) na região do osso frontal, com
posterior sangria. Após o abate, o aparelho gastrintestinal de cada animal foi
esvaziado e, juntamente com os órgãos, foram lavados, pesados e somados às
demais partes do corpo (carcaça, cabeça, couro, cauda, pés e sangue) para
determinação do peso de corpo vazio (PCVZ). A relação obtida entre o PCVZ e
o peso vivo (PV) dos animais referência, abatidos no início do experimento, foi
utilizada para estimativa do PCVZ inicial dos animais, podendo-se então
estimar o ganho médio diário de peso de corpo vazio (GMDPVZ).
A carcaça de cada animal foi dividida ao meio com o auxílio de uma
serra elétrica e em seguida pesada para determinação do ganho de carcaça,
como também de seu rendimento em relação ao peso vivo (RCPV) e ao peso
de corpo vazio (RCPVZ). Também foi medido o comprimento da carcaça
direita. Os rendimentos dos cortes básicos foram determinados em relação ao
peso da carcaça, sendo o dianteiro separado do traseiro na posição entre a
quinta e a sexta costelas. O dianteiro compreendeu o acém e a paleta completa
e o traseiro a ponta de agulha, o coxão e a alcatra completa. Na carcaça
esquerda foi medida a área transversal do músculo Longissimus dorsi (área de
olho de lombo), à altura da 12º costela e a espessura da gordura subcutânea.
Os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análises
de variância e regressão, utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e
Genéticas – SAEG (UFV, 1998). Os modelos foram testados com base na
significância dos coeficientes de regressão, utilizando-se o teste “F”, ao nível
de 5% de probabilidade, e no coeficiente de determinação (r
2
).
29
Resultados e discussão
Estão apresentados na Tabela 5 os consumos médios de MS, MO, PB,
PDR, EE, FDN, CNF e NDT, as equações de regressão, coeficientes de
variação e determinação, obtidas para os diferentes tratamentos. Verifica-se
que os consumos estudados não foram afetados (P>0,05) pelos níveis de uréia
das dietas, com exceção do consumo de proteína degradável no rúmen (PDR).
Os consumos dos demais nutrientes seguiram o comportamento do de MS.
Nota-se que o consumo de FDN foi em média 1,08% do PV, valor próximo ao
sugerido por Mertens (1994) como sendo o valor no qual ocorre o consumo
ótimo de MS para vacas de leite.
Com o incremento dos níveis de uréia houve aumento linear no consumo
de PDR pelos animais e conseqüente atendimento de 82,45; 95,79; 101,86 e
107,92% das exigências desse nutriente, uma vez que a exigência total de
PDR estimada segundo o NRC (1996), foi de 824,7 g/dia. Já a exigência total
de PB foi de 861,20 g/dia, e como o consumo médio de PB pelos animais foi de
1,12 kg/dia, conclui-se que 130% da exigência proposta pelo NRC (2001), foi
atendida pelas dietas.
A inclusão de fontes não-protéicas de alta degradabilidade ruminal na
dieta de ruminantes, como a uréia, que é totalmente solubilizada no ambiente
ruminal, promove o atendimento imediato dos requerimentos de amônia para o
adequado crescimento e atividade dos microrganismos. Uma vez atendidas as
exigências de nitrogênio no rúmen espera-se um efeito positivo sobre o
consumo e digestibilidade da forragem, o que pode ser comprovado pelos
estudos de Silveira et al. (2002) e Griswold et al. (2003), por exemplo.
Ao determinar as exigências protéicas de novilhos zebuínos com peso
vivo médio inicial de 270 kg, mantidos em confinamento, Paulino (2002)
concluiu que à medida que o peso vivo do animal aumenta, menor é a sua
exigência em proteína não-degradável no rúmen (PNDR), possibilitando uma
maior participação da PDR para o suprimento das exigências totais de proteína
bruta. Dessa forma, animais em fase de terminação podem receber maiores
níveis de nitrogênio não-protéico sem comprometimento do desempenho
30
(Silva, 2001) contribuindo para redução dos custos com a fração protéica da
dieta (Tabela 1).
Tabela 5 – Médias, equações de regressão (REG), coeficientes de variação
(CV) e determinação (r
2
) obtidos para os consumos de matéria
seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), proteína
degradável no rúmen (PDR), extrato etéreo (EE), fibra em
detergente neutro (FDN), carboidratos não-fibrosos (CNF) e
nutrientes digestíveis totais (NDT), em função dos níveis de uréia
nas rações.
Níveis de Uréia (%)
Itens
0 0,65 1,30 1,95
REG CV r
2
Consumos (kg/dia)
MS 8,65 9,20 9,09 8,93
Y
ˆ
=8,97
12,56
MO 8,06 8,47 8,36 8,08
Y
ˆ
=8,24
12,74
PB 1,05 1,13 1,15 1,13
Y
ˆ
=1,12
12,54
PDR 0,68 0,79 0,84 0,89
Y
ˆ
=0,7013+0,1022*NU
12,89 0,95
EE 0,22 0,23 0,24 0,23
Y
ˆ
=0,23
12,56
FDN 3,68 3,85 3,82 3,70
Y
ˆ
=3,76
13,42
CNF 3,06 3,38 3,34 3,39
Y
ˆ
=3,29
13,68
NDT 5,10 5,62 6,11 6,03
Y
ˆ
=5,71
14,67
Consumos (%PV)
MS 2,47 2,59 2,60 2,60
Y
ˆ
=2,57
11,58
FDN 1,05 1,08 1,09 1,07
Y
ˆ
=1,08
10,85
Moraes (2003), ao avaliar suplementos múltiplos formulados com
diferentes níveis de uréia (0; 1,2; 2,4 e 3,6% na MN) para novilhos de corte
mestiços Holandês x Zebu em fase de terminação sob pastejo, não verificou
efeito dos tratamentos sobre o consumo de MS, que apresentou média de
2,24% do PV. Também Knaus et al. (2001) e Restle et al. (2001), ao
conduzirem um ensaio com bovinos holandeses, afirmaram que a utilização de
uréia (1,25 e 1,8% na MS, respectivamente) não afetou o consumo de MS
pelos animais. Em experimento com novilhos de quatro grupos genéticos,
Rennó (2003) ao avaliar níveis de uréia semelhantes aos do presente trabalho
(0; 0,65; 1,30 e 1,95% na MS) não observou efeito dos tratamentos sobre os
consumos de nutrientes.
31
O uso de uréia em níveis elevados na dieta, em virtude de sua baixa
palatabilidade (Salman et al., 1996) pode provocar redução no consumo de MS
(Haddad, 1984), o que foi comprovado por Silva et al. (1997) e Feijó et al.
(1997) ao avaliarem dietas para terminação de novilhos Nelore e F1 Pardo
Suíço x Nelore, respectivamente, nas quais o farelo de soja foi substituído por
uréia (0, 50 e 100%). Da mesma forma, Wilson et al. (1975) ao fornecerem
níveis crescentes de uréia (1,0; 1,65; 2,30 e 3,0% na MS total) para novilhos,
seja via oral ou por infusão direta no rúmen, verificaram que a uréia parece
deprimir o consumo quando é incluída na dieta em níveis acima de 2,0%. Já
Milton et al. (1997), em um trabalho conduzido com novilhos na fase de
terminação (347 kg de PV, em média) que foram submetidos a dietas com
níveis crescentes de uréia (0; 0,35; 0,7; 1,05 ou 1,4% na MS) e 83% de milho
laminado a seco, observaram efeito quadrático sobre o consumo de MS, que
apresentou o maior valor com a inclusão de 1,05% de uréia (9,7 kg de MS) na
dieta dos animais.
Seixas et al. (1999), ao avaliarem o desempenho de bovinos cruzados
em confinamento, recebendo silagem de milho e três fontes protéicas: amiréia
30, uréia (1,30% na MS) e farelo de algodão, concluíram que não houve
diferenças para as médias de ingestão de MS (9,40 kg/dia ou 2,61% do PV) e
de PB (1,29 kg/dia). Trabalhando com bovinos mestiços (H x Z) em
confinamento, com peso vivo médio de 290 kg, recebendo dietas a base de
silagem de sorgo (70% na MS) com níveis crescentes de uréia (0; 0,5; 1,0 e
1,5% na MS), Souza et al. (2002) evidenciaram que os consumos de MS, MO,
PB e EE não foram influenciados pelos tratamentos e apresentaram médias de
8,41; 7,78; 1,32 e 0,17 kg/dia, respectivamente.
Na Tabela 6 estão apresentadas as médias, equações de regressão,
coeficientes de variação e de determinação para as digestibilidades aparentes
totais da MS, MO, PB, EE, FDN e CNF, além dos teores de NDT para os
diferentes tratamentos. Com exceção das digestibilidades da MS e PB, as
demais não foram influenciadas (P>0,05) pelos níveis crescentes de uréia nas
dietas. Embora os consumos de MS e PB não terem sido afetados pelos
tratamentos (Tabela 5), as digestibilidades de ambos os nutrientes
apresentaram comportamento linear crescente com os níveis de inclusão de
32
uréia. Isso pode ser atribuído em parte, ao atendimento dos requerimentos de
amônia dos microrganismos ruminais com a inclusão de PDR nas dietas
(Tabela 5), favorecendo a digestibilidade total da MS. Já o aumento verificado
na digestibilidade da PB pode ser explicado pelo fato da uréia ser considerada
100% digestível. Assim, a substituição da proteína do farelo de soja pela uréia
provocou melhora na digestibilidade aparente da PB da dieta.
Tabela 6 – Médias, equações de regressão (REG), coeficientes de variação
(CV) e determinação (r
2
) obtidas para os coeficientes de
digestibilidade da matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro
(FDN) e carboidratos não-fibrosos (CNF) e teores de nutrientes
digestíveis totais (NDT), em função dos níveis de uréia nas dietas.
Níveis de Uréia (NU) - %
Itens
0 0,65 1,30 1,95
REG CV r
2
MS 65,32 65,70 69,38 69,17
Y
ˆ
=65,1104+2,34589*NU
4,22 0,81
MO 65,29 65,37 68,63 68,50
Y
ˆ
=66,95
4,25
PB 59,37 61,73 65,81 67,73
Y
ˆ
=59,2878+4,4862*NU
5,46 0,98
EE 77,36 80,19 81,66 80,43
Y
ˆ
=79,91
4,31
FDN 42,07 43,73 48,32 48,83
Y
ˆ
=45,73
11,33
FDNcp
1
43,80 45,11 49,91 50,81
Y
ˆ
=47,41
10,63
CNF 89,05 86,52 89,45 88,57
Y
ˆ
=88,40
5,06
CNFcorr
1
75,16 74,65 81,01 78,11
Y
ˆ
=77,23
7,60
NDT (%MS)
58,88
60,80
67,17
67,71
Y
ˆ
=58,7148+5,05175*NU
5,85
0,90
1
– Corrigida nos alimentos, sobras e fezes.
Além disso, os efeitos positivos da inclusão de uréia na dieta de
ruminantes sobre a digestibilidade dos nutrientes são função da capacidade
dos microrganismos ruminais em assimilar os produtos finais da fermentação
(Huntington & Archibeque, 1999).
Os resultados do presente trabalho discordam daqueles encontrados por
Cecava & Hancock (1994) e Hennessy et al. (1995) que não reportaram
influência na suplementação das dietas com uréia sobre as digestibilidades
totais da MS e PB. Da mesma forma, Köster et al. (2002) ao incluírem níveis
crescentes de uréia na dieta de novilhos, como fonte de PDR, concluíram que
33
as digestibilidades totais da MO e FDN não foram afetadas pelos tratamentos.
Também Rennó (2003), ao avaliar os mesmos níveis de uréia do presente
trabalho, não encontrou influência dos tratamentos sobre as digestibilidades
totais dos nutrientes, com exceção daquela dos CNFcp, que apresentou
comportamento linear decrescente. Entretanto, Knaus et al. (2001), conduzindo
ensaio com novilhos holandeses, afirmaram que a utilização de uréia (1,8% na
MS) reduziu as digestibilidades totais da MS, MO e dos CNF quando
comparado com a dieta controle. Diante disso, nota-se que há inconsistência
dos dados em relação aos efeitos da utilização de uréia sobre a digestibilidade
dos nutrientes da dieta.
Verifica-se que os valores de NDT apresentaram comportamento linear
crescente à medida em que a uréia substituiu o farelo de soja nas rações, o
que pode ser atribuído ao fato de que as digestibilidades da MS e PB tiveram o
mesmo comportamento. Vale ressaltar também, que com a inclusão da uréia
nas dietas foi retirado o farelo de soja e acrescentado o sorgo, considerado um
ingrediente mais energético, o que justificaria o aumento dos valores de NDT
encontrados.
São apresentadas na Tabela 7 a comparação entre as médias das
digestibilidades aparentes totais da FDN e dos CNF, corrigidas ou não para
cinzas e proteína. Pode-se observar que a correção não interferiu na
digestibilidade da FDN (P>0,05). Apesar de não ter sido verificada diferença
estatística, nota-se um aumento de 3,54% na digestibilidade da FDNcp, quando
comparada à digestibilidade da FDN.
Entretanto, comparando a digestibilidade dos CNF calculada a partir da
FDN com a da FDNcp, verifica-se uma redução na digestibilidade de 12,64%, o
que já era esperado, uma vez que os CNF são calculados pela diferença entre
os carboidratos totais e a FDNcp (Weiss, 1999). Ou seja, a digestibilidade dos
CNF é superestimada quando não é feita a correção da FDN para cinzas e
proteína nas amostras de alimentos, sobras e fezes. Dessa forma, sugere-se
que a digestibilidade dos CNF seja multiplicada por 0,87. Ao realizar o mesmo
tipo de comparação, Rennó (2003) verificou que a presença de cinzas e
proteína na FDN subestimou a digestibilidade da FDN e superestimou a dos
34
CNF, e sugeriu que a digestibilidade da FDN seja multiplicada por 1,042 e a
dos CNF por 0,96.
Mais pesquisas devem ser desenvolvidas no intuito de se obter um fator
de correção para as digestibilidades da FDN e CNF, contribuindo assim para
reduzir tempo e gastos com análises laboratoriais.
Tabela 7 – Digestibilidades da fibra em detergente neutro (FDN) e dos
carboidratos não-fibrosos (CNF) corrigidas ou não para cinzas e
proteína.
Digestibilidade (%)
Itens
Sem correção Com correção
CV
FDN 12,11
CNF
45,73 a
88,40 a
47,41 a
77,23 b 6,36
Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de
probabilidade pelo teste t
Na Tabela 8 são apresentadas as médias, equações de regressão e
coeficientes de variação para os ganhos médios diários de peso vivo (GMD) e
de peso de corpo vazio (GMDPVZ), ganhos de carcaça (GMDCAR), conversão
alimentar (CA) e a relação PCVZ/PV, para os animais nos diferentes
tratamentos. Não houve influência (P>0,05) dos níveis de uréia sobre
quaisquer variáveis estudadas. Esses resultados eram esperados, pois de
acordo com Mertens (1994), 60 a 90% do desempenho animal é função direta
do consumo de MS e como este não foi afetado pelos tratamentos, permitiu
ganhos médios diários de 1,18 kg/dia, e conversão alimentar média de 7,66
kgMS/kg de ganho.
Seixas et al. (1999), ao avaliarem o desempenho de novilhos em
confinamento, recebendo dietas a base de silagem de milho e três fontes
protéicas: amiréia 30, uréia (1,30% na MS) e farelo de algodão, não reportaram
diferenças para as médias de ganho de peso (1,18 kg/dia) e para a CA média
(8,0 kgMS/kg de ganho). Da mesma forma, Souza et al. (2002), testando quatro
níveis de uréia (0; 0,5; 1,0 e 1,5% na MS) na dieta de novilhos mestiços,
encontraram ganhos médios e CA média de 1,05 kg/dia e 8,05,
35
respectivamente. Também Shain et al. (1998), trabalhando com níveis
crescentes de uréia (0; 0,88; 1,34 e 1,96% na MS) na dieta de novilhos, não
evidenciaram diferenças quanto ao ganho de peso e CA, porém salientaram
que os animais suplementados com uréia na ração, tiveram ganhos mais
elevados (1,53 kg/dia, em média) e foram 5,4% mais eficientes do que aqueles
que não receberam uréia.
Entretanto, Feijó et al. (1997) e Knaus et al. (2001) encontraram
desempenhos inferiores, evidenciados em especial, pelo menor ganho de peso,
em animais alimentados com uréia quando comparado àqueles que receberam
fontes de proteína verdadeira, e atribuíram esse comportamento à insuficiência
de PNDR nas dietas que continham uréia em sua composição.
Tabela 8 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) obtidas para os ganhos médios diários de peso vivo (GMD) e
de peso de corpo vazio (GMDPVZ), ganhos médios diários de
carcaça (GMDCAR), conversão alimentar (CA) e a relação
PCVZ/PV, em função dos níveis de uréia nas rações.
Níveis de Uréia (%)
Itens
0 0,65 1,30 1,95
REG CV
GMD, Kg/dia 1,13 1,24 1,23 1,10
Y
ˆ
=1,18
11,90
GMDPVZ, Kg/dia 1,21 1,25 1,28 1,08
Y
ˆ
=1,20
15,35
GMDCAR, Kg/dia 0,75 0,84 0,82 0,67
Y
ˆ
=0,78
21,45
CA 7,77 7,43 7,45 7,98
Y
ˆ
=7,66
13,97
PCVZ/PV 85,89 84,20 84,61 83,86
Y
ˆ
=84,64
2,98
A determinação do peso de corpo vazio (PCVZ) dos animais é
fundamental em estudos de exigências nutricionais e altamente desejável em
estudos de ganho de peso por eliminar erros devidos a variações no conteúdo
gastrintestinal dos animais (Lana et al., 1992). No presente trabalho, o
GMDPVZ e o GMDCAR foram em média, respectivamente, 1,20 e 0,78 kg/dia.
A relação média obtida para a estimativa do PCVZ a partir do PV dos
animais foi: PCVZ = PV x 0,8464, valor inferior ao recomendado pelo NRC
(1996) de 0,891. Por outro lado, o valor encontrado se aproxima daquele obtido
36
por Silva et al. (2002), ao compilarem dados da literatura brasileira para
machos mestiços leiteiros (0,8309).
As médias, equações de regressão e coeficientes de variação para as
características de carcaça e rendimento dos cortes básicos dos animais, nos
tratamentos com diferentes níveis de uréia, são apresentadas na Tabela 9. Não
houve influência (P>0,05) dos tratamentos sobre essas variáveis. O rendimento
de carcaça quente em relação ao peso vivo (RCPV) apresentou média de
52,10%, sendo próximo aos valores citados na literatura para bovinos mestiços
leiteiros (Leme et al., 2000, Detmann, 2002; Moraes, 2003).
Tabela 9 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) obtidas para os rendimentos de carcaça quente em relação ao
peso vivo (RCPV) e ao peso de corpo vazio (RCPCVZ),
comprimento de carcaça (CCAR), área de olho de lombo (AOL),
espessura de gordura subcutânea (EGS) e rendimentos do acém
completo (ACEM), paleta (PAL), dianteiro (DIANT), alcatra
completa (ALC), coxão (COX), traseiro especial (TRAS) e ponta de
agulha (PA), em função dos níveis de uréia nas rações.
Níveis de Uréia (%)
Itens
0 0,65 1,30 1,95
REG CV
Características de Carcaça
RCPV, % 52,55 52,64 52,00 51,21
Y
ˆ
=52,10
4,80
RCPCVZ, % 61,16 62,52 61,42 60,59
Y
ˆ
=61,42
2,99
CCAR, cm 127,0 128,0 128,0 126,0
Y
ˆ
=127,0
4,95
AOL, cm
2
64,32 67,15 74,60 64,87
Y
ˆ
=67,73
15,81
EGS, mm 1,50 2,23 1,90 1,93
Y
ˆ
=1,89
45,88
Rendimento dos Cortes Básicos (%)
ACEM 21,61 21,35 21,08 21,18
Y
ˆ
=21,30
6,56
PAL 17,32 18,38 18,77 18,86
Y
ˆ
=18,33
13,72
DIANT 38,92 39,73 39,85 40,03
Y
ˆ
=39,63
5,20
ALC 18,03 17,55 17,21 17,99
Y
ˆ
=17,69
4,59
COX 28,50 28,08 28,25 28,27
Y
ˆ
=28,27
5,88
TRAS 46,53 45,62 45,46 46,26
Y
ˆ
=45,97
4,35
PA 14,55 14,65 14,69 13,71
Y
ˆ
=14,40
10,64
Souza et al. (2002) não evidenciaram diferenças no rendimento de
carcaça (48,7%, em média) de novilhos mestiços em confinamento, submetidos
a dietas com níveis crescentes de uréia (0; 0,5; 1,0 e 1,5% na MS). No entanto,
37
Feijó et al. (1997) evidenciaram menor rendimento de carcaça (52,9%) quando
a uréia substituiu 100% do farelo de soja na dieta de novilhos F1 Pardo Suíço x
Nelore.
Não houve efeito dos níveis de uréia (P>0,05) sobre a espessura de
gordura subcutânea (EGS). O grau de acabamento das carcaças é avaliado
pela EGS, sendo esta a característica de maior impacto no rendimento, visto
que o rendimento de carne magra diminui com o aumento na EGS. O sistema
BRASIL de tipificação de carcaças, permite que carcaças com gordura escassa
(1,0 a 3,0 mm de EGS) sejam consideradas adequadas (Cruz, 2000). Porém,
Luchiari Filho (2000) considera que uma carcaça de boa qualidade deve
apresentar uma EGS de no mínimo 3,0 mm. No presente estudo esse valor não
foi atingido, sendo em média 1,89 mm, o que confirma as observações de
Marquat (1964), de que ocorre aumento na porcentagem de gordura
subcutânea na carcaça de novilhos de raças leiteiras após os mesmos
atingirem, em média, 454 kg de PV. Os animais do presente trabalho não
atingiram esse peso sendo abatidos aos 403 kg de PV médio.
Hussein & Berger (1995), em experimento com novilhos holandeses,
não verificaram comprometimento das características de carcaça dos animais,
quando 50% da proteína do farelo de soja foi substituída pela uréia. Shain et al.
(1998), trabalhando com animais de 343 kg em confinamento recebendo níveis
crescentes de uréia na ração (0; 0,88; 1,34 e 1,96% na MS), não encontraram
diferenças no peso de carcaça quente e na EGS nos animais dos diferentes
tratamentos. Resultados semelhantes foram encontrados por Milton et al.
(1997) usando níveis crescentes de uréia (0; 0,5; 1,0 e 1,5% na MS) na ração
de novilhos em terminação, verificando que a AOL não foi afetada pelos
diferentes níveis, enquanto que a EGS apresentou comportamento linear
crescente com a inclusão de uréia na dieta.
Não foi verificado efeito dos níveis de uréia (P>0,05) sobre os cortes da
carcaça estudados. Segundo Luchiari Filho (2000), é desejável que uma
carcaça apresente em torno de 45 a 50% de traseiro especial, 38 a 43% de
dianteiro com cinco costelas e 12 a 16% de ponta de agulha. Os resultados do
presente trabalho estão de acordo com esses valores. Rocha et al. (1999) e
Leme et al. (2000) também avaliaram o rendimento dos cortes básicos de
38
novilhos holandeses e concluíram que esses animais apresentam bom
potencial para produção de carne em confinamento. Porém, verifica-se
escassez de dados na literatura com relação ao estudo do rendimento dos
cortes comerciais, em bovinos mestiços leiteiros.
Conclusões
A uréia pode substituir totalmente o farelo de soja, para novilhos de
origem leiteira em confinamento com ganhos de peso próximos a 1,0 Kg/dia.
A presença de cinzas e proteína na FDN subestima a digestibilidade da
FDN e superestima a dos CNF.
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44
Desempenho, Digestibilidade, Composição Física e Características da
Carcaça de Novilhos em Confinamento Alimentados com Diferentes
Níveis de Casca de Algodão
Resumo – Com o objetivo de avaliar o efeito dos níveis de casca de algodão
sobre os consumos e digestibilidades aparentes totais da matéria seca (MS),
matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em
detergente neutro (FDN) e carboidratos não-fibrosos (CNF) e consumo dos
nutrientes digestíveis totais (NDT), além da determinação da composição física
da carcaça e avaliação das características de carcaça e rendimento dos cortes
básicos, foi realizado o presente trabalho. Foram utilizados 18 novilhos
mestiços, com peso vivo médio inicial de 230 kg, sendo que dois animais foram
abatidos ao início do experimento, para servirem de referência para estudos
posteriores e os 16 restantes foram distribuídos em delineamento inteiramente
casualizado, a quatro tratamentos: 0, 10, 20 e 30% de casca de algodão na
base da MS total, em substituição à silagem de capim-elefante, sendo a
relação volumoso:concentrado de 60:40. A inclusão de casca de algodão em
níveis crescentes na dieta aumentou linearmente (P<0,05) os consumos de EE,
bem como os de MS e FDN expressos em relação ao peso vivo. As
digestibilidades dos nutrientes não foram influenciadas (P>0,05) pelos níveis de
casca de algodão nas rações. Não houve efeito dos níveis de casca de algodão
(P>0,05) sobre a composição física da carcaça, características de carcaça e
45
rendimento dos cortes básicos dos animais. O nível máximo de casca de
algodão utilizado no experimento de 30% na MS total, resultou em
desempenho adequado de novilhos de origem leiteira em confinamento
.
Palavras-chave: volumoso, subproduto, consumo, digestibilidade, holandês
46
Performance, Digestibility, Carcass Characteristics and Physical Carcass
Composition of Dairy Steers Fed with Different Cottonseed Hulls Levels
Abstract – The effect of cottonseed hulls levels of the diets under the intake
and total apparent digestibility of DM, OM, CP, EE, NDF and NSC and TDN
intake, as well as the determination of physical carcass composition, carcass
characteristics and basic cuts percentage of confined dairy steers was
evaluated. Eighteen crossbred steers with 230 kg of initial live weight (LW) were
used. Two were slaughtered in the beginning of the trial, performing the
reference group and the remaining were uniformly allotted to a complete
randomized design, in four treatments: 0, 10, 20 and 30% of cottonseed hulls in
the total dry matter basis, replacing elephant grass silage. The
roughage:concentrate ratio was 60:40. The inclusion of cottonseed hulls in the
diets increased (P<0,05) the intake of EE linearly, as well as the intake of DM
and NDF expressed as LW percentage. The nutrients digestibilities were not
affected (P>0,05) by the cottonseed hulls levels. There was no influence
(P>0,05) of cottonseed hulls levels under physical carcass composition, carcass
characteristics and basic cuts percentage. The highest level of cottonseed hulls
used in the experiment (30% in total dry matter basis) resulted in appropriate
performance of confined dairy steers.
Key-words: roughage, byproduct, intake, digestibility, Holstein.
47
Introdução
Frente à nova ordem mundial e às grandes transformações econômicas
sofridas pelo país, em que as margens de retorno econômico nas atividades
pecuárias se encontram cada vez mais restritas, a busca por maior eficiência
produtiva torna-se uma questão de sobrevivência. Os produtores de carne
devem buscar formas de reduzir custos e/ou aumentar receitas, no intuito de
obter resultados econômicos satisfatórios na atividade. Na pecuária de corte,
particularmente, e especificamente no uso do confinamento como estratégia
alimentar e gerencial para a fase de engorda dos animais, a alimentação é um
dos fatores que mais oneram a atividade e pode, normalmente, ultrapassar
70% do custo operacional total (Valadares Filho et al., 2002).
O volumoso, na grande maioria das situações, é o ingrediente mais
barato da ração total, devendo seu uso ser sempre maximizado. A produção de
volumosos deve ser buscada sempre se preocupando com altos índices de
produtividade, associados a qualidade nutricional superior e, evidentemente, a
custos reduzidos. Com a obtenção eficiente de volumosos, e seu uso
maximizado, o produtor será menos dependente da utilização de concentrados,
reconhecidamente mais caros (Valadares Filho et al., 2002).
Dessa forma, a casca de algodão surge como um alimento volumoso
alternativo na alimentação de ruminantes. Até o presente momento, não há
relatos na literatura brasileira a respeito da utilização desse ingrediente na dieta
de bovinos. Entretanto, devido a sua facilidade de manipulação, aceitabilidade
(Rogers et al., 2002), disponibilidade (Hsu et al., 1987) e baixo custo (Vernlund
et al., 1980), a casca de algodão tem sido largamente utilizada em dietas para
bovinos em terminação em outros países, constituindo em algumas situações,
a principal fonte de volumoso disponível para os animais (Hale et al., 1969;
Vernlund et al., 1980).
A casca de algodão é um subproduto interessante em termos
nutricionais, possuindo características que a difere da maioria dos alimentos
fibrosos. Compreende a camada externa da semente do algodão com algum
linter aderido, que é separado durante a produção do óleo. Para cada tonelada
48
de caroço de algodão processado resultam, aproximadamente, 245 kg de
casca (Hall & Akinyode, 2000). De acordo com dados da CONAB (2003),
estima-se que a safra brasileira 2002/2003 de algodão proporcione a produção
de mais de um milhão de toneladas de caroço de algodão, o que teria o
potencial de gerar cerca de 316 mil toneladas de casca.
A casca de algodão é considerada um alimento fibroso, de baixo valor
nutricional sendo seu principal componente a FDN (Rogers et al., 2002),
incluindo também uma proporção relativamente elevada de fibra em detergente
ácido (FDA) e lignina. As duas últimas frações tendem a se correlacionar
negativamente com a digestibilidade da matéria seca (MS) e da FDN (Moore et
al., 1990; Torrent et al., 1994). Contudo, segundo Hall & Akinyode (2000), a
casca possui boa palatabilidade e os animais tendem a aumentar o consumo
quando esta faz parte da dieta.
Até o presente momento, pesquisas a respeito da inclusão da casca de
algodão na dieta de bovinos ainda são escassas. Portanto, não há uma
recomendação adequada para o seu uso, tampouco dos possíveis efeitos
sobre o desempenho dos animais.
Diante disso, foi realizado o presente trabalho objetivando avaliar a
casca de algodão como substituto parcial à silagem de capim-elefante na
alimentação de novilhos de origem leiteira em confinamento. Avaliaram-se os
efeitos dessa substituição sobre os consumos e digestibilidades dos nutrientes,
as características de carcaça e rendimento dos cortes básicos e sobre a
composição física da carcaça dos animais.
Material e Métodos
O experimento foi realizado nas dependências do Laboratório de
Animais e no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia do
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-
MG, sendo a fase de campo realizada durante o período compreendido entre
os meses de julho e setembro de 2002.
49
A cidade de Viçosa está localizada na Zona da Mata do Estado de Minas
Gerais e tem como coordenadas geográficas de posição 20º45’20” de latitude
sul e 45º52’40” de longitude oeste de Greenwich e altitude de 657m. A
temperatura média e a precipitação pluviométrica observadas nos anos de
2000 e 2001 foram de, respectivamente, 20ºC e 1217,9 mm e 20,7ºC e 1148
mm (Universidade Federal de Viçosa, 2002).
Foram utilizados 18 bovinos mestiços de origem leiteira com predomínio
de sangue Holandês, com peso vivo médio inicial de 230 kg, confinados em
baias individuais, providas de comedouro e bebedouro, com área total de 30
m
2
, sendo 8 m
2
cobertos com telhas de amianto.
Inicialmente, os animais foram pesados, vermifugados e previamente
adaptados às dietas. Após esse período, dois novilhos foram abatidos servindo
de referência para estudos posteriores. Os 16 animais restantes foram pesados
e distribuídos em quatro tratamentos, com níveis crescentes de casca de
algodão nas dietas (0, 10, 20 e 30% na base da MS total), em substituição à
silagem de capim-elefante, sendo que a dieta total foi constituída de 60% de
volumoso e 40% de concentrado. As rações foram balanceadas de forma a
conter em torno de 13,0% de PB. O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições.
As proporções dos ingredientes nos concentrados estão apresentadas
na Tabela 1, a proporção dos ingredientes nas dietas experimentais na Tabela
2, a composição químico-bromatológica dos ingredientes na Tabela 3 e a
composição média das dietas na Tabela 4.
50
Tabela 1 – Proporção dos ingredientes nos concentrados, na base da matéria
natural.
Níveis de Casca de Algodão (%)
Ingredientes
(%)
0 10 20 30
Grão de sorgo moído
Farelo de soja
Uréia
Sulfato de amônia
Sal
Fosfato bicálcico
Calcário
Premix mineral
1
81,97
11,35
4,33
0,42
0,55
0,22
1,12
0,04
82,34
11,34
3,99
0,40
0,55
0,22
1,12
0,04
82,59
11,34
3,77
0,38
0,55
0,22
1,11
0,04
82,84
11,34
3,55
0,35
0,55
0,22
1,11
0,04
1
– Composição: sulfato de cobalto, 1,82%, sulfato de cobre, 22,69%,
iodato de potássio, 0,45%, selenito de sódio, 0,09%, sulfato de zinco, 74,95%.
Tabela 2 – Proporção dos ingredientes nas dietas experimentais, na base da
matéria seca, em função dos diferentes tratamentos.
Níveis de Casca de Algodão (%)
Ingredientes
(%)
0 10 20 30
Silagem de capim-elefante
Casca de algodão
Grão de sorgo moído
Farelo de soja
Uréia
Sulfato de amônia
Sal
Fosfato bicálcico
Calcário
Premix mineral,
1
60,0
-
32,49
4,50
1,95
0,19
0,25
0,10
0,50
0,02
50,0
10,0
32,65
4,50
1,80
0,18
0,25
0,10
0,50
0,02
40,0
20,0
32,76
4,50
1,70
0,17
0,25
0,10
0,50
0,02
30,0
30,0
32,87
4,50
1,60
0,16
0,25
0,10
0,50
0,02
1
– Composição: sulfato de cobalto, 1,82%, sulfato de cobre, 22,69%, iodato de
potássio, 0,45%, selenito de sódio, 0,09%, sulfato de zinco, 74,95%.
As rações foram fornecidas à vontade, às 7 h, e ajustadas diariamente de
forma a manter as sobras em torno de 5 a 10% do total fornecido, com água
permanentemente à disposição dos animais. Foram feitas anotações diárias
tanto da quantidade de ração fornecida quanto das sobras para cada animal,
51
como também amostragens da silagem, da casca de algodão, dos
concentrados e das sobras. As amostras diárias foram agrupadas em amostras
semanais que por fim constituíram as amostras compostas, para cada período
de 28 dias, sendo devidamente processadas ao final de cada período
experimental, sendo que o experimento teve a duração de 56 dias. As
amostras foram pré-secas em estufa ventilada a 65ºC e moídas em moinho
com peneira de malha de 1 mm, para posteriores análises laboratoriais.
Tabela 3 – Composição químico-bromatológica dos ingredientes utilizados nas
rações experimentais
Ingredientes
Itens
Silagem de
capim-elefante
Casca de
algodão
Grão de sorgo Farelo de soja
MS (%) 26,34 88,09 88,72 90,64
MO
1
90,93 97,29 98,29 93,13
PB
1
4,37 8,19 9,88 45,10
NNP
2
62,71 9,0 10,11 4,73
NIDN
2
8,77 6,07 3,29 0,89
NIDA
2
21,60 29,73 18,97 2,14
EE
1
1,60 5,31 4,06 2,29
CHOT
1
84,96 83,79 84,35 45,74
FDN
1
74,42 78,01 11,25 17,27
FDNcp
1
72,06 75,41 10,62 15,50
CNF
1
12,9 8,38 73,73 30,24
FDA
1
52,01 61,70 5,95 13,27
Lignina
1
10,53 11,54 1,81 2,52
FDAi
1
26,57 30,98 1,05 0,66
Ca
1
0,74 0,21 0,04 0,45
P
1
0,37 0,24 0,48 0,45
Na
1
0,10 0,04 0,04 0,04
K
1
3,59 1,35 0,60 2,23
Mg
1
0,43 0,30 0,21 0,19
1
- % na MS;
2
- % do N total
52
Tabela 4 – Teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta
(PB), nitrogênio não-protéico (NNP), nitrogênio insolúvel em
detergente neutro (NIDN), nitrogênio insolúvel em detergente ácido
(NIDA), extrato etéreo (EE), carboidratos totais (CHOT), fibra em
detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigida para
cinzas e proteína (FDNcp), carboidratos não-fibrosos (CNF),
lignina, nutrientes digestíveis totais (NDT), cálcio (Ca), fósforo (P),
sódio (Na), potássio (K) e magnésio (Mg), das dietas experimentais,
com base na matéria seca, para os diferentes tratamentos.
Níveis de Casca de Algodão (%)
Itens
0 10 20 30
MS (%) 51,72 57,88 64,04 70,20
MO 90,68 91,48 92,22 92,97
PB 13,35 13,30 13,41 13,52
NNP
1
56,34 51,88 47,87 43,92
NIDN 6,73 6,11 5,84 5,57
NIDA 19,22 20,06 20,90 21,74
EE 2,38 2,76 3,13 3,50
CHOT 81,46 81,49 81,47 81,45
FDN 49,09 49,46 49,84 50,21
FDNcp 47,39 47,74 48,08 48,43
CNF 34,07 33,75 33,39 33,02
Lignina 7,02 7,12 7,22 7,32
NDT 62,55 58,30 57,68 55,91
Ca 0,81 0,70 0,64 0,58
P 0,35 0,33 0,32 0,31
Na 0,08 0,07 0,07 0,06
K 2,46 2,20 1,99 1,78
Mg 0,37 0,33 0,32 0,32
1
- % da PB
As determinações de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
nitrogênio total, extrato etéreo (EE), lignina e minerais foram realizadas
conforme técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002). A determinação do
nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e ácido (NIDA), foi obtida
conforme descrição de Van Soest et al. (1991) e a dos níveis de compostos
nitrogenados não-protéicos (NNP), de acordo com Licitra et al. (1996). Os
teores de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA),
foram determinados conforme metodologia descrita por Pell & Schofield (1993),
53
denominada de método da autoclave, conforme descrito no primeiro capítulo
desse trabalho.
Os carboidratos totais (CHOt) foram obtidos por intermédio da equação:
CHOt = 100 - (%PB + %EE + %Cinzas), segundo Sniffen et al. (1992).
Devido à presença de uréia nas dietas, os CNF foram calculados como
proposto por Hall (2000):
CNF = 100 – [(%PB - %PB derivada da uréia + % de uréia) + %FDNcp +
%EE + %cinzas].
Os teores de nutrientes digestíveis totais (NDT) foram obtidos a partir da
seguinte equação somativa:
NDT = PBD + FDNcpD + CNFD + 2,25 x EED, sendo que PBD,
FDNcpD, CNFD e EED, significam, respectivamente, proteína bruta digestível,
fibra em detergente neutro (isenta de cinzas e proteína) digestível, carboidratos
não fibrosos digestíveis e extrato etéreo digestível.
A determinação das digestibilidades aparentes da MS, MO, PB, EE,
FDN e CNF, foi realizada por Chizzotti et al. (2003).
Os animais foram pesados ao início do experimento e, posteriormente, a
cada 28 dias para determinação do ganho médio diário de peso vivo (GMD),
sendo as pesagens sempre precedidas por jejum alimentar de 16 horas. Ao
final do experimento todos os animais foram abatidos, sendo o abate realizado
por meio de atordoamento mecânico (marreta) na região do osso frontal, com
posterior sangria. Após o abate, o aparelho gastrintestinal de cada animal foi
esvaziado e, juntamente com os órgãos, foram lavados, pesados e somados às
demais partes do corpo (carcaça, cabeça, couro, cauda, pés e sangue) para
determinação do peso de corpo vazio (PCVZ). A relação obtida entre o PCVZ e
o peso vivo (PV) dos animais referência, abatidos no início do experimento, foi
utilizada para estimativa do PCVZ inicial dos animais, podendo-se então
estimar o ganho médio diário de peso de corpo vazio (GMDPVZ).
A carcaça de cada animal foi dividida ao meio com o auxílio de uma
serra elétrica e logo após pesada para determinação do ganho de carcaça,
como também de seu rendimento em relação ao peso vivo (RCPV) e ao peso
de corpo vazio (RCPVZ). Em seguida, as carcaças foram resfriadas em câmara
fria a -5ºC, durante aproximadamente 18 horas. Decorrido esse tempo, as
54
meia-carcaças foram retiradas da câmara fria e novamente pesadas. Na
carcaça direita foi medido o comprimento e determinado o rendimento dos
cortes básicos, sendo o dianteiro separado do traseiro na posição entre a
quinta e a sexta costelas. O dianteiro compreendeu o acém e a paleta completa
e o traseiro a ponta de agulha, o coxão e a alcatra completa. Na carcaça
esquerda foi medida a área transversal do músculo Longissimus dorsi (área de
olho de lombo), à altura da 12º costela, a espessura da gordura subcutânea e
foi removida uma amostra correspondente à seção entre as 9
a
e 11
a
costelas
(seção HH), para posteriores dissecação e predição das proporções de
músculos, ossos e tecido adiposo na carcaça, segundo equações preconizadas
por Hankins & Howe (1946):
Proporção de músculo: Y = 16,08 + 0,80 X;
Proporção de tecido adiposo: Y = 3,54 + 0,80 X;
Proporção de ossos: Y = 5,52 + 0,57 X, em que:
X = porcentagem dos componentes na seção HH.
Os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análises
de variância e regressão, utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e
Genéticas – SAEG (UFV, 1998). Os modelos foram testados com base na
significância dos coeficientes de regressão, utilizando-se o teste “F”, ao nível
de 5% de probabilidade, e no coeficiente de determinação (r
2
).
Resultados e discussão
Estão apresentados na Tabela 5 os consumos médios de MS, MO, PB,
EE, FDN, CNF, NDT e as respectivas equações de regressão, coeficientes de
variação e determinação, para os animais dos diferentes tratamentos.
O desempenho animal é determinado por vários fatores, sendo o mais
importante deles o consumo de MS (Illius & Jessop, 1996), visto que este
determina o nível de ingestão de nutrientes (Van Soest, 1994). O uso de
alimentos ricos em fibra e pouco digestíveis, geralmente deprime o consumo de
55
MS em consequência da quantidade de material indigestível que ocupa espaço
dentro do ambiente ruminal, limitando sua capacidade física de distenção.
Tabela 5 – Médias, equações de regressão (REG), coeficientes de variação
(CV) e determinação (r
2
), obtidas para os consumos de matéria
seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato
etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), carboidratos não-
fibrosos (CNF) e nutrientes digestíveis totais (NDT), em função dos
níveis de casca de algodão nas rações.
Níveis de Casca de Algodão (%)
Itens
0 10 20 30
REG CV r
2
Consumos (kg/dia)
MS
7,80 7,98 8,77 8,15
Y
ˆ
=8,17
19,71
MO
7,05 7,29 8,09 8,14
Y
ˆ
=7,64
19,65
PB
1,09 1,11 1,22 1,18
Y
ˆ
=1,15
18,78
EE
0,20 0,23 0,28 0,30
Y
ˆ
=0,1934+0,0042*CA
16,52 0,98
FDN
3,64 3,77 4,21 4,22
Y
ˆ
=3,96
19,95
CNF
2,81 2,87 3,04 2,98
Y
ˆ
=2,93
19,18
NDT
5,40 5,16 5,54 5,33
Y
ˆ
=5,36
18,61
Consumos (%PV)
MS
2,73 2,81 3,03 3,38
Y
ˆ
=2,6666+0,0209*CA
8,39 0,92
FDN
1,27 1,33 1,45 1,63
Y
ˆ
=1,2425+0,0117*CA
8,47 0,94
Entretanto, pode-se verificar através dos resultados obtidos, que a
inclusão da casca de algodão em níveis crescentes na dieta, aumentou
linearmente o consumo de MS expresso em relação ao peso vivo. Vale
ressaltar que no início do período de adaptação, os animais selecionavam a
casca dos demais ingredientes da dieta. Com isso, as sobras eram constituídas
quase que na sua totalidade de casca de algodão. Isso foi observado durante
quase todo o experimento. Porém, à medida que os sacos que armazenavam a
casca eram manipulados, os pellets quebravam-se facilitando a sua mistura
aos demais ingredientes, tornando mais difícil sua seleção pelos animais.
Resultados semelhantes foram encontrados por Moore et al. (1990) ao
avaliarem a influência do tipo de volumoso (feno de alfafa, palha de trigo e
casca de algodão) para novilhos alimentados com dietas ricas em concentrado,
56
verificando que aqueles que receberam a casca de algodão aumentaram o
consumo de MS em 17%, quando comparado com o tratamento controle. Bartle
et al. (1994) e Gu & Moss (1996), ao incluírem na dieta de bovinos os mesmos
níveis de casca do presente trabalho, observaram que o consumo de MS
também aumentou linearmente. Da mesma forma, Oltjen et al. (1977),
avaliando o desempenho de novilhos alimentados com diferentes sub-produtos
(palha de aveia picada, planta inteira de milho e casca de algodão) reportaram
maior consumo de MS para os animais que receberam a casca (3,1% do PV).
O consumo de FDN, expresso como % do PV, aumentou linearmente
com os níveis de inclusão da casca nas dietas, registrando-se valor de 1,63%
do PV para o nível de 30% de casca de algodão. O mesmo ocorreu para o
consumo de EE. Esse aumento já era esperado uma vez que a casca de
algodão possui teor relativamente elevado desse nutriente.
As alterações no consumo de MS que ocorrem quando a casca de
algodão é fornecida aos animais, podem elevar o consumo de FDN em níveis
acima dos usuais (Hall e Akinyode, 2000). Mertens (1994) sugeriu que o
consumo de FDN deveria se situar próximo a 1,2% do PV por dia. Essa
recomendação foi estimada de forma a permitir uma suplementação adequada
de concentrado e prevenir a limitação do consumo pelo enchimento do rúmen.
Quando a FDN da dieta provém, em sua maioria, da forragem, o consumo
próximo ao valor sugerido por Mertens (1994) tem sido observado (Hall &
Akinyode, 2000). Entretanto, Morales et al. (1989) ao fornecerem casca de
algodão na dieta, verificaram que o consumo de FDN atingiu o valor de 1,5%
do PV dos animais.
A inclusão da casca de algodão não afetou (P>0,05) os consumos de
MO, PB, CNF e NDT, apresentando médias de 7,64; 1,15; 2,93 e 5,36 kg/dia,
respectivamente.
Na Tabela 6 são apresentadas as médias, equações de regressão e
coeficientes de variação obtidas para os coeficientes de digestibilidade
aparente total dos nutrientes, bem como os teores de nutrientes digestíveis
totais (NDT), segundo os níveis de casca de algodão nas rações. De acordo
com os resultados obtidos verifica-se que houve tendência de redução na
digestibilidade dos nutrientes à medida que a casca de algodão foi incluída na
57
dieta. Porém, as análises de variância não evidenciaram influência (P>0,05)
dos diferentes tratamentos sobre a digestibilidade e conseqüentemente, não
houve efeito sobre o NDT das dietas que apresentou média de 58,60%, na
base da MS.
Vale ressaltar que o teor de NDT da casca de algodão calculado através
de sistema de equações envolvendo os tratamentos com 10 e 20% de casca,
apresentou valor de 52,9% (Chizzotti et al., 2003), sendo superior aos valores
encontrados na literatura internacional, em média 44% (Hale et al., 1969; NRC,
1996). Contudo, deve-se levar em consideração que a composição da casca de
algodão utilizada em outros países difere da utilizada na presente pesquisa. Ao
se estimar o teor de NDT, utilizando as equações do NRC (2001), o valor
encontrado foi de 45,12%.
Tabela 6 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) obtidas para os coeficientes de digestibilidade da matéria
seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato
etéreo (EE), fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e
proteína (FDNcp) e carboidratos não-fibrosos (CNF) e teores de
nutrientes digestíveis totais (NDT), para os diferentes tratamentos.
Níveis de Casca de Algodão (%)
Itens
0 10 20 30
REG CV
MS 62,77 57,21 56,56 54,36
Y
ˆ
=57,70
13,80
MO 63,73 58,58 57,42 55,18
Y
ˆ
=58,70
18,25
PB 73,23 62,45 62,94 61,45
Y
ˆ
=65,0
11,22
EE 85,74 85,60 86,36 84,67
Y
ˆ
=85,6
3,34
FDNcp 44,93 39,00 45,04 36,20
Y
ˆ
=38,9
25,76
CNF 82,16 81,47 82,25 76,51
Y
ˆ
=80,6
6,01
NDT (%MS)
62,55
58,30
57,68
55,91
Y
ˆ
=58,60
28,01
Adaptada de Chizzotti et al. (2003)
As médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) obtidos para os pesos vivos inicial (PVI) e final (PVF), ganhos médios
diários (GMD) e de peso de corpo vazio (GMDPVZ), ganhos de carcaça
(GCAR), conversão alimentar (CA) e a relação PCVZ/PV, para os diferentes
58
tratamentos, podem ser visualizadas na Tabela 7. Verifica-se que não houve
influência (P>0,05) dos níveis de casca de algodão sobre as variáveis
estudadas. Apesar do consumo de MS ter aumentado linearmente com a
inclusão da casca na dieta, o GMD não seguiu o mesmo comportamento,
apresentando média de 1,30 kg/animal/dia.
Resultados semelhantes foram observados por Hale et al. (1969).
Entretanto, Bartle et al. (1994), pesquisando os mesmos níveis de casca do
presente trabalho, verificaram que os novilhos que receberam a casca
apresentaram maior consumo, porém tenderam a ganhar menos e tiveram uma
pior CA do que aqueles alimentados com feno de alfafa. Os autores concluíram
que a ausência de resposta no ganho de peso com o aumento do consumo, se
deve à baixa digestibilidade e ao baixo valor energético da casca de algodão.
Tabela 7 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) obtidos para os pesos vivos inicial (PVI) e final (PVF), ganhos
médios diários de peso vivo (GMD) e de peso de corpo vazio
(GMDPVZ), ganhos de carcaça (GCAR), conversão alimentar (CA)
e a relação PCVZ/PV, para os níveis de casca de algodão nas
rações.
Níveis de casca de Algodão (%)
Itens
0 10 20 30
REG CV
PVI, kg 230,0 228,75 228,38 227,63
Y
ˆ
=228,69
35,01
PVF, kg 331,0 330,50 329,0 325,38
Y
ˆ
=328,97
24,71
GMD, kg/dia 1,27 1,38 1,21 1,34
Y
ˆ
=1,30
11,44
GMDPVZ, kg/dia 0,96 1,12 1,17 1,06
Y
ˆ
=1,08
20,42
GCAR, kg/dia 0,62 0,65 0,72 0,62
Y
ˆ
=0,65
26,31
CA 6,14 5,75 7,32 6,07
Y
ˆ
=6,32
16,26
PCVZ/PV 79,36 80,23 83,74 82,73
Y
ˆ
=81,51
2,53
Os efeitos da casca sobre a eficiência e desempenho animal têm sido
variados. Murdock & Wallenius (1980) relataram maiores consumos e ganhos
de peso em bezerros holandeses alimentados com casca de algodão do que
com outras fontes de fibra na dieta. Thomas et al. (1984) observaram aumento
no ganho médio diário e na eficiência alimentar em novilhos recebendo uma
dieta composta por 60% de milho quebrado e 30% de casca de algodão,
59
adicionada de 0,7% de uréia na MS total. De acordo com Hall & Akinyode
(2000), os dados encontrados na literatura sugerem que níveis elevados de
casca na dieta (30% na MS total), têm proporcionado consumos elevados sem,
no entanto, aumentar a produtividade animal.
Na Tabela 8 estão apresentadas as médias, equações de regressão e
coeficientes de variação obtidas para as características de carcaça e
rendimento dos cortes básicos. As análises de variância não evidenciaram
influência (P>0,05) dos níveis de casca de algodão sobre as variáveis
estudadas. Os rendimentos de carcaça quente e fria expressos em relação ao
PV apresentaram valores médios de 48,93 e 47,69%, respectivamente. Para
bovinos da raça holandesa esses valores estão de acordo com os dados da
literatura (Souza et al., 2002, Moraes, 2003).
Tabela 8 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) obtidos para os rendimentos de carcaça quente em relação ao
peso vivo (RCPV) e ao peso de corpo vazio (RCPCVZ), rendimento
de carcaça fria (RCFPV), comprimento de carcaça (CCAR), área
de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS)
e rendimentos do acém completo (ACEM), paleta (PAL), dianteiro
(DIANT), alcatra completa (ALC), coxão (COX), traseiro especial
(TRAS) e ponta de agulha (PA), em função dos níveis de casca de
algodão nas rações.
Níveis de Casca de Algodão (%)
Itens
0 10 20 30
REG CV
Características de Carcaça
RCQPV, % 48,30 47,86 50,74 48,82
Y
ˆ
=48,93
4,55
RCQPCVZ, % 60,85 59,62 60,59 59,07
Y
ˆ
=60,03
2,90
RCFPV, % 47,16 46,72 49,48 47,38
Y
ˆ
=47,69
5,0
CCAR, cm 113,0 112,0 109,0 110,0
Y
ˆ
=111,0
7,15
AOL, cm
2
64,33 53,35 59,10 52,12
Y
ˆ
=57,22
21,84
EGS, mm 0,65 1,15 1,30 1,23
Y
ˆ
=1,08
36,91
Rendimento dos Cortes Básicos (%)
ACEM 21,41 20,88 21,66 20,99
Y
ˆ
=21,33
6,47
PAL 17,40 17,41 17,26 18,08
Y
ˆ
=17,54
5,93
DIANT 38,81 38,30 38,92 39,07
Y
ˆ
=38,77
2,04
ALC 19,04 18,71 18,82 18,65
Y
ˆ
=18,80
6,17
COX 29,54 30,10 29,11 29,90
Y
ˆ
=29,66
4,81
TRAS 48,58 48,81 47,93 48,55
Y
ˆ
=48,47
1,90
PA 12,61 12,90 13,16 12,38
Y
ˆ
=12,76
5,48
60
A espessura de gordura subcutânea (EGS) média dos animais do
presente trabalho foi de 1,08 mm. Bartle et al. (1994), ao utilizarem a casca de
algodão e a alfafa como fontes de volumosos para novilhos, verificaram que
aqueles alimentados com alfafa apresentaram carcaças mais pesadas e com
maior espessura de gordura do que os que receberam a casca.
A gordura é uma fração importante, pois serve como proteção (gordura
subcutânea) contra a desidratação no resfriamento das carcaças (Moletta e
Restle, 1996). Por muitos anos a espessura de gordura tem sido utilizada como
medida de acabamento externo e medida indireta de musculosidade da
carcaça, em função da correlação negativa existente entre ambas. Uma
cobertura de gordura subcutânea satisfatória para uma boa preservação deve
ter no mínimo 2 - 3 mm (Luchiari Filho, 2000). Segundo Marquat (1964), ocorre
aumento na percentagem de gordura na carcaça de novilhos de raças de leite,
após os mesmos atingirem, em média, 454 kg de PV. Luchiari Filho (2000)
salientou que algumas raças de bovinos de leite apresentam nível satisfatório
de gordura intermuscular, enquanto apresentam baixa quantidade de gordura
subcutânea.
Não foi verificado efeito dos níveis de casca de algodão da dieta
(P>0,05) sobre os cortes comerciais. O grau de rendimento dos cortes cárneos
desossados e aparados do excesso de gordura, é uma estimativa da
quantidade de carne comercializável ou da porção comestível de uma carcaça
É desejável que uma carcaça apresente 45 a 50% de traseiro especial, 38 a
43% de dianteiro com cinco costelas e 12 a 16% de ponta de agulha (Luchiari
Filho, 2000). Os resultados do presente trabalho estão de acordo com esses
valores. Verifica-se escassez de dados na literatura com relação ao estudo do
rendimento dos cortes comerciais, em bovinos mestiços leiteiros,
particularmente quando se utiliza casca de algodão na dieta.
Os resultados referentes à composição física da carcaça dos novilhos
estão apresentados na Tabela 9. Não foi verificada influência (P>0,05) dos
tratamentos sobre as porcentagens dos tecidos muscular, adiposo e ósseo na
carcaça, apresentando médias de 61,44; 20,62 e 18,03%, respectivamente.
61
Tabela 9 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) obtidas para as porcentagens dos tecidos muscular, adiposo e
ósseo na carcaça, em função dos níveis de casca de algodão nas
rações.
Níveis de Casca de Algodão (%)
Itens
0 10 20 30
REG CV
Peso de carcaça fria, kg
Músculo, %
Gordura, %
Osso, %
157,58
62,04
19,88
18,13
156,18
61,21
20,07
18,59
163,66
61,41
21,75
17,25
158,30
61,11
20,78
18,15
Y
ˆ
=158,93
Y
ˆ
=61,44
Y
ˆ
=20,62
Y
ˆ
=18,03
29,36
6,01
15,75
10,91
A importância da determinação da composição física da carcaça se deve
ao fato de que o primeiro passo para a estimativa dos requerimentos
nutricionais dos animais, requer a determinação de sua composição corporal.
Além disso, a proporção dos tecidos que compõem a carcaça está diretamente
relacionada com a sua qualidade, sendo interessante sua obtenção (Paulino,
2002). O crescimento e o desenvolvimento de cada tecido animal apresenta
uma curva sigmóide, obedecendo a uma ordem preferencial de formação. O
tecido ósseo é o que apresenta crescimento mais precoce, seguido pelo
muscular e o adiposo, com o crescimento mais tardio (Luchiari Filho, 2000).
Não foram encontrados na literatura dados relacionados à composição física da
carcaça de novilhos alimentados com a casca de algodão.
Conclusão
O nível máximo de casca de algodão utilizado no experimento de 30%
na MS total, resultou em desempenho adequado de novilhos de origem leiteira
em confinamento.
62
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66
Produção de Proteína Microbiana, Concentração Plasmática de Uréia e
Excreções de Uréia em Novilhos Alimentados com Diferentes Níveis de
Uréia ou Casca de Algodão
Resumo – Com o objetivo de estimar a produção de proteína microbiana
através dos derivados de purinas na urina e determinar a concentração de
uréia plasmática (NUP) e excreções de uréia em novilhos, foram realizados
dois experimentos. No primeiro, 24 novilhos mestiços, com peso vivo médio
inicial de 300 kg, castrados, foram alocados em delineamento inteiramente
casualizado, a quatro tratamentos: 0; 0,65; 1,30 e 1,95% de uréia na base da
MS total, em substituição à proteína do farelo de soja, contendo
aproximadamente 22, 37, 50 e 63% da PB na forma de compostos
nitrogenados não-protéicos. Como volumoso foi utilizada uma mistura de 65%
de silagem de milho e silagem de capim-elefante, na proporção 70:30,
respectivamente. No segundo, 16 novilhos mestiços, com peso vivo médio
inicial de 230 kg, foram distribuídos em delineamento inteiramente casualizado,
a quatro tratamentos: 0, 10, 20 e 30% de casca de algodão na base da MS
total, em substituição à silagem de capim-elefante, sendo a relação
volumoso:concentrado de 60:40. As amostras de urina foram obtidas por meio
da coleta de urina spot, 4 horas após a alimentação, quando os animais
urinaram espontaneamente. Na urina foram determinados os derivados de
purinas (alantoína e ácido úrico). No soro, como também na urina, foram
67
analisadas as concentrações de uréia e creatinina. Não houve efeito (P>0,05)
dos níveis de uréia, tampouco dos de casca de algodão, sobre os derivados de
purinas e sobre a eficiência de síntese microbiana. A concentração de NUP e a
excreção de uréia não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de uréia das
rações. A concentração de NUP decresceu linearmente (P<0,05) com a
inclusão da casca de algodão na dieta. Tanto a uréia quanto a casca de
algodão podem ser utilizadas até o nível de 1,95% e 30% na MS total da dieta
de novilhos de origem leiteira, respectivamente, sem afetar a eficiência de
síntese microbiana.
Palavras-chave: eficiência microbiana, alantoína, ácido úrico, uréia, creatinina,
novilhos.
68
Microbial Protein Production, Plasma Urea Concentration and Urea
Excretions in Dairy Steers Fed with Different Urea or Cottonseed Hulls
Levels
Abstract – In order to estimate the microbial protein production using the purine
derivatives (PD) urinary excretion and determine the plasma urea concentration
and urea excretions in steers, two trials were conducted. In the first one 24
crossbred steers, with 300 kg of initial live weight (LW) were uniformly allotted
to a complete randomized design, in four treatments: 0; 0,65; 1,30 and 1,95% of
urea in the total dry matter basis, replacing soybean meal protein, resulting in
22, 37, 50 and 63% of crude protein as non-protein nitrogen compounds. The
roughage constituted 65% of the total diet and it was composed by corn silage
and elephant grass silage in the ratio of 70:30. In the second one 16 crossbred
steers, with 230 kg of initial live weight (LW) were uniformly allotted to a
complete randomized design, in four treatments: 0, 10, 20 and 30% of
cottonseed hulls in the total dry matter basis, replacing elephant grass silage.
The roughage:concentrate ratio was 60:40. The urine samples were obtained
through spot urine collection, approximately 4 hours after feeding. The purine
derivatives (allantoin and uric acid) were determined in spot urine samples and
the creatinine and urea concentrations were also analyzed in plasma. The
purine derivatives and the microbial protein production were not influenced
(P>0,05) by urea and cottonseed hulls levels. There was no significant
69
difference (P>0,05) in plasma urea concentration and urea excretions with urea
levels. The plasma urea concentration decreased linearly (P<0,05) with the
inclusion of cottonseed hulls in the diet. Urea as well as cottonseed hulls can be
used until the level of 1,95% and 30% in the total dry matter basis in diets for
dairy steers, respectively, without affecting the efficiency of microbial synthesis.
Key-words: microbial efficiency, allantoin, uric acid, urea, creatinine, steers.
70
Introdução
A otimização da fermentação ruminal e a maximização da eficiência de
síntese de proteína microbiana tem sido foco de vários estudos, uma vez que
50 a 100% da proteína metabolizável exigida pelo bovino de corte pode ser
atendida pela proteína de origem microbiana (NRC, 1996). Por apresentar um
perfil de aminoácidos essenciais de alta qualidade e relativamente constante, a
proteína microbiana supre a maioria dos aminoácidos no intestino delgado
(NRC, 2001).
As disponibilidades ruminais de nitrogênio (N) e energia são os
principais fatores que limitam o crescimento microbiano (Clark et al., 1992). A
maioria dos microrganismos presentes no rúmen utiliza amônia como fonte de
N para seu crescimento. A uréia é rapidamente hidrolisada pelas bactérias
aderidas ao epitélio ruminal e a amônia resultante é incorporada ao N
bacteriano, sendo a disponibilidade de energia o principal fator que determina a
taxa de assimilação desse N (Huntington & Archibeque, 1999).
Os métodos utilizados para medir a quantidade de compostos
nitrogenados microbianos baseiam-se em indicadores microbianos, como
bases purinas (RNA), ácido 2,6 diaminopimélico (DAPA),
35
S e
15
N, sendo
considerados métodos invasivos pois requerem animais preparados
cirurgicamente. A utilização da excreção urinária dos derivados de purina como
marcador metabólico da síntese microbiana foi proposta por Topps & Elliott, em
1965, sendo que os maiores avanços dessa técnica foram realizados
recentemente (Valadares et al., 1999).
De acordo com Perez et al. (1996), a excreção de derivados de purinas
na urina constitui-se em um método simples e não-invasivo para estimar a
produção de proteína microbiana no rúmen. Essa técnica assume que os
ácidos nucléicos presentes no duodeno são de origem predominantemente
microbiana e após digestão intestinal dos nucleotídeos purínicos, a adenina e
guanina absorvidas são catabolizadas e recuperadas proporcionalmente na
urina como derivados de purinas, principalmente na forma de alantoína, mas
também como ácido úrico, hipoxantina e xantina. Segundo Chen & Gomes
71
(1992), alantoína e ácido úrico são os únicos derivados de purina presentes na
urina de bovinos porque a alta atividade da enzima xantina oxidase, no sangue
e nos tecidos, converte xantina e hipoxantina em ácido úrico antes da
excreção.
Vários estudos confirmaram a relação existente entre produção de
proteína microbiana e excreção de derivados de purinas na urina (Verbic et al.,
1990; Valadares et al., 1999; Rennó et al., 2000a; Orellana Boero et al., 2001,
Leão, 2002; Rennó, 2003).
Rennó et al. (2000a) estudaram a produção de proteína microbiana,
comparando o método das bases purinas com a excreção dos derivados de
purinas na urina, em novilhos de corte e concluíram que o método da excreção
urinária dos derivados de purinas pode ser utilizado para estimar a produção de
proteína microbiana e que a excreção de xantina e hipoxantina, por ser irrisória
em bovinos, não necessita ser determinada.
O método baseado na excreção de derivados de purinas urinários
requer coleta total de urina, o que não é viável como rotina experimental.
Entretanto, segundo Valadares et al. (1997), pode ser possível simplificar a
coleta de urina utilizando-se a excreção de creatinina na urina como um
indicador da produção urinária, uma vez que essa excreção é relativamente
constante em função do peso vivo e pelo fato de ser pouco ou não afetada
pelos tratamentos (Susmel et al., 1994; Chen et al., 1995; Vagnoni et al., 1997;
Rennó et al., 2000b; Oliveira et al., 2001; Silva et al., 2001; Pimpa et al., 2001;
Rennó, 2003). Dessa forma, se coletada uma única amostra diária de urina,
denominada de amostra spot, e determinada a concentração de creatinina, o
volume urinário pode ser estimado (Valadares et al., 1999).
Com o objetivo de estimar a produção de proteína microbiana de 16
novilhos de diferentes grupos genéticos alimentados com diferentes níveis de
uréia na ração (0; 0,65; 1,30 e 1,95% na MS), utilizando-se a excreção urinária
dos derivados de purinas, Rennó et al. (2002) conduziram um experimento e
concluíram que os níveis de uréia da ração não afetaram a estimativa da
produção de N microbiano a partir da excreção dos derivados de purinas na
urina e que a coleta de urina spot consiste em metodologia rápida e eficaz para
determinação dessa estimativa.
72
Apesar dos microrganismos poderem utilizar amônia para seu
crescimento, em muitos casos a velocidade de produção excede a de
utilização, aumentando a excreção de compostos nitrogenados e o custo
energético da síntese de uréia pelo fígado (Russell et al., 1992). Uma vez
liberada para o sangue, a uréia é excretada na urina ou reciclada para o rúmen
através da saliva ou por difusão através da parede ruminal (Huntington &
Archibeque, 1999).
Russell et al. (1992), mostraram que a produção excessiva de amônia e
sua conseqüente absorção ruminal aumentam a excreção urinária de
compostos nitrogenados. Nocek & Russell (1988) e Van Soest (1994)
afirmaram que, se a taxa de degradação de proteína exceder a de fermentação
de carboidratos, grande quantidade de compostos nitrogenados pode ser
perdida, como uréia, na urina. Se a taxa de fermentação de carboidratos for
maior que a degradação da proteína, haverá redução na produção de proteína
microbiana.
A quantidade de uréia que é sintetizada no fígado é proporcional à
concentração de amônia produzida no rúmen, e sua concentração sangüínea
está diretamente relacionada com o aporte protéico e a relação
energia:proteína dietéticos (Harmeyer & Martens, 1980).
Existe uma correlação positiva entre ingestão de N e concentração de
uréia no plasma (Preston et al., 1965). Segundo Broderick (1995), citado por
Valadares et al. (1997), a concentração elevada de uréia plasmática está
relacionada com a utilização ineficiente da proteína bruta da dieta. Entretanto,
não foi relatada ainda uma concentração plasmática de uréia a partir da qual se
pudesse afirmar que estaria havendo perda de proteína, utilização ineficiente
de N ou condição nutricional inadequada.
Diante do exposto, objetivou-se estimar a produção de proteína
microbiana através dos derivados de purinas na urina e determinar a
concentração de uréia plasmática e excreções de uréia em novilhos
alimentados com diferentes níveis de uréia ou casca de algodão.
73
Material e Métodos
Foram realizados dois experimentos nas dependências do Laboratório
de Animais e no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia
do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa-
MG, sendo a fase de campo do primeiro realizada durante o período
compreendido entre os meses de setembro e dezembro de 2001 e a do
segundo, entre os meses de julho e setembro de 2002.
A cidade de Viçosa está localizada na Zona da Mata do Estado de Minas
Gerais e tem como coordenadas geográficas de posição 20º45’20” de latitude
sul e 45º52’40” de longitude oeste de Greenwich e altitude de 657m. A
temperatura média e a precipitação pluviométrica observadas nos anos de
2000 e 2001 foram de, respectivamente, 20ºC e 1217,9 mm e 20,7ºC e 1148
mm (Universidade Federal de Viçosa, 2002).
No primeiro experimento foram utilizados 24 bovinos mestiços de origem
leiteira com predomínio de sangue Holandês, com peso vivo médio inicial de
300 kg, confinados em baias individuais, providas de comedouro e bebedouro,
com área total de 30 m
2
, sendo 8 m
2
cobertos com telhas de amianto.
Os animais foram pesados e distribuídos em tratamentos, com níveis
crescentes de uréia nas dietas (0; 0,65; 1,30 e 1,95% na base da MS total), em
substituição à proteína do farelo de soja, sendo aproximadamente 22, 37, 50 e
63% da PB na forma de compostos nitrogenados não protéicos (NNP),
utilizando-se delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos e seis repetições, e o experimento realizado em três períodos de
28 dias cada.
O volumoso utilizado foi composto de silagem de milho e silagem de
capim-elefante, na proporção 70:30, respectivamente, sendo que a dieta total
foi constituída de 65% de volumoso e 35% de concentrado, na base da matéria
seca. As rações foram balanceadas de forma a conter em torno de 12,0% de
PB e a composição das rações foi descrita no primeiro capítulo.
No segundo experimento foram utilizados 16 bovinos mestiços de
origem leiteira com predomínio de sangue Holandês, com peso vivo médio
74
inicial de 230 kg, também confinados em baias individuais. Os animais foram
pesados e distribuídos em quatro tratamentos, com níveis crescentes de casca
de algodão nas dietas (0, 10, 20 e 30% na base da MS total), em substituição à
silagem de capim-elefante, sendo que a dieta total foi constituída de 60% de
volumoso e 40% de concentrado. As rações foram balanceadas de forma a
conter em torno de 13,0% de PB e a composição das rações foi descrita no
segundo capítulo. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente
casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições.
No segundo período de cada experimento, foram realizadas as coletas de
urina spot e de sangue dos animais. As amostras de urina spot foram coletadas
4 horas após a alimentação, sob micção espontânea dos animais. Para a
coleta, utilizou-se funis coletores fixados por alças elásticas ao dorso dos
animais, sendo retirados assim que os animais urinaram. A urina era conduzida
por meio de mangueira de borracha acoplada ao funil até um recipiente
plástico, onde era vertida. Em seguida a urina foi homogeneizada, filtrada e
uma alíquota de 10 mL foi transferida para outro frasco que continha 40 mL de
ácido sulfúrico (H
2
SO
4
) a 0,036 N, para evitar destruição bacteriana dos
derivados de purinas e precipitação do ácido úrico. Devidamente identificadas,
as amostras foram acondicionadas a -15ºC para posteriores análises
laboratoriais.
Simultaneamente à coleta de urina, foi realizada a de sangue. Esta foi
feita por punção na veia jugular e o sangue coletado em um tubo de ensaio que
continha gel acelerador de coagulação. Em seguida, procedeu-se à
centrifugação das amostras a 2000 rpm durante 15 minutos, sendo o soro
armazenado a -15ºC.
Na urina foram realizadas as análises de derivados de purinas (alantoína
e ácido úrico), através do método colorimétrico, conforme técnica de Fujihara et
al. (1987), descrita por Chen & Gomes (1992). Vale ressaltar que para o
primeiro experimento foram consideradas as amostras de apenas cinco
animais pertencentes ao segundo e quarto tratamentos. As purinas
microbianas absorvidas (X, mmol/dia) foram calculadas a partir da excreção de
derivados de purinas na urina (
, mmol/dia), por intermédio da equação:
Y
ˆ
Y
ˆ
= 0,85X + 0,385 PV
0,75
75
onde 0,85 é a recuperação de purinas absorvidas
como derivados urinários de purinas e 0,385 PV
0,75
a contribuição endógena para a
excreção de purinas (Verbic et al., 1990).
O fluxo intestinal de compostos nitrogenados (N) microbianos ( , g N/dia) foi
calculado em função das purinas microbianas absorvidas (X, mmol/dia), utilizando-
se a equação:
Y
ˆ
Y
ˆ
= (70X) / (0,83 x 0,116 x 1000),
onde 70 representa o conteúdo de N nas purinas (mg N/mmol), 0,83 a
digestibilidade das purinas microbianas e 0,116 a relação N-purina:N-total nas
bactérias (Chen & Gomes, 1992).
Ao final dos experimentos a urina e o soro foram descongelados à
temperatura ambiente e analisados para determinação de creatinina e uréia,
segundo o método diacetil modificado e com uso de picrato e acidificante,
respectivamente, ambos kits comerciais (Labtest).
A partir da excreção média diária de creatinina, obtida por Rennó (2003)
de 27,76 mg/Kg PV/dia, e da concentração de creatinina (mg/L) na amostra de
urina spot, foi estimado o volume diário de urina, através da equação:
Volume de urina (L) = PV (kg) x excreção de creatinina (mg/kg PV)
concentração de creatinina (mg/L)
Esse volume foi utilizado para calcular as excreções estimadas diárias de uréia
de cada animal.
A concentração de N-uréia plasmática foi obtida pelo teor de uréia no
plasma multiplicado por 0,466, correspondente ao teor de N na uréia. As
excreções diárias de uréia foram obtidas por meio do produto entre as
concentrações de uréia e o volume urinário estimado.
Os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análises
de variância e regressão, utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e
Genéticas – SAEG (UFV, 1998). Os modelos foram testados com base na
significância dos coeficientes de regressão, utilizando-se o teste “F”, ao nível
de 5% de probabilidade, e no coeficiente de determinação (r
2
).
76
Resultados e discussão
Estão apresentadas na Tabela 1 as médias, equações de regressão e
coeficientes de variação obtidas para as excreções urinárias de alantoína,
ácido úrico e purinas totais, purinas microbianas absorvidas, compostos
nitrogenados microbianos, consumos de NDT e PB, eficiência microbiana e a
relação entre PB microbiana e consumo de PB, em função dos níveis de uréia
nas rações.
Verifica-se que não houve efeito dos tratamentos (P>0,05) sobre
quaisquer variáveis estudadas. Os derivados de purinas na urina, alantoína e
ácido úrico, apresentaram médias de 167,78 e 8,64 mmol/dia, respectivamente.
Esses valores são superiores aos reportados por Rennó (2003) ao avaliar
níveis crescentes de uréia (0; 0,65; 1,30 e 1,95% na base da MS), na dieta de
novilhos de quatro grupos genéticos, onde a média para alantoína foi de 112,92
mmol/dia e o ácido úrico apresentou comportamento linear decrescente em
função dos tratamentos. As médias para as purinas microbianas absorvidas e o
fluxo de N microbiano foram 170,05 mmol/dia e 123,63 g/dia, respectivamente.
Da mesma forma, superiores aos encontrados por Rennó (2003) para os
mesmos parâmetros (112,03 mmol/dia e 65,19 g/dia).
Com relação à eficiência de síntese microbiana, o valor médio
encontrado foi de 133,55 g PBmic/kg NDT, muito próximo daquele citado pelo
NRC (2001), de 130 g PBmic/kg NDT. A síntese de proteína microbiana
depende largamente da disponibilidade de carboidratos e N no rúmen (Clark et
al., 1992; NRC, 2001), sendo que o crescimento microbiano é maximizado pela
sincronização entre a disponibilidade da energia fermentável e o N degradável
no rúmen (Russell et al., 1992; NRC, 1996; Dewhurst et al., 2000). Diante
disso, pode-se inferir através dos resultados obtidos, que não houve limitação
para o crescimento dos microrganismos no presente trabalho.
Milton et al. (1997), avaliando diferentes níveis de uréia (0; 0,5; 1,0 e
1,5% na base da MS) na dieta de novilhos, não verificaram efeito dos
tratamentos sobre o fluxo de N microbiano, tampouco sobre a eficiência
microbiana. Também Moraes (2003), trabalhando com novilhos mestiços
77
recebendo níveis crescentes de uréia nos suplementos (0; 1,2; 2,4 e 3,6% na
base da matéria natural), obteve valor médio de 10,4 g PBmic/ 100 g NDT.
Entretanto, Rennó (2003) ao avaliar níveis de uréia semelhantes aos do
presente trabalho, evidenciou comportamento linear decrescente para o fluxo
de N microbiano, como também para a eficiência de síntese microbiana em
função dos tratamentos.
TABELA 1 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) para as excreções urinárias de alantoína (ALA), ácido úrico
(AcU) e purinas totais (PUR), purinas microbianas absorvidas
(PABS), proteína bruta microbiana (PB mic), consumos de
nutrientes digestíveis totais (CNDT) e proteína bruta (CPB),
eficiência microbiana (g PB mic/kg NDT) e a relação entre PB mic
e consumo de PB, em função dos níveis de uréia nas rações.
Níveis de Uréia (%)
Itens
0 0,65 1,30 1,95
REG CV
ALA (
mmol/dia)
154,73
170,31
172,69
173,37
Y
ˆ
=167,78
13,75
AcU (
mmol/dia)
9,35 10,94 6,97 7,31
Y
ˆ
= 8,64
33,15
PUR (
mmol/dia)
164,08 181,25 179,66 180,68
Y
ˆ
=176,42
12,77
PABS (
mmol/dia)
155,12 176,43 174,17 174,46
Y
ˆ
=170,05
14,47
PB mic (
g/dia)
704,87 801,72 791,44 792,75
Y
ˆ
= 772,69
14,47
CNDT
(kg/dia)
5,10 5,90 6,11 6,30
Y
ˆ
= 5,85
12,52
CPB
(kg/dia)
1,05 1,16 1,15 1,19
Y
ˆ
=1,14
11,10
g PB mic/kg NDT 139,05 137,34 131,17 126,64
Y
ˆ
=133,55
15,75
PB mic/CPB
67,63 69,56 69,66 67,00
Y
ˆ
= 68,46
14,54
Na Tabela 2 são apresentadas as médias, equações de regressão e
coeficientes de variação para N-uréia plasmática e excreções diárias de uréia,
em função dos níveis de uréia nas rações. A concentração de N-uréia no
78
plasma não foi afetada pelos diferentes tratamentos (P<0,05), apresentando
valor médio de 14,92 mg/dL. A excreção de uréia seguiu o mesmo
comportamento de NUP, confirmando a afirmação de Harmeyer & Martens
(1980) de que a quantidade de uréia excretada na urina é influenciada
principalmente pela sua concentração no plasma.
TABELA 2 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) para N-uréia plasmática (NUP) e excreções diárias de uréia
(EU), em função dos níveis de uréia nas rações.
Níveis de Uréia (%)
Itens
0 0,65 1,30 1,95
REG CV
NUP
(mg/dL)
12,81 18,53 14,21 14,11
Y
ˆ
=14,92
16,83
EU
(mg/kg PV)
407,12
581,16
423,99
423,49
Y
ˆ
=458,94
19,87
EU
(g/dia)
149,52
210,86
152,55
144,94
Y
ˆ
=164,46
28,90
Discordando dos resultados obtidos no presente estudo, Oliveira et al.
(2001), ao submeterem vacas leiteiras a dietas com níveis crescentes de uréia
(0; 0,7; 1,4 e 2,1% na base da MS), reportaram aumento linear nos valores de
NUP e na excreção de uréia em função dos tratamentos, atribuindo esses
resultados à redução na eficiência de utilização de amônia no rúmen. Da
mesma forma, Cecava & Hancock (1994) verificaram que a excreção de N
urinário e as concentrações de NUP foram maiores em novilhos alimentados
com dietas contendo uréia (1,35% na MS) do que naqueles que receberam
combinações de farelo de soja e farinha de penas na dieta.
Também Rennó (2003) observou aumento linear na concentração de
NUP e excreção média de uréia de 350,50 mg/kgPV, em função dos níveis de
uréia (0; 0,65; 1,30 e 1,95% na MS) na dieta de novilhos. Já Moraes (2003) não
verificou efeito de níveis crescentes de uréia em suplementos para novilhos em
pastejo, sobre as concentrações de NUP, que apresentou média de 20,25
mg/dL. Entretanto, a excreção de N-uréico aumentou linearmente, fato
79
atribuído à produção excessiva de amônia e sua conseqüente absorção
ruminal, aumentando a excreção urinária de compostos nitrogenados.
Segundo Broderick (1995), citado por Valadares et al. (1997), a
concentração elevada de uréia plasmática está relacionada com a utilização
ineficiente da proteína bruta da dieta. De acordo com Huntington & Archibeque
(1999), quando o aumento no suprimento de N não é acompanhado por um
suprimento adicional de energia, a proporção de N-uréico na urina aumenta.
As médias, equações de regressão e coeficientes de variação obtidas
para as excreções urinárias de alantoína, ácido úrico e purinas totais, purinas
microbianas absorvidas, compostos nitrogenados microbianos, consumos de
NDT e PB, eficiência microbiana e a relação entre PB microbiana e consumo
de PB, em função dos níveis de casca de algodão nas rações, estão
apresentadas na Tabela 3. Não houve influência dos tratamentos (P>0,05)
sobre os parâmetros supracitados.
A eficiência de síntese microbiana apresentou valor médio de 128,72 g
PBmic/kg NDT, sendo próximo ao valor proposto pelo NRC (2001), ou seja,
não houve limitação para o crescimento microbiano em animais alimentados
com diferentes níveis de casca de algodão na dieta. Entretanto, esperava-se
um aumento na produção de proteína microbiana, uma vez que o consumo de
MS aumentou linearmente (Tabela 5, capítulo 2) com a inclusão da casca de
algodão nas rações.
De acordo com Clark et al. (1992), com a elevação no consumo de MS,
a taxa de passagem ruminal aumentaria, com conseqüente aumento na
passagem dos microrganismos para o intestino delgado, reduzindo a
reciclagem de energia e N no rúmen. Dessa forma, haveria queda nos
requerimentos de mantença das bactérias, sendo que mais nutrientes ficariam
disponíveis para o crescimento microbiano.
80
TABELA 3 – Médias, equações de regressão (REG) e coeficientes de variação
(CV) para as excreções urinárias de alantoína (ALA), ácido úrico
(AcU) e purinas totais (PUR), purinas microbianas absorvidas
(PABS), proteína bruta microbiana (PB mic), consumos de
nutrientes digestíveis totais (CNDT) e proteína bruta (CPB),
eficiência microbiana (g PB mic/kg NDT) e a relação entre PB mic
e consumo de PB, em função dos níveis de casca de algodão nas
rações.
Níveis de casca de algodão (%)
Itens
0 10 20 30
REG CV
ALA
(mmol/dia)
137,16
151,81
156,92
135,06
Y
ˆ
=145,24
37,82
AcU
(mmol/dia)
12,72 12,56 13,73 13,09
Y
ˆ
=13,02
42,25
PUR
(mmol/dia)
149,88 164,37 170,64 148,15
Y
ˆ
=158,26
37,93
PABS
(mmol/dia)
143,07 160,20 167,36 141,63
Y
ˆ
=153,06
43,21
PB mic
(g/dia)
650,11 727,93 760,48 643,55
Y
ˆ
= 695,52
43,21
NDT
(kg/dia)
5,40 5,16 5,54 5,33
Y
ˆ
= 5,36
18,61
PB
(kg/dia)
1,09 1,11 1,22 1,18
Y
ˆ
=1,15
18,78
g PBmic/kg NDT 119,62 145,86 130,78 118,62
Y
ˆ
=128,72
33,39
PB mic/CPB
59,41 67,78 59,29 53,78
Y
ˆ
= 60,07
33,19
Na Tabela 4 são apresentadas as médias, equações de regressão,
coeficientes de variação e de determinação para N-uréia plasmática e
excreções diárias de uréia, em função dos níveis de casca de algodão nas
rações. Houve redução linear (P<0,05) na concentração de N-uréia no plasma
com os níveis de inclusão da casca. Tal fato pode ser conseqüência da
redução nos níveis de NNP com o incremento de casca de algodão nas dietas
(capítulo 2, tabela 4). Embora as análises de variância não tenham evidenciado
efeito dos tratamentos (P>0,05) sobre a excreção de uréia, nota-se que houve
tendência de redução nos valores apresentados, seguindo o comportamento
observado para a concentração de NUP.
81
TABELA 4 – Médias, equações de regressão (REG), coeficientes de variação
(CV) e determinação (r
2
) para N-uréia plasmática (NUP) e
excreções diárias de uréia (EU), em função dos níveis de casca
de algodão nas rações.
Níveis de Casca de Algodão (%)
Itens
0 10 20 30
REG CV r
2
NUP
(mg/dL)
23,43 21,74 19,27 17,71
Y
ˆ
=23,4795-0,1961*CA
10,76 0,99
EU
(mg/kg PV)
594,47 572,92 380,81 377,92
Y
ˆ
=481,53
31,28
EU
(g/dia)
180,10 175,55 126,60 117,28
Y
ˆ
=149,88
44,90
Além disso, o aumento do consumo de matéria seca em relação ao peso
vivo pode ter contribuído para uma maior disponibilidade de energia ruminal, o
que resultaria em uma redução na concentração de NUP. Entretanto, há
necessidade de desenvolvimento de maiores pesquisas para elucidar de forma
mais conclusiva a cinética de degradação da casca de algodão, uma vez que a
literatura mostra-se extremamente carente de tais informações.
Conclusões
Tanto a uréia quanto a casca de algodão podem ser utilizadas até o
nível de 1,95% e 30% na MS total da dieta de novilhos de origem leiteira,
respectivamente, sem afetar a eficiência de síntese microbiana.
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84
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usuário).
85
RESUMO E CONCLUSÕES
O presente trabalho foi desenvolvido à partir de dois experimentos
distintos, sendo ambos realizados no Laboratório de Animais e no Laboratório
de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de
Viçosa, durante o período compreendido entre os meses de setembro e
dezembro de 2001 e julho e setembro de 2002, respectivamente.
No primeiro experimento avaliou-se o efeito dos níveis de uréia na dieta
de novilhos de origem leiteira em confinamento sobre os consumos e
digestibilidades aparentes totais da matéria seca (MS), matéria orgânica (MO),
proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN) e
carboidratos não-fibrosos (CNF) e consumo de proteína degradável no rúmen
(PDR) e nutrientes digestíveis totais (NDT), além da avaliação das
características de carcaça e rendimento dos cortes básicos. Além disso,
avaliou-se o efeito da correção da fibra em detergente neutro (FDN) para
cinzas e proteína sobre a digestibilidade total da FDN e dos carboidratos não-
fibrosos.
Foram utilizados 27 novilhos mestiços, com peso vivo médio inicial de
300 kg, castrados, sendo que três animais foram abatidos ao início do
experimento, para servirem de referência para estudos posteriores e os 24
restantes foram alocados em delineamento inteiramente casualizado, a quatro
tratamentos: 0; 0,65; 1,30 e 1,95% de uréia na base da MS total, em
substituição à proteína do farelo de soja, contendo aproximadamente 22, 37, 50
86
e 63% da PB na forma de compostos nitrogenados não-protéicos. Como
volumoso foi utilizada uma mistura de 65% de silagem de milho e silagem de
capim-elefante, na proporção 70:30, respectivamente. As dietas foram
isoprotéicas (12,0% de PB) e fornecidas ad libitum, de forma a manter as
sobras em torno de 5 a 10% do total fornecido. No segundo período
experimental foi realizada a coleta de fezes dos animais para determinação das
digestibilidades aparentes dos nutrientes, utilizando-se a fibra em detergente
ácido indigestível (FDAi) para se estimativa da produção de matéria seca fecal.
Os animais foram pesados ao início do experimento e, posteriormente a
cada 28 dias para determinação do ganho médio diário de peso vivo (GMD),
sendo as pesagens sempre precedidas por jejum alimentar de 16 horas. Após
o abate, o aparelho gastrintestinal de cada animal foi esvaziado e, juntamente
com os órgãos, foram lavados, pesados e somados às demais partes do corpo
(carcaça, cabeça, couro, cauda, pés e sangue) para determinação do peso de
corpo vazio (PCVZ). A carcaça de cada animal foi dividida ao meio com o
auxílio de uma serra elétrica e em seguida pesada para determinação do
ganho de carcaça, como também de seu rendimento em relação ao peso vivo
(RCPV) e ao peso de corpo vazio (RCPVZ). Também foi medido o
comprimento da carcaça direita. Os rendimentos dos cortes básicos foram
determinados em relação ao peso da carcaça, sendo o dianteiro separado do
traseiro na posição entre a quinta e a sexta costelas. O dianteiro compreendeu
o acém e a paleta completa e o traseiro a ponta de agulha, o coxão e a alcatra
completa. Na carcaça esquerda foi medida a área transversal do músculo
Longissimus dorsi (área de olho de lombo), à altura da 12º costela e a
espessura da gordura subcutânea.
Os consumos não foram afetados (P>0,05) pelos níveis de uréia das
dietas, com exceção do consumo de PDR, que apresentou comportamento
linear crescente (P<0,05). As digestibilidades da MS e PB aumentaram
linearmente (P<0,05) com os níveis de uréia nas rações. Da mesma forma, os
valores de NDT apresentaram comportamento linear crescente à medida que a
uréia substituiu o farelo de soja da dieta. A presença de cinzas e proteína na
FDN subestima a digestibilidade da FDN e superestima a dos CNF. Não houve
efeito dos níveis de uréia (P>0,05) sobre o GMD, tampouco sobre as
87
características de carcaça e rendimento dos cortes básicos dos animais. O
GMD foi de 1,18 kg/dia e o rendimento de carcaça, 52,10%.
No segundo experimento, objetivou-se avaliar o efeito dos níveis de
casca de algodão sobre os consumos e digestibilidades aparentes totais da
MS, MO, PB, EE, FDN e CNF e o consumo de NDT, além da determinação da
composição física da carcaça e avaliação das características de carcaça e
rendimento dos cortes comerciais.
Foram utilizados 18 novilhos mestiços, com peso vivo médio inicial de
230 kg, sendo que dois animais foram abatidos ao início do experimento, para
servirem de referência para estudos posteriores e os 16 restantes foram
distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, a quatro tratamentos:
0, 10, 20 e 30% de casca de algodão na base da MS total, em substituição à
silagem de capim-elefante, sendo a relação volumoso:concentrado de 60:40.
As dietas foram isoprotéicas (13% de PB) e fornecidas a vontade, mantendo as
sobras em torno de 5 a 10% do total oferecido.
Após o abate, a carcaça de cada animal foi dividida ao meio com o
auxílio de uma serra elétrica e em seguida pesada para determinação do
ganho de carcaça, como também de seu rendimento em relação ao peso vivo
(RCPV) e ao peso de corpo vazio (RCPVZ). Em seguida, as carcaças foram
resfriadas em câmara fria a -5ºC, durante aproximadamente 18 horas.
Decorrido esse tempo, as meia-carcaças foram retiradas da câmara fria e
novamente pesadas. Na carcaça direita foi medido o comprimento e
determinado o rendimento dos cortes básicos. Na carcaça esquerda foi medida
a área transversal do músculo Longissimus dorsi (área de olho de lombo), à
altura da 12º costela, a espessura da gordura subcutânea e foi removida uma
amostra correspondente à seção entre as 9
a
e 11
a
costelas (seção HH), para
posteriores dissecação e predição das proporções de músculos, ossos e tecido
adiposo na carcaça, segundo equações preconizadas por Hankins & Howe
(1946):
Proporção de músculo: Y = 16,08 + 0,80 X;
Proporção de tecido adiposo: Y = 3,54 + 0,80 X;
Proporção de ossos: Y = 5,52 + 0,57 X, em que:
88
X = porcentagem dos componentes na seção HH.
A inclusão de casca de algodão em níveis crescentes na dieta aumentou
linearmente (P<0,05) os consumos de EE, bem como os de MS e FDN
expressos em relação ao peso vivo. As digestibilidades dos nutrientes não
foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de casca de algodão nas rações;
contudo, houve tendência de redução na digestibilidade com a inclusão de
casca na dieta. Não houve efeito dos níveis de casca de algodão (P>0,05)
sobre a composição física da carcaça, características de carcaça e rendimento
dos cortes básicos dos animais.
Além disso, nos dois experimentos estimou-se a produção de proteína
microbiana através dos derivados de purinas na urina e determinou-se a
concentração de uréia plasmática (NUP) e excreções urinárias de uréia. As
amostras de urina foram obtidas por meio da coleta de urina spot, 4 horas após
a alimentação, quando os animais urinaram espontaneamente. Na urina foram
determinados os derivados de purinas (alantoína e ácido úrico). No plasma,
como também na urina, foram analisadas as concentrações de uréia e
creatinina.
Não houve efeito dos níveis de uréia, tampouco dos de casca de
algodão, sobre os derivados de purinas e sobre a eficiência de síntese
microbiana. A eficiência microbiana apresentou valores médios de 133,55 e
128,72 g PBmic/kg NDT, respectivamente, em função dos níveis de uréia e
casca de algodão das dietas, sendo esses valores próximos ao citado pelo
NRC (2001) de 130 g PBmic/kg NDT. A concentração de NUP e a excreção de
uréia não foram influenciadas pelos níveis de uréia. A concentração de NUP
decresceu linearmente com a inclusão da casca de algodão na dieta.
Nas condições em que os experimentos foram conduzidos conclui-se
que:
- A uréia pode substituir totalmente o farelo de soja, para novilhos de
origem leiteira em confinamento, com ganhos de peso próximos a 1,0 Kg/dia.
- A presença de cinzas e proteína na FDN subestima a digestibilidade da
FDN e superestima a dos CNF.
89
-
O nível máximo de casca de algodão utilizado no experimento de 30%
na MS total, resultou em desempenho adequado de novilhos de origem leiteira
em confinamento.
- Tanto a uréia quanto a casca de algodão podem ser utilizadas até o
nível de 1,95% e 30% na MS total da dieta de novilhos de origem leiteira,
respectivamente, sem afetar a eficiência de síntese microbiana.
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