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(...) free land was nature, and nature in this system of ideas is unqualifiedly benign.
Indeed, it is itself the norm of value. There is no way to conceive possible bad
effects following from the impact of nature on man and society
19
Para Wegner, nos textos de Sérgio Buarque cujo enfoque temático se centra
na conquista do sertão americano pelos bandeirantes, pode-se perceber a
importância que a tese da fronteira de Turner exerceu sobre ele, nos meses em que
esteve nos Estados Unidos, em 1941.
∗
A opção pela explicação situacional feita
por Sérgio Buarque nos livros sobre a ocupação dos territórios a oeste permite ao
autor conciliar os traços ibéricos ainda presentes na sociedade brasileira de sua
época e valores modernos, entre os quais a democracia. Essa conciliação não
parecia possível em Raízes do Brasil no qual se encontra presente e em aberto a
questão da superação do tradicionalismo brasileiro. Sem dúvida, a caracterização
da plasticidade portuguesa já coloca em evidência, em Raízes do Brasil, questão
da adaptação às condições de vida do Novo Mundo. Entretanto, o argumento de
que a colonização da América portuguesa foi fundamentada na lógica da
adaptação, ou seja, na lógica da fronteira, ainda não está presente no livro de
1936.
É de fundamental importância notar que Wegner insere Visão do Paraíso no
conjunto de textos de Sérgio Buarque cujo enfoque interpretativo é caracterizado
pela explicação situacional. À primeira vista, é difícil compreender esta inserção
uma vez que quase toda segunda metade deste livro é dedicada a uma espécie de
genealogia que busca traçar os contornos clássicos, medievais e renascentistas das
“visões” do paraíso. Ou seja, aparentemente, há aqui uma ênfase na gênese da
projeção dos motivos edênicos no Novo Mundo. Wegner parece argumentar,
contudo, que a ênfase não está na gênese — como em Raízes do Brasil —, mas
na projeção, ou por outras palavras, na adaptação do mito e seus motivos à nova
situação que é a vida nos territórios americanos. Este argumento somente pode ser
19
SMITH, H. N., Virgin Land, p. 256.
∗
Robert Wegner argumenta que “a estadia na América do Norte parece ter sido relevante para o
redimensionamento do trabalho de Sérgio Buarque e, se estamos longe de chegar a afirmar que a
escolha do tema dos bandeirantes tenha sido uma conseqüência daquele ambiente, creio que foi
importante para a formulação de seu enfoque de pesquisa.” In: Robert WEGNER, op. cit., 2000, p.
120. Este enfoque esta presente no artigo “Considerações sobre o Americanismo”, de 1941, no
qual Sérgio Buarque apresenta uma tentativa de aproximar as colonizações do Brasil e dos Estados
Unidos ou, ao menos, de amenizar as discrepâncias entre elas. Esta tentativa vai estar presente
também na abordagem temática e interpretativa de Monções e Caminhos e Fronteiras, publicados
em 1945 e 1957, respectivamente.
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