Mídia e Terrorismo - Tomo II
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arte, como foram feitas algumas reportagens que você leu, Edicon, São Paulo, 1993). Das matérias atuais de
política, economia e internacional moça bonita sai correndo. E moça feia também.
“Eu jamais comi deste prato”
Mas ninguém resiste aos textos de Robert Fisk. O homem escreve bem à beça, seus lides são primorosos,
cada parágrafo obriga o leitor a seguir adiante. E não se pense que o que pesa é a estética. A ética, a
franqueza, sim, estão em cada informação, que ele destrincha doa a quem doer. Há alguns jornalistas dessa
estirpe, e José Arbex Jr. é um deles. Ex-Folha, hoje independente, colaborador da revista (engajada) Caros
Amigos, não temeu mencionar as conexões do narcotraficante panamenho Noriega com dirigentes cubanos
em seu livro Narcotráfico, um jogo de poder nas Américas (Editora Moderna, São Paulo, 1993). Ele não é
exceção. Nas eleições de 1989, redações inteiras de jornalistas eleitores do PT não hesitaram, pautadas
pela ética, em noticiar denúncias contra Lula.
Não é só Marx que explica. Cláudio Abramo também. No livro obrigatório para (eternos) estudantes A regra do
jogo, o jornalismo e a ética do marceneiro (Companhia das Letras, São Paulo, 1988), ele diz:
“Tenho muita dificuldade de trabalhar com gente de direita, porque a direita brasileira, como não é
ideológica, é fisiológica, e acho muito difícil conviver com pessoas desonestas, não tenho muito jogo
de cintura para isso. Acho mais simples e produtivo trabalhar com gente progressista, esquerdista.
Desde que eles nos respeitem e ao jornal não tem problema, o sujeito não vai contrabandear
matéria.”
Já jornalista “de direita”, como se tem visto à farta, faz contrabando numa boa. Nesse mesmo livro, no breve
artigo “A burguesia submissa”, Abramo mostra os paradigmas da nossa imprensa “não-engajada”, “imparcial”
e “neutra”:
“Essa burguesia nacional execrável desenvolveu toda uma cultura ancilar, dependente, conformista e
submissa; basta ver o que dizem e escrevem alguns de nossos intelectuais, uns abertamente
cooptados por dinheiro (dólares), outros, por desespero existencial.”
Quer mais? Num livrinho pequenino, malfeito mas precioso, chamado Jornalistas pra quê? Os profissionais
diante da ética (coleção Cadernos de Jornalismo, edição do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de
Janeiro, Rio, 1989), a organizadora, a jornalista Sylvia Moretzsohn, então dirigente sindical, hoje professora
de Jornalismo da UFF, faz introdução de vários textos sobre a fraude nas eleições estaduais de 1982 pela
empresa Proconsult, aliada à TV Globo, em favor do candidato Moreira Franco. A maracutaia foi denunciada
pelo jornalista Pery Cotta na Rádio Jornal do Brasil. O candidato Leonel Brizola acabou vencendo, mas essa