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Chica — Pois não sabes que ele é republicano, e escreve artigos contra o Senhor
Subdelegado, que faz o que entende? Manda quem pode! E a graça é que está
proibida a leitura do Imparcial, sob pena de três dias de prisão e multa
correspondente... a três meses!
Barnabé — Se esse pássaro de arribação se contentasse com escrever gazetas
contra a autoridade, era bem bom, mas arrastar a asa à minha noiva!...
Botelho — Lá nesse ponto, Barnabé, podes estar sossegado.
Guilherme — Ora adeus! cá estamos nós!
Os Homens — E também nós!
As Mulheres — E então nós? e então nós?
Barnabé — Vocês tem razão, meus estimados sogros e sogras; quando uma
rapariga tem tantos pais e tantas mães, não se deve temer um sedutor! (Rumor
fora.)
Bitu (Fora.) — Meu povo, daqui a nada aparece o Imparcial! A assinatura são cinco
mil réis por trimestre, pagos adiantados! Número avulso, cem réis! (Entrando.) Daqui
a pouco será distribuído o interessante e enérgico periódico o Imparcial! Vem
descompostura bravia! Viva a liberdade de imprensa!
Vozes (Fora.) — Viva! viva!
Cena V
Os mesmos, Bitu
Botelho — Então já saiu do xilindró, Nhonhô Bitu?
Bitu — Olé! que chiquismo!
Guilherme — Mais dia, menos dia, o senhor é enforcado ali ao Largo da Matriz!
Bitu — Não creia nisso, Mestre Guilherme; fui hoje solto pela qüinquagésima; mas é
muito provável que me prendam daqui a pouco, logo que se distribua o Imparcial,
para ser solto amanhã. E que fazem vocês, infelizes filhos de Maria Angu? Que
fazem vocês, que não reagem contra as arbitrariedades de um burlesco fanfarrão,
arvorado em autoridade policial? Mas, ora adeus! diz o ditado “o boi solto lambe-se
todo”; eu mesmo preso lambo-me bem...
Barnabé — Então você é boi?
Bitu — Já estabeleci na Câmara Municipal, isto é, na cadeia, o meu escritório de
redação.
Cardoso — Mas o senhor quem é e de onde veio, não nos dirá?
Bitu — Pergunta-me bem a quem não lhe pode responder. Todos sabem a minha
história, menos eu, que ignoro quem sou, de onde vim e para onde vou. Aqui onde
me vêem está um grande homem! Abraço as idéias do século e pugno pela nobre
causa da democracia! Em 1867 tentei proclamar uma pequena república na Ilha dos
Ratos! Foi a falta de metal sonante que me privou de fazer lavrar a minha santa
propaganda...
Barnabé (À parte.) — Santa propaganda! nunca vi esta santa na folhinha!
Bitu — Mas para que todo este aparato?
Barnabé (À parte.) — Um bonito nome! Propaganda!
Chica (A Bitu.) — Temos hoje um casório.
Barnabé (À parte.) — Quando tiver uma filha, hei de chamá-la Propaganda!
Botelho (Mostrando Barnabé.) — E o futuro está presente.
Bitu — Pois é este paspalhão? Estou passado!
Barnabé — Paspalhão é ele!