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Lidiane Michelle Coelho de Souza
A Prosódia no Comando Militar
Orientador: Prof. Dr. César Reis
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2007
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Lidiane Michelle Coelho de Souza
A Prosódia no Comando Militar
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2007
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Letras: Estudos
Lingüísticos como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Lingüística,
na linha de pesquisa Estrutura Sonora da
Comunicação Humana.
Área de Concentração: Lingüística
Linha de Pesquisa: D
Orientador: Prof. Dr. César Reis
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Lidiane Michelle Coelho de Souza
Prosódia e atitude: o comando militar
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos
Lingüísticos, na linha de pesquisa Estrutura Sonora da Comunicação Humana, na
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais.
Prof. Dr. César Augusto da Conceição Reis
Universidade Federal de Minas Gerais
Profª. Drª. Ana Cristina Côrtes Gama
Universidade Federal de Minas Gerais
Profª. Dra. Regina
Belo Horizonte, 09 de Julho de 2007.
4
A Deus
À minha mãe, Ângela
5
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo dom da vida, pelas maravilhas infinitas deste mundo. Por me iluminar
sempre!
Agradeço eternamente a minha família, base de todos meus princípios e valores, meu
“porto seguro”. À minha amada mãe pelo apoio e amor incondicional, que sempre
me incentiva e me dá força nos momentos mais difíceis e vibra comigo a cada
conquista. Aos meus irmãos, Douglas e Nathália, obrigada por aturarem meus
momentos de estresse e por serem mais que irmãos, amigos e companheiros, amo
vocês! Ao meu pai, pelos ensinamentos deixados, por ter sempre acreditado no meu
potencial, obrigada, sei que onde está continua torcendo por mim.
À tia Fia, minha madrinha, minha segunda mãe, obrigada pelo carinho, pelo amor,
pelo apoio.
A minha prima Nil, amiga, solidária, companheira, obrigada por ter me acolhido
todos estes anos, sempre com muito carinho. Ao Nem, pela amizade, pela
receptividade. Vocês são especiais. Amo vocês!
À grande amiga, mestre, modelo de profissional, que me inspirou nesta carreira
acadêmica. Luciana Mendonça, obrigada por tudo!
Ao Professor César Reis, pela confiança depositada em mim na realização deste
trabalho, pelo apoio, pelo conhecimento partilhado, pela compreensão e paciência.
Você será sempre especial e inesquecível.
Às grandes amigas, que juntas formamos o grupo das “cesaretes”, Érica, Juliana,
Isabel e Letícia, obrigada pela companhia, pelo carinho, pela amizade, por
transformar momentos de desespero em diversão. Vou sentir saudades de nossos
momentos juntas...
6
Ao amigo Horácio que muito me ajudou, partilhando conhecimento e colaborando
nas correções deste trabalho. Obrigada por sua amizade e apoio, por estar sempre
disponível.
Às amigas do mestrado, Camila, com quem dividi momentos inesquecíveis; Karine,
obrigada pela disponibilidade, sempre me ajudando nas incansáveis mudanças;
Flaviana, obrigada pelo convívio; Vanessa pelas palavras de incentivo e o convívio;
Adriana, Leandra, Bernadete, Renata, Érica pelo conhecimento partilhado.
Aos estagiários do Labfon: Andréia, Cândido, Maria, Janaína, em especial, Ligia,
Carol, obrigada pela boa vontade de todos vocês, pelo carinho e convívio no Labfon.
A todos os familiares, tios, tias, primos, primas pelo carinho. Amo muito todos
vocês!
Às amigas da moradia universitária, em especial Flávia, Carol e Magali.
Aos Professores Rui Rothe-Neves, José Olímpio de Magalhães e Márcia Cançado
pelo dom de ensinar, que muito contribuíram para meu aprendizado.
A Coordenadoria e Cadetes do CFO 3/2006 e Aspirantes 2006 pelo apoio a esta
pesquisa, em especial ao Cap. Dias, Cap. Welson, Ten. Aleixo e Ten. Leonardo.
Ao Leandro pela contribuição na análise estatística deste trabalho, pela paciência e
disponibilidade.
À Capes por ter financiado parte deste trabalho.
Obrigada a TODOS os meus amigos, pelo companheirismo, pelo apoio, pela torcida.
Sinto- me feliz por saber que vocês existem e posso contar com vocês.
7
RESUMO
Este trabalho representa uma pequena contribuição em relação a alguns aspectos
prosódicos do comando militar, considerando parâmetros como intensidade,
freqüência fundamental, organização temporal, e algumas considerações sobre
duração. Reflete sobre a questão metodológica, examinando dados de uma situação
simulada e de uma situação ordinária. Fazemos, ainda, algumas considerações sobre
a expressão da atitude no comando.
Encontramos características marcantes no comando militar como: a longa duração da
primeira sílaba átona da palavra, que se encontrava fora da posição tônica, em alguns
trechos do comando; aumento do registro e da tessitura; alta intensidade, que se
mantém estável durante a execução do comando; enfraquecimento ou apagamento da
sílaba pós-tônica e em outros momentos destaque da sílaba pós-tônica. Tais
características prosódicas podem ainda veicular a expressão de autoridade no
comando.
Pudemos observar diferenças prosódicas nos diferentes dados de análise que
compunham a situação simulada e a situação de avaliação, isto se dá graças à
plasticidade prosódica que permite sua adaptação às diferentes situações, o que nos
leva a concluir que dados de uma situação ordinária permitem resultados mais fiéis à
situação que eles representam.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1: Componentes da fala na comunicação.............................................................................. 23
FIGURA 2: Duração média das vogais das sílabas acentuadas............................................................ 36
FIGURA 3: Oscilograma (acima), espectrograma, curva de F0 e curva de intensidade (sobre o
espectrograma) e a transcrição ortográfica do texto, exemplificando as condições de análise dos
dados........................................................................................................................................... 69
FIGURA 4: Amostra enviada ao Prof. Paul Boersma, nesta figura valores do Pitch settings, são 100 e
500, o valor obtido na curva de F0 no final do enunciado é 267,55 Hz...................................... 70
FIGURA 5: Nesta figura a informação avaliada é a mesma da figura anterior. Porém, podemos
observar alteração no final da curva de F0, nesta análise os valores do pitch settings foram
alterados de 100 e 500 para 150 e 500 e o valor obtido no final da curva foi de 155,47 Hz....... 71
FIGURA 6: Tela do programa WinPitch, utilizada neste trabalho para análise de F0......................... 73
FIGURA 7: Presença da pausa demarcando duas unidades entonativas. Informante 2 masc. comando
de companhia.............................................................................................................................. 74
FIGURA 8: O mesmo trecho apresentado na figura anterior, agora sem ocorrência da pausa, sendo
considerado apenas um grupo tonal. Informante 3 masc. comando de companhia..................... 74
FIGURA 9: Curva com pico inicial na vogal tônica proeminente........................................................ 77
FIGURA 10: Curva com pico medial na vogal tônica proeminente..................................................... 77
FIGURA 11: Curva com pico final na vogal tônica proeminente........................................................ 78
FIGURA 12: Medida do tempo total de elocução dada na barra abaixo após a seleção do trecho que se
quer medir. Podemos observar as demarcações da pausa, representada pelo diacrítico /#/. Antes
e após a seleção temos ruídos externos e som do tambor. .......................................................... 83
FIGURA 13: Comparação da duração da vogal da primeira sílaba da palavra 'ordinário', situação
simulada x situação de avaliação................................................................................................ 87
FIGURA 14: Curva de intensidade do trecho "ao meu comando" do informante 6 masc. comando de
companhia (situação de avaliação) ............................................................................................. 88
FIGURA 15: Curva de intensidade do trecho "ao meu comando" informante 7 masc. comando de
pelotão (situação simulada)......................................................................................................... 89
FIGURA 16: Média da F0 usual situação de avaliação........................................................................ 90
FIGURA 17: Média da F0 usual situação simulada............................................................................. 91
FIGURA 18: Tessitura na fala espontânea de informantes do comando de companhia....................... 92
FIGURA 19: Tessitura no comando de informantes do comando de companhia (situação de avaliação)
.................................................................................................................................................... 93
FIGURA 20: Tessitura na fala espontânea de informantes do comando de batalhão........................... 93
FIGURA 21: Tessitura no comando de informantes do comando de batalhão (situação de avaliação)94
FIGURA 22: Tessitura no comando de pelotão (situação simulada).................................................... 95
9
FIGURA 23: Tempo total de pausas no comando de batalhão. Cada informante é representado por
dois pontos no gráfico, devido à divisão deste comando em duas partes.................................. 101
FIGURA 24: Tempo total de pausas no comando de companhia. Cada informante é representado por
três pontos no gráfico, devido à divisão deste comando em três partes.................................... 102
FIGURA 25: Tempo total de pausas no comando de pelotão. Cada informante é representado por um
ponto no gráfico, pois para este comando não houve divisão................................................... 102
FIGURA 26: Duração das pausas que ocorrem após cada comando no comando de companhia...... 103
FIGURA 27: Duração das pausas, que ocorrem após cada comando no comando de batalhão parte 1.
.................................................................................................................................................. 104
FIGURA 28: Duração das pausas que ocorrem após cada comando no comando de batalhão parte 2
.................................................................................................................................................. 105
FIGURA 29: Duração das pausas que ocorrem após cada comando no comando de pelotão............ 106
FIGURA 30: Gráfico carta de controle TxE do comando de companhia........................................... 110
FIGURA 31: Gráfico carta de controle TxA do comando de companhia .......................................... 110
FIGURA 32: Gráfico carta de controle TxE do comando de batalhão............................................... 111
FIGURA 33: Gráfico Carta de controle TxA do comando de batalhão.............................................. 111
FIGURA 34: Gráfico carta de controle TxE do comando de pelotão................................................. 112
FIGURA 35: Gráfico carta de controle TxA do comando de pelotão ............................................... 113
FIGURA 36: Média da Taxa de elocução dos três comandos............................................................ 113
FIGURA 37: Média da taxa de articulação para os três comando...................................................... 114
QUADRO 1: Localização do pico da curva de F0 na vogal tônica proeminente comando de batalhão96
QUADRO 2: Localização do pico da curva de F0 na vogal tônica proeminente comando de companhia
.................................................................................................................................................... 97
QUADRO 3: Localização do pico da curva de F0 na vogal tônica proeminente comando de pelotão 98
QUADRO 4: Análise organização temporal no comando de companhia........................................... 108
QUADRO 5: Análise organização temporal no comando de batalhão............................................... 109
QUADRO 6: Análise organização temporal no comando de pelotão ................................................ 109
10
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................ 1
Objetivo ..................................................................................................... 005
Justificativa ............................................................................................... 006
Capítulo 1 – Fundamentação Teórica
1.1. – Introdução ................................................................................................... 9
1.2. – Prosódia .................................................................................................. 009
1.2.1– Prosódia e entonação ....................................................................... 009
1.2.2 – Definição ......................................................................................... 011
1.2.3 – Funções da Prosódia ........................................................................ 014
1.2.4 – Unidade Prosódica ........................................................................... 018
1.2.5 – Principais correlatos acústicos da Prosódia ..................................... 020
1.2.5.1 – Freqüência fundamental ................................................... 020
1.2.5.2 – Tessitura ........................................................................... 022
1.2.5.3 – Duração .............................................................................024
1.2.5.4 – Intensidade ........................................................................025
1.2.5.5 – Ritmo .................................................................................026
1.2.5.6 – Organização Temporal ......................................................027
1.2.5.6.1 – Sílaba ..............................................................................027
1.2.5.6.2 – Velocidade de Fala .........................................................029
1.2.5.7 – Pausa ................................................................................. 031
1.3 – Atitude .......................................................................................................032
1.3.1 – Atitude x Emoção .............................................................................032
1.3.2 – Definição de Atitude ....................................................................... 034
1.3.3 – Entonação na expressão de atitude – autoridade ..............................036
1.4 – A Teoria dos Atos de Fala e o ato de fala comando .................................039
1.5– O Comando Militar e a disciplina “Ordem Unida” ...................................042
Capítulo 2 – Metodologia
2.1– Coleta dos dados ........................................................................................048
2.2 – Informantes ...............................................................................................050
2.3 – Corpus ......................................................................................................052
11
2.4 – Análise Acústica .......................................................................................054
2.4.1 – Parâmetros Analisados .....................................................................061
2.4.1.1 – Freqüência Fundamental ..................................................061
2.4.1.2 – Organização Temporal ......................................................062
2.4.1.3 – Pausas ................................................................................064
2.4.1.4 – Duração .............................................................................065
2.4.1.5 – Intensidade ........................................................................067
2.5 – Análise Estatística .....................................................................................067
Capítulo 3 – Análise e Discussão
3.1 – Introdução ...........................................................................................069
3.2 – Duração ...............................................................................................069
3.3 – Intensidade ..........................................................................................071
3.4 – Pausa .................................................................................................072
3.5 – Freqüência Fundamental ( F0).............................................................078
3.5.1 – F0 usual ................................................................................078
3.5.2 – Tessitura ..............................................................................080
3.5.3 – Localização do pico da curva de F0 na tônica proeminente..082
3.6 – Organização Temporal ........................................................................084
Capítulo 4 – A Expressão de Atitude no Comando Militar................................090
Conclusão ................................................................................................................095
Referências Bibliográficas ....................................................................................099
Anexos ....................................................................................................................107
12
Introdução
13
Esta dissertação segue uma das propostas do Laboratório de Fonética da
Universidade Federal de Minas Gerais e de seus pesquisadores, com o intuito de se
analisar a prosódia na expressão de atitudes do locutor.
Em busca de recursos que nos ajudem a compreender melhor as funções pragmáticas
(intenção do locutor), propomos um estudo que reúna atos de fala e prosódia. A
intenção do locutor está presente na sua oralidade, e um dos recursos, que
acreditamos ser um dos mais importantes na expressão oral é a prosódia, a qual
carrega consigo boa parte dos traços fonéticos que revelam a atitude do falante. Um
dado que achamos interessante para a aplicação deste estudo foi o comando militar,
no qual poderemos fazer uma análise prosódica associando as condições de
realização deste tipo de ato de fala comando de acordo com a Teoria de Atos de
Fala, considerando a importância da prosódia na enunciação deste ato.
Por que o comando militar? Inicialmente, nosso objetivo era trabalhar com as
diferenças prosódicas que acreditamos estarem presentes na fala de superiores e
subordinados. Conforme argumenta Maia (2001), “uma resposta a um colega ou a
um amigo não é o mesmo que uma resposta a um superior”. Porém, apesar do
interesse, havia muitas dificuldades metodológicas, pois, em discussão com os
membros da Instituição Militar, pudemos perceber alguns empecilhos para o
desenvolvimento desta pesquisa, sendo um deles, o sigilo das informações trocadas
dentro destas Instituições, com isto, ficaria difícil a coleta de dados para análise.
Sendo assim, precisávamos mudar o enfoque de nossa pesquisa, pois, de acordo com
o que esclarecemos anteriormente, nossa idéia inicial mostrou-se inviável. Todavia,
14
esse contato com a Academia Militar nos fez vislumbrar um novo tema de pesquisa,
devido à ordem e ao respeito prezado nestas Unidades. Com o crescente interesse
pelos estudos prosódicos e atitudinais no país e a necessidade destes estudos em
situações específicas pois, conforme argumenta Reis (1997), “o estudo de frase fora
de situação limita drasticamente os estudos prosódicos, a situação deve ser
incorporada naturalmente na análise prosódica”, procuramos uma situação em que
fosse possível utilizar dados do meio militar, os quais fossem interessantes para uma
análise prosódica e atitudinal. Em discussão com o orientador, decidimos eleger os
atos de comando, como objeto de estudo para nossa pesquisa, visto ser um ato de fala
comum nos Centros Militares. Acreditamos que este enfoque específico da pesquisa
seja de grande contribuição para uma maior compreensão dos fenômenos prosódicos
e atitudinais.
Uma vez que nossa pesquisa se desenvolve no meio militar, e que estaremos tratando
especificamente dos atos de comando é importante citarmos como se dispõe a
hierarquia militar, que de acordo com a Lei nº 5.301, de 16 de outubro de 1969
apresenta-se da seguinte maneira:
Art. 9º - São os seguintes os postos de graduação da escala
hierárquica:
1 – Oficiais de Polícia:
a) Superiores: Coronel, Tenente-Coronel, Major
b) Intermediário: Capitão
c) Subalternos: 1º Tenente, 2º Tenente
II – Praças Especiais de Polícia: Aspirante a Oficial
15
Alunos do Curso de Formação de Oficiais
III – Praças de Polícia: Subtenente, 1º Sargento, 2º Sargento, 3º Sargento,
Cabo, Soldado
Desta hierarquia participarão de nossa pesquisa os cabos alunos da disciplina Ordem
Unida, especificamente em seu módulo prático. Utilizaremos em especial o módulo
prático, pois é neste momento que os alunos treinam o comando no local, além da
maneira como este deve acontecer, ou seja, no pátio, colocando-se em prática o
conteúdo teórico aprendido sobre a disciplina nos módulos anteriores.
Devido a especificidade do tema deste trabalho, dificilmente seus achados poderão
ser generalizados para qualquer outra situação de comando; graças também a
especificidade desta pesquisa ela consiste num avanço no conhecimento sobre
prosódia e atitude, dado o atual estado da arte, pois trata-se de uma área da
Lingüística ainda pouco explorada no Brasil.
16
Objetivos
Objetivos Gerais
- Contribuir para uma melhor compreensão dos estudos prosódicos e
atitudinais;
- Analisar os aspectos prosódicas nos atos de comando militar.
Objetivos Específicos
- Descrever o comando militar do ponto de vista acústico e perceptivo;
- Analisar atitudes expressas no comando militar;
- Analisar a variável gênero no comando militar;
17
Justificativa
Atualmente no Brasil há um crescente interesse pelos estudos que relacionem
prosódia e atitude do falante e ainda poucos estudos sobre o assunto, sendo que a
função atitudinal é uma das mais importantes funções da entonação (WICHMANN,
2002; PIKE, 1945; REIS, 2001). Em outras línguas há diversos trabalhos
desenvolvidos que consideram o aspecto entonativo na expressão de emoção e/ou
atitude. Portanto, este trabalho visa contribuir para uma melhor compreensão da
língua, através da realização um estudo fonético acústico-perceptivo de sentenças em
situações específicas da prática do comando militar, pois, como afirmou Reis (1997),
outro ponto importante que podemos observar é que o dado da análise lingüística tem
sido tradicionalmente o estudo da sentença fora de situação.
Considerando a afirmação de Reis (1997), buscamos analisar dados numa situação
específica de comando na fala militar, para que obtenhamos uma relação mais fiel
entre prosódia e atitude, e conseqüentemente um estudo mais eficaz. O fato da coleta
dos dados ter sido feita na realização da prova prática dos cadetes em formação nos
permitiu trabalhar com dados bem próximos de uma situação real de comando, sendo
uma situação favorável para o estudo atitudinal. Assim, visamos contribuir para uma
melhor compreensão entre a relação atitude do falante e prosódia no português do
Brasil, buscando traçar os parâmetros capazes de expressar a autoridade neste ato de
fala.
Tench (1990) explica a função atitudinal como um dos papéis da entonação, servindo
para expressar atitudes para com objetos, pessoas, eventos e idéias, além de permitir
18
a interpretação das atitudes na fala das outras pessoas. Tench (1990) esclarece em sua
colocação como se dá a função atitudinal através da entonação, que, no estudo em
questão, é usada na expressão de atitude para com pessoas que deverão obedecer a
um comando e, portanto, deve transmitir autoridade. Um comando que não expresse
autoridade fica comprometido em sua eficácia. Desse modo, este estudo se faz
interessante por abordar esta relação direta do uso dos aspectos prosódicos da fala na
expressão de atitude, o que neste caso, significa a expressão de autoridade.
19
Capítulo 1
Fundamentação Teórica
20
1.1 Introdução
Neste capítulo serão apresentadas a revisão de literatura pertinente ao
desenvolvimento deste estudo sobre a prosódia no comando militar; as condições de
realização do comando, à luz da teoria dos atos de fala; a atitude expressa neste ato e
a disciplina “Ordem Unida”, que constitui, de acordo com o Manual de Campanha –
Ordem Unida “a forma mais elementar de iniciação do militar na prática de chefia”.
Para melhor compreensão desta pesquisa, procuramos fazer um pressuposto teórico
com conceitos, definições e abordagens, em especial sobre prosódia, apresentando
ainda suas funções e considerações sobre unidades prosódicas, bem como sobre
organização temporal. Esclarecemos sobre a teoria dos atos de fala especificamente
na enunciação do comando, suas condições de realização, delimitando o modo e o
ponto que caracterizam este ato de fala.
Sobre a disciplina Ordem Unida, consultamos o Manual de Campanha para
definirmos os comandos analisados neste trabalho, bem como as instruções
oferecidas para a sua execução. Vimos que há diferentes tipos de comandos e que
cada um requer um modo de emissão próprio, o que será retratado neste capítulo.
21
1.2 Prosódia
1.2.1 - Prosódia e Entonação
O termo prosódia não é facilmente definido. Há muita divergência entre os autores
na definição de prosódia, principalmente quanto a sua distinção de entonação
(KENT& READ, 1992).Kent & Read (1992) seguem Johns-Lewis (1986) que
considera entonação como parte da prosódia, assim, entonação é similar à prosódia
em que seus parâmetros são freqüência fundamental, intensidade e duração. Para
eles, entonação refere-se a um fenômeno mais estreito relacionado geralmente às
variações melódicas, enquanto que a prosódia envolve outros parâmetros tais como
tempo (pausa e prolongamento), ritmo e outros.
Reis (2005)
1
faz uma distinção da definição de entonação em seu sentido amplo e
sentido estreito:
Sentido amplo: a entonação está na confluência de um complexo de
traços de diferentes sistemas prosódicos: tom, intervalo melódico, força,
ritmiticidade e organização temporal.
Sentido estreito: contrastes gradientes devidos à variação melódica.
Outra autora que também apresenta esta diferença é a Couper-Kuhlen (1986 p.71)
que afirma:
Intonation in the restricted sense of speech melody is viewed in this
model as a manifestation of the interaction of several prosodic features,
first and foremost tone (pitch direction) and pitch-range (pitch height an
pitch width). Other prosodic features such as loudness, rhythmicality,
pause, etc. may, however, also enter in - in which case we are speaking
of intonation in its broadest sense, or prosody.
Seguindo os autores acima, seguimos a colocação exposta e neste trabalho propomos
portanto, uma análise prosódica, por vezes, podemos utilizar a palavra entonação
1
Definição extraída da apostila oferecida durante a disciplina Seminário de Tópico Variável em
Fonética: Prosódia e expressão de atitudes.
22
como sinônima para o termo prosódia, esclarecendo que a entonação, mesmo em seu
sentido amplo é a ainda mais restrita que a prosódia.
1.2.2 – Definição
Uma simples frase pode ser produzida de diferentes maneiras e com isso apresentar
diferentes significados. Estas diferenças podem ocorrer devido ao padrão acentual,
localização da ênfase (foco) , pausas, ritmo, dentre outros aspectos suprasegmentais
que colaboram para a compreensão da mensagem dita. Estes aspectos
suprasegmentais encontram –se dentro do domínio da prosódia (KENT e
READ,1992).
Crystal (1969) define a prosódia como efeitos vocais constituídos por variações ao
longo dos parâmetros de altura, intensidade, duração e pausa. Para maiores
esclarecimentos sobre os aspectos prosódicos, podemos citar a explanação de
Couper-Kuhlen (1986) sobre as dimensões prosódicas, importantes para a
compreensão deste fenômeno na fala em três níveis distintos, conforme abaixo:
Dimensões da prosódia:
Articulatória Acústica Auditiva
Vibração das pregas vocais Freqüência Fundamental Melodia
Esforço físico Intensidade
Proeminência
Ordenação dos movimentos Tempo Duração
23
Articulatórios
A mesma autora assume três aspectos da fala no tratamento da prosódia:
1 – dimensão articulatória (motor ou produtivo), isto é, a fala vista pela
perspectiva do falante;
2 – dimensão auditiva (perceptiva e receptiva), isto é, a fala vista pela
perspectiva do ouvinte;
3 – dimensão acústica, isto é, a fala vista como um sinal acústico transmitido
do falante para o ouvinte.
Nesta pesquisa, abordaremos principalmente a dimensão acústica da fala, uma vez
que visamos fazer uma análise do ato de fala comando, utilizando o programa
PRAAT, medindo os correlatos acústicos da prosódia nestes dados. Sendo a fala um
todo, não podemos desprezar as outras dimensões e estas serão consideradas de
acordo com o objetivo desta pesquisa, pois as dimensões não são totalmente
independentes uma da outra.
No diagrama abaixo proposto por Crystal (1969), ele considera alguns aspectos da
fala incluídos na prosódia como: intensidade (um componente do acento), duração
(um componente do ritmo e tempo), melodia (um componente da entonação) e pausa.
FIGURA 1: Componentes da fala na comunicação
Enunciado
Segmental
Não segmental
Prosódico Paralingüístico Não lingüístico
(qualificadores da voz)
(qualidade de voz e reflexos
vocais)
Proeminência Duração Melodia
Pausa
(Crystal, 1969 p.131)
(COUPER-KUHLEN, 1986 p.7)
24
Clark e Yallop (1995) consideram a implicação de que aspectos suprasegmentais são
de alguma maneira sobrepostos a vogais e consoantes como uma colocação
enganosa, dado que a prosódia é parte integral da produção da fala e freqüentemente
exerce uma contribuição completamente significante para a mensagem.
De uma maneira geral, prosódia pode ser amplamente definida como toda
composição de características que não só determina o que o falante diz, mas
especialmente como ele diz. (BOLINGER, 1985, CRUTTENDEN, 1986, LADD,
1996).
Pike (1945) diz que cada sentença, cada palavra, cada sílaba possui uma melodia
quando é falada, não há sentença sem melodia. Os contornos entonativos são
definidos como características abstratas da melodia das sentenças e estas
características tendem as ser semipadronizadas, de forma que todos os falantes de
uma mesma língua usam seqüência similares de variação melódica em circunstâncias
similares. A entonação é medida pela variação de subidas e descidas melódicas,
estudadas por meio do contorno melódico, além das mudanças de direção do
contorno melódico que contribuem para o significado do proferimento.
Sendo o comando militar um estilo específico de fala, acreditamos que ocorra como
citou Pike (1945) uma padronização dos parâmetros prosódicos, sobretudo
melódicos, pois os comandos são dados em circunstâncias similares, havendo todo
um treinamento sobre o seu modo de emissão.
25
1.2.3 - Funções da Prosódia
A fala transmite mais que o conteúdo sintático e semântico da sentença. Possui
também pistas prosódicas que são utilizadas por falantes e ouvintes para expressar e
decodificar a mensagem falada (MOZZICONACCI, 2002). Sendo assim, a
comunicação não é simplesmente uma escolha de palavras, possui elementos
paralingüísticos, comunicação não verbal, como expressão facial, gestos, dentre
outros elementos que juntamente com os elementos lingüísticos transmitem todo um
significado.
A função atitudinal é uma das mais importantes funções da entonação
(WICHMANN, 2002; PIKE, 1945; REIS,2001; ALVES, 2002; QUEIROZ, 2004;
TENCH, 1990) e diferentes variações prosódicas expressam diferentes atitudes.
Mozziconacci (2000) afirma ainda que a prosódia pode adicionar informação ao
conteúdo lingüístico ou ainda modificá-lo, acreditamos, porém, que a prosódia não
faz simplesmente isso: ela compõe a mensagem, assim como os segmentos, como foi
considerado por exemplo por Clark & Yallop (1995).
Já Pickett (1998), faz uma colocação interessante levando em consideração as
características inerentes como, por exemplo, os aspectos vocais especiais
encontrados na fala, que podem ser utilizados com diferentes propósitos
comunicativos. Pickett (1998) acrescenta que ao se falar com alguém deseja-se,
geralmente, transmitir duas coisas: alguma informação objetiva – o que – e a atitude
como – a ela relacionada. O primeiro é dito a partir da escolha das palavras que são
colocadas nas frases, e são faladas melodicamente de acordo com certas regras. O
26
segundo relaciona-se a propósitos expressivos, afetivos, implicando em significados
diferentes.
Assim, os enunciados se articulam por meio de convenções que se fazem
compreensíveis através do conhecimento prévio do falante, utilizando palavras,
melodias, expressões entre outros recursos, pertinentes ao conteúdo informativo que
se quer passar, sendo que modificações em quaisquer destes recursos comunicativos
podem alterar o significado da mensagem. Conforme afirma Pike (1945), a mesma
frase pode ser dita de diferentes maneiras, sendo improvável que estas flutuações
ocorram sem que haja mudança de significado. Logo, o significado entonativo
modifica o significado lexical da sentença ao adicionar a atitude do falante ao
contexto da sentença. Ainda o mesmo autor destaca uma outra função da entonação
que seria a de identificar as características individuais do falante como idade, sexo e
estado psicológico do indivíduo, como raiva , felicidade e tristeza, por exemplo.
Clark e Yallop (1995 p.277) ressaltam como falantes podem utilizar a prosódia na
fala para expressar seus estados e atitudes:
More closely related to linguistic functioning is the speaker’s use of such
features as overall voice quality, pitch range, pitch movement and
articulation rate to indicate a general attitude. Again conventions vary
widely, but it is probably safe to say that most speakers in most
languages have ways of signaling authoritativeness or submissiveness,
seriousness or lightheartedness, excitement or calmness, even though
these ‘states’ or ‘attitudes’ will certainly not be identical across cultures.
Conforme considera Reis (1984), a manifestação das atitudes do falante é
determinada pela entonação, sendo que uma palavra utilizada para expressar polidez
ou rispidez pode revelar atitudes opostas em função da entonação.
27
Hirst & Di Cristo (1998) afirmam ser a função modal uma das mais importantes
funções da entonação. Segundo eles, uma das características mais universais dentre
as funções da entonação é a distinção entre interrogativa e declarativa. Conforme
ocorre nos enunciados abaixo:
- Pedro chegou.
- Pedro chegou?
O que difere os dois enunciados é a entonação, o primeiro termina em tom descente
e o segundo em tom ascendente.
Moraes (1998), em seu artigo sobre a Entonação no Português Brasileiro, descreve
algumas funções da entonação na nossa língua que apresentamos resumidamente
abaixo:
- O autor descreve o padrão básico não-enfático, ou seja, padrão declarativo
neutro caracterizado por uma queda na freqüência fundamental (F0) no final
do enunciado.
- A função modal, afirmando como ocorre na maioria das outras línguas que
os valores da média de F0 são maiores nas interrogativas que nas declarativas
no português.
- A entonação utilizada na distinção entre sentenças e diferentes tipos de
questões na execução de um ato de fala, como por exemplo:
Pode ser interpretado como uma ordem, pedido, sugestão, ameaça, etc. E cada
ato de fala representa um contorno melódico diferente.
28
- Na expressão de focalização e efeitos contextuais, onde a entonação permite
distinguir a informação nova (rheme), da informação já presente na
consciência do ouvinte, chamada informação dada (theme).
- Para dar ênfase de contraste, que podemos explicar com o exemplo abaixo:
- Ele cumprimentou a garota de branco.
- Ele cumprimentou a garota de PREto.
A ênfase é dada em baixa melodia, a melodia da sílaba precedente é mais alta,
assim produzindo o contraste. O padrão do enunciado até o ponto da ênfase é
declarativo neutro, sendo a ênfase dita como um parêntese em tom baixo. A
sílaba acentuada representa maior intensidade e duração.
- Serve para promover a organização textual. A organização textual da
sentença é prosodicamente expressada pela localização do acento frasal que
permite o enunciado ser segmentado em grupos prosódicos.
-Fecha a porta
Outro aspecto também que nos ajuda na compreensão da função prosódica pode ser
visto em Gussenhoven (2002). Trata-se de uma explanação da natureza dos
significados paralingüísticos realizada através do conhecimento implícito derivado
dos três códigos biológicos, conforme abaixo:
1 - Código de Freqüência - relacionado com os órgãos envolvidos na
produção da fala, em particular a laringe que varia de falante para falante,
causando diferenças na F0 de adultos e crianças, falantes masculinos e
femininos.
2 - Código de esforço - relaciona-se a quantidade de energia gasta na
produção da fala.
29
3 - Código de Produção - a energia é associada com a fase de exalação do
processo respiratório, dividindo a fala em grupos de respiração. Variação
melódica alta no começo e baixa no final.
Estes códigos biológicos contribuem para compreensão de como as diferenças
individuais anatômicas e na forma de emissão do enunciado, ou seja, a maneira como
o falante utiliza seu trato vocal, são capazes de transmitir diferentes mensagens.
Estas são algumas das diferentes funções que a prosódia desempenha. Neste trabalho,
veremos principalmente sua função atitudinal, sua expressão em atos de fala,
procurando defini-la na manifestação do comando militar.
1.2.4 Unidade Prosódica
Para este estudo utilizamos a teoria prosódica apresentada por Halliday (1970).
Optamos por este modelo devido sua apresentação mais simples de apenas 05 tons
primários e 02 tons combinados, e também por apresentar uma análise mais clara e
objetiva. Os tons são diferenciados um dos outros pelo movimento melódico do
segmento tônico. O autor denomina a unidade de entonação, ou seja, a unidade
melódica como grupo tonal. O grupo tonal é constituído de pés e cada pé é
constituído de um número de sílabas, uma ou mais, ele é considerado a unidade de
informação. Dentro de um grupo tonal há sempre alguma parte que é especialmente
proeminente, que geralmente constitui a parte mais importante da mensagem, esta
proeminência é chamada de proeminência tônica. A sílaba tônica é freqüentemente
mais longa, mais forte e apresenta uma maior variação melódica do que as demais
30
sílabas do grupo tonal. Em sua forma neutra, geralmente a ocorrência da sílaba tônica
se dá no final do enunciado, no último item lexical do enunciado.
Halliday (1970) reconhece cinco tipos de tons primários e dois tons combinados, que
são feitos da combinação destes cinco. Eles são referidos por números. Os tons
primários são: tom 1, tom 2, tom 3, tom 4, e tom 5. Os tons combinados são tom 1-3
e tom 5-3 e devem ser lidos tom um três e tom cinco três, respectivamente e não treze
e cinqüenta e três, pois são uma combinação destes tons. Os tons primários são
diferenciados um dos outros pelo movimento melódico do segmento tônico. É
particularmente a sílaba tônica proeminente que determina se o grupo tonal é tom 1,
tom 2, tom 3, tom 4, ou tom 5. Abaixo os tons citados pelo autor:
Tons primários:
Tom 1: descida
Tom 2: subida alta, ou descida seguida de subida
Tom 3: subida baixa
Tom 4: descida seguida de subida (arredonda)
Tom 5: subida seguida de descida (arredonda)
Tons Combinados:
Tom 1-3: descida + subida baixa
Tom 5-3: subida seguida de descida (arredonda) + subida alta
Segundo Halliday (1970), a escolha do tom, ou seja de um determinado contorno
melódico, relaciona-se com as noções de modo (tipo de orações: declarativas e
interrogativas, por exemplo), modalidade (possibilidade, probabilidade, relevância),
31
atitudes (polidez, indiferença, surpresa), a todos os fatores que constituirão a relação
entre falante e ouvinte. E a escolha do local, ou seja, onde fazer o maior movimento
melódico, realizando a proeminência tônica, divide a mensagem em diferentes partes,
constituindo as unidades de informação.
Para Halliday (1970, p.3) “one clause is one tone group unless there is good reason
for it to be otherwise.”O autor considera que, em geral, os limites dos grupos tonais
coincidem com a oração, esclarecendo que um grupo tonal é caracterizado pela
variação da sílaba tônica, não definindo claramente seus limites.
Crystal (1969) considera que as unidades tonais são limitadas em ambos os lados por
pausas breves. Consideramos neste estudo, como parâmetro para delimitação das
unidades tonais a ocorrência de pausas e variações melódicas capazes de determinar
a sílaba tônica proeminente definindo o grupo tonal, uma vez que cada grupo tonal
deve conter apenas uma sílaba tônica proeminente com importante movimento
melódico.
1.2.5 Principais Correlatos acústicos da Prosódia
1.2.5.1 Freqüência Fundamental
A freqüência fundamental (F0) corresponde ao primeiro harmônico que compõe
uma onda sonora. Freqüência é o termo usado para descrever a vibração das
moléculas de ar causada pelo objeto vibrante, neste caso as pregas vocais, que são
colocadas em movimento pelo fluxo egressivo de ar; é medida em ciclos por segundo
32
ou Hertz (COUPER-KUHLEN, 1986) que corresponde a velocidade na qual uma
forma de onda se repete por unidade de tempo. A freqüência fundamental é para os
ouvintes o correlato acústico responsável pela percepção da melodia (KENT&
READ, 1992; COUPER-KUHLEN, 1986 ).
A freqüência fundamental das pregas vocais é determinada por uma complexa
interação entre comprimento, massa, tensão (COLTON E CASPER, 1996), ou seja, à
medida que o comprimento das pregas vocais aumenta a freqüência aumenta, à
medida que aumenta a massa, a freqüência vocal diminui, a tensão é um parâmetro
de difícil mensuração na prega vocal humana viva, de acordo com Colton e Casper
(1996), a tensão torna-se mais importante na determinação da freqüência
fundamental em determinadas áreas da extensão fonatória total de um indivíduo. É,
portanto, a combinação desses três fatores que determinam a freqüências
fundamental da vibração da prega vocal. Lehiste (1970), considera que além da
massa, comprimento e tensão das pregas vocais, a pressão subglótica e a lubrificação
das pregas vocais também participam na determinação da F0.
Diversos autores, dentre eles Cruttenden (1986), Moraes (1993) e Pierrehumbert
(1987), citam a F0 como a característica prosódica mais importante da entonação,
sendo este parâmetro, acreditamos a ser o mais explorado neste trabalho.
Um aspecto importante a ser considerado na curva de F0 são os chamados efeitos
micromelódicos, para os quais ‘t Hart et al.(1990) chamam à atenção. Estes efeitos
micromelódicos se caracterizam por flutuações involuntárias de F0, que estão
relacionados ao conteúdo segmental da mensagem e devem, portanto, serem
33
desconsiderados no processo de análise. Segundo o autor e seus colaboradores, são as
flutuações de F0 programadas e voluntariamente executadas pelo falante que
contribuem para a percepção da melodia da fala. São exatamente com estes valores
que procuramos realizar este trabalho.
Com as medidas de F0 podemos também estudar a F0 usual, medida também dada
em HZ, que é obtida a partir da média aritmética da F0 das vogais átonas pretônicas,
excluindo-se as vogais inicial e final. Com esta medida procuramos encontrar a
média da F0 usual utilizada no comando militar.
1.2.5.2 Tessitura
A tessitura é também outra medida extraída de F0. De acordo com Matheus et alii,
(1990, p.193) apud Cagliari & Massini-Cagliari (2001), a tessitura pode ser definida
como “a escala melódica do falante, i.e, os limites em que se situam os seus valores
mais alto e os mais baixo de F0, quando fala normalmente”. A tessitura se caracteriza
pela extensão da F0 atingida pelo falante por meio de ajustes laríngeos, é medida
pela diferença do valor mais alto da F0 pelo valor mais baixo, utilizado numa
situação normal.
Abercrombie (1967) define a tessitura como sendo flutuações contínuas que ocorrem
em torno de um ponto central durante circunstâncias normais de fala.
Mediante ajustes da laringe, um falante pode abaixar ou aumentar consideravelmente
a sua freqüência fundamental, relativamente ao intervalo das freqüências mais altas e
34
mais baixas que costuma utilizar na sua fala normal, com objetivos expressivos
(como a expressão de fúria, raiva, desespero, etc.).
Behlau e Pontes (1995), em um estudo feito em 90 sujeitos da cidade de São Paulo,
determinaram que de acordo com os valores médios de F0 encontrados para homens,
a F0 pode variar de 80 a 150 HZ, para mulheres, esta variação pode ocorrer entre
150 e 250 HZ e, para crianças, acima de 250 HZ. De acordo com estes autores, e
também para Pinho (1998), a tessitura vocal é o número de notas utilizadas com
qualidade vocal agradável para o ouvinte e sem gerar fadiga para o falante,
correspondendo aproximadamente a um terço da extensão fonatória máxima, é um
recurso prosódico bastante utilizado pelos falantes.
Cagliari & Massini-Cagliari (2001) concluíram que tessitura e entonação atuam
diferente e independentemente, uma vez que um mesmo contorno entoacional pode
ser realizado em uma tessitura alta ou baixa, de acordo com as intenções do falante,
mostrando a importância do estudo da tessitura.
Consideraremos neste estudo, a tessitura como a diferença entre a maior e a menor
F0 produzida em um determinado enunciado em questão, uma vez que nossos dados
tratam-se de comandos, possuindo todo um estilo próprio de emissão, onde não
podemos considerá-lo como uma fala normal.
35
1.2.5.3 Duração
O termo duração corresponde ao tempo de produção de um segmento ou uma sílaba
(CRYSTAL, 1969). A sílaba acentuada parece ser sempre a mais longa da palavra, o
que faz com que a duração seja um correlato acústico para o acento em português.
Pickett (1999) afirma que a duração envolve a coordenação dos movimentos dos
órgãos fonoarticulatórios (lábios, língua, etc), com a ausência ou presença de
fonação, sendo que tal coordenação sofre influência de uma série de variáveis tais
como número de sílabas em uma palavra, a localização do acento, a ênfase, dentre
outros. A duração da sílaba, como também considera Clark & Yallop (1995), é
influenciada por muitos fatores contextuais, que incluem: velocidade de articulação,
a colocação da proeminência ou acento, a posição da sílaba na palavra ou outra
unidade maior e a estrutura destas próprias unidades maiores.
A unidade de medida da duração é dada em segundos (s) ou milissegundos (ms). Este
parâmetro prosódico pode estar relacionado ao tempo total de emissão de um
enunciado, ao tempo de realização das pausas, ao tempo gasto para produção de uma
sílaba, ou até mesmo de um único segmento, como seria o caso de uma vogal, por
exemplo.
Lehiste (1970) faz uma colocação importante sobre a dificuldade de se fazer uma
análise da duração, o autor considera que a dificuldade não está em medir, mas sim
em como determinar com exatidão em que ponto se deve realizar a medida. Como
36
citamos anteriormente, vários são os fatores fonéticos condicionantes que podem
afetar a duração do som da fala.
Reis (1995) pôde constatar que no português brasileiro, bem como em outras línguas,
a sílaba acentuada tem, em média o dobro da duração da sílaba não acentuada, tendo
a vogal um papel essencial no alongamento da sílaba acentuada. Abaixo o valor da
duração das vogais em posição acentuada encontrado por Reis (1995):
FIGURA 2: Duração média das vogais das sílabas acentuadas
1.2.5.4 Intensidade
O sistema fonatório é capaz de produzir uma extensa variedade de intensidades
vocais. O controle da intensidade se dá pela combinação da atividade muscular,
fluxo de ar e pressões. A unidade de medida da intensidade é o decibel (dB) e seu
correlato perceptivo é chamado de força.
37
A resistência é o fator importante no controle da intensidade, sons mais intensos
resultam quando a pressão de ar subglótica é suficiente para superar a resistência
glótica (COLTON E CASPER, 1996). ISSIHIKI (1964,1965), apud COLTON E
CASPER (1996) coloca que a resistência glótica é um importante mecanismo de
controle de intensidades vocais para freqüências fundamentais baixas, logo, podemos
considerar como um mecanismo bastante importante na execução do comando
militar, pois se trata de um estilo de fala dado geralmente em freqüências mais
baixas, produzidas na parte mais inferior da extensão fonatória do indivíduo e em
alta intensidade excedendo 70dB.
Laver (1994) define intensidade como sendo proporcional à amplitude de oscilação
das moléculas de ar de uma onda sonora que passam através da atmosfera. O mesmo
autor cita fatores que influenciam na intensidade de fala de um indivíduo, como
aspecto sociolingüístico determinado pela comunidade em que o falante está
inserido. Dentro deste contexto sociolingüístico, a intensidade de fala do indivíduo
irá variar de acordo (a) fatores de relevância lingüística relativamente direta, como o
lugar de conversação; (b) com fatores paralingüísticos, como tom de voz usado; e (c)
com fatores extralingüísticos, como a distância dos participantes e os lugares físicos
e sociais nos quais a conversação está acontecendo.
O comando militar exige alta intensidade, sendo uma marca própria deste estilo de
fala, sendo que os fatores paralingüísticos contribuem com este caráter, pois os
lugares físicos e a distância dos participantes fazem necessário um alto nível de
intensidade na fala do comandante para se fazer audível.
38
1.2.5.5 Ritmo
Cagliari (1981) considera a articulação de sílabas como responsável pela formação
básica do ritmo da fala. Nem toda sílaba necessita de ser preenchida de som, podendo
ocorrer silenciosamente na fala. Tais sílabas silenciosas são indispensáveis para que
o ritmo da fala não se desorganize nos momentos de hesitação, de pausa e mesmo
para permitir que um enunciado possa começar corretamente e acabar de maneira
suave, afirma ainda o mesmo autor.
O ritmo é um tipo de simetria, uma harmonia resultante de certas
combinações e proporções regulares. A idéia de ritmo está
intrinsecamente ligada à idéia de tempo e duração. O ritmo se manifesta
através do movimento de um fenômeno que se desdobra no tempo,
pondo em relevo repetidamente algum aspecto desse mesmo fenômeno.
Repetição e expectativa são duas propriedades essenciais no processo de
percepção do ritmo.(CAGLIARI, 1981)
Quando dizemos que há ritmo em algo, ou que alguma coisa é rítmica, pressupomos
a coexistência, ao longo do tempo, de repetição ou regularidade com estrutura ou
padrão (BARBOSA, 2006)
1.2.5.6 Organização Temporal
No estudo da organização temporal, procura-se identificar parâmetros que organizam
um enunciado no tempo. Para isso são medidas as pausas, a velocidade de fala, a
velocidade de articulação e o número de sílabas. O comando militar apresenta um
estilo de elocução e pretendemos com este estudo determinar os parâmetros
prosódicos capazes defini-lo.
39
Dois conceitos se fazem importantes na realização deste estudo; um deles é o
conceito de duração, que já foi comentado anteriormente, e o conceito de sílaba,
sendo uma unidade importante para obtenção das demais medidas de velocidade de
fala e de articulação, bem como taxa de articulação e taxa de elocução.
1.2.5.6.1 Sílaba
A definição de sílaba é bastante controversa entre diversos autores. São diversas as
teorias, tanto fonéticas quanto fonológicas, que tentam definir sílaba. O diagrama
abaixo faz uma pequena classificação desta unidade reconhecida como a unidade
lingüística essencial dentro da organização da fala e da língua.
(REIS, 2005)
2
Cada contração dos músculos respiratórios, juntamente com o resultante jato de ar,
constitui a base da sílaba é o que considera Abercrombie (1969). A teoria de
2
Diagrama extraído da apostila oferecida durante a disciplina Seminário de Tópico Variável em
Fonética: Prosódia e expressão de atitudes.
40
pulsação para produção da sílaba é proposta por Stetson (1951), que diz que cada
sílaba corresponde a um aumento de pressão do ar, saindo o ar dos pulmões como
uma série de pulsações torácicas. A sílaba é formada por um pico de sonoridade é o
que considera Sweet (1902).
Uma boa definição teórica de sílaba é dada por Grammont (1933), que vem
complementar a teoria de Saussure (1915). Para Saussure (1915) quando se passa de
um som fechador para um som abridor, [> <], obtém-se uma marca de fronteira
silábica e quando se passa de um fone abridor a um som fechador [< >], obtém se um
efeito vocálico. Grammont (1965) analisa a sílaba como fonológica e fonética. A
sílaba fonológica é uma seqüência de abertura crescente seguida de uma seqüência de
abertura decrescente; já a sílaba fonética é a realização física desta propriedade
fonológica de abertura intrínseca aos fonemas, por uma tensão fisiológica dos órgãos,
crescente na parte ascendente da sílaba e, depois, decrescente na sua porção
descendente.
Este conceito é importante para a compreensão e realização da silabação, que é a
divisão das palavras e frases em sílaba, necessária para o cálculo da velocidade de
fala e de articulação. Neste trabalho utilizamos os dois enfoques, a visão fonética e a
fonológica para fazer a divisão silábica, tendo em vista que a separação e a contagem
do número de sílabas é muitas vezes uma tarefa difícil. Como em um fragmento
retirado deste trabalho “marche”, onde a última sílaba quase não é pronunciada, foi
considerada em alguns momentos como duas sílabas devido a presença da fricativa,
que tem a propriedade de ressoar com ela a vogal.
41
1.2.5.6.2 Velocidade de Fala
No estudo da velocidade de fala (GROSJEAN & DESCHAMPS, 1972, VALENTE,
2003, REIS, 2005) foram considerados: tempo de elocução, que é o tempo de
emissão do início ao fim da elocução; o tempo de articulação, que é o tempo de
elocução extraído do tempo relativo às pausas; a taxa de articulação, que é calculada
dividindo-se o tempo total de elocução, do qual se subtrai o tempo das pausas
silenciosas, pelo número de sílabas; e a taxa de elocução, que é obtida dividindo-se o
tempo total de elocução pelo número de sílabas.
A velocidade de fala pode ser observada intuitivamente pelo ouvinte que dirá se esta
está rápida, lenta ou apropriada para aquela determinada situação. Esse aspecto
prosódico pode ser mensurado para se obter um padrão de normalidade (VALENTE,
2003). É expressa por alguns autores como sílaba por segundo (FANT et al., 1987;
GUAÏTELLA et al. 1995); ou minuto (BEHLAU & PONTES, 1995;
YACOVENCO, 2000; GROSJEAN & DESCHAMPS , 1972).
É usada como estratégia prosódica: acelerar a fala em um diálogo pode sinalizar ao
ouvinte que o falante não quer ser interrompido; Diminuir a fala pode sinalizar que o
falante está quase por terminar o que está dizendo (CAGLIARI, 2002).
Variações de velocidade de fala podem estar condicionadas por fatores como:
envolvimento com o falante; envolvimento com o tema; grau de formalidade;
atenção dispensada à fala. (PASSOS, et al, 1979). Behlau & Pontes (1995) afirmam
que a velocidade de fala relaciona-se aos diferentes ajustes motores necessários à sua
42
articulação. Assim, a velocidade de fala aumentada pode corresponder à ansiedade,
tensão ou vontade de omitir dados do discurso. Por outro lado, a velocidade de fala
lentificada pode representar falta de organização de idéias ou lentidão de
pensamentos e atos.
A média de velocidade do inglês falado, incluindo as pausas, está em torno de 180
palavras por minuto, sendo a leitura um pouco mais rápida, com média entre 200 e
400 palavras por minuto. Xu (2004), em seu estudo sobre o Mandarim, considerou a
média de velocidade de fala de uma falante normal entre 5 a 7 sílabas por segundo, o
que o levou a concluir que a duração média das sílabas está entre 143 a 200ms.
Em uma pesquisa realizada por Fant et al. (1987) foi encontrado, na leitura de
sentença realizada por 14 informantes, o valor médio de 5 sílabas por segundo. O
estudo de Gauïtella et al. (1995) que compararam a fala espontânea (realizada a partir
do diálogo de duas pessoas) e a leitura, encontraram um valor maior para a fala
espontânea de 6,17 e 6,07 sílabas por segundo para cada informante e, para a leitura,
de 5,56 e 5,39 sílabas por segundo. Estes estudos consideraram a taxa de elocução,
ou seja, o número de sílabas dividido pelo tempo total do enunciado incluindo as
pausas.
Nos estudos de Grosjean & Deschamps (1972), foram encontrados valores de 4,4 e
6,0 sílabas por segundo para a taxa de articulação na fala espontânea de franceses.
Celeste (2004) encontrou, na leitura e no relato de crianças brasileiras, médias de 4,8
sílabas por segundo e 5,2 sílabas por segundo respectivamente para taxa de
articulação. Em 2003, Valente estudou a leitura de adultos brasileiros e encontrou,
43
com relação à taxa de articulação, média de 6,42 sílabas por segundo e para o relato
uma média de 5,38 sílabas por segundo.
1.2.5.7 Pausa
A pausa é um recurso supra-segmental de grande importância na organização do
discurso. Ela tem um papel essencial em conversações espontâneas desempenhando
várias funções. Está relacionada tanto a fatores lingüísticos: sintáticos, lexicais,
gramaticais e de organização do discurso, assim como há fatores extralingüísticos,
como o conhecimento entre falantes, a idade dos interlocutores, a complexidade ou
dificuldade do tema, a espontaneidade do discurso, e até a aspectos psicofisiológicos,
como a necessidade de parar para respirar (ALVES, 2002).
Grosjean & Deschamps (1972, 1973) caracterizam a pausa como um dos aspectos
temporais da fala. Em estudo em que analisaram variáveis temporais do francês
falado espontâneo, o termo pausa foi relacionado às pausas não sonoras que se
dividem em pausas de respiração, estilísticas e de hesitação. No presente estudo foi
considerada esta forma de classificação, sendo que a marcação de pausas no
comando militar poderia ser considerada estilística, uma vez que é usada nos
momentos em que o pelotão, batalhão ou companhia deverão se movimentar de
acordo com a ordem dada pelo comandante.
Segundo Klinghardt (1920), a entonação, com as pausas, tem como função tornar o
significado claro, podendo-se então falar em grupo de sentido entonativos. Da
44
mesma forma Armstrong e Ward (1926) afirmam que a fala é constituída de grupos
de sentido cada um dos quais constitui um grupo entonativo.
3
No estudo realizado por Chacon & Schulz (2000), as pausas foram divididas em três
subgrupos de acordo com a duração, sendo as breves com duração de 0,20 a 0,79
segundos, as médias entre 080 a 1,39 segundos e as longas de 1,40 a 1,99.
1.3 Atitude
1.3.1 Atitude x Emoção
Os termos atitude e emoção são muitas vezes usados como sinônimos em muitos
trabalhos científicos desenvolvidos sobre a prosódia na fala. Apesar disso,
pretendemos distinguir atitude de emoção, seguindo pesquisadores do Laboratório de
Fonética da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, que por
sua vez se baseiam em Fònagy, Sherer e Wichman.
De acordo com Fònagy (1993), atitude como um comportamento controlado e
determinado conscientemente em oposição à emoção que foge um pouco ao controle
do locutor. Searle (1995), com sua teoria da intencionalidade, avança na distinção
que Fónagy faz entre atitude e emoção, pois distingue estados mentais intencionais
como crença, temor, esperança e desejo, que se caracterizam pela direcionalidade, de
estados mentais não intencionais, como o nervosismo, a exaltação e ansiedade (apud
REIS, 2001 p.227). Em sua distinção entre atitude e emoção, Aubergé (2002) assume
atitude como função direta pela qual o locutor informa seu ponto de vista ao
3
Extraído da apostila do Prof. César Reis na disciplina Prosódia e expressão de atitudes
45
interlocutor e a expressão emocional como uma função indireta das emoções por um
controle involuntário do locutor.
Sherer (1987) considera emoção como estados não controlados pelo indivíduo, que
se manifestam de forma complexa, com a finalidade de adaptação ao meio e
considera que a atitude é expressa quando um estímulo evoca preferência estética
(como na admiração, por exemplo) que não afete outro sistema senão o de
monitoramento.
Bolinger (1985) afirma não existir nenhum enunciado que seja plenamente
desprovido de algum tipo de emoção, o autor demonstra a dificuldade de se distinguir
emoção de atitude, podendo em determinados momentos ocorrer a sobreposição de
ambas.
Para Halliday (1970), atitudes e emoções são consideradas partes integrantes do
significado, e não há como separar o significado de uma da outra. O autor considera
que há sempre várias possibilidades de entonação que carregam consigo diferentes
significados que são determinados pela escolha do falante.
Sendo essa discussão ainda um tanto complexa, podemos assumir que os conceitos
propostos num geral não diferem muito na distinção sobre atitude e emoção. Muitas
vezes os conceitos que encontramos são muito amplos, o que faz desta fronteira
atitude/emoção um pouco obscura. Uma definição que achamos conveniente e
esclarecedora, a qual temos usado atualmente, é a assumida por Couper-Kuhlen
(1986), sendo a emoção um comportamento não monitorado, externalização do
estado emocional determinada só fisiologicamente, presumida ser universal sobre as
46
comunidades lingüísticas; enquanto a expressão de atitude é monitorada
cognitivamente, convencionalizada e comunicada com um propósito
1.3.2 Definição de Atitude
Através da diferenciação apresentada no tópico anterior, já temos um certo
conhecimento do que seja considerado atitude. Ainda, resumidamente, podemos
ressaltar atitude como estado da mente, esses estados temporário do falante
(CRYSTAL,1969), crenças e sentimentos sobre objetos (AJZEN & FISHBEIN, apud
WICHMAN, 2002). De maneira geral, a atitude é um comportamento determinado,
consciente, controlado, tendo um componente moral e intelectual.
Eckardt (1993) fala sobre ‘atitude proposicional’ que designa qualquer estado mental
que apresente um componente atitude, por parte de um sujeito, face a uma dada
proposição. A atitude proposicional constitui o domínio da Ciência Cognitiva e
dentro desta teoria, Eckardt (1993) estabelece uma relação íntima entre representação
mental e atitude proposicional com base psicológica, identificando e até mesmo
definindo uma expressão pela outra. Para Searle (1983), ‘representação mental’
refere-se a qualquer fenômeno mental com conteúdo proposicional e um modo
psicológico, definindo atitudes proposicionais da mesma maneira. Assim, todas as
representações mentais são atitudes proposicionais. As representações mentais
podem ser usadas de vários modos sem perder a identidade. Já a atitude
proposicional se o uso muda, a atitude proposicional também muda. Em geral a
Ciência Cognitiva tenta dar conta da intencionalidade da atitude proposicional
envolvida em nossa capacidade cognitiva pela representação mental, sendo
47
representação mental considerada como entidade ou estado com propriedade
semântica.
Para explicarmos melhor a colocação anterior, utilizamos o exemplo dado pela
autora; ela considera que o estado mental pode ser analisado dentro de um
componente atitude (tal como percepção, lembrança, entendimento, compreensão) e
um conteúdo componente. Podemos ter desta maneira, um mesmo componente
atitude diferindo em conteúdo, como Eckardt (1993 p.65) utilizou como exemplo, ‘
eu posso perceber ambos que o céu está azul e perceber que as bromélias têm
florido’, e um mesmo conteúdo diferindo em componente atitude ‘ posso perceber e
lembrar que há leite no refrigerador’.
As atitudes são aprendidas e implícitas, de acordo com a ciência social, é o que
assume a maioria das autoridades sobre o assunto segundo Osgood (1957). São
predisposições para reagir, e têm ‘tendências de aproximação ou de evitação’, de
‘favoráveis’ ou ‘não favoráveis’, etc. O autor explica que esta noção está relacionada
a uma outra: a noção de um “Continuum Bipolar Básico”, onde as atitudes podem ser
designadas, partindo-se de um ponto de referência neutro ou zero, o que implica que
têm direção e intensidade, proporcionando uma base quantitativa às atitudes numa
escala de 07 pontos. Abaixo a representação sintetizada do “Continuum Bipolar
Básico”
48
Aproximação - X1 X2 X3 X4 X5 X6 X7 - Evitação
3 2 1 0 1 2 3
Neste esquema, X4 corresponde ao ponto de referência neutro (zero), em direção a
uma das duas propriedades antagônicas ( aproximação/evitação), no espaço
semântico. Assim, na direção da categoria de aproximação, temos X1, X2 e X3 que
determinam o grau de intensidade da predisposição da resposta., enquanto X5, X6 e
X7 atribuem o grau de intensidade na direção antagônica. Atitude é, desse modo,
para alguns autores, a parte principal da atividade interna mediadora que atua entre a
maior parte de configurações de estímulo e resposta.
Podemos observar que a dificuldade de definição do termo atitude é encontrada
também em outras áreas como a ciência cognitiva, a psicologia social e como não
podia deixar de ser diferente na lingüística.
1.3.3 A Entonação na expressão de atitude – autoridade
Autoridade é um gênero ou uma simples fonte de poder. É a base de qualquer tipo de
organização hierarquizada, sobretudo no sistema político. É uma espécie de poder
continuativo no tempo, estabilizado, podendo ser caracterizado como
institucionalizado, ou não, em que os subordinados prestam uma obediência
incondicional ao individuo ou à instituição detentora da autoridade. Ou seja, a
autoridade transmite a mensagem de ordem sem dar razões ou algum argumento de
Es
a
o Semântico
49
justificação e os indivíduos subordinados a esta autoridade aceitam e obedecem sem
questionar. As relações de autoridade podem ser vistas no poder dos pais sobre os
filhos na família, do mestre sobre os alunos na escola, o poder de um chefe de igreja
sobre os fiéis, o poder de um empresário sobre seus funcionários, o poder de um
chefe militar sobre seus soldados, entre outros.
4
Bloch (2002) considera a voz que tende para o grave como racional e a voz que tende
para o agudo como emocional. Para Gussenhoven (2002) e Wichmann (2002) a
melodia mais grave está associada a indivíduos dominantes, detentores de poder,
enquanto, a melodia mais aguda relaciona-se ao submissivo.
A Expressão de autoridade requer muitas vezes uma emissão enérgica. A
fonoaudióloga Maria Aparecida Coelho, professora de Fonoaudiologia na Faculdade
de Medicina de Santos (SP), em entrevista ao Médico Dr. Dráuzio Varella, faz uma
comparação entre vozes ansiosas e vozes autoritárias; onde como característica mais
marcante das pessoas ansiosas são a velocidade de fala muito rápida, ausência
praticamente total de pausa durante a fala e certa incoordenção
pneumofonoarticulatória, nas pessoas ansiosas a inspiração do ar é abrupta e intensa.
Já as pessoas autoritárias e dominadoras, em geral, produzem vozes mais graves e
mais colocadas. Falam sem abrir muito a boca, mas com articulação firme e pouca
expressão facial para tornar menos provável a intervenção do interlocutor. Pessoas
mais tímidas, submissas ou introvertidas falam baixo e o timbre é mais agudo,
acrescenta a fonoaudióloga.
5
4
http://pt.wikipedia.org/wiki/Autoridade
5
http://drauziovarella.ig.com.br/entrevistas/voz4.aspt
50
Para clarificar o assunto podemos explicar, assim como fez Couper-Kuhlen (1986), o
que acontece num ato comunicativo: um falante codifica sua mensagem
proposiocional/ilocucinária, em sua forma fonológica que, de acordo com uma teoria,
passa através de um componente de ‘distorção’ de significado afetivo antes de ser
transmitido para o ouvinte. Conseqüentemente o ouvinte docodifica a mensagem
com ambos os componentes proposicional/ilocucionário e expressivo, fazendo depois
os seguintes julgamentos: a) o que foi percebido do conteúdo porposicional e
ilocucionário do enunciado do falante; b) o que foi percebido do estado interno ou
sentimento do falante; c) como o falante é percebido realizando o enunciado; d) o
efeito que o enunciado do falante e/ou seu comportamento tem sobre o ouvinte. A
autora esclarece que os julgamentos b e c ajudam o ouvinte na distinção entre atitude
e emoção, senda a emoção freqüentemente não aprendida, reação espontânea de um
dada situação, enquanto atitude são mais aptas de serem aprendidas, padrões
convencionalizados de comportamento.
Nossa proposta neste estudo é identificar como a expressão de autoridade se
manifesta no ato de comando militar. Analisando como os parâmetros prosódicos se
manifestam neste ato de fala.
1.4 A Teoria dos Atos de Fala e o ato de fala comando
Nossos enunciados são ações verbais e constituem atos de fala, que são no final das
contas a categoria básica da comunicação lingüística (COUPER-KUHLEN, 1986
p.158). A teoria dos atos de fala, da qual utilizaremos alguns conceitos foi
51
introduzida na filosofia da linguagem pelos filósofos Austin (1962) e Searle (1981)
que admitem que, ao se comunicar algo lingüisticamente, esta comunicação não
constitui apenas uma transmissão de informações, mas uma maneira do falante
influenciar o ouvinte, fazendo que o ouvinte tome uma atitude diante do que lhe é
apresentado. Assim, falante e ouvinte participam de um ato de fala.
Existe uma forma mais neutra e outra forma marcada dos enunciados serem emitidos.
Dentro da forma marcada, existe uma escala de força e é aí que encontramos
expressas as atitudes do falante. Esta força está inserida nos atos de fala, tanto nos
atos de fala ilocucionais como nos perlocucionais. Um ato ilocucional pode ser
compreendido como o que fazemos pelo próprio ato de falar, são, portanto,
proferimentos que têm uma certa força convencional; por outro lado, os
perlocucionais caracterizam-se pelo efeito que alguma coisa dita pelo locutor pode
causar em seu alocutário, são atos que produzimos porque dizemos algo, tais como
convencer, persuadir, impedir, ou mesmo surpreender ou confundir.
Os atos requerem condições especiais para realização. Além da especificação do
ponto e do modo, uma força ilocucional (FI) requer algumas premissas que são
extraídas das seguintes condições gerais, que são explicadas focando o ato de fala
comando:
- Condições de conteúdo proposicional: conjunto de restrições que deve ser
imposta à forma lingüística da proposição, neste caso verbo no
presente/imperativo.
52
- Condições preparatórias: fornecem premissas sobre Locutor (L) e Alocutário
(A), assim L deve ser hierarquicamente superior a A.
- Condições de sinceridade: Compatibilidade que o L reflete entre o
proferimento de um ato e o seu estado mental, num comando podemos
impor, por exemplo, um estado mental de poder.
São cinco os pontos: assertivo, expressivo, comissivo, diretivo e declarativo.Um
ponto é determinado pela possibilidade de racionalização das ações mediadas pela
linguagem, é desta maneira definido pela razão de dois fatores: (a) uma forma
possível de interação entre locutor e alocutário; e (b) a especificação de qual dos
interlocutores executará uma ação sobre o mundo. O ponto diretivo, que caracteriza o
modo comando, tem a função de demarcar um espaço de atuação do alocutário e tem
como critério a posição hierárquica dos interlocutores. O ponto diretivo pode ser
realizado em modo como o comando, ordem, pedido, solicitação e súplica
O modo é definido em três dimensões: teórica, o modo é uma forma de realização do
ponto; pragmática: o modo é uma atitude do locutor diante de um conteúdo
proposicional e interacional, o modo serve para demarcar a relação
locutor/alocutário.
Os enunciados têm quatro possibilidades de direção de ajuste e estas quatro direções
correspondem naturalmente a cinco pontos ilocucionais. Abaixo as quatro direções
de ajustamento:
53
1 – Direção de ajuste palavra-mundo: quando o ato ilocucional é satisfeito, o
seu conteúdo proposicional se ajusta a um estado de coisas existentes. Seu
objetivo é representar como as coisas são no mundo. Trata-se de atos de fala
com ponto assertivo, como predições, testemunhos,conjecturas, etc.
2 – Direção de ajuste mundo-palavra: quando o ato ilocucional é satisfeito, o
mundo é transformado para se ajustar ao conteúdo proposicional. Atos de fala
com ponto comissivo ou diretivo, como por exemplo promessas, votos,
pedidos, comando. No ponto comissivo o falante é responsável pela satisfação
da direção de ajuste mundo-palavra e no ponto diretivo o ouvinte é o
responsável por este ajuste.
3 – A dupla direção de ajuste: trata-se dos atos de fala com o ponto
declarativo, tais como, designação, nomeação, endosso e nominação. Seu
objetivo é fazer com que o mundo se ajuste ao conteúdo proposicional,
dizendo que o conteúdo proposicional se ajusta ao mundo.
4 – Direção de ajuste nula ou vazia: são os atos de fala com ponto expressivo,
não existe o problema do sucesso ou falha de ajuste como é o caso das
apologias, agradecimentos, congratulações e condolências. O seu objetivo é
apenas expressar uma atitude proposicional do falante sobre o estado de
coisas representado pelo conteúdo proposicional.
6
Nos atos de comando, encontramos um ponto diretivo, cuja função é demarcar um
espaço de atuação do alocutário e que tem como critério a posição hierárquica entre
os interlocutores (MARI, 2005). Assim, como afirma Searle (1981), ordenar e
comandar têm a regra preparatória adicional que consiste em F (falante) tem que
6
Extraída da apostila oferecida pelo Prof. Hugo Mari na Disciplina Atos de Fala e Prosódia
54
estar numa posição de autoridade sobre O (ouvinte). Portanto, podemos definir o
comando como um ponto diretivo de modo comando, onde é interessante
distinguirmos esta gradação de outros modos, como ordem e comando, que também
se encontram no ponto diretivo. Encontramos que o comando se dá numa situação
específica, onde o subalterno não pode se recusar a realização do ato expressado pelo
superior, conforme acontece na Instituição Militar, enquanto a ordem oferece este
espaço, mesmo que sendo uma desobediência à alguém que seja hierarquicamente
superior, ela se dá num contexto mais amplo com pai x filho, chefe x empregado,
sendo possível que não se realize a ordem enunciada. Mari (2005) considerou não
haver muita clareza entre os estágios dessa gradação, como pedido x súplica; ordem
x comando e comenta que estes atos na maioria das vezes se definem no campo da
enunciação através de modulações prosódicas.
Rizzo (1981) em seu estudo sobre a entonação do português brasileiro na descrição
de atos de fala , descreveu alguns atos ilocucionais, dentre eles a ordem. A autora
considera o verbo na forma imperativa, sendo característico nestes enunciados, tom 1
meio-alto/médio/meio-baixo de Halliday (1970), mudanças de velocidade de fala e
qualidade de voz também caracterizam o ato de fala ordem. Ressalta ainda, que os
enunciados podem não apresentar determinadas marcas e ainda assim serem
considerados como ordem. Considera que a não possibilidade de uma resposta é
típico da ordem, diferenciando este ato de fala do pedido, que dá margem a uma não
aceitação e admite que na ordem pode haver uma recusa e que neste caso significa
um desobediência. Infelizmente a autora não cita o ato de fala comando.
55
1.5 O Comando Militar e a Disciplina “Ordem Unida”
Os alunos no Centro de Formação Acadêmica da Polícia Militar estudam uma
matéria denominada “Ordem Unida”, onde aprendem como emitir o comando de
acordo com as normas da Academia, “é uma atividade de instrução militar ligada,
indissoluvelmente, à prática da chefia e à criação de reflexos da disciplina”,
conforme traz o Manual de Ordem Unida, que tem por finalidade estabelecer normas
que padronizem a execução dos exercícios de Ordem Unida. A matéria consta de
módulos teóricos e práticos. Nas aulas práticas, os alunos emitem os comandos
aprendidos nos módulos teóricos, sob a supervisão do Instrutor, simulando uma
situação de comando para formação do pelotão no pátio. No cumprimento da matéria
os alunos realizam provas. Utilizaremos os dados da prova prática, que constitui uma
situação de simulação de comando, para análise em nossa pesquisa, pois os alunos
estão sendo avaliados e necessitam mostrar um bom desempenho para aprovação.
Acreditamos que nesta situação podemos obter os dados, ou seja, os comandos que
nos interessam, por se tratar de uma avaliação e ser mais viável metodologicamente,
pois em outras situações de treinamento ou desfile, por exemplo, o ruído é muito
grande dificultando nossa análise posterior.
Para entendermos um pouco mais sobre a prática do comando militar e a disciplina
que se destina ao ensino deste ato tão comum nas Unidades Militares, abaixo citamos
a definição de Ordem Unida conforme traz o Manual de Campanha do Ministério do
Exército / Estado Maior do Exército:
“A Ordem Unida caracteriza uma disposição individual e consciente,
altamente motivada para a obtenção de determinados padrões coletivos
de uniformidade, de sincronização e de garbo militar; deve ser
56
considerada por todos os participantes – instrutor e instruendos,
comandante e executantes – como um significativo e veemente esforço
para demonstrar a própria disciplina militar, isto é, a situação de ordem e
obediência que se estabelece voluntariamente entre militares, como
decorrência da convicção de cada um da necessidade de eficiência na
guerra.”(p.1)
A disciplina preza o espírito de unidade militar, é, portanto, a disciplina militar, a
obediência pronta, inteligente, espontânea e entusiástica às ordens do superior. O
objetivo da Ordem Unida não é somente para apresentação ao público, mas de
constituir uma escola de disciplina e coesão. A Ordem Unida é a forma mais
elementar de iniciação do militar na prática da chefia.
Na expressão do comando, o comandante pode usar diferentes meios como: voz,
gesto, corneta (clarim) e apito, sendo a voz o meio de comando mais empregado na
Ordem Unida.
Podemos encontrar no Manual de Campanha: Ordem Unida o conceito de vozes de
comando – “são a maneira mais padronizada, pela qual o comandante de uma fração
exprime verbalmente a sua vontade”.
As vozes de comando constam de:
a) Voz de advertência – que caracteriza um alerta à tropa para um comando que
será enunciado. Exemplos: “PRIMEIRO PELOTÃO!” ou “ESCOLA!” ou
“ESQUADRÃO!”.
Não há necessidade de se repetir a voz de advertência antes de cada comando.
57
b) Comando Propriamente dito – seu objetivo é indicar o movimento a ser
realizado pelos executantes. Exemplos: “DIREITA!”, “ORDINÁRIO!”,
“PELA ESQUERDA!”, “ACELERADO!”, “CINCO PASSOS EM
FRENTE!”
Às vezes o comando propriamente dito impõe a realização de certos
movimentos, é então necessário que estes comandos sejam dados de maneira
enérgica, definindo com o exatidão o momento do movimento preparatório,
dando aos homens tempo suficiente para realizarem este movimento, ficando
em condições de receberem a voz de execução.
Em princípio, este comando deve ser longo. O comandante deve esforçar-se
por pronunciar correta e integralmente todas as palavras que compõem o
comando, sem prejudicar sua energia.
c) Voz de execução. A voz de execução é dada no momento exato em que o
movimento deve começar ou cessar e recebe algumas instruções sobre como
emiti-la: por exemplo, quando for constituída de uma palavra oxítona, é
aconselhável um certo alongamento na emissão da(s) sílaba(s) inicial(ais),
seguida de uma emissão da sílaba final: “PER – FI – LAR!” , “VOL – VER!” ,
“CO – BRIR
!” , DES – CAN – SAR!”. Portanto, quando a tônica cair na
penúltima sílaba, é imprescindível destacar esta tonicidade com precisão,
assim a última sílaba praticamente não se pronuncia: “MAR
– CHE!”, “AL
TO!”, EM FREN – TE!”, OR – DI – – RIO!”, “AR – MA!”, “PAS – SO!”
As vozes de comando devem ser claras, enérgicas e de intensidade
proporcional ao efetivo dos executantes.
58
Estes conceitos são importantes para compreendermos os nossos dados de pesquisa.
De acordo com o que foi colocado acima, estas diferentes vozes de comando
caracterizam um objetivo diferente na emissão do comandante, sendo um comando
completo composto por estes três tipos de vozes.
59
Capítulo 2
Metodologia
60
2.1 Coleta dos dados
Como o objetivo é o estudo da prosódia em situação ordinária, ou bem próximos do
uso cotidiano da língua, optamos por realizar a coleta de dados durante a prova
prática, a qual os alunos em formação na Instituição Militar são submetidos. Na
realização desta prova, o aluno marcha pelo pátio como se estivesse um batalhão,
companhia ou pelotão sob seu comando, havendo necessidade da precisão do seu
comando, pois seu desempenho está sendo avaliado pelo instrutor. Podemos
enumerar alguns fatores que demonstraram ser esta situação, um bom caminho para
nossa pesquisa:
1- Os alunos precisavam se empenhar na atividade, pois estavam sendo
avaliados, e tal tarefa era importante para seu satisfatório desempenho
acadêmico;
2- Apesar da gravação ter sido realizada no pátio, ou seja em local aberto, não
havia, como no desfile, alto nível de ruído que pudesse comprometer
significativamente os dados coletados.
3- Por se tratar de uma situação informal, pudemos utilizar facilmente o material
necessário para gravação, como a pochete contendo o gravador e o microfone
de cabeça, sem causar ou necessitar de grandes transtornos, devido a
formalidade com que são realizadas as atividades no meio militar, como são
os desfiles cotidianos;
4- Dada a quantidade de alunos e a necessidade de se realizar a avaliação, foi
possível a coleta de um número significativo de comandos de diferentes
cabos em formação para que fosse possível realizar uma análise.
61
Na rotina do Batalhão Militar acontecem desfiles pela manhã e à tarde, onde a
Bandeira é hasteada pela manhã e arriada à tarde. Talvez pudéssemos colher os dados
nesta ocasião, porém, nestes momentos de desfile, as Bandas de Música executam
marchas e dobrados durante a cerimônia, o que prejudicaria a qualidade dos nossos
dados. Sendo assim, buscamos outra situação onde fosse possível gravar os
comandos num menor nível de ruído.
Para a coleta dos dados, utilizamos um gravador DAT (Digital Áudio Tape), da
marca Sony, modelo TCO-D8, e um microfone de cabeça. Para que os cabos em
avaliação pudessem ser gravados no momento do comando, utilizamos uma pochete,
onde foi colocado o gravador, e a acomodamos na cintura do aluno, de modo a não
prejudicá-lo na execução da tarefa. Conectamos ao gravador o microfone de cabeça e
o posicionamos no aluno numa distância padrão de aproximadamente 07 cm. Para
gravação, a graduação do volume foi mantida no nível 04 do gravador, dada a forte
intensidade com que os comandos eram emitidos, sendo que para dados gravados em
cabina acústica, utiliza-se geralmente esta graduação volume dez de gravação.
Assim, os alunos foram gravados a todo o momento durante a execução do comando.
O Centro de Formação Acadêmica da Polícia Militar se mostrou disponível para
colaborar com este estudo. Assim, as gravações foram realizadas na Unidade da
Polícia Militar de Belo Horizonte, localizado no Bairro Prado. Para maiores
esclarecimentos sobre o trabalho, foi realizada uma palestra às autoridades da
Instituição, que se demonstraram bastante interessadas e receptivas.
62
2.2 Informantes
Os informantes desta pesquisa constituem-se de alunos que estavam em graduação
no Centro de Formação Acadêmica da Polícia Militar de Minas Gerais, e se
encontravam no 3º e 2º Período de sua formação, onde participavam da disciplina
“Ordem Unida”, em seu módulo prático. Gravamos um total de 16 informantes,
sendo 08 de cada período. Desta maneira, foram formados dois grupos distintos: um
grupo para o comando de companhia, e outro para o comando de batalhão, do qual
trataremos mais detalhadamente no próximo item deste capítulo. O primeiro grupo é
composto por 02 mulheres e 06 homens; o segundo, por 01 mulher e 07 homens.
Para ingressar na polícia militar, os interessados devem satisfazer algumas
exigências, como especificado no artigo 5º da Lei nº 5.301, de 16 outubro de 1969,
alterado pela Lei Complementar nº 50, de 13 de janeiro de 1998, tais como: ser
brasileiro, estar quite com o serviço militar, ter idade compreendida entre 18 e 30
anos, ter idoneidade moral e político-social, ter sanidade física e mental, possuir 2º
grau completo e ser aprovado nos exames de escolaridade; ter altura mínima de 1,60
metro, ser solteiro, exceto se especialista ou artífice. Estas especificações fazem dos
participantes da pesquisa um grupo homogêneo, sendo que as demais características
não possuem relevância para o estudo, exceto a variável sexo que, devido ao pequeno
número de informantes mulheres, optamos por não estabelecer uma comparação
entre os sexos, fazendo apenas considerações e sugestões sobre esta variável.
Os informantes desta pesquisa foram recrutados por meio de um convite, e a cada um
deles foram dadas as explicações básicas sobre o estudo, sendo que as autoridades da
63
Instituição Militar já estavam plenamente cientes e de acordo com o
desenvolvimento do trabalho. Solicitamos ainda o preenchimento do termo de
consentimento livre e esclarecido a cada um dos participantes, conforme requerido
pelo comitê de ética.
2.3 Corpus
Como foi exposto anteriormente, nas gravações obtivemos dois grupos distintos. As
gravações foram feitas em dois dias diferentes e de duas turmas também diferentes.
A uma turma, o instrutor solicitou aos cabos que realizassem o comando de
companhia, e à outra, o comando de batalhão. Sendo assim, cada informante foi
gravado emitindo o comando solicitado a sua turma, ou seja, informantes de turmas
diferentes emitiram comandos diferentes.
Abaixo uma amostra do comando de companhia que foi proferido por 06 informantes
do sexo masculino e 02 do sexo feminino:
Comando 1
Terceira Companhia, ao meu comando...
Comando 2
Terceira companhia, para desfilar, coluna de pelotões por três, por infiltração
à direita, ordinário, marche...
Comando 3
64
Terceira companhia sentido, em continência a direita...
Este comando divide-se em três partes, pois os cabos na realização da prova de
“Ordem Unida”, devem seguir todas as regras do ritual do desfile militar, realizando
assim, ações neste intervalo entre as três partes do comando, estes intervalos não
foram considerados na análise deste trabalho por serem muito grandes. Na execução
do comando, o informante “1 fem” emitiu o comando de maneira diferenciada
trocando “terceira companhia” por “segunda companhia” e o informante “1 masc”
também fez a mesma troca na terceira parte do comando, o que não interferiu nos
resultados.
Já o comando de batalhão apresentou-se da seguinte maneira:
Comando 1
Batalhão de desfile, ao meu comando, Batalhão, sentido! Em linha de
companhias, colunas de pelotão por três, cobrir! Batalhão, firme ombro-
armas...
Comando 2
O Batalhão desfilará, sob os acordes do dobrado Apolo Onze. Batalhão, para
desfilar, coluna de pelotões por três, por infiltração à direita, ordinário...
Comando 3
Marche
65
Os dados do comando de batalhão não se apresentaram tão uniformes como o
comando de companhia, pois, na execução do comando, especificamente na segunda
parte, os cabos encontravam se livres para a escolha do dobrado (música de marcha
militar) a ser tocado, que se apresentou da seguinte maneira: três informantes citaram
o Apolo Onze; o dobrado Cento e Oitenta e Dois foi citado por outros dois
informantes e os demais citados foram: Cisne Branco, Batista de Melo e Aviação
Embarcada. Assim, para que os dados ficassem uniformes, estes trechos foram
editados e excluídos da análise. Foram gravados 07 homens e apenas 01 mulher,
emitindo o comando de batalhão.
2.4 Estudo Piloto
Realizamos inicialmente um estudo piloto com dados de uma situação simulada, que
ocorreu seis meses antes da situação de avaliação. Neste estudo, os informantes
foram escolhidos aleatoriamente pelo instrutor, e, após a prova prática realizada no
pátio, foram gravados individualmente numa sala fechada, com baixo nível de ruído.
Antes da gravação, solicitamos aos cabos que emitissem o comando, conforme
fizeram na prova, que havia sido realizada há poucos minutos no pátio. O gravador e
o microfone foram os mesmos utilizados na gravação da prova prática de “Ordem
Unida”, neste caso, não foi necessário o uso da pochete. O gravador ficou sobre a
mesa e o cabo ficou em pé ao lado da mesma para simular o comando.
O número de informantes do estudo piloto foram 02 do sexo feminino e 08 do sexo
masculino, num total de 10 informantes. O comando dado nesta situação foi o
comando de pelotão que podemos ver abaixo:
66
Segundo Pelotão, ao meu comando, Pelotão para desfilar, por infiltração, à direita,
ordinário, marche, pelotão, sentido, olhar a direita.
Devido a situação de gravação, este comando não foi dividido em partes menores
como foi feito nos comandos gravados no pátio, pois não havia intervalos grandes
como nos anteriores, em que os cabos respondiam ao comando realizando alguma
ação.
Com este estudo piloto, pudemos realizar alguns estudos que vieram a nos orientar
para o andamento deste trabalho. Juntamente com outros pesquisadores do
Laboratório de Fonética realizamos, sobretudo, um trabalho sobre a organização
temporal no comando militar, que nos foi muito útil na realização deste presente
trabalho.
Realizamos posteriormente, a coleta dos dados na prova prática de “Ordem Unida”,
já descrita neste capítulo. Obtivemos, assim, dois dados distintos: um, da situação
simulada do comando, em que os informantes emitiram o comando de pelotão, e
outro, da situação de avaliação do comando, em que os comandos emitidos foram de
batalhão e companhia. Em posse destes dois materiais para análise, pudemos levantar
uma questão metodológica sobre o objeto de análise prosódica, que discutiremos no
próximo item.
67
2.5 Situação Simulada x Situação de Avaliação
Ao vermos os dados da situação simulada e da situação de avaliação, pudemos
numa observação superficial identificar diferenças em relação à curva de F0 e à
curva de intensidade. A comparação destas duas situações nos forneceu material para
uma importante discussão metodológica, que se refere à obtenção de dados para o
estudo prosódico. Para darmos andamento a esta discussão, chamaremos a gravação
do estudo piloto de situação simulada ou simulação, e a gravação da prova de Ordem
Unida de situação de avaliação.
É muito comum vermos estudos prosódicos realizados com dados obtidos de uma
situação simulada. Queremos, pois, com este trabalho em particular, examinar as
peculiaridades de cada situação, comparando a situação de avaliação e a simulada,
buscando confirmar a hipótese de que os dados para análise prosódica devem ser
obtidos em situações ordinárias de fala.
A gravação das duas situações (simulada e de avaliação) foram feitas em períodos
diferentes, ou seja, em semestres diferentes, portanto, constam de informantes
também diferentes, bem como os dois comandos da situação de avaliação, comando
de pelotão e comando de batalhão, que correspondem a turmas diferentes.
2.5 Análise acústica
Para que se procedesse a análise, os dados que se encontravam na fita foram
convertidos em arquivos tipo .wav e editados no programa de Praat versão, 4.2.18. O
68
Praat é um programa para análise acústica e síntese de fala, desenvolvido por Paul
Boersma e David Weenink no Departament of Phonetcs of the University of
Amsterdam. É um programa de fácil acesso concedido gratuitamente por meio de
download no site www.praat.org .
'Praat' is a computer program with which phoneticians can analyze,
synthesize, and manipulate speech, and create high- quality pictures for
articles and theses. It has functions for speech analysis, speech synthesis,
learning algorithms, labeling and segmentation, speech manipulation,
listening experiments, and more.
7
Com a ajuda deste programa, podemos examinar em cada comando o espectrograma,
o oscilograma, a curva de freqüência fundamental (F0) e a curva de intensidade.
Dadas as condições de gravação dos dados, neste caso in loco, há o problema do
ruído ambiental (pessoas transitando e conversando, tosses, pássaros cantando, vento,
carros passando, barulho do tambor, etc), aliado ao fato de o comando militar ser
gritado, resultou numa qualidade dos dados não muito boa. A figura abaixo serve
para demonstrar os sinais de fala com os quais trabalhamos nesta pesquisa.
7
Definição extraída de http://directory.fsf.org/Praat.html
69
FIGURA 3: Oscilograma (acima), espectrograma, curva de F0 e curva de intensidade (sobre o
espectrograma) e a transcrição ortográfica do texto, exemplificando as condições de análise dos
dados
Mesmo com algumas dificuldades e limitações para a realização da análise dos
dados, assumimos os desafios deste trabalho, pois num estudo preliminar pudemos
discutir e concluir aspectos que se mostraram satisfatórios para contribuição de uma
maior compreensão do fenômeno prosódico, especificamente no comando militar.
Em vista da qualidade ruim do sinal, fizemos contato com o Prof. Plínio A. Barbosa,
Professor Associado do Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da
Linguagem/Unicamp. Enviamos a ele uma pequena amostra dos nossos dados, e
questionamos sobre a possibilidade de análise desse sinal. A resposta obtida foi a
seguinte:
“É possível com o Praat fazer a
análise da curva de F0, ficam poucos erros se o gama tonal é bem
escolhida. Quanto à intensidade, também é possível, o nível de ruído
ainda permite. No entanto, a avaliação dos formantes seria bem
complicada, visto que o valor de F0 é muito alto e o reconhecimento de
70
algumas vogais é difícil nesses casos para verificar a veracidade do
cálculo dos formantes.”
8
Ainda realizamos contato com o Prof. Paul Boersma, Professor de Ciências Fonética
do Institute of Phonetic Sciences, University of Amsterdam, que juntamente com o
Prof. David Weenink, desenvolveu o programa Praat. Apresentamos a ele duas
dúvidas, uma com relação ao pitch settings. Para esclarecermos, o pitch settings
define a freqüência mínima e a máxima para análise de F0. Desse modo, ‘por que
quando mudávamos o valor do pitch settings os valores obtidos na curva de F0 eram
diferentes?’ – esta foi a primeira pergunta que enviamos juntamente com uma
amostra dos nossos dados.. Enviamos ao Prof. Paul Boersma a informação em
formato .wav, para que ele próprio revisse a análise. Vejamos a ilustração de nossa
dúvida e a resposta obtida:
FIGURA 4: Amostra enviada ao Prof. Paul Boersma, nesta figura valores do Pitch settings, são 100 e
500, o valor obtido na curva de F0 no final do enunciado é 267,55 Hz
8
Resposta do Prof. Plínio Barbosa ao e-mail questionando a viabilidade de análise dos nossos dados.
71
FIGURA 5: Nesta figura a informação avaliada é a mesma da figura anterior. Porém, podemos
observar alteração no final da curva de F0, nesta análise os valores do pitch settings foram
alterados de 100 e 500 para 150 e 500 e o valor obtido no final da curva foi de 155,47 Hz
A resposta obtida do Prof. Boesrma para esta questão foi a seguinte:
‘the two settings give almost the same pitch values. For instance, at 0,65
seconds the pitch value is 225 Hz if the minimum pitch is 100 Hz, and
228 Hz if the minimum pitch is 150 Hz. The small difference comes
from the different sizes of the analysis window.
The big difference between the two measurements is that the piece
between 0,65 and 0,68 is measured as voiced if minimum pitch is 150
Hz, but as voiceless if minimum pitch is 100. This happens as a result of
the steep fall. The minimum pitch of 100 Hz comes with an analysis
window that is too large to “follow” the very fast fall. To obtain the most
voicing, you ser the minimum pitch to 100 Hz and do “ Optimize for
voice analysis” in the Pitch Settings window. You will see that the
sounds is now measured as voiced all the way up to 0,70 seconds.’
A segunda dúvida diz respeito à análise considerando a qualidade do sinal, isto é, se
seriam confiáveis os parâmetros da curva de intensidade e de F0. Boersma afirmou
que a curva de intensidade é sempre confiável, quanto à curva de F0 ele orientou
fornecer o melhor ajuste através dos valores do pitch settings e com esta medida
obter curvas confiáveis. E se não confiarmos nas medidas de F0, Boersma orientou
sempre dar um zoom para ver os períodos.
72
Considerando os esclarecimentos dos dois especialistas, analisamos nossos dados
procurando trabalhar com os valores do pitch settings onde a curva se apresentasse
mais confiável. Para isto, fizemos como fomos orientados por ambos, fomos
ajustando os valores da gama tonal, buscando obter curvas confiáveis, ou seja,
aquelas que apresentam menores erros de leitura do programa e condizem com a
percepção auditiva. E para precisarmos os valores, utilizamos quando necessário o
zoom para identificar os períodos.
Como uma garantia a mais sobre a compatibilidade de análise acústica, utilizamos
ainda o programa WinPitchPro, de Philipe Martin, versão 1.0, 1996-2006, que foi
obtido pela Internet no endereço www.winpitch.com, primeiro em versão
experimental. Posteriormente, em contato com o próprio Philipe Martin, foi-nos
concedida uma senha para livre utilização do programa. Assim, utilizamos o Praat e
o WinPitchPro para melhor identificarmos os valores que se apresentassem
duvidosos. Abaixo a ilustração da tela do WinPitchPro:
73
FIGURA 6: Tela do programa WinPitch, utilizada neste trabalho para análise de F0.
Para darmos andamento à análise dividimos o comando em grupos tonais. Esta
divisão foi feita considerando-se as grandes variações prosódicas e a pausa. Esta
divisão foi bastante homogênea entre os informantes, diferenciando-se apenas em
trechos específicos como podemos ver na figura abaixo:
74
FIGURA 7: Presença da pausa demarcando duas unidades entonativas. Informante 2 masc. comando
de companhia.
FIGURA 8: O mesmo trecho apresentado na figura anterior, agora sem ocorrência da pausa, sendo
considerado apenas um grupo tonal. Informante 3 masc. comando de companhia.
A princípio, nossa proposta de análise seria extrair os valores de duração e freqüência
fundamental das vogais de cada sílaba dos enunciados, sendo que os valores das
consoantes seriam desconsiderados, pois as vogais são as principais responsáveis
pela percepção melódica, transmitindo na fala as informações entonativas mais
75
importantes, de acordo com o que afirmou Hochgreb (1983, p. 33) “[...] a experiência
mostra que só as alturas vocálicas são importantes para a percepção da entonação”.
Devido a algumas dificuldades quanto à segmentação do enunciado, em razão da
qualidade do sinal acústico, optamos por fazer esta análise apenas nas sílabas tônicas
dos enunciados, onde procuramos descrever o movimento melódico destas sílabas.
Vejamos no próximo item como realizamos a análise dos dados desta pesquisa.
2.4.1 Parâmetros analisados
2.4.1.1 Freqüência Fundamental
Trata-se do aspecto prosódico mais importante na análise entonativa do enunciado. A
unidade de medida utilizada foi Hz. Foram extraídos os seguintes valores:
- F0 mínima: dado pelo menor valor encontrado na curva de F0.
- F0 máxima: dada pelo maior valor encontrado na curva de F0.
- F0 usual: medida extraída da média aritmética de todas as pretônicas, exceto
as iniciais e finais.
Com as medidas de F0 mínima e máxima, obtivemos o valor da tessitura de cada
informante. Valor obtido pela subtração da F0 máxima da F0 mínima. Estes valores
foram obtidos para cada informante, através da média aritmética dos grupos tonais,
ou seja, a cada grupo tonal extraímos um valor máximo e um mínimo de F0,
somamos todos estes valores e dividimos pelo número de grupos tonais encontrados.
76
Para os dados gravados na prova prática de “Ordem Unida”, colhemos a amostra da
fala espontânea de cada informante. Com estes dados pudemos fazer uma análise da
tessitura, comparando a extensão de F0 usada na fala habitual e a usada no comando.
Para a coleta destes dados de fala espontânea, solicitamos ao informante que falasse
o próprio nome, a idade, o tempo de academia militar, a cidade em que nasceu, etc.
A maior dificuldade na análise de F0 foi na extração do valor de F0 mínima (F0
min), que foi o que deu origem à nossa dúvida apresentada anteriormente. Foi
justamente nesta análise que utilizamos os dois programas e sempre que necessário
utilizávamos a ferramenta zoom para reconhecermos os períodos e obter os valores
de F0 min da maneira mais confiável possível, conforme nos orientou Plínio
Barbosa e Paul Boersma.
Considerando ainda a curva de F0, procuramos identificar a localização do pico da
curva de F0, na tônica proeminente de cada grupo tonal. Para fazermos esta análise,
traçamos uma linha imaginária no meio da vogal da sílaba saliente, o que nos
permitiu localizar o pico da curva de F0 com relação ao início, meio e fim da vogal.
Desta maneira, identificamos o pico como inicial, medial ou final. Abaixo figuras
com exemplo da curva de F0 em posição inicial, medial e final:
77
FIGURA 9: Curva com pico inicial na vogal tônica proeminente
FIGURA 10: Curva com pico medial na vogal tônica proeminente
78
FIGURA 11: Curva com pico final na vogal tônica proeminente
Procuramos extrair de nossos dados o máximo de valores referentes à freqüência
fundamental que fosse permitido confiabilidade dos resultados, e que nos
possibilitasse identificar características prosódicas do comando militar, por isto,
trabalhamos com os valores citados acima.
2.4.1.2 Organização Temporal
Para análise da organização temporal, extraímos dos nossos dados os valores dos
seguintes parâmetros:
- Número de sílabas: parâmetro necessário para se obter a velocidade de fala e
a velocidade de articulação;
- Tempo de cada pausa: refere-se a duração de cada pausa;
- Tempo de elocução: tempo total gasto na emissão do comando, a unidade de
medida utilizada é o segundo (s).
79
- Velocidade de fala: este parâmetro especifica a velocidade de produção da
fala, medida através da divisão do número de sílabas pelo tempo total de
emissão do enunciado, ou seja, tempo total de elocução. A unidade de medida
é síl/s (sílabas por segundo)
- Velocidade de articulação: é calculada dividindo-se o número de sílabas
emitidas pelo tempo de articulação, que é o tempo total de elocução
diminuído pelo tempo total de pausas, também expressa em sílabas por
segundo.
Estes parâmetros foram considerados pelos autores Grosjean & Deschamps (1972),
Valente (2003), Reis (2005).
No comando militar é comum ocorrer o enfraquecimento ou até mesmo o
apagamento da sílaba postônica, devido à importância dada à sílaba. Esse processo,
que é natural na língua portuguesa, é reforçado na formação a que se submete o
futuro comandante, uma vez que o comando apóia-se na sílaba forte. Portanto, a
divisão silábica foi feita com bastante cuidado, sendo algumas partes do enunciado
revistas mais de uma vez para determinar exatamente o número de sílabas, e que as
sílabas, mesmo enfraquecidas, pudessem ser consideradas. Para realizarmos esta
divisão silábica fonética com maior segurança, utilizamos todas as pistas oferecidas
pelo programa Praat, como o espectrograma, curva de F0, oscilograma e a curva de
intensidade.
80
Na palavra “marche”, por exemplo, a segunda sílaba é bastante enfraquecida, muitas
vezes ocorrendo apenas a fricativa, nestes casos, consideramos como duas sílabas,
admitindo que a vogal ressoa com a fricativa.
No comando de batalhão, a terceira parte do comando, que refere-se apenas ao
comando “marche”, foi excluída do processo de análise, pois há um intervalo muito
grande entre a segunda e a terceira parte do comando, considerando ainda que esta
terceira parte seria composta apenas de duas sílabas. Portanto, foram considerados,
para análise da organização temporal neste comando específico, apenas os comandos
um e dois, conforme foi feita a divisão. Ainda no comando de Batalhão há um trecho
onde os cadetes em formação encontram-se livres na escolha do nome do dobrado a
ser citado durante o comando; encontramos em nossos dados diferentes nomes
citados, conforme foi especificado no item corpus deste capítulo. Para que esta
passagem não prejudicasse nossa análise, editamos estes dados, excluindo este trecho
do comando de todos informantes, bem como a pausa posterior, assim, as
informações segmentais dos enunciados ficaram homogêneas a todos os informantes.
2.4.1.3 Pausas
Ainda com relação às pausas, que já foram citadas para a análise da organização
temporal, considerando cada comando separadamente, analisamos a localização e
medimos a duração das pausas. Assim, comparamos sua ocorrência e duração, dentre
os informantes de cada comando, com o objetivo de verificar se há um padrão da
ocorrência das pausas dentro do enunciado.
81
A marcação das pausas foi realizada com o auxílio do espectrograma e do
oscilograma, com o apoio da percepção auditiva. Foram medidas as pausas
silenciosas, que são momentos de silêncio marcados pela ausência de sinal acústico.
A unidade de tempo foi o segundo.
Apenas as pausas superiores a 250 ms são consideradas nos trabalhos de muitos
autores. Seguiremos neste trabalho a consideração de pausa silenciosa dada por Di
Cristo (apud Duez, 1991) como toda interrupção da cadeia sonora, independente do
valor de sua duração. Neste trabalho consideramos ainda o silêncio das oclusivas,
com uma duração aproximada de 100ms, valor que foi levado em conta na medida da
duração das pausas, quando os segmento inicial era uma oclusiva e todo o silêncio
restante foi considerado na medida da duração da pausa. Não é objetivo deste
trabalho classificar as pausas.
2.4.1.4 Duração
Conforme ocorreu com a F0, nossa idéia inicial era medir a duração de cada vogal do
enunciado, porém, conforme explicamos anteriormente, devido à qualidade do sinal
acústico, a tarefa de segmentação tornou-se inviável.
Não sendo possível medir com precisão a duração de cada vogal, fizemos apenas
uma consideração em nossa análise sobre este aspecto, pois pudemos observar em
nossos dados vogais com duração muito longa, mesmo fora da posição tônica, o que
consideramos um fato característico no comando militar, mas que neste estudo não
pudemos mensurar. A fala gritada, em alta intensidade dada no comando, acarreta na
82
deformação dos formantes, que somado a todos os outros fatores do processo de
gravação, nos prejudicaram na tarefa de segmentação dos dados. Para verificarmos
esta hipótese, realizamos gravação de indivíduos no Laboratório de Fonética da
UFMG, solicitando a estes indivíduos que emitissem um comando, obtendo assim,
uma amostra de fala gritada. Verificamos que, na verdade, no documento acústico de
fala gritada há um comprometimento do espectrograma, porém os demais parâmetros
como freqüência fundamental e F0, assim como os que foram analisados pelo Prof.
Plínio Barbosa, aparentemente não estão comprometidos.
Com a realização do textGrid, demarcamos apenas os trechos onde ocorre o
comando, localizando e limitando conseqüentemente as pausas. Para medir o tempo
total de elocução, selecionamos todo o enunciado. Abaixo a figura com as pausas
demarcadas e o cursor medindo o tempo total de elocução. Nesta tela os demais
parâmetros como curva de F0, curva de intensidade e espectrograma não são
apresentados devido ao tamanho da janela de análise.
83
FIGURA 12: Medida do tempo total de elocução dada na barra abaixo após a seleção do trecho que se
quer medir. Podemos observar as demarcações da pausa, representada pelo diacrítico /#/. Antes e após
a seleção temos ruídos externos e som do tambor.
A medida das pausas foi realizada da mesma maneira, selecionando o trecho que se
deseja obter a medida.
2.4.1.5 Intensidade
A análise da intensidade foi realizado no programa Praat, representa pela curva mais
clara e de configuração mais retilínea. Para obtermos o nível de intensidade em dB,
basta clicar com o cursor no local onde se deseja obter o valor e este é dado à direita
da tela.
Este parâmetro foi considerado especificamente para comparação dos dados da
situação de avaliação e situação simulada, uma vez, que na situação de avaliação o
84
valor da intensidade tende se manter praticamente no mesmo nível durante todo o
comando.
2.5 Análise Estatística
Para a análise estatística, foram utilizadas as estatísticas descritivas como média,
desvio padrão e coeficiente de variação. O coeficiente de variação (CV) foi utilizado
para verificar o grau de variação das medidas estudadas. Altos valores de CV
indicam altas variações e uma certa heterogeneidade. Podemos utilizar CV menor
que 0,5 como sendo uma medida consistente para dizermos que os dados seguem um
padrão, uma homogeneidade.
Para verificar a dispersão dos dados individuais e conseqüentemente procurar por
pontos anormais, foram utilizadas as cartas de controle. Estas cartas possuem limites
inferiores e superiores que indicam o campo tolerável de variação para cada ponto.
Estas cartas foram utilizadas para análise das medidas que se referem a organização
temporal. As medidas de organização temporal foram padronizadas por número de
pausas para serem inseridas no gráfico.
Para comparação entre fala espontânea e comando, foi utilizado o teste T. Este
mesmo teste foi utilizado para comparação entre os dados da situação simulada e os
dados da situação de avaliação. Para os testes, o nível de significância adotado foi de
0,05. O software estatístico utilizado foi o Minitab for Windows versão 14.
85
Capítulo 3
Análise e Discussão
86
3.1 – Introdução
Com base no estudo dos parâmetros prosódicos, este trabalho tem por objetivo
descrever o comando militar e suas peculiaridades. Neste sentido, a análise foi
realizada no intuito de se identificar padrões na emissão dos comandos. Por vezes,
pudemos comparar os comandos que caracterizam a situação de avaliação, que são os
comandos de companhia e os comandos de batalhão, com os comandos pelotão, que
foram gravados na situação simulada.
3.2 Duração
Como foi justificado na metodologia deste trabalho, o parâmetro de duração não
pôde ser medido. Queremos apenas ressaltar nesta análise a longa duração de
algumas sílabas que se apresentavam fora da posição tônica. Podemos citar em
especial os comandos: “Sentido”, “Ordinário”, onde as sílabas grifadas são emitidas
com duração mais longa que o normal. Considerando que a duração das vogais das
sílabas acentuadas encontrada por Reis (1995) varia de 88 a 163 ms, nos dois casos
citados os valores de duração encontrados para a vogal destas sílabas variaram
aproximadamente entre 250 a 500 ms. Isto foi comum a todos os informantes,
quando estes comandos se encontravam constituindo apenas um grupo tonal.
O comando “ordinário” foi comum a todos os tipos de comandos. A duração da
vogal da primeira sílaba foi medida com valores aproximados, pelas razões dadas
anteriormente, foram extraídas as médias das vogais pelo número de informantes e
pudemos comparar a duração da vogal da primeira sílaba dos comandos na situação
87
simulada (comando de companhia e comando de batalhão) e situação de avaliação
(comando de pelotão):
Duração da vogal
226
276
326
376
426
476
526
[o] de o
rdinário
Duração (ms)
Situação
Simulada
Situação de
Avaliação
FIGURA 13: Comparação da duração da vogal da primeira
sílaba da palavra 'ordinário', situação simulada x situação de
avaliação
Podemos observar que há uma pequena diferença entre os valores encontrados.
Porém, na análise estatística, encontramos p>0,05, o que significa que esta diferença
não é significativa estatisticamente. O que identificamos aqui, é um recurso
estilístico apresentado pelo comando militar e que foi comum as duas situações tanto
de avaliação quanto simulada.
Vimos que a duração da vogal /o/ em posição acentuada, observada por Reis (1995),
foi de 126 ms, em frases isoladas reproduzidas. Em nossa análise, a mesma vogal
apresentou uma duração média de 370 ms, para a situação simulada, e 337 ms, para
situação de avaliação. Estes dados nos mostram uma característica peculiar do
comando militar, em que podemos comparar os dados encontrados por Reis (1995)
com os valores encontrados nesta pesquisa, observando a grande diferença entre os
valores, ressaltando ainda, que a vogal analisada não se encontra em posição
acentuada, o que realça ainda mais este caráter próprio do comando.
88
3.3 Intensidade
Os valores da intensidade se mantêm na média dos 73 db, apresentando uma curva
quase sempre linear na sua representação nos dados da situação de avaliação,
conforme podemos observar na figura abaixo:
FIGURA 14: Curva de intensidade do trecho "ao meu comando"
do informante 6 masc. comando de companhia (situação de
avaliação)
Na situação simulada, a curva de intensidade se comporta de maneira bastante
diferente. Este resultado nos chamou atenção quanto as diferentes situações de coleta
dos dados. Vejamos abaixo um exemplo da curva de intensidade na emissão de um
trecho do comando de pelotão:
89
FIGURA 15: Curva de intensidade do trecho "ao meu
comando" informante 7 masc. comando de pelotão (situação
simulada)
Pudemos observar que os trechos demonstrados nas figuras são semelhantes e, no
entanto, a curva se apresenta muito diferente. Isto foi observado em todos nossos
dados. Acreditamos que provavelmente, na situação simulada, como os cabos se
encontravam em uma sala fechada, muitos ficavam constrangidos em gritar, não
mantendo o nível de intensidade como ocorre na situação de avaliação. Portanto, a
intensidade, considerada um dos parâmetros para análise prosódica, manifestou-se
extremamente diferente nas duas circunstâncias analisadas. Na situação simulada, os
valores da curva de intensidade oscilaram entre 59 e 79 dB, apresentando uma curva
irregular, diferentemente da situação de avaliação, onde a curva se manteve
praticamente linear para todos informantes, apresentando-se em torno de 73 dB.
90
3.4 Freqüência Fundamental
3.4.1 F0 usual
Os valores da F0 usual, extraída de todas as pretônicas excetuando-se as iniciais e
finais, foram muito semelhantes entre os informantes. Abaixo, podemos ver o gráfico
com a média da F0 usual de todos os informantes masculinos da situação de
avaliação. Excluímos desta análise os informantes femininos, pois os mesmos
possuem uma qualidade vocal mais aguda, e por não termos quantidade significativa
de informantes deste gênero para compararmos esta variável, optamos por não incluir
nesta análise.
Média F0 Situação de Avaliação
0
100
200
300
400
12345678910111213
Informantes
F0 (Hz)
F0 usual sexo
masculino
FIGURA 16: Média da F0 usual situação de avaliação
O valor mínimo da F0 usual encontrada neste grupo foi de 270 Hz, dado pelo
informante 2 masc, que emitiu o comando de batalhão; o valor máximo encontrado
foi de 347 Hz, dado pelo informante 7 masc, também do grupo comando de batalhão.
91
Procuramos comparar estes dados com a situação simulada, para verificarmos se
encontraríamos alguma diferença significativa neste parâmetro. Para isto, fizemos
também o gráfico com os informantes masculinos deste grupo.
Média F0 situação simulada
0
100
200
300
400
12345678
Informantes
F0 (Hz)
F0 usual sexo
masculino
FIGURA 17: Média da F0 usual situação simulada
Vimos que os valores encontrados na situação simulada não diferem dos valores
encontrados na situação de avaliação. Na situação simulada, o mínimo encontrado
para este grupo foi de 290 Hz e o máximo de 340 Hz. Acreditamos que a
metodologia de coleta não tenha interferido nestes resultados.
Para os dois informantes femininos do comando de pelotão (situação simulada) os
valores encontrados para F0 usual é 373 e 397 Hz, para os informantes deste mesmo
sexo do comando de companhia (situação de avaliação), 407 e 457 Hz e para o
comando de batalhão (situação de avaliação) em que temos apenas um informante do
sexo feminino, 401Hz. Esta variação se dá devido as diferenças anatômicas
encontradas no aparelho fonatório nos sexos opostos, referindo-se ao código de
freqüência citado por Gussenhoven (2002). Ladd (1996) afirma que não há valores
fixos de referência para F0, variando de locutor para locutor (sexo), de ocasião para
92
ocasião (triste, alegre), de uma parte do enunciado para outra (declinação).O que se
observa é que nesta ocasião de comando, respeitando a variável sexo, os valores de
F0 usual encontrados são semelhantes dentre os informantes. Em geral, ocorre no
comando militar considerável aumento no valor de F0, tanto para o sexo masculino,
quanto para o feminino, tendo em vista os valores médios de F0 encontrados por
BEHLAU & PONTES (1995) que são de 80 a 150 Hz para homens e de 150 a 250
Hz para mulheres.
3.4.2 Tessitura
A tessitura é dada pela diferença entre o valor máximo e o valor mínimo de F0. Nos
gráficos abaixo, podemos comparar a tessitura na fala espontânea com a tessitura no
comando, identificando a grande variação melódica que os informantes utilizam
neste ato de fala.
FIGURA 18: Tessitura na fala espontânea de informantes do comando
de companhia.
0
100
200
300
400
500
600
1fem 1masc 2fem 2masc 3fem 3masc 4masc 5masc
Fo (Hz)
93
FIGURA 19: Tessitura no comando de informantes do comando de
companhia (situação de avaliação)
FIGURA 20: Tessitura na fala espontânea de informantes do comando
de batalhão
0
100
200
300
400
500
600
1fem 1masc 2fem 2masc 3fem 3masc 4masc 5masc
F0 (Hz)
0
100
200
300
400
500
600
1fem 1masc 2masc 3masc 4masc 5masc 6masc 7masc
F0 (Hz)
94
FIGURA 21: Tessitura no comando de informantes do comando de
batalhão (situação de avaliação)
É claramente visível a extensão vocal explorada na emissão do comando em
comparação a fala espontânea. Podemos observar, por exemplo, como esta extensão
se apresenta larga no comando e estreita na fala espontânea. Vimos que há ainda uma
mudança de registro para as duas amostras de fala de cada informante. Comparando
os gráficos fala espontânea x comando, observa-se uma mudança de nível, pois, na
fala espontânea, a maioria dos informantes não atingem 200Hz no ponto mais alto da
tessitura, ao passo que no comando, o ponto mais baixo da tessitura encontra-se em
torno de 200Hz também, ou seja, o ponto mais alto da tessitura na fala espontânea
corresponde aproximadamente ao ponto mais baixo do comando. Ladd (1996)
considera muitas vezes difícil distinguir a modificação no nível global (registro) da
modificação na tessitura, sem saber se a melodia subiu ou a melodia expandiu. Em
nossos dados isto é claramente visível, há uma modificação no nível, que
corresponde ao aumento do registro e também em sua expansão, que por sua vez
corresponde a faixa de tessitura. Em média a tessitura aumenta 96%, para os
0
100
200
300
400
500
600
1fem 1masc 2masc 3masc 4masc 5masc 6masc 7masc
F0(Hz)
95
informantes do comando de companhia, e 94,5%, para o comando de batalhão.
Podemos ver também os resultados mais altos de F0, que correspondem a variação
realizada pelos informantes femininos, que correspondem a linha 1 e 2 do gráfico,
representando o comando de companhia e a linha 1 no gráfico comando de batalhão.
0
100
200
300
400
500
600
1fem 2fem 1masc 2masc 3masc 4masc 5masc 6masc 7masc 8masc
F0 (Hz)
FIGURA 22: Tessitura no comando de pelotão (situação simulada)
Ainda comparando as duas situações, excetuando os informantes 2 masc. e 8 masc.
do gráfico, que tiveram pouca variação, os demais apresentaram uma variação
semelhante aos do grupo da situação de avaliação. Não podemos afirmar, mas talvez
isto seja decorrente da metodologia de coleta de dados que distingue os dois grupos.
3.4.3
Localização do pico da curva de F0 na tônica proeminente
Identificamos dentro de cada grupo tonal a tônica proeminente, que se apresentou
com uma maior duração e maior variação melódica no comando militar. Após
identificá-la, analisamos a localização do pico da curva de F0 em cada informante.
96
Analisamos separadamente cada comando e seus respectivos grupos tonais. Abaixo
podemos ver o quadro proveniente desta análise. As células em branco fazem
referência aos comandos que não foram ditos ou que foram fundidos ao outro
comando abaixo.
QUADRO 1: Localização do pico da curva de F0 na vogal tônica proeminente comando de batalhão
Para o comando de batalhão, vimos nos trechos em itálico que há uma
preponderância na localização do pico, preferencialmente ao pico medial, exceto para
o comando “marche”, que apresentou pico inicial para todos os informantes. Nos
demais trechos, isto não ocorre, os informantes apresentaram uma maior variação
Localização do Pico da Curva de F0 na tônica proeminente
Comando 1 fem 1 masc 2 masc 3 masc 4 masc 5masc 6 masc 7 masc
Batalhão
medial
de desfile
inicial nivelado nivelado nivelado nivelado inicial medial medial
ao meu comando
medial medial medial medial medial medial medial medial
Batalhão
inicial medial medial medial medial medial medial medial
sentido
final medial medial medial medial medial medial final
em linha de companhias
medial medial medial medial medial medial medial incial
Colunas de pelotão
medial medial
por três
medial medial medial medial medial medial medial medial
cobri
final final medial medial medial final medial medial
Batalhão
medial medial medial medial medial medial medial medial
firme
medial inicial medial medial medial medial medial medial
ombro
inicial medial inicial medial medial medial medial
armas
inicial medial medial inicial medial medial
O batalhão desfilará
medial medial medial medial medial medial medial
sob os acordes do dobrado
inicial inicial medial inicial medial medial medial
batalhão
medial medial inicial medial inicial medial medial medial
para desfilar
medial medial medial medial medial medial medial medial
Colunas de pelotão
final
por três
medial medial inicial medial inicial inicial medial medial
por infiltração
medial final medial medial inicial inicial medial final
à direita
medial medial final medial medial medial medial medial
Ordinário
final medial medial final medial medial medial incial
Marche
inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial incial
97
quanto a localização do pico na vogal tônica, sem maior ocorrência seja para o pico
inicial, medial ou final. De um modo geral, podemos somar 116 ocorrências para o
pico medial, 26 ocorrências para o pico inicial e 11 para o pico final, observando o
predomínio do pico medial neste comando.
Localização do Pico da Curva de F0 na tônica proeminente
Comando 1 fem 1 masc 2 fem 2 masc 3 masc 4 masc 5 masc 6 masc
Terceira companhia
inicial
nivelad
o medial inicial inicial medial inicial medial
ao meu comando
inicial inicial inicial medial inicial medial inicial medial
Terceira companhia
medial medial inicial medial inicial final inicial medial
para desfilar
medial inicial inicial final
nivelad
o medial medial medial
colunas de pelotões por três
medial inicial inicial medial medial inicial medial
por infiltração
medial inicial medial medial inicial final
à direita
medial final inicial final medial medial medial medial
ordinário
medial final inicial final inicial inicial medial medial
marche
inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial
terceira companhia sentido
medial medial inicial medial medial final medial inicial
em continência a direita
medial inicial medial inicial inicial final inicial inicial
QUADRO 2: Localização do pico da curva de F0 na vogal tônica proeminente comando de companhia
No comando de companhia, não houve como no comando de batalhão uma maior
ocorrência de um determinado pico: os picos inicial e medial tiveram um número de
ocorrência aproximado, de 38 e 36 respectivamente. Um dado interessante, é que
para um trecho comum ao comando de batalhão e comando de companhia como “ao
meu comando”, no primeiro grupo se apresentou como medial para todos os
informantes, e para o segundo, houve preponderância do pico inicial para este mesmo
trecho. Para “marche”, também todos os informantes apresentaram pico inicial como
ocorreu no comando de batalhão. Nos trechos em itálico, em que identificamos maior
ocorrência de um dos picos, aqui no comando de companhia há predomínio do pico
inicial, sendo que no comando de batalhão os informantes se mostraram mais
98
homogêneos na ocorrência do pico medial. No comando “em continência à direita”,
tivemos deslocamento da tônica para a última sílaba.
Localização do Pico da Curva de F0 na tônica proeminente
Comando 1 fem 2 fem 1 masc 2 masc 3 masc 4 masc 5 masc 6 masc 7 masc 8 masc
Segundo Pelotão
medial
nivelad
o medial final medial medial medial medial medial
ao meu comando
medial inicial medial medial medial inicial medial medial medial medial
pelotão
medial inicial medial medial medial final medial inicial medial medial
para desfilar
medial inicial medial medial medial inicial medial medial medial medial
por infiltração
medial medial medial medial final medial final medial
á direita
medial medial medial medial medial final medial medial final final
Ordinário
final medial inicial medial final final medial medial medial inicial
marche
inicial inicial inicial medial inicial inicial inicial inicial inicial inicial
pelotão
inicial inicial medial medial medial final medial inicial medial
sentido
medial medial medial medial medial final medial medial medial medial
olhar à direita
inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial medial inicial
pelotão
inicial inicial medial medial inicial inicial medial medial medial medial
olhar em frente inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial inicial
QUADRO 3: Localização do pico da curva de F0 na vogal tônica proeminente comando de pelotão
No comando de pelotão, a localização do pico da curva de F0 na vogal tônica, é
semelhante entre a maioria dos informantes, conforme vemos nos dados em itálico.
Para os trechos “olhar a direita”, “olhar em frente” e “marche” há maior ocorrência
do pico inicial e, os demais em itálico, há maior ocorrência do pico medial. Nos
demais trechos há maior variação entre os informantes. De uma maneira geral, há 61
ocorrências para o pico medial, 43 para pico inicial e 12 para final.
No comando de pelotão, nos comandos ‘olhar à direita’ e ‘olhar em frente’, e
também no comando de companhia ‘em continência à direita’ houve destaque na
última sílaba do enunciado, que apresentou a configuração do pico comum a todos os
cabos, sendo ele em posição inicial em todas as ocorrências.
99
Vimos que, para o comando “marche”, excetuando o informante 2 masc. do comando
de pelotão que teve o pico na posição medial, todos os demais apresentaram pico na
posição inicial neste comando.
Verificamos que no comando de batalhão é mais comum entre os informantes o pico
na posição medial; no comando de companhia, o pico inicial e medial tem ocorrência
aproximada; já o comando de pelotão há uma pequena diferença entre a ocorrência
do pico medial e o pico inicial.
Esta localização do pico da curva de F0 faz referência ao movimento melódico
ascendente ou descendente. Se o pico está no início, o movimento é descendente, se
o pico está no meio é ascendente-descendente, quando no final o movimento é
ascendente. O pico inicial ocorre com mais freqüência nos comandos denominados
voz de execução, que exige uma ação imediata, já o pico medial, que é o mais
recorrente no comando, ocorre nos comandos de advertência e propriamente dito,
que descrevem o comando a ser executado. Para o pico final há pouca ocorrência o
que não nos permite determiná-lo no comando.
3.4.4
Destaque da sílaba pós-tônica
No comando de companhia e batalhão temos o comando ‘por infiltração à direi
ta’,
neste comando a sílaba tônica (sublinhada) permanece em destaque, o que não
acontece no comando ‘olhar à direita’ do comando de pelotão, em que a sílaba pós-
tônica (sublinhada) recebe maior destaque, isto também ocorre no comando ‘olhar
100
em frente’ (comando de pelotão) e ‘em continência à direita’(comando de
companhia).
Este destaque na sílaba pós-tônica se dá devido aos diferentes tipos de vozes de
comando. No primeiro exemplo, em que a palavra ‘direita’ mantém o destaque na
sílaba tônica isto ocorre porque este comando se caracteriza como um comando
propriamente dito, este tipo de comando exige que o comandante se esforce para
pronunciar de maneira correta e integral todas as palavras, e tem por finalidade
anunciar um movimento a ser realizado pelos executantes. Nos demais casos, em que
o destaque ocorre na sílaba pós-tônica, estes comandos são caracterizados como voz
de execução e tem por finalidade determinar o exato momento em que o movimento
deve começar ou cessar, este destaque na sílaba pós-tônica determina o início do
movimento.
3.5 Pausa
A normalização dos nossos dados foi feita levando em consideração o intervalo dado
dentro dos comandos, em que se realizava alguma ação solicitada no comando.
Assim, para que se procedesse a análise, cada parte do comando foi considerada
individualmente. Como vemos nos gráficos, por exemplo, do comando de
companhia, cada informante apresentou três resultados, referente às três partes que
compõem o comando. O mesmo ocorreu com o comando de batalhão que foi
dividido em duas partes. O comando de pelotão como não ocorreu nenhum grande
intervalo entre os comandos, em que se recrutasse alguma ação, cada informante
apresentou um único valor para cada análise realizada.
101
Os gráficos utilizados para análise são chamados de cartas de controle e possuem
limites inferiores e superiores, indicando o ponto tolerável de variação, determinando
o padrão dado pelo grupo analisado. Servem, portanto, para indicar a homogeneidade
do grupo na análise em questão. A linha média indica o padrão, assim, quanto mais
pontos próximos a esta linha, maior homogeneidade entre os informantes.
Analisamos o tempo total de pausas encontrado em cada tipo de comando, como
demonstram os gráficos abaixo:
FIGURA 23: Tempo total de pausas no comando de batalhão. Cada informante é
representado por dois pontos no gráfico, devido à divisão deste comando em
duas partes.
Neste gráfico, podemos observar que os informantes deste grupo comando de
batalhão (cb), apresentaram-se mais homogêneos na segunda parte do comando. Os
pontos mais afastados da linha média correspondem à primeira parte do comando.
Isto pode se justificar pelo fato da primeira parte ser maior que a segunda com maior
ocorrência de pausas.
Informantes
1Fcb 1Mcb 2Mcb 4Mcb 5Mcb 6Mcb 7Mcb
0
- 2
- 4
- 6
- 8
- 1 0
_
X=-5
, 3 2
+2DP
= -0,42
-2DP=
-10,21
102
FIGURA 24: Tempo total de pausas no comando de companhia. Cada
informante é representado por três pontos no gráfico, devido à divisão deste
comando em três partes.
Neste gráfico há muitos pontos próximos à linha média, apenas três se destacam
muito dispersos. Coincidentemente, estes três correspondem a segunda parte do
comando, que corresponde, assim como no comando de batalhão, à parte mais longa,
também com maior ocorrência de pausas.
FIGURA 25: Tempo total de pausas no comando de pelotão. Cada informante
é representado por um ponto no gráfico, pois para este comando não houve
divisão.
1 , 0
0 , 5
0 , 0
- 0 , 5
- 1 , 0
- 1 , 5
- 2 , 0
- 2 , 5
_
X=-0
, 6 4 7
+2DP = 0 , 6 6 6
-2DP = - 1 , 9 5 9
Informantes
6Mcc5Mcc4Mcc2Mcc
2Fcc
1Mcc
1Fcc
Informantes
1 4
1 2
1 0
8
6
4
2
_
X=7,
0 6
+2DP = 1 1 , 0 6
-2DP = 3 , 0 6
8Mp7Mp6Mp5Mp4Mp3Mp2Mp1Mp 2Fp 1Fp
103
No gráfico do comando de pelotão, o informante 8Mp se destaca por apresentar um
tempo maior de pausas, que podemos ver pelo ponto que se apresenta fora do limite
de variação.
Na leitura destes três gráficos pudemos observar que as pausas tendem a uma
padronização, mantendo uma variação estável entre os informantes. Apenas nos
comandos de companhia e pelotão foram observadas variação fora do limite
padronizado, sendo duas ocorrências para o primeiro e uma para o segundo.
Nos gráficos abaixo comparamos as pausas e sua duração observadas nos comandos
emitidos pelos cabos.
Pausas no comando de companhia
0
1
2
3
4
5
6
Terceira
companhia
Segunda
compania
Para desfilar colunas de
pelotões por
três
por infiltração à direita ordinário terceira
companhia
sentido
Comandos
Tempo (s)
1 fem
1 masc
2 fem
2 masc
4 masc
5 masc
6 masc
FIGURA 26: Duração das pausas que ocorrem após cada comando no comando de companhia.
Conforme foi comprovado no gráfico carta de controle, vimos que não há nenhum
valor discrepante, os informantes tendem a um padrão quanto a duração das pausas, o
que é esperado pois trata-se de um ritual militar. Vemos aqui que o inf. 2 fem. não dá
104
uma pausa entre os comandos ‘por infiltração’ ‘`a direita’, e por este motivo não é
representados na coluna do comando ‘por infiltração’.
O comando de companhia é divido em três partes em decorrência dos comandos
classificados como vozes de execução. É justamente após estes comandos que
ocorrem os intervalos, pois é neste momento que o comandante solicita que seja
realizado algum movimento demandando um intervalo de tempo maior para sua
realização.
Pausas Comando Batalhão - Parte 1
0
1
2
3
4
5
6
Bat al hão de desf i l e ao meu
comando
Batalhão sentido em linha de
companhi as
Col unas de
pel otão
por t r ês cobr i Bat al hão f i r me ombr o
Comandos
Tempo (s)
1 fem
1 masc
2 masc
4 masc
5masc
6 masc
7 masc
FIGURA 27: Duração das pausas, que ocorrem após cada comando no comando de batalhão parte
1.
105
Pausas Comando Batalhão - Parte 2
0
1
2
3
4
5
6
O batalhão
desfilará
sob os
acordes do
dobrado
batalhão para desfilar Colunas de
pelotão
por três por
infiltrão
à direita
Comandos
Tempo (s)
1 fem
1 masc
2 masc
4 masc
5masc
6 masc
7 masc
FIGURA 28: Duração das pausas que ocorrem após cada comando no comando de batalhão parte 2
O que vemos no gráfico que representa a duração das pausas no comando de batalhão
na primeira parte é que a duração das pausas oscila entre longas e curtas. Isto se dá
pela própria característica do comando. Como vimos, nós temos três tipos de vozes
de comando: voz de advertência, comando propriamente dito e voz de execução, a
primeira chama atenção do pelotão, companhia ou batalhão para que fiquem atentos
pois será dado o comando; a segunda indica o movimento a ser realizado e às vezes
pode impor a realização de certos movimentos; e por último a voz de execução que é
dada no momento exato em que o movimento deve começar ou cessar.
Podemos de acordo com o comprimento das pausas identificar o tipo de voz de
comando, ou seja, pausas mais curtas são encontradas após os comandos de
advertência e ainda após o comando propriamente dito e pausas mais longas
acontecem após o comando de execução e às vezes após o comando propriamente
dito quando este impor a realização de algum movimento. Foi justamente após os
comandos identificados como voz de execução que tivemos os grandes intervalos
que dividiram os comando em partes.
106
Analisando os dois últimos gráficos podemos observar que alguns cabos dão pausa
em determinados lugares, outros não, como podemos ver nos trechos “colunas de
pelotão por três” e “por infiltração à direita”, alguns informantes separam este
comando como é visível no gráfico. O informante 2 masc separa o trecho “colunas de
pelotão por três” na parte 1 do comando de batalhão. E no trecho “por infiltração à
direita” dois informantes, o 5 e o 6 masc, emitem esta passagem sem pausa. Em
determinados lugares os valores são semelhantes como por exemplo, após de ‘em
linha de companhia’, ‘por três’, ‘sob os acordes do dobrado’.
Vimos ainda que não há aquele indivíduo que se destaca por apresentar pausas de
longa duração, vemos que, ora um apresenta uma longa pausa, ora outro, isto se
justifica porque no gráfico de carta de controle apresentado para duração total das
pausas, vimos que nenhum ponto foge da variação dada pelo padrão, o que significa
que as pausas se compensam, ou seja há uma padronização para o tempo total de
pausas, mas a sua ocorrência não segue um padrão dentro do comando.
Pausas Comando Pelotão
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Segundo
Pelotão
ao meu
comando
pelotão para
desfilar
por
infiltração
á dir eit a Or dinár io marche pelot ão sent ido olhar à
direita
pelotão
Comandos
Tempo (s)
1 fem
2 fem
1 masc
2 masc
3 masc
4 masc
5 masc
6 masc
7 masc
8 masc
FIGURA 29: Duração das pausas que ocorrem após cada comando no comando de pelotão.
107
Neste gráfico vimos uma certa variação na duração das pausas principalmente após
os comandos propriamente ditos (‘ordinário’) e após os comandos de execução
(‘marche’ e ‘olhar a direita’). Isto acontece, porque é após estes comandos que os
movimentos são realizados e por se tratar de uma situação simulada, os informantes
dão uma pausa estimando o tempo de realização do movimento, porém esta variação
também ocorre no comando de batalhão que é uma situação de avaliação, o que nos
leva a compreender que esta variação pode ser devido a diferença do tempo de
resposta do batalhão na execução do movimento.
Vimos que o inf. 8 masc. apresentou pausas muito longas, fugindo do padrão dado
pelo grupo. Neste caso, identificamos prontamente o indivíduo responsável pelo
ponto encontrado, extrapolando a variação aceitável na padronização dada pelo
grupo no gráfico carta de controle.
Observamos que não há discrepância entre as duas situações, situação de avaliação
(comando de companhia e batalhão) e situação simulada (comando de pelotão).
Devemos considerar que o comando de companhia e pelotão são menores. Fica claro
ainda que os comandos de companhia e de pelotão são menos complexos e até
menores que o comando de batalhão, o que pode inclusive justificar a falta de
padronização para este grupo.
3.6 Organização Temporal
Foi realizada a divisão silábica de todos os comandos. Esta divisão pode ser vista no
anexo. Considerando o número de sílabas procedemos a análise. Abaixo, podemos
108
ver as tabelas com todos os dados extraídos e calculados na análise da organização
temporal.
As abreviações usadas na tabela referem-se:
NS: número de sílabas
TE: tempo de elocução
TTP: tempo total de pausas
NP: número de pausas
TA: tempo de articulação
TxE: taxa de elocução
TxA: taxa de articulação
Inf N S TE TTP NP TA TxE TxA
1 fem 12
36
18
3,016
15,196
4,575
0,326
6,75
0,930
1
6
1
2,69
8,446
3,645
3,978
2,369
3,934
4,460
4,262
4,938
1 masc 11
36
17
2,750
15,254
4,264
0,234
6,624
0,514
1
6
1
2,516
8,63
3,75
4
2,360
3,986
4,372
4,17
4,53
2 fem 11
36
18
2,890
15,005
4,978
0,272
6,769
0,734
1
5
1
2,618
8,236
4,244
3,806
2,399
3,615
4,201
4,371
4,241
2 masc 12
36
17
2,454
12,634
4,831
0,250
5,175
0,996
1
6
1
2,204
7,459
3,835
4,889
2,849
3,518
5,444
4,826
4,432
3 masc 11
27
18
2,211
11,928
4,720
0,216
6,678
0,899
1
4
1
1,995
5,25
3,821
4,975
2,263
3,813
5,513
5,142
4,71
4 masc 12
36
18
2,763
14,756
4,706
0,357
6,504
0,895
1
6
1
2,406
8,252
3,811
4,343
2,439
3,824
4,987
4,362
4,723
5 masc 12
36
18
2,966
15,033
5,233
0,353
6,081
0,621
1
6
1
2,613
8,952
4,612
4,045
2,394
3,439
4,592
4,02
3,686
6 masc 12
36
18
2,334
12,116
4,974
0,196
4,634
1,006
1
6
1
2,138
7,482
3,968
5,141
2,971
3,618
5,612
4,811
4,536
QUADRO 4: Análise organização temporal no comando de companhia
109
Inf NS TE TTP NP TA TxE TxA
1 fem 44
47
21,072
11,877
7,902
2,091
10
7
13,17
8,967
2,088
3,957
3,340
5,241
1 masc 44
47
25,259
12,986
14,283
2,707
10
7
10,976
10,279
1,741
3,624
4,008
4,572
2 masc 44
47
22,890
12,603
12,433
3,534
10
7
10,457
9,069
1,922
3,729
4,207
5,182
3masc 41
47
18,857
13,592
8,826
3,112
8
7
10,031
10,48
2,174
3,457
4,087
4,484
4masc 46
47
26,242
13,942
14,954
3,628
10
7
11,288
10,314
1,752
3,371
4,075
4,556
5 masc 44
47
22,136
11,989
12,399
2,683
10
6
9,737
9,306
1,987
3,920
4,518
5,05
6 masc 46
46
24,507
12,454
13,26
2,015
10
6
11,247
10,439
1,877
3,693
4,089
4,406
7 masc 44
47
23,148
12,879
11,978
2,854
12
7
11,17
10,022
1,900
3,649
3,939
4,896
QUADRO 5: Análise organização temporal no comando de batalhão
Inf NS TE TTP NP TA TxE TxA
1 fem 54 21,736 6,626 12 15,11 2,484 3,513
2 fem 53 19,429 5,138 11 14,291 2,727 3,708
1 masc 54 19,435 5,491 11 13,944 2,77 3,872
2 masc 54 18,278 5,867 12 12,411 2,954 4,350
3 masc 53 21,284 7,824 12 13,46 2,490 3,93
4 masc 53 18,725 5,159 11 13,566 2,83 3,906
5 masc 53 21,746 8,281 12 13,465 2,437 3,936
6 masc 53 19,657 5,487 11 14,17 2,696 3,74
7 masc 54 22,579 7,659 12 14,17 2,391 3,81
8 masc 54 27,715 13,037 11 14,678 1,948 3,678
QUADRO 6: Análise organização temporal no comando de pelotão
Levando em consideração que os informantes 3 masc. dos dois grupos não emitiram
um trecho do comando, estes foram excluídos da análise da organização temporal,
pois poderiam comprometer a análise. Como os comandos foram divididos em partes
cada parte foi considerada separadamente na análise do coeficiente de variação, de
onde extraímos os gráficos cartas de controle, para verificarmos a padronização dos
valores.
110
FIGURA 30: Gráfico carta de controle TxE do comando de companhia
FIGURA 31: Gráfico carta de controle TxA do comando de companhia
In
f
ormantes
6
,
2
5
6
,
0
0
5
,
7
5
5
,
5
0
5
,
2
5
5
,
0
0
4
,
7
5
4
,
5
0
_
X=5,
1
6
9
+2DP
=
5
,
8
7
6
-2DP
=
4
,
4
6
1
6M
5M4M
2M
2F
1M
1F
Informantes
20171411852
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
_
X=4,551
+2SL=5,476
-2SL=3,627
Informantes
5
,
5
5
,
0
4
,
5
4
,
0
3
,
5
_
X=
4
,
5
5
1
+2
D
P
=
5
,
4
7
6
-2
D
P
=
3
,
6
2
7
5M
4M3M
2M
2F
1M
1F
111
FIGURA 32: Gráfico carta de controle TxE do comando de batalhão
FIGURA 33: Gráfico Carta de controle TxA do comando de batalhão
Vimos nestes gráficos, nas situações de avaliação, gráficos dos comandos de
batalhão e companhia, que as variações entre os informantes tendem a se manter
mais próximas à linha média e dentro dos limites das linhas inferior e superior, o que
Informantes
7
,
4
7
,
2
7
,
0
6
,
8
6
,
6
6
,
4
6
,
2
6
,
0
_
X=6,
6
5
1
+2DP
=
7
,
3
8
5
-2DP
=
5
,
9
1
7
1F 1M 2M 4M 5M 6M 7M
Informantes
1413121110987654321
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
_
X=4,434
+2SL=5,784
-2SL=3,084
Informantes
6
,
0
5
,
5
5
,
0
4
,
5
4
,
0
3
,
5
3
,
0
_
X=
4
,
4
3
4
+2
D
P
=
5
,
7
8
4
-2
D
P
=
3
,
0
8
4
1F 1M 2M 4M 5M 6M 7M
112
representa resultados mais uniformes entre os informantes. Para o comando de
pelotão (situação simulada), abaixo, em especial no gráfico relacionado à TxA, há
um ponto ultrapassando consideravelmente a linha superior de controle, enquanto
outro ponto se encontra sobre a linha do limite inferior. Esta diferença pode ser
atribuída à questão metológica que distingue estes dois grupos, ou seja, às diferentes
situações de coleta de dados, que permitiram estes valores mais discrepantes na
situação simulada.
FIGURA 34: Gráfico carta de controle TxE do comando de pelotão
Info
r
mantes
3
,
2
3
,
0
2
,
8
2
,
6
2 , 4
2
,
2
2
,
0
_
X=
2
,
5
7
3
+2
D
P
=
3
,
0
9
9
-2
D
P
=
2
,
0
4
6
8M7M6M5M4M3M2M1M
2F
1F
113
FIGURA 35: Gráfico carta de controle TxA do comando de pelotão
Realizamos o teste T para a medida da taxa de elocução e taxa de articulação para
compararmos as situações de avaliação e simulação. Encontramos para TxE valor de
p= 0,001, e para TxA o valor de p= 0,000, mostrando diferenças estatisticamente
significativa para as duas situações.
Os gráficos abaixo nos mostram a média da taxa de elocução e taxa de articulação
em cada um dos 3 tipos de comando.
Taxa de Elocução
3,519
2,8
2,572
0
1
2
3
4
Comando de
Companhia
Comando de
Batalhão
Comando de
Peloo
FIGURA 36: Média da Taxa de elocução dos três comandos
Info
r
mantes
4
,
4
4
,
3
4
,
2
4
,
1
4
,
0
3
,
9
3
,
8
3
,
7
3
,
6
3
,
5
_
X=3,8
4
4
3
+2DP=
4
,
1
8
1
0
-2DP=
3
,
5
0
7
6
1
8M
7M6M
5M4M3M2M
1M
2F
1F
114
Taxa de Articulação
4,55
4,433
3,844
3
3,5
4
4,5
5
Comando de
Companhia
Comando de
Batalhão
Comando de
Peloo
FIGURA 37: Média da taxa de articulação para os três comando
Podemos observar que os valores para o comando de pelotão são inferiores, se
comparados aos outros, e o teste T, que citamos acima, comprova a diferença entre
os dados. Este fato pode ser novamente atribuído à metodologia de coleta dos dados,
pois conforme já comentamos na situação simulada, os indivíduos seguem um ritmo
próprio, sem tambores ou movimento de marcha, o que pode justificar este resultado.
3.7 Situação Simulada x Situação de Avaliação
No decorrer deste capítulo, ao analisarmos todos os parâmetros propostos para
análise, fizemos a comparação entre as duas situações, em que a metodologia de
coleta de dados foi diferente, contrapondo: situação simulada x situação de avaliação.
Encontramos em alguns parâmetros diferenças estatisticamente significativas, como
para as medidas de taxa de elocução e taxa de articulação. Na análise da intensidade,
vimos que as curvas apresentam configurações bastante distintas, com tendência a se
manterem niveladas na situação de avaliação, e com pico-queda ou subida-pico na
situação simulada.
115
No parâmetro duração, numa análise feita com valores aproximados, por motivos que
já foram justificados, não observamos diferença entre os dois grupos que fosse
significante estatisticamente. Na análise de F0, pudemos observar no comando de
pelotão (situação simulada), pouca variação da tessitura do informante 2 masc em
comparação com os demais informantes, variando apenas 93Hz. Os demais
integrantes deste grupo variaram de 131 Hz a 235 Hz, sendo a média da tessitura de
197 Hz. Na situação de avaliação, o valor mínimo encontrado para a tessitura foi de
108 Hz e o máximo de 286 Hz, a média deste grupo foi de 171 Hz.
Para a freqüência usual, os valores encontrados apresentaram-se semelhantes nas
duas situações. Na análise feita quanto à localização do pico da curva de F0 na tônica
proeminente, ao contrário do que esperávamos, os resultados da situação foram mais
homogêneos, tendendo a apresentar localização semelhante do pico da curva de F0
entre os informantes. Os informantes do grupo comando de Batalhão (situação de
avaliação) e do comando de pelotão (situação simulada) apresentaram maior
ocorrência de pico medial, no comando de companhia (situação de avaliação), a
ocorrência para os picos inicial e medial foram semelhantes.
Foram realizadas duas análises para o parâmetro pausa, uma relacionada ao tempo
total de pausas no comando e outra relacionada a sua duração em cada parte do
comando. No tempo total de pausas, a situação simulada apresentou apenas um ponto
fora do limite considerado como padrão pelo grupo, represetado pelo informante 8
masc. Os demais informantes deste grupo apresentaram valores bem próximos a
linha média demonstrando homogeneidade. Nos demais grupos que caracterizam a
situação de avaliação, tivemos pontos bastante dispersos, principalmente os que se
116
referiam às partes maiores destes comandos e apresentavam maior número de pausas.
Quanto a duração das pausas após os comandos, vimos na situação simulada,
comando de pelotão, apenas um informante, o 8 masc., com duração maior nas
pausas após os comandos “marche” e “olhar a direita”. Os demais informantes
apresentaram duração semelhante nas pausas. Nos comandos da situação de
avaliação, um grupo, o comando de companhia, apresentou bastante semelhança
entre os informantes quanto a duração das pausas após cada comando, no outro,
comando de batalhão, na primeira parte especificamente, a duração das pausas após
os comandos foram diversificadas, neste caso, não houve um ou outro informante
que se destacasse apresentando pausas mais longas como ocorreu no comando de
pelotão, isto fez com que estes valores se compensassem na análise do tempo total de
pausas, permitindo-nos encontrar um padrão.
O que pudemos observar nesta comparação foi que situações diferentes de análise
apresentaram resultados diferentes. Portanto, para um estudo prosódico, devemos
procurar trabalhar sempre que possível com dados que correspondam a situação real,
ou pelo menos mais próxima do real, como foi o caso deste trabalho. Isto se justifica
pelo fato da fala cotidiana possibilitar uma análise que nos permite extrair
informações prosódicas mais fiéis a situação que ela representa, pois a prosódia
possui uma plasticidade que a permite adaptações às diversas situações que ela se
manifesta.
117
Capítulo 4
A Expressão de Atitude no Comando Militar
118
A gênese do estudo atitudinal no comando militar surgiu do nosso interesse inicial
em analisar diferenças na fala de indivíduos ocupando posição hierarquicamente
superior e seus subordinados, no ambiente de uma empresa, por exemplo. Por outro
lado, havia o interesse do Laboratório de Fonética e de seus pesquisadores em
relacionar prosódia e expressão de atitude. Detivemo-nos, finalmente, no estudo do
comando militar, que reúne, ao mesmo tempo, a expressão da autoridade e da
hierarquia. Embora esse ato de fala diretivo esteja inserido num contexto de ritual
militar, eliminando provavelmente a possibilidade de expressão de uma atitude,
consideramos que pode fornecer pistas para o estudo da atitude autoritária, já que o
comando militar pode ser visto como uma expressão de autoridade.
O Manual de Campanha “Ordem Unida”, utilizado na academia militar, esclarece
que a Ordem Unida é uma atividade de instrução militar ligada, indissoluvelmente, à
prática da chefia e à criação de reflexos da disciplina (p. 3). Tendo em vista esta
colocação do manual, dentre outras, que deixam claro a disciplina prezada nesta
instituição, bem como o respeito à hierarquia, procuramos nos comandos analisados,
parâmetros prosódicos que pudessem representar a autoridade na figura do
comandante.
Ao acompanharmos o processo de avaliação dos instrutores da disciplina ‘Ordem
Unida’, onde os alunos aprendem a emitir o comando, observamos que eles tendem
associar esta avaliação à expressão de alguma atitude. Numa das avaliações, o
instrutor avaliou o aluno considerando ruim seu desempenho, pois admitiu que o
aluno expressava insegurança na emissão do comando.
119
Levando em consideração o ocorrido, procuramos identificar dentre os nossos
informantes aqueles que obtiveram melhor desempenho na avaliação. Para este
julgamento, utilizamos os próprios cabos em formação que se encontravam um
período mais avançado com relação àqueles que foram avaliados. Pedimos que estes
identificassem entre os comandos gravados qual seria o melhor e o pior comando e
por quê. Neste caso foram apresentados apenas os comandos de companhia e o
comando de batalhão. Nosso objetivo com este procedimento era identificar os
critérios de análise utilizados por eles dentro da academia militar.
Foram dez o número de juízes, sendo que sete deles, ou seja 70% consideraram o
informante 1masc do grupo comando de batalhão como o melhor comando. Dentre
os aspectos positivos levantados, podemos citar boa entonação, segurança, clareza,
credibilidade, fala pausada expressando firmeza. Para o pior comando quatro juízes,
ou seja 40%, citaram o informante 1 fem feminino do grupo comando de companhia,
que foi mais votado para este quesito, justificando como um comando que não
inspira confiança, com uma entonação ruim, expressando insegurança e falta de
firmeza.
Em nossa análise, não identificamos resultados específicos que nos ajudassem a
compreender esta avaliação. Acreditamos que este julgamento tenha sido feito
considerando-se, sobretudo, aspectos paralingüísticos, que identificam o falante, ou
ainda, aspectos que determinam a expressão oral do indivíduo como, por exemplo, a
habilidade articulatória, a qualidade vocal, dentre outros aspectos. No caso do
informante do sexo feminino ter sido classificado como ruim, isto pode estar
relacionado à qualidade vocal feminina mais aguda. Quanto ao melhor comando,
120
podemos fazer referência à qualidade vocal do informante, ou ainda à clareza, no
sentido de apresentar uma boa articulação.
Wichmann (2002) refere-se à entonação atitudinal como meio de transmitir qualquer
pista entonativa que junto com informações não lingüísticas da voz, reflete o
comportamento do falante em uma dada situação, ou como intencionado pelo
falante, ou como inferido pelo ouvinte, ou ambos. Assim, a afirmação da autora
justifica nossa colocação acima, referindo-se a outras pistas que contribuem para a
compreensão da mensagem e que não pertencem ao conteúdo prosódico. A autora
acrescenta ainda outros critérios avaliativos como comportamento, contexto, reação,
intenção que são associados à avaliação da atitude.
Uldall (1960), em seu artigo sobre as dimensões do significado da entonação,
identifica a atitude autoritário/submisso, dentre outras como agradável/desagradável,
forte/fraco. A autora caracteriza a expressão autoritária por uma ampla variação na
extensão da melodia, e mudança de direção destes movimentos melódicos. Estas
duas colocações da autora podem ser confirmadas em nossos dados, vendo a análise
feita sobre tessitura que demonstra a grande extensão (variação) de F0 utilizada na
expressão do comando, e ainda, na configuração do pico da tônica proeminente, que
em sua maioria é caracterizado por um movimento complexo, o que até justifica
inclusive o método de análise utilizado. Esta complexidade do movimento melódico
pode ser decorrente da grande tensão e força expiratória utilizada no comando
Podemos ressaltar aqui o problema da inconsistência da forma atitudinal, citada por
Tench (1990), que considera a grande variedade de atitudes que podem ser atribuídas
121
a uma única forma atitudinal. Isto parece ficar claro em nosso trabalho, visto que
nossos dados tendem a respeitar um padrão dado pela forma estilística do comando
militar e, assim mesmo, atitudes diferentes e até mesmo contraditórias podem ser
percebidas pelo avaliador.
Devemos considerar ainda que o comando militar sofre uma grande influência do
contexto Este ato de fala requer condições preparatórias quanto ao estatuto ou
posição do falante e do ouvinte, um ato de desrespeito do subordinado ao seu
superior o levará a uma punição. Isto confere ao comando militar um caráter
institucionalizado
O que vimos é que a prosódia representa um papel fundamental na expressão da
atitude do falante, mas identificar esta atitude requer muitas outras pistas como
contexto e componentes não lingüísticos. Na situação específica desta pesquisa,
precisamos recorrer a todas estas outras pistas, juntamente com o aspecto prosódico,
para identificar e discriminar as diferentes atitudes conforme foram percebidas pelos
avaliadores, ou seja, apenas uma análise prosódica não nos permitiu discriminar estas
atitudes, e considerar os demais aspectos foge do propósito deste trabalho. Deixamos
aqui uma sugestão de pesquisa.
Podemos, por fim, identificar alguns aspectos prosódicos que contribuem para a
identificação da atitude autoritária, através do comando militar, no comando militar,
como:
- Alta intensidade, mantendo-se estável no comando;
122
- Alongamento de sílabas fora da posição tônica, geralmente na posição início de
palavra e início de grupo tonal, quando apenas uma palavra determinava o grupo
tonal;
- Deslocamento da sílaba tônica como ocorreu em alguns comandos como: “em
continência à direita”, “olhar em frente” e “olhar à direita”;
- Aumento do registro e da tessitura;
Apagamento ou enfraquecimento da sílaba pós-tônica e em alguns momentos
destaque na sílaba pós-tônica.
123
Conclusão
124
A partir dos resultados encontrados em nossas análises, foi possível caracterizar
alguns aspectos prosódicos do comando militar. Podemos verificar algumas
peculiaridades prosódicas que marcam este ato de fala, desempenhando o aspecto
prosódico nesta situação uma função atitudinal e ainda sobretudo estilística,
representando um estilo próprio de fala que caracteriza o comando militar.
Encontramos características marcantes no comando militar como: a longa duração da
primeira sílaba, que se encontrava fora da posição tônica, em alguns trechos do
comando; aumento do registro e da tessitura; alta intensidade, que se mantém estável
durante a execução do comando; enfraquecimento ou apagamento da sílaba pós-
tônica e em outros momentos destaque da sílaba pós-tônica.
Outro ponto relevante neste trabalho foi a questão metodológica. Contrapomos, em
alguns momentos da análise, dados de uma situação simulada com dados de uma
situação de avaliação e encontramos em alguns parâmetros analisados diferenças
significativas como em relação a intensidade, onde foi claro a discrepância entre as
duas situações, ocorrendo em 100% dos dados. Em outros momentos, como na
análise da tessitura, temos algumas diferenças entre os informantes, as quais
atribuímos a questão metodológica, mas sem uma afirmação precisa, pois os
resultados não são claros neste aspecto.
Em relação à organização temporal, analisamos a velocidade de fala dos diferentes
tipos de comando. Para o comando de companhia, encontramos 3,53 síl/seg; para o
comando de batalhão, 2,8 síl/seg; e o comando de pelotão 2,57 síl/ seg. Para a taxa de
articulação os valores encontrados respectivamente são: 4,55 síl/seg, 4,43 síl/seg,
125
3,87 síl/seg. Ainda com relação à organização temporal, comparamos as duas
situações simulação x avaliação, e o texte T nos mostrou diferenças estatisticamente
significantes para estes dois grupos. Isto pode ser atribuído à questão metodológica,
pois na situação simulada, como os alunos não marchavam, não executavam
qualquer movimentação sugerida pelo comando, ou eram assessorados pelo ritmo do
tambor; encontravam-se de certa maneira livres na determinação da velocidade de
fala, sendo mais rápidos.
Foi possível confirmar a necessidade de se trabalhar com dados de situações mais
próximas do cotidiano para que se tenham resultados que representem a situação de
maneira mais fiel, uma vez que a prosódia se adapta a diferentes situações.
Pudemos ainda, confirmar a padronização encontrada na enunciação do comando
militar, admitindo a função estilística da prosódia. Esta padronização foi observada
principalmente na ocorrência das pausas em relação ao tempo total e a localização,
havendo algumas variações de duração em algumas de suas ocorrências, e ainda na
variação da tessitura, na freqüência usual e na intensidade.
No que se refere à análise atitudinal, pudemos identificar alguns aspectos prosódicos
capazes de expressar autoridade no comando, que já foram citados anteriormente,
referindo-se às características marcantes do comando. Contudo, muitos são os limites
para análise atitudinal, dada a complexidade do assunto e a necessidade de
utilizarmos outros recursos para análise, o que foge do propósito de nossa pesquisa e
pode ser sugerido como um novo tema de pesquisa.
126
Finalizando, este trabalho representa uma pequena contribuição em relação a alguns
aspectos prosódicos do comando militar, considerando parâmetros como intensidade,
freqüência fundamental, organização temporal, e algumas considerações sobre
duração. Reflete sobre a questão metodológica, sobre o polêmico objeto de análise
lingüística, fruto de uma situação simulada, considerando o comprometimento dos
resultados nestes casos. E no que se refere à atitude, podemos identificar alguns
recursos comuns a todos informantes que caracterizam o ato comando,
especificamente o comando militar, porém, na análise perceptiva, outros aspectos
foram levantados, os quais não foram identificados na análise prosódica, mas que
serviram de experiência e questionamentos para esta área da Lingüística que ainda
tem muito a avançar.
127
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YACOVENCO, Lilian Coutinho. O Fenômeno Prosódico da Pausa e a Organização
temporal do discurso. 2000. 162f Tese ( Doutorado em Língua Portuguesa) –
Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.
Xu, Y. (2004). Separation of functional components of tone and intonation from
observed F0 patterns. In G. Fant, H. Fujisaki, J. Cao and Y. Xu (eds.), From
Traditional Phonology to Modern Speech Processing: Festschrift for Professor Wu
Zongji's 95th Birthday. Beijing, Foreign Language Teaching and Research Press:
483-505
135
Anexos
136
Transcrição dos comandos com a delimitação das fronteiras silábicas. Os trechos
sublinhados foram excluídos da análise e as sílabas em itálico não foram
pronunciadas.
Comando de Batalhão
Informante 1 fem
Comando 1
Ba.ta.lhão.de.des.fi.le /0,355/
Ao.meu.co.man.do / 0,873/
Ba.ta.lhão. /0,337/sen.ti.do. /1,728/
Em.li.nha .de. com.pa.nhias / 0,436/
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tão. por. três /0,490/
Co.bri /2,775/
Ba.ta.lhão / 0,553 /
Fir.me /1,566 /
Om.bro /0,702 /
Ar.mas
Comando 2
O .ba.ta.lhão. dês.fi.la.rá / 0,286 /
So.b O.s a.cor.des. do. Do.bra.do / 0,353 /
a.po.lo on.ze/0,714 /
ba.ta.lhão /0,484 /
pa.ra. dês.fi.lar / 0,492 /
co.lu.na. de. Pe.lo.tões. por. três /0,479 /
pó.r in.fil.tra.ção / 0,440/
à. Di.rei.ta / 0,376 /
or.di.ná.rio
Comando 3
Mar.che
Informante 1 masc
Comando 1
Ba.ta.lhão .de. dês.fi.le / 0,379 / ao. meu .co.man.do / 1,396 /
Ba.ta.lhão / 0,578 /sen.ti.do / 2,305 /
Em. li.nha. de .com.pa.nhias / 0,409 /
Co.lu.nas .de. pe.lo.tão. por .três /0,609 /
Co.bri /4,473 /
Ba.ta.lhão /0,776/
Fir.me / 2,274 /
om.bro /1,084 /
ar.ma
Comando 2
O. ba.ta.lhão. dês.fi.la.rá / 0,272 /
So.bros .sa..cor.des .do. do.bra.do / 0,222 /
Cen.tu i. oi.ten.ta i .dois / 0,813 /
137
Ba.ta.lhão / 0,592 /
Pa.ra dês.fi.lar / 0,388 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tões. por. três / 0,473 /
Pó.r in.fil.tra.ção /0,234 /
À.di.rei.ta / 0,526 /
Or.di.ná.rio
Comando 3
Mar.che
Informante 2 masc
Comando 1
Ba.ta.lhão. de. Dês.fi.le. /0,218 / ao. meu .co.man.do /0,755 /
Ba.ta.lhão / 0,418 /sen.ti.do / 1,656 /
Em. li.nha. de. Com.pa.nhias / 0,327 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tão. /0,227 / por. três /0,475 /
Co.bri / 5,113 /
Ba.ta.lhão / 0,747 /
Fir.me /1,460 /
Om.bro / 1,037 /
Ar.mas
Comando 2
O. ba.ta.lhão. dês.fi.la.rá / 0,409 /
So.bre o.s a.cor.des.do. do.bra.do /0,247/
Cis.ne .bran.co /0,616 /
Ba.ta.lhão / 0,596/
Pa.ra. dês.fi.lar /0,666 /
Co.lu.na. de. Pe.lo.tões / 0,101 / por. três /0,578 /
Pó.r in.fil.tra.ção / 0,434 /
À. Di.rei.ta / 0,503 /
Or.di.ná.rio
Comando 3
Ma.Σ
Informante 3 masc
Comando 1
Ba.ta.lhão. de. Dês.fi.le /0,526 / ao. Meu. Co.man.do / 1,113 /
Ba.ta.lhão. / 0,445 /sen.ti.do /1,585 /
Em. li.nha. de. Com.pa.nias /0,333 /
Co.lu.na. de. Pe.lo.tões. por. três /0,517 /
Co.bri / 3,768 /
Ba.ta.lhão / 0,539/
Fir.me / /
Ombro-armas
Comando 2
O. ba.ta.lhão. dês.fi.la.rá. so.bre o.s a.cor.des. do. Do.bra.do /0,440 /
138
A.po.lo on.ze / 0,848 /
Ba.ta.lhão /0,481/
Pa.ra. dês.fi.lar / 0,416 /
Co.lu.na. de. Pe.lo.tões /0,170 / por. três / 0,383 /
Po.r in.fil.tra.ção /0,355 /
À. Di.rei.ta / 0,867 /
Or.di.ná.rio
Comando 3
Mar.che
Informante 4 masc
Comando 1
Ba.ta.lhão. de. Dês.fi.le. /0,416 / ao. Meu. Co.man.do / 1,740 /
Ba.ta.lhão. / 0,758 /sen.ti.do /3,122 /
Em. li.nha. de. Com.pa.nhias /0,394 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tões. por. três /0,495/
Co.bri / 4,435 /
Ba.ta.lhão /0,754/
Fir.me / 2,047 /
Om.bro/ 0,793 /
Ar.mas
Comando 2
O. ba.ta.lhão. dês.fi.la.rá/0,388 /
So.bre o.s a.cor.des. do. Do.bra.do /0,355 /
Cen.to e oi.ten.ta e. dois / 0,565 /
Ba.ta.lhão / 0,546 /
Pa.ra. dês.fi.lar /0,518 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tões. por. três / 0,481 /
Pó.r in.fil.tra.ção / 0,371 /
À. Di.rei.ta / 0,969 /
Or.di.ná.rio
Comando 3
Mar.che
Informante 5 masc
Comando 1
Ba.ta.lhão. de. Dês.fi.le / 0,444 / ao. Meu. Co.man.do / 1,075 /
Ba.ta.lhão /0,355 /sen.ti.do / 1,598 /
Em. li.nha. de .com.pa.nhias / 0,560 /
Co.lu.na. de. Pe.lo.tões. por. três /0,468 /
Co.bri /5,224 /
Ba.ta.lhão / 0,486 /
Fir.me / 1,738 /
Om.bro/0,536 /
Ar.mas
Comando 2
139
O. ba.ta.lhão. dês.fi.la.rá/ 0,256 /
So.bre o.s a.cor.des. do. Do.bra.do/ 0,232 /
Ba.tis.ta .de .me.lo / 0,886 /
Ba.ta.lhão / 0,464 /
Pa.ra. dês.fi.la / 0,601 /
Co.lu.na .de. pe.lo.tões. por. três / 0,435 /
Po.r in.fil.tra.ção./à. Di.rei.ta /0,695 /
Or.di.ná.rio
Comando 3
Mar.che
Informante 6 masc
Comando 1
Ba.ta.lhão. de. Dês.fi.le / 0,379 / ao .meu. co.man.do /1,000 /
Ba.ta.lhão / 0,475 /sem.ti.do /1,577 /
Em. li.nha. de. Com.pa.nias / 0,522 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tão. por. treis /0,598 /
Co.bri / 2,774 /
Ba.ta.lhão / 0,923 /
Fir.m /4,149 /
Om.bro/ 1,021 /
Ar.mas
Comando 2
O. ba.ta.lhão .des.fi.la.rá /0,219 /
So.b o.s a.cor.des. do.bra.do /0,205 /
a.po.lo on.zi / 0,877 /
ba.ta.lhão /0,364 /
pa.ra. dês.fi.la / 0,313 /
co.lu.na. de. Pe.lo.tões. por. três / 0,333 /
pó.r in.fil.tra.ção à .di.rei.ta / 0,581 /
or.di.ná.rio
Comando 3
Mar.che
Informante 7 masc
Comando 1
Ba.ta.lhão / 0,157 / de. Dês.fi.le /0,167 / ao. Meu. Co.man.do / 0,809 /
Ba.ta.lhão / 0,464 /sen.ti.do / 3,234 /
Em. li.nha. de. Com.pa.nhias / 0,416 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tão /0,297 / por. três / 0,366 /
Co.bri / 2,405 /
Ba.ta.lhão / 0,765 /
Fir.me / 2,033 /
Om.bru/ 0,865 /
Ar.mas
140
Comando 2
O. ba.ta.lhão. dês.fi.la.rá/ 0,283 /
So.bre o.s a.cor.des.do. do.bra.do / 0,336 /
a.via.ção. em.bar.ca.da / 0,970 /
ba.ta.lhão / 0,438 /
pa.ra. dês.fi.lar / 0,334/
co.lu.nas. de. Pe.lo.tão. /0,199/ por .treis / 0,350 /
po.r in.fil.tra.ção /0,369/ à .di.rei.ta / 0,545 /
or.di.ná.rio
Comando 3
Mar.che
Comando de Companhia
Informante 1 fem
Comando 1
Se.gun.da Com.pa.nhia / 0,326 / ao. Meu. Co.man.do.
Comando 2
Se.gun.da. com.pa.nhia. /0,346 /
Pa.ra. dês.fi.lar./0,325 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tões. por. Três./ 0,457 /
Pó.r in.fil.tra.ção./ 0,221 / à. Di.rei.ta. / 0,466 /
Or.di.ná.rio
Mar.che
Comando 3
Se.gun.da. com.pa.nhia. sen.ti.do/ 0,774 /
Em. com.ti.nên.cia a. di.rei. / 0,156 / ta.
Comando de Companhia
Informante 1 masc
Comando 1
Ter.cei.ra. Com.pa.nhia. / 0,234 / ao. Meu. Co.man.do
Comando 2
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. /0,612 /
Pa.ra. dês.fi.lar./0,386 /
Co.lu.na. de. Pe.lo.tões. por. Três./ 0,346 /
Pó.r in.fil.tra.ção./0,306 / à. Di.rei.ta. / 0,397/
Or.di.ná.rio /4,577/
Mar.che
Comando 3
Se.gun.da. com.pa.nhia. sen.ti.do./ 0,405 /
141
Em. com.ti.nên.cia a .di.rei / 0,109/ta
Informante 2 fem
Comando 1
Ter.cei.ra. Com.pa.nhia. /0,272 / ao. Meu. Co.man.do
Comando 2
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. /0,371 /
Pa.ra. dês.fi.lar./ 0,324 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tões. por. Três./0,429 /
Pó.r in.fil.tra.ção. à. Di.rei.ta. /0,456 /
Or.di.ná.rio /5,189/
Ma.che
Comando 3
Se.gun.da. com.pa.nhia. sem.ti.do./ 0,734 /
Em. com.ti.nên.cia. a di.rei.ta.
Informante 2 masc
Comando 1
Ter.cei.ra. Com.pa.nhia. / 0,250 / ao. Meu. Com.an.do
Comando 2
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. /0,367 /
Pa.ra. dês.fi.lar./0,424 /
Co.lu.na. de. Pe.lo.tões. por. Três./ 0,148 /
Pó.r in.fil.tra.ção. à .di.rei.ta. /0,393 /
Or.di.ná.rio. /3,644/
Mar.che
Comando 3
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. sen.ti.do/ 0,822 /
Em. com.ti.nên.cia. a di.rei /0,169/.ta.
Informante 3 masc
Comando 1
Ter.cei.ra. Com.pa.nhia. / 0,216 / ao. Meu. Co.man.do
Comando 2
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. /0,307 /
Pa.ra. dês.fi.lar./0,767 /
Colunas de pelotão por três
Pó.r in.fil.tra.ção. à .di.rei.ta. / 0,283 /
Or.di.ná.rio. /5,321/
mar.che
Comando 3
142
Ter.cei.ra. com.pa.nnia. sen.ti.do/ 0,899 /
Em. com.ti.nên.cia. a di.rei.ta
Informante 4 masc
Comando 1
Ter.cei.ra. Com.pa.nhia. /0,357 / ao. Meu. Co.man.do
Comando 2
Ter.cei.ra. com.pa.nhia /0,519 /
Pa.ra. dês.fi.lar/ 0,423 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tão. por. Três. /0,459 /
Pó.r in.fil.tra.ção./ 0,328 /à. Di.rei.ta. / 0,529 /
Or.di.ná.rio. /4,246/
Mar.che
Comando 3
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. sen.ti.do./ 0,789 /
Em. com.ti.nên.cia a .di.rei.ta.
Informante 5 masc
Comando 1
Ter.cei.ra . Com.pa.nhia. /0,353 / ao. Meu. Co.man.do.
Comando 2
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. / 0,317 /
Pa.ra. dês.fi.lar./ 0,528 /
Co.lu.nas. de. Pe.lo.tões. por. Três. / 0,436 /
Pó.r in.fil.tra.ção./0,132 /à. Di.rei.ta. / 0,342 /
Or.di.ná.rio/ 4,326 /
Mar.che
Comando 3
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. sem.ti.do./ 0,621 /
Em. com.ti.nên.cia a .di.rei.ta.
Informante 6 masc
Comando 1
Ter.cei.ra. Com.pa.nhia ./ 0,196 / ao. Meu. Co.man.do
Comando 2
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. /0,302 /
Pa.ra. dês.fi.lar./0,278 /
Co.lu.na. de. Pe.lo.tões.por. três. / 0,243/
Pó.r in.fil.tra.ção./0,171/ à .di.rei.ta. / 0,311 /
Or.di.ná.rio/ 3,329 /
Mar.che
143
Comando 3
Ter.cei.ra. com.pa.nhia. sen.ti.do./ 0,894 /
Em. com.ti.nên.cia a. di.rei. ta.
Comando de Pelotão
Informante 1 fem
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão / 0,148 / ao. Meu. Co.man.do./0,415/
Pe.lo.tão/0,332/ pa.ra dês.fi.lar/0,262/
Pó.r in.fil.tra.ção./ 0,120 / à. Di.rei.ta. / 0,393 /
Or.di.ná.rio./0,658/ Mar.che/01,654/
Pe.lo.tão. /0,634/Sem.ti.do./0,470/ o.lha.r a. .di.rei.ta/1,141/.
Pe.lo.tão./0,399/ o.lha.r em. fren..te
Informante 2 fem
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão / 0,126 / ao. Meu. Co.man.do./0,549/
Pe.lo.tão/0,258/ pa.ra dês.fi.lar/0,213/
Pó.r in.fil.tra.ção à. Di.rei.ta. / 0,248 /
Or.di.ná.rio./0,638/ Mar.che/0,882/
Pe.lo.tão. /0,376/Sem.ti.do./0,436/ o.lha.r a. .di.rei.ta/1,010/.
Pe.lo.tão./0,402/ o.lha.r em. fren..te
Informante 1 masc
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão / 0,217/ ao. Meu. Co.man.do./0,532/
Pe.lo.tão/0,311/ pa.ra dês.fi.lar/0,263/
Pó.r in.fil.tra.ção/0,199 / à. Di.rei.ta. / 0,310/
Or.di.ná.rio./0,517/ Mar.che/1,152/
Segundo
Pe.lo.tão Sem.ti.do./0,463/ o.lha.r a. .di.rei.ta/1,070/.
Pe.lo.tão/0,457/ o.lha.r em. fren..te
Informante 2 masc
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão / 0,185/ ao. Meu. Co.man.do./0,380/
Pe.lo.tão/0,318/ pa.ra dês.fi.lar/0,190/
Pó.r in.fil.tra.ção/0,110 / à. Di.rei.ta. / 0,346/
Or.di.ná.rio./0,693/ Mar.che/0,875/
Pe.lo.tão /0,598/Sem.ti.do./0,600/ o.lha.r a. .di.rei.ta/0,997/.
Pe.lo.tão/0,575/ o.lha.r em. fren..te
Informante 3 masc
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão / 0,249/ ao. Meu. Co.man.do./0,869/
Pe.lo.tão/0,275/ pa.ra dês.fi.lar/0,315/
Pó.r in.fil.tra.ção/0,069 / à. Di.rei.ta. / 0,587/
Or.di.ná.rio./1,051/ Mar.che/1,486/
Pe.lo.tão /0,151/em.ti.do./1,022/ o.lha.r a. .di.rei.ta/1,366/.
144
Pe.lo.tão/0,384/ o.lha.r em. fren..te
Informante 4 masc
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão. ao. Meu. Co.man.do./0,530/
Pe.lo.tão/0,308/ pa.ra dês.fi.lar/0,323/
Pó.r in.fil.tra.ção/0,091 / à. Di.rei.ta. / 0,465/
Or.di.ná.rio./0,813/ Mar.che/0,733/
Pe.lo.tão /0,347/Sem.ti.do./0,417/ o.lha.r a. .di.rei.ta/0,683/.
Pe.lo.tão/0,449/ o.lha.r em. fren..te
Informante 5 masc
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão./0,321/ ao. Meu. Co.man.do./0,899/
Pe.lo.tão/0,363/ pa.ra dês.fi.lar/0,449/
Pó.r in.fil.tra.ção/0,071 / à. Di.rei.ta. / 0,544/
Or.di.ná.rio./0,662/ Mar.che/1,720/
Pe.lo.tão /0,350/Sem.ti.do./0,676/ o.lha.r a. .di.rei.ta/1,697/
Pe.lo.tão/0,529/ o.lha.r em. fren..te
Informante 6 masc
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão./0,262/ ao. Meu. Co.man.do./0,690/
Pe.lo.tão/0,182/ pa.ra dês.fi.lar/0,253/
Pó.r in.fil.tra.ção/0,121 / à. Di.rei.ta. / 0,469/
Or.di.ná.rio./0,747/ Mar.che/0,815/
Pe.lo.tão .Sem.ti.do./0,557/ o.lha.r a. .di.rei.ta/0,912/
Pe.lo.tão/0,479/ o.lha.r em. fren..te
Informante 7 masc
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão./0,188/ ao. Meu. Co.man.do./0,558/
Pe.lo.tão/0,296/ pa.ra dês.fi.lar/0,525/
Pó.r in.fil.tra.ção/0,224 / à. Di.rei.ta. / 0,352/
Or.di.ná.rio./0,884/ Mar.che/1,473/
Pe.lo.tão /0,501/.Sem.ti.do./0,496/ o.lha.r a. .di.rei.ta/1,794/
Pe.lo.tão/0,368/ o.lha.r em. fren..te
Informante 8 masc
Comando 1
Se.gun.do. Pe.lo.tão./0,197/ ao. Meu. Co.man.do./0,894/
Pe.lo.tão/0,361/ pa.ra dês.fi.lar/0,519/
Pó.r in.fil.tra.ção/0,240 / à. Di.rei.ta. / 0,846/
Or.di.ná.rio./1,328/ Mar.che/3,150/
Segundo Pe.lo.tão .Sem.ti.do./0,657/ o.lha.r a. .di.rei.ta/4,312/
Pe.lo.tão/0,533/ o.lha.r em. fren..te
145
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