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A questão dos rejeitos é o principal entrave colocado pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) à construção de Angra 3, projeto com potência de 1,3 mil
mW, suspenso desde a década de setenta. Na licença prévia
emitida na quarta-feira, o Ibama determinou que a Eletronuclear
defina um destino definitivo para o combustível utilizado pelas
usinas.
O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen),
Odair Dias Gonçalves, porém, diz que a criação da nova estatal
ainda depende de avaliação do Governo e do Congresso e, por
isso, não deve ser concluída no curto prazo. O novo programa
nuclear brasileiro prevê a construção de até oito novas usinas no
país, além da criação de uma agência reguladora do setor, e de
medidas que envolvem outros usos da tecnologia nuclear: “Ainda
não dá pra ter uma solução definitiva, porque não temos a
dimensão do que sairá do novo programa nuclear”, afirmou o
executivo.
Atualmente os rejeitos da alta radioatividade – ou seja, o
combustível nuclear já utilizado – ficam armazenados em piscinas
especialmente construídas dentro das usinas para este fim. As
piscinas têm capacidade para armazenar todo o combustível
utilizado durante a vida útil de uma usina.
O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben),
Francisco Rondinelle, diz que a solução é adotada em todo o
mundo, enquanto as novas tecnologias de reprocessamento para
geração de energia estão em desenvolvimento. O combustível
nuclear sai da usina ainda com 40% da energia original, o que
torna economicamente viável o reuso.
A França, por exemplo, é uma das pioneiras em pesquisas sobre
o tema e recicla combustível nuclear nas unidades de
reprocessamento em La Hague e Marcoulle. Mesmo assim, o país
ainda discute o problema do destino definitivo dos rejeitos. O país
estuda a construção de um depósito geológico em rochas de
granito, onde os rejeitos de alta densidade poderão ser
armazenados definitivamente.
Enquanto não há decisão sobre o destino dos rejeitos brasileiros,
a Cnen trabalha em um protótipo de estoque definitivo para o
combustível nuclear usado. Segundo Gonçalves, o uso de
cavernas em rochas de granito é uma das alternativas. O primeiro
protótipo terá o formato de uma colméia forrada de aço, onde os
elementos combustíveis poderão ser enfiados em casulos
lacrados, e deve estar pronto em 2013.
Não há nenhuma definição, porém, sobre quando um depósito
definitivo poderá entrar em operação nem sobre sua localização.
Para Gonçalves, o governo tem tempo para tomar essas decisões,
uma vez que as piscinas da central nuclear de Angra podem
armazenar os rejeitos por, pelo menos, 40 anos. As novas usinas
do programa nuclear, caso sejam construídas, também deverão
ter piscinas para armazenagem temporária.
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