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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
ADENIR ROBERTO FERNANDES DE MELO
A PRÁTICA DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA PERMEADA
PELA UTILIZAÇÃO DA CALCULADORA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA
São Paulo
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
ADENIR ROBERTO FERNANDES DE MELO
A PRÁTICA DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA PERMEADA
PELA UTILIZAÇÃO DA CALCULADORA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de MESTRE PROFISSIONAL EM
ENSINO DE MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora
Doutora Laurizete Ferragut Passos
.
.
São Paulo
2008
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Banca Examinadora
________________________________________
________________________________________
________________________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________
Dedico este trabalho a Deus, por fazer-
me forte nas minhas fraquezas.
Aos meus pais, Antonio e Alair, e aos
meus dois amores, minha esposa Ariane e
meu filho Cauã, pelo cuidado e pela
compreensão.
AGRADECIMENTOS
Foram muitos os que me ajudaram nesta caminhada que
durou quase três anos e meio, do momento da inscrição
até a banca de defesa. Agradeço:
Aos meus pais, Antonio Fernandes de Melo e Alair
Darci de Lima Melo, que, apesar de terem estudado
pouco, souberam transmitir princípios éticos e morais e,
com coragem e fibra, criaram seus três filhos de maneira
simples, dedicando a eles muito carinho e amor.
Ao meu irmão, Antonio José Fernandes de Melo, colega
de sala, que me acompanhou sempre neste curso e a quem
parabenizo por também estar terminando seu mestrado.
À minha esposa, Ariane, outra pessoa importante, sempre
ao meu lado, dando-me apoio e conforto em momentos
difíceis.
Ao meu filho, Cauã, que, apesar de ter apenas cinco anos
de idade, compreendeu os muitos momentos que ficou sem
minha presença para eu dedicar-me aos estudos.
À Professora Doutora Laurizete Ferragut Passos, por
sua orientação competente, por sua compreensão, pela
amizade, pela dedicação, pelas críticas e pelo incentivo e,
sobretudo, pela oportunidade valiosa de trabalharmos
juntos.
Às Professoras Doutoras Rosana Giaretta Sguerra
Miskulin, Cileda de Queiroz e Silva Coutinho, pelas
sugestões conexas oferecidas na qualificação.
À Professora Doutora Ana Lúcia Manrique, que me
ajudou muito com suas idéias e sugestões durante a
pesquisa.
Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por
tudo o que ensinaram.
Aos professores e pesquisadores participantes desta
pesquisa, por contribuírem para a sua realização.
À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, pelo
Programa Bolsa Mestrado.
A todos os colegas de turma do Mestrado Profissional em
Ensino de Matemática, pela oportunidade de estudarmos
juntos e pela amizade.
E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram
para a realização deste estudo.
A todos vocês, muito obrigado!
O Autor
RESUMO
Ao longo de décadas, o ensino de Matemática no Brasil vem sofrendo mudanças, críticas
e adaptações, visando reformular as práticas educativas empregadas na escola, de forma
a estar em sintonia com as mudanças sociais e os avanços tecnológicos. Para otimizar o
tempo e poupar o aluno de procedimentos que não contribuem com seu real
desenvolvimento, os instrumentos tecnológicos podem servir como recursos didáticos
nas atividades matemáticas; entre esses instrumentos está a calculadora. Este estudo
tem por objetivo entender como acontece a utilização ou não da calculadora, em sala de
aula, e compreender a visão dos pesquisadores que aprofundaram seus estudos sobre o
assunto. Buscou-se construir as idéias em torno do que os professores e os
pesquisadores pensam ou concebem sobre a utilização dessa conquista da tecnologia
a calculadora nas aulas de Matemática. Entrevistados professores do Ensino
Fundamental e Médio das redes pública e particular de ensino e pesquisadores da área
de Educação Matemática que se dedicam ao tema “calculadoras”, emergiram quatro
eixos de análise relativos ao uso ou não da calculadora nas aulas de Matemática
motivações para o uso; formas de utilização; formação do professor; e desafios no uso da
calculadora —, que foram interpretados a partir desses depoimentos e da literatura
estudada. Da análise, pode-se inferir que a calculadora tem sido usada como motivação
para a realização de tarefas exploratórias e de investigação, a correção de erros, a
verificação de resultados, a auto-avaliação e como recurso na resolução de situações
desafiadoras pelo aluno. Constatou-se também, que, além de um investimento maior na
formação dos professores, a introdução de tecnologias na escola, como a calculadora,
depende do interesse das políticas públicas em alterar as condições das escolas e
possibilitar o desenvolvimento profissional de professores em relação ao trabalho voltado
para o mesmo.
Palavras-chave: calculadoras; tecnologias; prática de professores; Matemática.
ABSTRACT
For decades, Mathematics teaching in Brazil has been experiencing changes, criticism
and adaptations, aiming at reformulating educational practices used at schools so that
they are in accordance with social changes and technological advances. In order to
optimize time, sparing students from procedures that do not contribute to their real
development, technological tools can serve as teaching resources in mathematics
activities, one of which is the calculator. This study aims at getting to know the practice of
mathematics teachers and researchers using the calculator in mathematics lessons and
understanding what they consider important in this educational practice. As teachers of
primary and secondary education (in both public and private schools) and researchers,
who studied the topic “calculators”, were interviewed, four strands of analysis emerged
that pointed the essential characteristics for and against the calculator in mathematics
classes: motivation for use; forms of use; teacher training and challenges in using the
calculator. These strands were interpreted based on the subjects, teachers, researchers
and literature. From the analysis, it can be understood that the calculator has been used
as a motivational tool in exploratory and discovery activities, error correction, results
checking, self-evaluation and in challenging situations in which the student use it as a
resource to resolve tasks. An additional finding was that, besides investing in teacher
training, introducing technology such as the calculator in classes, depends very much on
the interest of public policies in changing the conditions of schools and enabling the
professional development of teachers.
Key words: calculators; technologies; teacher practice; mathematics
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11
CAPÍTULO I ………………………………………………………………………………... 21
1.1 Calculadora como resultado da tecnologia ..................................................... 21
1.2 A escola e sua tecnologia ............................................................................... 23
1.3 Calculadoras e sua evolução .......................................................................... 27
CAPÍTULO II .............................................................................................................. 31
DESAFIOS NO USO DA CALCULADORA .......................................................... 31
2.1 O professor e seu papel diante da calculadora ............................................... 31
2.2 Possibilidades de uso da calculadora pelo professor ..................................... 37
CAPÍTULO III ............................................................................................................. 43
AVANÇOS TECNOLÓGICOS E A ESCOLA ....................................................... 43
CAPÍTULO IV ............................................................................................................. 59
CALCULADORA: DADOS DE PESQUISA E REFLEXÕES DE ALGUNS
PESQUISADORES ............................................................................................... 59
CAPÍTULO V .............................................................................................................. 65
A PESQUISA ........................................................................................................ 65
5.1 Descrição dos sujeitos .................................................................................... 65
5.2 Procedimentos de coleta ................................................................................. 68
5.3 Conhecendo os sujeitos .................................................................................. 69
CAPÍTULO VI ............................................................................................................. 73
INTERPRETANTO OS EIXOS DE ANÁLISE ....................................................... 73
6.1 Motivação para o uso ...................................................................................... 73
6.2 Formas de utilização ....................................................................................... 79
6.3 Formação do professor ................................................................................... 90
6.4 Desafios no uso da calculadora ...................................................................... 95
CAPÍTULO VII ............................................................................................................ 105
EM TEMPOS DE CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................... 105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 113
ANEXOS .................................................................................................................... 119
11
INTRODUÇÃO
Os estudos têm mostrado que um conteúdo não se tornará mais fácil pela
simples utilização de um recurso tecnológico. Para Miskulim (2003), as
tecnologias, cada vez mais presentes nos meios de produção e serviços, exigem
o conhecimento científico das pessoas na resolução de problemas novos. Assim
sendo, a inserção de uma nova tecnologia deve vir acompanhada de um pensar,
e sua utilização, por si só, não irá facilitar a vida e o entendimento de qualquer
conteúdo por parte do aluno ou tampouco diminuirá o trabalho do professor.
A utilização da calculadora ou de qualquer outro recurso de forma
planejada pode contribuir com a aprendizagem de vários conteúdos matemáticos,
possibilitando ao aluno desenvolver a capacidade de investigar idéias
matemáticas, como também formular e testar hipóteses e, assim, buscar
coerência em seus cálculos, comunicando suas idéias e argumentando sobre elas
com clareza.
A utilização da calculadora em sala requer um conhecimento prévio de
suas limitações e possibilidades. Assim, o aluno deve saber por que o seu uso foi
permitido, como também os objetivos de sua utilização. Para Machado (2004), “os
recursos para instrumentar a ação do professor, nos diversos níveis de ensino,
são cada vez mais numerosos”.
Os alunos, a todo o momento, fora do ambiente escolar, entram em
contato com produtos da tecnologia, como a calculadora, o computador, ou pelo
menos sabem que existem. Para os alunos da rede pública, porém, a calculadora
talvez seja a primeira tecnologia com que eles têm contato.
12
O uso da calculadora em sala de aula tem sido mostrado em várias
pesquisas (OLIVEIRA, 1999; KARRER, 1999; RÚBIO, 2003; FEDALTO, 2006)
que relatam que a calculadora, bem usada, pode favorecer o entendimento de
conteúdos por parte dos alunos.
Os benefícios e os malefícios que decorrem de seu uso na sala de aula
são um assunto complexo. De um lado, alunos que fazem uso indiscriminado
desse instrumento, sem ao menos conseguir realizar as operações mais simples;
de outro lado, o seu uso pode liberar o indivíduo dos cálculos mecânicos, o que
pode apresentar vantagens, como tornar a aula mais atrativa; motivar o aluno;
estimular o raciocínio; deixar o aluno mais seguro; permitir que o aluno faça
estimativas; realizar o trabalho com dados reais.
Porém, existem algumas desvantagens, como, por exemplo, deixar o aluno
dependente de seu uso; oferecer poucas funções, pois muitas calculadoras não
trabalham com frações ou com expressões literais e apresentam valores
aproximados. Segundo Machado (2004), deve-se evitar supor que, somente
porque algo é novo, seja melhor e melhorar, uma vez que, no terreno das
tecnologias, é nítida a idéia de progresso, em que o novo é sempre considerado
melhor que o velho. Tal automatismo não pode ser encontrado em qualquer outro
setor da atividade humana.
Nessa perspectiva, Machado (2004) comenta:
Se é possível afirmar-se, por exemplo, que hoje dispomos de
melhores recursos tecnológicos do que na antigüidade clássica no
terreno da engenharia ou das construções navais, por exemplo, o
que torna nossa engenharia superior à dos clássicos, o mesmo
não se pode afirmar numa comparação correlata, que a música do
século XXI não é automaticamente melhor do que a do século
XVIII ou XIX. Em outras palavras, o novo não é um valor apenas
porque é novo, como no terreno da tecnologia. A transposição
desse automatismo para as práticas na sala de aula é, além de
indevida, perniciosa. (p. s/n)
Quando se decide ensinar Matemática com o auxílio da calculadora em
sala de aula, opta-se por um caminho não voltado apenas para as habilidades de
cálculo e para a resolução de operações básicas. Apesar de estas terem
importância em Matemática, é preciso combater os exageros que ainda hoje
acontecem, ao afirmar que o ensino de Matemática está centrado no cálculo e na
13
memorização de fórmulas e regras. É preciso que os professores estejam cientes
disso e assim possam partir para um novo ensino de Matemática.
Este novo perfil do professor é indicado por Simião e Reali (2006) como
sendo:
Um produto de um processo educacional que deve ter por objetivo
a criação de ambientes em que o aprendiz vivencie essas
competências. Quando refletimos sobre o sistema educacional
para essa nova sociedade do conhecimento é impossível ignorar
o uso da tecnologia. [...] repensar a educação não é somente
acatar propostas de modernização, mas repensar a dinâmica do
conhecimento de forma ampla e, como conseqüência, o papel do
educador como mediador desse processo. (p. 128)
Em atividades planejadas ou não, a calculadora pode ser utilizada, pois
auxilia o cálculo dos problemas, desempenhando um papel de auxiliar na
descoberta de novos conceitos, e pode trazer o trabalho de sala de aula para
perto do dia-a-dia do aluno. Para Ponte (1989), a calculadora, por si só, é uma
fonte natural de novos problemas e conceitos, como arredondamentos e
aproximações. Dessa forma, o professor pode trabalhar com mais dados da vida
real do aluno.
Nesse sentido, Silva (1989) destaca:
O trabalho com números de maior ordem de grandeza torna-se
mais relevante com a utilização das calculadoras, pois com esse
instrumento é possível explorar suas possíveis decomposições,
favorecendo, assim, o entendimento do número e seu papel no
cotidiano, ao ser relacionado sempre com fatos vivenciados pelos
alunos. (SILVA, 1989, apud FEDALTO, 2006, p.11)
Com o uso da calculadora o professor pode levar até os alunos situações
com números, que sem ela talvez não fossem possíveis; assim, o professor não
precisa ficar procurando situações que envolvam valores numéricos de fácil
manipulação para seus exercícios. Dessa forma, as situações tornam-se mais
próximas da realidade do aluno, visto que, na maioria das vezes, quando um
resultado encontrado não é exato, a maioria dos alunos questiona a veracidade
do resultado obtido.
14
Sabe-se que todas as classes profissionais, como empresários,
engenheiros, médicos, bancários e contadores fazem uso da calculadora ou de
algum tipo de tecnologia, aproveitando-se ao máximo delas hoje, e assim
desfrutam de grandes benefícios. No entanto, a Educação ainda está rechaçando
o instrumento primordial e fundamental da nossa era – a “tecnologia”.
Borba e Penteado (2001) indicam ser a alfabetização informática na escola
tão importante quanto a alfabetização em língua materna e Matemática.
No momento em que os computadores, enquanto artefato cultural
e enquanto técnica, ficam cada vez mais presentes em todos os
domínios da atividade humana, é fundamental que eles também
estejam presentes nas atividades escolares. Na escola, a
alfabetização informática precisa ser considerada como algo tão
importante quanto a alfabetização na língua materna e em
matemática. (p. 85)
Com base nas considerações dos autores, pode-se indicar que as
tecnologias invadem, a todo momento, algum ambiente antes impensado, e assim
torna-se urgente a preparação dos alunos para essa alfabetização informática.
Como exemplo da necessidade atual de interagir com as modernas tecnologias,
pode-se citar gerações passadas, que não tiveram este tipo de alfabetização e
hoje têm dificuldades com essas novas tecnologias.
O fato é que se deve ser encarar o desafio, democratizar o acesso aos
recursos tecnológicos e possibilitar a todo cidadão uma alfabetização tecnológica.
Não encarar esse desafio é contribuir com o processo de exclusão digital.
(GARCIA, 2005).
Pode-se considerar que o computador, por exemplo, tem hoje a mesma
importância que o livro, cuja invenção abriu fronteiras inimagináveis, foi agente da
sistematização eficaz do conhecimento um legado à posteridade, alicerçando a
humanidade para o avanço. Com o computador acontece o mesmo, hoje.
Não se pretende dizer que, para haver melhoria na educação, é necessário
que esta esteja voltada exclusivamente para o uso das tecnologias, mas, como a
sociedade como um todo depende muito da tecnologia, impõe-se que a escola
reveja e discuta esses recursos colocados à disposição do homem. O sucesso
15
dos alunos também depende do acesso a essas tecnologias e da eficácia com
que as utilizam.
Dentre as tecnologias, o computador aparece com destaque e importância
para a educação; mas qual deveria ser sua utilização, de maneira inteligente, na
educação? Passar informação, administrar e avaliar as atividades, como é feito
tradicionalmente, ou possibilitar mudanças no sistema atual de ensino? Ou
deveria ser usado para construir o conhecimento? Para Valente (2002), essa
questão não é um atributo inerente ao computador, mas está vinculada a como
concebemos a tarefa em que ele será utilizado.
Também não se pode dizer que não haja nenhum tipo de tecnologia, em
especial a calculadora, sendo aplicada na Educação; contudo, o seu uso na
educação poderia ter avançado muito em relação à fase atual.
A tecnologia pode ser uma saída para novas propostas pedagógicas: por
meio da inclusão tecnológica, as aulas podem se tornar mais dinâmicas,
empolgantes e estimulantes. As diversas mídias poderão facilitar o aprendizado: o
aluno, quando estuda ouvindo, vendo e vivendo, poderá ter mais chances de
compreender e fixar solidamente conteúdos. “A tecnologia fornece um ambiente
onde as crianças podem colher informações em vários formatos e, assim,
visualizar, ligar e descobrir relações entre fatos e eventos” (RÚBIO, 2003, p. 45).
Segundo Libâneo (2000), o vídeo, o computador, o telefone, a televisão,
são veículos de informação, de aprendizagem e não podem mais ser ignorados
pelos professores. Para o autor, tempos o professor e o livro didático deixaram
de ser as únicas fontes de conhecimento.
Dentre todas essas tecnologias citadas, o uso da calculadora está ligado a
muitos fatores, entre eles a concepção que o professor tem da Matemática e do
seu ensino. Existem professores que valorizam muito as habilidades de cálculo de
seu aluno quando resolvido com lápis e papel, e, talvez, inserindo a calculadora o
aluno possa vir a perder essas habilidades, que para esses professores são
fundamentais. Assim, provavelmente não permitirão seu uso em suas aulas.
Sobre isso, Mocrosky (1997) pondera:
16
Os instrumentos tecnológicos não substituem o pensar e a
atividade humana; assim, imaginar que a calculadora afasta o
aluno do lculo não seria, comparativamente, imaginar que um
processador de texto afastaria seu usuário dos conhecimentos da
redação. (p. 7)
Nobre (1985), voltando ao sistema escolar greco-romano, relata que as
operações básicas não pertenciam à rotina dos alunos, pois eram os
especialistas, chamados artesãos, que realizavam tais operações. O cálculo não
pertencia à formação da pessoa. Portanto, o argumento de que resolver todos os
tipos de operação desenvolve raciocínio e criatividade não se torna convincente.
Se assim fosse, os gregos e os romanos não teriam nenhuma criatividade ou
raciocínio.
Cada professor, de acordo com sua formação acadêmica ou por
circunstâncias durante sua carreira, concebe a Matemática de uma forma, e é
nesse contexto que a calculadora pode ser vista como uma poderosa ferramenta
de cálculo, que diminui o tempo na resolução de exercícios e pode abrir espaços
para discussões dos processos e resultados. Para Machado (2004), a
característica mais forte ligada às tecnologias é a rapidez, o que possibilita que os
alunos se dediquem ao entendimento dos conceitos, deixando para a calculadora
a tarefa demorada dos cálculos.
Outra preocupação é que a calculadora também pode ser vista como um
instrumento que pode diminuir as habilidades de cálculo do aluno, e que, sem ela,
este poderá não conseguir realizar nem mesmo as operações básicas. É
importante que todos os professores tomem ciência do que é ou não importante
para os alunos em sala de aula. Em relação ao uso da calculadora, deve-se
sempre buscar informações, estudar o assunto e estar em evolução contínua e
permanente, para, assim, oferecer o melhor aprendizado possível. Para Borba
(1996), é possível que a calculadora se torne um simples instrumento em
substituição ao lápis e ao papel; para isso não acontecer, é preciso um preparo
prévio dos professores.
17
Em minha
1
prática como professor de Matemática, a calculadora chamou a
atenção pela dúvida surgida em muitos momentos: se deveria usá-la ou não. No
início de minha carreira, trabalhando com o Ensino Fundamental, achava
desnecessário e até inconcebível o uso da máquina; para mim, era importante
que os alunos dominassem as técnicas dos cálculos.
Toda essa visão que tinha a respeito da calculadora até esse momento,
passou a ser contraditória quando comecei a lecionar no Ensino Médio. Muitos
cálculos, simples e fáceis para a calculadora, meus alunos demoravam um longo
tempo para resolver. A partir dessa observação, passei usar a máquina com
maior freqüência nas aulas de Matemática, visto que os cálculos propriamente
ditos não são tão importantes na resolução dos exercícios quanto a maneira como
se chega a uma resposta e à conclusão do exercício em questão. Dessa forma,
passei a dar mais importância aos métodos que aos cálculos.
Contudo, durante essa época de atuação no Ensino Médio da rede pública,
comecei a trabalhar novamente no Ensino Fundamental em um colégio particular,
mas agora com uma diferença: passei a utilizar também a máquina em minhas
aulas, assim como vinha acontecendo no Ensino Médio. Desenvolvi, assim,
uma outra visão a respeito da calculadora.
Porém, trabalhando nessa escola privada com o Ensino Fundamental,
tanto a coordenação, como a direção da escola proibiam que meus alunos
fizessem o uso da calculadora durante as provas. Por várias vezes tentei
argumentar, mas foi em vão, não consegui ser ouvido. Alegavam que nos
concursos ou nos vestibulares os alunos seriam impedidos de usar tal tecnologia
ou similar para ajudá-los nos cálculos e, por isso, era bom irem se acostumando
com o que iriam encontrar pela frente.
A oportunidade de discutir sobre a utilização da calculadora em sala de
aula e aprofundar-me nesse assunto ocorreu no Curso de Mestrado da PUC-SP
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), quando a discussão sobre o uso
da calculadora pelos alunos em sala de aula aparecia em debates em nossas
__________
1
O relato, neste momento, faz referência a experiências pessoais. Por essa razão, assume-se aqui e
apenas para esta curta exposição – o ponto de vista de primeira pessoa do singular.
18
aulas. A atração pelo assunto passou a ser ainda maior, em razão da constante
polêmica gerada por este assunto.
Diante desse quadro e com a minha experiência profissional como
professor da escola pública no Estado de São Paulo desde 1989, venho
acompanhando as profundas transformações que estão ocorrendo em nossa
Educação com a chegada das tecnologias e vejo que sua incorporação correta
pela escola ainda é um desafio.
Diante de tal realidade, algumas questões foram emergindo:
A calculadora tem-se apresentado como um instrumento facilitador do
processo de aprendizagem dos alunos?
A calculadora pode ou não fazer com que o aluno desperte para outras
propriedades, que sem ela não seriam observadas?
Problemas ou atividades contextualizadas no dia-a-dia do aluno, com o
uso da calculadora, poderiam mesmo ser mais interessantes, fazendo
com que, ao livrar-se dos cálculos enfadonhos, o aluno desse mais
atenção aos processos de sua resolução?
Em face de todas as dúvidas, surgiu a necessidade de investigar o
assunto, de saber quais elementos podem ser identificados no processo de
aprendizagem do aluno com o uso da calculadora.
Dessa forma, procurou-se formular algumas atividades de caráter
exploratório que contemplassem essas dúvidas e pudessem indicar se a
calculadora poderia auxiliar na resolução de algumas situações vividas
constantemente na sala de aula.
Outro motivo da opção pelo uso da calculadora nesta pesquisa está
relacionado ao seu baixo custo, acessível a qualquer aluno, e ao baixo risco com
a ida e vinda desse equipamento até a escola. Além disso, a opção também visa
conseguir despertar o interesse pelo seu uso, possibilitando que os jovens
aprendam a manusear, identificar funções, fazer comprovações, a fim de que a
calculadora possa ajudá-los no seu cotidiano, uma vez que a maioria a possui
em casa ou no trabalho.
19
Inicialmente, o trabalho tinha por objetivo apresentar dados dessa pesquisa
exploratória realizada em uma escola pública, no centro da cidade de Conchal,
com alunos do ano do Ensino Médio. Ela previa aplicação de oito atividades
exploratórias dirigidas (Anexos D, E, F, G, H, I, J e L), não encontradas em livros
didáticos e não utilizadas por professores, em que se utilizam a calculadora e
suas possibilidades para verificação de conceitos e padrões. Nesse trabalho,
seriam apresentadas as expectativas do pesquisador em torno do uso da
calculadora e objetivava-se melhorar a aprendizagem matemática nos cálculos
exatos e aproximados.
Diante desse quadro, no decorrer de 2007, foi decidido que seriam usadas
como estratégia de coleta de dados a correção, a observação, a discussão, a
análise e a reflexão sobre as atividades, mas o resultado não foi promissor. Para
Segurado (2002), é importante refletir sobre qualquer aula de investigação, ou,
então, ela não será adequadamente finalizada.
Após a aplicação, muitos questionamentos, muitas dúvidas e dificuldades
encontradas fizeram surgir novos rumos. O objetivo inicial do trabalho, depois
redirecionado, era de explicitar se a calculadora bem usada favorece aos alunos
distinguir ou interpretar de maneira consciente os resultados obtidos no visor; se
eles conseguem fazer generalizações com os resultados obtidos por ela, por meio
dos cálculos exatos e aproximados; e se conseguem definir qual a melhor
situação para a utilização de um cálculo exato ou aproximado.
Na verdade, com a aplicação das atividades, foi possível constatar que a
calculadora, mesmo nas atividades dirigidas, não despertava o interesse de
muitos alunos pelo assunto, gerando barulho e indisciplina, além de eles se
atrapalharem com o manuseio da máquina e de quererem respostas prontas.
Também faltava empenho da maioria dos alunos que, além disso, tinham muita
dificuldade em passar para o papel suas idéias e seus entendimentos.
Dessa forma, o principal objetivo não foi atingido satisfatoriamente:
buscava-se identificar aspectos relevantes que pudessem subsidiar a hipótese de
a inserção de uma tecnologia – no caso desta pesquisa, a calculadora – favorecer
o entendimento dos conteúdos por parte dos alunos.
20
Sendo assim, o foco do trabalho foi redirecionado e voltou-se para a
prática do professor de Matemática e de pesquisadores sobre a utilização da
calculadora as dificuldades, as motivações, as expectativas, os enfrentamentos
e a identificação de conteúdos e de atividades aos quais a calculadora é mais
adequada.
Dessa forma, as questões que foram perseguidas no estudo exploratório
estarão contempladas na discussão, a partir da visão dos professores de
Matemática sobre o uso da calculadora na sua prática e sobre os resultados em
relação à aprendizagem dos alunos.
21
CAPÍTULO I
1.1 Calculadora como resultado da tecnologia
O objetivo deste capítulo é discutir o entendimento de uma tecnologia o
que é e como se concebe –, o que, na maioria das vezes, pode ocorrer em erro
para a maioria das pessoas. Serão mostrados os avanços tecnológicos da
calculadora e dos demais produtos da tecnologia envolvidos com a educação.
Quase sempre a palavra tecnologia é associada pelas pessoas a coisas
que combinam com progresso, futuro e também a objetos que fazem parte do dia-
a-dia: computador, Internet, telefone celular, aparelhos destinados à Medicina,
forno de microondas, TV digital. Afinal o que é tecnologia?
[...] a tecnologia é uma produção do livre-arbítrio do homem e de
sua cultura, informado pelos seus valores e éticas. O vetor
tecnológico pode ter o rumo que a sociedade humana desejar, se
for capaz de organizar-se em função dos interesses da maioria
dos seus cidadãos. (DUPAS, 2001, p. 121 apud MONACO e
MIZUKAMI, 2005, p. 115).
Bueno (1999) chama a atenção para o sentido dos usos incorretos da
palavra “tecnologia”:
É verdade que uma tecnologia embutida em qualquer
instrumento e implícita em sua fabricação; mas isto não é razão
para se considerar o saber embutido num objeto, ou implícito na
sua produção, com o próprio objeto da indústria. Um derivado
desse mau uso é o emprego da palavra tecnologia para significar
a organização, o gerenciamento e, mesmo, o comércio desses
aparelhos. Por uma razão ou outra essa confusão apareceu na
área da computação e da informática, onde a máquina é tão
importante quanto o saber de onde ela se originou. Há, então, o
perigo de se confundir toda a tecnologia, isto é, o conhecimento
22
científico aplicado às técnicas e aos seus materiais e processos
com uma particular indústria ou comércio. (BUENO, 1999 apud
FEDALTO, 2006, p.17).
É dessa forma, como esclarece o autor, que a maioria das pessoas
entende tecnologia: como um produto final, e não um meio para chegar até ele,
quando o correto seria o inverso é por meio da tecnologia que se constrói um
produto final. Muitas das coisas que se utilizam com muita freqüência no cotidiano
são produtos da tecnologia, como, por exemplo, o celular, a Internet, entre outros,
desenvolvidos por meio de todo um conhecimento produzido pelo homem são
frutos de uma tecnologia, mas não são a “tecnologia”.
A TV digital não é uma tecnologia, como também não o é o computador de
bordo de um carro, o freezer... , apesar de, muitas vezes, serem considerados
como tais, pelos meios de comunicação. Ao comprar qualquer um desses
aparelhos, está-se um comprando um fruto da tecnologia, e não uma tecnologia,
embora seja comum as pessoas associarem tecnologia com esses elementos.
Tecnologia não se restringe a equipamentos e a invenções; contudo, ainda não se
tem uma definição clara de tecnologia.
De acordo com o dicionário (FERREIRA, 2004, p. 192), tecnologia é o
“conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam
a um determinado ramo de atividade”. A definição indica que a tecnologia é o
conhecimento, e não o objeto que resulta dele; é imaterial, e não material, como
algo que as pessoas pegam e usam.
A tecnologia deve gerar produtos e serviços, melhorando a qualidade de
vida das pessoas, trazendo o progresso para a sociedade; assim sendo, ela é
resultado da interação entre o conhecimento e o ser humano.
A tecnologia não pode ser separada do homem e das questões sociais, de
como ele pode aplicar seus conhecimentos, produzindo novas tecnologias, mais
conforto e bem-estar. É quase impossível pensar que o advento da tecnologia e
de seu progresso não traria bem-estar a todos, mas em alguns casos isso
acontece.
23
Alguns equipamentos, frutos de altas tecnologias, produzidos pelo próprio
homem, podem trazer problemas a ele mesmo. A entrada da computação em
agências bancárias agilizou atendimentos, eliminou erros aos quais antes a
capacidade humana estava suscetível. Por outro lado, diminuiu drasticamente os
postos de trabalho, causando desemprego. É o caso, também, da área agrícola,
com o desemprego decorrente da introdução das máquinas. A colheita feita por
máquinas evita trabalhos cansativos e estafantes dos agricultores, porém deixa
muitos sem emprego. O desafio que tudo isso representa é descobrir meios de
combinar desenvolvimento com emprego. Talvez investir em Educação seja um
dos caminhos para a solução desse problema.
As conquistas da tecnologia aumentam a capacidade do ser humano para
manipular a natureza e os fatos; possibilitam o crescimento da capacidade de
produzir mais e melhor, superando limites de tempo e espaço sem precedentes. É
possível a qualquer pessoa viajar o mundo todo, interagir com amigos em vários
lugares do mundo.
Pode-se até inferir que as experiências no âmbito humano
atualmente transcendem do plano real para o virtual, permitindo
ao indivíduo, por exemplo, vivenciar outra dimensão filosófica,
dadas novas possibilidades de existência e atuação em termos
temporais e espaciais, como o “estar sem estar lá”. (MONACO
e MIZUKAMI, 2005, p. 117).
As idéias sobre o que seja tecnologia, aqui destacadas, permitem situar a
calculadora no quadro geral da introdução das inovações da tecnologia na
sociedade. Na seqüência, será apresentada a tecnologia educacional.
1.2 A escola e sua tecnologia
Parece simples definir tecnologia educacional, para Fedalto (2006): é uma
tecnologia aplicada à Educação, envolvendo algum objeto material que faça parte
de ações educativas, com a finalidade de ensinar ou aprender.
O computador ou o quadro de giz podem ou não ser pertencer ao universo
da tecnologia educacional. Quando usado para uma demonstração de uma
24
equação ou para o resumo de uma obra, o quadro de giz pode ser considerado
instrumento da tecnologia educacional, mas pode não ser, quando, por exemplo,
for usado para marcar pontos de um jogo de sinuca.
O computador será considerado elemento da tecnologia educacional
quando seu uso tiver o objetivo de ensinar ou de aprender, na escola, no lar ou
noutro local. Não o será quando for utilizado fora das atividades de ensino e
aprendizagem, como na impressão de notas fiscais em uma empresa. Para
Cysneiros (2008, p. 10) “apenas o objeto material não é suficiente para
caracterizar a especificidade de uma tecnologia educacional”, é preciso que ele
seja empregado na educação.
A todo instante se ouve que é preciso utilizar a informática, é preciso
utilizar vídeos, mesmo que nem sempre se saiba para quê. A tecnologia
atualmente é vista como fundamental e assustadora ao mesmo tempo, e muitos
professores acreditam que por incorporar essas novidades da tecnologia
estarão trazendo inovações pedagógicas, e que seus alunos aprenderão mais e
melhor apenas pelo fato de ele introduzir algum desses recursos, como o
computador, o vídeo, a televisão, a calculadora, nas aulas de Matemática. O uso
da calculadora ou de qualquer outro instrumento exige planejamento, de forma a
propiciar um melhor entendimento dos conteúdos, sejam eles matemáticos ou de
outra natureza. Para Cury e Oliveira (2004. p. 21), “os professores precisam de
suporte para introduzir alguma tecnologia em sua prática de sala de aula e de
acompanhamento no planejamento e elaboração de projetos para os alunos”.
Com a dinâmica que a calculadora oferece, seu uso pode auxiliar o aluno no
entendimento de vários conceitos que, sem a máquina, ele talvez não
compreendesse. “Na maioria dos casos, a introdução de um novo conceito pode
ser feita usando uma boa visualização dinâmica, através da conjugação de várias
aplicações.” (AZEVEDO, 2002, p. 159).
Percebe-se que o homem, por meio dos recursos resultantes da tecnologia
que cria, compreende melhor o mundo. Por isso a importância, para os alunos,
não de utilizar esses recursos da melhor maneira possível, como também de
conhecer suas limitações e facilidades. Ao conversar com os alunos sobre sua
vida cotidiana e sobre o impacto da tecnologia sobre ela, o professor pode
25
encontrar um sentido para a tecnologia. Sua utilização, em particular a da
calculadora, exige superação de muitos preconceitos, dentre eles o modismo e o
uso de forma autoritária.
Como foi dito, a utilização de qualquer instrumento fruto da tecnologia
pode gerar bons resultados, como também manter as coisas como eram e apenas
maquiar as práticas tradicionais. Em alguns casos, seria melhor o professor deixar
de lado o seu uso e continuar com o bom e velho quadro de giz. No caso da
calculadora, não basta simplesmente ajudar os alunos com os cálculos, mas é
preciso exigir novas posturas diante deles, discutindo e analisando seus
resultados. Segundo Rabardel (1995, p. 11), “um aluno memoriza uma
determinada tecnologia (teorema ou fórmula), chega a resolver certos tipos de
exercícios com essa tecnologia, mas, às vezes não sabe explicar o porquê do
resultado encontrado”; daí a importância do entendimento da situação.
Muitos dos equipamentos eletrônicos fazem parte da vida da maioria das
pessoas, mas, quando se trata de trazer todo esse aparato gerado pela tecnologia
para dentro da sala de aula, não se sabe, muitas vezes, o que fazer ou como
fazer, por medo do inesperado ou de uma falha no equipamento. É importante
que os professores saibam lidar com situações inesperadas e que estejam
abertos a discussões com os alunos para, juntos, encontrarem saídas para os
problemas; é preciso que o professor deixe de lado a posição de ser o único que
detém o saber. É importante encarar essa discussão dentro da escola, porque,
fora dela, as conquistas da tecnologia fazem parte da vida de todos algum
tempo.
Fedalto (2006) argumenta que, em contrapartida, uma solução adotada por
alguns professores consiste em simular que os recursos tecnológicos, entre eles a
calculadora, não existem, imaginando a escola como se estivesse em uma
redoma, tentando isolar-se em uma realidade diferente daquela em que vivem
alunos e professores cotidianamente.
Usar a calculadora nas aulas de Matemática é uma forma de incorporar
uma ferramenta de cálculo às muitas atividades, podendo ir além do cálculo. Não
se pode esquecer que essa ferramenta produzida pela tecnologia é um poderoso
auxílio à aprendizagem da Matemática pelo aluno. Rabardel (1995, p. 61)
26
pondera: “no ensino, os instrumentos são muito freqüentemente considerados
como simples auxiliares, neutros, não intervêm, enquanto tal, sobre a construção
dos saberes pelos alunos e sobre as conceituações que resultam”; segundo ele,
os instrumentos não são neutros.
Como forma de motivação para o aluno, as conquistas da tecnologia
educacional podem ser incorporadas às atividades de sala de aula, lembrando
que seu uso, por si só, não resolve qualquer problema da educação; é apenas
mais um caminho a ser seguido em direção à melhoria da aprendizagem.
Nesse sentido, Sandholtz, Ringstaff e Dwyer (1997) apontam:
A tecnologia é vista como um catalisador e uma ferramenta que
reativa a empolgação de professores e alunos pelo aprender e
que torna a aprendizagem mais relevante ao século XXI. Mas a
tecnologia o é uma solução mágica, ela é somente um
ingrediente necessário nos esforços da reforma. A tecnologia é
utilizada de forma mais poderosa como uma nova ferramenta para
apoiar a indagação, composição, colaboração e comunicação dos
alunos. Ao invés de ser ensinada separadamente, a tecnologia
deveria ser integrada na estrutura incluindo máquinas na sala de
aula e recursos portáteis adicionais que possam ser
compartilhados entre as classes. (p. 174).
Os autores reforçam que a tecnologia não é uma panacéia para a reforma
do ensino, mas pode ser um catalisador significativo para a mudança. Na
realidade escolar, é certo que os recursos gerados pelas novas tecnologias
reavivaram os ânimos de alguns professores, porém estes os entenderam como
uma solução mágica para ensinar e aprender. Contudo, com o passar do tempo,
pode-se perceber que sua utilização precisa ser pensada e vista como mais uma
ferramenta de ensino, e não como a única. De nada adianta a inserção dos novos
recursos produzidos pela tecnologia se seu emprego não for planejado e
adequado à realidade dos alunos na sala de aula.
Nesse contexto, Penteado (2004) afirma:
Falar da inserção de TIC na escola significa considerar que ela
mobiliza os atores normalmente presentes no seu cenário e traz
consigo muitos outros atores. O movimento, a velocidade, o ritmo
acelerado com que a Informática imprime novos arranjos na vida
fora da escola caminham para escola, ajustando e transformando
esse cenário e exigindo uma revisão dos sistemas de hierarquias
e prioridades tradicionalmente estabelecidos na profissão
docente. (Penteado, 2004, p. 284).
27
Investir na formação dos professores pode ser um caminho promissor, pois
são eles os reais responsáveis pela prática de implementação das mudanças
relacionadas ao uso dos recursos produzidos pela tecnologia, e a inserção destes
na sala de aula não acontecerá se não houver uma formação que leve o professor
a um envolvimento com esse compromisso (Idem, 2004).
Para aqueles que procuram um apoio para ambientes de aprendizagem
colaborativa, os novos recursos, frutos da tecnologia, têm um enorme potencial e
poderão facilitar seu ensino. Segundo Mussolini (2004), professores com pouca
preparação para o uso de tais recursos em sua formação sentem-se inseguros e
despreparados, o que os leva a utilizar apenas lousa, giz e apagador em suas
aulas, “Um professor que tenha estado sujeito a um ensino tradicional dificilmente
poderá estar consciente de todos estes papéis.” (FONSECA, 2002, p. 179). Para
Crawford e Adler (1996, apud FONSECA, 2002), a maior parte dos futuros
professores de Matemática tem uma experiência de um ensino tradicional, com
um modelo de aprendizagem transmissiva.
Em específico, a calculadora apresenta-se como um instrumento simples,
barato e fácil de manusear, que pode ir a qualquer lugar aonde o aluno vai e pode
ser usado na própria sala de aula. Ela precisa ser mais explorada pelo professor,
que deve criar novas alternativas de uso e procurar, junto com os alunos, saídas
para as atividades propostas. Dessa forma, o professor passará a perder o medo
de expor-se às dúvidas, suas e de seus alunos.
As considerações trazidas pelos pesquisadores acima confirmam a
relevância de pesquisar a relação do professor com os instrumentos produzidos
pela tecnologia que são objeto, agora, desta investigação.
1.3 Calculadoras e sua evolução
Com a evolução da tecnologia, conseqüentemente, as calculadoras
também evoluíram.
Com essa evolução, elas, que antes se apresentavam apenas com as
operações básicas, ampliaram sua capacidade operacional. Hoje, calculadoras
28
científicas operam com números na forma de notação científica, fracionária;
operam em bases binárias, com funções trigonométricas, etc.; e seu preço chega
a ser compatível com os recursos das escolas e dos alunos.
Uma calculadora científica, como a descrita acima, pode ser comprada por
menos de R$ 20,00 e tem mais possibilidades de uso e exploração em aulas de
Matemática do Ensino Médio.
Como foi dito, o uso da calculadora exige do professor elaboração de
estratégias, planejamento, estudo e preparação prévia de problemas, atividades e
exercícios, e tudo isto não está disponível na grande parte dos livros didáticos
que, na maioria dos casos, são o único material disponível ao professor para sua
aula. Tais livros geralmente não agregam o uso da calculadora, ao apresentarem
conceitos, definições e atividades. É possível que, se o livro trouxesse a
calculadora atrelada a uma proposta pedagógica, o uso e a disseminação dessa
máquina pelas escolas já tivessem ocorrido há mais tempo, e poucos casos
haveria em que, nas escolas, a calculadora limita-se a substituir, no cálculo, o
lápis e o papel.
Neste contexto, pouco tempo, num açougue, como em outros
estabelecimentos comerciais, os cálculos eram feitos manualmente com lápis e
papel, e era impressionante a habilidade com que as pessoas resolviam as
contas. Depois começou a ser introduzida a calculadora nesses
estabelecimentos, como padarias, supermercados, etc. e os cálculos, antes feitos
manualmente, passaram a exigir dos profissionais apenas a destreza e a rapidez
ao digitar os valores das mercadorias nas máquinas; atualmente apenas precisam
que os atendentes passem a mercadoria em frente a um leitor de códigos de
barras. Com isso, em alguns momentos, causa espanto perceber como a maioria
dos atendentes é dependente da máquina, como lhes falta habilidade de cálculo.
Até para saber o quanto dar de troco recorrem à máquina.
Tudo isso aconteceu em pouco tempo, nos últimos 20 ou 30 anos, e isso
leva à pergunta: será que a Matemática que vem sendo ensinada nas escolas
acompanhou essa evolução do uso da calculadora? Isso remete também à
reflexão sobre as razões de as muitas transformações ocorridas fora da escola
não terem ainda, ao que parece, chegado a ela.
29
Mesmo considerando que não se devem deixar de lado as habilidades de
cálculo ou a memorização de fórmulas, o que se pode destacar é que a
Matemática pode ser ensinada e aprendida com o auxílio de outros instrumentos
tecnológicos, como a calculadora ou computador.
Outra comparação interessante pode ser feita em relação aos cursos de
Engenharia, tomando-se os desenhos, que antes eram feitos sobre uma prancha
com papel, lápis, esquadro, régua, compasso. Hoje o aluno pode fazer seus
desenhos no computador, depois que domina essas noções, uma vez que,
usando softwares específicos, ele ganha tempo e precisão. Então, por que
continuar como antes e fazer um projeto usando lápis e papel?
O mesmo ocorre com o cálculo de Limites, Derivadas e Integrais, que pode
ser realizado em calculadoras que trabalham com esse tipo de função ou no
computador, em softwares específicos. Esses conceitos são importantíssimos, e
não por que o aluno decorar fórmulas de derivação; o importante é que ele
compreenda o significado dos resultados encontrados pela máquina e que,
fundamentalmente, saiba aplicá-los na resolução de problemas. Nesse sentido,
Flemming (2004, pp. 276-277), indica: “[...] apresentamos situações e problemas
para serem resolvidos no laboratório computacional e o software ou a calculadora
executa as partes mecânicas ou algorítmicas da solução, cabendo ao aluno a
parte conceitual”.
Existem calculadoras gráficas no mercado, por exemplo, que, embora
tenham preço elevado, podem resolver qualquer tipo de equação algébrica.
Porém o aluno também pode utilizar o computador para a realização desses
cálculos, para os quais softwares específicos instalados nos computadores
da maioria das escolas.
Hoje em dia, quase todo celular traz uma calculadora incorporada às suas
funções. Devido à popularização e à redução de custos, ela é utilizada por
pessoas de quase todas as camadas sociais, pois é comum que os alunos
possuam um aparelho celular com uma calculadora incorporada, que poderia
ser aproveitada nas aulas de Matemática.
30
As novas conquistas da tecnologia fazem parte da vida cotidiana de dos
alunos, e estes muitas vezes mostram mais conhecimento sobre elas do que nós,
professores. Ironicamente, talvez a sala de aula seja o único espaço onde a
calculadora não pode ser usada pelos alunos e, mesmo sendo ela um instrumento
de cálculo, não tem sido explorada dentro das aulas de Matemática. Azevedo
(2002) salienta que todos os alunos devem ter acesso a calculadoras e que os
programas de Matemática nas escolas devem tirar delas todas as vantagens, em
todos os níveis de ensino.
Buscou-se, assim, neste capítulo, trazer para discussão a importância da
exploração e do uso da tecnologia no contexto escolar e identificar o
distanciamento que a escola ainda possui em relação à incorporação dos
recursos das modernas tecnologias e, no caso deste estudo, em relação ao uso
da calculadora.
31
CAPÍTULO II
DESAFIOS NO USO DA CALCULADORA
2.1 O professor e seu papel diante da calculadora
Como foi destacado, a calculadora é um recurso tecnológico acessível e
muito usado, pois, quando se fala em divisão ou multiplicação com valores altos,
com decimais, raramente se encontra alguém preparado para esse cálculo com
lápis e papel.
Como exposto anteriormente, a maioria dos professores de Matemática
parece ainda não permitir o uso da calculadora pelos alunos em sala de aula,
alegando que estes não aprendem a fazer contas e podem ficar dependentes da
máquina. Já aqueles que a utilizam, na maioria das vezes, fazem uso dela apenas
como um instrumento de cálculo, não explorando suas potencialidades.
A esse respeito, Ubiratan D’Ambrosio (2003) considera:
Nada existe, em pesquisa, que apóie esses temores. Atribuo
essas atitudes a um excessivo conservadorismo e uma falta de
visão histórica sobre como a tecnologia é parte integrante da
sociedade e determina os rumos tomados pelas civilizações. [...] A
sociedade se organiza em função da tecnologia disponível. E
como se justifica continuar operando com a tecnologia da
aritmética de papel, lápis e tabuada? muitos que reagem à
adoção do novo por dúvidas conceituais
2
.
__________
2
Notas de curso da SBEM, junho 2003 – “Uso da Calculadora”
32
Quando se questiona o uso da calculadora, vem a pergunta: Matemática é
só aprender a fazer contas?
Para o autor, os professores não se arriscam por caminhos novos, pois
desconhecem os avanços que a utilização de um instrumento tecnológico pode
trazer para suas aulas. Talvez isso possa mudar quando os professores
começarem a entender as transformações ocorridas durante a história; assim, a
escola inserida nessa sociedade poderá assimilar essas mudanças.
A escola deve preparar o aluno para o futuro e, para isso, deve incorporar
os avanços tecnológicos, que estão aí para serem usados e dificilmente irão
desaparecer. Para D’Ambrósio (2003), a calculadora deve ser usada porque
“libera tempo e energia gastos em operações repetitivas, permite resolver
problemas reais, permite dar atenção ao significado dos dados e à situação
descrita no problema”
3
.
É o mesmo autor que pondera: “a escola deve se antecipar ao mundo de
amanhã. É impossível conceber uma escola cuja maior finalidade seja dar
continuidade ao passado. Nossa obrigação primordial é preparar gerações para o
futuro”. (1986, p. 91). Segundo Moraes (1997), para o professor, isso significa
que ele estará se preparando para desempenhar um papel
diferenciado na formação do cidadão do século XXI, porquanto
estará enfrentando o desafio da ruptura com a pedagogia
tradicional, aliado a uma leitura crítica do funcionamento da escola
e de suas relações com a comunidade. (MORAES, 1997, apud
SCHULMAN, 2004, p. 39).
Atualmente, encontram-se alguns professores que ainda lecionam dando
continuidade ao passado; talvez não compreendam que a tecnologia pode
significar um passo à frente em uma ação educativa. Assim reagem, até mesmo
com relação à calculadora, objeto comum: não a concebem como um instrumento
motivador e facilitador, em sala de aula, das práticas escolares. Como justificar a
um aluno que ele não deve fazer uso da calculadora, se, atualmente, na maioria
dos locais e das profissões, onde necessidade de qualquer tipo de cálculo, a
calculadora está presente para ser utilizada?
__________
3
Notas de curso da SBEM, junho 2003 – “Uso da Calculadora”
33
Nas palavras de D’Ambrosio (1989, apud VADIGA, 1993, p. 15): “Hoje todo
mundo deveria estar utilizando a calculadora, uma ferramenta importantíssima. Ao
contrário do que muitos professores dizem, a calculadora não embota o raciocínio
do aluno”.
Algumas justificativas para o não-uso dos novos recursos produzidos pela
tecnologia para a educação foram apresentadas em um trabalho realizado por
Muir-Herzig (2004, apud MAGALHÃES, 2004): “o professor não possui tempo
nem conhecimento suficiente para usar a tecnologia; tem acesso limitado a alguns
equipamentos devido aos altos custos; não conta com suporte; a avaliação não
reflete o que se aprende com a tecnologia; falta de treinamento e de prática no
uso”. Falta de tempo e de conhecimento técnico são as principais barreiras
apontadas em uma pesquisa realizada por Ribas (2002, apud MAGALHÃES,
2004) no interior do Paraná, no Ensino Médio.
A respeito da tecnologia, pode-se ler nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (1996, p. 42): “[...] abre novas possibilidades educativas, como a de
levar o aluno a perceber a importância do uso dos meios tecnológicos disponíveis
na sociedade contemporânea” e, nesse contexto, o emprego da calculadora é
expressamente indicado pelos PCN.
Para Sathler, (2003, p. 60), os frutos da tecnologia não são um apanágio
que vai solucionar todos os desafios e as carências educacionais, mas podem
servir como instrumentos facilitadores e aceleradores para a busca de caminhos.
Para isso, seriam importantes algumas mudanças:
DE PARA
Prédios escolares Uma infra-estrutura para o conhecimento
(prédios, laboratórios, rádio, televisão,
internet, museus, etc.)
Classes Aprendizes individualizados, ainda que
participando de grupos de referência e
convivência.
Professor como dono do conhecimento Professor como facilitador e articulador
Livros e alguns recursos audiovisuais Material multimídia (impressos, audiovisuais,
vídeo, digitais, etc.)
Aluno como receptor passivo de
informações
Aluno como colaborador e participante na
construção coletiva de conhecimento
34
Hoje, é muito importante saber analisar situações e encontrar soluções
para os problemas surgidos no dia-a-dia. Como professor, é muito importante
saber distinguir em qual situação se pode ou não fazer uso da calculadora, que
tipo de problema justifica seu emprego, se a finalidade pensada e prevista se faz
importante ou não, com o uso desse recurso. Esse parece ser um dos desafios na
atividade profissional dos professores de Matemática.
Ponte (1989) chama a atenção sobre a questão:
Não faltarão anedotas com exemplos caricatos, pretendendo
demonstrar as vantagens do cálculo com lápis e papel e dos
métodos tradicionais. Mas a verdade é que não devemos atribuir à
calculadora nem um caráter milagroso, nem um caráter
demoníaco. Como outro instrumento qualquer, simplesmente,
pode ser bem ou mal usado. (p. 1).
Como pondera o autor, não na escola pode acontecer esse fato, isso
também ocorre no cotidiano fora dela; como exemplo, pode-se citar um automóvel
que, bem usado, é importante e valioso na vida de qualquer pessoa em toda parte
do mundo; contudo, em mãos erradas e com uso inadequado, pode virar uma
arma, destinada a seqüestros, a atentados, etc.
Alguns professores, ao utilizar a calculadora, acham que ela os está
ajudando na aula; contudo, é importante a reflexão do professor a todo instante,
quanto ao seu uso, buscando analisar cuidadosamente em qual contexto está
sendo empregada.
É preciso, além disso, que o professor compreenda o uso dessa
ferramenta, antes de introduzi-la em suas atividades com os alunos. Essa tarefa
também exige um trabalho de incorporação que revele qualidade em sua
utilização; um ambiente favorável; e um plano de trabalho bem definido, para que
os resultados da aprendizagem possam ser positivos.
Como destaca Rabardel (1995), é importante ter em mente qual o trabalho
a ser realizado e qual a ferramenta adequada para isso. Para ele, é como dispor
de uma máquina de forte potência de cálculo, que pode tanto permitir explorar
tipos de tarefas matemáticas outrora inacessíveis, quanto suprimir atividades
propriamente formativas.
35
É nesse contexto que Silva (1989, p. 4) destaca: “A calculadora, se
introduzida na aula de Matemática sem qualquer projeto educativo que a ampare,
será mais um ‘modernismo’ que nada mudará para além de poder criar grande
insegurança em professores e alunos”.
Reforça-se nesta pesquisa que a introdução do uso da calculadora deve
ser planejada, pois a forma como o professor conduz o trabalho pode levar o
aluno a sempre recorrer à calculadora, até para operações simples, acomodando-
se e evitando qualquer outra forma de resolução ou pensamento que não seja
com o uso da calculadora.
É comum, por exemplo, os alunos resolverem expressões numéricas
apenas digitando os números e as operações na calculadora na seqüência em
que aparecem, sem se importar com conceitos ou sem se preocupar em entender
a situação que determinou a consulta à máquina: acham que basta digitar e
deixar a tarefa a cargo da calculadora, quando se sabe que não é esse o
procedimento adequado.
Como exemplo bem simples, tem-se: 3 + (4 x 3) = 21. Este é o cálculo que
o aluno sem preparo, sem uma visão crítica, faz na calculadora: digita em
seqüência os números e as operações e encontra resultado 21, achando certo e
comum o resultado. Não faz validação alguma, quando o correto seria fazer
primeiro 4 X 3 e depois somar com 3, encontrando 15, como resultado.
Nesse sentido, Boers e Jones (1994) destacam:
São igualmente comuns as situações em que os problemas
decorrem de uma incorreta introdução da informação na
calculadora. E neste campo são, em particular, bastante usuais os
casos em que não é feita uma utilização adequada de parêntesis
na introdução de expressões. (BOERS e JONES, 1994, apud
ROCHA, 2002, p. 7).
A calculadora é apenas mais uma contribuição da tecnologia disponível,
deve ser usada como um instrumento auxiliar, e seu uso será tão melhor quanto
melhor for a capacidade crítica do aluno, somada à compreensão e à reflexão que
precederem seu uso.
36
A utilização da calculadora demanda mudança na postura, na metodologia
e nas avaliações que o professor faz. Para Rocha (2002), o raciocínio fica a cargo
de quem a utiliza, pois a calculadora é apenas uma máquina.
Como refere Dion, (1990, p. 567, apud ROCHA, 2002, p. 6), com
referência às calculadoras gráficas, “os alunos que carregam cegamente nos
botões da calculadora, rapidamente descobrem que um dos princípios
fundamentais dos computadores também se aplica às calculadoras: lixo
introduzido, lixo como resposta”. Para o autor, não adianta um aluno apenas
introduzir a função e carregar na tecla “gráfico”; muitas vezes, a calculadora
poderá necessitar de uma linguagem especial de digitação, e mesmo o aluno
dotado desse saber deverá ter presente que, para obter realmente uma imagem
representativa, é preciso mais do que simplesmente introduzir a expressão da
função.
A tomada de decisão deve ser precedida de reflexões, como: Qual a visão
de Matemática do professor? Qual o papel da memorização de fórmulas e
técnicas, em relação ao processo criativo? Que peso o professor atribui ao cálculo
aritmético e ao algébrico? Como o professor valoriza os cálculos mecânicos ou a
aquisição de conceitos matemáticos? De que forma o professor deve realizar as
avaliações? Para que o aluno viva bem em sociedade, quais conteúdos
matemáticos devem ser considerados relevantes?
É importante não utilizar a calculadora como uma tendência ou como um
modismo, pois, utilizada dessa forma, possivelmente o professor não atingirá seus
objetivos, como também não aproveitará todas as capacidades da máquina.
Nesse contexto, Mônaco e Mizukami (2005) destacam que:
diversas formas de valorização das novas tecnologias
integradas à Educação, especialmente nas práticas da escola
que não podem ser refutadas, merecendo, contudo, criteriosa
consideração –, a possibilidade de captura da atenção sobre a
“valiosa novidadevem merecendo representar o caráter sedutor
que elas assumem diante da intencionalidade do processo
educativo. Do ponto de vista dos alunos, segundo professores, a
“sedução pedagógica” vem como um alimento à motivação,
propulsora do processo de aprendizagem, com sabor de
novidade. (p. 113).
37
Segundo as autoras, a tecnologia desperta nos alunos e nos professores
um entusiasmo que poderá tornar as aulas mais dinâmicas e empolgantes do
ponto de vista pedagógico, podendo deixar de lado a mesmice de sempre, como
giz e lousa o tempo todo. Esse interesse pelo novo poderá ser aproveitado pelos
professores, como uma fonte rica de motivação.
Porém, apesar de ser interessante, a motivação como ponto de partida
diante do novo, em alguns casos, pode reduzir o potencial pedagógico a isca de
aprendizagem. “Pensar que a motivação de um momento garante todo o processo
pode ser similar ao ato de dividir um chocolate para garantir o ensino de fração”
(Idem, 2005, p. 113).
2.2 Possibilidades de uso da calculadora pelo professor
Como foi apontado anteriormente, a calculadora deve ser usada na
construção de conceitos. O seu emprego por professores e alunos facilita o
desenvolvimento e a compreensão de conceitos como os de número inteiro,
decimal, racional, irracional, entre outros, que podem ser relevantes para a
seqüência de suas vidas e profissões.
Com relação à construção de conceitos por meio do uso calculadora,
Lagrange (2000) pondera:
A utilização de recursos tecnológicos multiplica as possibilidades
de um estudante agir na resolução de problemas: as abordagens
numéricas ou gráficas são mais fáceis e potencialmente mais
eficazes do que as que utilizam o único tratamento com lápis e
papel [...]. As técnicas utilizadas com os novos recursos, que
chamaremos técnicas instrumentais, não se reduzem apenas ao
“apertar de teclas”. Nas suas variedades podem ser vistas como
elementos fundamentais no trabalho de técnicas” que podem
garantir a conceitualização. (Lagrange, 2000, apud Rabardel,
1995, p. 5).
Para o autor, existem maiores possibilidades de um entendimento de um
conceito por parte do aluno com o uso dos recursos da tecnologia; no caso
especial desta pesquisa, a calculadora é parte integrante desse processo, na
38
busca de uma conceitualização em relação ao conteúdo, uma vez que possibilita
gerar vários exemplos com rapidez.
D’AMBROSIO (1990) acredita que, num futuro muito próximo, a
calculadora e o computador farão parte de todas as profissões. Assim sendo,
devem estar presentes no cotidiano das escolas, principalmente nas mais
carentes. Isso permitirá que alunos menos favorecidos socioeconomicamente
entrem em contato com essas ferramentas disponíveis no mercado de trabalho.
Afirma, ainda, que, se esses alunos forem privados desse contato e dessa
manipulação, certamente serão candidatos ao subemprego.
Já com as calculadoras científicas, ainda há possibilidade de trabalhar com
funções exponenciais e logarítmicas, com a notação científica, com radicais.
Quanto aos números, eles poderão ser utilizados em mais situações reais, que,
com a calculadora, economia de tempo, evitando cálculos complicados e
cansativos.
Pode-se trabalhar com números de maior ordem de grandeza, explorando
suas possíveis decomposições. Mesmo o surgimento de resultados “sem sentido”
constitui ótima oportunidade para levantar discussões.
Nesse sentido, Oliveira (1999), destaca:
Podemos dizer que a calculadora, além de seu papel de
instrumental de aprendizagem e recurso de potencialização de
aquisição de conhecimento matemático, também foi criada para
substituir o cálculo manuscrito, que se apresenta muitas vezes em
situações de urgência, ou com grandes números de alta grandeza
e, portanto, passível de erro. (p. 12).
Segundo Ponte (1989, p. 2): “O uso das calculadoras não anuncia o fim do
cálculo, mas implica que o cálculo seja encarado de uma outra maneira”.
Para Oliveira e Ponte, a calculadora, além de eliminar o erro nos cálculos
com números com alta grandeza, pode também servir de reflexão para o restante
da atividade.
Em artigo publicado na revista Educação e Matemática, Reys (1989)
anuncia que a calculadora pode ser usada pelo professor para abordar e
desenvolver tópicos sob novas formas e, além disso, ela consegue gerar
39
rapidamente muitos exemplos, o que ajuda os alunos no entendimento de
conceitos.
Sua utilização permite que relações geométricas e algébricas mais
abstratas tenham um tratamento numérico, tornando-as mais concretas. Desse
modo, com a calculadora pode-se dar um tratamento informal a certos conceitos
abstratos, depois passando para a formalização. A calculadora estimula novas
formas de trabalhar, favorecendo uma atitude mais prática e experimental na
Matemática (PONTE, 1989).
Na resolução de problemas, a calculadora também desempenha um papel
importante. É fácil encontrar alunos que realizam cálculos mecânicos com
facilidade, mas não conseguem analisar, compreender um problema ou uma
situação real, não reconhecendo as operações que devem ser feitas para que se
chegue à solução.
Porém, muitas vezes ouve-se pelas escolas a palavra “problema”, seja em
cursos, palestras, livros, seja na fala de coordenadores e diretores de escola,
fazendo com que seus professores associem conteúdos a problemas
contextualizados. Porém o que é um problema? Ele é importante para o aluno
desenvolver o pensar matemático?
A palavra “problema” significa obstáculo, contratempo, dificuldade que
desafia a capacidade de solucionar de alguém”. com essa definição, se
pode responder uma parte dessas questões.
Em determinadas situações, quando uma pessoa não encontra de
imediato uma solução para uma sua preocupação, ela está diante de um
problema. Dessa forma, como a escola também possui a prerrogativa de preparar
o aluno para a vida fora dela, o pensar matemático utilizado na resolução de
problemas de situações cotidianas, dentro da escola, poderá, de alguma forma,
ajudá-lo fora dela; daí a importância da contextualização.
Como exemplo, pode-se citar o pedreiro que é chamado para um
orçamento de quantos metros quadrados de piso, para colocar em toda sua casa,
o dono deve comprar. Ele não precisa saber resolver as contas para chegar à
solução, e sim ter em mente o conceito de área. A pessoa deve apenas realizar
40
as medidas necessárias para determinar tal área; o cálculo propriamente dito é
feito pela máquina. De nada adiantará passar a planta da casa com todas as
medidas indicadas, que essa pessoa, mesmo de posse da calculadora, não
conseguirá chegar à solução esperada, se não tiver o conceito de área
formalizado.
Com o uso da calculadora, o aluno pode refletir melhor sobre esses
problemas, que não precisa perder muito tempo com a realização dos cálculos,
e dedicar-se mais aos métodos de resolução.
Nesse contexto, para Mocrosky (1997):
O ensino da disciplina Matemática es caracterizado pelo uso
demasiado no cálculo e memorização de regras e fórmulas pré-
fabricadas, sendo que estes dois aspectos, de certa forma,
acabam distorcendo a arte do raciocínio e criatividade. (p. 20).
A autora dá indícios de que muitos professores lecionam dando ênfase aos
cálculos, em exercícios como: calcule, determine, resolva, etc., cujo objetivo é a
conta pela conta, sem uma aplicação lógica para determinado cálculo ou
aplicação que os problemas possam apresentar. Dessa forma, deve-se ter um
olhar especial para os problemas, pois podem ser importantes aliados no ensino
da Matemática.
Nesse contexto, a calculadora é um instrumento que, se bem utilizado,
vem auxiliar o trabalho do professor, uma vez que, de acordo com o National
Council of Teachers of Mathematics (NCTM): “As calculadoras permitem às
crianças a exploração de idéias numéricas e de regularidades, [...] ao mesmo
tempo que colocam a ênfase nos processos de resolução de problemas.” (1991,
p. 23).
É possível que, dessa forma, sobre mais tempo para o aluno resolver mais
problemas e aumente a variedade e a diversidade destes, de modo a possibilitar
ao professor levantar debates com os alunos sobre como chegaram aos
resultados e, fazendo uso da calculadora, conduzi-los a validar os resultados
obtidos com muita rapidez.
41
Com mais tempo, o professor poderá comparar métodos utilizados, discutir
novas formas de pensar a resolução de um mesmo exercício. Muitas vezes,
alguns alunos nos surpreendem com resoluções fantásticas, não apresentadas
em livros ou pensadas ou resolvidas por professores.
Para Kenski (2003), é preciso que o professor não mais se posicione como
o detentor do saber, mas sim como um parceiro, encaminhando e orientando o
aluno para as múltiplas possibilidades e formas de alcançar o conhecimento e de
relacionar-se com ele. Para a autora, muitas vezes o professor se coloca na
posição de quem possui a única resposta correta, não dando abertura a novas
formas de resolução apresentadas pelos alunos.
Quando se lança um problema em sala para os alunos encontrarem uma
solução, se ele for bem pensado e escolhido dentro do universo do aluno, este se
sentirá desafiado e tentará resolver, porque aquela solução pode ser útil a ele fora
da escola; dessa forma, o professor pode despertar o interesse do aluno pela
Matemática. A calculadora, então, poderá enriquecer o trabalho com problemas
de aplicação, problemas em aberto e situações-problema, beneficiando a procura
de novos caminhos para a resolução e levando o aluno a uma aprendizagem que
poderá lhe ser útil.
Rabardel (1995), tomando a perspectiva da ergonomia cognitiva,
aprofunda sua análise da aprendizagem com relação à utilização de ferramentas
tecnológicas. Pode-se considerar isso um grande desafio para o professor que
usa ou pretende usar a calculadora. Para ele, o processo de aprendizagem no
qual o artefato se torna um instrumento é chamado gênese instrumental.
Embora este trabalho não se volte para aspectos específicos da ergonomia
cognitiva, considera-se importante trazer a reflexão de Rabardel (1995) sobre a
distinção entre ferramenta e artefato.
Distingue ferramenta (artefato) como o que é dado ao sujeito de
instrumento, que é construído pelo sujeito. Esta construção ou
gênese instrumental, é um processo complexo aliado às
características do artefato suas potencialidades e suas
limitações e às atividades do sujeito seus conhecimentos, suas
experiências anteriores e suas habilidades. (p. 3).
42
Para o autor, não se pode considerar o instrumento como algo dado,
fornecido: ele é construído pelo sujeito ao longo de um processo. Dessa forma, a
mesma calculadora, para um determinado professor, será um artefato, um objeto
sem significado, enquanto, para outro, poderá ser um instrumento útil e eficaz, se
ele tiver algo apropriado para aprofundar, inserir e moldar, fazendo uso da
máquina.
Portanto, aqui se coloca o desafio do professor: fazer essa passagem de
artefato para instrumento, pois a transformação de artefatos em instrumentos
aparece como resultado de processos complexos que colocam simultaneamente
em jogo o professor, sujeito desta pesquisa, com suas competências cognitivas, e
a calculadora artefato aqui em estudo com suas características próprias, o
objeto para o qual a ação é dirigida.
A finalidade deste projeto é avançar no estudo e no entendimento da
importância de integrar, de modo adequado e de forma eficaz, a calculadora na
organização da situação de ensino e aprendizagem.
43
CAPÍTULO III
AVANÇOS TECNOLÓGICOS E A ESCOLA
Existia uma esperança incontrolada de que a tecnologia trouxesse para a
educação o mesmo tipo de transformação que ocorrera na ciência, na indústria e
nos negócios. Para Moran (2004, p. 245), “a incorporação das mídias na
educação deu-se de forma marginal”: as conquistas da tecnologia chegaram até
as escolas, mas, na maioria delas, ainda continua o método de tempos atrás o
professor falando e o aluno ouvindo, com um verniz de modernidade, com alunos
reclamando do tédio de ficar ouvindo um professor falando por horas. “As
tecnologias são utilizadas mais para ilustrar o conteúdo do professor do que para
criar novos desafios didáticos” (Idem, p. 245). Pode-se citar como exemplo o
professor que faz uso do computador e do projetor somente para não escrever na
lousa e para diminuir seu trabalho, como revela o estudo apresentado por
Magalhães (2004): a maioria dos professores de escolas públicas de vários
estados brasileiros que fazem uso da tecnologia utiliza um editor de texto e
aqueles que usam a internet comumente o fazem para planejamento de aula.
Porém, “os reformadores educacionais reagiram com otimismo à
introdução da tecnologia educacional, lidar com hardware e software parecia mais
simples do que tratar de questões tão complexas como a cognição humana,
política e valores.” (SANDHOLTZ, RINGSTAFF e DWYER, 1997, p. 48).
na ciência permitiram-se comparações e medições que nunca foram
feitas antes, processos repetitivos sugeriam soluções computadorizadas na
44
indústria, eliminando erros e perigos. Procedimentos claros, combinados com a
tecnologia, levaram a saltos enormes na eficiência em diversas áreas.
Nesse contexto, o otimismo da transformação na educação parece que
ainda está por vir. “O papel da tecnologia na educação o é tão óbvio, em certa
extensão porque o processo e o produto do ensino formal continuam, em grande
parte, sem especificação.” (SANDHOLTZ, RINGSTAFF e DWYER, 1997, p. 47).
Para os autores, a tecnologia ainda não promoveu as transformações
esperadas porque ainda não estão definidos claramente os meios e os métodos
para se fazer uma aprendizagem com qualidade, por meio das novas conquistas
da tecnologia. Tardif (1998, apud BAGÉ, 2008) chama a atenção para a mudança
de paradigma referente às aprendizagens que as tecnologias demandam e
também disponibilizam. Para Perrenoud (2000), nesse sentido:
Trata-se de passar de uma escola centrada no ensino (suas
finalidades, seus conteúdos, sua avaliação, seu planejamento, sua
operacionalização sob forma de aulas e de exercícios) a uma
escola centrada não só no aluno, mas nas aprendizagens. O ofício
de professor redefine-se: mais do que ensinar, trata-se de fazer
aprender. (p. 139).
Existem vários estudos a respeito, mas necessita-se de outros estudos
para analisar se, concretamente, os produtos das novas tecnologias foram
incorporados nas salas de aula. Segundo Swan (2002, apud MAGALHÃES,
2004), até recentemente, equipar escolas com computadores era a definição de
integrar as tecnologias no processo de ensino-aprendizagem, e parece que ainda
hoje muitos profissionais da educação parecem ter pensamento semelhante a
esse.
A tecnologia pode funcionar como um catalisador para a mudança nos
processos de sala de aula e pode propiciar um caminho diferente, uma mudança
no contexto que mostra formas alternativas de resolução, como formular
conceitos, descobrir padrões, fazer estimativas, entre outros.
Segundo Kenski (2003), as novas tecnologias orientam para o uso de uma
proposta de ensino: não se trata de ajustar as formas tradicionais aos novos
equipamentos ou vice-versa; é preciso definir que tipo de educação se deseja e
45
que tipo de aluno se pretende formar, sendo necessário identificar, dentre os
recursos disponibilizados pelas novas tecnologias, aqueles que melhor se
enquadram nas propostas educativas da instituição de ensino.
Tais recursos podem impulsionar a mudança da abordagem instrucional
tradicional para um conjunto mais eclético de atividades de aprendizagem, que
inclui situações de construção de conhecimento para os alunos.
Nesse sentido, Moran (2002, apud MAGALHÃES, 2004), afirma que os
modelos de educação tradicional não servem mais, por isso é importante
experimentar algo novo, fazer experiências nas condições concretas e refletir
constantemente: O que estou realizando de novo? O que vou fazer e avaliar de
maneira inovadora? Assim, o professor vagarosamente começa a mudar e
avançar. Pode-se começar utilizando instrumentos mais simples gerados pelas
tecnologias atuais e ir aos poucos assumindo atividades mais complexas.
No que se refere ao objeto deste estudo, o autor sugere que o professor
introduza o uso de uma calculadora simples, em uma pequena atividade; ao
habituar-se com os caminhos desse novo processo em sala, poderá passar a uma
atividade que exija mais conhecimento e controle, como o uso de uma calculadora
científica ou financeira, pois, quando estiver neste estágio, tanto ele como seus
alunos estarão habituados ao instrumento.
Trazer e incorporar os frutos da tecnologia para sala de aula pode
acontecer de várias maneiras, e não somente por meio do computador; outros
novos instrumentos podem fazer parte do cotidiano de todos os professores,
visando uma educação com qualidade.
Nesse sentido, os PNC indicam que:
Para uma educação com o sentido que se deseja imprimir, só uma
permanente revisão do que será tratado nas disciplinas garantirá
atualização com o avanço do conhecimento científico e, em parte,
com sua incorporação tecnológica. (BRASIL, 1999, p. 209).
De acordo com os PNC, para atingir uma educação com qualidade,
incorporando os avanços tecnológicos, tidos por toda a sociedade como
importantes ao desenvolvimento, as disciplinas constantemente devem ser
46
revistas e analisadas, por todos os profissionais da educação. assim será
possível atingir uma educação esperada algum tempo incorporada às
conquistas tecnológicas.
Prado (2003, apud BAGÉ, 2008) adverte que o uso de instrumentos
resultantes das novas tecnologias nem sempre tem sido adequadamente
integrado à prática pedagógica; para isso acontecer, o professor deve conhecer
as especificidades desses novos recursos, visando incorporá-los aos seus
objetivos didáticos, de modo a enriquecer as situações vivenciadas pelos alunos.
A construção de conhecimento não deve ser feita de maneira solitária, pois
o ensino é um processo de ajuda mútua, compartilhado, em que o aluno, com
orientação do professor, pode resolver suas tarefas e mostrar-se autônomo.
Atividades resolvidas em dupla ou em grupo pela sala também podem favorecer
muito a construção de conhecimento.
A sociedade a todo minuto vive uma série de transformações e todas
essas constantes mudanças levam a pensar em como tirar proveito de tudo isso
para a escola, levar para o aluno, dentro da sala de aula, as inovações
tecnológicas que a cada dia surgem com mais impacto, melhorando a vida das
pessoas. Para Moran (2004, p. 245), “a sociedade é um espaço privilegiado de
aprendizagem, mas ainda a escola é a organizadora e certificadora principal do
processo de ensino aprendizagem”.
Apesar de qualquer pessoa, fora da escola, estar em um constante
aprendizado por toda sua vida, cabe à escola o principal papel de ensinar, de
mostrar as novidades que podem contribuir com a melhoria de suas vidas. Com
isso, a escola tornar-se-ia um ambiente onde o aluno todo dia entraria em contato
com o novo e dessa forma se interessaria mais pela escola e pelas aulas.
Santaló (1990), ao referir-se a essas mudanças, indica que:
[...] como o mundo atual é rapidamente mutável, também a escola
deve estar em contínuo estado de alerta para adaptar seu ensino,
seja em conteúdos como em metodologia, à evolução destas
mudanças, que afetam tanto as condições materiais de vida como
de espírito com que os indivíduos se adaptam a tais mudanças.
Em caso contrário, se a escola descuida-se e se mantém estática
ou com movimento vagaroso [...], origina-se um afastamento ou
47
divórcio entre a escola e a realidade ambiental. (SANTALÓ, 1990,
apud RUBIO, 2003, p. 37).
Por isso, deve-se sempre tentar levar para dentro das escolas as
inovações, acompanhar o mundo de fora, como propõe o autor, ou então a escola
será um espaço com pouca ou nenhuma motivação para os alunos, estará
distante da realidade dos alunos. Para Perrenoud (2000):
A escola não pode ignorar o que se passa no mundo. Ora, as
novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC)
transformam espetacularmente não nossas maneiras de
comunicar, mas também de trabalhar, de decidir, de pensar. (p.
125).
Porém, para a tecnologia fazer parte do cotidiano escolar, ela deverá,
antes, fazer parte da vida pessoal do professor, o que é comprovado por um
estudo realizado por Galloway (1997, apud MAGALHÃES, 2004, p. 17), que
revelou: “a maioria dos professores que usou tecnologia em suas aulas também a
usou em sua vida pessoal”. A essa idéia soma-se a afirmação de Nisan-Nelson
(2001, apud MAGALHÃES, 2004, p. 17): “para poder integrar, eficazmente,
tecnologias no ambiente educacional, os professores precisam ser capazes de
integrar tecnologias em suas vidas pessoais também”, pois dificilmente
professores avessos a produtos da tecnologia fora da escola agregarão tais
instrumentos a suas aulas.
Contudo, para que essas novidades tecnológicas cheguem até a escola e
façam parte do cotidiano de alunos e professores, é preciso pessoas envolvidas
com o ensino, com mente aberta e com disposição para mudanças. Sabe-se que
nem todas as mudanças são bem aceitas por todos: muitos relutam, não gostam
de sair de seu cotidiano. “São alterações que, muitas vezes, perturbam o trabalho
daqueles que estão acostumados a atuar em situações com alto grau de
previsibilidade.” (PENTEADO, 2004, p. 284).
Muitos obstáculos podem atrapalhar a utilização das conquistas da
tecnologia na escola, como a sua infra-estrutura física, classes superlotadas,
pouco material e despreparo dos professores, pois sabe-se que o uso de
instrumentos resultantes de novas tecnologias transforma a rotina da escola,
conforme argumenta Kenski (2003), pois são necessários alguns deslocamentos
48
para aulas em laboratórios e a reorganização da sala de aula, criando uma nova
distribuição de espaço e uma nova relação de tempo no trabalho do professor
com o aluno.
A observação do cotidiano da escola leva à hipótese de que o maior
obstáculo para a adoção de forma consistente de tais produtos gerados pelas
tecnologias atuais possa ser o professor. Ele ainda não a necessidade de
utilizar ferramentas tecnológicas, como, por exemplo, uma simples calculadora
atrelada às suas aulas e, muitas vezes, ainda acredita que métodos tradicionais
possam resolver todas as situações de ensino e aprendizagem. Reforça-se aqui a
afirmação de Moran (2002, apud MAGALHÃES, 2004), enfatizando que o
professor precisa procurar métodos novos, pois os modelos tradicionais não
servem mais.
Muitos não procuram esses novos modelos de ensino, por vislumbrarem
no passado exemplos que para eles deram certo. Para Santos (2000, p. 55), com
medo da perda do comando sobre a sala, grande parte dos professores preferem
não utilizar as tecnologias, entre elas a calculadora ou o computador; preferem a
segurança do tradicional.
Segundo Sandholtz; Ringstaff; Dwyer (1997), os professores ainda
continuam ensinando como antes:
Os professores entram na profissão com noções profundamente
arraigadas sobre como conduzir a escola, eles ensinam como lhes
foi ensinado. Se estas crenças são comuns e ajudam os
professores a negociar a incerteza do trabalho nas escolas, não é
de admirar que os professores fiquem reticentes em adotar
práticas que não foram submetidas ao teste do tempo. Se as
crenças regem o comportamento, o processo de substituir as
crenças antigas por novas torna-se fundamentalmente importante
na mudança da prática educacional nas escolas. (p. 48)
Segundo esses autores, com medo do novo, os professores continuam a
ensinar conforme o método de seus professores, pois acreditam que aprenderam
dessa forma e que seus alunos também podem aprender da mesma maneira.
Com isso, passam a rejeitar as novas propostas de ensino.
49
Para isso deixar de acontecer, o tempo terá que atestar a eles a eficácia
das novas propostas. Isto é confirmado por Oliveira (1999), que explica que a
forma como os professores de Matemática aprenderam os conteúdos com seus
antigos professores pode ter gerado expectativas e concepções com relação à
Matemática, e isso influencia na disposição ou não para aceitar novas propostas
pedagógicas, com novos produtos da tecnologia, inclusive a calculadora.
Pode-se destacar que, além das crenças, os professores enfrentam
situações em que a escola os coloca, que não lhes facilitam a mudança dessas
crenças arraigadas, como a obrigação de terminar todo um conteúdo do
planejamento.
Outras vezes os entraves estão ligados diretamente ao material humano:
professores que sempre se recusam a adotar o novo e a incorporar experiências
bem-sucedidas em suas práticas escolares têm o pensamento de que o novo não
irá contribuir com alguma melhoria do ensino, embora nunca o tenham
experimentado.
Para Bagé (2008), “utilizar pedagogicamente os recursos tecnológicos
demanda um novo papel do professor: o de mediador, distinto daquele que ensina
transmitindo as informações, aplicando exercícios e corrigindo aquilo que o aluno
responde, em termos de certo ou errado” (p.34).
Segundo Borba e Penteado (2001):
Alguns professores procuram caminhar numa zona de conforto
onde quase tudo é conhecido, previsível e controlável. Conforto
aqui essendo utilizado no sentido de pouco movimento. Mesmo
insatisfeitos, e em geral os professores se sentem assim, eles não
se movimentam em direção a um território desconhecido. (p. 54).
Os professores, em sua maioria, reclamam das condições de trabalho, dos
alunos que não aprendem, da falta de motivação, o que gera insatisfação para
professores e alunos. Porém, esses autores sugerem que pouco fazem os
professores para tentar mudar essa realidade, uma vez que, para isso, é
necessário ousadia. E ter ousadia, na educação, é desbravar novos caminhos,
incorporar novas formas de trabalho. Ao invés disso, os professores preferem a
rotina a que estão acostumados, deixando tudo como antes.
50
Um trabalho recente de Muñoz-Repiso (2003, p. 100, apud SCHULMAN,
2004, p. 47), enfatiza “a necessidade de se transformar as condições de trabalho
para poder mudar a prática de ensino, que todos esperam dos professores um
determinado tipo de comportamento”.
Diante disso, muitos professores não adotam nenhuma proposta que
envolva o uso de conquistas da tecnologia, com medo de situações inesperadas e
imprevistas. “Nem todos apreciam enfrentar situações dessa natureza; alguns, ao
perceberem a dimensão do que ocorre na atividade com uso de alguma
tecnologia, preferem não arriscar e passam a evitar o seu uso.” (PENTEADO,
2004, p. 285).
Pode ser que esses professores não possuam, em suas experiências
particulares, exemplos de aulas bem-sucedidas com o uso da tecnologia e,
portanto, deixam-nas de lado, com medo de não saber resolver os imprevistos
que possam aparecer. Postergam a introdução de algo novo, que poderia ser um
motivador a mais, e assim continuam na zona de conforto, sem o medo de perder
o controle da classe. Nóvoa (1995), que pondera sobre o sistema de ensino
português, crê que suas experiências são aplicáveis ao Brasil. Para o autor, é
necessário investir em experiências inovadoras; caso contrário, haverá resistência
pessoal e institucional, provocando a passividade dos professores.
Segundo Borba e Penteado (2001), os professores podem se deparar com
outros obstáculos, que muitas vezes não dependem deles:
Perda de controle aparece principalmente em decorrência de
problemas técnicos e da diversidade de caminhos e vidas que
surgem quando os alunos trabalham com um computador.
Os problemas técnicos podem obstruir completamente uma
atividade. Por exemplo, um professor corre o risco de ter que
alterar todos os seus planos quando se depara com o fato de que
a configuração das máquinas que possibilitaria a execução das
atividades foi completamente alterada pela turma que usou a sala
de informática antes dele. (p. 55).
Com essa explanação, os autores deixam claro que muitos professores
que se aventuram no campo da utilização dos frutos da tecnologia em suas aulas
podem ser surpreendidos por ocorrências alheias a sua interferência. Talvez,
51
também por isso, prevendo algum insucesso dessa natureza, muitos não querem
tentar uma aproximação com as novas técnicas de trabalho.
Retomando a Teoria da Instrumentação, Trouche (2000, apud Rabardel,
1995, p. 6), nos aponta, além desses problemas que podem surgir, outros tipos de
problemas:
Entraves internos (no sentido de entraves físico-eletrônicos)
ligados de maneira intrínseca ao material: trata-se de informações
que podem ser acessíveis ou o, mas que o sujeito não pode
alterar utilizando as únicas funcionalidades do artefato; não
aparecem, nem como objetivo, nem como resultado, ao longo da
realização de um exercício.
Entraves de comandos ligados à existência e à forma, ou seja, à
sintaxe dos diferentes comandos: trata-se de informações que são
acessíveis na interface, e que o sujeito pode utilizar ou alterar com
certos limites, para obter um resultado.
Entraves de organização ligados à organização do teclado e do
monitor, ou seja, à estruturação das informações e dos comandos
disponíveis: trata-se também neste caso, de informações que são
acessíveis na interface, e que o sujeito pode utilizar ou alterar com
certos limites para obter um resultado; elas aparecem como
elementos de uma técnica de realização de um tipo de exercício.
Para o autor, esses entraves concorrem para a pré-estruturação da ação
do sujeito, e devem ser analisados não de maneira geral, mas em relação a um
dado tipo de problemas.
Como exemplo, pode-se citar o cálculo de uma integral dupla, pelo
software Maple, que fornece automaticamente o resultado, sem o detalhamento
das etapas. O aluno pode ou não aceitar esse resultado, sem ter os elementos
para entender como se chegou até ele, pois, na maioria das vezes, esses
procedimentos são inacessíveis e o sujeito não pode alterá-los diretamente.
Contudo, uma reorganização possível do processo de instrumentação permite ao
sujeito algum controle sobre o resultado, bem como uma análise das
funcionalidades dos recursos.
É difícil, ainda hoje, superar as concepções distorcidas do papel do
professor e do aluno sobre a natureza da instrução e da aprendizagem ou até da
tecnologia em si.
52
Porém, há um lado perigoso do uso dos objetos produzidos pela tecnologia
em sala: eles devem ser vistos como ferramentas, como outras tantas, que
alcançarão pouco resultado se não forem integradas de forma correta. De nada
adiantará que as novas conquistas tecnológicas sejam incorporadas ao cotidiano
escolar, se elas não estiverem fundamentadas num projeto pedagógico.
Sua incorporação ao projeto pedagógico pode provocar melhoria da
qualidade do processo de ensino-aprendizagem e espera-se que possa favorecer
o desenvolvimento de iniciativas e estimular a experiência dos professores,
oportunizando trocas e crescimento profissional.
Quanto a isso, os PCN dizem:
A condução de um aprendizado com essas pretensões formativas,
mais do que do conhecimento científico e pedagógico acumulado
nas didáticas específicas de cada disciplina da área, depende do
conjunto de práticas, bem como de novas diretrizes estabelecidas
no âmbito escolar, ou seja, de uma compreensão amplamente
partilhada do sentido do processo educativo. O aprendizado dos
alunos e dos professores e seu contínuo aperfeiçoamento devem
ser construção coletiva, num espaço de diálogo propiciado pela
escola, promovido pelo sistema escolar e com a participação da
comunidade. (BRASIL, 1999, p. 208).
De acordo com os PCN, para acontecer o aprendizado que se espera no
campo das aquisições tecnológicas, além dos conhecimentos próprios de cada
professor em sua área de conhecimento, é importante que nas escolas haja o
envolvimento de alunos, dos professores e da comunidade, para definir os
caminhos a serem seguidos. Cabe à escola propiciar essa interação, para garantir
que a formação de alunos e professores possa estar em constante
aprimoramento.
Para isso, em muito ajudaria se o professor participasse da troca de
experiências entre seus pares, nos horários permitidos pela escola, para poder
apropriar-se de muitas outras experiências pessoais bem-sucedidas e, dessa
forma, usufruir do aperfeiçoamento por meio de uma construção coletiva, o que
traria benefícios a ele e a seus alunos.
Porém, essa mudança de hábito poderá não acontecer com facilidade,
como aponta Rubio (2003), através da observação da realidade nas escolas:
53
[...] muitos professores não concordam com essa nova ordem
educacional, pois requer uma revisão em suas práticas
pedagógicas. Os professores são, devido à natureza de seu
trabalho, pragmáticos. Eles chegam às suas salas de aulas no
primeiro dia de suas carreiras com crenças definidas sobre o
ensino, crenças elaboradas a partir de anos de participação em
um determinado tipo de ensino. (p. 39).
Essa afirmação do autor é confirmada por Schulman (2004, p. 43):
“algumas das funções são mais realizadas de acordo com as crenças dos
professores e com os mecanismos adquiridos pela via da socialização, do que
pela justificativa do saber especializado de caráter pedagógico”.
A realidade e as mudanças atuais têm exigido que professores procurem
uma atualização profissional, dando continuidade aos estudos, o que favorece
confrontar idéias, pôr-se a par do que está acontecendo atualmente pelo mundo,
em termos de novas tecnologias. Conhecer qual a melhor maneira de trabalhar,
como são e quais são as descobertas das novas tecnologias que podem ser
utilizadas na sala de aula pode abrir a oportunidade de trazer e fazer bom uso das
novas tecnologias.
Nesse contexto, Penteado (2004) também enfatiza a interação entre os
pares e com o projeto pedagógico.
A qualidade da ação docente depende da capacidade do
professor interagir com os colegas e outros profissionais. Gosto de
pensar o professor como um de uma rede que conecta atores
tais como: o projeto pedagógico da escola, o computador, outras
mídias, os centro de pesquisas, os técnicos, os alunos, as
famílias, as regras sociais, o professor, as imagens, os sons etc.,
de forma que o movimento de cada um ative neles outras redes e
coloque em jogo o contexto e o seu sentido. O trabalho docente
pressupõe o estabelecimento de conexões entre esses atores. (p.
286).
Para um trabalho com qualidade dentro da sala de aula, o autor sugere
que deva existir união entre todas as partes, tanto entre os profissionais da
educação, os alunos, a sociedade e as diretrizes pedagógicas formuladas, de
modo a envolver a escola em um projeto maior. O trabalho isolado feito por cada
professor pode levar a escola a não ter qualidade em sua ação docente.
54
Para Nóvoa (1995, p. 128): “As escolas não podem mudar sem o empenho
dos professores; e estes não podem mudar sem uma transformação das
instituições em que trabalham”. Visão confirmada por Manrique (2003), que
defende que “[...] para que ocorram transformações em ações dos docentes
torna-se necessário também estender as transformações aos locais em que eles
lecionam”.
O diálogo e o espaço de trocas nas escolas poderão contribuir para o uso
da tecnologia, da calculadora e do computador e, com isso, auxiliar os alunos,
pois as aulas podem se tornar centros de criação e investigação.
Rocha (2002) incentiva esta prática de troca de experiências:
É importante conceber um espaço em que os professores possam
refletir e trocar experiências relativas ao tipo de utilização que os
seus alunos fazem da calculadora, bem como ponderar
estratégias que possam contribuir para uma utilização
progressivamente mais eficiente. (p. 25).
as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) destacam que
o uso das calculadoras e das planilhas eletrônicas deve fazer parte da formação
em Matemática. Considerando a Matemática para a tecnologia, o documento
afirma: “Deve-se pensar na formação que capacita para o uso de calculadoras e
planilhas eletrônicas, dois instrumentos de trabalho bastante corriqueiros nos dias
de hoje.” (BRASIL, 2006, p. 87). E, considerando a tecnologia para a Matemática:
“Há programas de computador (softwares) nos quais os alunos podem explorar e
construir diferentes conceitos matemáticos.” (Idem, p. 88).
É importante pensar numa escola com formação escolar nos dois sentidos:
a Matemática para entender a tecnologia e a tecnologia para entender a
Matemática.
Segundo os PCN:
Ao se denominar a área como sendo não de Ciências e
Matemática, mas também de suas Tecnologias, sinaliza-se
claramente que, em cada uma de suas disciplinas, pretende-se
promover competências e habilidades que sirvam para o exercício
de intervenções e julgamentos práticos. Isto significa, por
exemplo, o entendimento de equipamentos e de procedimentos
técnicos, a obtenção e análise de informações, a avaliação de
55
riscos e benefícios em processos tecnológicos, de um significado
amplo para a cidadania e também para a vida profissional.
(BRASIL, 1999, p. 208).
Diante disso, pode-se inferir que ainda existe um distanciamento entre os
pesquisadores da área do ensino, que defendem a necessidade de mudanças, e
os professores, que fazem o ensino na sala de aula e são resistentes a essas
mudanças.
A utilização das conquistas da tecnologia na sala de aula nem sempre tem
trazido mudanças radicais no trabalho do professor, mas sabe-se que ele vai aos
poucos assumindo um novo papel de organizador didático.
Segundo Rubio (2003):
Com as novas tecnologias, poderemos aumentar as
possibilidades educativas, demonstrando ser possível que um
número cada vez maior de escolas tenham à sua disposição
sistemas informáticos contendo grande quantidade de informação.
Estes sistemas serão instrumentos de grande valor para
professores e alunos. O professor continua presente, mas
assumindo um novo papel. Ele é o organizador e coordenador das
diversas funções. (p. 38).
A rejeição da inserção da tecnologia pode ser decorrente de medos antigos
de que um dia o computador possa vir a substituir o professor, e assim trazer o
desemprego a toda uma classe de profissionais. Como expõe Sathler (2003, p.
53):
talvez a primeira barreira seja a fobia causada pela percepção de
como a automação de fábricas e empresas comerciais
aparentemente ampliou o desemprego, pela substituição de
pessoas por máquinas e computadores, que assumiram as tarefas
mecânicas e repetitivas.
Sabe-se, porém, que a tecnologia oferece ferramentas importantes para o
ensino, mas, apesar de seu potencial, jamais irá substituir os professores. Para
Rubio (2003), é imprescindível haver nas escolas auxílio tecnológico às diversas
disciplinas, o que poderá fazer com que as atividades rotineiras, necessárias na
sala de aula, venham a ser, na sua maioria, automatizadas.
56
Para Borba e Penteado (2001):
No final da década de 70, quando teve início a discussão sobre o
uso da tecnologia informática na educação, imaginava-se que
uma das implicações de sua inserção nas escolas seria o
desemprego dos professores. Muitos deles temiam ser
substituídos pela máquina a máquina de ensinar, como era
conhecida. Esse medo relacionava-se ao fenômeno do
desemprego em diversos setores da sociedade, devido ao avanço
do uso da tecnologia informática. Muitos funcionários eram (e
ainda são) demitidos quando as indústrias e outros setores da
economia passavam a utilizar máquinas computadorizadas nos
setores de produção e administração. Isso porque essas
máquinas realizavam a tarefa de vários empregados, com
economia de tempo e dinheiro. (p. 53).
A escola poderia ser mais eficiente, se enfatizasse mais a resolução de
problemas, a participação dos alunos em atividades para desenvolver conceitos
do que a simples aquisição de conhecimento, em que o professor fala e o aluno é
um receptor passivo de informações, sem estar envolvido de maneira ativa.
Para Rubio (2003), ainda hoje predominam as aulas expositivas e o
trabalho escrito individual, nas salas de aula do Ensino Fundamental e Médio e,
no Ensino Superior, utiliza-se quase que exclusivamente a instrução direta. A
escola deve ser repensada, pois não é ela que detém o monopólio do saber.
A idéia de que a instrução direta e expositiva continua sendo o meio
predominante de ensino deve-se ao fato de que os professores acreditam ser
esse o mais eficaz método de ensino e ser mais fácil dominar os alunos quando
estão sentados nas suas cadeiras, ouvindo uma explicação, durante uma aula
expositiva, respondendo perguntas ou resolvendo exercícios.
As aulas expositivas talvez sejam mais atraentes aos professores e, para
Rubio (2003), isso ocorre porque permitem concluir o programa com mais
facilidade. Mesmo sabendo de outros métodos de ensino com outras abordagens,
os professores preferem não atrasar e garantir o conteúdo, em especial no Ensino
Médio e Superior.
Neste trabalho, não se está renegando o modelo de aula expositiva, pois
ela é apropriada para determinadas atividades, como a introdução de conceitos, a
57
apresentação de informações, entre outras, embora não seja indicada para alguns
casos.
O mesmo acontece com a utilização dos produtos das novas tecnologias,
que deve ser pensada para surtir efeitos positivos. Como exemplo errado de seu
uso, cita-se o computador, uma máquina poderosa que muitos professores
utilizam para trabalhar “digitação”, sentindo-se satisfeitos e completos com esse
uso reduzido.
As conquistas da tecnologia podem, sim, ser utilizadas cada vez mais por
professores em suas aulas, porém de forma consciente e adequada, atreladas a
conteúdos e objetivos bem específicos, de acordo com as peculiaridades
pedagógicas de cada escola ou comunidade. De nada adiantarão se forem
usadas como simples ferramentas disponíveis no mercado, como tantas outras.
Segundo Rubio (2003):
Os benefícios da integração da tecnologia são melhor percebidos
quando a aprendizagem não é meramente um processo de
transferência de fatos de uma pessoa para outra, mas quando o
objetivo do professor é incentivar e permitir a participação ativa
dos alunos, considerando-os sujeitos capazes de ter idéias
próprias e de resolver problemas. (p. 45).
Buscou-se, neste capítulo, analisar a importância dos avanços
tecnológicos no ambiente escolar.
59
CAPÍTULO IV
CALCULADORA: DADOS DE PESQUISA E REFLEXÕES DE
ALGUNS PESQUISADORES
Para realizar este trabalho sobre a calculadora, optou-se pela revisão de
algumas pesquisas na área de Educação Matemática, a respeito desse
instrumento em sala de aula.
Um estudo importante é o de Oliveira (1999), uma tese de doutorado que
tratou da visão dos professores de Matemática do estado do Paraná em relação
ao uso de calculadoras nas aulas de Matemática. O autor faz uma revisão
bibliográfica, tomando autores estrangeiros e que aqui serão analisados como
contribuição para as idéias defendidas nesta pesquisa.
Segundo ele, a utilização da calculadora em sala de aula tem motivado
várias pesquisas em todo o mundo. Pesquisas que mostram se a utilização da
calculadora afeta ou não o desempenho dos alunos em todos os níveis de
escolaridade, diante de muitas situações levantadas, que exigiam soluções,
utilizando a Matemática e analisando a atitude dos alunos.
Os seguintes pontos destacaram-se como centros organizadores de seu
estudo: se as calculadoras devem ou não ser utilizadas na sala de aula; que
caminhos devem ser seguidos; o que é necessário para sua utilização, bem como
quando ou em que atividades utilizá-las.
Em seu estudo, Oliveira (1999) destaca Suidam (1987), que compara o
desempenho de um grupo de alunos, utilizando calculadora, com o resultado do
60
uso de lápis e papel, na resolução de problemas. Chegou à conclusão de que,
utilizando a calculadora, alguns alunos tiveram melhora no seu desempenho,
enquanto outros não apresentaram diferenças significativas. Destaca que, em
nenhum momento, a utilização da calculadora fez com que os alunos
apresentassem um número menor de resultados corretos, na resolução dos
problemas. Dessa forma, diante desse estudo, pode-se entender que, se a
calculadora, para alguns alunos, não favoreceu o melhor entendimento, a
máquina também não prejudicou seu desenvolvimento, visto que não diminuiu a
quantidade de acertos.
Outro estudo destacado por Oliveira (1999), foi o de Discroll (1982), que
cita um estudo de Szetela: em um teste aplicado, os alunos que utilizaram a
calculadora na resolução de problemas e exercícios apresentaram mais
disposição, motivação, interesse, desempenho do que aqueles que não fizeram
uso dela. Neste estudo, notou-se que a calculadora também propiciou aos alunos
um melhor desempenho, sentiram-se mais motivados e, dessa forma, passaram a
ver Matemática com outros olhos, deixando para trás aquele mito de que a
Matemática não pode ser aprendida por todos.
Oliveira (1999) apresenta também o estudo de Reys (1980), que descreve
uma pesquisa feita com professores de Matemática que utilizavam a calculadora.
Os resultados indicam que a atividade assim conduzida fez com que a sala de
aula se constituísse em um ambiente mais favorável à aprendizagem, com mais
debates e, com isso, foi possível trabalhar mais conteúdos, deixando de lado a
parte enfadonha dos cálculos propriamente ditos, tendo sido possível preocupar-
se mais com a formalização dos conceitos.
Essa pesquisa, de acordo com o autor, revela que a calculadora, ao
contrário de que alguns professores pensam não acarreta o atraso no
planejamento: se bem usada, pode acelerar seu desenvolvimento, uma vez que
cria ambientes mais harmoniosos para o trabalho do professor, despertando mais
interesse nos alunos.
Dick (1988), outro pesquisador apontado Oliveira (1999), anuncia que,
embora sejam evidentes os benefícios que o uso da calculadora traz para o aluno
em termos de rapidez e segurança na resolução de exercícios, essas vantagens
61
possuem algumas limitações. Estas devem ser explicadas aos alunos, para que
não se iludam ao pensar que tudo é possível, de posse da calculadora. Dessa
forma, saberão até onde a calculadora lhes servirá como instrumento. Ele ainda
relata que, no início, o professor oferecerá resistência, que desaparecerá quando
descobrir que, com o uso da calculadora, pode-se ensinar mais e os alunos
podem aprender mais Matemática, dispensando sacrifícios desnecessários.
Outro estudo importante é o de Mocrosky (1997), também uma dissertação
de mestrado, que busca entender o que os professores pensam em relação ao
uso de calculadoras em aulas de Matemática. A autora destaca experiências e
reflexões de alguns pesquisadores, que aqui também serão analisados como
contribuição para as idéias defendidas nesta pesquisa.
Entre esses estudos, Mocrosky (1997) destaca Hembree e Dessart (1986),
com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos. Nas discussões sobre a
utilização da máquina de calcular, ficou clara a preocupação dos professores com
o desenvolvimento dos alunos. Observou-se que os alunos principalmente
aqueles que apresentavam maiores dificuldades nos tópicos trabalhados em
Matemática obtêm melhores resultados quando utilizam a calculadora. Concluiu-
se, então, que a máquina facilita os cálculos, diversificando a escolha das
estratégias de trabalho com a resolução de problemas, contribuindo para um
nivelamento entre os alunos, tornando a Matemática mais acessível a todos.
Já em Portugal, a Associação dos Professores de Matemática (APM),
(1994), destacada por Mocrosky (1997), ressalta que a calculadora pode ser
utilizada nas aulas de Matemática, mas, para isso acontecer e apostando no seu
sucesso, é importante que seja feito um trabalho diferente com relação aos
conteúdos que serão trabalhados em sala. É preciso, dessa forma, que o Ensino
Fundamental e Médio das escolas não tenha como objetivo principal se tornar
predominantemente centro de treinamento de alunos, com cálculos metódicos e
repetitivos, mas que seja feito um trabalho consciente com os alunos.
É importante e significativo o enfoque dado pela APM, pois enfatiza que se
deve cuidar mais da prática dos professores de Matemática, uma vez que é
comum o professor fazer um exercício como exemplo e passar ao aluno uma lista
com os mesmos cálculos a serem feitos com o uso da calculadora. Poderá ser
62
preciso empenho em definir estratégias que levem até o aluno um pensar crítico
sobre aquilo que trabalham e por que estão fazendo aqueles exercícios com a
utilização da calculadora.
Rubio (2003), em sua pesquisa de mestrado, mostra que a calculadora é
um instrumento que pode, de imediato, auxiliar nas aulas de Matemática e revela
o quanto é importante ter uma escola que considere os avanços tecnológicos,
sem ficar à margem dos processos de modernização, fora da realidade do aluno.
Segundo ela, deve-se discutir e formular situações que favoreçam o uso da
calculadora como recurso didático, pois seu emprego nas aulas de Matemática
não se resume a “fazer contas”: deve proporcionar ao aluno o debate, o pensar, o
raciocínio e o desafio. Dessa forma, os alunos percebem que nem tudo se resolve
com a calculadora, diante de uma situação não compreendida ou diante da
incapacidade de raciocínio.
Fedalto (2006), em seu estudo de mestrado, mostra a relação entre o
professor de Matemática e o conhecimento de sua disciplina, em situações em
que a calculadora poderia ser utilizada como recurso durante as aulas no Ensino
Médio. Chegou-se à conclusão de que o uso da calculadora depende de
condicionantes diversos, como a formação do professor; suas concepções sobre
o que seja a Matemática e seu ensino; as diretrizes do governo e da escola. Seu
trabalho mostra indícios que permitem afirmar que as calculadoras não são
usadas e nem se fala mais nelas. Com o aparecimento de novos recursos
tecnológicos, as calculadoras (ao menos os modelos mais simples) deixaram de
ser objeto de preocupação dos estudiosos, e o futuro previsto por alguns
educadores não se concretizou.
Karrer (1999) fez seu estudo para o mestrado com oito duplas de alunos,
utilizando a calculadora no entendimento de logaritmos, e mostra que esta
representou um instrumento eficaz, possibilitando centrar a atenção no conceito, e
não nas técnicas de cálculo, mas que cabe ao professor decidir em qual situação
utilizá-la, para que ela se possa revelar, de fato, eficiente.
Dessa forma, a autora mostra que é possível desenvolver um conceito
matemático em sala de aula de forma motivadora e significativa, quando o
trabalho é feito procurando envolver a participação do aluno, explorando
63
constantemente situações próximas de seu cotidiano. Nessas circunstâncias, os
estudantes não assumem um papel apático e passivo, caracterizado pela espera
da transmissão de um conhecimento como algo obrigatório: passam a assumir um
papel de construtores de conhecimento, apresentando interesse e compromisso
com a formação desse novo saber.
A questão acompanhada de reflexão trazida pelos resultados dessas
pesquisas não é apenas se a calculadora deve ser usada ou não, mas também
qual a melhor maneira de ser utilizada. Isso passa pelo professor em sala de aula,
por suas crenças, por seus costumes, por sua formação, enfim, pelas concepções
que ele tem da máquina em relação ao ensino e à aprendizagem de Matemática.
Se os professores acreditarem em um ensino baseado em princípios conceituais,
para depois construir os algoritmos, a calculadora pode ser um instrumento de
reforço conceitual.
Nesse contexto, Borba (1995) salienta
que a utilização da calculadora na sala de aula proporciona a
geração de um espectro mais amplo de discussão por parte dos
alunos, apontando um mero maior de eixos diretivos de
investigação e, apesar de não eliminar totalmente a atitude de
passividade dos alunos, aumenta as possibilidades de ocorrer
debates matemáticos em sala de aula. (BORBA, 1995, apud
OLIVEIRA, 1999, p. 18).
É preciso uma reflexão sobre o que se espera com relação ao ensino de
Matemática, diante da decisão de utilizar a calculadora. Para Nobre (1985), se
calcular mecanicamente as operações básicas, sabendo suas cnicas, for o
sentido para o ensino da Matemática, não se deve utilizar a calculadora, pois isso
afasta os alunos desse tipo de exercício. Contudo, se desenvolver raciocínio e
habilidades de estimativas for o objetivo, sua utilização em sala faz sentido. O
ensino não deve estar centrado na máquina, que deve aparecer apenas para
ajudar o trabalho do professor e do aluno.
Os resultados apresentados nessas pesquisas revelam que é comum a
todos os autores a afirmação de que o uso da calculadora como instrumento de
cálculo em sala de aula deixa espaço para os alunos concentrarem seus esforços
mais nos métodos, na elaboração de estratégias e na resolução de problemas.
64
Essa prática favorece o entendimento de conceitos, a compreensão e o
desenvolvimento de algoritmos, além de despertar no aluno o interesse pela
Matemática. Assim, poderá facilitar o trabalho dos professores e propiciar aos
alunos um aprendizado de melhor qualidade, podendo levar os professores a
trabalhar mais tópicos em sala de aula.
Diante desta revisão bibliográfica e dos dados empíricos que os autores
apresentam, constatou-se a valorização do uso da calculadora nas aulas de
Matemática, indicando uma aproximação da visão dos professores envolvidos no
presente estudo.
65
CAPÍTULO V
A PESQUISA
5.1 Descrição dos sujeitos
Neste capítulo serão apresentados os procedimentos metodológicos desta
investigação.
Para a realização deste trabalho, que tem como foco principal a prática do
professor – permeada ou não pela utilização da calculadora em sala de aula e a
visão dos pesquisadores que se aprofundaram no assunto, por meio de suas
pesquisas sobre o tema “calculadora”, optou-se pela entrevista constituída de
perguntas fechadas e abertas, relacionadas ao uso da calculadora nas aulas de
Matemática.
Tal escolha justifica-se por ser uma maneira de captar a experiência
consciente, com a possibilidade de contar com um roteiro flexível e aberto aos
diferentes modos de reação do entrevistado, além de permitir ao pesquisador
refletir e tomar consciência passo a passo do material recolhido em suas
entrevistas (Gomes, 1997).
A meta desta pesquisa é buscar esclarecer o modo pelo qual o professor
do Ensino Fundamental e Médio entende a prática, utilizando as calculadoras na
sala de aula, e contribuir com a Educação Matemática, na medida em que
propostas pedagógicas poderão ser apresentadas com base neste estudo.
As questões da entrevista privilegiaram os seguintes focos:
66
Como e por que os professores utilizam ou não a calculadora?
Qual a melhor maneira de utilizar a calculadora nas aulas de Matetica?
Quais os critérios de seleção de conteúdos e estratégias, para o uso da
calculadora?
Quais as vantagens e as desvantagens do uso da calculadora?
Quais os caminhos para o uso da calculadora?
A ação de investigar a utilização da calculadora admite muitas
possibilidades, levando a diferentes direções. Poder-se-ia abordar as concepções
que o professor tem sobre o uso da calculadora no processo de ensino e
aprendizagem dos conteúdos matemáticos. Outro ponto interessante seria tratar
da formação desse professor que hoje leciona no Ensino Fundamental e Médio.
Ou, ainda, analisar a expectativa que toda a sociedade, por intermédio dos pais,
da direção e da coordenação, alimenta em relação às novas tecnologias e às
transformações que delas podem decorrer.
Entretanto, a opção, aqui ditada pela experiência profissional do
pesquisador deste trabalho no magistério no Ensino Fundamental e Médio e pela
sua dúvida inicial foi por tratar desse assunto mais diretamente, por meio da
compreensão do fazer do professor.
Assim sendo, para realizar este trabalho, a preocupação foi mais entender
como acontece a utilização ou não da calculadora, em sala de aula, e
compreender a visão dos pesquisadores que aprofundaram seus estudos sobre o
assunto. Buscou-se construir as idéias em torno do que os professores e os
pesquisadores pensam ou concebem sobre a utilização dessa conquista da
tecnologia – a calculadora – nas aulas de Matemática.
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi muito importante considerar a
experiência vivida, pois buscava-se entender como o professor de Matemática do
Ensino Fundamental e Médio entende o uso a calculadora em sala de aula. Isso
dependia da experiência e das práticas de cada professor, que não podem ser
separadas daqueles que as vivenciaram.
67
A intenção, ao perguntar sobre o uso da calculadora nas aulas de
Matemática, foi entender o que esse uso ou a falta dele representava para o
professor, pois a finalidade não estava em quantificar dados, mas em conhecer as
compreensões que tem o professor, quando utiliza a calculadora como um
recurso didático.
Tendo clara a pergunta a ser feita e os procedimentos da pesquisa, foi
delimitado o campo de atuação e a escolha dos sujeitos que dela participariam.
Os sujeitos são professores de Matemática do Ensino Fundamental e
Médio da rede pública e particular do estado de São Paulo e também
pesquisadores do assunto, de forma a traçar um paralelo entre essas visões e os
resultados das pesquisas envolvendo o tema.
Foram entrevistados seis professores três utilizam a calculadora e três
não fazem uso da máquina em suas aulas de Matemática e três pesquisadores
da área de Educação Matemática que pesquisam o tema “calculadoras”.
As entrevistas com esses sujeitos foram gravadas individualmente. Com os
professores que utilizam a calculadora a entrevista foi realizada na instituição
onde ainda estudam e com os professores que não fazem uso dela as entrevistas
aconteceram nas próprias instituições onde trabalham, com hora marcada, de
acordo com seu tempo disponível. Todos se mostraram receptivos e interessados
em participar da pesquisa, ao saberem do propósito da conversa.
A coleta de dados foi obtida mediante os depoimentos, por expressarem o
discurso dos sujeitos de forma organizada sobre seu conceito e sobre o
entendimento que possuem a respeito do uso da calculadora nas aulas,
aproveitando-se de sua experiência.
Gravados os depoimentos, foi feita a transcrição das fitas, respeitando as
declarações e as formas de expressão dos sujeitos, para não interferir no discurso
como um todo.
Dessa forma, as entrevistas transformaram-se em material de pesquisa,
pelo qual se teve acesso à prática dos sujeitos, professores de Matemática e
pesquisadores que, de uma maneira ou de outra, viram-se frente a frente com a
68
calculadora como um recurso didático ou como um instrumento de cálculo e
optaram pelo seu uso ou não, em sua sala de aula.
Analisando sob vários ângulos os depoimentos, que se movimentaram em
torno da prática em sala de aula, foi percorrido um caminho com total isenção e
liberdade, mas com o intuito de revelar o fundamental nas experiências descritas,
tais como foram expressas pelos sujeitos em suas falas.
Nesse sentido, foi desenvolvida a tarefa de leitura dos textos tantas vezes
quantas fossem necessárias, objetivando captar o entendimento da utilização da
calculadora em sala de aula por parte dos sujeitos. Nesse processo, destacaram-
se, dos depoimentos, as passagens que melhor respondiam às perguntas
formuladas.
5.2 Procedimentos de coleta
As entrevistas elaboradas para a pesquisa continham perguntas que
tratavam das características pessoais de cada sujeito pesquisado, sua formação e
sua prática docente em relação ao uso da calculadora em suas aulas de
Matemática.
Em relação às características pessoais dos sujeitos, foram identificados o
tipo de escola e a cidade em que lecionavam; o tipo de mantenedora da escola, o
período em que lecionavam; o tempo de magistério. Com relação à formação
profissional, foi perguntado sobre seu curso de graduação, o local de realização, o
ano do término da graduação, o tempo de magistério.
Sobre a prática docente, perguntou-se aos sujeitos que utilizavam a
calculadora em suas aulas em quais situações e atividades o faziam e quais os
critérios que utilizavam para a seleção das atividades; de onde retiravam as
atividades por eles aplicadas; quais objetivos pretendiam atingir; em quais
conteúdos se poderia empregar com maior eficiência a calculadora; e se esse uso
seria possível em todos os conteúdos.
69
Para os sujeitos que não utilizavam a calculadora em suas aulas de
Matemática, foi perguntado o porquê do não-consentimento na sua utilização,
suas desvantagens e a visão que tinham em relação ao uso da calculadora.
Os sujeitos pesquisadores foram questionados quanto à melhor maneira
de utilização da calculadora em sala de aula; à escolha de conteúdos e de
atividades; e aos caminhos a serem seguidos para uma eficiente utilização; além
disso, o que indicam as pesquisas referentes ao uso da calculadora.
Com relação ao uso da calculadora no processo de formação universitária
de todos os sujeitos, foi perguntado se, durante o curso de graduação, em algum
momento foi dado enfoque ao uso dos novos produtos das tecnologias, em
especial a calculadora; em caso de resposta afirmativa, buscou-se saber como
isso foi feito e se isso poderia ou não estar interferindo na sua prática docente.
5.3 Conhecendo os sujeitos
Neste capítulo será feita a análise dos resultados obtidos a partir das
respostas recebidas nas entrevistas feitas com os sujeitos da pesquisa,
relacionadas com o uso da calculadora nas aulas de Matemática.
Os nomes dados aos sujeitos apresentados a seguir são fictícios, com a
intenção de preservar suas identidades: os entrevistados que utilizam a
calculadora em suas aulas de Matemática foram chamados de Eduarda, Joana e
Marcela e os que não fazem uso da calculadora em suas aulas de Matemática
são Pedro, José e Fábio. Fernanda, Patrícia e Cauã são os pesquisadores,
sujeitos desta pesquisa que aprofundaram seus estudos, tentando entender e
vislumbrar uma melhor compreensão sobre o uso da calculadora nas aulas de
Matemática.
Em razão da importância dos dados obtidos, apresentam-se nas tabelas
que se seguem alguns dados exploratórios referentes às características pessoais
dos sujeitos da pesquisa que utilizam e que não utilizam a calculadora em suas
aulas de Matemática.
70
Tabela 1
Sujeitos que utilizam Sujeitos que não utilizam
Cidade em
que lecionam
Eduarda - São Paulo, SP.
Joana - Jundiaí, SP.
Marcela - Rio Grande da Serra, SP.
Pedro - Conchal, SP.
José - Piracicaba, SP.
Fábio: Piracicaba e Limeira, SP.
Pode-se verificar que todos os sujeitos lecionam no estado de São Paulo.
A maior parte, quatro professores pesquisados, leciona no interior de São Paulo,
nas cidades de Conchal, Piracicaba, Limeira e Jundiaí; dois professores
trabalham na capital, sendo um deles professor na Grande São Paulo, na cidade
de Rio Grande da Serra. Os sujeitos que não utilizam a calculadora lecionam no
interior do estado.
Tabela 2
Sujeitos que utilizam Sujeitos que não utilizam
Tipo de
escola
Eduarda - Rede estadual e particular
Joana - Rede estadual e particular
Marcela - Rede estadual
Pedro - Rede estadual
José - Rede estadual e particular
Fábio - Rede estadual e particular
Quanto ao tipo de escola em que os sujeitos lecionam, verificou-se que a
maioria dos sujeitos, quatro professores, leciona em dois tipos de escola: na
escola pública estadual e na escola particular, e apenas dois professores
lecionam apenas na escola pública estadual.
Entre os quatro professores que trabalham em escola estadual e privada,
dois utilizam a calculadora e, dos dois professores que trabalham unicamente na
rede pública, apenas um faz uso da calculadora.
Tabela 3
Sujeitos que utilizam Sujeitos que não utilizam
Período
Eduarda - diurno e noturno
Joana - diurno e noturno
Marcela - diurno e noturno
Pedro - diurno e noturno.
José - diurno e noturno
Fábio - diurno e noturno
71
Em relação ao período em que lecionam, todos os professores que utilizam
ou não a calculadora ministram aulas nos dois períodos: diurno e noturno.
Quanto ao grau em que lecionam, também todos os professores os que
utilizam e os que não utilizam a calculadora – trabalham no Ensino Fundamental e
no Ensino Médio simultaneamente.
Tabela 5
Sujeitos que utilizam Sujeitos que não utilizam
Tempo de
magistério
Eduarda - 18 anos
Joana - 15 anos
Marcela - 7 anos
Pedro - 14 anos
José - 15 anos
Fábio - 16 anos
Em resposta ao tempo de magistério, verificou-se que a maioria dos
sujeitos pesquisados se apresenta como exercendo há mais de dez anos o
magistério, enquanto que um menor percentual representa os professores que
lecionam menos de dez anos. Dos professores com mais de dez anos de
magistério, 60% deles não utilizam a calculadora em suas aulas.
Tabela 6
Sujeitos que utilizam Sujeitos que não utilizam
Tempo de
formado
Eduarda - 8 anos
Joana - 11 anos
Marcela - 4 anos
Pedro - 13 anos
José - 13 anos
Fábio - 8 anos
Quanto ao tempo de formado, metade deles declara ter menos de dez
anos de formado, sendo que, dos três professores com mais de dez anos de
magistério, dois não utilizam a calculadora, e, portanto, existe, de acordo com
esta pesquisa, um maior porcentual de professores com maior tempo de
magistério que não utiliza a calculadora.
Em comparação com os resultados da pergunta sobre o tempo de
magistério e o tempo de formado, é interessante observar que todos os
entrevistados possuem mais tempo de magistério do que tempo de formado, o
72
que permite concluir que, mesmo antes de se formarem, lecionavam e tinham
contato com alunos em uma sala de aula.
Todos os entrevistados estudaram em escola mantida pela iniciativa
privada e todos fizeram o curso de Licenciatura Plena em Matemática, tanto os
que utilizam, como aqueles que não utilizam a calculadora.
Como também se busca compreender a maneira como a calculadora é
utilizada pelos professores nas aulas de Matemática, ou os motivos de sua não-
utilização, foi necessário fazer uma análise das respostas abertas nas entrevistas.
Os professores participantes desta pesquisa acompanham as preocupações e os
anseios dos pesquisadores até aqui estudados e também a visão dos três
pesquisadores entrevistados e sujeitos desta pesquisa.
No próximo capítulo será feita a análise dos depoimentos que emergiram
do movimento feito durante toda a trajetória das entrevistas e foram distribuídos
em quatro eixos: motivações para o uso; formas de utilização; formação do
professor; e desafios no uso da calculadora.
73
CAPÍTULO VI
INTERPRETANDO OS EIXOS DE ANÁLISE
6.1 Motivação para o uso
O eixo de análise motivação para o uso pretende discutir motivos que
levam o professor de Matemática, em sua sala de aula, a usar ou o a
calculadora. Apresentam-se as motivações descritas pelos sujeitos e que poderão
servir de auxílio a outros professores de Matemática em suas aulas, despertando,
assim, o interesse para o uso da máquina.
Os professores participantes desta pesquisa descrevem várias de suas
motivações para o uso, o que pode ser um dos pontos cruciais para a introdução
e a utilização da calculadora nas aulas de Matemática.
Com relação às motivações para o uso, os depoentes apresentam os
seguintes motivos:
agilidade;
fácil acesso;
melhor comportamento da sala;
novidade para a maioria dos alunos;
maior envolvimento dos alunos com a Matemática;
mais facilidade dos alunos para os cálculos;
aulas mais interessantes;
74
situações com cálculos exatos não são mais necessárias;
pouca oposição ao seu uso;
maior precisão nos cálculos;
aprendizagem mais eficiente;
mais tempo livre para outros conteúdos.
Os sujeitos pesquisados que utilizam a calculadora relatam a importância
dos motivos apresentados, que podem ser considerados por professores e,
assim, despertar uma maior motivação para o uso da calculadora em professores
e alunos, no processo de ensino e aprendizagem, dentro da sala de aula de
Matemática.
Os sujeitos entrevistados que utilizam a calculadora direcionam suas falas
para pontos específicos que envolvem a prática pedagógica. Declaram em seus
depoimentos que os alunos não precisam dispensar, ou perder, um maior tempo
com as contas, pois o uso da calculadora traz agilidade e maior precisão nos
cálculos, uma vez que o trabalho mecânico de fazer contas é realizado pela
máquina, e o desenvolvimento daquele conteúdo específico é mais rápido, não
desestimulando o aluno. Para eles, com a utilização da calculadora, a aula flui
rapidamente e sobra mais tempo para trabalhar outros conteúdos.
Para Eduarda, a calculadora é utilizada para facilitar e agilizar seus
cálculos, “uso, ultimamente, somente para agilizar a resolução de exercícios, esse
é meu critério”.
Contudo, existem professores que, ao tentarem fazer uso, sentiram o
inverso: destacam que, com o uso da calculadora, suas aulas se tornaram
demoradas, atrasaram seu planejamento. Para Pedro, “uma de minhas
dificuldades era com o tempo, o que planejava para uma aula, demorava três”.
José, um dos sujeitos desta pesquisa, diz ter utilizado a calculadora em
suas aulas por algumas vezes, mas que parou com seu uso porque atrasava todo
seu planejamento e, como tinha um conteúdo a cumprir, optou por não mais
utilizar essa ferramenta. Segundo José, “desisti de usar, por causa do conteúdo
que temos que cumprir”.
75
O uso da calculadora também é apontado por Joana como motivação, por
ser um instrumento barato, de fácil aquisição, ao qual todos podem ter acesso.
Não se trata de algo fora da realidade das escolas, pois a maioria dos alunos
pode comprar ou trazer emprestada de sua casa. Quando não for possível que
todos os alunos tenham em mãos uma calculadora, por algum um motivo, a
escola pode desempenhar esse papel de universalização da máquina entre os
estudantes. Segundo Joana, “todos podem ter uma calculadora simples, não
custa caro e, quando não pode, a escola deve ter algumas à disposição do
professor”.
Também Patrícia destaca a questão do custo: “não se pode dizer que não
têm acesso a calculadoras, pois elas têm um baixo custo e sabe-se que as
escolas poderiam comprar um kit com 30 ou 40 calculadoras, e, dessa forma,
universalizar a máquina entre todos os estudantes da sala”.
Entretanto, Joana relata que foi difícil sua aquisição por todos os alunos.
Ela tentou minimizar a situação, realizando uma reunião com os pais, para
explicar qual o motivo e o objetivo de seu uso.
Os pais não deixavam os alunos levarem a calculadora para a escola,
porque acreditavam que poderia atrapalhar o desenvolvimento de seu filho em
Matemática.
Primeiramente um grande problema é que, mesmo usando as
calculadoras comuns (não cientificas), nem todos os alunos têm.
Em muitas classes tive que fazer reuniões com os pais, pois
muitos deles não autorizam os filhos a levarem calculadora para a
escola, pois julgam como errado, então tenho que explicar quais
são os objetivos que tenho ao trabalhar com este instrumento.
(PATRÍCIA).
Patrícia, uma das pesquisadoras entrevistadas, pensa que qualquer
escola pode comprar um kit com 40 ou 50 peças e não se conformou com a
realidade encontrada por Pedro, um dos sujeitos desta pesquisa, que leciona em
uma escola de periferia e não utiliza a calculadora em suas aulas:
76
Não utilizo a calculadora em minhas aulas de Matemática, por
dificuldade de material, não temos verbas para este tipo de
material, e quando requisitado para que os alunos tragam,
somente alguns trazem, e mesmo querendo utilizar a calculadora
dos computadores, temos três computadores sucateados, que não
atendem à demanda. (PEDRO).
Pode-se apontar, pelos depoimentos, que os pais ainda não compreendem
a real função da calculadora na escola: alegam que não tiveram esse tipo de
ensino, quando estudantes, e por isso a calculadora é dispensável. Todavia, os
pais admitem que o computador deva fazer parte do cotidiano escolar, sendo esta
outra novidade que também não partilharam em seus bancos escolares, mas
acreditam ser importante para o desenvolvimento de seus filhos. Há, portanto,
uma contradição por parte deles.
Patrícia, pesquisadora e sujeito desta pesquisa, acredita que esse fato se
porque dentro das escolas pula-se, de certa forma, a etapa da calculadora e
começa-se a falar muito em computador, acompanhando o que está acontecendo
fora das escolas. Com isso, o professor deixou de utilizar todo o potencial que a
calculadora tem para o estudo da Matemática. Segundo Mocrosky (1997, p. 168),
“proibi-la de entrar nas instituições escolares seria privar o aluno de aprender com
um instrumento tecnológico que está disponível no cotidiano”.
Sabe-se que, dentro da sala de aula, o professor deve despertar no aluno
uma motivação para aprender, e a calculadora pode ser o caminho para isso.
Com ela, principalmente no Ensino Fundamental, quando são mais jovens, os
alunos podem aprender mais, como relata Eduarda em seu depoimento. A
calculadora é vista como novidade, como algo proibido, segundo ela, e é sabido
que a novidade desperta nos jovens uma atração.
Assim sendo, deve-se aproveitar esse fascínio pelo novo para instigar os
alunos, como afirma Eduarda:
Para eles em minhas aulas não é mais novidade, mas, quando
começo a utilizar com o Ensino Fundamental, eles ficam muito
eufóricos e animados, eles vêem a calculadora no Ensino
Fundamental como algo proibido, isso pode ser dito até pelos
pais. (EDUARDA).
77
Porém, no Ensino Médio, com alunos adolescentes, para quem a
calculadora não é “novidade”, também é possível aproveitar esse fato, pois
pode acontecer de muitos alunos ainda não terem tido contato com essa
máquina. Muitos deles sequer tiveram oportunidade de pegar uma calculadora, e
esse contato pode ser importante para sua vida profissional. E é a escola o local
mais apropriado para isso ocorrer.
Marcela também destaca que os alunos, de posse da máquina, acreditam
que não irão errar, que a máquina, por si só, seja a solução dos problemas, “a
calculadora pode ser um instrumento de status para os alunos, e acreditam que
não irão errar por causa da calculadora”.
Isso pode ser usado como um fator de motivação, porém deve-se
esclarecer aos alunos que não é desta forma que devem olhar para a máquina:
basta digitar, teclar e está pronta a solução da atividade. Nada adiantará o
recurso da máquina, se o aluno não souber o caminho para a resolução das
atividades; é preciso uma reflexão e um conhecimento prévio do que se espera,
interpretando a situação em que se coloca o cálculo, ou então seu uso pode ser
inútil.
Nessa linha de pensamento, Mocrosky (1997) pontua:
As calculadoras, bem como os computadores, são instrumentos
tecnológicos e, como tais, sua utilização é de extrema
importância. Porém, seu uso deve transcender o saber manusear
a máquina, que deve ser utilizada por todos. O conhecimento
tecnológico de ferramentas tecnológicas deve ir além da
alfabetização, ou seja, além dos primeiros passos que levem ao
saber manipulá-las. (p. 39).
Para a autora, não basta apenas saber digitar e fazer contas com a
calculadora, pois esse não é o ponto central e o mais importante no ensino da
Matemática. Também dentro desse contexto, eis o que diz a pesquisadora
Fernanda, sujeito desta pesquisa:
[...] como se o ensino da Matemática tivesse como objetivo central
ensinar o aluno a resolver “continhas”. Se assim fosse,
poderíamos dar promoção escolar para pessoas que mesmo sem
saber ler e escrever direito e interpretar situações complexas
resolvem continhas de cabeça. (FERNANDA).
78
Fernanda também evidencia a importância da interpretação das situações,
colocando os cálculos em segundo plano. Para ela, resolver com facilidade as
contas de cabeça ou em uma calculadora não é uma condição imprescindível
para a continuação dos estudos, principalmente em Matemática. O aluno deve
refletir, organizar, criar estratégias de resolução para cada determinada situação
e, quando tiver tudo isto concatenado, partir para a digitação dos números na
calculadora, encontrando e validando esses resultados.
Os depoimentos, levando em conta as motivações para o uso, deixam
claro que os sujeitos pesquisados que utilizam a calculadora consideram como
principal motivação o fato de utilizar a calculadora como um instrumento de
cálculo, um método auxiliar para fazer as continhas, para um melhor
aproveitamento do tempo nas aulas. Isso faz supor essa como a principal razão
para o seu uso.
Os professores entrevistados que utilizam a calculadora dão indícios de
que não se preocupam com o potencial didático e educativo dessa ferramenta e
valorizam-na pela sua rapidez e pela exatidão no momento de fazer cálculos
algébricos. Isso leva a pensar que talvez os professores estejam deixando de
buscar formas alternativas de aproveitar todo o potencial que a máquina oferece,
no desenvolvimento de habilidades matemáticas, deixando para segundo plano o
uso desse instrumento tecnológico de fácil acesso como apoio pedagógico, para o
ensino da Matemática.
Libâneo (2000, apud RUBIO, 2003) afirma que, diante da complexidade
das relações comunicacionais no mundo contemporâneo, é necessário que os
professores aprendam a pensar e a praticar comunicações midiatizadas, como
uma das condições para a formação da cidadania. Esse autor ressalta que:
Não basta que os professores disponham, na escola, dos meios
de comunicação ou apenas saberem usá-los. É preciso que
aprendam a elaborar e a intervir no processo comunicacional que
se realiza entre professores e alunos por meio de mídias. (p. 107).
Para Rubio (2003), os professores usarão uma calculadora, quando
tiverem uma formação adequada, o equipamento disponibilizado a contento,
79
material didático com sugestões curriculares adequado, com objetivos e tarefas, e
um devido suporte de retaguarda.
Assim sendo, de acordo com os depoimentos, os professores pesquisados
parecem não terem ainda não conseguido atingir esse amadurecimento
desejável, que lhes dê condições para um uso eficiente da máquina.
6.2 Formas de utilização
Pretende-se discutir neste eixo de análise as diversas formas de utilização
da calculadora em sala de aula, apresentadas pelos sujeitos da pesquisa, na
tentativa de compreender os caminhos trilhados pelos professores de Matemática
pesquisados.
De acordo com as entrevistas, é possível destacar alguns itens apontados,
que indicam conteúdos e formas de utilização da calculadora em sala de aula:
em exercícios em sala;
em tarefas para casa;
em avaliações;
em situações em que seria difícil utilizar os instrumentos de uma aula
tradicional;
com números racionais e irracionais;
com radicais;
com raiz quadrada;
em jogos;
em logaritmos;
em Matemática financeira;
com números decimais;
em Análise Combinatória;
em Progressões Aritméticas e Geométricas;
80
na Regra de três;
em Geometria Analítica; no cálculo da distância entre dois pontos, pontos
colineares;
em Trigonometria;
em matrizes;
em determinantes;
em áreas e volumes;
na resolução de problemas;
Para Eduarda e Joana, professores entrevistados, uma das formas de
utilização da calculadora é com os conteúdos de Matemática Financeira. Eduarda
relata que, lecionando para a série no Ensino Fundamental, sem uma
preparação prévia, autorizou o uso da calculadora, durante uma de suas aulas. A
partir daí sua prática foi modificada: passou a utilizar a calculadora com mais
freqüência, adotando-a como recurso didático em suas aulas. Dessa forma, sentiu
que melhorou o aprendizado de seus alunos, porém ressalva que sua utilização é
permitida quando o alvo não são propriamente as contas.
Joana diz: “tem atividades que os alunos devem apenas fazer os cálculos
rápidos com o uso da calculadora, no caso da Matemática Financeira, por
exemplo, o que vale é o conceito e não a conta em si”. Eis o que diz Eduarda a
respeito:
Quando dei aulas para a sétima série, ensinando juros para eles,
eu autorizava a usar a calculadora em algumas ocasiões, inclusive
na prova, quando o objetivo principal não era o cálculo em si;
desde então permito que meus alunos utilizem a calculadora,
nestas mesmas condições, quando o cálculo não é o foco.
Seria importante que todos os professores passassem por esse tipo de
experiência em sala de aula, como aconteceu com Eduarda, mesmo sem prever
ou planejar o uso da calculadora, deixando isso acontecer de um momento para
outro. Mesmo assim, deu-se de forma satisfatória e despertou no professor o
interesse em continuar com novas experiências. Para Mocrosky (1997, p. 30), “as
calculadoras devem ser utilizadas em todas as atividades programadas ou não,
81
pois auxilia o cálculo nos problemas e desempenha o papel de instrumento de
descoberta de novos conceitos”.
Nesse caso a autora ressalta que, em muitas situações ocorridas em sala
de aula, poderá surgir alguma idéia relacionada ao conteúdo e à inserção da
calculadora; acontecendo isso, o professor pode aproveitar e, a título de
experiência, inserir a calculadora. Assim sendo, pode ocorrer de, mesmo sem um
planejamento anterior, o professor gostar dos resultados e passar a fazer uso da
máquina com mais freqüência.
Os três professores entrevistados concordam com o uso da calculadora
nas atividades de sala: desde que o foco não sejam as contas em si, não existe
motivo para proibição.
Quanto às atividades, como tarefa ou complemento, nenhum deles
fiscaliza se as atividades foram ou não feitas com o auxílio da calculadora se
não incentivam seu uso, também não o proíbem. Nas palavras de Eduarda, “em
casa, não fiscalizo e nem pergunto se usaram ou não”.
em relação ao uso nas avaliações, dois posicionamentos favoráveis,
e uma das entrevistadas, Marcela, é terminantemente contra, mesmo que o aluno
tenha usado calculadora durante as aulas; acredita que nas avaliações o aluno
deva estar pronto para a realização dos cálculos, e estes devem ser feitos
manualmente, Ela diz: na prova nunca, porque nos exercícios estou
desenvolvendo o raciocínio e nas provas quero que ele demonstre o seu
aprendizado”,
Vale ressaltar que a professora em questão acredita que, de certa forma,
usando a calculadora nas provas, não estará desenvolvendo o raciocínio do
aluno. No entanto, para Mocrosky (1997, p. 172), “acreditar que a calculadora
inibe o raciocínio, impedindo o aluno de pensar, seria considerar que o cálculo
correto das operações é a própria operação e a racionalidade a ela inerente”.
Outro ponto de vista, diferente de Marcela têm Eduarda e Joana: não
existe motivo para a proibição nas avaliações, visto que os alunos aprenderam e
utilizaram a calculadora no desenvolvimento daquele conteúdo ali exigido e,
portanto, também devem fazer uso dela para demonstrar o que aprenderam.
82
Afirma Joana: “Sempre deixo usarem na prova, como não deixaria? Durante as
atividades de sala e em casa fizeram uso, nem teria argumento para isso”.
Eduarda diz: “na prova permito também, se eu trabalhei nos exercícios em sala,
não vejo por que de não deixar na prova também”.
A pesquisa desenvolvida por Loureiro (1991) traz contribuição importante
em relação aos métodos de avaliação e aproxima-se das considerações das
entrevistadas:
As mudanças decorrentes da utilização da calculadora nas aulas
devem vir acompanhadas de alterações nos métodos de
avaliação, para que estes se adequem ao tipo de aula praticada,
evitando-se um salto de incompatibilidade entre a estratégia
utilizada pelo professor e a forma de avaliação. (p. 347).
Para o autor, não deve haver diferenças entre as estratégias utilizadas na
avaliação e na prática exercida durante o percurso em sala de aula, pois tanto a
aula como a avaliação devem ser tratadas de forma igualitária.
Quanto aos conteúdos apresentados pelos sujeitos da pesquisa, a
calculadora pode ser usada em cálculos de raiz quadrada, pois o professor, além
de encontrar raízes de números menores, pode trabalhar com números altos e
decimais.
Dessa forma, não é preciso acomodar a situação, propondo para os alunos
situações que envolvam números com raiz quadrada exata. Assim, podem
explorar mais exercícios e situações que se apresentam no cotidiano, no dia-a-
dia, pois, na maioria das vezes, os valores ali existentes não são exatos.
Já, em relação às operações com decimais, todos os três sujeitos
trabalham este conteúdo, em alguns casos por meio de jogos, como, por
exemplo, o jogo Labirinto.
fiz também algumas atividades com o objetivo de fazer com
que o aluno percebesse que nem sempre que eu faço uma
divisão, estou diminuindo o número, e nem sempre que multiplico,
estou aumentando o número. Isso quando estou operando com
decimais, utilizo aquele jogo “Labirinto”. (EDUARDA).
83
Sobre a utilização da calculadora com jogos, Joana diz: “Com o jogo
Labirinto, meu objetivo é que os alunos aprendam a trabalhar com as quatro
operações com números decimais, desvendando alguns mitos, por exemplo:
sempre que houver uma multiplicação o resultado será maior”.
Para Marcela, “quando quero demonstrar para o aluno que nem sempre
que divido dois números ele diminui, com números decimais, faço a aplicação do
jogo chamado Labirinto”. Um dado interessante das entrevistas é que os três
entrevistados utilizam o mesmo jogo no ensino das operações com decimais;
talvez isso aconteça por eles terem a mesma formação, no mesmo curso de
mestrado em Educação Matemática.
De acordo com os depoimentos, pode-se notar que, neste jogo, os alunos
são estimulados a encontrar a melhor trilha que se apresenta com as quatro
operações de números decimais e, dessa forma, chegar ao fim com o maior
número possível. À primeira vista, acreditam que, escolhendo a trilha da
multiplicação, irão aumentar seu valor, o que não se confirma ao fazer as contas.
Nesse jogo, segundo estes professores, a calculadora é imprescindível, ou o jogo
seria inviável e desestimulante para a sala de aula, pela demora que os cálculos
trariam para os alunos.
Nas palavras de Marcela:
Normalmente o aluno escolhe a trilha da multiplicação,
acreditando que irá aumentar o seu número, pois o vencedor do
jogo é quem terminar com maior número de pontos; alguns alunos
concluem que a calculadora não está funcionando, pois, após a
multiplicação dos seus números, o resultado diminui, [...] e
procuram ajuda com o professor, atingindo o objetivo do jogo
proposto, pois agora o aluno consegue montar uma estratégia
para vencer o jogo. (MARCELA).
Fica evidente a preocupação, nas entrevistadas, em mostrar ao aluno que,
nas operações com decimais, quando se multiplica um número por outro, não é
regra que este número sempre aumentar, como também não é porque se
divide que irá sempre diminuir; de posse da máquina, os alunos conseguem gerar
exemplos rapidamente. Pode-se parar, refletir e mostrar aquilo que se pretende
com o jogo; nas palavras dos entrevistados, sem a calculadora tem-se a certeza
de que isso não ocorreria ou de que seria muito mais difícil o entendimento das
84
operações. Além dos jogos auxiliados por alguma ferramenta, como o descrito
acima, outros jogos ganham força no aprendizado dos alunos, como os jogos
eletrônicos, mas estes ainda necessitam de mais tempo para uma adequação
pedagógica.
Nunes (2006), nesse contexto de definição dos jogos eletrônicos e seu
papel na educação, pondera:
Os jogos eletrônicos vêm mostrando seu potencial como
formadores de diversas habilidades úteis a determinados tipos de
profissões. Seu papel está sendo reconhecido como estratégia
necessária no processo educacional. Por outro lado, sua adoção
na escola representa novos desafios à organização do processo
pedagógico, à avaliação e à formação docente. (p. 597).
É importante destacar que, na visão de Simião e Reali, (2006), os jogos
educacionais são desenvolvidos com a finalidade de desafiar e motivar o aluno,
por meio de um envolvimento competitivo com o computador e com outros alunos,
como também para que conteúdos relacionados ao conhecimento envolvido no
jogo possam ser explorados sem caráter competitivo. A concepção pedagógica de
ensino que está embutida nesses jogos é a de que o aluno aprende mais e
melhor descobrindo sozinho, ao invés de o professor ensinar, pois sozinho ele
terá a chance de fazer várias tentativas para resolver um problema.
Contudo, esses jogos podem trazer alguns problemas ao processo de
ensino e aprendizagem, como destaca Valente:
O grande problema com os jogos é que a competição pode
desviar a atenção da criança do conceito envolvido no jogo, o que
dificultaria o processo de aprendizagem.
Entretanto, na medida em que vai se familiarizando com o jogo, o
aluno pode desenvolver estratégias de ação que lhe permitam
ganhar, com mais freqüência e/ou facilidade, habilidade para
solucionar problemas. Para tanto, é importante que o aluno
perceba que este tipo de atividade é vista como parte integrante
do seu processo educativo, e não como um mero período de
entretenimento. (VALENTE, apud SIMIÃO e REALI, 2006, p. 139).
Quanto ao conteúdo envolvendo a regra de três, para Eduarda o mais
importante é o aluno saber utilizar o conceito aplicado em situações cotidianas. As
continhas nesse caso são o menos importante. Ela relata em seu depoimento:
85
“utilizo atualmente para auxiliar meus alunos nos cálculos”. Para ela, mesmo de
posse de uma calculadora, podendo resolver qualquer conta ao digitar na
máquina, o aluno que não compreende ou não interpreta adequadamente a
situação não consegue fazer um bom uso da máquina e chegar ao resultado
correto: não sabendo relacionar as grandezas como sendo direta e inversamente
proporcionais, a calculadora passa a ser apenas um objeto, como sustenta
Rabardel (1995):
Uma ferramenta não é automaticamente um instrumento eficaz e
prático: um martelo, por exemplo, é um objeto sem significado,
salvo quando se tem algo (apropriado ao instrumento) para
aprofundar, inserir moldar, transformando-o assim em um
instrumento útil. (p. 2)
Para o autor, a calculadora para o aluno nada serve, se este não souber
como fazer uso dessa ferramenta por meio de conceitos e formalizações, pois não
conseguirá atingir os objetivos propostos da atividade; ela se torna ineficaz,
mesmo que o aluno saiba digitar e fazer contas com ela.
Nesse contexto, para Broman (1996):
Alunos mais habituados a lidar com a matemática numa
perspectiva exclusivamente mecanicista e desligada da
compreensão serão obrigados a uma utilização da calculadora
mais limitada, uma vez que se limitarão a reproduzir técnicas
anteriormente adquiridas. A necessária articulação entre
conhecimentos matemáticos e espírito crítico, como forma de
detectar as informações enganadoras transmitidas pela máquina,
surge bastante dificultada e conseqüentemente a versatilidade na
utilização da calculadora fica aquém do que poderia. (BROMAN,
1996, apud ROCHA, 2002, p. 21).
Quanto ao estudo de trigonometria, citado pelos sujeitos, o importante é o
conteúdo em si, e não as continhas, visão compartilhada pelos três sujeitos que
utilizam a calculadora. Nesse sentido, Eduarda diz:
Quando estou ensinando trigonometria no triângulo retângulo,
para mim o importante é eles entenderem as relações seno,
cosseno e tangente, eu quero que ele saiba qual relação ele usará
para resolver determinados exercícios; ele sabendo qual relação
será, o cálculo é o de menos, ao meu ver a calculadora o auxiliará
para não errar nisso.
86
Continuando com essa linha de pensamento, no que diz respeito ao
restante dos conteúdos listados: Analise Combinatória; Progressões Aritméticas e
Geométricas; Geometria Analítica; Trigonometria; Matrizes e Determinantes;
Áreas e volumes; Resolução de problemas, em todos os casos, para os
profissionais pesquisados, a calculadora é utilizada apenas como uma ferramenta
de cálculo, para aumentar a velocidade ao resolver contas. Uma vez que esses
conteúdos não se baseiam principalmente nos cálculos em si, os alunos são
levados a outros entendimentos do conteúdo.
Nota-se nos depoimentos dos três sujeitos que utilizam a calculadora, que,
na maioria das vezes, não existe um preparo prévio para uma determinada
atividade, que esta não é escolhida com a intenção de utilizar a calculadora: o uso
se no decorrer da aula, surge dentro de um determinado conteúdo, de uma
idéia, e a calculadora é lembrada e usada. Nas palavras de Eduarda: “Não existe,
por exemplo, olhar previamente e dizer, esta atividade serve para o uso da
calculadora, vou usá-la na sala de aula, é conforme as aulas vão acontecendo”.
Assim sendo, ficam as seguintes questões: será que é necessária uma
preparação anterior da atividade para o uso da calculadora? Seria possível seu
uso conforme as situações vão surgindo no decorrer das aulas?
Nesse sentido, com relação à preparação das atividades, Fernanda relata:
“Nem sempre é pautada em atividade previamente planejada, para a utilização da
calculadora, mas de qualquer forma ela é liberada em sala”.
Outro fato importante destacado nas entrevistas é sobre qual seria o
número ideal de alunos por calculadora e por sala de aula, e se isto influencia ou
não na decisão de usar a calculadora.
Os professores entrevistados relatam que não existe um número exato de
alunos por calculadora; o ideal seria que cada aluno tivesse a sua máquina e
trabalhasse individualmente; contudo, se isso não for possível, pode-se montar
grupos e trabalhar da melhor maneira possível.
Quanto ao critério de escolha da sala para a do uso da calculadora,
também os professores declaram não fazer restrição alguma: qualquer sala pode
87
ser escolhida para o uso da calculadora, mas os entrevistados deixam claro que
com as classes com menos alunos o trabalho é melhor e rende mais.
Eduarda não se importa com o número de alunos: “Não tenho critério
algum, não olho comportamento, número de alunos, etc. Serve qualquer uma”.
Joana prefere número menor de alunos para um rendimento melhor:
“Normalmente o critério que utilizo, dependendo da sala, é em quantos alunos
agrupar; dependendo da sala, muitos alunos no mesmo grupo, o trabalho não
rende; quanto ao número de alunos por calculadora, o ideal seria, se possível, o
máximo dois”.
Marcela revela que não se preocupa com critérios na seleção:
[...] utilizo para todas as salas de aula, não importa o
comportamento ou o número de alunos na sala, pois, quando
temos uma aula diversificada, a participação e o
comprometimento é maior; com relação ao número de alunos por
calculadora, acredito que o ideal seria uma por aluno, se não for
possível pode ser em dupla, equipe, tudo bem.
Esta visão dos depoentes professores quanto aos critérios de seleção, em
relação ao número de alunos por sala e calculadora, comportamento, etc. é
compartilhada pelos sujeitos pesquisadores, conforme seus relatos.
Patrícia comenta:
Eu acho que no caso da calculadora é melhor individual, mas se
não der, daí o professor tem que organizar a atividade com o que
tiver, os alunos podem passar um para o outro, porque a atividade
não é com a calculadora, a calculadora é usada para investigar
e explorar uma determinada atividade, independente de conteúdo,
é a abordagem que tem que ser cuidada e para mim a melhor
abordagem é a investigativa: situações que convidem o aluno a
explorar, levantar conjecturas, testá-las, etc. O número de alunos
por máquina depende da forma como o professor organiza a sala
de aula, se tem uma máquina para 10 estudantes, tem que pensar
numa atividade em que isso seja possível, se cada aluno tiver
uma, daí ele vai ter mais chances de testar mais coisas, mas se
não tiver o professor tem que ser criativo, o professor é
fundamental, se não souber conduzir a aula, não vai acontecer
nada.
Para Patrícia, quando o professor não atinge as condições necessárias
para uma atividade de investigação com a calculadora, cabe a ele administrar da
88
melhor maneira possível essas situações, até porque o mais importante não é
calculadora em si, mas como será conduzida a atividade, para um aprendizado de
qualidade.
Segundo Ponte et al. (2000), o que importa é considerar o que tem de
fazer o professor quando os alunos realizam uma atividade de exploração ou
investigação matemática, quais fatores podem facilitar sua atuação e como ele
pode gerir a situação didática. O professor deve criar normas de funcionamento
da aula, determinando expectativas, indicando o que é ou não desejável, bem
como o que é ou não permitido aos alunos e a ele mesmo.
Indicam os autores que o trabalho do professor começa antes,
estabelecendo prioridades na exploração e na seleção das tarefas,
diagnosticando interesses e capacidades dos alunos, e esse trabalho continua
depois da aula, avaliando a atividade realizada, definindo novas prioridades,
tarefas e modos de trabalho com seus alunos.
Para os autores, o professor como condutor do processo da atividade
deverá planejar, de modo a adequar: os materiais disponíveis, a atividade e,
principalmente, a realidade da turma a ser trabalhada. Muitas vezes, a atividade
funciona bem em um local e, em outro, acontece o inverso; daí a importância da
flexibilidade do professor.
Nesse sentido, para Fernanda:
[...] não precisamos pensar no ideal, mas trabalhar com o que
realmente tem, por isso cada caso é um caso, cada escola é uma
escola, e cada professor é um, assim como pensamos nos alunos,
penso sempre assim: o que tenho em mãos, o que posso fazer
com o que tenho, procuro não fazer o caminho inverso, senão sei
que a tendência é inviabilizar, não precisa querer o que seria
ideal, mais importante é que realmente se concretize, todas as
ações são válidas, não vamos pensar em padronização, temos
que ter estratégias diferentes que toquem todos com a mesma
intensidade.
Na visão de Cauã, outro pesquisador, também o ideal seria uma
calculadora por aluno, mas, quando isso não for possível, deve-se trabalhar com
o que se tem: dupla, trio, grupo. Ele não indica um critério rígido para a seleção
da sala o comportamento, o número de alunos, o período não devem influenciar
89
a decisão do professor na escolha da turma em que vai trabalhar com a
calculadora.
Pode-se notar que, conforme a indicação de professores e pesquisadores,
o professor não deve se preocupar com a sala que seria melhor para seu trabalho
com a calculadora, pois todas as salas de uma escola podem ser um laboratório
no desenvolvimento de atividades com a calculadora, e isto pode ser um fator de
inclusão, uma vez que, qualquer sala em qualquer escola pode ser a eleita,
facilitando o trabalho de todos os professores em todas as escolas. Dessa forma,
todas elas estão aptas e poderiam passar por essa “reforma tecnológica”,
incluindo em especial a calculadora em seu cotidiano.
Para Nunes (2006):
A escola atual precisa se transformar por completo para poder
responder as demandas da sociedade do conhecimento.
Integração de recursos audiovisuais e tecnologias digitais em todo
processo pedagógico, reconhecimento de novas linguagens,
mudanças conceituais de tempo e espaço escolar, redefinição dos
processos de ensino e aprendizagem e formação docente
compatível com esse novo modelo, são algumas das mudanças
por que deveria passar a escola. Todas essas mudanças implicam
em transformar a própria cultura escolar. (p. 598).
De acordo com as diversas formas de utilização da calculadora em sala de
aula, relatadas pelos que fazem uso da calculadora, pode-se entender que seu
uso acontece, em grande parte, sem preparo e sem seleção prévia das
atividades. As aulas são preparadas para abordagens de determinados
conteúdos; se, durante a explanação, surgir a necessidade de uso da calculadora
aos olhos do professor, isso é prontamente feito.
Ponte et al., (2000) ponderam sobre a preparação das atividades:
As tarefas de investigação podem ser propostas pelo professor,
depois de as ter devidamente preparado em casa. Mas a atividade
investigativa também pode surgir espontaneamente na aula, a
partir de situações de trabalho prático e de discussões
amplamente participadas pelos alunos. (p. 26).
Os autores indicam que as atividades devem ser preparadas
antecipadamente, mas também podem surgir a qualquer momento durante a aula.
90
Porém, em ambos os casos, o professor deve conhecer bem o conteúdo, para
tomar essa iniciativa, ou ele pode ocorrer em erro.
Na visão de Simião e Reali (2006):
O conhecimento do conteúdo específico está relacionado ao nível
de compreensão que o professor tem sobre a matéria que está
ensinando, o que, por sua vez, reflete-se na forma como ensina
aos seus alunos. Para que possa traduzir por meio de situações
de aprendizagem o professor deve conhecer os conteúdos
específicos a serem ensinados. (p. 139).
De acordo com as autoras, esse conhecimento representa a combinação
entre o conhecimento da matéria a ser ensinada e o conhecimento pedagógico e
didático de como ensiná-la. Segundo Shulman (1986, apud MAGALHÃES, 2004,
p. 36) “esse é um tipo de conhecimento que incorpora aspectos do conteúdo
considerados mais relevantes para serem ensinados e as formas de apresentá-
los, tornando-os compreensíveis aos alunos”.
Nesse sentido, de acordo com as falas dos entrevistados, vai ficando
evidenciado que, na maioria dos casos, a calculadora apresenta-se como uma
ferramenta de cálculo, um auxiliar para as contas, e não um instrumento para uma
formalização de conceitos. Isso fica explícito na fala de Eduarda: “é para
facilitar os cálculos, não é para entender, por exemplo, o conceito de triângulo
retângulo”. Assim sendo, os entrevistados parecem indicar que os professores
estão distantes do uso ideal da calculadora.
6.3 Formação do professor
Este eixo de análise buscará explicitar de que maneira o período de
formação dos professores na Licenciatura pode influenciar no seu comportamento
em relação à sua prática, para a utilização da calculadora em sala de aula.
De acordo com as entrevistas, todos os professores que utilizam a
calculadora em sua prática educativa freqüentaram o curso de licenciatura plena
em Matemática em instituições privadas e, nesse momento estão cursando o
91
mestrado profissional em Educação Matemática; talvez isso seja um dos fatores
que estimularam o uso da calculadora por parte desses professores.
Contudo, aqueles que não utilizam a calculadora apresentam formação
semelhante aos que a utilizam: fizeram seu curso de licenciatura em faculdades
privadas e dois deles também estão cursando mestrado em Educação
Matemática. Fica, assim, um questionamento para a pesquisa: até que ponto a
formação dos professores tem influenciado a tomada de decisão sobre o uso da
calculadora nas aulas de Matemática?
Sabe-se que a formação profissional pode ser muito importante para
determinar caminhos em qualquer tipo de profissão, especialmente na carreira de
um professor. Com isso, deve-se ter um olhar especial para o tipo de formação
que esses profissionais tiveram em sua graduação, com vistas à inclusão das
novas ferramentas produzidas pela tecnologia, em especial a calculadora.
Segundo Rubio (2003, p.106), “a formação educacional não deve ser vista como a
aquisição de um conjunto de técnicas de ensino, mas deve proporcionar aos
futuros professores uma visão ampla do que irão ser as suas funções como
educadores”.
Já Magalhães (2004) ressalta que a formação qualitativa do professor deve
ser entendida como complementação às tradicionais disciplinas pedagógicas,
incluindo conhecimentos sobre o uso crítico das novas descobertas tecnológicas.
Para Ponte, os programas de formação inicial de professores deverão
passar por mudanças. O autor afirma que:
Estes programas consagram normalmente três componentes: a
formação científica, a formação educacional e a prática
pedagógica. Cada um destes componentes tem de contribuir para
formar nos novos professores um espírito de receptividade à
mudança permanente, de gosto pela aprendizagem contínua, da
abertura a inovação e a renovação pedagógica. (PONTE, 1997, p.
102, apud RUBIO, 2003, p. 105).
Segundo Nunes (2006), é necessário para um futuro professor passar por
uma graduação que contemple este aprendizado:
92
Para tanto, os cursos de formação dos professores devem
garantir, entre outros aspectos, espaços adequados para
produção e visualização de materiais audiovisuais e acesso à
produção intelectual sobre os diversos recursos audiovisuais, no
mínimo, através de uma disciplina especifica para este fim. (p.
596).
Para os autores, os cursos de formação deveriam passar por reformas em
sua estrutura, de forma a despertar no futuro educador um gosto pelas mudanças
trazidas pelas novidades tecnológicas, como também a vontade de estar em um
aperfeiçoamento constante. Dessa forma, poderão fazer com que esse
profissional esteja realmente preparado para uma sala de aula.
Para Marcela, uma das entrevistadas, sua graduação em nenhum
momento teve um foco voltado para a inclusão de novas tecnologias, com alguma
disciplina específica voltada para isso, e nem mesmo em sua pós-graduação foi
ventilado esse estudo.
Marcela relata que existiam aulas de informática em sua graduação, mas
que não eram especificamente sobre Matemática ou inclusão de novas
tecnologias. As aulas aconteciam na própria sala, onde eram montados alguns
programas e, quando levados para o laboratório de informática, na maioria das
vezes, não funcionavam.
Para Joana, outra entrevistada, aconteceu o mesmo: não teve nada
específico em sua graduação; relata que a preocupação do professor de
informática era focada em ensinar a usar os programas do Office, acreditando ser
muito difícil propor tais situações e alegando que a maioria dos alunos não tinha
contato com o computador. Com relação ao uso da calculadora, também nunca
houve aulas voltadas para seu desenvolvimento e sua inclusão.
O mesmo aconteceu com Eduarda: sua graduação não teve em nenhum
momento disciplinas que pudessem desenvolver o uso das máquinas geradas
pelas novas tecnologias, mostrando rumos ou teorias que pudessem despertar,
nos futuros professores, o desejo de vir a fazer uso desses novos recursos para
trabalhar com seus futuros alunos em sala de aula.
93
Refletindo sobre a fala de três professores, entende-se que o uso da
calculadora em sala de aula por esses professores não foi despertado dentro de
sua graduação, pois nenhum deles teve formação ou preparação para isso.
Parece evidente que a formação influencia o uso de tecnologia em sala de aula.
Procurando entender em que momento ocorreu o despertar para seu uso e
analisando os depoimentos, percebe-se que os depoentes tiveram algum tipo de
formação com vistas à inclusão das tecnologias ao fazerem o curso de mestrado,
em especial na disciplina de TICs (Autoformação pelo Uso das Tecnologias da
Informação e Comunicação). Dessa forma, podemos entender que talvez esse
seja o diferencial que os fez incorporar a calculadora em sua prática escolar.
Porém, em contraponto, os três professores, Fábio, Pedro e José, que não
utilizam a calculadora, também relatam que nunca tiveram qualquer tipo de
formação voltada para o uso das novas tecnologias durante sua graduação. José
e Fábio, porém, são mestrandos em Educação Matemática no mesmo curso e na
mesma universidade vale ressaltar em que foram formados os professores que
utilizam a calculadora. Portanto, estão passando pela mesma formação recebida
por aqueles professores que dela fazem uso.
Pela interpretação desse fato, talvez se possa entender que o mestrado
em Educação Matemática, com a disciplina específica em tecnologias, não é
preponderante na decisão de usar ou não esta ferramenta, visto que, entre os
cinco professores mestrandos, três utilizam e dois não utilizam a calculadora.
Outro fato importante é Fábio e Pedro relatarem que passaram
ultimamente por algumas capacitações promovidas pela Secretaria de Educação
do Estado com a finalidade de capacitar o professor para o uso das novas
ferramentas tecnológicas, mas Pedro aos poucos começa mudar sua prática
com relação ao uso da calculadora. Segundo ele: “minha prática está começando
a mudar agora, mas é difícil ter uma formação tradicional e mudar de prática do
dia para noite, mudar a postura do professor”.
Sabe-se que essa mudança não é fácil, o que é comprovado por Fullan
(1982, apud MAGALHÃES, 2004), que pondera: “essa mudança depende do que
o professor faz e no que ele pensa. Portanto, o professor deve aprender a usar a
94
tecnologia e permitir que ela mude o seu paradigma de ensino, o que não é uma
tarefa fácil, pois a mudança pode intimidar”.
Assim sendo, Pedro começa a dar novos rumos à sua postura em sala;
para Fábio, essas capacitações, por enquanto, ainda não surtiram muito efeito,
pelo fato de ele ainda não adotar em sua prática a utilização da máquina em suas
aulas de Matemática.
Por tudo isso, pode-se entender que a formação é muito importante para
traçar objetivos e promover mudanças na prática do professor, com relação ao
uso ou não das conquistas da tecnologia, em especial a calculadora. Porém,
também talvez não se deva tomar a formação como fator único e decisivo, que
poderá definir se o professor vai ou não usar a calculadora. Isso dependerá de um
conjunto de fatores, que podem variar muito de um profissional para outro.
Seguindo esse raciocínio, a pesquisadora Patrícia coloca a questão das
condições de trabalho para a inclusão dessas novas tecnologias:
O uso da calculadora na sala de aula depende bastante do que o
professor vai propor, do que planejou, como conduz a aula, sua
relação com os alunos. Utilizar ou não a calculadora, eu diria que
não depende do professor, pois as condições de trabalho
acabam limitando qualquer ação de inovação e o professor muitas
vezes não tem tempo para preparar aula adequadamente ou
estudar para aprender algo novo. (PATRÍCIA).
A formação do professor parece ainda não ter alcançado o efeito desejado,
com relação ao uso das tecnologias. Segundo Nunes (2006):
A formação docente em curso no Brasil precisa contemplar o novo
papel que se espera desse profissional diante de uma sociedade
em constante evolução. Necessita garantir-lhes conhecimento,
habilidade e valores para o trabalho com diversas mídias,
integrando-as coerentemente no processo educacional. As
políticas públicas ainda o conseguiram alcançar esse objetivo.
(p. 599).
Indica-se, assim, que a questão é muito mais complexa e depende do
interesse das políticas públicas. Ou seja, é necessário um investimento maior na
formação do professor, nas condições de trabalho nas escolas e nas
95
possibilidades de um aperfeiçoamento contínuo dos professores, sem que seus
salários sejam onerados com isso.
Portanto, tentou-se mostrar, até aqui, de que maneira a formação do
professor pode influenciar em sua prática, com relação ao uso da calculadora na
aula de Matemática. Dessa forma, fica a questão: a formação do professor é um
dos elementos que pode determinar sua decisão sobre o uso da máquina, nas
aulas de Matemática?
6.4 Desafios no uso da calculadora
Neste tópico mostram-se alguns desafios que a calculadora pode trazer
aos professores de Matemática e que foram superados pelos sujeitos desta
pesquisa que fazem uso da calculadora. Porém tais desafios ainda devem ser
superados pelos que ainda não a utilizam e necessitam quebrar barreiras, na
tentativa de trazer esse importante recurso para o cotidiano escolar.
Entre os desafios e as dificuldades encontradas pelos entrevistados, citam-
se:
material para seleção de atividades;
falta de formação na graduação;
desejo de usar a calculadora em cálculos simples, por preguiça;
falta de apoio da direção;
falta de apoio dos pais;
falta de apoio dos colegas de profissão;
início das atividades com a calculadora;
Os desafios aqui indicados podem parecer intransponíveis para muitos
professores de Matemática que, diante da possibilidade de introduzir a
calculadora com uma ferramenta didática, optam por não usá-la, pois entendem
que não conseguirão implantar essa filosofia de uso da calculadora.
96
Ao relatar tais depoimentos, buscou-se mostrar que algumas dificuldades
também encontradas pelos professores que fazem uso da calculadora foram
transpostas ou contornadas e, com o tempo, tornaram-se o combustível para a
prática permeada pelo uso da máquina.
Nos depoimentos dos que utilizam a calculadora, uma das dificuldades
relatadas por todos refere-se a encontrar material para a seleção de atividades
que privilegiem a calculadora. Muitos desses materiais utilizados por eles são
adaptados à realidade da escola e da turma; em alguns casos, são preparados
pelo próprio professor, o que torna possível seu uso. Porém para esse preparo de
atividades é necessário tempo e, na maioria das vezes, o professor pode não
dispor dele.
Para Cysneiros (2006), o fator tempo tem forte peso em relação às novas
tecnologias: “novas técnicas e novos objetos técnicos necessitam de tempo para
serem pensados, construídos, experimentados, aperfeiçoados, levados em conta
na construção de espaços onde possam ser utilizados.” (p. 577).
Com relação ao preparo das atividades, Joana comenta que: “algumas
vezes surge uma idéia, e eu mesmo preparo a atividade, se tivesse que procurar
sobre aquele conteúdo específico que estou trabalhando, talvez não encontrasse
nada que pudesse utilizar”.
Para Marcela, também não existe muito material para seleção de
atividades, por isso também prepara suas atividades de acordo com o conteúdo,
mas, como trabalha em colégio privado, com curso apostilado, algumas atividades
sugeridas pela apostila são aproveitadas e levadas para o ensino público, onde
também trabalha. Segundo Ponte, Fonseca e Brunheira (1999, p. 14), “a
existência de materiais diversos, de qualidade e acessíveis aos professores é
certamente um elemento importante para a generalização deste tipo de trabalho”.
Em relação ao livro didático, não é comum conter sugestões de atividades
com foco na introdução das tecnologias, em especial a calculadora, como relatam
os entrevistados. Eles concordam que tem havido melhorias, mas parece ainda
estar longe do ideal, fato também relatado por Fernanda, pesquisadora: “não
97
tenho visto isso claramente, mas sei que anda melhor do que era, pelo menos
eles falam dessa possibilidade”.
Para Cauã, outro pesquisador entrevistado, os livros didáticos ainda não
exploram o uso da calculadora como um potencializador para a aprendizagem de
Matemática, com isso deixam de desenvolver esse tipo de atividade.
Na pesquisa de Fedalto (2006), o uso de uma calculadora em atividades
que exijam tomada de decisões e elaboração de estratégias demandaria do
professor planejamento, estudo e preparação prévia de problemas não
disponíveis em livros didáticos, que em sua maioria trazem conceitos, definições e
atividades que não prevêem o uso de recursos tecnológicos.
Entende-se que seria importante que todos os livros didáticos, trouxessem
atividades colocando a calculadora com um recurso didático, de extrema
importância ao desenvolvimento do pensar matemático dos alunos.
Nessa linha, Ponte e Loureiro (1989) destacam a importância da produção
de materiais didáticos, com o tratamento sobre questões da tecnologia:
As mudanças deverão vir acompanhadas de alterações na prática
pedagógica. Para o sucesso do professor nessa nova perspectiva
de ensino, será necessário que se destine tempo e atenção à
produção de materiais didáticos para auxiliar o trabalho docente e
discente. [...] Então, para o melhor aproveitamento desse material
e da calculadora, é importante proporcionar aos professores
período de formação, a fim de que estejam preparados para dar
um tratamento diferenciado aos conteúdos. (PONTE e
LOUREIRO, 1989, apud MOCROSKY, 1997, p. 26).
Acontecendo isso, os professores poderiam estar em mais contato com
esse tipo de atividade e utilizar cotidianamente, introduzindo a calculadora de
forma mais efetiva, pois na maioria das vezes o livro didático é o único material
disponível do professor. Para Nunes (2006, p. 596): “A sociedade do século XXl
exige, portanto, que se rompa com o paradigma educacional que assegura o livro
impresso e o professor como detentores do conhecimento”.
Nesta pesquisa, apenas Marcela se lembrava de um livro didático que
contemplava esse tipo de recurso, o que demonstra que, mesmo para aqueles
que utilizam a calculadora, é difícil a indicação de algum livro.
98
Com a relação às mudanças nos conteúdos e nos currículos, atrelando a
calculadora à pratica de cada professor de Matemática, Mocrosky (1997) lembra:
Se a calculadora for incorporada às aulas, é necessário que se
faça uma revisão nos currículos, a fim de conciliar as atividades
programadas com a máquina, para que a prática pedagógica
aliada às atividades planejadas fortaleçam compreensão e
desenvolvimento dos conceitos por parte dos alunos. (p. 27)
Quanto à formação do professor, discutida anteriormente, poderia
influenciar na decisão de escolha do livro didático mais adequado, mas não é um
fator decisivo; os sujeitos desta pesquisa dão indicações de que, se este tema,
“tecnologias”, fosse discutido com mais eficiência na graduação, mostrando
práticas educativas em sua utilização, poderia contribuir muito e talvez facilitasse
a escolha do livro didático. Dessa maneira, os professores poderiam fazer um uso
mais contínuo e com melhor aproveitamento nas aulas de Matemática.
Todos têm tendência para reproduzir o tipo de ensino pelo qual passaram,
como relata a pesquisadora Patrícia: “não usam na graduação e não usam na
sala de aula, quando se tornam professores”.
Um dos desafios que podem desencorajar um professor foi apontado por
Marcela, no sentido de que o uso da calculadora pode deixar o aluno muito
dependente da máquina: até mesmo em cálculos simples, o aluno pode se tornar
preguiçoso, como no exemplo de 10 dividido por 2.
O professor poderá fazer um trabalho de conscientização com esse aluno,
para que entenda que recorrer à máquina para qualquer tipo de cálculo pode ser
prejudicial, pois, no momento em que não estiver de posse da calculadora, irá se
perder em cálculos simples. E isso pode ser inaceitável, em algumas situações,
devido à competição de mercado que hoje existe fora da escola. Como exemplo,
pode-se citar uma entrevista de emprego, em que lhe é pedido para resolver
algum problema simples sem poder usar a máquina, ou mesmo em um concurso
público.
Quanto à dificuldade, colocada por um dos depoentes, para o início da
atividade com a calculadora, pode-se levar em conta o fato de que, em qualquer
tipo de nova proposta, podem-se encontrar algumas dificuldades.
99
Tais dificuldades podem acontecer em um novo emprego, ao mudar para
uma nova cidade, e o início de um trabalho com o uso da calculadora não seria
uma exceção ou fugiria à regra.
Segundo Eduarda, ela não enfrentou obstáculos quando da introdução da
calculadora em sala de aula:
Nunca tive oposição nenhuma quanto a isso, a escola nunca me
questionou por eu utilizar a calculadora, os professores nunca me
questionaram também não, pois sempre usei o argumento: o que
me adianta a calculadora se não sei que cálculo tenho que fazer?
(EDUARDA).
Contudo, Marcela enfrentou alguns destes obstáculos:
A escola nem sempre apoiou o uso da calculadora, é de acordo
com o professor, a particular era contra o uso, após o início do seu
uso, a apostila começou a incentivar também, ficando mais fácil a
aceitação por parte da direção no colégio particular; no estado foi
tudo normal.
A direção acreditava que precisava preparar o aluno sem a
calculadora, pois não utiliza no vestibular, logo o aluno levará mais
tempo para concluir as provas no vestibular, deixando de realizar
os cálculos de algumas perguntas, é o que achavam. Para os
professores a grande maioria não o uso como ferramenta, por
isso continuam criticando. (MARCELA).
Joana descreve assim seus desafios:
Os pais não autorizavam os filhos a levarem a calculadora para a
escola, pois julgam como errado, então tenho que explicar quais
são os objetivos que tenho ao trabalhar com este instrumento.
Quanto à diretora do local onde trabalho, no início tive resistência,
que não via vantagens em utilizar a calculadora, visão esta que foi
mudada com o tempo, ela alegava que os alunos têm muita
dificuldade na disciplina, se utilizar a calculadora esta situação
seria piorada ainda mais. (JOANA).
De acordo com os depoimentos, entende-se que não existe muita distinção
quanto às ressalvas em relação à utilização da calculadora, seja na escola
privada ou pública. Em ambas existiram resistências, como também em ambas
não houve restrições; variou de uma escola para outra, não foi o peso entre
pública e privada que determinou a restrição ou não.
100
Marcela não encontrou resistência alguma, tanto no ensino público como
no privado. Eduarda recebeu críticas apenas no colégio privado. Joana, que
leciona no ensino público, foi cobrada por tentar fazer uso da máquina. Assim
sendo, podemos entender que a cobrança pela escola privada talvez se pelo
fato de normalmente estar mais direcionada em preparar o aluno para o vestibular
e, como não é permitida a utilização nas provas do vestibular, tentam proibir seu
uso em sala, visão que vai sendo desfeita com o tempo.
Quanto aos pais, a visão parece estar baseada no ensino que tiveram,
sem a utilização da calculadora, e que reproduzem como sendo a ideal para seus
filhos. Talvez precise, ainda, de certo tempo para ser modificada.
os professores que fazem algumas críticas talvez sejam movidos pelo
fato de ainda não terem descoberto a calculadora como parte integrante do
cotidiano escolar, como um reforço na aprendizagem.
Neste tópico procura-se mostrar algumas dificuldades que podem aparecer
na prática dos professores em sala de aula, mas que, com esforço e dedicação,
podem ser contornadas, transformando a aula em um ambiente mais agradável e
interessante ao aluno, onde o aluno possa passar a aprender mais.
A seguir apresentam-se os motivos indicados pelos sujeitos desta
pesquisa que não utilizam a calculadora em sua prática educativa. Também se
indicam maneiras para superação destes obstáculos, apresentados por eles.
Os motivos indicados foram:
em concursos e vestibular não é permitido seu uso;
os alunos passam a ter dificuldades com as operações básicas;
o professor precisa vencer o conteúdo;
o uso da calculadora diminui o raciocínio do aluno;
há falta de recursos financeiros;
há falta de formação profissional;
O fato de o aluno não poder utilizar a calculadora no vestibular e em
concurso públicos deve estar ligado à preocupação de certas escolas e de
101
professores com a aprovação do aluno e ao fato de terem apenas isso como meta
em suas aulas de Matemática. Esquecem-se de que as escolas, além disso,
devem preparar o aluno para viver em sociedade, tornando-se cidadãos críticos,
prontos para encarar os desafios que a sociedade impõe. De acordo com os PCN:
uma expectativa na sociedade brasileira para que a educação
se posicione na linha de frente da luta contra as exclusões,
contribuindo para a promoção e integração de todos os brasileiros,
voltando-se à construção da cidadania, não como meta a ser
atingida num futuro distante, mas como prática efetiva. (BRASIL,
1998, p. 21).
Muitas vezes, para conseguir um emprego, o candidato à vaga passa por
uma seleção e, para sua contratação, é exigida a habilidade em manusear uma
calculadora, resolver problemas, interpretar situações para resolução de
problemas, não necessitando demonstrar qualquer habilidade em fazer cálculos
manualmente, com lápis e papel. Qual a profissão que ainda se utiliza apenas do
lápis e papel, para fazer cálculos? Assim sendo, qual a importância, para uma
pessoa postulante a um emprego, de ter passado pela escola, sem ter aprendido
a manusear uma calculadora?
Para os professores que acreditam que com a calculadora os alunos
passam a não saber as operações básicas, não conseguindo fazer contas, o que
seria um dos motivos para a não-utilização da calculadora, o mais importante no
ensino da Matemática são os algoritmos das operações; deixam a construção dos
conceitos matemáticos em segundo plano. Pode-se inferir, portanto, que deixam
de lado as outras atividades matemáticas que possam levar à compreensão dos
algoritmos utilizados nos cálculos.
Neste caso, para esses profissionais, a calculadora, se adotada, poderá
ser utilizada em situações que envolvam problemas de estimativas, para conferir
os resultados encontrados nas contas feitas com lápis e papel e, dessa forma,
oferecer e abrir novos caminhos de compreensão das etapas para novos saberes.
Para Silva (1989), esse prejuízo que a máquina pode trazer em relação às
habilidades mecânicas de lculo dos alunos é compensado com o aumento da
capacidade de compreensão da realidade dos números. Dessa forma, a utilização
da calculadora irá nivelar aqueles alunos que apresentam uma maior dificuldade
102
com os cálculos propriamente ditos e permitir que todos trabalhem o mesmo
assunto.
Ao justificar o não-uso da calculadora em razão do programa a ser vencido
de acordo com planejamento, fica evidente que o importante, segundo um dos
entrevistados, é completar o que foi planejado, mesmo que o término talvez não
traga algum benefício ao aluno.
Isso leva a pensar que esses profissionais deixam para um segundo plano
um aprendizado que pode estar atrelado ao uso da calculadora. Também se pode
pensar que a calculadora, ao contrário do que se imagina, poderá acelerar o
processo de ensino-aprendizagem, sobrando mais tempo para reflexões e para o
desenvolvimento de outros conteúdos. Para Oliveira (1999):
A utilização da calculadora, como um instrumento de cálculo,
libera o tempo para os alunos centrarem os seus esforços e
também a concentração no entendimento dos conceitos
matemáticos, compreensão e desenvolvimento de algoritmos e na
elaboração de estratégias de resolução e raciocínios críticos. [...] a
calculadora possui o poder de gerar muitos exemplos
rapidamente, ajudando os alunos a desenvolver novos conceitos.
(p. 17).
Com relação à justificativa que aparece nos discursos de que a calculadora
diminui o raciocínio do aluno, parece estar ligada às operações básicas.
Entretanto, a calculadora tem o potencial de incitar a curiosidade, além de
desenvolver o papel de facilitadora do trabalho com as operações. Com isso, o
professor pode levar até ao aluno situações cotidianas em que a curiosidade seja
preponderante para a interpretação e a resolução dos problemas. Dessa forma, o
aluno pode passar a gostar mais da Matemática e aprender mais. Nesse sentido,
Mayle e Reid (1989) indicam:
As calculadoras não são simples auxiliares de cálculo. Elas
podem ser utilizadas com a finalidade de enriquecer o ensino de
Matemática se forem exploradas de novas maneiras. O desejo de
investigar e responder a desafios, o comum nas crianças e
adolescentes, pode ser aproveitado para uma abordagem
direcionada para a criatividade, onde a calculadora poderia ser
utilizada como um recurso importante. (MAYLE e REID ,1989,
apud OLIVEIRA, 1999, p. 18).
103
Quanto ao raciocínio do aluno, em relação ao uso da máquina, Rubio
(2003) comenta:
A calculadora, para muitos professores, é apenas um instrumento
para fazer contas, ou para prejudicar o raciocínio do aluno. Daí a
importância e a necessidade do professor adquirir um conjunto
diversificado de competências e conhecimentos para lidar com
este novo recurso. Não basta apenas a boa vontade dos
professores em usar a calculadora, se faz necessário uma
mudança maior. (p. 105).
Quando é relatado que um dos motivos para a não-utilização da
calculadora em sala de aula é a falta de recursos, dada pelas condições
financeiras dos alunos ou mesmo da escola, deve-se considerar que este
argumento pode ser válido, talvez, para escolas de regiões de renda baixíssima,
de famílias cujo poder aquisitivo é muito baixo, perto da situação de miséria.
Porém, a pesquisa foi feita no estado de São Paulo, um dos mais produtivos do
Brasil, o que leva a crer que dificilmente haverá alunos sem possibilidade de
aquisição de uma calculadora simples, facilmente encontrada em vários
estabelecimentos comerciais, por um valor muito baixo.
Para Rubio (2003, p. 105), “a calculadora é um recurso que poderia, de
imediato, auxiliar os professores nas aulas de Matemática, devido ao seu preço
acessível. Não seria difícil cada escola possuir várias calculadoras para o uso dos
alunos”.
Retomando a justificativa de que a falta de formação do professor é um
entrave para a utilização da calculadora, entende-se, como foi discutido, que
uma boa formação com vistas às novas tecnologias pode ajudar em muito o
trabalho do professor em sala de aula, mas não é isso que vai ou não determinar
o seu uso.
Um dos caminhos que pode o professor seguir é fazer de sua sala de aula
um laboratório. Para isso deve analisar e equalizar os diversos fatores que isso
implica e, por meio de experiências didáticas, tentar inovar sua prática
pedagógica e introduzir a calculadora em suas aulas. Antes mesmo da formação,
pode estar a determinação do profissional para um trabalho eficiente, pois, como
104
foi relatado, entre professores com a mesma formação, alguns fazem da
calculadora um bom uso e outros, não.
Espera-se ter contribuído com os comentários e as indicações de alguns
caminhos a serem seguidos por aqueles que ainda pretendem introduzir essa
ferramenta em suas aulas e, dessa forma, vencer algumas dificuldades indicadas
pelos depoentes que não utilizam a calculadora em suas aulas de Matemática.
105
CAPÍTULO VII
EM TEMPOS DE CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação à prática do professor permeada pelo uso das conquistas da
tecnologia para o ensino de Matemática, mais especificamente da calculadora,
em sala de aula, encontraram-se nas entrevistas situações, argumentações e
indicações cujo entendimento, apoiado nos discursos e na literatura, merece ser
pensado neste estudo.
As dúvidas levantadas durante a experiência deste pesquisador como
professor de Matemática no Ensino Fundamental e Médio, levaram à busca de
respostas sobre o entendimento que seus companheiros de profissão têm em
relação ao uso da calculadora nas aulas.
Nesse caminho, foi possível perceber, na fala dos companheiros e
pesquisadores entrevistados, o evidente empenho e as preocupações com o
aprendizado dos alunos, com o uso ou não da calculadora. Apontam os cálculos
como prioridade e, de certa forma, com um peso maior, deixando para um
segundo plano as investigações que poderiam ser feitas com os demais
conteúdos.
Talvez seja necessário analisar quais providências tomar em relação à
aplicação da calculadora em sala de aula, levando em consideração as diferenças
regionais, para que, tanto os professores que estão formados, como aqueles
que ainda estudam ou venham a estudar em uma licenciatura de Matemática ou
afins, possam ser providos desses recursos tecnológicos, criando alternativas
metodológicas para o ensino da Matemática.
106
Pode ser necessário que os professores se conscientizem da necessidade
de mudanças no processo de ensino e aprendizagem da Matemática, valorizando
o desenvolvimento profissional, como a formação continuada, e assim tragam
para a sala de aula atividades de inovação social e tecnológica, integrando
professor, aluno e sociedade em que vivem.
Nesse sentido de desenvolvimento profissional e integração das
tecnologias, em especial a calculadora, Oliveira (1999) relata:
Um caminho que levaria a mudanças importantes nas atitudes dos
professores sobre o seu uso nas aulas de Matemática seria a
implementação de projetos de cursos a serem oferecidos aos
professores que se encontram no exercício do magistério,
lecionando Matemática, que privilegiasse o contato entre
professores de níveis de ensino diferentes e que valorizasse a
experiência de cada professor. (p. 131)
Como destacou Mocrosky (1997), a formação profissional também entra
em cena e sugere encontros, discussões e materiais didáticos que promovam o
trabalho do professor e do aluno, estreitando os laços entre professor, aluno e
máquina; assim, a calculadora não será mais uma peça decorativa.
Sabe-se que o desenvolvimento profissional passa pela capacitação e pela
troca de experiência entre os pares; dessa forma, talvez o ensino e a prática do
professor de Matemática absorvam as novas tendências tecnológicas e
caminhem para um novo processo de ensino e aprendizagem de Matemática.
Certamente outros professores desenvolveram técnicas diferentes
de uso da mesma ferramenta, que poderão ser aperfeiçoadas com
troca entre profissionais que convivem nos seus espaços de
trabalho, que participam de listas de discussão, que escrevem
sobre o assunto. (CYSNEIROS, 2006, p. 577)
Para desmistificar o uso da calculadora, faz-se necessário que tanto
professor como aluno saibam como utilizá-la e que seu uso não passe apenas
instrução operacional desse importante recurso didático de cálculo. Na maioria
das vezes, os professores apenas ensinam quais os botões a serem apertados na
resolução das situações propostas. Dessa forma, pela gênese instrumental,
defendida por Rabardel (1995), a calculadora não deixaria de ser um artefato para
se tornar progressivamente um instrumento.
107
O cálculo aritmético, por exemplo, poderá ser tratado não como o mais
importante, com objetivo em si mesmo, mas como um instrumento que propicie
um desenvolvimento do raciocínio, e a calculadora pode ajudar nesse sentido, em
muitos outros conteúdos.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), as
contribuições que o uso das tecnologias traz são significativas para a Matemática
no processo de ensino e aprendizagem, na medida em que relativizam a
importância do cálculo mecânico e da simples manipulação simbólica, que por
meio de instrumentos podem ser feitos com eficiência e rapidez.
Diante de tudo isso, fica a pergunta: seria possível utilizar a calculadora em
sala de aula com todos os conteúdos, por meio de atividades importantes para a
construção da cidadania e de aplicações em situações cotidianas dos
conhecimentos matemáticos?
Como se mostrou, nem todos os conteúdos são possíveis de serem
trabalhados com o uso da calculadora, por isso se torna muito importante o papel
do professor na seleção das atividades.
Dessa forma, indica-se a importância de aprofundar mais os estudos com
relação aos conteúdos programáticos, as tecnologias existentes e suas
tendências, com ênfase na utilização da calculadora, interpretando o presente e a
incerteza do futuro, alicerçando os conhecimentos a serem construídos.
Revendo os conteúdos programáticos, pode-se ter em vista uma nova
perspectiva de ensino, que traga mudanças nos métodos de avaliação. Dessa
forma, um equilíbrio entre o que se faz na sala de aula e o cobrado nas
avaliações, nos concursos e nos exames vestibulares deve ser almejado.
Além disso, pretende-se que o professor possa refletir mais sobre sua
prática docente, notadamente em relação aos conteúdos programados, por meio
da formação continuada, e assim reavaliar sua ação em sala de aula e
compreender as novas tendências educacionais no cenário escolar com vistas às
tecnologias.
108
Diante desse quadro, o professor de Matemática poderá refletir sobre o
papel que ele desempenha, ou deveria desempenhar, na formação dos alunos
como pessoas que compartilham do mesmo universo. Mocrosky (1997) apóia a
idéia nessa direção:
Entendo o professor como o grande comunicador social com a
tarefa de formar e formar-se, informar e informar-se: assim sendo,
não pode ficar paralelo ao mundo, é importante que ele habite no
mundo tecnológico em vez de sentir-se ameaçado por ele. (p.
193).
Outro aspecto que pode ser trazido destas discussões refere-se à
formação continua e à capacitação em serviço, como um fator importante para
que os professores possam adquirir e desenvolver as qualidades e as atitudes
necessárias para um melhor desempenho da profissão.
Isso leva à aproximação com as considerações de Ponte (1997) sobre o
papel de formação continuada:
[...] não deve ser desligada das escolas [...] e deve ser
estreitamente ligada à prática pedagógica dos professores, Mais
do que um agregado de cursos a serem desenvolvidos por uma
instituição do ensino superior ou por um centro de formação, a
formação dos docentes em exercício deve basear-se
preferencialmente no enquadramento e no apoio das suas
iniciativas e atividades, através de modalidades como projetos e
círculos de estudos, onde as suas necessidades e preocupações
têm plena oportunidade de se transformar em processo de
desenvolvimento profissional. (PONTE, 1997, p. 102-103, apud
RUBIO, 2003, p. 106).
Para o autor, ao lado da formação oferecida pelas instituições deve estar
presente a formação contínua, o aperfeiçoamento no trabalho, fator importante
para que os professores possam adquirir e desenvolver as qualidades e as
atitudes necessárias para o desempenho de sua profissão.
O objetivo deste trabalho foi discutir as possibilidades do uso da
calculadora, como recurso didático, para as aulas de Matemática. Para isso,
foram ouvidos professores e pesquisadores e algumas reflexões foram
confirmadas.
109
A calculadora poderá, de imediato, auxiliar nas aulas de Matemática; para
isso, é importante ter uma escola e uma sociedade, no seu entorno, que
considerem os avanços tecnológicos; não ficar à margem dos processos de
mudanças; e, na medida do possível, equipar-se e modernizar-se, a fim de buscar
uma sintonia com a realidade do aluno, fora da escola.
A escola deve considerar e beneficiar-se dos avanços dos instrumentos
tecnológicos que a sociedade oferece e, assim, formular e discutir situações,
favorecendo o uso didático da calculadora em sala de aula. Com isso, o aluno
poderá aprender e participar mais em seu processo de ensino-aprendizagem,
melhorando seu desenvolvimento. O uso da calculadora não se resume a fazer
contas: o professor deve preparar atividades que proporcionem o debate, o
raciocínio, a resolução de problemas e o desafio.
Alguns avanços relativos ao uso de produtos da tecnologia na sala de aula,
em especial a calculadora, aconteceram, conforme as expectativas iniciais desta
pesquisa, que procurou entender a prática do professor de Matemática com o uso
da calculadora, suas dificuldades, suas motivações e suas expectativas. Dessa
forma, identificar em que tipo de situações a calculadora se faz presente no dia-a-
dia nas aulas de Matemática, bem como aspectos que possam subsidiar sua
inserção, favorecendo uma melhora no entendimento dos conteúdos matemáticos
pelos alunos foram expectativas confirmadas pelos professores e pesquisadores.
Hoje muito mais gente sabe manipular uma calculadora, um computador,
um mouse, etc., e isso ajuda os mais novos a não terem receio de manipular uma
máquina.
O acesso está facilitado; os preços, menores, com muito mais pessoas
podendo comprar. Porém, apesar dessas facilidades conseguidas com o passar
do tempo, na sala de aula propriamente dita, as mudanças e um bom uso das
novas máquinas parecem ainda não acontecer.
Essa afirmação é confirmada pelas pesquisadoras entrevistadas, Patrícia e
Fernanda. Para Patrícia, “o uso pedagógico, eu acho que não avança muito,
mesmo com tantas pesquisas revelando o potencial pedagógico dessas
máquinas, ainda não vemos seu uso na sala de aula da forma como seria
110
desejável”. Segundo Fernanda, “as pesquisas avançam, mas não estão
impactanto suficientemente no meio educacional”.
Cabe, aqui, uma reflexão que poderá servir para o desdobramento de
novas pesquisas. Por que os resultados dessas pesquisas, que apontam os
caminhos a serem trilhados, ainda não influenciaram a mudança de
comportamento dos professores? Será por falta de contato dos professores com
essas pesquisas ou por não fazerem efetivamente parte dos currículos de
Matemática?
Isto viria confirmar Winkelmann (1980, apud OLIVEIRA, 1999), que afirma
que, antes de difundir resultados de pesquisas com a calculadora, deve-se ter
certeza de que ela fará parte dos currículos de Matemática e de que não se trata
apenas de conhecimento aparente. São necessárias novas formas de distribuição
das pesquisas e artigos científicos que envolvam o uso da calculadora.
É mister concordar com o autor: é importante que todos os professores de
Matemática tenham mais acesso a essas pesquisas, mas para isso acontecer
deve haver uma melhoria na forma de distribuição de todo esse material, que hoje
é vago. Contudo, essa divulgação deve vir precedida de uma reflexão e do
encaminhamento desses resultados. Assim, o professor teria a certeza de estar
tendo um conhecimento que pode ser usado em seu dia-a dia. Dessa forma, com
leituras e com o entendimento dessas novas idéias, seria possível eliminar a
resistência a esses novos processos de ensino e aprendizagem.
Outra relação que merece destaque nesta pesquisa, confirmada por seus
sujeitos, é a de que qualquer turma, de qualquer escola pode ser escolhida como
fonte de inserção da calculadora. Outros fatores que poderiam ser levados em
consideração na escolha são relevados. Conclui-se que o mais importante é o
professor, pela sua ação e pelas suas perspectivas em relação a um trabalho
diferenciado.
Dessa forma, para o professor que tiver arraigadas concepções que o
levem a entender erroneamente que o uso da calculadora não conseguirá
avanços em sua prática, a conclusão de que qualquer turma pode ser incluída no
111
uso da calculadora servirá de estímulo para introduzir esta nova ferramenta
didática.
Quanto à formação do professor, também os sujeitos pesquisadores, assim
como os professores entrevistados, não tiveram nenhum tipo de informação
quanto ao uso da tecnologia, em sua graduação. Porém, partindo de seu trabalho
e dedicação, tornaram-se pesquisadores do assunto. Conclui-se, então, que o
professor, além de formar alunos com vistas à tecnologia, também pode se tornar
um pesquisador dos temas que trabalha em sua prática na sala de aula.
Finalizando, espera-se que este trabalho ofereça contribuições para a
inserção da calculadora como recurso didático nas aulas de Matemática e que
tenha fomentado a busca de alternativas para tornar o ensino de Matemática mais
interessante e dinâmico.
113
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119
ANEXOS
Anexo A Entrevista com os professores que utilizam a calculadora
em suas aulas de Matemática
Anexo B - Entrevista com os professores que não utilizam a
calculadora em suas aulas de Matemática
Anexo C - Entrevista com os pesquisadores que aprofundaram seus
estudos sobre o tema “Calculadora”
Anexo D - Atividades exploratórias 1
Anexo E – Atividades exploratórias 2
Anexo F – Atividades exploratórias 3
Anexo G – Atividades exploratórias 4
Anexo H – Atividades exploratórias 5
Anexo I – Atividades exploratórias 6
Anexo J – Atividades exploratórias 7
Anexo L – Atividades exploratórias 8
120
ANEXO A: Entrevista com os professores que utilizam a
calculadora em suas aulas de Matemática.
1) Qual a cidade em que você leciona?
2) Qual o tipo de escola? Estadual, municipal ou privada?
3) Qual o período em que leciona?
4) Em que graus que leciona? Fundamental, Médio ou Superior?
5) Qual o seu tempo de magistério?
6) Realizou a graduação em escola pública ou privada? Onde? Que curso
concluiu?
7) Qual o ano do término da graduação?
8) Quando você começou a usar a calculadora em suas aulas?
9) O que o (a) levou a usar a calculadora em suas aulas?
10) Conte de que maneira você a utiliza.
.
11) Fale sobre os tipos de atividades em que você permite a utilização da
calculadora.
12) Você tem algum critério quando seleciona atividades para a utilização da
calculadora?
13) Quando você decide utilizar a calculadora em alguma atividade, você
pensa ou tem clareza dos objetivos que pretende atingir com a utilização
da calculadora naquela atividade?
121
14) Conte um pouco sobre as atividades em que você utiliza a calculadora.
15) Em algum momento sua formação foi focada no uso das tecnologias?
16) Quais as facilidades e as dificuldades que você encontra quando utiliza a
calculadora?
17) Você sente mais motivação por parte dos alunos quando utiliza a
calculadora nas aulas?
18) Você acha que seus alunos aprendem mais, quando utilizam a calculadora
nas aulas de Matemática? Você poderia contar sobre o que eles aprendem
mais?
19) A escola sempre apoiou o uso da calculadora?
20) O que os outros professores da escola em que você trabalha acham de
suas aulas com o uso da calculadora?
21) Você utiliza algum material para selecionar as atividades que aplica em
sala de aula? Qual?
22) A partir de que momento você optou pela utilização da calculadora?
23) Existe algum critério para a seleção da sala em que vai trabalhar com a
calculadora?
122
Anexo B: Entrevista com os professores que não utilizam a
calculadora em suas aulas de Matemática
1) Qual a cidade em que você leciona?
2) Qual o tipo de escola?
3) Qual o período em que leciona?
4) Em que graus que leciona?
5) Qual o seu tempo de magistério?
6) Realizou a graduação em escola pública ou privada? Que curso concluiu?
Onde?
7) Qual o ano do término da graduação?
8) Por que você não usa a calculadora em suas aulas?
9) Nunca usou a calculadora em suas aulas, ou houve algum motivo que o
tenha feito parar de utilizar?
10) Quais os prejuízos que a calculadora pode trazer com sua utilização?
11) Você não utiliza calculadora em nenhum tipo de atividade?
12) Em algum momento sua formação foi focada no uso das tecnologias?
13) O que influenciou na sua decisão de não usar a calculadora?
123
ANEXO C: Entrevista com os pesquisadores que aprofundaram
seus estudos sobre o tema “calculadora”
1) Lecionou no Ensino Fundamental ou Médio? Quando? Por quanto tempo?
2) Lecionou no ensino público ou privado?
3) Quando lecionou no Ensino Fundamental ou Médio, usava a calculadora
em suas aulas?
4) Como e quando passou a se interessar pelo tema calculadora?
5) Sua graduação teve disciplinas focadas no uso das tecnologias? Descreva.
6) O que o (a) levou a pesquisar esse tema?
7) De uma forma geral, você acha que tem aumentado o mero de
professores que utilizam a calculadora em suas aulas?
8) Você acha que os professores de Matemática têm informações suficientes
sobre as formas de utilização desse recurso? Comente.
9) Como você acha que o professor que nunca utilizou a calculadora deva
iniciar seu caminho para utilizá-la, ou seja, deve começar por onde?
10) Todos os conteúdos podem ser trabalhados com o auxílio da calculadora?
Você poderia apontar conteúdos em que a aprendizagem seria facilitada,
caso se usasse a calculadora?
11) No caso do uso de calculadora em sala de aula, acredita que exista um
número ideal de alunos por calculadora?
124
12) Esse número pode influenciar no desempenho das atividades?
13) Os livros didáticos exploram bem o uso das calculadoras?
14) O número de alunos por sala influencia ou não na decisão pelo uso da
calculadora? Qual o melhor número de alunos por sala?
15) Sabemos que realiza pesquisas sobre o uso da calculadora. Poderia
comentar sobre os avanços e os recuos nessa área?
125
ANEXO D: Atividades Exploratórias 1
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Série:__________ Data:____/____/____
Atividade 1
1) Com o auxílio de uma calculadora, preencha a tabela abaixo, e, quando
necessário, use aproximação de cinco casas decimais.
Número
(n)
Representar o número
n como potência de
expoente 2
Representar na
notação de raiz
quadrada n
Apresentar o cálculo
da raiz quadrada
0
1
4,2
9
10,5
750
2025
-16
-20,8
-150
2) Agora, responda as seguintes questões:
a) O que representa o cálculo da raiz quadrada na última coluna? Explique.
126
b) Analisando os números dados (da primeira à sétima linha), podemos
notar que eles aumentam e são positivos. O que acontece com suas
raízes quadradas?
c) O que você observa nos cálculos das raízes quadradas de –16, -20,8 e -
150?
d) Você conseguiu representar os números –16; -20,8 e –150 na forma de
potência com expoente 2? Por quê? Justifique sua resposta.
e) Comparando a representação dos números na forma de potência de
expoente 2 com os resultados obtidos pelo do cálculo de sua raiz
quadrada, descreva qual a relação entre estas duas operações.
f) Baseado nesta atividade, procure escrever com suas palavras qual é a
função da tecla
da calculadora.
127
ANEXO E: Atividades Exploratórias 2
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Série:__________ Data:____/____/____
Atividade 2
1) Preencha a tabela abaixo, com o auxílio da calculadora e, quando necessário,
use aproximação de cinco casas decimais.
Número
(n)
Representar o número
n como potência de
expoente 3
Representar na
notação de raiz
cúbica
3
n
Apresentar o
cálculo
da raiz cúbica
0
1
2
3,5
27
50
90,2
-10
-11
-13,3
2) Responda as questões:
a) O que você observou em relação aos resultados obtidos pelo cálculo da raiz
cúbica de 0 a 90,2?
128
b) O que você observa nos cálculos das raízes cúbicas de -10; -11 e -13,3?
c) Qual a relação entre a representação dos números como potência de
expoente 3 e o cálculo de suas raízes cúbicas?
d) Analisando os números dados, podemos notar que alguns deles são
positivos, enquanto que outros números são negativos. O que há em
comum com as raízes?
e) Explique com suas palavras a função
3
n da calculadora.
129
ANEXO F: Atividades Exploratórias 3
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Série:__________ Data:____/____/____
Atividade 3
1) Com o auxílio da calculadora, preencha a tabela abaixo e, quando necessário,
use aproximação de cinco casas decimais:
Obs: Escolher os números pares e ímpares maiores que 3.
Número
Representar
o número
como
potência de
expoente
par
Representar
na notação
de raiz de
índice par
Apresentar
o cálculo
da raiz de
índice par
Representar
o número
como
potência de
expoente
ímpar
Representar
na notação
de raiz de
índice ímpar
Apresentar
o cálculo
da raiz de
índice
ímpar
0
2,5
5
-3
-7
-10,2
2) Responda as questões:
a) Compare os resultados dos cálculos da raízes de índice par com os colegas,
o que você verifica nesses resultados?
b) Faça o mesmo para as raízes de índice ímpar e descreva o que você
observa.
130
c) O que você observa no cálculo da raiz de índice ímpar ou par do número
0? E do número 1?
d) Qual a relação entre uma potência com expoente n e a raiz de índice n?
3) Usando a calculadora, encontre diferentes formas para verificar as igualdades
abaixo. Registre cada verificação, justificando sua resposta.
a) 7117649
6
b)
6,80625,5220
c)
5694703,2112
5
...
131
ANEXO G: Atividades Exploratórias 4
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Série:__________ Data:____/____/____
Atividade 4
Usando uma calculadora, complete a tabela abaixo:
a b
a + b
ba
a - b ba .a b ba.
b
a
b
a
3 2
5 3
17 10
49 34
135 121
68 32
500 212
1428 386
I II III IV V VI VII VIII
a) Observe os resultados obtidos na tabela.
x Compare os resultados das colunas I e II. Que relação você acha que
existe entre eles?
x Compare os resultados das colunas III e IV. Que relação existe entre eles?
x Compare os resultados obtidos nas colunas V e VI e nas colunas VII e VIII.
O que você pode dizer sobre eles?
132
x Tente expressar as conclusões a que você chegou nos itens anteriores na
forma de uma igualdade ou desigualdade, usando os símbolos que
aparecem na primeira linha da tabela.
b) Essas conclusões ainda serão válidas se a ou b forem iguais a zero? O que
muda em suas conclusões se a = 0? E se b=0?
c) Na tabela inicial, você realizou cálculos utilizando a tecla
e depois verificou
as relações existentes entre as colunas. Agora, teste com sua calculadora, se
essas mesmas relações valem para as raízes cúbicas ou para outras raízes.
(Obs: Registrem os testes realizados com a calculadora, assim como as
observações das relações existentes entre as colunas, tanto para as raízes
cúbicas quanto para as demais).
Obs.: Esta atividade foi extraída do livro Matemática Ensino Médio (V. 1), de Kátia Cristina
Smole e Maria Inez de Souza Diniz, 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. (p 25).
133
ANEXO H: Atividades Exploratórias 5
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Série:__________ Data:____/____/____
Atividade 5
1) Um piso tem forma de quadrado conforme mostra a figura abaixo:
a) Qual a área deste piso?
b) Quantos destes pisos seriam necessários para cobrir uma área de 45m²?
c) Qual seria o valor gasto, se cada m² deste piso tem custo de R$ 26,00?
2) Usando uma calculadora, complete as tabelas 1 e 2 a seguir:
Tabela 1
Piso quadrado de
lado (cm)
n
Área
(cm²)
Qtde de
pisos
Área
coberta
(m²)
Valor do
(R$)
Total a
Pagar (R$)
31 1000 36
35 2000 45
40 3000 60
40,5 4000 80
50 5000 150
OBS: Em Matemática podem aparecer números irracionais, como no
exemplo abaixo, onde
2
é a hipotenusa de um triângulo retângulo de
catetos 1 e 1. Isto também ocorre nas tabelas que seguem, onde o
método de cálculo, aproximado ou exato, pode influenciar muito o
resultado
134
2
2²
²1²1²
x
x
x
2
2
2
2
Tabela 2
Quadrado
de lado (m)
n
n
(4 casas)
Área
n x n
(4 casas)
Qtde de
quadrados
Área
coberta
(3 casas)
Valor
do m²
(R$)
Total a
Pagar
(R$)
(2 casas)
2
150 50
3
250 60
5
350 67
6
450 75
5,7
550 88,40
Total
3) Complete agora a mesma tabela 2 do exercício anterior, sem achar as
raízes e sim aplicando as operações com radicais.
Quadrado
de lado (m) Área
Qtde de
quadrados
Área
coberta
Valor do
(R$)
Total a
Pagar (R$)
2
150 50
3
250 60
5
350 67
6
450 75
5,7
550 88,40
Total
4) Responda as seguintes questões:
a) Comparando a tabela anterior com a tabela 2 do exercício 2, por que o
total, do total a pagar, apresentou diferença?
135
b) Se você fosse um empresário, você usaria qual maneira de calcular suas
vendas? Por quê?
c) Podemos sempre desprezar algumas casas, depois da vírgula na
calculadora? Por quê?
136
ANEXO I: Atividades Exploratórias 6
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Série:__________ Data:____/____/____
Atividade 6
1) Uma marcenaria recebeu de uma construtora uma encomenda de 300
pedaços de madeira em forma de triângulo retângulo, com as medidas
indicadas na figura abaixo, ao seu redor deverá ser pregado um filete de
borracha como proteção, determine:
a) Quantos metros deste filete serão usados na encomenda?
b) Quanto será gasto se o metro deste filete custar R$15,00?
2) Complete as tabelas 1 e 2 abaixo, usando uma calculadora:
Tabela 1
Catetos
em metros
n e m
Hipotenusa
²² mn
Perímetro
Valor do metro
(R$)
qtde de
triângulos
Total a
Pagar (R$)
1,5 e 2
5 12
3,75 e 5
7 50
6 e 8
10 65
7,5 e 10
12 78
9 e 12
18 98
Total
137
Tabela 2
Catetos
em (m)
n e m
Hipotenusa
²² mn
(7 casas)
Perímetro
(7 casas)
Valor
do
metro
(R$)
qtde de
triângulos
Total a Pagar (R$)
(utilize 7 casas do
perímetro)
Total a
Pagar (R$)
(utilize 4
casas do
perímetro)
1 e 1
5 90
1 e 2
7 120
2 e 2
10 365
3 e 5
16 842
1 e 5
18 1895
Total
3) Responda de acordo com a tabela 2 anterior:
a) Qual a diferença entre o total, do total a pagar utilizando 7 casas e
utilizando 4 casas do perímetro? Por quê?
b) Qual das duas maneiras é mais correto de se calcular? Por quê?
c) Se você fosse um empresário qual maneira você escolheria para
vender? Por quê?
4) Com o auxilio da calculadora, preencha a tabela abaixo:
catetos
n m e
n
(5 casas)
n x n
(5 casas)
a
m
(5 casas)
m x m
(5 casas)
b
hipotenusa
ba
(5 casas)
2
e
2
3 e 6
7 e
2
11
e 5
19 e 6
Total
138
5) Complete a tabela abaixo, mas sem a calculadora, usando as
propriedades da radiciação.
catetos
n
²n
a
²n
b
hipotenusa
ba
2
e
2
3 e 6
7 e
2
11
e
5
19 e 6
Total
6) Comparando as tabelas do exercício 4 e 5 responda:
a) Qual a diferença, entre o valor total das hipotenusas? Por quê?
b) Podemos calcular por qualquer um dos métodos? Por quê?
c) Em sua opinião, qual dos dois métodos está correto? Por quê?
139
ANEXO J: Atividades Exploratórias 7
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Série:__________ Data:____/____/____
Atividade 7
Sejam a=10
51 e b=70+
2
.
Um aluno da 8ª série, comparando a e b, escreveu no seu caderno:
Com a calculadora, obtive: 51 # 7,141 e
2
# 1,414.
Assim, a # 71,41 e b # 71,414.
Logo, a < b.
a) O que você acha dessa resposta? Está correta? Se não, explique porque.
b) Calcule os valores exatos de: a
2
e b
2
e, depois, de a
2
– b
2
. Estude o sinal
de a
2
– b
2
.
Estudar o sinal significa verificar se a
diferença é maior que zero (positiva),
menor que zero (negativa) ou igual a
zero
(
nula
)
.
c) Compare a e b.
d) O que você conclui? Comente o que você entendeu dessa atividade.
140
ANEXO L: Atividades Exploratórias 8
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Nome:___________________________________________ Idade:_________
Série:__________ Data:____/____/____
Atividade 8
Nas atividades com o símbolo
"
, usem a cabeça!
Com o símboloҏ , podemҏ usar a calculadora.
1.ҏ Com a calculadora, obtenham o valor das seguintes potências:
Potência Cálculo da Potência
1
2
5,0
2
2
5,1
3
2
5,2
4
2
5,3
5
2
5,4
6
2
5,5
" ҏ2. Observem os resultados e tentem perceber como se pode descobrir o
resultado a partir da base.
"ҏ3. Façam uma estimativa para os valores das seguintes potências:
Potência Cálculo da Potência
2
5,4
2
5,5
2
5,9
2
5,10
141
ҏ 4. Com a calculadora, verifiquem se as suas estimativas estavam certas.
Potência Cálculo da Potência
2
5,4
2
5,5
2
5,9
2
5,10
"ҏ 5. Tentem explicar ou justificar suas estimativas.
"ҏ 6. Sem a calculadora, escrevam o resultado de 999,5
2
.
999,5
2
= __________________
"ҏ 7. Escrevam uma expressão válida para qualquer valor de n:
n,5
2
= ____________________
(Obs.: n corresponde à parte inteira do número decimal.).
Fonte:
http://www.malhatlantica.pt/mat/numeros.htm
.
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