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Decidimos, também, fazer a busca para verificar o grau
de incidência e o significado do conceito protagonismo juvenil, que, além de
detectado na primeira leitura dos relatórios, foi um dos conceitos mais
trabalhados durante o Educom.rádio, que tinha entre os jovens um de seus
públicos específicos.
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O conceito "protagonismo" foi introduzido no Educom
com a intenção de evidenciar e valorizar a atuação de adolescentes e jovens,
através de uma participação construtiva, envolvendo-os com as questões da
própria adolescência e juventude, à luz da filosofia que propunha o "pensar
global e o atuar local", em casa, na escola e na comunidade.
É interessante lembrar que a palavra em questão vem do
grego Protagonistés. Para o dicionário Aurélio, significa aquele ou aquela que
está à frente, que lidera, o principal lutador, a personagem principal de uma
peça dramática, a pessoa que desempenha ou ocupa o principal lugar em
determinado espaço. Este conceito, ao meu ver, foi essencial para dar valor, e
estimar as ações desenvolvidas pelos jovens, atuando diretamente em sua auto-
estima e na visão que eles faziam de si próprios. Os mediadores descreveram,
em seus relatórios, com detalhes, a efetiva auto-valorização dos jovens e das
crianças, assim como a clara da percepção que passaram a ter de que eles eram
Possivelmente, acreditavam, como ocorria em outros projetos sob seus cuidados, que ao NCE
competia tão somente ministrar "oficinas" de rádio que em nada incidiriam no cotidiano das
escolas. Nesse sentido, muitos destes funcionários ficavam incomodados com a intimidade com que
os mediadores e demais agentes do NCE se relacionavam com os professores, estudantes e
membros das comunidades educativas, e com suas propostas para se levar à comunicação
democrática e criativa às escolas, finda a capacitação oferecida pelo Educom. Na opinião do
Professor Ismar, em entrevista a esta pesquisadora, presumivelmente este foi o motivo pelo qual as
sucessivas equipes da Secretaria de Educação que foram assumindo funções que tinham algo a ver
com o Educom passaram sistematicamente a avaliar tão somente a "produção radiofônica"
realizada nas escolas, e não a integralidade do projeto educomunicativo levado à rede pela USP. A
hipótese leva em conta o fato de que as escolas que não receberam os equipamentos (200 em 455)
jamais estiveram no centro das preocupações da Prefeitura em suas sucessivas avaliações do
projeto. Ver sobre o tema, a dissertação de Mestrado de Renato Tavares e a tese de doutorado de
Patrícia Horta, igualmente defendidas, na ECA/USP, no primeiro semestre de 2007, acessíveis, para
consulta, na Biblioteca da Escola.
141 - Relata Patrícia Horta, administradora do projeto junto ao NCE, em entrevista a esta
pesquisadora, que a proposta inicial da Prefeitura era que o NCE trabalhasse apenas com os
professores. No entanto, o Núcleo fez questão de incluir - sem qualquer ônus extra para o poder
público - os alunos e representantes da comunidade escolar, justamente por entender que seria
impossível falar em educomunicação sem dialogar, conjuntamente, com os protagonistas do
processo educativo na escola, que incluía, necessariamente as crianças e os adolescentes. Tal
preocupação foi facilmente entendida pela Administração que deu início ao Educom, levando em
conta a existência, na época (2001-2004) de outros projetos na linha do protagonismo juvenil,
entre os quais o "Orçamento Participativo Criança".