67
no campo. Ao se dissolver, por ruptura, o campo mostra portanto os
pressupostos que dominavam uma certa forma de pensar e sentir, que
as forças emocionais estavam em jogo e qual sua lógica.
92
Para Herrmann, a interpretação é um pro
cesso
ou um ato falho a dois
93
- que, em uma sessão, pode tomar a forma de uma seqüência de falas
aparentemente sem muita pretensão, mas que tem a marca do desencontro de
campos
aquele em que se assenta a auto-representação momentânea do
paciente e o da escuta do analista
94
. Portanto, é neste momento que pode
ocorrer a ruptura de campo, cujo efeito faz-se sentir no passado interior, na
espessura da memória, a que se chama, como, aliás, a muitas outras coisas,
o
inconsciente
.
95
Como diz F. Herrmann, ao comentar os movimentos na análise em
direção à ruptura de campo,
De seu ponto de vista e com um dos pés fora do campo do
analisando, o psicanalista está inteiramente exposto às
incongruências que circulam na fala do outro. E é o simples fato de
retorquir, mostrando uma delas, que desencadeia o efeito
psicanalítico geral.
96
92
Idem
.
Clínica psicanalítica; a arte da interpretação
.
p.
103.
93
Idem
.
Análise didática em tempos de penúria teórica.
Rev. Bra
s. Psicanálise.
v
.32, 1998
p.701.
94
Na conversa psicanalítica, a dupla, analista e paciente, não estão falando a mesma coisa. Há uma assimetria
irremediável e benéfica na relação entre os dois: um fala de si, o outro fala de quem fala
(cf.
Idem,
O Divã a
passeio: à procura da psicanálise onde não parece estar.
p. 19).
95
Idem. Da Clínica extensa à alta teoria. Meditações clínicas. Terceira meditação: O tempo, o sujeito e a cura. Texto
apresentado no curso Da Clínica Extensa à Alta Teoria, na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo,
segundo semestre de 2002. pp. 4
-
6.
96
Idem
.
Introdução à Teoria dos Campos. p. 52-
53
. O que há de novo aqui em relação à Psicanálise de Freud?
Segundo a opinião do próprio Herrmann, a descrição do método de ruptura de campo não corresponde a uma
descoberta da Teoria dos Campos, sendo antes a recuperação de um patrimônio que esteve sempre à mão, implícito
na atividade dos analistas, e quase
explícito, apenas não explicitado, na invenção da Psicanálise por Freud. A psique
transmitida pela obra freudiana possui a forma do método de ruptura de campo, na mesma medida em que o
universo físico, como hoje o concebemos, espelha a forma do método da Física
o que responde, enfim, à
questão
delicada de saber se é ou não demasiado ambiciosa a afirmação de ser a Psicanálise uma ciência geral da psique
(Cf.
Idem
. Segunda Conferência: o Método. In: O que é Teoria dos Campos? Curso ministrado no Congresso
Internacional de New Orleans. Março de 2004. p. 8. Versão distribuída em aula).