voltou a cabeça da direita para a esquerda e da esquerda para a direita.
— Sim, senhor, muito bonitos, disse ela, fazendo uma grande mesura de
agradecimento. Onde é que comprou?
Creio que ele não respondeu nada, não teria tempo para isso, porque ela disparou
mais duas ou três perguntas, uma atrás da outra, tão confusa estava de receber um mimo a
troco de um esquecimento. Confusão de cinco ou quatro minutos; pode ser que dois. Não
tardou que tirasse os brincos, e os contemplasse e pusesse na caixinha em cima da mesa
redonda que estava no meio da sala. Ele pela sua parte começou a crer que, assim como a
perdeu, estando ausente, assim o outro, ausente, podia também perdê-la; e, provavelmente,
ela não lhe jurara nada.
— Brincando, brincando, é noite, disse Genoveva.
Com efeito, a noite ia caindo rapidamente. Já não podiam ver o hospital dos Lázaros
e mal distinguiam a ilha dos Melões; as mesmas lanchas e canoas, postas em seco, defronte
da casa, confundiam-se com a terra e o lodo da praia. Genoveva acendeu uma vela. Depois
foi sentar-se na soleira da porta e pediu-lhe que contasse alguma coisa das terras por onde
andara. Deolindo recusou a princípio; disse que se ia embora, levantou-se e deu alguns
passos na sala. Mas o demônio da esperança mordia e babujava o coração do pobre diabo, e
ele voltou a sentar-se, para dizer duas ou três anedotas de bordo. Genoveva escutava com
atenção. Interrompidos por uma mulher da vizinhança, que ali veio, Genoveva fê-la sentar-
se também para ouvir "as bonitas histórias que o Sr. Deolindo estava contando". Não houve
outra apresentação. A grande dama que prolonga a vigília para concluir a leitura de um
livro ou de um capítulo, não vive mais intimamente a vida dos personagens do que a antiga
amante do marujo vivia as cenas que ele ia contando, tão livremente interessada e presa,
como se entre ambos não houvesse mais que uma narração de episódios. Que importa à
grande dama o autor do livro? Que importava a esta rapariga o contador dos episódios?
A esperança, entretanto, começava a desampará-lo e ele levantou-se definitivamente
para sair. Genoveva não quis deixá-lo sair antes que a amiga visse os brincos, e foi mostrar-
lhos com grandes encarecimentos. A outra ficou encantada, elogiou-os muito, perguntou se
os comprara em França e pediu a Genoveva que os pusesse.
— Realmente, são muito bonitos.
Quero crer que o próprio marujo concordou com essa opinião. Gostou de os ver,
achou que pareciam feitos para ela e, durante alguns segundos, saboreou o prazer exclusivo
e superfino de haver dado um bom presente; mas foram só alguns segundos.
Como ele se despedisse, Genoveva acompanhou-o até à porta para lhe agradecer
ainda uma vez o mimo, e provavelmente dizer-lhe algumas coisas meigas e inúteis. A
amiga, que deixara ficar na sala, apenas lhe ouviu esta palavra: "Deixa disso, Deolindo"; e
esta outra do marinheiro: "Você verá." Não pôde ouvir o resto, que não passou de um
sussurro.