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Instituto de Psicologia
Programa de pós-graduação em Psicologia Clínica
A Psicoterapia Analítico-Funcional e relato de sentimentos:
um estudo de caso quase experimental
Priscilla Araújo Taccola
Orientadora: Profª Drª Sonia Beatriz Meyer
São Paulo SP
2007
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Instituto de Psicologia
Programa de pós-graduação em Psicologia Clínica
A Psicoterapia Analítico-Funcional e relato de sentimentos:
um estudo de caso quase experimental
Priscilla Araújo Taccola
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia Clínica da
Universidade de São Paulo, como exigência
para a obtenção do título de Mestre em
Psicologia Clínica orientada pela Profª Drª
Sonia Beatriz Meyer.
São Paulo SP
2007
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Ficha Catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca
e Documentação do Instituto de Psicologia da USP.
Taccola. P. A.
A Psicoterapia Analítico-Funcional e relato de sentimentos: um
estudo de caso quase experimental./ Priscilla Araújo Taccola. – São
Paulo: s.n., 2007
Dissertação (mestrado) Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo. Departamento de Psicologia Clínica.
Orientadora: Sonia Beatriz Meyer
1. Terapia Comportamental 2. Psicoterapia Analítico-Funcional
3. Relato de Sentimentos I. Título.
A Psicoterapia Analítico-Funcional e relato de sentimentos:
um estudo de caso quase experimental
Priscilla Araújo Taccola
BANCA EXAMINADORA
________________________________
______________________________
________________________________
Dissertação defendida e aprovada em: ___/____/_____
Agradecimentos
Aos meus pais pelo carinho, incentivo e apoio que sempre me deram.
A minha orientadora querida, Drª Sonia Beatriz Meyer, pela paciência, incentivo e
amizade, que sempre confiou em mim e acreditou no meu trabalho.
A minha grande amiga Salete, que me recebeu muito bem em sua casa, compartilhou
seu tempo comigo com muita paciência, agüentando o meu mau humor e minhas crises,
sempre me ajudou no foi necessário.
A Drª Edwiges Silvares e a Drª Fátima Conte pela rica contribuição ao meu trabalho.
A minha prima Camila, minha alma gêmea, sempre cúmplice e incansável ao meu
lado.
As minhas amigas Monique, Ana Cláudia e Paula, pelo companheirismo, me tirando
de casa quando eu precisava e puxando a orelha quando necessário.
As amigas Iracema e Cristina pelas deliciosas tardes de muita risada.
A elaboração deste trabalho foi apoiada
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior CAPES
Lista de Tabelas
Tabela 1 Ocorrência Total Média de E.E. em relação ao Tema a que se
refere.............................................................................................................34
Tabela 2 Média de Ocorrência Total de E.E. em relação ao Tema e ao Sentimento
que se refere.................................................................................................35
Lista de Figuras
Figura
1
Duração dos E.E. nas sessões ...........................................................................29
Figura
2
Ocorrência Média dos Cinco Principais Sentimentos na LB e na
PAF....................................................................................................................30
Figura
3
Duração Média dos Cinco Principais Sentimentos na LB e na
PAF....................................................................................................................30
Figura
4
Ocorrência Média de E.E. Espontâneos e não
Espontâneos.......................................................................................................32
Figura
5
Duração Média de E.E. Espontâneos e não
Espontâneos.......................................................................................................32
Figura
6
Ocorrência Total de Sentimentos Espontâneos e Não
Espontâneos.......................................................................................................33
Figura
7
Duração Total Média da categoria Temas.........................................................34
Figura
8
Duração Total Média dos Temas Relacionamento Interpessoal Ruim e Planos
Futuros..............................................................................................................35
SUMÁRIO
Lista de Tabelas..........................................................................................................V
Lista de Figuras ..........................................................................................................V
Resumo......................................................................................................................VI
Abstract ...................................................................................................................VII
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
1.1 Relato de sentimentos ....................................................................................... 12
1.2 Terapia Analítico-Comportamental.................................................................. 17
1.3 Psicoterapia Analítico-Funcional - PAF ........................................................... 20
2. MÉTODO ............................................................................................................... 23
2.1 Participantes...................................................................................................... 23
2.2 Material e Equipamentos .................................................................................. 24
2.2.1. Local de atendimento e equipamento utilizado............................................ 24
2.2.2. Manual de Episódios Emocionais................................................................. 24
2.2.3. Esquema básico de palavras emocionais ...................................................... 24
2.2.4. Folha de registro ........................................................................................... 25
2.2.5. Sistema de Classificação de Respostas para a PAF ...................................... 25
2.2.6 Sistema de Classificação do Comportamento do Terapeuta.......................... 26
2.3 Procedimentos de coleta e tratamento dos dados ............................................. 26
2.3.1 Organização dos registros e preparação para a análise.................................. 28
2.3.2 Análise dos dados.......................................................................................... 39
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................ 40
3.1 Relato dos principais aspectos do caso atendido .............................................. 40
3.2 Análise dos Registros ....................................................................................... 49
3.3 Discussão .......................................................................................................... 61
3.4 Conclusão ......................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 66
ANEXOS
Taccola, Priscilla Araújo (2007). A Psicoterapia Analítico-Funcional e relato de
sentimentos: um estudo de caso quase experimental. Dissertação de Mestrado. Instituto
de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo
Resumo
Esse trabalho pretendeu verificar se uma relação íntima pode ser
estabelecida entre um terapeuta analítico-comportamental e seu cliente no
momento da sessão, já que muitas dificuldades de clientes estão
relacionadas ao estabelecimento de relações íntimas, podendo ser
observadas nas crises conjugais, nas brigas de pais e filhos, no isolamento
social, na dificuldade de se trabalhar em grupo e que tem como
característica o isolamento afetivo. No presente estudo fez-se um recorte do
conceito de intimidade, por ser um conceito muito amplo optando-se por
estudar o relato de sentimento. Falar sobre sentimentos e/ou auto-revelar-se
parecem contribuir para a manutenção de um relacionamento saudável. A
terapia analítico-comportamental conduzida refere-se à prática clínica
baseada nos fundamentos do behaviorismo radical e na análise de
contingências. A terapia analítico-comportamental pode ser conduzida pelo
procedimento de análise de contingências e pelo procedimento de
consequenciação direta de comportamentos ocorridos em sessão, como
ocorre na Psicoterapia Analítico Funcional, a PAF. O objetivo da pesquisa
foi observar se relatos de sentimentos poderiam ser alterados de forma mais
eficaz através da modelagem direta na sessão, conforme proposta pela PAF.
Para responder à pergunta de pesquisa foram conduzidas sete sessões de
terapia analítico-comportamental nas quais a PAF não foi utilizada. A
introdução do procedimento PAF foi gradual se estendendo até a 15ª sessão.
O delineamento da pesquisa de sujeito único foi quase experimental (AB).
As sessões de terapia foram gravadas em videoteipe e posteriormente foram
selecionados Episódios Emocionais, conforme a versão adaptada do
Emotion Episode Manual: A Method for Segment Selection from Transcripts
de Korman e Greenberg (1998). Para cada episódio emocional foi registrada
sua duração, o sentimento apresentado e o seu tema. Os principais
resultados foram um aumento na duração do relato de medo, associado a
situações de enfrentamento de situações temidas, aumento na freqüência e
duração do relato de alegria e uma diminuição do tema Relacionamento
Interpessoal Ruim após a introdução do procedimento PAF. Alguns passos
foram dados, com esse trabalho, na direção da produção científica da terapia
analítico-comportamental e da psicoterapia analítico-funcional. Foram
obtidas medidas repetidas através de observação direta das sessões de
atendimento e houve introdução programada de um tratamento que não
diferiu muito daquele que teria sido desenvolvido com objetivo de prestação
de serviço.
Palavras-chave: terapia analítico-comportamental, psicoterapia analítico-
funcional, relato de sentimentos.
Taccola, Priscilla Araújo (2007). Functional Analytic Psychotherapy and reporting
feelings: a quasi-experimental case study. Master’s Dissertation. Psychology Institute of
the University of São Paulo. São Paulo.
Abstract
The purpose of this study was to verify if it was possible to establish an
intimate relationship between a behavior-analytic therapist and its client
during psychotherapy sessions, taking into account that many of client’s
problems are of intimate relationships. These problems occur in couple’s
crisis, in family fights, in social withdrawal, in difficulties in teamwork and
have the characteristics of affective withdrawal. In the present research,
talking about feelings was the meaning of intimacy studied, since self-
disclosure and exposing feelings seems to contribute to a healthy
relationship. The behavior-analytic therapy conducted is a clinical practice
based on radical behaviorism and in the analysis of contingencies. The
conduction of behavior- analytic therapy can be through the analysis of
contingencies procedure and by the direct shaping of behaviors occurring in
session, as is the case in the Functional Analytic Psychotherapy, FAP. The
research objective was to observe whether changes in frequency, duration or
theme of feelings reported would be more effective through direct shaping
in session, as proposed by FAP. To answer the research question the
therapist-researcher conducted at first seven behavior-analytic therapy
sessions in which FAP was not applied. The introduction of the FAP
procedure was gradual extending until the 15
th
session; the single subject
research design was quasi-experimental (AB). The therapy sessions were
video recorded and then Emotional Episodes were selected following an
adapted version of the Emotion Episode Manual: a Method for Segment
Selection from Transcripts of Korman and Greenberg (1998). Duration, the
feeling expounded and its theme were recorded for each emotional episode.
After the introduction of FAP it was observed an increase of fear, related to
the confrontation of feared situations, an increase in frequency and duration
of the joy feeling and a decrease of the theme “Bad Interpersonal
Relationship”. Some steps were given with this research towards a scientific
production of the Behavior-Analytic Therapy and of the Functional Analytic
Psychotherapy: the use of repeated measures through direct observation of
the psychotherapy sessions, programmed introduction of a treatment that
was not significantly different from one that would be delivered as a usual
service.
Key words: Behavior-Analytic Therapy, Functional Analytic
Psychotherapy, feelings description.
1. INTRODUÇÃO
A idéia inicial deste trabalho era verificar se ocorrem
comportamentos de intimidade entre o terapeuta e o cliente no momento da
sessão. Iniciou-se a pesquisa buscando as muitas acepções atribuídas ao
termo intimidade para poder classificar esses comportamentos. As acepções
mais comuns atribuídas ao conceito de intimidade são compartilhar
pensamentos e sentimentos ou auto-revelar-se. Os sentimentos
compartilhados podem ser tanto desagradáveis (tristeza, mágoa) como
sentimentos agradáveis (alegria, amor). Comportamentos não-verbais também
são exemplos de intimidade como, por exemplo, uma relação sexual, abraçar,
chorar nos ombros de uma pessoa.
Segundo Cordova e Scott (2001), durante muito tempo, a
intimidade foi considerada um construto hipotético, em vez de um fenômeno
comportamental passível de análise e mensuração. Estes autores propuseram
uma teoria da intimidade na qual se objetivou operacionalizar o termo e
abranger as várias referências de intimidade.
Os autores buscaram aspectos comuns que definem os eventos
íntimos. O primeiro seria engajar-se em comportamentos interpessoais
vulneráveis a punição (CIVP). Para os autores, comportamento interpessoal
refere-se a contextos com mais de uma pessoa, podendo ser uma díade ou um
grupo. Já o significado de vulnerabilidade nesse contexto é abrir-se para
censura ou punição por outra pessoa, ou seja, engajar-se num comportamento
que a experiência ensinou que há risco de punição. “A expressão de
vulnerabilidade envolve engajar-se em comportamentos que foram associados
com respostas contingentes a punição por outras pessoas em outros contextos
sociais” (Cordova & Scott, 2001).
A outra característica em comum é o reforço desses
comportamentos. Ou seja, além do comportamento interpessoal não ser punido
ele é reforçado. Segundo Cordova e Scott (2001), todos os exemplos de
intimidade referem-se diretamente, indiretamente ou historicamente a
expressões de vulnerabilidade que foram reforçadas. Desta forma, “a principal
referência para o termo intimidade é uma seqüência de eventos nos quais
comportamentos interpessoais vulneráveis a punição são reforçado pelo
responder de outra pessoa”.
O processo de intimidade proposto por Cordova & Scott (2001)
também se aplica às descrições de sentimentos, que são os produtos
colaterais de uma história individual de reforço e punição a comportamentos
vulneráveis. Optou-se por utilizar como recorte do conceito de intimidade o
relato de sentimentos, uma vez que este parece ser a principal característica
do conceito de intimidade e porque intimidade é um conceito muito amplo,
sendo difícil a sua operacionalização e observação na sessão terapêutica.
Desta forma a pesquisa foi feita comparando o relato de sentimentos na sessão
terapêutica em dois momentos: o primeiro, considerado nesse estudo a linha
de base, foi a análise de contingências e a segunda análise foi feita durante o
procedimento de psicoterapia analítico funcional.
1.1 Relato de sentimentos
A terapia comportamental durante muito tempo foi acusada de
não considerar os comportamentos encobertos, só considerando os eventos
públicos que eram passíveis de observação. Porém os sentimentos e as
emoções fizeram parte dos escritos de Skinner. Para Skinner (1953/1998)
sentir é uma espécie de ação sensorial
“As alterações mais óbvias que estão presentes
quando o leigo diz que “sente uma emoção” são as
respostas dos músculos lisos e das glândulas por
exemplo, corar, empalidecer, chorar, suar, salivar e
contrair os pequenos músculos lisos da pele que
produzem o arrepio dos pêlos do homem e eriçam
os pêlos dos animais” (p.176).
A crítica que Skinner faz é em relação à interpretação causal dos
sentimentos. As explicações mentalistas de que sentimentos são causas de
comportamentos faz com que a busca e a compreensão daquilo que é sentido
cesse, desviando o olhar do papel que o ambiente desempenha no controle do
comportamento, seja ele público ou privado.
Não se sabe de uma emoção apenas pelo seu estado fisiológico,
muitas vezes as respostas fisiológicas para sentimentos diferentes são as
mesmas. Baum (1999) afirma que um cirurgião pode abrir o cérebro, manuseá-
lo, pesá-lo, medi-lo e nada disso diria acerca do que aquela pessoa está
sentindo. Deve-se olhar para o que gerou aquele estado, os antecedentes que
estavam presentes no contexto. Discriminar o que sente e falar sobre esse
sentimento é um comportamento social aprendido pela comunidade verbal.
Para entender o que leva uma pessoa a relatar ou não relatar um
sentimento, é preciso entender como ocorre a sua aprendizagem. A
aprendizagem do relatar sentimento se dá da mesma forma que qualquer outro
comportamento verbal. O comportamento de descrever sentimentos é
modelado pela comunidade. A comunidade verbal freqüentemente indaga os
indivíduos a respeito de como eles se sentem e desta maneira estes aprendem
a descrever sentimentos. Segundo Skinner (1945) somente quando um
indivíduo interage com contingências que estão na comunidade verbal é que
pode aprender a responder sob controle de estímulos internos. E é através
disso que aprende a discriminar e descrever seus sentimentos. Um problema é
que a comunidade não tem acesso aos comportamentos encobertos. A
comunidade verbal pode recorrer a acompanhamentos públicos e também a
terminologias da emoção, geralmente metafórica. Assim para se compreender
uma descrição de sentimento deve-se levar em conta os processos de
aprendizagem pela qual o indivíduo passou.
Muitas vezes em sua história de aprendizagem o individuo foi
punido por se expressar ou expressar erroneamente seus sentimentos
dificultando a aprendizagem de relacionamentos íntimos, assim ele aprende o
que deve ser dito ou não, a quem e em que contextos. A pessoa pode aprender
que um comportamento será punido se comportando e sendo punida,
observando outros se comportando e sendo punidos e através de regras que
explicitem que o comportamento será punido.
A punição desses comportamentos produz efeitos ruins para os
indivíduos porque falar sobre sentimentos é importante, uma vez que a pessoa
aprende a discriminar contingências presentes que evocaram tal encoberto e
que também estão controlando seu comportamento. Este conhecimento
proporciona ao individuo uma possibilidade de previsão e controle de seu
próprio comportamento.
Segundo Skinner (1974) os sentimentos
dão dicas quanto ao comportamento passado e as
condições que o afetaram, ao comportamento
presente e às condições que afetam e às condições
relacionadas com o comportamento futuro. O
autoconhecimento tem um valor especial para o
próprio indivíduo. A pessoa está mais “consciente de
si mesma” pelas perguntas que lhe fizeram e está
numa melhor posição para predizer e controlar seu
próprio comportamento (p.31).
Em psicoterapia o terapeuta enquanto audiência pode fazer o
papel da comunidade verbal, indagando o cliente acerca do que está sentindo.
O terapeuta é um facilitador que ao realizar análise de contingências, sinaliza
as contingências para que o cliente se torne um melhor observador de seu
próprio comportamento. Ao procurar terapia, o indivíduo geralmente o faz por
estar se sentindo triste, deprimido, confuso ou experimentando algum tipo de
sentimento desagradável. Porém muitas vezes ele não sabe identificar o que
está sentindo, o porquê está sentindo isso e como fazer para mudá-lo. Ao
identificar as relações entre os comportamentos abertos e os encobertos, o
cliente consegue perceber de quais variáveis eles são função e desta forma
estará mais apto a modificar seu comportamento e/ou ampliar seu repertório.
Skinner (1953/1998) considera as emoções como uma
predisposição para agir. O nome das emoções serve para classificar o
comportamento em relação a várias circunstancias que podem afetar a sua
probabilidade. Quando se diz que ama está clara a presença de um evento
reforçador e desta forma há uma alta probabilidade de ser comportar de forma
cortês, atenciosa, a estar junto com a pessoa que ama, a cuidar. Da mesma
forma quando se diz que está com raiva há uma grande probabilidade de
insultar, agredir, ferir ou de algum modo infligir dor ao outro. O relato de medo
geralmente está relacionado ao comportamento de reduzir o contato com o
estímulo que causou o medo: correr, esconder-se, desviar o olhar. O relato de
sentimentos positivos está geralmente relacionado à presença de reforçadores
e à retirada de estímulos aversivos. E o relato de sentimentos negativos está
relacionado à retirada de reforçadores, à impossibilidade de obter reforçadores,
a estímulos aversivos e à impossibilidade da retirada desses estímulos
aversivos.
O terapeuta deve promover situações no contexto terapêutico
para que o cliente expresse seus sentimentos uma vez que estes são indícios
das variáveis que estão controlando e mantendo seu comportamento. O relato
de sentimento ajuda tanto o terapeuta a realizar análises funcionais como
também o cliente a compreender e alterar seu próprio comportamento.
Os sentimentos do terapeuta também devem ser analisados
durante o processo terapêutico. As reações emocionais que o cliente gera no
terapeuta podem fornecer dicas de que tipo de estímulo discriminativo o cliente
fornece em suas relações fora sessão terapêutica. Segundo Meyer (1994)
Quando o terapeuta sente irritação, carinho ou tédio
frente a um determinado cliente, precisa identificar
se tais eventos internos estão relacionados a
eventos de sua própria história pessoal, ou se tais
encobertos se relacionam a contingências que
envolvem o comportamento do cliente e que,
portanto devem fazer parte de suas relações
pessoais em geral (p. 8).
1.2 Terapia Analítico-Comportamental
De acordo com Neno (2005) a denominação terapia analítico-
comportamental refere-se à prática clínica baseada nos fundamentos do
behaviorismo radical e na análise de contingências. Esta denominação é útil
para diferenciar a prática realizada pelos diversos terapeutas que se intitulam
terapeutas comportamentais, como os terapeutas cognitivos, cognitivo-
comportamentais, analítico-comportamentais que diferem em seus princípios e
supostos filosóficos. A mesma autora afirma que “o que se pretende com esse
termo é designar a terapia verbal baseada na análise do comportamento”.
A análise das contingências tem sido apontada como o
instrumento básico do analista do comportamento, levando-o a ter sucesso na
condução de casos clínicos. Entende-se análise de contingências em
ambientes não experimentais, como no caso da clínica, como uma tentativa de
prever e controlar o comportamento de um indivíduo a partir da identificação e
manipulação de variáveis externas das quais o comportamento parece ser
função.
Segundo Skinner (1953) “uma formulação adequada da interação
entre um organismo e seu ambiente deve sempre especificar três coisas: a
ocasião em que a resposta ocorre, a própria resposta e as conseqüências
reforçadoras. As inter-relações entre elas são as contingências de reforço”.
Autores como Meyer (2003), Follete (1996) e Sturmey (1996)
concordam que os principais pontos para a realização de uma análise de
contingências são: identificar o comportamento alvo, suas propriedades tais
como freqüência e duração, identificar as relações entre as variáveis
ambientais e o comportamento, ou seja, observar a ocasião em que a resposta
ocorre, e quais as conseqüências reforçadoras que mantém esta resposta,
para em seguida propor uma intervenção, avaliando-a.
Segundo Yano (2003) as características principais da prática de
terapeutas analítico-comportamentais são:
1. Identificar classes de resposta: observar regularidades nas
diferentes formas de se comportar, comportamentos que tem a mesma função,
não importando a topografia. Essas classes de resposta podem ser observadas
através do comportamento do cliente em sessão, através de seu relato ou
através de questionários. Uma das vantagens de se identificar classes de
resposta é que dessa forma podem-se planejar intervenções mais econômicas
que modifiquem simultaneamente vários comportamentos da mesma classe de
respostas (Sturmey, 1996).
2. Desenvolver comportamentos alternativos concorrentes:
encorajar e reforçar novos repertórios mais adaptativos que concorram com o
comportamento problema. Com o desenvolvimento do novo repertório, estes
comportamentos adaptativos à medida que ocorrem, têm maior probabilidade
de serem reforçados e, portanto aumenta a probabilidade de ocorrência futura.
3. Ensinar o cliente analisar funcionalmente seu próprio
comportamento: o cliente desta forma aprende a ter maior previsão e controle
de seu próprio comportamento à medida que aprende a identificar e alterar as
relações de contingências existentes.
A boa relação terapêutica estabelecida com o cliente é
considerada por diversos autores como um dos fatores importantes para a
realização das mudanças comportamentais. Ela é um facilitador para a
introdução tanto da análise de contingências como de outros procedimentos a
fim de atingir os objetivos da terapia. Segundo Meyer e Vermes (2001), os
procedimentos de mudança podem ser a modelagem, modelação, descrição de
variáveis controladoras e conseqüências do comportamento, aplicação de
técnicas específicas e fornecimento de instrução. Essas autoras realizaram um
levantamento da literatura sobre relação terapêutica no qual observaram que a
negligência à relação terapêutica pode ser um preditor de maus resultados;
descreveram que Frank e Frank (1993) em seu estudo demonstraram que
clientes que avaliaram, no início do tratamento, os terapeutas de forma positiva
foram os que atingiram melhores resultados.
Uma vez descoberta da força da relação terapêutica, esta passou
a ser usada não apenas como facilitador para aplicação de procedimentos,
mas como estratégia e instância de mudança comportamental (Kohlenberg &
Tsai, 1991; Follete, Naugle, Callaghan, 1996).
Há que se considerar que o cliente, nesse caso, é o centro do
processo de mudança terapêutica. Um dos procedimentos terapêuticos
utilizados eficazmente e que será analisado em seguida é a Psicoterapia
Analítico-Funcional (PAF), forma de terapia que, segundo alguns autores
(Kohlenberg & Tsai, 1991) enfatiza o relacionamento de cuidado e intimidade
entre terapeuta e cliente.
1.3 Psicoterapia Analítico-Funcional - PAF
A Psicoterapia Analítico-Funcional proposta por Kohlenberg e Tsai
(1991) tem como fundamento teórico o Behaviorismo Radical, e está baseada
em dois princípios básicos de aprendizagem. O primeiro princípio é que “a
modelagem direta e o fortalecimento de repertórios comportamentais mais
adaptativos através do reforço são centrais no tratamento analítico-
comportamental” e o segundo princípio é “uma das características bem
conhecidas do reforçamento é que quanto mais próximo das suas
conseqüências (no tempo e no espaço) um comportamento estiver, maiores
serão os efeitos deste processo”.
Para estes autores o cliente pode apresentar durante a interação
com o terapeuta comportamentos que são clinicamente relevantes, chamados
de CCRs. Os comportamentos apresentados em sessão que deveriam diminuir
no decorrer do processo terapêutico, os comportamentos-problemas, são
chamados de CCR1. Os comportamentos que deveriam aumentar de
freqüência e intensidade, ou seja, os comportamentos de melhora do cliente,
são chamados de CCR2. E há uma terceira categoria de comportamentos que
se refere à fala dos clientes sobre seu próprio comportamento e o que parece
causá-lo, chamada de CCR3.
Para se identificar um CCR no momento em que ele ocorre o
terapeuta deve questionar o cliente sobre o que está ocorrendo na sessão. “A
PAF centraliza sua avaliação em uma questão-chave, que o terapeuta
continuamente pergunta ao cliente durante o tratamento: “Isto está
acontecendo agora?”, “isto” referindo-se ao CCR1. Algumas variações
possíveis: “Como você se sente, agora, a seu próprio respeito?”, “Neste exato
momento você está se afastando?”, “O que acabou de acontecer se parece
com o que fez você buscar atendimento?”, “A dificuldade que você teve de
expressar seus sentimentos agora é a mesma que você tem com sua mãe?”,
“O que você sente agora...é semelhante à ansiedade de se expressar
verbalmente que te fez buscar terapia?” (Kohlenberg & Tsai, 1991).
A forma como o cliente se comporta na sessão provavelmente é a
forma como se comporta em outros contextos se o ambiente clínico for
funcionalmente semelhante àquele fora da clínica. De acordo com Kohlenberg
& Tsai (1991) os comportamentos dos terapeutas que possibilitam essa
semelhança são evocar, observar, reforçar e interpretar comportamentos dos
clientes através de funções discriminativas, eliciadoras e reforçadoras. As
funções discriminativas promovem o comportamento operante, as funções
eliciadoras promovem comportamentos respondentes e as funções
reforçadoras interferem na força de uma resposta (Conte, 2000).
... a observação direta e a definição comportamental
do problema e dos comportamentos finais desejados
podem ser levado a cabo se (a) os comportamentos
relacionados ao problema ocorrem durante a sessão
e desta maneira podem ser diretamente observados,
e se (b) o terapeuta e os observadores forem
cuidadosamente selecionados de forma que eles
mesmos tenham, em seus repertórios, os
comportamentos finais desejados para o cliente”
(Kohlenberg e Tsai, 1991).
A PAF “se ajusta muito bem a clientes que não obtiveram uma
melhora adequada com as terapias comportamentais convencionais e àqueles
que têm dificuldades em estabelecer relações de intimidade e/ou têm
problemas interpessoais difusos” (Kohlenberg e Tsai, 1991).
A terapia analítico-comportamental pode ser conduzida pelo
procedimento de análise de contingências e pelo procedimento de
consequenciação direta de comportamentos ocorridos em sessão, como ocorre
na PAF. A presente pesquisa pretende estudar se comportamentos de
intimidade poderiam ser alterados de forma mais eficaz através da modelagem
direta na sessão, conforme proposta pela PAF.
A pergunta a ser respondida é se é possível verificar se, no
decorrer de uma terapia analítico-comportamental, ocorrem mudanças nos
sentimentos relatados por pessoa com dificuldade de relacionamento
interpessoal, após a introdução do procedimento de psicoterapia analítico
funcional (PAF). Os indicativos de mudança podem ser:
a) A freqüência e duração de sentimentos relatados.
b) O tipo de sentimento (amor, raiva, alegria, tristeza, medo, culpa/
vergonha).
c) Os temas dos sentimentos (tais como relacionamento amoroso, com
família, trabalho).
2. MÉTODO
2.1 Participantes
Participaram desta pesquisa um cliente e o pesquisador-
terapeuta.
O cliente foi selecionado de um grupo de cinco clientes cuja
queixa inicial era de problemas de relacionamento interpessoal em mais de
uma das diversas áreas da vida (relacionamento com pais, marido ou
namorado, amigos, colegas de trabalho, filhos, etc.), inscritos na clínica-escola
do Instituto de Psicologia da Universidade São Paulo - USP.
Duas pessoas permaneceram em terapia durante o período de
coleta de dados, de um ano e quatro meses. Outras duas permaneceram em
terapia por 10 e por três meses, e o último selecionado só compareceu à
entrevista inicial.
Não havendo clientes com dados suficientes para o uso de um
delineamento de linha-de-base múltipla através de participantes, foi
selecionado um dos casos para análise do processo inteiro de psicoterapia.
A cliente selecionada tinha 38 anos de idade no início da coleta
de dados, era do sexo feminino, solteira e sem filhos. Morava sozinha em São
Paulo por quase vinte anos, sendo que sua família vivia em uma cidade no
interior do Estado de São Paulo. Era professora da primeira série do ensino
fundamental em duas escolas públicas. Fez graduação em direito, formou-se
no ano de 2002, porém não atuava na área. Tinha renda mensal entre R$
1.000,00 e R$ 2.000,00. O motivo da procura de terapia foi depressão e
dificuldade em relacionamentos interpessoais.
O pesquisador-terapeuta era um psicólogo com dois anos de
experiência clínica em terapia analítico-comportamental no início da coleta de
dados. Diplomou-se em uma universidade pública do Estado do Paraná e
cursava o mestrado em Psicologia Clínica no momento da coleta de dados. Já
havia atendido 10 casos de psicoterapia e havia também prestado atendimento
ambulatorial em um hospital psiquiátrico a pacientes durante dois anos de
estágio. Participava de um grupo de supervisão clínica, com encontros
semanais, coordenado pela Profª. Drª. Sonia Beatriz Meyer.
2.2 Material e Equipamentos
2.2.1. Local de atendimento e equipamento utilizado
As sessões psicoterapêuticas foram realizadas no Laboratório de
Terapia Comportamental da clínica-escola da Universidade de São Paulo. O
laboratório é equipado com uma filmadora fixa para a gravação das sessões.
Foram necessários ainda uma televisão, um vídeo cassete e um computador
para transcrição dos trechos selecionados das sessões.
2.2.2. Manual de Episódios Emocionais
Versão adaptada por Brandão (2003) do Emotion Episode
Manual: A Method for Segment Selection from Transcripts de Korman e
Greenberg (1998) (Anexo 1).
2.2.3. Esquema básico de palavras emocionais
Adaptado de Shaver et al. (1987) por Korman e Greenberg, 1998
(Anexo 2). Neste esquema básico as emoções foram divididas em seis grandes
categorias: medo, raiva, alegria, tristeza, amor, culpa/ vergonha. Dentro dessas
categorias, há 145 sentimentos que estão colocados como subcategorias. Por
exemplo, ansiedade é uma subcategoria da emoção medo.
2.2.4. Folha de registro
A folha de registro continha os elementos apresentados a seguir e
foi preenchida durante a análise de cada fita.
Data: Hora Inicio: N° sessão: (fita )
Marcador de
E.E.
Duração
E.E
Sentimento
relatado
PAF? Espontâneo?
Tema
E.E. Episódio Emocional.
PAF Psicoterapia Analítico Funcional.
2.2.5. Sistema de Classificação de Respostas para a PAF
O sistema de classificação de resposta é baseado nos seguintes
itens de acordo com a proposta de Kohlenberg e Tsai, 1991, p.55.
Quadro 1: Sistema de Classificação de Respostas para a PAF.
1. Encorajar e conseqüenciar as descrições do cliente que se relacionam a
estímulos presentes no ambiente terapêutico.
Ex: Comentário ou descrição sobre o terapeuta: “O que você acha que eu
penso de você?”
Sobre a relação terapêutica: “Como se sente após nossa última sessão?”
Sentimentos sobre a terapia: “Como você se sente em relação à terapia?”
“Estava me perguntando se você acha que estamos fazendo progressos
suficientes”.
2. Encorajar comparações controladas por eventos ocorridos na terapia e na
vida cotidiana.
Ex: “De que modo o jeito como se sente agora se assemelha ao que sentiu no
trabalho?”; “O jeito que você reagiu quando eu disse que me importava com
você parece com o jeito com que você diz agir quando outra pessoa mostra
afeição por você”; “Você pode comparar seus sentimentos em relação a mim
com outra pessoa muito próxima a você?”
3. Encorajar desejos, sugestões e pedidos diretos para o terapeuta.
Ex: “É permitido e desejável que você queria e peça o que quer de mim. Eu
levarei em consideração todos os seus comentários, mesmo que não me seja
possível fazer tudo conforme seu desejo”.
4. Usar as descrições dos eventos da vida cotidiana do cliente como metáforas
para eventos que tenham ocorrido em sessão.
Ex: um cliente relata quão incompetente seu dentista é. O terapeuta pode
responder “Eu me pergunto se você está preocupado com meu conhecimento
acerca do meu trabalho”.
2.2.6 Sistema de Classificação do Comportamento do Terapeuta
Foram utilizadas as categorias de registro do comportamento
verbal do terapeuta propostas por Zamignani (em elaboração) para classificar
as intervenções feitas pelo terapeuta durante o processo terapêutico.
2.3 Procedimentos de coleta e tratamento dos dados
Foi realizado atendimento psicoterápico analítico-comportamental ao
cliente selecionado para a pesquisa, por um ano e quatro meses, no
Laboratório de Terapia Comportamental da clínica escola da Universidade de
São Paulo - USP. A primeira fase do atendimento foi a de linha de base (LB),
que incluiu: a coleta de dados nas sessões iniciais, análise funcional do
comportamento e intervenções derivadas das análises, porém durante a linha
de base não foi utilizada a psicoterapia analítico-funcional (PAF), ou seja, os
comportamentos clinicamente relevantes (comportamentos problemas) que
ocorreram na própria sessão, na interação com o terapeuta, não foram
trabalhados nesta fase da pesquisa.
Introduziu-se o procedimento de psicoterapia analítico-funcional
(PAF) na oitava sessão. Essa introdução estava prevista de acordo com o
projeto inicial de delineamento experimental de linha de base múltipla através
de participantes. Para o primeiro cliente a PAF seria introduzida na oitava
sessão, para o segundo na 12ª sessão e assim sucessivamente. Com a
alteração do número de participantes o delineamento passou a ser um
delineamento de pesquisa quase experimental, o delineamento AB, em que A é
a condição existente na ausência da variável independente, B (a PAF). Houve
a necessidade de uma fase de transição para a adaptação do cliente e do
terapeuta ao procedimento PAF. Nas sessões analisadas (as quinze sessões
iniciais e depois as sessões 35 a 44), verificou-se que a primeira tentativa de se
utilizar a PAF ocorreu na oitava sessão, a segunda ocorrência foi na nona
sessão e depois na décima primeira sessão. Foi considerada uma tentativa de
utilização da PAF quando o terapeuta iniciava um assunto sobre um
comportamento que estava ocorrendo na sessão, na interação com o cliente e
este se esquivava, ou mudando de assunto, ou voltando a um assunto anterior
e o terapeuta não bloqueava essas esquivas. Nas sessões 35 a 44 a PAF foi
utilizada pelo menos uma vez em cada sessão analisada.
2.3.1 Organização dos registros e preparação para a análise
Seleção dos Trechos para Análise
Foi elaborada a folha de registro para a realização das análises
das sessões (conforme modelo no item 3.2.4).
A primeira categoria, Marcador de Episódio Emocional, foi
escolhida para marcar o ponto inicial da ocorrência do relato de sentimento.
Para isso, foi utilizada a versão adaptada por Brandão (2003) do Emotion
Episode Manual: A Method for Segment Selection from Transcripts de Korman
e Greenberg (1998). O marco inicial, como foi proposto no manual, era a
ocorrência de um Marcador de Episódio Emocional, ou seja, assim que o
cliente nomeava um sentimento ou uma tendência à ação. A tendência à ação,
era uma disposição comportamental ou a tendência associada à reação
emocional, incluindo tendências em direção a mudanças em relação aos outros
(ex.: “eu queria empurrá-lo”; ou “eu tinha vontade de atacá-lo”).
A segunda categoria, a duração, teve o objetivo de verificar o
tempo total do Episódio Emocional (E.E.). Registrou-se o início de sua
ocorrência e a duração da ocorrência. A duração começava a partir do
Marcador de Episódio Emocional e terminava com uma fala do terapeuta,
Finalizava-se um episódio quando o assunto principal da interação verbal
mudasse, quando aparecesse outro sentimento, ou quando a discussão de um
determinado sentimento continuasse, mas em relação a outro tema. Nos casos
em que o terapeuta ou o cliente mudasse de assunto e posteriormente voltasse
a discuti-lo, um novo Episódio Emocional era iniciado, como proposto na
versão adaptada por Brandão (2003).
A terceira categoria formulada foi a de classificação do
sentimento que estava ocorrendo. Para isso, utilizou-se Esquema básico de
palavras emocionais (adaptado de Shaver et al, 1987, por Korman e
Greenberg, 1998).
Em seguida, foi registrado se o pesquisador-terapeuta estava
utilizando o procedimento PAF. Esta categoria objetivou comprovar a
ocorrência ou não da utilização da Psicoterapia Analítico-Funcional (PAF) na
sessão, no sentido de mensurar a ocorrência da variável independente. O
sistema de classificação de resposta para a PAF propostas por Kohlenberg e
Tsai (1991) foi utilizado para determinar a sua ocorrência.
A categoria seguinte foi a verificação da espontaneidade ou não
da expressão de sentimento. Essa categoria teve por objetivo verificar se o
terapeuta (que também era o pesquisador) poderia estar induzindo os dados.
Por exemplo, se na linha de base os sentimentos fossem relatados ou
demonstrados sem que o terapeuta perguntasse como a cliente havia se
sentido isto é, se fossem mais espontâneos e se no procedimento de PAF os
sentimentos fossem relatados ou demonstrados principalmente após perguntas
do terapeuta sobre o que o cliente estava sentindo (relatos não-espontâneos),
poderia se considerar que o terapeuta estava enviesando os resultados.
E a última categoria escolhida foi o tema a que se referia o
sentimento. A escolha dessa categoria se deu em função do sentimento estar
em um contexto específico, e não apenas um sentimento nomeado. O tema foi
a única categoria que foi definida após a coleta de dados, uma vez que há uma
variação de conteúdos entre clientes e do mesmo cliente em diferentes
momentos da terapia.
Com a folha de registro em mãos, o pesquisador-terapeuta
começava a assistir a fita de videocassete que tinha gravada uma sessão de
terapia. Assim que identificava um E.E. ocorrendo, pausava a fita, transcrevia
um trecho do E.E., marcava o horário que iniciou esse E.E., ouvia o E.E. até
que este terminasse, marcava o horário final determinando assim a sua
duração. Após isso, classificava o sentimento de acordo com Esquema básico
de palavras emocionais (adaptado de Shaver et al, 1987 por Korman e
Greenberg, 1998) e respondia se foi utilizado o procedimento PAF utilizando as
categorias de Kohlenberg e Tsai para verificar a sua ocorrência. Respondia se
a expressão de sentimento foi espontânea e o tema a que se referia essa
expressão de sentimento.
Inicialmente os temas foram anotados sem um sistema de
categorias. Ao final da categorização das 25 sessões, havia uma quantidade de
temas muito variados. Verificou-se que muitos estavam tratando do mesmo
assunto, mas que ocorriam em ambientes diferentes. Por exemplo, dificuldade
em falar em uma reunião na escola e dificuldade em encontrar com uma turma
de amigos num bar poderiam ser classificados como Relacionamento
Interpessoal Ruim. Os diferentes ambientes foram considerados como
subcategorias, conforme o Quadro 3. As categorias temáticas elaboradas pós-
sessão e anotadas na versão final da folha de registro foram as seguintes:
Quadro 2: Categorias de temas.
1. Relacionamento Interpessoal Ruim: Relatos de sentir-se mal numa
situação com mais de uma pessoa, quer por inabilidade em resolver a
situação quer porque a situação era desagradável por si só. O
sentimento relatado poderia ser de angústia, tristeza, medo,
insegurança, etc. Por exemplo, durante uma reunião na escola em que
trabalhava se sentiu mal e começou a chorar.
2. Relacionamento Interpessoal Bom: Relatos de sentir-se bem numa
situação com mais de uma pessoa. O sentimento relatado poderia ser
de alegria, felicidade, alívio, segurança, etc. Por exemplo, relatou que foi
agradável uma ocasião que saiu com os amigos.
3. Sentimentos: Análises de sentimentos específicos sem que estivessem
diretamente relacionados a uma situação ou contexto. Por exemplo, a
cliente costumava chegar à sessão falando que a semana tinha sido
ruim porque ela só tinha vontade de ficar deitada dormindo. Quando
questionada se algo havia acontecido a resposta era não, então o
pesquisador-terapeuta fazia perguntas sobre o sentimento relatado.
4. Terapia: Comentários e análises da relação terapêutica, do
entendimento sobre seu problema, das análises funcionais de seus
comportamentos. Por exemplo, análise de como a terapia estava
ajudando, se as mudanças estavam lentas, etc.
5. Planos Futuros: Planos e mudanças pretendidas e formas de alcançá-
los. Por exemplo, a cliente gostaria de voltar a estudar Direito, e o tema
era a respeito de que forma isso poderia ser alcançado.
6. Outros: Situações que foram relatadas somente uma vez. Por exemplo,
bater o carro.
O quadro a seguir apresenta alguns exemplos das subclasses das
categorias temáticas.
Quadro 3: Categorias e subcategorias de temas.
1.1 No trabalho voluntário por ex.: “eu não estou mais
querendo participar /.../ teve uma reunião, não falei nada,
saí de lá chateada, fui para casa chorei, dormi chorando,
daí eu pensei acho que não vou mais participar, não está
me fazendo bem” (sessão 9)
1.2 Na Escola 1 por ex.: “não sei, fiquei pensando nisso a
semana toda. /.../ eu estava com vontade de chorar, eu
estava com raiva também por não ter conseguido
responder pra ele, raiva porque eu fico constrangida perto
das pessoas. Eu não fico tranqüila perto das pessoas
numa reunião principalmente. Então, eu fico com raiva por
todos esses motivos. Ah, eu também fico com raiva porque
eu quero que as pessoas percebam que eu estou
chateada. /.../ eu acho que eu desconto minha raiva nos
outros para as pessoas não perceberem essa minha
fragilidade assim /.../” (sessão 10)
1.Relacionamento
Interpessoal
Ruim:
1.3 Na Escola 2 por ex.: “Só que depois eu fiquei
pensando na reunião, eu não estava tão à vontade não,
talvez por estar tratando de um assunto que eu estava
meio chateada né? Da reprovação dos alunos, então eu
não estava tão à vontade, fiquei o resto do tempo mais
calada.” (sessão 11)
1.4 Com amigos por ex.: “Eu senti que eles estão
entrando na minha vida pessoal e eu não estou gostando,
eu estou me sentindo incomodada mesmo. Tanto que eu,
eu pensei, eu pensei, passou pela minha cabeça assim
acho que se me ligar durante a semana eu não vou
atender o telefone. Me passou isso pela cabeça” (sessão
6).
1.5 Com a família por ex.: Lá no interior aconteceu
aquilo que sempre acontece, eu fiquei chateada com uma
coisa boba assim, e eu até tentei porque eu lembrei de
tudo o que nos conversamos aqui né? Só que eu não
consegui, não consegui não ficar daquele jeito que eu
sempre fico /.../ eu me sinto culpada (3x) é uma coisa que
eu não comento nunca, mas dentro de mim eu me sinto
culpada por isso” (sessão 5)
1.6 Com outros por ex.: “Ela (faxineira) falou um “bom
dia” tão gostoso que eu fiquei até envergonhada. Eu estava
passando por ela, sem falar nada, sabe aquele “bom dia”
caloroso assim, gostoso, daí eu fiquei envergonhada de
tratar as pessoas desta forma. Eu já vi isso daí e preciso
melhorar” (sessão 11).
2.1 No trabalho voluntário por ex.: “nós fomos na casa de
um dos integrantes do grupo, um professor, para uma
reunião (...) eu não me senti tão mal, eu não falei muito né?
Como sempre, mas eu não me senti tão mal assim (...) eu
não me senti tão mal não, porque se fosse antes eu ia
querer sumir dali (...) eu achei que foi legal, eu avancei
mais um pouquinho né?” (sessão 7)
2.2 Na Escola 1 por ex.: “/.../ só que foi assim, foi até
legal porque eu cheguei lá e esqueci disso, eu esqueci que
eu queria ficar longe de todo mundo, e quando eu vi eu
estava tão contente no meio do pessoal, eu me diverti
tanto, eu não li livro nenhum, nós ficamos todos da escola
sentados próximo da piscina/.../ ficamos todos juntos,
rindo, conversando, brincando, estava super gostoso, aí
depois disso eu vim embora e esqueci tudo” (sessão 10)
2.
Relacionamento
Interpessoal Bom
2.3 Na Escola 2 por ex.: “Eu gosto muito mesmo, eu não
tenho assim, preguiça de ir pra lá. Nessa escola (Escola 1)
que é perto de casa, eu vou trabalhar, eu me sinto muito
cansada, eu sinto sono, o tempo inteiro lá, e à noite
quando eu vou pra lá (Escola 2), eu já estou mais cansada,
já trabalhei, não tenho cansaço... nossa é engraçado. Eu
trabalho com prazer, some o cansaço” (sessão 4)
2.4 Com amigos por ex.: “E aí foi legal, acho que eles até
se assustaram, eu ligando para marcar alguma coisa
(risos). Eu liguei pra uma moça que já conhecia /.../ só que
eu imaginei que ninguém fosse querer ir comigo né? Mas
no fim eles toparam, sete pessoas, sete pessoas estava
bom pra casa, porque não é uma casa muito grande.”
(sessão 12)
2.5 Com a família por ex.: “Eu fui pra casa dos meus
pais, eu estava com vontade de ir pra lá né? eu fui, tava
bom, fui pra casa da minha mãe, depois fomos pra casa de
uma tia (...) estava gostoso, estava divertido (...) eu pensei:
será que vou me divertir? Eu me diverti, ainda bem. (...)
estava super gostoso”. (sessão 12)
2.6 Com outros: “Então, eu fiquei contente comigo, quando
terminou a aula (curso de redação) e nós fomos embora eu
fiquei contente, porque outra coisa que aconteceu foi que
tinha tipo uma dinâmica de grupo né? e eu também não
suporto isso. /.../ aí eu fiquei com o maior medo, mas foi
tranqüilo, quando chegou na minha vez eu consegui falar,
eu não fiquei tão nervosa para falar. Porque cada um tinha
que /.../ eu consegui falar brincado, coisa que eu não
costumo fazer, e sorrindo, coisa que eu não faço então eu
saí de lá contente. /.../ a gente imagina tanta coisa ruim
mas na hora não foi assim, foi tranqüilo” (sessão 40).
3.1 Ansiedade por ex.: “Mas então sobre a ansiedade, eu
sou, eu estou muito ansiosa esses tempos, é sabe, p ex,
eu não sei se é por causa da ansiedade, lá dentro da
minha casa eu fico numa coisa tão ruim dentro de mim,
sempre estou assim, é o tempo inteiro ansiosa. (...) dentro
da minha casa eu não consigo parar um minuto, relaxar um
pouquinho, ficar tranqüila, lendo alguma coisa.” (sessão
15).
3. Sentimentos
3.2 Crises depressivas por ex.: Eu não estou com
vontade, eu estou me sentindo muito cansada também, eu
tenho vontade de ficar deitada só /.../ como eu trabalho a
semana inteira, no sábado eu tenho vontade de ficar
deitada /.../ eu perdi totalmente o apetite, eu não tenho
vontade de comer nada” (sessão 5).
4. Terapia 4.1 Entendimento sobre seu problema (questionamentos,
reflexões, causas, conseqüências) por ex: “Dra. P. uma
coisa que eu vou comentar, mas assim, não é da sua área,
toda vez que eu venho aqui eu sinto como se, sabe, eu
nunca tive labirintite, mas eu sinto, engraçado, eu sinto
uma coisa diferente em mim, parece que eu sinto a cabeça
meio rodando assim. Será que é por causa de ficar
falando? Muita coisa assim será?” (sessão 9).
4.2 Avaliação do processo terapêutico por ex: “T: Como
você está se sentindo? Porque entrar em contato com
essas coisas tem um lado bom, lógico que tem, mas às
vezes traz um sentimento. Como você está sentindo isso?
Cliente: Eu estou me sentindo mais aliviada. Cada vez está
me aliviando mais. Não está sendo difícil pra mim, está
sendo ótimo eu perceber muitas coisas, estar parando para
conversar sobre algumas coisas, está me aliviando muito.
Cada vez que eu venho aqui eu passo a semana mais
tranqüila e fico esperando novamente a próxima semana”
(sessão 3)
5. Planos Futuros 5.1 Estudos por ex.: “Naquele dia que eu chorei muito, aí
no dia seguinte eu fiquei pensando, porque eu tinha que
resolver, tomar uma decisão na minha vida, porque eu não
estava suportando mais a situação daí eu pensei: “eu
quero, p ex, eu não quero jogar fora a faculdade que eu fiz,
eu não estou estudando, não estou conseguindo fazer
nada, só fico nervosa com a situação, aí eu pensei: “e
agora o que eu vou fazer? Não, eu vou ter que estudar. Eu
vou sentar e começar a estudar.” aí esta semana eu
consegui, eu comecei a estudar, estou tentando me
concentrar o máximo que eu posso, e estou conseguindo”
(sessão 40)
5.2 Finanças por ex.: Está acontecendo umas coisas tão
engraçadas /.../ semana passada eu estava tão bem,
estava assim animada pensando em agora, a partir do final
do ano, que eu vou poder me cuidar melhor. Então eu
estava assim toda animada né? Pensando que assim que
eu puder, eu quero fazer unha toda semana, fazer escova,
tudo o que eu não estou podendo agora né? Então está
chegando próximo, está chegando a época que eu vou
poder né? (a cliente ia terminar de pagar as prestações de
seu apartamento e ia começar a sobrar um pouco mais de
dinheiro por mês)
5.3 Objetivos por ex.: “Parece que eu me sinto derrotada
na batalha, eu não tenho mais forças pra ficar lutando pra
nada. Mas eu quero tudo isso ainda, né? Não deixei de
querer, é tudo o que todo mundo quer, casar, ter filhos, ter
um bom serviço, então é... é tudo isso que eu também
quero /.../. Porque eu sei o que eu quero, eu não sei como
ir buscar isso que eu quero”.
6. Outros
(foi falado apenas
em uma sessão)
Bater o carro por ex: “Eu fiquei muito nervosa porque
tinha uma professora comigo/.../ eu me senti culpada por
eu não ter tomado cuidado /.../ no dia do acidente eu não
chorei, só que na terça-feira eu fiquei muito mal, eu chorei
o dia todo, o dia todo” (sessão 5).
2.3.2 Análise dos dados
Foi realizada a categorização de 25 sessões de terapia, sendo as
sete primeiras sessões de linha de base (LB): sessão de 1 a 7; oito sessões
classificadas como tentativa de PAF: sessão 8 a 15; e dez sessões do
procedimento PAF: sessão 35 a 44. As sessões que foram classificadas de
tentativa de PAF, na análise final dos dados foram classificadas como LB uma
vez que o procedimento PAF não estava sendo utilizado de foram eficaz e nem
freqüente.
Após a categorização dos trechos foi feita uma equivalência
horária das sessões, tornando o tempo de cada sessão igual a 50 minutos e
tornando os E.E. proporcionais. A equivalência horária das sessões foi
importante para que um E.E. que durasse 20 minutos em uma sessão de 30
minutos fosse diferenciado de um E.E. que durasse 20 minutos em uma sessão
de 60 minutos. Proporcionalmente é mais importante ter falado quase 70% do
tempo sobre um tema do que ter falado 35% do tempo sobre um tema.
Feita a equivalência horária, todos os dados foram inseridos em
uma planilha do Excel, contendo as seguintes colunas: sessão (número da
sessão); LB ou PAF (segundo critério estabelecido no procedimento); duração
E.E.; duração total dos E.E. na sessão; sentimento; PAF (ocorrência ou não);
espontaneidade e tema.
Aspectos éticos
Antes do início da coleta de dados o projeto de pesquisa foi
enviado ao Comitê de Ética em pesquisa com Seres Humanos do IPUSP
(CEPH) e este consentiu com a realização da pesquisa.
Durante a entrevista inicial foi explicado ao cliente que o
atendimento seria para a realização da pesquisa e esse foi informado da
necessidade de gravar as sessões. Esclareceu-se também que as informações
contidas nas fitas gravadas eram sigilosas, e que em qualquer divulgação dos
dados haveria mudança de dados de identificação do cliente. Após o
consentimento do cliente em participar da pesquisa e permitir a gravação foi
assinado, na sessão seguinte, um termo de consentimento informado (Anexo
3) onde o cliente autorizou a utilização dos dados para a pesquisa.
Tomou-se o cuidado ético de prever que, caso necessário, a PAF
seria utilizada antes do previsto no delineamento, se o terapeuta julgasse que
sua não utilização fosse prejudicial ao bom andamento do caso.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente será feita uma breve descrição do caso clínico com o
objetivo de melhor entendimento dos dados.
3.1 Relato dos principais aspectos do caso atendido
A cliente procurou ajuda terapêutica porque considerava que
tinha muita dificuldade em falar nas reuniões de trabalho. Seu objetivo na
terapia era aprender a conviver em grupo e conseguir expor suas opiniões
nessas situações.
Durante a terapia a cliente sempre se mostrou arredia ao contato
físico, seja ao cumprimentar na entrada e na saída das sessões e também não
mantinha contato visual ao longo das sessões. Falava sempre olhando para
baixo ou para frente, sendo que a terapeuta se posicionava em sua diagonal.
As primeiras sessões foram muito difíceis e curtas porque a cliente falava muito
pouco e a terapeuta ficava a maior parte do tempo fazendo questionamentos. A
cliente respondia a esses questionamentos de forma monossilábica ou de
forma sucinta, descrevendo pouco sobre o que era perguntado. Nesta fase
inicial da terapia o comportamento verbal do terapeuta foi classificado, segundo
as categorias de Zamignani (em elaboração), como Terapeuta Solicita Relato
(SRE) e o comportamento da cliente foi classificado como cliente relata fatos
passados ou presentes (REL). Esses comportamentos da cliente são exemplos
importantes de CCR1.
A cliente viveu sua infância e a adolescência numa cidade no
interior do Estado de São Paulo. É a segunda filha de uma família de cinco
filhos, quatro mulheres e um homem. As suas três irmãs eram casadas e com
filhos. Seu irmão, assim como a cliente, se formou no colegial, mudou-se para
a capital e permanecia solteiro.
Já por dez anos a cliente estava morando sozinha. Quando se
mudou para São Paulo, tentou morar com algumas pessoas, morou em
pensionatos, dividiu apartamento com colegas de trabalho e até morou o irmão,
porém essas convivências sempre foram “complicadas”. Havia muitas brigas
porque ela gostava das coisas de um jeito e as pessoas às vezes não
gostavam e acabavam brigando. A cliente relatou que gosta de ter “paz”, ou
seja, ficar sozinha, sem falar com ninguém. Gosta de artesanato, gosta de
arrumar a sua casa, de decorar e organizá-la do seu jeito. Conseguiu financiar
seu apartamento, onde morou inicialmente com o irmão. Os dois se
desentenderam por causa de dinheiro e o irmão saiu do apartamento sem
conversar com ela. No início da terapia os irmãos ainda não se falavam. E
desde então a cliente morava sozinha e considerava isso uma grande
conquista por não ter que “conviver” com as pessoas. Porém morar sozinha
não solucionou seus problemas de relacionamento, por exemplo, quando sua
irmã veio lhe fazer uma visita elas acabaram brigando porque a irmã colocou o
rolo do papel higiênico do lado “errado”. A cliente relatava sentir-se muito
culpada por brigar com todos que freqüentavam a sua casa principalmente a
sua família. Segundo seu relato, se sente muito incomodada quando tem
visitas em casa e fica “torcendo” para elas irem embora.
Em 1998, iniciou uma graduação no curso de Direito em uma
universidade particular do Estado de São Paulo. Relata que seus problemas se
agravaram nessa época, pois tinha que trabalhar em dois empregos durante o
dia e à noite ia à faculdade. No inicio da faculdade a cliente estudava e
trabalhava durante a semana e nos finais de semana estudava os conteúdos
ministrados durante a semana e à noite saía com os amigos para dançar. Aos
poucos parou de sair à noite porque nos últimos períodos da faculdade, não
conseguia estudar somente nos finais de semana. Depois de um tempo
começou a tomar remédio (anfetamina) para ficar acordada durante a semana,
no período da noite para estudar. Nesta mesma época, começou a namorar e
se afastou mais ainda dos amigos. Antes do término da faculdade, a cliente e o
namorado romperam o relacionamento por estarem muito estressados e
brigarem muito. Ao final da faculdade a cliente não tinha mais contato com os
amigos (e não queria ter) e nem tinha mais namorado.
Neste mesmo ano, na escola onde trabalhava brigou com uma de
suas melhores amigas e acabou se afastando de todos, pois no intervalo das
aulas ficava na sua sala para não encontrar com essa amiga. Conta que se
afastou porque não gostava de papos como política e direito e permanecia em
silêncio quando o assunto era esse. Para ela a pior coisa que poderiam dizer
nessa situação era “você está tão quietinha”, pois os amigos estariam
percebendo a sua dificuldade, então ela não conseguia falar mais nada a noite
inteira. Após o término da faculdade, nos finais de semana ela ficava em casa
com as luzes apagadas, no escuro e não atendia ao telefone para que seus
amigos pensassem que ela não estava em casa. Quando iniciou a terapia seus
amigos não ligavam mais e nem a procuravam. A cliente só recebia
telefonemas da família e para pagamento de contas.
Nas reuniões da escola a cliente começou a ter crises de choro
toda vez que lhe era perguntado alguma coisa, por mais simples que fosse a
pergunta. Ou a cliente respondia que não queria responder ou começava a
chorar. Neste momento percebeu que precisava de ajuda, se inscreveu numa
clínica de psicologia que prestava serviço para a comunidade e foi ao
psiquiatra. O psiquiatra receitou um antidepressivo (imipramina), começou com
uma dosagem baixa de medicação e quando iniciou o tratamento com o
pesquisador-terapeuta a cliente estava tomando a dosagem máxima permitida.
A análise de contingências do caso, realizada pelo pesquisador-
terapeuta indicou que um dos principais comportamentos-problema era os que
ocorriam quando era avaliada ou quando discordavam da sua opinião. Nessas
situações, a cliente se comportava respondendo rispidamente e /ou chorando,
o que fazia com que o estímulo aversivo fosse retirado, ou seja, a pessoa que
falou algo ou ficava quieta, ou não exigia que a cliente respondesse. Passou a
se esquivar de tudo que pudesse sinalizar o risco de avaliação ou cobrança.
Observou-se isso no afastamento da cliente de seus amigos, de não andar pela
escola no horário do intervalo e não ter mais nenhum outro tipo de atividade. E
quando era obrigada a estar presente, como nas reuniões da escola, a cliente
entrava na sala de reuniões de braços cruzados, tirava a sua cadeira do círculo
que estava formado e não respondia às perguntas feitas a ela ou então
começava a chorar. Sempre que começava a chorar, o diretor da escola pedia
que ela se retirasse e só voltasse quando estivesse mais calma. As esquivas e
fugas da cliente de situações aversivas para ela estavam sendo muito bem
sucedidas, reforçando (mantendo) desta forma seu comportamento. Porém,
apesar do sucesso da esquiva dos aversivos, teve a diminuição de
reforçadores. Uma vez que a cliente se esquivava de todas as situações,
esquivava-se também de possíveis reforçadores.
O primeiro objetivo da terapia foi a formação de vínculo porque a
cliente estava se esquivando de qualquer contato e poderia vir a se esquivar de
estabelecer um contato com o pesquisador-terapeuta. Os comportamentos do
terapeuta que provavelmente contribuíram para a formação de vínculos,
segundo as categorias de Zamignani, foram o Terapeuta solicita relato (SER), o
Terapeuta facilita o relato do cliente (FAC), e Terapeuta demonstra empatia
(EMP). Considera-se que o vínculo foi estabelecido, pois a cliente falava mais
espontaneamente durante as sessões, mantinha contato visual, cumprimentava
o pesquisador-terapeuta com um beijo no rosto no inicio e ao final das sessões.
Possivelmente o terapeuta foi não apenas uma audiência não punitiva, mas
também uma audiência reforçadora. E havia poucos reforçadores disponíveis
na vida da cliente naquele momento.
O segundo objetivo da terapia foi aumentar os reforçadores
disponíveis na vida da cliente. Primeiro foi trabalhado a reaproximação com os
amigos, depois foi trabalhado o fazer novas amizades, sugerindo novas
atividades como exercícios físicos, trabalho voluntário e fazer amizade com os
amigos de seus amigos. Essas intervenções foram realizadas utilizando os
seguintes comportamentos, ainda segundo as categorias de Zamignani,
Terapeuta fornece informações (INF), o terapeuta solicita reflexão (SRF) e o
terapeuta recomenda ou solicita a execução de ações, tarefas ou técnicas
(REC). Como resultado dessa intervenção, a cliente entrou para um trabalho
voluntário, começou a fazer caminhada com uma amiga que morava perto de
sua casa, entrou num curso de redação com outra amiga, e aos finais de
semana passou a sair para dançar, ir para a casa de uma amiga ou pelo
menos falar com uma amiga pelo telefone.
Um outro momento da terapia foi fazer uma análise do porque a
cliente perdeu a amizade com algumas pessoas importantes como seu irmão e
sua colega de escola e o fazer as pazes com essas pessoas. O terapeuta
nesta fase utilizou as seguintes categorias: terapeuta demonstra empatia
(EMP), Terapeuta solicita reflexão (SRF), terapeuta interpreta (INT), e
terapeuta aprova ou concorda com ações ou avaliações do cliente (APR). A
própria cliente escreveu uma carta para a amiga que trabalha com ela na
escola, entregou em mãos a carta à amiga e depois a amiga telefonou e assim
elas voltaram à amizade. Com o irmão foi um pouco mais difícil, a primeira
tentativa de reaproximação não foi bem sucedida, mas a aproximação do irmão
foi acontecendo aos poucos, em conversas esporádicas pelo telefone e
encontro na casa dos pais. Ao final da terapia, os irmãos estavam bem. Não se
falavam nem se viam com freqüência, mas quando a cliente precisava de algo
se sentia confortável em pedir ao irmão, às vezes este ligava oferecendo
carona quando ia para a casa dos pais deles. Parece ser característica da
relação familiar um distanciamento. Segundo a cliente, eles sempre se
comportaram desta forma, mas que agora ela sabe que não existem mágoas
entre eles.
Outro objetivo da terapia foi a diminuição das esquivas de
enfrentar situações em que julgava que seria avaliada. A cliente estava tendo
prejuízos em sua vida profissional e em sua vida pessoal em função das
esquivas, ou desse “medo”. Inicialmente foram dadas dicas de como proceder
nas situações se não poderia sair delas. Por exemplo, não puxar a cadeira para
fora do círculo; se fosse muito aversivo falar quando questionada, se não seria
melhor falar espontaneamente quando soubesse responder algo ou comentar
sobre alguma coisa. O terapeuta fez análises das conseqüências do
comportamento da cliente em diversas situações e sugeriu formas mais
eficazes de se comportar. Estes comportamentos do terapeuta, segundo as
categorias de Zamignani, foram classificados como Terapeuta Interpreta (INT)
e Terapeuta recomenda ou solicita a execução de ações, tarefas ou técnicas
(REC).
Para iniciar a introdução do procedimento PAF, o pesquisador-
terapeuta começou a criar situações na própria terapia em que a cliente tivesse
que falar. Em algumas situações a terapeuta não falava nada no início das
sessões para a cliente iniciar a conversa, ou quando um assunto encerrava a
terapeuta também ficava quieta de forma que a cliente falasse e ao final de
cada procedimento deste o pesquisador-terapeuta conversava com a cliente
sobre o que havia ocorrido e analisavam os comportamentos clinicamente
relevantes (CCR) trabalhados. Depois, quando essas situações não eram mais
aversivas e a cliente já respondia bem a elas, a terapeuta começou a conversar
sobre assuntos classificados pela cliente como “intelectuais”, por exemplo, o
construtivismo de Piaget, uma vez que a cliente é professora e já havia
relatado não gostar de Piaget, de conversar sobre política, etc. Nas primeiras
conversas “intelectuais” a cliente cruzou os braços, não olhava mais para o
pesquisador-terapeuta e ficou quieta. Quando questionada se ela ficou brava,
como normalmente ocorria nas situações fora sessão, a cliente se esquivou e
afirmou que não tinha ficado brava. Então o pesquisador-terapeuta afirmou que
havia feito de propósito com o objetivo de analisar os comportamentos
ocorridos. A cliente se mostrou mais receptiva quando o pesquisador-terapeuta
afirmou que era intencional, a cliente sorriu e falou que ficou nervosa, que não
esperava, mas que foi bom, que pelo menos isso tinha acontecido com uma
pessoa (o terapeuta) que ela sabe que quer o bem dela (sic). O terapeuta
nessas intervenções utilizou as seguintes categorias: terapeuta demonstra
empatia (EMP), terapeuta solicita reflexão (SRF) e terapeuta aprova ou
concorda com ações ou avaliação do cliente (APR).
Ao longo da terapia uma das questões que se tornou freqüente foi
o fato de que a cliente queria mudar de carreira, que gostaria de trabalhar com
a área de direto. Queixava-se que havia tirado licença médica durante um ano
para estudar e não estava conseguindo. A cliente desejava passar em um
concurso público. Cliente e terapeuta decidiram juntas que ela apresentaria, em
todo inicio de sessão, uma parte do conteúdo que estudou durante a semana
(Terapeuta recomenda ou solicita a execução de ações, tarefas ou técnicas -
REC). O objetivo foi criar uma condição para que ela conseguisse estudar e
expor a cliente a uma situação em que ela seria avaliada, o que era seu grande
problema.
Nas três primeiras tentativas a cliente se esquivou, exatamente
como fazia em reuniões na escola onde trabalha, porém as esquivas foram
analisadas em sessão. O terapeuta criou condições para que o CCR ocorresse
na sessão, porém para a cliente estava muito aversiva a situação. Na primeira
vez a cliente pediu para não falar, pois estava muito nervosa, e o pesquisador-
terapeuta concordou. Na segunda tentativa, a cliente chegou pedindo para não
falar mais uma vez, o pesquisador-terapeuta insistiu fazendo algumas
perguntas sobre o conteúdo, mas a cliente começou a chorar e o pesquisador-
terapeuta analisou junto com a cliente seus sentimentos naquela situação, não
trabalhando o que tinha sido estudado pela cliente. Na terceira tentativa a
cliente já chegou na sessão chorando, porém conseguiu se acalmar um pouco
e falou sobre o que havia estudado. Essas três sessões foram consideradas
tentativas, pois das cinco regras da PAF não ocorreu o CCR2 em sessão. As
cinco regras da PAF são: 1° prestar atenção aos CCRs; 2° evocar CCRs; 3°
reforçar CCRs; 4° observe os efeitos potencialmente reforçadores do
comportamento do terapeuta em relação aos CCRs do cliente e 5° Forneça
interpretações de variáveis que afetam o comportamento do cliente. O CCR1
ocorria e eram analisadas junto com a cliente as variáveis que estavam
evocando tal comportamento assim como formas mais eficazes de se
comportar. Durante as sessões seguintes, a cliente trazia e apresentava toda
semana os conteúdos estudados. Desta forma, pode-se trabalhar em sessão
as esquivas da cliente. Os comportamentos que deveriam ser reforçados e
enfraquecidos estavam ocorrendo em sessão, portanto foram consideradas
como sessões de PAF.
Quanto à generalização dos comportamentos ocorridos em
sessão para situações fora da sessão, algumas ocorreram espontaneamente,
outras foram recomendadas, ou seja, a terapeuta deu dicas de como a cliente
poderia se comportar. Transferência de comportamentos aprendidos não pode
ser verificada no ambiente natural que produzia mais problemas de
comportamento, pois estava de licença da escola, local que era o mais difícil de
conseguir enfrentar. A cliente relatou em alguns momentos que estava sendo
bom trabalhar desta forma na sessão porque estava conseguindo falar em um
curso de redação que estava fazendo, relatou que conseguiu expor suas
opiniões em uma reunião no trabalho voluntário, e estava se relacionando
melhor com os amigos quando estes começavam a discutir política.
Teria sido importante terem sido trabalhadas questões relativas
às relações amorosas da cliente, uma vez que em um ano e quatro meses de
terapia a cliente se referiu a este tema apenas uma vez, no início do
tratamento, quando relatou sobre um antigo relacionamento, mas nunca mais
falou sobre isso. Este conteúdo não foi trabalhado, porém a cliente foi
encaminhada para continuar em terapia.
3.2 Análise dos Registros
O primeiro passo para verificar se ocorreram mudanças nos
sentimentos relatados por pessoa com dificuldade de relacionamento
interpessoal, no decorrer de uma terapia analítico-comportamental, após a
introdução do procedimento de psicoterapia analítico funcional (PAF), foi
verificar se houve mudança na freqüência e na duração de sentimentos
relatados.
Foram analisadas 25 sessões, sendo 15 de Linha de Base (LB) e
dez do procedimento de Psicoterapia Analítico-Funcional (PAF). Quanto à
freqüência, verificou-se que a quantidade de Episódios Emocionais (E.E.)
variou entre as sessões e não estava diretamente relacionada ao procedimento
PAF. Nas sessões de LB a quantidade de E.E. variou entre cinco e doze E.E.,
sendo a média de ocorrências de 7,7 E.E. por sessão. Na PAF a sessão que
teve maior ocorrência de E.E. teve 11 e a menor teve quatro ocorrências. A
média por sessão na PAF foi de oito E.E. Portanto não houve aumento de
freqüência de E.E. após a introdução da PAF.
O mesmo não ocorreu com a duração dos E.E. Nas sessões de
LB a duração média foi de 33 minutos. A sessão com maior duração de E.E. foi
a 12°, com 42 minutos e a de menor duração foi a 2°, com 15 minutos. Na PAF
a duração média dos E.E. foi maior que na LB com 42 minutos, sendo que a
sessão 41 teve a maior duração com 47 minutos e a sessão 43 teve a menor
duração com 25 minutos. A Figura 1 apresenta a duração dos E.E. nas
sessões.
LB
PAF
0
20
40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44
sessões
minutos
Figura 1. Duração dos E.E. nas sessões.
Como pode ser observado na Figura 1 a duração dos E.E. foi
aumentando da segunda a nona sessões. A partir desse momento até a 15ª
sessão a duração dos episódios emocionais permaneceu estável. Com a
introdução da PAF na 35ª sessão, houve um aumento adicional da duração dos
E.E. que passaram a ocupar praticamente a sessão inteira. Pode-se então
afirmar que mudanças na expressão de sentimentos ocorreram antes da
introdução da PAF, mas que essa teve o efeito de aumentar ainda mais a
duração dos episódios de expressão emocional. Houve uma queda na duração
após a sessão 42 até a sessão 44. Essa queda na duração pode ter sido em
função do término da terapia com o pesquisador-terapeuta, quando assuntos
como o da passagem para outra terapeuta e temas relacionados ao término
foram abordados de forma factual, ou seja, sem indicativo de emoção.
A seguir verificou-se o efeito da PAF sobre o tipo de sentimento
(amor, raiva, alegria, tristeza, medo, culpa/vergonha). Os efeitos seriam
uniformes sobre todos os sentimentos?
Nas Figuras 2 e 3 pode-se observar a ocorrência total média e a
duração total média dos cinco principais sentimentos. O sentimento Amor não
apareceu nenhuma vez durante as sessões e por esta razão não foi mostrado
nas figuras.
0
1
2
3
raiva
alegria
tristeza
medo
culpa/vergonha
ocorrências
LB
PAF
0
5
10
15
20
25
raiva
alegria
tristeza
medo
culpa/vergonha
minutos
LB
PAF
Figura 2. Ocorrência Média dos Cinco
Principais Sentimentos na LB e na
PAF.
Figura 3. Duração Média dos Cinco
Principais Sentimentos na LB e na
PAF.
O sentimento de Medo teve tanto duração como ocorrência alta.
O número de ocorrências foi o mais alto, junto com a tristeza, com 2,3
ocorrências médias na LB (variação de 1 a 8) e 2,5 ocorrências médias na PAF
(variação de 0 a 5). Porém a sua duração foi a mais alta de todos os outros
sentimentos, com 11,6 minutos de duração média na LB (variação entre 4 e 34
minutos) e 20,4 na PAF (variação entre 0 e 46 minutos). Isto, provavelmente,
se deve ao fato que a cliente vivia num esquema de esquiva, evitava todas as
situações que pudessem ser aversivas e quando não conseguia evitá-las
relatava sentir medo na situação. Na PAF a estratégia básica utilizada foi expor
a cliente a situações similares na terapia para que pudesse aprender formas
mais eficazes de lidar com situações aversivas, por isso houve o grande
aumento na duração e ocorrência do relato de medo. Esse dado pode ser
entendido como uma melhora, uma vez que a cliente não estava mais se
esquivando da situação e ainda estava falando sobre seu sentimento no
momento em que este acontecia. O aumento da duração dos E.E. de medo
pode ser atribuído à introdução do procedimento de PAF.
O sentimento de Tristeza teve tanto ocorrências como durações
altas. As ocorrências na LB foram em média 2,3 (variação entre 0 e 6
ocorrências), maiores que na PAF nas quais ocorreram 1,4 ocorrências médias
de episódios de tristeza por sessão (variação entre 0 e 4 ocorrências). A
Tristeza foi o segundo sentimento com duração mais longa, com 11 minutos
em média na LB (variação entre 0 e 26 minutos) e 7 minutos em média na PAF
(variação entre 0 e 19 minutos). Este resultado não surpreende uma vez que o
motivo que trouxe a cliente à terapia foi o sofrimento e na PAF a tristeza
também foi esperada porque algumas das situações às quais a cliente era
exposta geraram enfrentamento que foi geralmente associado ao relato de
tristeza e medo. A introdução da PAF parece ter contribuído para uma
diminuição do relato do sentimento de tristeza tanto na ocorrência quanto na
duração.
O sentimento que teve o maior número de ocorrências foi a
alegria (média LB 1,9 variação entre 0 e 6 - e PAF 2,7 variação entre 1 e 5),
porém sua duração era pequena, na LB a duração média foi de 5 minutos
(variação entre 0 e 20 minutos) e na PAF a duração média foi de 7,4 minutos
(variação entre 1 e 19,6 minutos). Os dados mostram que houve um aumento
na duração do relato do sentimento alegria após a introdução da PAF o que
pode ser entendido como um indicativo de melhora. Porém a duração média
desses episódios era baixa, provavelmente pelo fato da cliente relatar coisas
boas que ocorreram sem maiores elaborações. Não parece ser incomum que
em terapia os clientes comuniquem comportamentos de melhora ou coisas
boas que aconteceram, mas que passem a maior parte do tempo falando sobre
seus problemas, fato que os fizeram buscar ajuda.
O sentimento Raiva teve ocorrência e duração muito parecidas
tanto na LB como na PAF. Em nenhuma das duas condições ele foi um
sentimento predominante. Na LB o número médio de ocorrências foi 0,53
(variação entre 0 e 4); na PAF o número médio de ocorrências foi 0,5 (variação
entre 0 e 3). A duração média na LB foi de 2,5 minutos (variação entre 0 e 14
minutos) e na PAF foi de 3 minutos (variação entre 0 e 30 minutos). Com os
dados disponíveis não podemos afirmar que a introdução da PAF tenha
produzido mudanças no relato e expressão de raiva.
Os sentimentos de culpa/vergonha ocorreram em baixa
freqüência e duração tanto na LB quanto na PAF tendo provavelmente
contribuído pouco para o processo de terapia.
Os resultados da duração e ocorrência médias dos relatos de
sentimentos mostraram que três sentimentos tiveram uma alteração chamativa
ou na ocorrência média ou na duração média durante o procedimento PAF.
Foram eles: Medo, Tristeza e Alegria. No primeiro momento a cliente relatava
sentir muito medo e tristeza porque não sabia lidar com as situações às quais
era exposta, num segundo momento a cliente foi entendendo o seu problema,
fazendo análises das contingências e diminuindo aos poucos o relato de
tristeza. Durante todo esse período a cliente relatou sentimento de medo
provavelmente porque estava enfrentando as situações que eram difíceis.
Houve um aumento também na ocorrência do sentimento de alegria, o que
estava relacionado aos enfrentamentos bem sucedidos.
Uma das preocupações do terapeuta ser também o pesquisador
era se ele poderia induzir a cliente a relatar sentimentos, uma vez que este era
o tema da pesquisa. Conforme pode se observar nas Figuras 4 e 5 abaixo isso
parece não ter ocorrido. Os sentimentos foram relatados mais
espontaneamente do que quando questionados tanto na LB como na PAF. O
aumento na duração do E.E. espontâneo foi de 24 minutos na LB para 31
minutos na PAF.
ocorrencia média
0
2
4
6
8
espontâneo não espontâneo
ocorrencia
LB
PAF
duração média
0
10
20
30
40
Espontaneo Não
espontaneo
minutos
LB
PAF
Figura 4. Ocorrência Média de E.E.
Espontâneos e não Espontâneos.
Figura 5. Duração Média de E.E.
Espontâneos e não Espontâneos.
A Figura 6 mostra qual o sentimento foi relatado mais
espontaneamente. A tristeza, seguida do sentimento de medo foram os
sentimentos que foram relatados mais espontaneamente. A tristeza teve 42
ocorrências médias de relato espontâneo e o medo teve 41. O E.E. relacionado
ao sentimento de alegria foi o que apresentou maior ocorrência de
questionamento, ou seja, não espontâneo (35 espontâneos e 21 não
espontâneos). Isto provavelmente se deve ao fato que o terapeuta questionava,
por ex, como tinha sido um programa com as amigas que a cliente mencionou
que faria na semana anterior. A cliente desde o inicio da terapia queixava-se
muito e não observava as coisas boas que aconteciam. O terapeuta sinalizou
os possíveis reforçadores como uma forma da cliente aprender a discriminá-
los.
0
10
20
30
40
50
raiva
alegria
tristeza
medo
culpa/vergonha
não espontaneo
espontâneo
Figura 6. Ocorrência Total de Sentimentos Espontâneos e Não Espontâneos.
Foi computado também o número de ocorrências médio em
relação aos temas referidos pela cliente (Tabela 1). O tema que teve maior
ocorrência na LB foi o Relacionamento Interpessoal Ruim com 4,1 ocorrências
médias por sessão. E na PAF o tema mais relatado pela cliente também foi o
Relacionamento Interpessoal Ruim agora com 2,4 ocorrências médias por
sessão, se observando uma grande diminuição de freqüência após a
introdução do procedimento PAF. Os dados mostram que o tema que teve a
maior freqüência após a introdução do procedimento PAF foi Planos Futuros
(2,0). Este dado corrobora os dados da Figura 2 e 3 que indicaram que a
cliente queixava-se muito no inicio da terapia e depois aprendeu a discriminar
os reforçadores disponíveis ou buscar reforçadores em seu ambiente. Pode-se
dizer que provavelmente o procedimento PAF foi responsável por essa
mudança no tema. Uma das queixas da cliente era não conseguir estudar e
que gostaria de mudar de emprego e no procedimento PAF abordou-se
diretamente essa questão.
Tabela 1. Ocorrência Total Média de E.E. em relação ao Tema a que se refere.
A primeira coluna indica se a condição era LB ou PAF. A segunda coluna
refere-se ao tema relacionamento interpessoal ruim, a terceira refere-se ao
tema relacionamento interpessoal bom. A quarta coluna refere-se ao tema
sentimentos, a coluna ao lado indica o tema Terapia e a última coluna refere-se
ao tema Planos Futuros.
Ocorrência
média por sessão
Ruim Bom Sentimentos Terapia Futuro
LB 4,1 1,5 0,7 0,9 0,3
PAF 2,4 1,8 0,4 0,8 2
Os temas também foram analisados em relação à sua duração
total média com o objetivo de verificar qual tema era abordado por mais tempo
nas sessões e se houve uma mudança após a introdução do procedimento
PAF (Figura 7). Os resultados da duração foram similares aos dados da
ocorrência. Na LB o tema que teve a maior duração média foi o
Relacionamento Interpessoal Ruim com 24 minutos, sendo que na PAF este
tema teve uma diminuição, chegando quase à metade do valor apresentado na
LB (17 minutos). O tema que teve maior duração na PAF foi o de Planos
Futuros, com 16 minutos.
0
5
10
15
20
25
30
Ruim
Bom
Sentimentos
Terapia
Futuro
minutos
LB
PAF
Figura 7. Duração Total Média da categoria Temas.
Foi realizada uma análise da porcentagem de tempo que a cliente
falava sobre um determinado Tema. A Figura 8 mostra a porcentagem de
tempo durante os E.E. que a cliente falava sobre Relacionamento Interpessoal
Ruim (tema com maior freqüência). No início do tratamento a cliente se referia
a esse tema que a totalidade do tempo dos E.E., porém houve uma diminuição
após a introdução da PAF. As últimas sessões foram as sessões de
encerramento da terapia, talvez por essa razão houve um pequeno aumento no
relato de Relacionamento Interpessoal Ruim, mas este não chegou a
porcentagem da LB. Uma possível interpretação para o aumento desse tema
nas sessões finais é a de que foi um sinalizador de que a cliente precisava
continuar fazendo terapia, ou seja, o dado pode ser entendido como um pedido
disfarçado. Na LB a porcentagem mais alta de E.E. na sessão foi de 98%, com
uma média de 62,06 %. No procedimento PAF a maior porcentagem foi de
98%, com uma média de 38,60%. Ou seja, apesar do pequeno aumento no
relato do Tema Ruim ao final da terapia este não foi nem próximo ao relato no
inicio da terapia.
0
20
40
60
80
100
1
3
5
7
9
11
13
15
35
37
39
41
43
sessões
porcentagem dos EE
Figura 8. Porcentagem do tempo dos E.E. no tema Relacionamento
Interpessoal Ruim.
Como houve uma queda no relato do Tema Relacionamento
Interpessoal Ruim buscou-se qual tema havia aumentando, buscando uma
correlação negativa. O tema que aumentou de freqüência após a introdução da
PAF foi aquele sobre Planos Futuros, como mostra a Figura 9. É interessante
notar que nas últimas sessões a fala sobre planos futuros diminuiu, enquanto
houve uma recuperação do tema relacionamentos pessoais ruins, indicando
que as mudanças pareciam estar ainda muito sob controle das conseqüências
fornecidas pelo terapeuta e não ainda suficientemente consolidadas.
LB PAF
0
20
40
60
80
100
1
3
5
7
9
11
13
15
35
37
39
41
43
sessões
Porcentagem de E.E.
ruim
futuro
Figura 9. Porcentagem de E.E. nas sessões em relação ao Tema
Relacionamento Interpessoal Ruim e Planos Futuros.
Verificou-se que sentimentos foram expressos em cada tema, o
que é apresentado na Tabela 2. O sentimento que teve a maior ocorrência nos
temas Relacionamento Interpessoal Ruim, Terapia e Planos Futuros foi o
Medo, com 35, 7 e 12 ocorrências médias por sessão. O sentimento Medo
desta cliente geralmente referia-se a situações de enfrentamento, o que pode
ser entendido como um comportamento de melhora. Conforme já foi descrito a
cliente esquivava-se de qualquer situação que julgava aversiva e um dos
objetivos da terapia foi fazer com que a cliente se expusesse podendo desta
forma aprender a lidar com essas situações assim como se expor a possíveis
reforçadores. Essa exposição gradual gerava relato de sentimento de medo.
Tabela 2. Média de Ocorrência Total de E.E. em relação ao Tema e ao
Sentimento que se refere. A primeira coluna indica os Temas, as colunas
seguintes indicam os sentimentos a que se referem os Temas.
Tabela 2. Média de Ocorrência Total de E.E. em relação ao Tema que se
refere. A primeira coluna indica os Temas, as colunas seguintes indicam os
sentimentos a que se referem os Temas.
Temas/
Sentimento
Raiva Alegria
Tristeza
Medo
Culpa/
Vergonha
Total
Ruim 11 0 26 35 13 85
Bom 0 40 0 1 0 41
Sentimento 0 0 9 5 0 14
Terapia 2 7 5 7 1 22
Futuro 0 8 5 12 0 25
Total 13 55 45 60 14 187
Todos os sentimentos foram relatados quando o tema foi a
terapia. Pelo fato deste tema abordar questão da relação terapêutica e as
análises funcionais que a cliente fazia em sessão era esperado que houvesse
essa variedade de sentimentos. Os outros temas evocaram alguns dos
sentimentos, não todos. Por exemplo, Raiva e Culpa/Vergonha não foram
expressos com relação a Planos Futuros.
3.3 Discussão
O estudo do efeito da PAF com um delineamento quase
experimental AB ou mesmo com um possível delineamento experimental pode
ser prejudicado pela constatação, feita no presente estudo, de que parece
haver a necessidade um tempo até que a PAF seja utilizada de forma
sistemática, para que o terapeuta consiga aplicá-la e que o cliente responda a
essas intervenções. No atendimento realizado a cliente se esquivou dos
primeiros procedimentos PAF propostos pelo terapeuta, o que era previsível
tendo em conta que a queixa selecionada para o estudo era exatamente a de
dificuldades em relacionamentos íntimos, e a proposta da PAF é a de um
relacionamento pessoal e íntimo. Não existe indicação clara na literatura sobre
quanto tempo pode levar a implementação de um relacionamento PAF. Isso
dificulta a atribuição de resultados ao procedimento de intimidade proposto, As
mudanças foram graduais porque o procedimento foi introduzido gradualmente
ou porque qualquer processo psicoterapêutico PAF ou não produziria
mudanças graduais?
Outra questão ético-metodológica foi evidenciada nesse estudo. A
coleta de dados que constou de 44 sessões realizadas em um ano e quatro
meses, é longa para um mestrado, mas foi curta para um caso com
comprometimento bastante severo. As sessões finais foram provavelmente
afetadas não tanto pela atuação do terapeuta em sessão, mas pelo anúncio de
mudança de terapeuta, portanto de término de uma relação mais íntima que foi
desenvolvida.
O método de análise de dados nem sempre conseguiu evidenciar
aquilo que a pesquisadora, por ser terapeuta, identificava. Subdivisão dos
sentimentos em subcategorias poderia ajudar a discriminar mudanças de
comportamento em alguns casos, mas, se levada a efeito, pulverizaria os
dados não permitindo agrupamentos e análises. Por exemplo, numa situação a
cliente relatou medo ao imaginar que havia um bicho andando em sua cama e
a sua reação foi cobrir a cabeça com o cobertor. Numa outra situação a cliente
relatou sentir muito medo ao ter que apresentar uma redação que havia feito a
um grupo de pessoas, porém apresentou sua redação e depois relatou que foi
bem sucedida. Ambos os episódios foram classificados como medo, sendo que
eles se diferem no sentindo que um é se esconder e o outro é enfrentar.
Sentimentos descontextualizados de temas também não
propiciam um entendimento de possíveis mudanças e foi por isso que temas
foram definidos. As decisões tomadas quanto ao número e conteúdo dos temas
nunca satisfizeram totalmente, gerando questionamentos quanto ao seu
agrupamento. Mas são decisões que um pesquisador precisa tomar para que
os dados possam ser sistematizados e possam ir além de um relato de caso.
Possivelmente a formulação da análise de contingências do caso pode servir
de guia para a formulação dos temas, tornando esse passo da categorização
de sessões de psicoterapia coerente com a abordagem idiográfica da terapia
analítico-comportamental e ao mesmo tempo permitindo o estudo sistemático
das intervenções e de seus resultados.
Este trabalho procurou especificar duas formas de atuação
diferentes do terapeuta analítico-comportamental e comparar seus efeitos no
relato e expressão de sentimentos na terapia. Produziu, até certo ponto, os
resultados esperados. Tratou-se de um passo na produção científica sobre
essa modalidade de psicoterapia. Entretanto há necessidade de novas
pesquisas sistemáticas sobre a psicoterapia analítico-funcional aqui no Brasil
procurando utilizar delineamentos experimentais como o delineamento de linha
de base múltipla a fim de alcançar resultados mais conclusivos.
3.4 Conclusão
A partir da análise e discussão desta pesquisa foi possível
responder à pergunta inicialmente feita: É possível verificar se, no
decorrer de uma terapia analítico-comportamental, ocorrem mudanças
nos sentimentos relatados por pessoa com dificuldade de relacionamento
interpessoal, após a introdução do procedimento de psicoterapia analítico
funcional (PAF)?
a) Quanto à freqüência e duração de sentimentos relatados: a freqüência e
a duração dos sentimentos relatados indicaram que houve uma
mudança nos relatos de sentimentos após a introdução da PAF. O
relato de sentimento que teve um aumento expressivo em sua duração
foi o sentimento de Medo. O sentimento que teve uma mudança
expressiva em sua freqüência foi a Alegria. E houve uma diminuição no
relato do sentimento de Tristeza após a introdução da PAF.
b) Quanto ao tipo de sentimento (amor, raiva, alegria, tristeza, medo,
culpa/ vergonha): houve ocorrência de todos os sentimentos menos o
relato de sentimento de amor. O sentimento mais freqüente durante a
LB foi a Tristeza, em seguida o relato do sentimento de medo. E
durante a PAF o mais freqüente foi o sentimento de medo seguido pelo
sentimento de alegria. O relato do sentimento de medo da cliente
atendida, durante a PAF, estava relacionado ao comportamento de
exposição a situações às quais antes da terapia se esquivava.
c) Quanto aos temas dos sentimentos (tais como relacionamento amoroso,
com família, trabalho): Os temas mais freqüentes tanto em duração
como em ocorrência foram o Relacionamento Interpessoal Ruim na LB
e o Tema Planos Futuros na PAF. Houve ainda um pequeno aumento
no relato do Tema Relacionamento Interpessoal Bom após a introdução
da PAF.
Alguns passos foram dados, com esse trabalho, na direção da
produção científica da terapia analítico-comportamental e da psicoterapia
analítico-funcional. Algumas características prezadas por pesquisadores
analistas do comportamento foram apresentadas: obtenção de medidas
repetidas através da observação de gravações das sessões de atendimento e
introdução programada de uma variável de tratamento ainda que com
restrições, sem comprometer aspectos éticos, o que se constitui um passo
preliminar de manipulação experimental. Ainda assim a pesquisa diferiu pouco
da psicoterapia que teria sido desenvolvida num serviço de atendimento.
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Yano, Y (2003). Tratamento Padronizado e Individualizado no Transtorno de
Pânico. São Paulo: SP (Tese de Doutorado)
Zamignani, D. R. (em elaboração) O desenvolvimento de um sistema
multidimensional para a categorização e análise de comportamentos na
interação terapeuta-cliente. São Paulo: SP (Tese de Doutorado).
ANEXOS
ANEXO 1 Manual de Episódios Emocionais
Manual de Episódios Emocionais
(adaptado de Greenberg & Korman 1997 por Brandão 2003)
Um Episódio Emocional (EE) é um trecho da Psicoterapia no qual o cliente fala
sobre experienciar ou ter experienciado uma resposta emocional em um contexto
específico ou contexto que ocorreu. Existem cinco componentes de EE a serem
identificados. Eles são a Resposta Emocional e/ou Tendência á Ação, a Situação ou o
Contexto, a Avaliação e a Preocupação ou Necessidade. Os primeiros três são
tipicamente mais explícitos pelo cliente, portanto são relativamente mais fáceis de
serem extraídos da transcrição da terapia.
Alguns EEs não contem os dois - a Reação emocional e a Tendência à ação. Para
ser considerado um EE, uma narrativa deve conter ou uma Resposta Emocional, ou uma
Tendência a Ação (ou ambos) e uma Situação ou Contexto. A presença da Situação ou
Contexto é necessária para ajudar a diferenciar respostas emocionais de humor. A
presença explícita de Avaliação ou Preocupação não é necessariamente um critério para
um segmento ser considerado um EE. A identificação de um primeiro componente, a
“resposta Emocional” serve como um marcador de EE.
Nesta adaptação do manual, os três últimos componentes não serão analisados.
Componentes de um episódio emocional (EE)
1) Reação emocional (RE)
O reconhecimento de um EE é primeiramente estabelecido pela identificação
de uma descrição do cliente de uma reação afetiva do cliente em resposta a uma
situação, contexto ou evento que ocorreu ou que está acontecendo no momento
presente na sessão (ex. o cliente está chorando). Quando REs são mais
freqüentemente explicitamente de uma natureza emocional (por exemplo, "eu me
sentia maravilhosa"), qualquer expressão de afeto pode constituir uma resposta
emocional (por exemplo, “eu sentia abandonado, ou” algo estava perturbando “), e
então serve como um marcador para o EE”. Mesmo que freqüentemente de uma
natureza problemática, a reação afetiva constitui uma resposta emocional, inclusive
alegria, excitação, etc.
2) Tendência à ação (TA)
A TA representa disposição comportamental ou a tendência que esta
associada à reação emocional, incluindo tendências em direção a mudanças em
relação aos outros (ex. eu queria empurrá-lo; ou eu tinha vontade de atacá-lo). A
presença de um TA é um marcador de um EE. A TA é um “auto-serviço” de ação
significante ou tendência à ação que é direcionada ao individuo para lidar com a
situação.
Abaixo estão 3 ilustrações de seqüências parciais de EE envolvendo TAs:
Situação RE TA
No ônibus Eu senti medo Eu queria sair
Na festa Eu fui humilhada Eu fui embora
Quando eu entrei Eu me senti feliz em vê-
lo
E então eu o abracei
Para reiterar, o TA é parte de uma dupla com o RE, na qual ele é o
comportamento significativo direcionado ou a tendência que está associada com a
experiência subjetiva da reação emocional.
3) Situação (S)
Localizados o RE e/ou a TA, o próximo passo é identificar a situação,
contexto ou evento associado à resposta afetiva. Geralmente o S será encontrado na
transcrição imediatamente antes a resposta emocional, embora não sempre. Como a
resposta emocional, S é com freqüência, relativamente direto e explicitamente
declarado pelo cliente (ex. “eu estava falando com o meu chefe...” ou “na sala...” ou
“quando eu cheguei em casa...”) segmentos que não são claramente identificadas à
situação, contexto ou evento (ex. humor) não são EEs.
Este componente será apenas citado e descrito nesta pesquisa. Nenhum
tipo de análise será feita com ele.
4) Auto-avaliação ou avaliação da situação (A)
-Este componente não será discutido ou analisado nesta pesquisa.
5) Preocupação (C)
-Este componente não será discutido ou analisado nesta pesquisa.
Pontos importantes para selecionar EEs e preencher os Protocolos de Avaliação
(PA)
? Marcadores de episódio emocional:
? O marcador será sempre a primeira expressão emocional do cliente em cada
episódio.
? Caso o terapeuta pergunte para o cliente sobre sentimentos e ele responda, a
resposta do cliente que se constitui do marcador, caso contrário o marcador é a
pergunta do terapeuta.
? Quando o cliente estiver descrevendo ou falando de emoção e for interrompido
por verbalizações mínimas do terapeuta, será computada apenas uma expressão
e não duas do cliente.
Ex. C - Fui, que mando ir, eu quase pirei lá,...
T - Hum hum...
C -... Quase fiquei maluco de nervo e ela falou também que ela falou que
eu arrumei meu guarda-roupa a senhora deve ter ficado confusa, (risos)
por que eu sempre falo que não arrumo meu guarda-roupa, e nunca
arrumo o meu guarda roupa, arrumei esses dias,...
No caso “eu quase pirei lá e quase fiquei maluco de nervo” constitui-se do
marcador. As falas são computadas como uma só.
? Quando selecionar trechos:
? Quando um sentimento for nomeado. (Ex. “Eu adoro ela”. / “Tenho medo de
encontrar o professor na universidade”. / “Eu sei lava prato, mas eu odeio, é
perda de tempo”.).
? Quando um sentimento e/ou sensação forem descritos. (Ex. “Se eu for o meu
pai vai morrer, eu tenho certeza” cliente descreve que está com medo de ir e o
seu pai morrer / “... a minha reserva venceu hoje, eu liguei para a GOL e para a
Rio Sul para adiarem até amanhã, porque eu não sabia o que ia fazer. Meu
Deus!! Como estou louco!”- cliente descreve como está se sentido perdido, sem
fazer o que fazer)
? Quando tendência à ação for descrita. (Ex. “Quando eu vi o professor no
corredor, eu só queria ir embora logo, sair dali”).
? Quando o terapeuta nomear ou descrever sentimento ou sensação do cliente.
(Ex. “Pelo que eu estou entendendo você está me dizendo que se sentiria
culpado em ir fazer residência fora daqui e deixar o seu pai com sua mãe” /
“Estão sensação de não poder ir embora, de precisar ficar aqui com o seu pai é
muito importante”.).
? Quando o terapeuta perguntar para o cliente sobre sentimentos, sensações ou
tendência a ação. (ex. “Como você se sentiu nessa situação?” / “Como foi para
você querer sair do corredor, quando você encontrou seu professor?”).
? Quanto à delimitação do episódio
? O início pode ser em qualquer ponto desde que englobe uma fala do t antes do
cliente expressar emoção. (exceto se a fala anterior do terapeuta for “hum hum”.
Neste caso, procura-se uma fala anterior do terapeuta mais completa). Caso
todas falas anteriores do terapeuta forem “hum hum”, será considerada apenas
uma anterior.
? O episódio deve ser sempre finalizado por uma fala do terapeuta.
? Há a possibilidade de deixar um grande número de falas anteriores para facilitar
a compreensão do episódio (essas falas não serão analisadas).
? Caso logo após a expressão emocional do cliente o t mude de assunto,
considerar como dentro do episódio pelo menos as próximas três falas do
terapeuta (para permitir a análise dos comportamentos imediatos e seqüenciais
do terapeuta).
? Caso o terapeuta ou cliente “volte” ao sentimento anteriormente
discutido, será considerado um novo episódio.
? Um episódio será finalizado quando:
? O assunto for mudado.
? Quando surgir outro sentimento.
? Continuar sendo discutido o mesmo sentimento, mas em relação à outra
coisa.
Regras adicionais para diferenciar EEs
1. Enquanto o uso da palavra “Sinto” pelo cliente geralmente constitui-se de
pré-marcadores (isto é, eles informam que um marcador de EE pode estar
logo à frente), eles próprios não podem ser considerados marcadores.
Assim, a declaração “eu sinto como se ele estivesse tentando me ferir” não é
um marcador de EE, embora “Eu sinto como se ele me ferisse” seja um
marcador. Use o seu julgamento nós iremos identificar se o sentimento de
uma emoção ou tendência à ação está presente.
2. Em geral, use a hierarquia de emoção básica de Shaver et al para categorizar
palavras de emoção (anexo7).
Outros exemplos e exceções seguem abaixo:
3. "esperançoso," "aliviado," "gostou," "satisfeito," "contente," "formidável,”
bom “(ex.” eu me sinto bem, ““ era realmente bom “),” orgulhoso de si “,” e
expressões fortes de interesse positivo serão classificadas tipicamente como
Alegria
4. Desgosto expressado para outros, é raiva.
-expresso para si mesmo, vira culpa e/ou vergonha.
5. “Eu me senti mal.” “Eu estava bravo”. “Aquilo realmente me
chateou”
Esses marcadores de EE freqüentemente nos confundem ao categorizar. Por um
lado, eles definitivamente constituem EEs. Quando expressos junto com outras
palavras de emoção (até mesmo se for o terapeuta que proferir as palavras), a
categorização pode ser fácil. Assim, "eu me sentia mal. realmente culpado” deveria
ser classificado como culpa/vergonha. “Aquilo realmente me deixou brava. Eu estava
furiosa.” É raiva. Porém, esses EEs podem ser difíceis de ser inseridos em uma
categoria de emoção quando expressos isoladamente; ex. "Ele me rejeitou. Eu estava
realmente brava" ainda que um EE, a categoria de emoção deveria ser deixada como
não classificável a menos que haja evidência adicional.
6.
a. “Sentindo-se mal” e “terrível” são casos especiais. Às vezes "ruim"
ou "terrível” são usados para expressar culpa/vergonha. Quando a
avaliação indica claramente que os indivíduos se avaliaram
merecedor de vergonha ou culpa, "sentindo mal” ou “terrível” são
categorizados como culpa/vergonha - por exemplo “O que eu fiz
estava realmente errado. Me sinto mal.” O mesmo é verdade quando
a avaliação indicar tristeza: por exemplo "Minha namorada me
rejeitou. Eu me sinto terrível." - este último exemplo poderia ser
taxado como tristeza, embora sejam duvidosos, os juizes devem ter
seus próprios julgamentos para cada episódio.
b. “Exposto" tipicamente também é categorizado como culpa/vergonha,
embora às vezes seja Medo, dependendo do contexto: exemplos. -
“Quando ela me disse que sabia o que eu tinha feito, eu me senti
exposto" culpa/vergonha. “Eu não tenho dinheiro e o aluguel já
venceu. Eu me sinto exposto”.-medo
Importante: Ruim. Terrível, e exposto (e as variações deles) são os únicos
exemplos onde a Avaliação pode ser usada para determinar categorização de
emoção.
7. "Excluído", “esquiva" “Ansiedade”, “enganado”, “pavor”, “desejo de
esconder-se”, “preocupação”, “pressão” tipicamente são categorizados como
Medo.
8. "Deprimido" é categorizado tipicamente como Tristeza. Porém deve-se
prestar atenção em seqüências onde o cliente fala sobre depressão de forma
geral.
ANEXO 2 Esquema de Palavras Emocionais
Esquema Básico de Palavras Emocionais (adaptado de Shaver et al 1987 re-adaptado
por Brandão e Meyer, 2003)
Amor Raiva Alegria
1. adoração
2. afeição
3. amar
4. apreciação
5. atração
6. carinho
7. compaixão
8. desejo
9. estimular
10. gamado, louco de
paixão
11. gostar
12. luxúria, desejo
ardente
13. paixão
14. prazeroso
15. proteção
16. sentimentalidade
17. ser cuidado por
18. ternura
19. vontade
20. abominação
21. agitação
22. amargura
23. aversão
24. ciúmes
25. desdenho
26. desgostar (não
gostar)
27. desprezo
28. exaltação
29. exasperação
30. feroz
31. frustração
32. fúria
33. hostilidade
34. incomodado
35. inveja
36. ira
37. irritação
38. ódio
39. raiva
40. rancor
41. repugnação
42. resmungar
43. ressentimento
44. ser rabugento
45. ser zangado
46. tormento
47. ultrajar
48. vingança
49. alegria
50. alívio
51. ânsia
52. bem (estar bem)
53. contentamento
54. deleite
55. distração (prazer)
56. ditoso
57. diversão
58. elação
59. emoção
60. encanto
61. enfeitiçada
62. envelo
63. entusiasmo
64. entusiasmo
65. esperança
66. euforia
67. excitação
68. êxito
69. êxtase
70. exultar
71. felicidade
72. gozo
73. jovialidade
74. júbilo
75. orgulho
76. otimismo
77. prazer
78. relaxado
79. satisfação
80. sentir-se melhor
81. sortudo (feliz)
82. ventura
83. zelo
Tristeza Medo Culpa/vergonha
84. agonia
85. abatido
86. alienação
87. angustia
88. arrasado
89. chateado
90. chocado
91. compaixão
92. depressão
93. derrota
94. desagrado
95. desanimado
96. desapontado
97. desesperança
98. desespero
99. desgosto
100. desgraçado
101. doloroso
102. estar na
escuridão/ tristeza
profunda
103. fracassado
104. infelicidade
105. isolado
106. machucado
107. melancolia
108. miséria
109. negligencia
do
110. pena
111. pesar
112. rejeição
113. ruim (estar
ruim/ estar mal)
114. saudade
115. sofrimento
116. solidão
117. tristeza
118. alarmado
119. ansiedade
120. apreensão
121. assustado
122. choque
123. confuso
124. desgosto
125. histeria
126. horror
127. intranqüilida
de
128. medo
129. nervosismo
130. pânico
131. pavor
132. pesaroso
133. preocupado
134. tensão
135. terror
136. embaraçado
137. arrependimen
to
138. culpado
139. humilhado
140. inseguro
141. insultado
142. remorso
143. vergonha
144. constrangido
145. deslocado
ANEXO 3 Termo de Consentimento Informado
Clínica Psicológica da USP
Termo de consentimento
Eu................................................................................................, RG:................................
residente à............................................................................................................................
CEP:................................................, autorizo o Laboratório de Terapia Comportamental
da Clínica Psicológica da USP a gravar e transcrever minhas sessões de terapia, com
finalidade de ensino e pesquisa. Declaro estar ciente de que:
? Qualquer publicação deste material excluirá toda informação que permita minha
identificação por parte de terceiros;
? Estou autorizado a solicitar a interrupção da gravação a qualquer momento, se
julgar que está sendo prejudicial ao meu tratamento.
? O atendimento, semanal, ocorrerá de agosto de 2004 à julho de 2005,
respeitando-se as atividades acadêmicas e científicas da equipe de atendimento;
? Se precisar faltar à terapia ou interromper o atendimento, deverei entrar em
contato pelo telefone 3031-2420, deixando recado com Rosiane.
? Em caso de duas faltas consecutivas sem aviso prévio o desligamento do
tratamento será automático.
------------------------------
Ciente
São Paulo...........de.......................de 2004.
Profissional:
.............................................................................................................................................
(nome completo, função e assinatura)
EXOS
Taccola, Priscilla Araújo (2007). A Psicoterapia Analítico-Funcional e relato de
sentimentos: um estudo de caso quase experimental. Dissertação de Mestrado. Instituto
de Psicologia da Universidade de São Paulo. São Paulo
Errata
Na Substituir
Lista de Tabelas E.E. por Episódios Emocionais.
Pág. 38, linha 13 Essas três sessões foram consideradas
tentativas, pois das cinco regras da PAF
não ocorreu o CCR2 em sessão”.
por
Essas três sessões foram consideradas
tentativas, pois das cinco regras não
ocorreu a segunda das seguintes regras em
sessão.
Pág. 46, Fig 6 Figura 6. Ocorrência Total de Sentimentos
Espontâneos e Não Espontâneos.
por
“Figura 6. Ocorrência Total de Relatos
Espontâneos e não Espontâneos de
Sentimentos”.
Em todo o texto sentimento relatado
por
“relato de sentimento”.
Nas Referências Meyer, S. B. (1994) Sentimentos e
Emoções no Processo Clínico. Trabalho
apresentado no III Encontro Brasileiro de
Psicoterapia e Medicina Comportamental,
Campinas: SP. (não publicado)”
por
Meyer, S. B. (1997). Sentimentos e
emoções no processo clínico. Em: M.
Delitti. (Org.). Sobre Comportamento e
Cognição: A Prática da Análise do
Comportamento e da Terapia Cognitivo-
Comportamental. (pp. 188-194). Santo
André: ARBytes.
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