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Luciana Mendonça Alves
A prosódia na leitura da criança disléxica
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Letras: Estudos Lingüísticos, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor em
Lingüística.
Orientador: Dr. César Augusto da Conceição Reis
Co-orientadoras: Dra. Ângela Maria Vieira Pinheiro
Dra. Simone Aparecida Capellini
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos
Linha D – Organização Sonora da Comunicação Humana
Belo Horizonte, maio de 2007.
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2
Alves, Luciana Mendonça
A prosódia na leitura da criança disléxica / Luciana
Mendonça Alves
283 f.
Tese (Doutorado) – UFMG / FALE, Belo Horizonte, 2007.
Orientador: Prof. Dr. César Augusto da Conceição Reis.
1. Prosódia 2. Leitura 3. Dislexia
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3
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me capacitou para cada passo em direção a este e a todos os outros
projetos em minha existência, a minha gratidão pelo dom da vida e por cada etapa
vencida.
Aos meus pais, exemplos de vida, apoio e incentivo constante em todos os
momentos, todo o meu amor e toda a minha gratidão nunca serão suficientes para
recompensá-los.
Ao Renato, não somente por acompanhar-me e ajudar-me tanto em todos os
momentos, em cada etapa desta tese, mas, sobretudo, por seu amor, cumplicidade
e companheirismo.
Ao Gabriel, que, mesmo ainda não conhecendo o seu rostinho, já tenho como
inspiração o seu amor e a sua presença em minha vida como força e proteção.
Aos meus orientadores, que iluminaram os meus caminhos. Ao César, que me
acompanha há alguns anos e com quem tanto aprendi, obrigada pela autonomia e
por toda a sua confiança. À Ângela, verdadeiro anjo, que me guiou e acompanhou
de perto em todos os momentos, muito obrigada pela paciência e dedicação. À
Simone, que abriu tantas portas e possibilitou o meu crescimento profissional,
obrigada pelo incentivo e pelas oportunidades.
Aos Profs. Drs. José Olímpio de Magalhães e Ana Luiza Navas, pela análise
cuidadosa do trabalho e pelas preciosas contribuições na qualificação.
Às minhas amigas, Letícia Celeste e Lidiane Coelho, pelo apoio nas análises e pela
disponibilidade em me ajudar nos momentos mais difíceis. À Vanessa Gonçalves,
pela ajuda na coleta do experimento-piloto e pelo suporte em minhas ausências
acadêmicas.
4
Ao Leandro, pela análise estatística dos dados. À Raquel, pela eficiência na
correção do português e pelo cuidado dispensado ao meu trabalho. À Josiane, não
somente pela ajuda no “abstract”, mas pelo exemplo da “irmã mais velha”, de
competência e determinação, obrigada pela inspiração.
A todos os colegas do Laboratório de Fonética, pela convivência e oportunidades de
trocas.
Aos meus amigos e familiares, cujos nomes não é necessário citar, pelo apoio e pela
compreensão em minhas ausências.
A todos os pacientes disléxicos e suas famílias, que prontamente se disponibilizaram
para participar do estudo. E aos estudantes, que cooperaram tanto para a coleta dos
dados. Sem eles, este trabalho não teria acontecido. Meu agradecimento especial à
Juliane França que possibilitou a coleta de dados dos estudantes e à Cíntia Salgado,
que me deu todo o suporte para a coleta de dados dos pacientes disléxicos.
Aos que não foram aqui mencionados, mas que estão em meu coração.
Que Deus abençoe a todos e cubra com a Sua graça e proteção.
A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu
Salvador.” Lc, 1. 47
5
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição dos sujeitos por série........................................................................104
Tabela 2 – Resultados da avaliação fonoaudiológica – GC I.................................................123
Tabela 3 – Resultados da avaliação fonoaudiológica – GC II................................................124
Tabela 4 – Avaliação de leitura de palavras – porcentagem de erros cometidos...................126
Tabela 5 – Tipo de alterações observadas na leitura ..............................................................129
Tabela 6 – Aspectos prosódicos temporais – leitura ..............................................................136
Tabela 7 – Análise estatística dos aspectos prosódicos temporais – leitura...........................138
Tabela 8 – Análise estatística para a localização das pausas durante a leitura – comparação
entre GNC e GC .....................................................................................................................152
Tabela 9 – Média e desvio padrão da localização das pausas durante a leitura – comparação
entre todos os grupos..............................................................................................................153
Tabela 10 – Análise estatística para a localização das pausas durante a leitura – comparação
entre todo os grupos................................................................................................................153
Tabela 11 – Aspectos prosódicos temporais – reconto...........................................................154
Tabela 12 – Análise estatística dos aspectos prosódicos temporais – reconto .......................155
Tabela 13 – Análise estatística para a localização das pausas durante o reconto – comparação
entre GNC e GC .....................................................................................................................163
Tabela 14 – Média e desvio padrão da localização das pausas durante o reconto – comparação
entre todos os grupos..............................................................................................................164
Tabela 15 – Análise estatística para a localização das pausas durante o reconto – comparação
entre todos os grupos..............................................................................................................164
Tabela 16 – Análise estatística dos aspectos prosódicos temporais – leitura x reconto.........166
Tabela 17 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – leitura..........................................175
Tabela 18 – Análise estatística dos valores de F
0
mínima – leitura .......................................176
Tabela 19 – Análise estatística dos valores de F
0
máxima – leitura.......................................177
Tabela 20 – Análise estatística dos valores de F
0
final – leitura ............................................177
Tabela 21 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – enunciados declarativos da leitura
................................................................................................................................................184
Tabela 22 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – enunciados declarativos da leitura
................................................................................................................................................184
6
Tabela 23 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – enunciados declarativos da leitura
................................................................................................................................................184
Tabela 24 – Análise estatística dos valores de F
0
final – enunciados declarativos da leitura 185
Tabela 25 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – enunciados interrogativos da leitura
................................................................................................................................................185
Tabela 26 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – enunciados interrogativos da
leitura......................................................................................................................................185
Tabela 27 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – enunciados interrogativos da
leitura......................................................................................................................................186
Tabela 28 – Análise estatística dos valores de F
0
final – enunciados interrogativos da leitura
................................................................................................................................................186
Tabela 29 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – enunciados exclamativos da leitura
................................................................................................................................................187
Tabela 30 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – enunciados exclamativos da leitura
................................................................................................................................................187
Tabela 31 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – enunciados exclamativos da
leitura......................................................................................................................................187
Tabela 32 – Análise estatística dos valores de F
0
final – enunciados exclamativos da leitura
................................................................................................................................................187
Tabela 33 – Análise estatística dos valores de tessitura – leitura...........................................190
Tabela 34 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – reconto........................................196
Tabela 35 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – reconto .....................................196
Tabela 36 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – reconto.....................................197
Tabela 37 – Análise estatística dos valores de F
0
final – reconto...........................................197
Tabela 38 – Análise estatística dos valores de tessitura – reconto .........................................197
Tabela 39 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – leitura x reconto..........................199
Tabela 40 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – leitura x reconto .......................199
Tabela 41 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – leitura x reconto.......................199
Tabela 42 – Análise estatística dos valores de F
0
final – leitura x reconto ............................199
Tabela 43 – Análise estatística dos valores de tessitura – leitura x reconto...........................200
Tabela 44 – Análise estatística dos valores de duração das vogais tônicas proeminentes e pré-
tônicas dos grupos tonais – leitura..........................................................................................203
7
Tabela 45 – Análise estatística dos valores de duração das vogais tônicas proeminentes e pré-
tônicas dos grupos tonais – reconto........................................................................................204
Tabela 46 – Análise estatística dos valores de duração das vogais tônicas proeminentes e pré-
tônicas dos grupos tonais – leitura x reconto..........................................................................205
Tabela 47 – Análise estatística dos valores de amplitude das vogais tônicas proeminentes e
pré-tônicas dos grupos tonais – leitura ...................................................................................209
Tabela 48 – Análise estatística dos valores de amplitude das vogais tônicas proeminentes e
pré-tônicas dos grupos tonais – reconto .................................................................................209
Tabela 49 – Análise estatística dos valores de amplitude das vogais tônicas proeminentes e
pré-tônicas dos grupos tonais – reconto .................................................................................210
Tabela 50 – Análise estatística dos valores da taxa de velocidade de mudança melódica das
vogais tônicas proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura..................................214
Tabela 51 – Análise estatística dos valores da taxa de velocidade de mudança melódica das
vogais tônicas proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – reconto ................................215
Tabela 52 – Análise estatística dos valores da taxa de velocidade de mudança melódica das
vogais tônicas proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura x reconto..................216
Tabela 53 – Análise estatística dos valores de intensidade das vogais tônicas proeminentes e
pré-tônicas dos grupos tonais – leitura ...................................................................................226
Tabela 54 – Análise estatística dos valores de intensidade das vogais tônicas proeminentes e
pré-tônicas dos grupos tonais – reconto .................................................................................228
Tabela 55 – Análise estatística dos valores de intensidade das vogais tônicas proeminentes e
pré-tônicas dos grupos tonais – leitura x reconto ...................................................................229
Tabela 56 – Análise estatística dos valores de intensidade – leitura......................................232
Tabela 57 – Análise estatística dos valores de intensidade – reconto ....................................232
Tabela 58 – Análise estatística dos valores de intensidade – leitura x reconto......................232
Tabela 59 – Número de acertos no teste objetivo de interpretação do texto..........................234
Tabela 60 – Regressão logística – variáveis prosódicas temporais para o GNC....................239
Tabela 61 – Regressão logística – variáveis prosódicas temporais para o GC ......................239
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Localização das áreas cerebrais envolvidas com a linguagem................................42
Figura 2 – Funcionamento do cérebro – teste de leitura de palavras reais e inventadas..........43
Figura 3 – Modelo de dislexia causada por déficit fonológico.................................................51
Figura 4 – A marca neural da dislexia......................................................................................55
Figura 5 – Áreas corticais – O modelo conexionista................................................................65
Figura 6 – Secção coronal do prosencéfalo no nível do tálamo ...............................................66
Figura 7 – Componentes auditivos da fala na comunicação. Adaptado de Crystal (1969)......67
Figura 8 – Tela do programa WinPitch ilustrando sujeito do GC lendo a frase: “Você quer?”.
................................................................................................................................................109
Figura 9 – Representações da tela do WinPitch, de frases declarativas, exclamativas e
interrogativas de sujeitos do GNC, GC I e GC II...................................................................189
Figura 10 – Tela do programa WinPitch representando leitura de sujeito do GNC lendo a
frase: “O dia está lindo!”. .......................................................................................................192
Figura 11 – Tela do programa WinPitch representando leitura de sujeito do GC I lendo a
frase: “O dia está lindo!”. .......................................................................................................193
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Regiões de atividade cortical relacionadas à memória operacional. .....................39
Quadro 2 – Manifestações lingüístico-cognitivas. ...................................................................61
Quadro 3 – Medidas de aspectos temporais ...........................................................................112
Quadro 4 – Medida da taxa de velocidade de mudança melódica (t’Hart et al., 1990) .........115
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Média e desvio padrão dos valores de tempo total de elocução para a leitura....139
Gráfico 2 – Média e desvio padrão dos valores de tempo de articulação para a leitura.........141
Gráfico 3 – Média e desvio padrão dos valores de taxa de elocução para a leitura ...............143
Gráfico 4 – Média e desvio padrão dos valores de taxa de articulação para a leitura............145
Gráfico 5 – Média e desvio padrão do número de sílabas produzidas para a leitura. ............147
Gráfico 6 – Média e desvio padrão do número de pausas produzidas para a leitura..............148
Gráfico 7 – Média e desvio padrão dos valores de duração das pausas para a leitura. ..........150
Gráfico 8 – Média e desvio padrão dos valores de tempo total de elocução para o reconto:
GNC x GC ..............................................................................................................................157
Gráfico 9 – Média e desvio padrão dos valores de tempo total de elocução para o reconto:
GNC x GC I............................................................................................................................157
Gráfico 10 – Média e desvio padrão dos valores de taxa de articulação para o reconto: GNC x
GC I ........................................................................................................................................160
Gráfico 11 – Média e desvio padrão dos valores de duração das pausas para o reconto: GNC x
GC...........................................................................................................................................162
Gráfico 12 – Média e desvio padrão dos valores de duração das pausas para o reconto: GNC x
GC I ........................................................................................................................................162
Gráfico 13 – Médias obtidas dos valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para a leitura
................................................................................................................................................175
Gráfico 14 – Médias obtidas para os valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para a
leitura de enunciados em cada modalidade pelos sujeitos do GNC. ......................................179
Gráfico 15 – Médias obtidas para os valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para a
leitura de enunciados em cada modalidade pelos sujeitos do GC I........................................180
Gráfico 16 – Médias obtidas para os valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para a
leitura de enunciados em cada modalidade pelos sujeitos do GC II. .....................................181
Gráfico 17 – Médias obtidas para os valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para o
reconto dos sujeitos do GNC..................................................................................................194
Gráfico 18 – Valores comparativos de tessitura – leitura x reconto.......................................201
Gráfico 19 – Médias obtidas para os valores de duração da vogal tônica proeminente – leitura
x reconto .................................................................................................................................206
11
Gráfico 20 – Médias obtidas para os valores de duração da vogal pré-tônica – leitura x reconto
................................................................................................................................................207
Gráfico 21 – Médias obtidas para os valores de amplitude da vogal tônica proeminente do
grupo tonal – leitura x reconto................................................................................................211
Gráfico 22 – Médias obtidas para os valores de amplitude da vogal pré-tônica do grupo tonal
– leitura x reconto...................................................................................................................212
Gráfico 23 – Médias obtidas para os valores da taxa de velocidade de mudança melódica –
leitura......................................................................................................................................214
Gráfico 24 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
declarativos na vogal da sílaba tônica proeminente. ..............................................................217
Gráfico 25 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
declarativos na vogal da sílaba pré-tônica..............................................................................218
Gráfico 26 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
interrogativos na vogal da sílaba tônica proeminente. ...........................................................219
Gráfico 27 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
interrogativos na vogal da sílaba pré-tônica...........................................................................220
Gráfico 28 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
exclamativos na vogal da sílaba tônica proeminente..............................................................221
Gráfico 29 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
exclamativos na vogal da sílaba pré-tônica............................................................................222
Gráfico 30 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para o reconto na vogal da sílaba
tônica proeminente. ................................................................................................................223
Gráfico 31 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para o reconto na vogal da sílaba
pré-tônica................................................................................................................................224
Gráfico 32 – Médias obtidas para os valores de intensidade na vogal da sílaba tônica
proeminente ............................................................................................................................230
Gráfico 33 – Médias obtidas para os valores de intensidade na vogal da sílaba pré-tônica...231
Gráfico 34 – Médias obtidas para os valores de intensidade do grupo tonal .........................233
Gráfico 35 – Média e desvio padrão do número de acertos no teste objetivo de interpretação
do texto ...................................................................................................................................235
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................17
CAPÍTULO 1 ...........................................................................................................................22
A LEITURA E OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM...............................................22
1.1 AQUISIÇÃO DA LEITURA .........................................................................................23
1.1.1 Processamento fonológico e memória.....................................................................37
1.2 CAUSAS DA DISLEXIA ..............................................................................................50
1.3 DEFINIÇÃO DE DISLEXIA.........................................................................................55
CAPÍTULO 2 ...........................................................................................................................63
PROSÓDIA ..............................................................................................................................63
2.1 PROSÓDIA: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS .......................................................64
2.1.1 Bases neurológicas da prosódia...............................................................................64
2.1.2 Prosódia x aspectos supra-segmentais da linguagem ..............................................66
2.1.3 Definição de prosódia..............................................................................................69
2.1.4 Entonação, acento lexical e acento frasal ................................................................72
2.1.5 A teoria de Halliday.................................................................................................75
2.2 LEITURA EM VOZ ALTA E PROSÓDIA...................................................................80
2.3 DISLEXIA E PROSÓDIA .............................................................................................92
CAPÍTULO 3 ...........................................................................................................................97
METODOLOGIA.....................................................................................................................97
3.1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................98
3.2 AMOSTRA.....................................................................................................................99
3.3 PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DA AMOSTRA................................................100
3.3.1 A seleção do grupo clínico ....................................................................................100
3.3.2 A seleção do grupo não-clínico .............................................................................101
3.3.3 O pareamento da amostra ..........................................................................................103
3.3.4 Aspectos éticos ......................................................................................................104
3.4 PROCEDIMENTOS DA COLETA DOS DADOS .....................................................105
3.4.1 Local da coleta dos dados......................................................................................105
3.4.2 Aplicação dos procedimentos para a coleta de dados............................................106
3.4.3 Equipamentos ........................................................................................................107
3.5 PARÂMETROS DE ANÁLISE...................................................................................108
13
3.5.1 Análises perceptiva e fonológica...........................................................................108
3.5.2 Análise acústica.....................................................................................................109
3.5.3 Tratamento estatístico dos dados...........................................................................116
CAPÍTULO 4 .........................................................................................................................118
RESULTADOS E DISCUSSÃO ...........................................................................................118
4.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................119
4.2 AVALIAÇÃO INTERDISCIPLINAR DOS SUJEITOS DO GRUPO CLÍNICO ......120
4.3 ASPECTOS GERAIS DA LEITURA – ANÁLISE QUALITATIVA ........................128
4.4 ANÁLISE FONOLÓGICA ENTONATIVA ...............................................................132
4.4.1 Tonalidade e tonicidade.........................................................................................133
4.5 ANÁLISE DOS ASPECTOS PROSÓDICOS TEMPORAIS .....................................135
4.5.1 Aspectos prosódicos temporais – leitura ...............................................................136
4.5.2 Aspectos prosódicos temporais – reconto .............................................................153
4.5.3 Aspectos prosódicos temporais – leitura x reconto ...............................................165
4.6 ANÁLISE DOS ASPECTOS PROSÓDICOS DE F
0
E INTENSIDADE ...................174
4.6.1 Freqüência fundamental – Aspecto global ............................................................174
4.6.2 Aspectos locais da configuração melódica............................................................202
4.6.3 Média geral de intensidade....................................................................................231
4.7 ANÁLISE DOS ASPECTOS RELACIONADOS À COMPREENSÃO DO TEXTO234
4.8 CORRELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS PESQUISADAS E A COMPREENSÃO
DO TEXTO ........................................................................................................................238
CAPÍTULO 5 .........................................................................................................................243
CONCLUSÃO........................................................................................................................243
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................251
ANEXOS................................................................................................................................270
ANEXO A – DEFINIÇÃO OPERACIONAL DOS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DE
LEITORES EM CATEGORIAS PELOS PROFESSORES...................................................271
ANEXO B – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA FCM – UNICAMP
................................................................................................................................................274
ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS
SUJEITOS DISLÉXICOS......................................................................................................276
ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS
SUJEITOS DO GRUPO NÃO-CLÍNICO..............................................................................277
14
ANEXO E – TEXTO PARA LEITURA EM VOZ ALTA....................................................278
ANEXO F – ATIVIDADE OBJETIVA DE INTERPRETAÇÃO DO TEXTO....................279
ANEXO G – VALORES ABSOLUTOS DA OCORRÊNCIA PARA CADA DIREÇÃO DA
CURVA DE F
0
ENCONTRADA NA VOGAL TÔNICA PROEMINENTE E PRÉ-TÔNICA
– NOS ENUNCIADOS DECLARATIVOS DA LEITURA..................................................280
ANEXO H – VALORES ABSOLUTOS DA OCORRÊNCIA PARA CADA DIREÇÃO DA
CURVA DE F
0
ENCONTRADA NA VOGAL TÔNICA PROEMINENTE E PRÉ-TÔNICA
– NOS ENUNCIADOS INTERROGATIVOS DA LEITURA .............................................281
ANEXO I – VALORES ABSOLUTOS DA OCORRÊNCIA PARA CADA DIREÇÃO DA
CURVA DE F
0
ENCONTRADA NA VOGAL TÔNICA PROEMINENTE E PRÉ-TÔNICA
– NOS ENUNCIADOS EXCLAMATIVOS DA LEITURA.................................................282
ANEXO J – VALORES ABSOLUTOS DA OCORRÊNCIA PARA CADA DIREÇÃO DA
CURVA DE F
0
ENCONTRADA NA VOGAL TÔNICA PROEMINENTE E PRÉ-TÔNICA
– RECONTO ..........................................................................................................................283
15
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo conhecer o funcionamento prosódico da
leitura em voz alta das crianças disléxicas. Apresentamos, inicialmente, uma revisão
bibliográfica que consta de um breve apanhado das principais teorias sobre o
desenvolvimento normal da linguagem escrita e seus aspectos lingüísticos,
neurológicos e cognitivos. Passamos a uma conceituação do termo dislexia, sua
descrição e etiologia. Em seguida, introduzimos o campo de estudo da prosódia e
sua aplicação aos estudos sobre a dislexia. A nossa metodologia consistiu na
gravação da leitura de um texto, com posterior atividade de reconto e interpretação
deste por 40 estudantes, sendo 10 disléxicos (grupo clínico) e 30 do grupo não-
clínico, com idade entre 9 e 14 anos, cursando da 3
a
à 5
a
série. Os dados foram
analisados acusticamente, utilizando-se o programa WinPitch, além da análise
perceptiva. Foram analisados os aspectos prosódicos temporais e melódicos da
leitura oral e do reconto dos sujeitos, com correlação desses achados com os dados
obtidos pelos testes objetivos de interpretação. Os resultados nos permitem delinear
uma tendência na estruturação entonativa e temporal da leitura em voz alta das
crianças dos dois grupos estudados, apontando para características peculiares aos
sujeitos disléxicos pesquisados, como: aspectos relacionados à variação da
freqüência fundamental (tais sujeitos demonstram, visivelmente, uma restrição na
habilidade de variar a melodia e também de marcar a modalidade frasal através
deste recurso), aspectos relacionados ao processamento temporal (utilização
excessiva das pausas e fora da sua localização habitual; velocidade de leitura e
articulação reduzidas) e as dificuldades na marcação rítmica e da tônica
proeminente. A prosódia apresenta-se, neste contexto, como um reflexo das
habilidades de interpretação e também de decodificação, servindo como uma
medida diagnóstica dessas capacidades.
16
ABSTRACT
The present work aims to get to know the prosodic functioning of the reading aloud of
the dyslexic children. We initially present a bibliographical revision that consists of the
main theories on the normal development of the written language and its linguistic,
neurological and cognitive aspects. We go through a conceptualization of the term
dyslexia, its description and etiology. After that, we introduce the field of study of the
prosody and its application to the studies of dyslexia. Our methodology consisted of
the recording of the reading of a text, with posterior activity of recalling and
interpretation of this text by 40 students, being 10 dyslexic (the clinical group) and 30
of the non-clinical group, all aged between 9 and 14 years, attending the third to fifth
grades. The data was analyzed acoustically, using the WinPitch program, apart from
a perceptual analysis. The temporal and melodic prosodical aspects of the oral
reading and of the students’ recount were analyzed and correlations between these
findings and the data of the objective tests of interpretation were carried out. The
results allowed us to delineate a trend in the entonative and temporal structure of the
reading aloud of the children of the two groups studied, pointing to peculiar features,
such as aspects related to the variation of the basic frequency (demonstrating clearly
a restriction in the ability to vary the melody and also to mark the frasal modality
through this resource), aspects related to the temporal processing (extreme use of
the pauses and out of its usual localization, reading speed and reduced articulation)
and the difficulties in marking out rhythm and prominent tonic, clearly associated with
a profile that can be attributed to the dyslexic children studied. The prosody is
presented, in this context, as a consequence of the abilities of interpretation and of
decoding, also serving as a diagnostic measure of these capacities.
17
INTRODUÇÃO
18
No Brasil, as cifras de dificuldade escolar são assustadoras: cerca de 30 a 40% da
população que freqüenta as primeiras séries do Ensino Fundamental têm algum tipo
de dificuldade. Desse percentual, em torno de 3 a 5% da população, tanto no Brasil
quanto em países, como, a Inglaterra e os Estados Unidos (CIASCA, 2003),
apresentam uma dificuldade específica na aprendizagem da leitura. Essa dificuldade
é denominada “dislexia do desenvolvimento” ou simplesmente “dislexia”.
Diante desse percentual embora baixo mas que não pode ser negligenciado, torna-
se clara a necessidade imediata de se contribuir para o aprofundamento do
conhecimento da dislexia. Os estudos sobre essa condição têm abrangido, em sua
maior parte, questões neurológicas, psicológicas e pedagógicas. No campo da
lingüística, muito pouco se tem pesquisado em nosso país sobre a dislexia (pelo
menos diretamente), o que é surpreendente já que a lingüística, como o estudo
científico da linguagem, sem dúvidas, muito tem a contribuir para o entendimento
das dificuldades daqueles que apresentam pouco sucesso na aprendizagem da
leitura e da escrita. Além das pesquisas no Brasil sobre a dislexia serem escassas,
os achados de estudos feitos em outros países não são prontamente generalizáveis
às nossas crianças. Tanto os sistemas de escrita (mesmos os alfabéticos) quanto as
influências sócio-educacionais e motivacionais variam de país a país, mesmo
levando-se em conta as regularidades inerentes à cognição humana que, a um nível
profundo, independem de fatores lingüísticos, sociais, culturais e educacionais.
Considerando a pouca expressão da lingüística no estudo da dislexia no Brasil, este
trabalho procura entender a leitura da criança disléxica com referência a aspectos
lingüísticos, em particular os entonativos, do ponto de vista fonético, já que, de
19
acordo com o nosso conhecimento, a relação entre prosódia e dislexia é
escassamente explorada na literatura, assim como o é a relação entre prosódia e
leitura normal em crianças.
As contribuições teóricas desta pesquisa se dão, pois, no sentido de se tentar
entender alguns aspectos do funcionamento lingüístico do discurso tanto em
crianças com desenvolvimento normal da leitura quanto em crianças disléxicas, no
que se refere à produção verbal na leitura em voz alta e à relação dos elementos
prosódicos com a capacidade de interpretação de um texto lido.
Uma compreensão adequada das características prosódicas de leitura e de
produção de fala da criança disléxica nos habilitará a desenvolver estratégias de
intervenção para essa condição. A expectativa é de que a descrição do perfil das
características entonativas associadas à dislexia poderá ser utilizada como mais um
recurso para o auxílio aos procedimentos de avaliação e diagnóstico dessa
condição.
A nossa hipótese é a de que as dificuldades de decodificação do texto escrito
apresentadas pelos disléxicos podem refletir na organização prosódica deste,
dificultando a sua leitura. Assim, o nosso grande desafio é entender como é a
organização prosódica durante a leitura do disléxico e identificar como essa
organização pode contribuir para uma melhor compreensão da dislexia e da
prosódia. Sabemos que a prosódia permite uma grande variabilidade de padrões.
Entretanto, na leitura em voz alta, há um certo padrão que é facilmente reconhecível
como um modelo de leitura. Procuramos, assim, delimitar exemplos comuns aos
20
indivíduos disléxicos. Acreditamos também que existe uma estreita relação entre os
aspectos prosódicos e a compreensão de textos, por isso a nossa proposta é
também investigar como esses dois aspectos se relacionam.
Apresentaremos, a seguir, os objetivos que nortearão nossa proposta de trabalho.
Objetivo geral
Propomos analisar, do ponto de vista fonético, os aspectos entonativos e outros
aspectos supra-segmentais presentes na leitura em voz alta das crianças disléxicas,
comparando-os à leitura em voz alta de seus pares – crianças do grupo não-clínico,
sem queixas de alterações de linguagem ou de aprendizagem –, a fim de verificar
quais são as características entonativas peculiares da dislexia, relacionando-as com
aspectos de compreensão da linguagem escrita.
Objetivos específicos
Apresentamos os seguintes pontos como aspectos centrais da nossa proposta
investigativa:
1 - fazer uma análise entonativa da leitura em voz alta das crianças disléxicas, em
seus aspectos acústicos de freqüência fundamental (F
0
), duração e intensidade,
comparando essa análise à de crianças do grupo não-clínico;
21
2 - relacionar os achados referentes à análise fonética aos dados de compreensão
de texto, verificando a inter-relação entre as características da fala e a
compreensão da leitura;
3 - analisar também, comparativamente, outros aspectos prosódicos relacionados,
como pausa e organização temporal;
4 - verificar se o programa de reeducação das habilidades de consciência
fonológica, aplicado à parte da amostra de crianças disléxicas, causou algum
impacto no desempenho dos aspectos prosódicos estudados, em comparação
com o grupo que não recebeu tal tratamento.
22
CAPÍTULO 1
A LEITURA E OS TRANSTORNOS DE
APRENDIZAGEM
23
Neste capítulo, propomos uma revisão da literatura por meio da qual buscaremos
suporte teórico para nossas hipóteses, seguindo um percurso a partir de uma
definição de leitura e dos processos de aquisição desta pelo leitor proficiente. Em
seguida, passamos à definição de dislexia, às características dessa condição e sua
diferenciação de outros distúrbios da aprendizagem. Tentaremos, ainda, levantar os
fatores causais da dislexia, no que se refere aos aspectos prosódicos analisados.
1.1 AQUISIÇÃO DA LEITURA
A leitura é uma atividade mental extremamente complexa e requer o uso de
diferentes processos cognitivos, que vão desde o reconhecimento de palavras e o
acesso ao seu significado, passando pela divisão sintática, pela análise semântica e
pela interpretação de todo o texto lido. Ela pode ser definida e investigada sob vários
ângulos, relacionando-se a diversas perspectivas teórico-metodológicas. Em uma
abordagem psicolingüística cognitiva, consideram-se essenciais para a atividade de
leitura dois processos fundamentais: a decodificação e a compreensão. Morais;
Kolinsky; Grimm-Cabral (2004, p. 54), dentro dessa abordagem, afirmam que “Ler é
extrair a pronúncia que corresponde a uma representação gráfica da linguagem
falada. Sendo o material escrito geralmente portador de sentido, o objetivo da leitura
é o de extrair esse sentido”.
24
Vemos, assim, que a leitura pode ser concebida como processo ativo de
decodificação, de busca e extração de informação de um texto
1
, de reconstrução de
sentido e compreensão (KATO, 1985; SILVA, 1981). Essa visão, no entanto, pode
ainda ser ampliada, se considerarmos estudos como os de Benveniste (1976),
Bahktin (1981) e Orlandi (1987), que têm suas origens nas teorias da enunciação e
na análise do discurso. Esses autores concebem a leitura como processo de
interlocução, delineada pela atividade discursiva, que constitui as interações sociais.
Sabemos que a atividade discursiva, inicialmente, está em quem produz o texto, no
entanto, consideramos mais adequada a forma de entender a leitura proposta pelos
últimos autores citados, pois ela traz a noção de que o indivíduo que lê não está
somente decodificando e internalizando um conteúdo pronto, mas está também
interagindo e dialogando com o texto.
A leitura competente é, portanto, uma habilidade que pressupõe o investimento de
várias funções cognitivas – entre elas, a lingüística – estabelecendo uma interação
do indivíduo com o texto lido, interação esta que vai além do processo de
decodificação e compreensão. É uma atividade de interlocução, de produção de
sentido.
Essa concepção de leitura é muito importante para o desenvolvimento do presente
trabalho, pois não se pretende aqui criar um perfil fixo, um comportamento pré-
determinado no qual todas as crianças com dislexia deverão estar enquadradas,
mesmo porque, isso seria impossível. Cada indivíduo é único, tem suas habilidades,
1
Entendemos o termo texto, a partir da noção de Halliday; Hasan (1993), como qualquer passagem,
falada ou escrita (no caso do presente trabalho, escrita) que forma um todo unificado. Uma linguagem
que é funcional, com propostas a persuadir, a envolver o interlocutor. É “um exemplo significativo da
linguagem escrita: pode ir desde uma palavra até um livro inteiro.” (SMITH, 1978).
25
seus potenciais, suas limitações e uma “bagagem” diferenciada, um conhecimento
de mundo que é só seu. Cada leitura de cada criança traz consigo todo um processo
de construção pessoal, permeada de interferências educacionais, culturais,
emocionais, entre outras várias. No entanto, é importante enfatizar que, a despeito
das diferenças individuais entre leitores, a Psicologia Cognitiva tem descrito padrões
de leitura que são característicos tanto do leitor normal em diferentes níveis de
aquisição da leitura quanto do comportamento daqueles com diferentes tipos de
dislexia – seja esta adquirida ou dislexia do desenvolvimento – e que esses padrões
podem ser identificados em diferentes ortografias
2
.
Feitas estas ponderações, discutiremos a seguir algumas questões referentes ao
processo de desenvolvimento da leitura, a começar de como é feito o
reconhecimento visual das palavras.
As pesquisas sobre os processos envolvidos na leitura abrangem dois aspectos: a
leitura de palavras em contexto e a leitura de palavras isoladas. Infelizmente, ainda
não existem muitos estudos consistentes no campo da Psicologia Cognitiva
abordando a leitura de palavras em contexto. Por outro lado, grande parte dos
trabalhos experimentais que têm levado à formulação dos modelos de leitura teve
como base a investigação dos fatores que exercem influência no processamento de
palavras isoladas. Embora esta concepção pareça limitada, foram as pesquisas com
o reconhecimento de palavras que embasaram e ainda embasam as concepções de
aquisição da leitura, do acesso à pronúncia e ao significado. Passemos à descrição
do modelo mais referenciado na literatura e de aplicação em nosso trabalho.
2
Para exemplos de estudos na área de reconhecimento de palavras com amostra de crianças
brasileiras, ver os estudos de Pinheiro (1995, 1999, 2001).
26
Há duas classes principais de modelos de reconhecimento visual de palavras: o
modelo da dupla rota – originalmente proposto por Morton (1969, 1979), cujas
versões reformuladas e amplamente aceitas são os modelos de Ellis; Young (1988)
e o de Coltheart; Rastle; Perry; Langdon; Ziegler (2001) – e o modelo conexionista
(McCLELLAND; RUMELHART, 1981; SEIDENBERG; McCLELLAND, 1989; PLAUT;
McCLELLAND; SEIDENBERG; PATTERSON, 1996). Faremos uma breve descrição
do funcionamento apenas do modelo de dupla-rota, uma vez que essa teoria é a
mais utilizada para a definição e o diagnóstico da dislexia.
O reconhecimento competente de palavras escritas em um sistema alfabético de
escrita, ou seja, o acesso à sua pronúncia e significado, pode, de acordo com o
modelo de dupla rota, ser obtido por meio de dois processos ou rotas: um processo
indireto, envolvendo a mediação fonológica (que se dá por meio da rota fonológica),
e um direto, que é a leitura pela rota lexical.
De acordo com esse modelo de dupla rota, a leitura pela rota fonológica depende da
utilização do conhecimento de regras de conversão entre grafema e fonema
3
para a
construção da pronúncia de uma palavra. Há, para tanto, a identificação do código
3
Os grafemas são unidades da linguagem escrita. São formados por uma ou mais letras, como o
grafema “l”, ou “lh”. Cada grafema corresponde a um fonema e o número de grafemas pode não
coincidir com o número de letras das palavras. A palavra chuva, por exemplo, é formada de cinco
letras c-h-u-v-a, e de quatro grafemas “ch-u-v-a” que, por sua vez, correspondem a quatro fonemas /-
u-v-a/. Os fonemas – escritos entre barras “/ /” por convenção da lingüística – são unidades da
linguagem falada. São sons que distinguem significados, como os fonemas /t/ e /d/ nas palavras tia
/´tia/ e dia /´dia/. Os sons que não distinguem significados, por serem variações de pronúncia para
um mesmo fonema, são chamados alofones ou variantes.
27
fonológico criado; pelo sistema de reconhecimento auditivo de palavras (léxico
4
em
que as palavras faladas são arquivadas), o significado das palavras é acessado
como se estas tivessem sido ouvidas e não lidas.
Já a leitura via rota lexical é dependente do conhecimento prévio (ou
reconhecimento) de uma palavra que já foi memorizada no sistema de
reconhecimento visual de palavras (léxico em que as palavras escritas são
arquivadas, também conhecido como léxico ortográfico) e é também dependente da
recuperação do significado e pronúncia dessa palavra via acesso direto ao léxico.
Desta forma, na leitura pela rota lexical, a pronúncia das palavras é obtida de modo
integral, e as palavras de diferentes níveis de regularidade alfabética (regularidade
da correspondência grafema-fonema) podem ser lidas sem problemas,
particularmente as palavras familiares e de alta freqüência que já se encontram
armazenadas no léxico de cada indivíduo.
A leitura pela rota fonológica, que depende das regras de conversão fonológica, é
utilizada para o reconhecimento de palavras de baixa freqüência e não-familiares,
que não estão representadas no léxico e que deverão ser decodificadas. A
pronúncia via rota fonológica pode ocorrer de forma incorreta para as palavras
irregulares (com correspondência grafema-fonema que não seguem regras, por
exemplo, bolo e fixo), e podem inclusive, acontecer erros de compreensão na leitura
4
Entendemos que o termo léxico constitui, seguindo os pressupostos de Basílio (1980), tanto uma
lista de itens lexicais quanto um sistema de regras que dê conta de sua capacidade de relacionar
itens lexicais uns aos outros, analisar a estrutura interna desses itens, e formar novas palavras
(naturalmente, rejeitando aquelas agramaticais).
28
de homônimos. Já as não-palavras
5
e as palavras regulares
6
são lidas com sucesso
pela rota fonológica. Ressaltamos que essa especialização ocorre apenas nos
estágios iniciais de aquisição da leitura. Na leitura competente, tanto as palavras de
alta freqüência quanto as de baixa freqüência são lidas, predominantemente, pela
rota lexical.
Os teóricos que defendem a teoria de dupla rota de leitura tomam um número de
efeitos como evidência da existência de duas rotas (lexical e fonológica) que,
embora independentes, mostram grande interação entre si. Um desses efeitos é o
efeito de regularidade, em que as palavras regulares são lidas mais rapidamente e
corretamente do que as palavras irregulares, já que as palavras irregulares, quando
lidas pela rota fonológica, podem produzir erros de regularização (a correspondência
grafema-fonema irregular é lida como se fosse regular). Outro efeito é o lexical, ou
seja, o contraste entre a leitura de palavras e não-palavras. Pelo modelo de dupla
rota, a leitura de não-palavras é feita pelo procedimento fonológico no qual um
sistema de regras que especificam as relações entre grafemas e fonemas é
utilizado. As não-palavras precisam ser decodificadas dessa maneira, porque elas
não estão representadas no léxico e, portanto, não podem ser reconhecidas pelo
procedimento baseado na identificação da palavra integralmente.
5 Seqüências de letras, construídas com estruturas ortográficas possíveis em uma língua, mas não
associadas a nenhum significado. No caso do português, podemos citar, como exemplo, as não-
palavras vopegas e mepação (PINHEIRO, no prelo).
6 Pinheiro (no prelo) considera regulares as palavras cujos grafemas sempre representam o mesmo
fonema (ou cujos fonemas são sempre transcritos pelos mesmos grafemas) ou que apresentem
grafemas e fonemas em seu contexto mais comum, ou seja, os grafemas recebendo o seu primeiro
valor fonético (por exemplo, o “l” antes de vogal) e os fonemas representados por grafemas em seu
primeiro contexto (por exemplo, /k/ representado por “c” antes de “a, o, u”), além de grafemas que
representam um fonema na maioria dos contextos, independente de representações ambíguas desse
fonema em contextos específicos.
29
A depender da filosofia pedagógica pela qual a criança foi alfabetizada, ela
inicialmente terá mais facilidade em utilizar uma rota específica. Assim, se
alfabetizada pelo método fônico, por exemplo, a criança aprenderá a ler inicialmente
via rota fonológica; já se aprendeu a ler pelo método global, ela tenderá a ler, a
princípio, utilizando-se do que é chamado de leitura logográfica, que é uma forma
rudimentar de reconhecimento visual de palavras, denominada por muitos teóricos
como fase logográfica (como veremos a seguir). No entanto, após adquirir
proficiência em leitura, as palavras reais passarão a ser reconhecidas por meio do
processo ortográfico que, segundo Morton (1989), corresponde à fase ortográfica de
leitura que sinaliza a leitura competente, efetuada pela rota lexical. Já a leitura de
palavras desconhecidas e a de não-palavras será feita pelo processo fonológico.
O modelo de dupla rota que acabamos de descrever é muito importante para o
presente trabalho, pois, tanto na clínica neuropsicológica quanto na
psicopedagógica, a definição dos tipos de dislexia é feita considerando-se os danos
a esse modelo de leitura, conforme será apresentado na seção 1.3. Dada esta
explicação sobre o modelo dupla rota de reconhecimento visual de palavras,
passaremos agora à apresentação de algumas teorias que buscam uma explicação
sobre como a leitura e a escrita são adquiridas gradativamente até se obter a
proficiência.
Várias teorias foram construídas a fim de descrever o processo gradual de
aprendizagem da linguagem escrita pela criança. Algumas dessas propostas
(CHALL, 1983; FERREIRO; TEBEROSKY, 1985; FRITH, 1985) trazem uma visão de
desenvolvimento por meio de estágios, em que é necessário que se alcance um
30
determinado estágio do desenvolvimento na leitura ou na escrita para se chegar ao
seguinte. Estes estágios variam em cada teoria, com relação ao número e às
características de cada um.
No Brasil, até recentemente, a teoria de Ferreiro; Teberosky (1985) sobre o
desenvolvimento da escrita foi muito utilizada como o referencial teórico para
orientar o professor na condução do processo de alfabetização e para a avaliação
desse processo. Atualmente, muitos pesquisadores têm optado pela teoria de Frith
(1985) por ela explicar tanto o desenvolvimento da escrita quanto o da leitura e por
oferecer definições operacionais de cada fase de desenvolvimento dessas
habilidades. No entanto, ambas as teorias apresentam limitações, pois há consenso
na literatura sobre o fato de que, dependendo do método de alfabetização e do tipo
de língua que aprendem a ler, as crianças podem alcançar proficiência nas fases
iniciais da aquisição da leitura em ritmos diferentes (por exemplo, SEYMOUR; ARO;
ERSKINE, 2003) e não passar, necessariamente, pela mesma seqüência de fases
de desenvolvimento (PINHEIRO, 1995; WIMMER; HUMMER, 1990). Teorias tais,
como a de Ehri (2003) e Share (1995), nos mostram o estado da arte sobre as
concepções atuais a respeito do desenvolvimento da leitura e da escrita. Elas são
importantes porque oferecerem uma visão flexível do curso de aquisição da
linguagem escrita e porque explicam adequadamente os mecanismos subjacentes
ao aprimoramento gradual da proficiência dessa competência.
De acordo com a teoria de Ehri (2003), as crianças passam por quatro fases na
medida em que vão aprendendo a reconhecer palavras por input visual. Essas fases
são nomeadas de forma a refletir de que maneira o sistema alfabético (fonológico)
31
está envolvido nas conexões que são formadas. A primeira fase é a pré-alfabética,
em que as crianças lembram as pistas visuais, mas não-fonológicas associadas às
palavras. Elas ainda não formam conexões entre as letras (grafemas) e os seus
respectivos sons (fonemas)
7
para ler palavras, mas tentam reconhecer as palavras
com base em suas características visuais salientes que, por sua vez, servem de
pistas para a leitura de palavras visualmente semelhantes. Assim as crianças podem
cometer erros de substituição de palavras, tal como, ler a palavra facão como feijão,
como exemplifica Pinheiro (no prelo). Esse é o estágio logográfico inicialmente
descrito por Frith (1985).
As crianças progridem para a próxima fase à medida que aprendem os nomes e os
sons das letras do alfabeto e utilizam essa informação para iniciar a aprendizagem
do processo de decodificação fonológica que consiste no uso das regras de
correspondência entre grafema e fonema para ler palavras. Nessa segunda fase,
que é chamada alfabética parcial, as crianças, freqüentemente, decodificam apenas
o primeiro e o último grafema das palavras. Têm, portanto, muitas dificuldades em
ler palavras não-familiares.
À medida que a habilidade de conexão grafema-fonema vai evoluindo, as crianças
vão entrando para a terceira fase que é chamada de alfabética plena. Nessa fase,
todas as associações entre grafemas e fonemas são memorizadas, o que permite
que as crianças decodifiquem palavras não-familiares. As conexões grafo-fonêmicas
vão, aos poucos, tornando-se consolidadas em unidades maiores que podem ser
morfemas, sílabas ou partes das sílabas.
7
Alguns autores não fazem a distinção entre os termos letra e grafema, e som e fonema.
32
Assim, à medida que os leitores aprendem a reconhecer unidades maiores e as
utilizam para ler e escrever, eles direcionam-se para a próxima e última fase que
recebe a denominação de alfabética consolidada. Nesta, as crianças utilizam uma
mistura de informações silábicas e intra-silábicas para ler as palavras. Unidades
maiores são utilizadas para o reconhecimento visual das palavras, e o número de
conexões necessárias para guardar palavras na memória é menor, já que o morfema
passa a ser a unidade de reconhecimento predominante. Dessa forma, o léxico
ortográfico – dicionário interno que contém as palavras que o leitor conhece de
forma escrita – cresce rapidamente.
A operação das fases alfabética parcial e alfabética plena corresponde ao
procedimento fonológico (leitura via rota fonológica), e a da fase alfabética
consolidada corresponde ao procedimento lexical (leitura via rota lexical) do modelo
de dupla-rota descrito anteriormente.
Tentando agora fazer um paralelo entre as fases de desenvolvimento da leitura e da
escrita de Ehri (2003) com as de outros autores, as fases “pré-alfabética”, “alfabética
parcial e plena” e “alfabética consolidada” correspondem, respectivamente, às fases
logográfica, alfabética e ortográfica, postuladas por Frith (1985) e por Seymour;
MacGregor (1984).
Diferentemente desses autores, para Ehri (2003), não há pré-requisitos para se
passar de uma fase para a outra, ou seja, as fases emergem sucessivamente, mas
as crianças podem utilizar processos de mais de uma fase ao aprender a ler
33
palavras. As fases simplesmente caracterizam os tipos predominantes de
conhecimento alfabético utilizado.
Assim, ao discutir o desenvolvimento da leitura, Ehri (2003), como Share (1995),
prescinde da noção de pré-requisitos, implícita na teoria de Frith (1985), Seymour;
MacGregor (1984) e de outros autores. Ehri (2003) e Share (1995) defendem,
portanto, a noção de habilidades de leitura que emergem sucessivamente, mas que
se constituem em processos interdependentes que podem acontecer de maneira
sobreposta.
Para Share (1995), diferentemente dos autores que adotam a visão de um
desenvolvimento que progride em fases e em pleno acordo com a visão de Stuart;
Coltheart (1988), o processo de aprendizagem da leitura consiste essencialmente
em adquirir as competências para decodificar que, como vimos, corresponde à fase
alfabética de desenvolvimento da leitura das teorias citadas. Share inova ao
considerar que o desenvolvimento da leitura ocorre com base em itens ao invés de
estágios. Assim, o processo de reconhecimento de palavras dependerá
primeiramente da freqüência com a qual uma criança foi exposta a uma palavra
particular. A maioria das palavras encontradas nos textos infantis são palavras
familiares. Essas palavras, em virtude de sua alta freqüência de ocorrência, serão
então reconhecidas visualmente, enquanto poucos itens de menor freqüência de
ocorrência, ao contrário, deverão ser decodificados para serem reconhecidos. Para
Share, esse processo de decodificação funciona como um mecanismo de auto-
ensinamento que habilita o aprendiz, após sucessivas decodificações dos itens
menos freqüentes, adquirir uma representação ortográfica detalhada de cada um
34
deles. Assim, decodificações fonológicas bem sucedidas oferecem uma
oportunidade para a memorização da ortografia das palavras não-familiares que
passarão então a ser reconhecidas de modo integral, com base nas representações
ortográficas adquiridas. Dessa forma, os leitores constroem unidades de
reconhecimento que serão incorporadas ao léxico ortográfico, o que permitirá o
desenvolvimento de uma rota direta para reconhecimento visual e compreensão de
palavras, o que corresponde à fase ortográfica (por exemplo, MORTON, 1989) ou
fase alfabética consolidada (EHRI, 2003) de desenvolvimento da leitura.
É oportuno pontuar que nenhum dos autores citados faz referência à idade exata
para cada uma dessas fases. Cada criança, a seu tempo e de acordo com as
estimulações que o meio irá lhe proporcionar, terá o seu interesse despertado para
as letras e os sons que as representam. Há acordo na literatura de que, a partir dos
5 anos de idade, muitas habilidades necessárias para a aquisição da leitura e da
escrita encontram-se bem desenvolvidas nas crianças e todo o processo descrito
pode começar a se desencadear. E, em torno de 6-7 anos, é iniciada a instrução
formal, o que pode ocorrer por filosofias pedagógicas diversas que,
independentemente de qual for a escolhida (métodos sintéticos, analíticos,
ecléticos), incitará a criança a passar pelos processos descritos, de formas
diferentes, mas chegando-se a um mesmo ponto: proficiência na leitura. Isto é, como
já dissemos, se a criança for alfabetizada por qualquer um dos métodos sintéticos –
pelo fônico, pelo silábico, por exemplo – desenvolverá inicialmente a rota fonológica.
No entanto, se for alfabetizada por qualquer um dos métodos analíticos – pelo
método global ou pelo construtivismo – desenvolverá inicialmente uma forma
rudimentar da leitura pela rota lexical. Finalmente, se for alfabetizada por uma
35
mistura de métodos analíticos e sintéticos – os chamados métodos ecléticos –,
desenvolverá as duas rotas ao mesmo tempo. De qualquer forma, autores como
Morton (1989) afirmam que, após um certo tempo de contato com a leitura
(normalmente após as 2ª e 3ª séries), não se observam mais efeitos da filosofia
pedagógica sobre o nível de leitura, já que todas as crianças alcançam proficiência
em níveis similares.
Logicamente, após o reconhecimento visual das palavras durante a atividade de
leitura, o leitor atribui um significado e um valor sintático a cada palavra da sentença.
Ao compreender cada sentença do discurso, o leitor irá relacioná-las as outras
sentenças e irá integrar o conteúdo lido aos conhecimentos que já tem internalizado,
assimilando, dessa maneira, o texto.
Sendo assim, os mecanismos de decodificação e de reconhecimento visual de
palavras isoladas são muito importantes para o processo de leitura, mas não
podemos nos esquecer do mecanismo de compreensão do discurso, que será
discutido posteriormente, sem o qual a leitura não teria sentido. Os processos
cognitivo-lingüísticos envolvidos na compreensão da leitura estão relacionados a
fatores, como: desenvolvimento semântico e lexical, memória, conhecimento de
mundo e habilidades inferenciais.
É importante relembrar, conforme discutido anteriormente, que a leitura é uma
atividade mental de grande complexidade. Essa habilidade não emerge
naturalmente como a linguagem oral e pode apresentar uma série de dificuldades
para qualquer criança durante o período de alfabetização.
36
Embora, de acordo com Cagliari (1996), o sistema de escrita do português não seja
totalmente alfabético, uma vez que ele utiliza outros caracteres de natureza
ideográfica, como os sinais de pontuação e os números, ele é predominantemente
alfabético. Isto representa uma grande dificuldade quando o individuo vai se
alfabetizar, porque, embora econômico, o sistema alfabético, de acordo com muitos
autores (por exemplo, SCLIAR-CABRAL, 2003), exige uma noção de recorte ou
segmentação por parte da criança. Ou seja, é preciso que a criança se dê conta de
que aquilo que percebe de modo integral vai ser dividido em pedaços menores: as
palavras, que serão divididas em sílabas e essas, por sua vez, em fonemas, os
quais, na linguagem escrita, podem ser representados por grafemas.
A consciência de que a fala pode ser segmentada e a habilidade de manipular tais
segmentos, a consciência fonológica, é um componente crítico para a aprendizagem
do processo de decodificação fonológica, o qual, como vimos, é o processo central
da rota fonológica que, segundo muitos autores (por exemplo, EHRI, 2003; SHARE,
1995), é a base da formação da rota lexical. Isso porque, após decodificações bem
sucedidas da mesma palavra, bota, por exemplo, a criança estabelece uma unidade
de reconhecimento para bota e, depois disso, ela passará a reconhecer essa
unidade lexical visualmente. As crianças formam unidades de reconhecimento de
palavras, à medida que as palavras que segmentam tornam-se-lhes familiares.
Assim, a falta ou a insuficiência das habilidades metafonológicas – que formam os
pré-requisitos da adequada aquisição do processo de decodificação fonológica – é a
maior causa de problemas de leitura.
37
De forma a fundamentar a compreensão da consciência fonológica, habilidade tão
importante para a aquisição da leitura e da escrita, apresentaremos uma breve
descrição do mecanismo de processamento fonológico que, por sua vez, tem como
base para o seu funcionamento o mecanismo de memória.
1.1.1 Processamento fonológico e memória
Para compreendermos melhor o mecanismo de funcionamento da consciência
fonológica, é necessário conhecermos um pouco sobre a relação entre o
processamento fonológico e a memória. Não basta a criança conseguir manipular a
linguagem e seus segmentos (ou seja, segmentar a linguagem e utilizar-se desta
segmentação); ela precisa processar e armazenar essas informações manipuladas,
para que seja capaz de operar, de forma eficaz, tanto com a linguagem falada
quanto com a linguagem escrita. Passaremos, portanto, à descrição dos
mecanismos de processamento fonológico, armazenamento e acesso destes dados
na memória fonológica.
A memória operacional ou memória de trabalho é extremamente importante para o
nosso funcionamento cognitivo nas atividades cotidianas e, especialmente, nas
atividades relacionadas à leitura e à escrita. O modelo de memória operacional
atualmente mais estudado e que descreveremos aqui é o de Baddeley (2000).
Segundo este autor, a memória operacional funciona como um sistema dividido em
quatro partes, que é composto por um controlador atencional, o executivo central e
38
dois subsistemas que são especializados no processamento e manipulação de
quantidades limitadas de informações em domínios específicos: a alça fonológica e o
esboço visuo-espacial, além do armazenador episódico.
A alça fonológica é responsável pela manipulação e armazenamento das
informações relacionadas à fala, ou seja, pelo armazenamento fonológico temporário
e pelo processamento de informações verbalmente codificadas. Ela possui dois
componentes: o armazenador fonológico (memória fonológica de curto prazo ou
loop” fonológico) – que recebe informação tanto por via direta, na apresentação
auditiva, quanto indireta, na apresentação visual – e o processo de reverberação, ou
ensaio subvocal (“loop” articulatório”), que ocorre serialmente, em tempo real. Assim,
enquanto o primeiro componente é responsável pelo armazenamento de material
verbal que se deteriora rapidamente, o segundo é responsável pelo resgate das
informações verbais em declínio e pela manutenção desse material na memória.
O esboço visuo-espacial processa as informações relacionadas às propriedades
visuais e espaciais dos objetos. Também possui dois subcomponentes: o
armazenador visual, que representa as características físicas dos objetos, e um
mecanismo espacial responsável pelo planejamento de movimentos e pela retomada
das informações armazenadas.
O armazenador episódico é responsável pela integração das informações do
componente visual e verbal, além da memória de longo prazo, em uma
representação episódica única, de códigos multidimensionais.
39
Finalmente, o executivo central resgata as informações integradas no armazenador
episódico na forma de consciência, além de manipular e modificar essas
informações sempre que necessário, tornando os episódios coerentes.
Santos; Mello (2004) apresentam o quadro abaixo (QUADRO 1), baseado em dados
de neuroimagem, relacionando as áreas do cérebro responsáveis por cada parte do
processamento descrito.
Quadro 1 – Regiões de atividade cortical relacionadas à memória operacional.
Adaptado de Gathercole (1999) e Santos; Mello (2004).
É relevante destacar a importância da alça fonológica descrita nesse modelo – o
desenvolvimento desta é fundamental desde a aquisição da linguagem oral –, para a
análise de material verbal novo e a aprendizagem de novas palavras e sua
representação na memória de longa duração. A alça fonológica é importante,
sobretudo, quanto à linguagem escrita, na aquisição da capacidade de leitura, não
somente no processo de decodificação, mas também nos mecanismos de evocação
e compreensão do texto.
40
Santos; Navas (2002) apontam que alterações no processamento fonológico podem
se manifestar em várias competências lingüísticas, como dificuldade de consciência
e memória fonológica, discriminação, nomeação e articulação de palavras. Portanto,
dificuldades em tarefas que apelam especificamente para a alça fonológica sugerem
que esse mecanismo pode ser a raiz dos problemas de linguagem manifestos, como
os desvios fonológicos e os distúrbios de leitura.
1.1.2 Bases neurológicas da leitura
Para que o processo de aquisição da leitura aconteça, é necessário que a criança
tenha condições de processar as informações apresentadas no texto impresso. A
maturação neurológica é fator fundamental para a aprendizagem. É interessante
observar o fato de que, entre 3 e 6 anos de idade, há um crescimento importante
das áreas frontais do cérebro. Dos 6 aos 13 anos, este crescimento rápido acontece
nas regiões posteriores do cérebro, entre elas, as envolvidas nas funções da
linguagem, e, a partir dos 13 anos, há uma redução drástica do crescimento das
áreas da linguagem (THOMPSON; GIEDD; WOODS; MACDONALD; EVANS;
TOGA, 2000 S/D apud MORAIS; KOLINSKY; GRIMM-CABRAL, 2004). Assim, de
acordo com os autores, pode-se pensar que o crescimento frontal que antecede o
início da aprendizagem da leitura seja responsável pela criação de condições
neuronais necessárias ao trabalho metafonológico. O processo de crescimento
relativamente mais importante das áreas da linguagem a partir dos seis anos
41
assegurará, entre outras aquisições, o estabelecimento de redes neuronais que
permitirão automatizar a identificação das palavras escritas.
Estudos sobre as áreas do cérebro responsáveis pelo processamento da leitura
ainda vêm sendo conduzidos. Pesquisas têm demonstrado a participação do córtex
visual bilateralmente, no lobo occipital (FIG. 1) para a leitura de palavras, enquanto o
córtex auditivo, no lobo temporal, processa as informações auditivas, a área motora
do lobo frontal estaria envolvida com as palavras faladas e o lobo pré-frontal estaria
associado à imaginação das palavras. Os estudos de imagem funcional têm trazido
muitos esclarecimentos, no entanto, ainda não têm resolução temporal suficiente.
Dessa forma, o processamento da leitura, na realidade, é muito mais dinâmico e
envolve o funcionamento simultâneo de várias regiões do córtex. De acordo com
Lent (2004), além do córtex visual, as regiões perisilvianas parietais e temporais
(incluindo a área de Wernicke e os giros angular e supra-marginal) e o córtex pré-
frontal inferior esquerdo, rostral à área de Broca também estão envolvidos no
processamento da leitura.
42
Figura 1 – Localização das áreas cerebrais envolvidas com a linguagem.
Imagens tomográficas obtidas através de um isótopo emissor de pósitrons (PET), indicando o aumento da
atividade neural quando um indivíduo executa as tarefas descritas acima de cada esquema do cérebro (A a D). A
escala à direita indica os níveis de atividade codificados pelas cores.
FONTE: Lent (2004).
Shaywitz; Shaywitz; Fulbright; Skudlarski; Mencl; Constable; Pugh; Holahan;
Marchione; Fletcher; Lyon; Gore (2003), por meio de estudos com neuroimagem
funcional, demonstram a ativação da área temporal esquerda durante uma atividade
de leitura de não-palavras. É interessante notar que a autora demonstra que os
disléxicos, na execução da mesma atividade, utilizam o lado direito, em uma região
mais anterior (FIG. 2). Já para o acesso ao significado das palavras, os leitores
proficientes utilizam a área temporal esquerda, enquanto os disléxicos não
demonstram ativação dessa área.
43
Leitor proficiente
Disléxico
Teste de leitura de palavras inventadas
Leitor proficiente
Disléxico
Teste de leitura de palavras
Figura 2 – Funcionamento do cérebro – teste de leitura de palavras reais e inventadas.
FONTE: Shaywtiz et al. (2003).
1.1.3 Mecanismos de compreensão da leitura
Como vimos, a leitura exige uma refinada habilidade de decodificação. Contudo, a
atividade de leitura não se resume em apenas decodificar. Gough; Juel; Griffith
(1992) atribuem a aquisição da leitura não apenas à decodificação e ao
reconhecimento de palavras, mas também à compreensão. Esta idéia foi expressa
44
através da seguinte equação: L = D x C, na qual L representa a compreensão de
leitura, D, a capacidade de decodificar a escrita e C, a compreensão. Dessa forma,
decodificação e compreensão são habilidades complementares, apresentando-se
como co-requisitos para uma leitura proficiente.
A compreensão, de acordo com Caccamise; Snyder (2005), é vista como um
processo ou séries de processos que transformam a linguagem oral ou escrita em
uma representação de significado na mente do leitor ou ouvinte. Para essa
finalidade, há apenas uma representação mental de um texto que compreende uma
amplitude, a qual abrange dos níveis de compreensão da estrutura superficial do
texto aos níveis profundos de compreensão.
Os processos que levam o indivíduo à compreensão do material lido podem variar
de indivíduo para indivíduo, mas seguem padrões, cuja descrição vem sendo
delineada por diversas teorias nas áreas da Lingüística e da Psicologia Cognitiva.
Uma das teorias mais completas e citadas na literatura sobre compreensão da
leitura é a de Kintsch (1998). Faremos, a seguir, uma breve descrição dos pontos
dessa teoria que tem aplicabilidade direta no presente trabalho.
Para Kintsch (1998), tanto o conhecimento quanto a experiência participam da
criação de representações mentais de textos. A sua teoria é baseada em um
esquema argumento-predicado (predicate-argument schema) que sustenta redes de
proposições. As proposições são os elementos básicos do significado. As unidades
de proposição podem representar os textos não somente em um nível abstrato,
como também no nível perceptual, lingüístico e simbólico. Elas são diretamente
45
derivadas do texto (o que o autor chama de texto-base). Mas cada indivíduo também
traz consigo seu conhecimento de mundo e a sua experiência. Estas informações da
memória de longo prazo também são representadas no formato de proposições e
integradas ao texto-base para formar o que é chamado de modelo situacional. O
modelo situacional é o que os leitores formam para integrar o texto-base aos seus
conhecimentos, experiências, objetivos e motivações relevantes.
Também é interessante observar a noção de macroestrutura e microestrutura
propostas por Kintsch (1998). A microestrutura é uma rede de proposições que
representam o significado no nível da sentença de um texto, o que inclui as
proposições do texto-base e as proposições geradas da memória de longo prazo
para criar uma compreensão local no nível da sentença. A macroestrutura de um
texto, por outro lado, é uma série de proposições hierárquicas que representam a
estrutura global de um texto. Um bom resumo de um texto pode estar contido na
macroestrutura deste. Idealmente, os leitores deveriam acessar a microestrutura e a
macroestrutura de um texto da mesma maneira que o autor pretendia. No entanto, o
modelo situacional desenvolvido por cada leitor não é necessariamente o mesmo
pretendido pelo autor. Dessa forma, o leitor pode, perfeitamente, construir uma
interpretação de um texto de uma forma sutilmente diferente daquela construída pelo
autor.
Resumindo, a representação mental do significado de um texto é composta pelo
texto-base e pelo modelo situacional que o leitor cria como uma função do processo
de compreensão. Normalmente, a representação mental do leitor de um texto
contém uma mistura destes dois componentes, mas é possível que ou o texto-base
46
ou a situação modelo predominem. Então, quando os leitores processam um texto,
eles criam um texto-base que contém o significado das palavras acrescido de
construções como as inferências. Além disso, os leitores criam um modelo
situacional no qual os seus conhecimentos interagem com o texto.
Um bom leitor, de acordo com Caccamise; Snyder (2005), é aquele que lê com
profunda compreensão, o que é demonstrado por meio de habilidades como a de
abstrair, aplicar ou generalizar as informações de um texto. Estes autores levantam
seis fatores que podem se apresentar inerentes ao leitor e que contribuem para a
compreensão da leitura:
habilidades de decodificação;
habilidades de linguagem;
fatores lexicais;
capacidade de fazer inferências;
domínio do conhecimento;
fatores sociais.
Caccamise; Snyder (2005) apontam ainda que, dentre essas habilidades, as três
principais, que fazem um bom leitor são: as habilidades de decodificação, as
habilidades internalizadas de linguagem oral e o domínio do conhecimento.
Não poderíamos deixar de mencionar o papel desempenhado pela prosódia na
compreensão de textos. Alguns autores sugerem que é necessário mais do que
automatismos ou capacidade de decodificação e reconhecimento de palavras para
que se alcance uma adequada compreensão da leitura, e que a prosódia, durante o
desempenho da leitura, faria parte de tal processo. Pesquisas, como as de Schreiber
47
(1991); Kuhn; Stahl (2003) e as de Breznitz (2006), sugerem que aspectos
prosódicos da leitura são necessários para que haja uma eficiente compreensão do
texto lido. Esse ponto será discutido na seção 2.2.
Portanto, para que se alcance um nível proficiente de leitura, é necessário domínio
dos mecanismos de decodificação, associado à capacidade de compreensão do
material lido. Esta proficiência pode ser alcançada por qualquer criança que alcance
o amadurecimento neurológico necessário e receba instrução educacional
apropriada em situações físicas, psicológicas e sociais adequadas.
1.1.4 Aquisição da linguagem e dislexia
Vimos que as habilidades fonológicas são cruciais tanto para a capacidade de
decodificação do texto quanto para a sua compreensão. Habilidades como as de
processamento semântico, sintático, morfológico e pragmático direcionam mais
diretamente a compreensão textual. Nation; Norbury (2005) destacam que, embora
as habilidades fonológicas e não-fonológicas possam ser conceitualmente distintas,
na realidade, elas estão intimamente ligadas entre si. Déficits em uma parte do
sistema pode requerer que o leitor desenvolva mais intensamente o outro processo,
intacto. Os autores exemplificam esta questão com o caso das crianças que
apresentam dislexia, que podem utilizar boas habilidades semânticas e sintáticas
para sustentar uma decodificação penosa, utilizando pistas contextuais para ler. Por
outro lado, também as crianças com dificuldades de compreensão podem mascarar
48
suas dificuldades desenvolvendo e explorando suas boas habilidades fonológicas
para promover a decodificação da palavra.
A maioria das crianças passa sem maiores dificuldades por todos os processos,
descritos nas seções anteriores, envolvidos na aquisição da leitura e da escrita.
Entretanto, as crianças disléxicas, nesse percurso, apresentam várias dificuldades
que se tornam mais evidentes na época da alfabetização. Infelizmente, a nossa
realidade nos mostra que é muito comum as crianças disléxicas somente serem
identificadas no final do ciclo básico, na 3ª ou na 4ª série (CIASCA, 2003;
GRÉGOIRE; PIÉRART, 1997; MORAIS, 1997; NICO et al., 2000). No entanto, estas
crianças apresentam sinais que podem ser identificados precocemente, podendo ser
tomadas atitudes preventivas.
A pesquisa de Scarborough (1990) nos mostra que, aos 2 anos e meio, as crianças
que mais tarde foram diagnosticadas como portadoras de dislexia já apresentavam
produções verbais mais curtas, sentenças sintaticamente mais simples e pronúncias
menos precisas. Entre 3 e 4 anos, evidenciavam vocabulário restrito, mostravam
habilidades restritas de recitar rimas e déficit de consciência fonológica.
Também Koster et al. (2005), em um estudo longitudinal com crianças a partir de 17
meses, durante os 10 primeiros anos de vida, buscaram identificar os sinais
precoces de dislexia. Descobriram que as crianças com risco genético de dislexia já
demonstram um vocabulário expressivo mais restrito, tanto em número de palavras
produzidas quanto com relação à composição lingüística do vocabulário produtivo,
49
assim como apresentam também déficits fonológicos e sensibilidade reduzida à
estrutura segmental da fala.
Rescorla (2005) avaliou habilidades de linguagem e de leitura em adolescentes de
13 anos com história de atraso na aquisição da linguagem oral. Os resultados
sugerem que o lento desenvolvimento da linguagem oral em crianças entre dois
anos e dois anos e meio está associado com dificuldades posteriores em
vocabulário, gramática, memória verbal e compreensão da leitura.
Vemos, assim, que há meios de identificarmos precocemente uma criança que
demonstra riscos de apresentar um quadro de dislexia, mesmo antes de ela ser
alfabetizada, embora o diagnóstico somente possa ser fechado após o processo de
alfabetização. Dessa forma, medidas preventivas podem e devem ser tomadas no
sentido de se encaminhar essas crianças com suspeita de dislexia para programas
preventivos de tratamento.
Até agora neste capítulo, abordamos o processo normal de aquisição da leitura pelo
leitor proficiente, os aspectos lingüístico-cognitivos e neurológicos do seu
desenvolvimento, e indicamos alguns sinais precoces que identificam algum
problema com o desenvolvimento normal. Passemos, agora, a abordar a definição e
as causas da dislexia, que se constitui exatamente em um distúrbio de
desenvolvimento da leitura e/ ou escrita.
50
1.2 CAUSAS DA DISLEXIA
Inúmeras são as teorias que tentam explicar a etiologia da dislexia. O que sabemos
hoje é que existem fatores hereditários e fatores relacionados ao comportamento
social, à lateralização cerebral, e a uma disfunção cerebral, relacionados ao quadro
de dislexia.
De acordo com ASHA – American Speech-Language-Hearing Association (2004), os
problemas específicos de aprendizagem apresentam uma combinação entre os
aspectos genéticos, neurológicos e ambientais como fator causador, sendo os
problemas de ordem pedagógica e psicológica agravantes dos problemas
específicos já presentes na criança.
A história familiar é um importante fator que determina o risco para a dislexia. De
acordo com Scarborough (1990), 23 a 65% das crianças com dislexia têm pais com
o mesmo quadro patológico. Fisher; DeFries (2002) referem que há estudos
indicando o locus do gene da dislexia, nos cromossomos 2, 3, 6, 15 e 18.
Para Morton; Frith (1995), a dislexia é uma desordem do desenvolvimento que deve
ser explicada a partir de três níveis: o comportamental, o cognitivo e o biológico. O
fraco desempenho nos testes de leitura e escrita e as dificuldades observadas na
aprendizagem da leitura e da escrita estão inseridos no nível comportamental. As
causas subjacentes a esse desempenho pertencem ao nível cognitivo (os fatores
emocionais enquadram-se neste nível). O nível biológico pode envolver tanto
51
influências externas quanto internas. As influências externas (como os fatores
motivacionais, sócio-educacionais e educacionais), quando duradouras, poderiam
causar alterações estruturais e funcionais. Já as influências internas são atribuídas a
questões genéticas e inerentes ao desenvolvimento. Estes três níveis encontram-se
intimamente relacionados. As influências ambientais podem atuar em todos esses
níveis. Assim, a dislexia pode ser explicada a partir de uma origem biológica que
causa um déficit cognitivo, o qual, por sua vez, resulta em um padrão particular de
comportamento. Os autores apresentam o esquema reproduzido a seguir (FIG. 3)
para demonstrar esta interação entre fatores.
Figura 3 – Modelo de dislexia causada por déficit fonológico.
FONTE: Morton; Frith (1995).
52
Um dos fatores mais apontados na literatura como causa da dislexia é a hipótese da
deficiência fonológica (GALABURDA, 1989; LIBERMAN et al., 1989; FRITH, 1995;
MORTON; FRITH, 1995; PAULESU et al., 1996; GOMBERT, 2003; RAMUS et al.,
2003). De acordo com essa hipótese, o problema de leitura principal dos disléxicos é
um vagaroso e impreciso reconhecimento de palavras e, nessa área, a dificuldade
reside no processo de decodificação fonológica.
No entanto, Pinheiro (2002) afirma que ainda existem incertezas com relação à
causa do déficit fonológico. Autores, como Birch; Belmont (1964); Critchley (1970);
Snowling (1980), referem que o déficit cognitivo dos disléxicos é atribuído a
problemas na integração visual-auditiva, outros, como Livingstone et al. (1991) e
Lovegrove et al. (1980), sustentam a teoria do déficit no processamento visual.
Historicamente, a dislexia era atribuída a questões visuais, espaciais (e até de
ordem motora), tanto que a primeira denominação para o que hoje conhecemos
como dislexia do desenvolvimento foi “cegueira verbal”, termo atribuído pelo médico
inglês Dr. W. Pringle Morgan, em 1896 (MORGAN
8
, citado por SHAYWITZ, 2006). O
primeiro autor a contestar essa hipótese de falha no processamento visual foi
Vellutino (1979). No entanto, Lovegrove (1991) cita uma replicação dos estudos de
Vellutino, sugerindo que a evidência para a ausência do déficit visual deva ser
reconsiderada. Outras teorias também foram propostas, como a do processamento
periférico anormal do estímulo auditivo (TALLAL, 1980, 2000; TALLAL et al., 1993), a
teoria cerebelar (NICOLSON; FAWCETT, 1990; NICOLSON et al., 2001), e a teoria
magnocelular (GALABURDA et al., 1994; LIVINGSTONE et al., 1991; STEIN, 2003;
STEIN; WALSH, 1997).
8
MORGAN, W. Pringle. A case of congenital word blindness. The British Medical Journal, 1896, p. 1378.
53
Heilman; Voeller; Alexander (1996) defendem a teoria do feedback motor e
articulatório. De acordo com esta teoria, as crianças disléxicas não têm consciência
da posição dos seus articuladores durante a fala, o que impede o desenvolvimento
da consciência fonológica e da habilidade de converter grafemas em fonemas. Esta
inabilidade pode estar associada a uma disfunção na região perisilviana anterior.
Assim, a falta de consciência dos articuladores observada pode estar relacionada ao
déficit de programação ou de feedback das crianças com dislexia do
desenvolvimento.
Essas discussões sobre a real causa da dislexia são extremamente importantes,
pois nos levam a um melhor conhecimento do quadro e até a uma melhor
intervenção clínica. Sabendo-se a causa, atua-se basicamente neste nível.
Infelizmente, até o momento, não se tem uma única resposta, no entanto,
percebemos um maior número de pesquisas e resultados mais relevantes dando
suporte à teoria do processamento fonológico. O que sabemos é que déficits no
processamento fonológico levam a um tipo específico de dislexia, a dislexia
fonológica, e que a dislexia visual e a mista são causadas por fatores diversos e,
inclusive, conjugados aos fatores relacionados ao processamento fonológico. Em
nossa pesquisa, todos os sujeitos pesquisados foram diagnosticados com dislexia do
tipo fonológica. Por mais esta razão, torna-se relevante aprofundarmos mais nessa
hipótese causal.
Os avanços recentes na tecnologia para obtenção de imagens cerebrais têm
permitido, no campo das neurociências, importantes descobertas que dão suporte à
54
teoria do processamento fonológico. Os trabalhos de Shaywitz, conforme já
apresentado na seção 1.1.2, têm contribuído de forma significativa para os estudos
com neuroimagem. A autora apresenta resultados que representam uma espécie de
assinatura neural para as dificuldades fonológicas que caracterizam a dislexia. Seus
achados apontam para uma disfunção caracterizada pela subativação de caminhos
neurais na parte posterior do hemisfério esquerdo (SHAYWITZ, et al., 2002;
SHAYWITZ; SHAYWITZ, 2005). Juntamente com este padrão de subativação da
parte posterior do cérebro, foi observada a utilização compensatória, com o passar
da idade, de regiões frontais (como a área de Broca), conforme FIG. 4. Uma das
formas apontadas pela autora de se compensar a dificuldade de leitura é com a
subvocalização (pronúncia das palavras em voz baixa) enquanto se lê. Assim, sob o
comando do sistema frontal do cérebro, um leitor disléxico pode desenvolver uma
consciência da estrutura sonora das palavras, articulando-as (SHAYWITZ, 2006).
55
Figura 4 – A marca neural da dislexia.
À esquerda, leitores normais ativam sistemas neurais que estão em sua maioria na parte posterior do
cérebro (áreas sombreadas). À direita, subativação dos sistemas neurais na parte posterior do
cérebro em leitores disléxicos, com superativação das áreas frontais.
FONTE: Adaptado de Shaywitz (2006).
No Brasil, os estudos de Arduini; Capellini; Ciasca (2006), com neuroimagens de
crianças com dislexia, demonstraram uma hipoperfusão na porção mesial do lobo
temporal, no hemisfério esquerdo.
1.3 DEFINIÇÃO DE DISLEXIA
Historicamente, a primeira definição de dislexia foi dada pelo neurologista
americano, Dr. Samuel T. Orton, em 1925 (IANHEZ; NICO, 2002). Ele propôs o
termo “dislexia específica” ou “distúrbio específico de leitura”, para referir-se a
crianças com distúrbio na aprendizagem da leitura em conseqüência de
envolvimento neurológico. Segundo ele, a dislexia não é uma doença, mas um
distúrbio com uma série de características, que se tornam evidentes na época da
alfabetização, embora alguns sintomas já estejam presentes em fases anteriores.
56
A dislexia é um quadro de difícil definição, uma vez que sua natureza muda com o
tempo. A dislexia do desenvolvimento é vista por Frith (1985) como uma interrupção
do desenvolvimento normal das habilidades de leitura e escrita. Esta alteração pode
ser decorrente tanto da falta de aquisição das habilidades alfabéticas (o que
ocasiona um padrão clássico (ou fonológico)), como das habilidades ortográficas (o
que ocasiona um padrão disgráfico).
Para Lyon (1995), a dislexia é um distúrbio específico de linguagem, de origem
constitucional, caracterizada por dificuldades na decodificação de palavras isoladas,
causada por uma deficiência no processamento da informação fonológica. Inclui,
além da dificuldade para aprender a ler, um notável problema para adquirir
proficiência em escrita e ortografia.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV,
2002), a dislexia ou transtorno da leitura consiste em um rendimento da leitura
substancialmente inferior ao esperado para a idade cronológica, a inteligência
medida e a escolaridade do indivíduo.
As crianças disléxicas podem apresentar capacidade motora adequada, inteligência
entre média e acima da média, audição e visão adequadas e ajustamento emocional
adequado. É interessante destacar também que tal transtorno deve ser diferenciado
das variações normais na realização acadêmica e das dificuldades escolares devido
à falta de oportunidade, ensino fraco ou fatores culturais. Ou seja, como enfatizam
Jonson; Myklebust (1987), a definição de dislexia inclui duas pressuposições
57
fundamentais: integridade geral e uma deficiência de aprendizagem da leitura e/ ou
escrita.
Tomando-se por base o modelo de leitura de dupla rota, podemos entender a
dislexia como um fracasso na aquisição da linguagem escrita que afeta uma das
rotas (ou ambas) de acesso à leitura, ocasionando subtipos diferentes de dislexia, a
depender da rota afetada. Na dislexia fonológica (ou disfonética), a mais comum, há
um dano na rota fonológica, o que causa transtorno na associação grafema-fonema,
com dificuldade na leitura de palavras pouco familiares (BODER, 1973; TEMPLE;
MARSHAL, 1983; SEYMOUR; MACGREGOR, 1984). Na dislexia visual (ou
diseidética), há um dano na rota lexical, e o transtorno é no processamento visual
das palavras (COLTHEART, 1982; SHALLICE; WARRINGTON, 1980). Na dislexia
mista (BODER, 1973; ELLIS, 1995), os leitores apresentam alterações dos dois tipos
(fonológica e visual).
Pesquisas recentes, como a desenvolvida por Gombert (2003), têm demonstrado
que os diferentes tipos de dislexia (fonológica, visual ou mista) são conseqüência de
uma única deficiência: a fonológica. O que determina o tipo de dislexia são fatores,
como, a gravidade do déficit, a natureza do sistema ortográfico, as experiências de
leitura e a eficiência da abordagem pedagógica.
Conceitos mais recentes de dislexia têm, inclusive, assumido esta visão, como o de
Lyon; Shaywitz; Shaywitz, 2003:
58
Dislexia é uma dificuldade específica de aprendizagem de origem
neurobiológica. É caracterizada pela dificuldade com a fluência correta na
leitura e por dificuldade na habilidade de decodificação e soletração. Essas
dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente fonológico da
linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas
consideradas na faixa etária. Conseqüências secundárias incluem
problemas na compreensão da leitura e pouca experiência com textos, o
que impede a ampliação do vocabulário e do seu conhecimento prévio.
A criança com dislexia, de uma maneira geral, apresenta problemas especificamente
relacionados à linguagem escrita, mas alguns outros problemas de linguagem
podem aparecer. De acordo com a ASHA (2004), a criança disléxica pode
apresentar dificuldades em:
expressar idéias coerentemente;
expandir seu vocabulário (via oralidade ou leitura);
entender questões e seguir instruções que são ouvidas ou lidas;
lembrar de seqüências numéricas (por exemplo, telefones e endereços);
entender e reter detalhes de uma estória;
aprender rimas e seguir músicas;
distinguir direita de esquerda e letras de números;
aprender o alfabeto;
identificar os sons que correspondem às letras;
memorizar convenções de tempo;
dizer as horas.
Ainda de acordo com ASHA (2004), a criança disléxica :
quando escreve, mistura a ordem das letras nas palavras e a ordem dos
números que fazem parte de um cálculo matemático;
59
apresenta leitura lenta e compreensão reduzida do material lido;
tem dificuldade com os sons das palavras e, conseqüentemente, com a
soletração;
apresenta desatenção e distração, desorganização e incoordenação motora.
Já segundo Ianhez; Nico (2002), estas crianças apresentam:
desempenho inconstante;
demora na aquisição da escrita;
lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não nas orais;
dificuldades para organização seqüencial (por exemplo: letras do alfabeto,
meses, etc.);
dificuldade em nomeação.
Os indivíduos com dislexia, como podemos perceber, embora tenham seus déficits
primários na habilidade de leitura (em decodificação, especificamente), também
apresentam outros déficits em outras tarefas, principalmente as relacionadas ao
processamento fonológico. Blomert; Mitterer; Paffen (2004) destacam que os
indivíduos com dislexia apresentam dificuldades em tarefas que envolvem repetição
de palavras e não-palavras, retenção de material verbal na memória de trabalho,
nomeação rápida, nomeação de objetos e dificuldades em tarefas metalingüísticas
que envolvem a manipulação de fonemas. Ou seja, para estes autores, o problema
central da dislexia é melhor descrito como um déficit fonológico, oriundo de
alterações no processamento fonológico em tempo real.
60
Finalmente, é importante diferenciar os distúrbios de aprendizagem dos distúrbios
específicos de leitura (ou dislexia). O distúrbio de aprendizagem é uma expressão
genérica que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e no uso da audição, da fala, da leitura, da
escrita, do raciocínio ou das habilidades matemáticas (CAPELLINI, 2001).
Já a dislexia (distúrbio específico de leitura), de acordo Capellini; Ciasca (1999), é
uma expressão que se refere à defasagem entre o desempenho esperado de uma
criança nas habilidades de leitura e escrita a partir de seu nível intelectual e o
desempenho efetivamente observado. O processo de desenvolvimento e
aprendizagem aparece comprometido somente em fase escolar. Já no distúrbio de
aprendizagem, o processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança está
comprometido desde os primeiros anos de vida. O QUADRO 2 apresenta as
principais manifestações lingüístico-cognitivas da dislexia (distúrbio específico de
leitura) e do distúrbio de aprendizagem.
A partir das informações obtidas pela análise do quadro apresentado, percebemos
que as crianças disléxicas apresentam alterações mais diretamente relacionadas ao
processamento da linguagem escrita, enquanto que, nos distúrbios de
aprendizagem, as dificuldades se estendem também ao processamento da
linguagem oral (nas habilidades de expressão e recepção), atenção e percepção,
além de habilidades matemáticas.
61
Quadro 2 – Manifestações lingüístico-cognitivas.
FONTE: Ciasca (2003).
62
Após definirmos, caracterizarmos e levantarmos os fatores etiológicos relacionados
à dislexia, passamos, a seguir, a abordar o tema prosódia, buscando uma relação
deste campo de pesquisa com os estudos sobre crianças disléxicas.
63
CAPÍTULO 2
PROSÓDIA
64
2.1 PROSÓDIA: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS
Neste capítulo, propomo-nos a apresentar o embasamento teórico para uma melhor
compreensão do nosso objeto de estudo: a prosódia. Iniciaremos com uma
descrição de suas bases neurológicas, passaremos à sua localização nos estudos
lingüísticos e à sua definição, teceremos alguns comentários sobre as principais
teorias que nortearão este trabalho e buscaremos estabelecer a relação entre
prosódia, leitura e dislexia.
2.1.1 Bases neurológicas da prosódia
Estudos tradicionais apontam que o hemisfério direito do cérebro (o hemisfério não-
verbal) é o responsável pelo processamento da prosódia, enquanto que o hemisfério
esquerdo processa a linguagem verbal.
O modelo representado pela FIG. 5, ilustrado por Lent (2004), apresenta uma visão
conexionista, demonstrando como ocorre o processamento da linguagem falada.
Segundo o modelo, a área de Wernicke funciona como um léxico fonológico, sendo
responsável também pela identificação das palavras. O léxico semântico, que
funciona como centro conceitualizador, está localizado nos giros angular e
supramarginal. No pólo anterior do lobo temporal, funciona o léxico semântico para
animais, mais posteriormente, o léxico semântico para objetos e, no pólo temporal, o
65
léxico semântico para pessoas. O córtex frontal anterior à área de Broca sedia o
léxico sintático. O córtex frontal posterior à área de Broca sedia a expressão verbal,
e, na área motora primária, temos a articulação da fala. Assim, de acordo com este
modelo, para emitir uma fala que contenha elementos prosódicos, as áreas
lingüísticas do hemisfério esquerdo buscam, nas áreas correspondentes do
hemisfério direito, através das comissuras cerebrais, esta função não-verbal da
linguagem. Estabelece-se, assim, um circuito inter-hemisférico.
Figura 5 – Áreas corticais – O modelo conexionista
O modelo conexionista envolve a interação de diversas áreas corticais, mais restritas que as definidas
por Broca e Wernicke. Surgiu da análise dos sintomas de pacientes com lesões pequenas e permite a
identificação tentativa dos sistemas postulados pelos psicolingüistas. Ang+SM=Giro angular+giro
supramarginal. BP=Broca posterior. IT=córtex ínfero-temporal. M1=área motora primária. PF=córtex
pré-frontal. PT=pólo temporal. TP=córtex temporal posterior. W=área de Wernicke.
FONTE: Lent (2004).
66
No entanto, pesquisas recentes, como as de Riecker et al. (2002), revelam que o
processamento prosódico envolve múltiplas áreas em ambos os hemisférios,
estando envolvidos principalmente o opérculo direito e esquerdo no giro frontal
inferior, os quais ativam áreas perisilvianas (giro temporal superior) bem como
estruturas subcorticais contra-laterais, como o putâmen e o tálamo (FIG. 6).
Figura 6 – Secção coronal do prosencéfalo no nível do tálamo
FONTE: Bear.; Connors; Paradiso (2002)
2.1.2 Prosódia x aspectos supra-segmentais da linguagem
Os lingüistas estruturalistas americanos criaram o termo supra-segmental e é
comum usar-se hoje este termo como sinônimo de prosódia. No entanto, estes
termos não são sinônimos, há sutis diferenças no emprego de cada um. Nesta
seção, abordaremos esta definição conceitual.
67
Auditivamente, um enunciado pode ser expresso contendo componentes segmentais
e não-segmentais. Deixando-se de lado os sons isoladamente ou os segmentos da
fala, o que resta, também chamado de “resíduo do enunciado”, é o domínio da
prosódia, em uma concepção tradicional britânica (COUPER-KHULEN, 1986).
Conforme podemos observar no esquema representado abaixo (FIG. 7), a partir de
um enunciado, temos o nível segmental e o não-segmental, que é subdividido em
seus aspectos prosódicos, paralingüísticos e não-lingüísticos.
Figura 7 – Componentes auditivos da fala na comunicação. Adaptado de Crystal (1969).
FONTE: Couper-Khulen (1986).
Os aspectos não-lingüísticos na fala são aquelas características não sistemáticas,
que não são utilizadas, convencionalmente ou intencionalmente, para a
comunicação. Como exemplificação de aspectos não-lingüísticos, temos a tosse, o
espirro e a qualidade vocal. Por outro lado, um falante pode, temporariamente,
modificar sua voz, de forma a torná-la áspera, sussurrada ou dar uma risada, por
exemplo. Estes são os efeitos paralingüísticos da fala. Eles estão apenas
esporadicamente presentes no sinal de fala. Já os efeitos prosódicos estão
68
continuamente presentes na fala. Não é normal produzir enunciados sem prosódia;
nós sempre utilizamos acento, entonação e ritmo quando falamos. Seria, inclusive,
mais adequado, se fosse introduzido o item ritmo aos elementos derivados do item
prosódia no esquema, tornando este mais completo.
De acordo com esta concepção, a prosódia pode ser definida, por exclusão, por
aqueles componentes auditivos de um enunciado que permanecem, quando os
efeitos vocais segmentais, os não-lingüísticos e os paralingüísticos foram removidos.
Ou alternativamente, de acordo com Crystal (1969), a prosódia pode ser definida
mais positivamente:
More precisely and positively, we may define prosodic systems as sets of
mutually defining phonological features wich have an essentially variable
relationship to the words selected, as opposed to those features (for
example, the phonemes, the lexical meaning) wich have a direct and
identifying relatioship to such words. (CRYSTAL, 1969, p. 5)
Por outro lado, o termo supra-segmental tem sido utilizado na fonética e na fonologia
para indicar um efeito vocal que se estende por mais de um segmento de som no
enunciado, como altura melódica, acento e juntura (CRYSTAL, 1988).
Os traços supra-segmentais, de acordo com Lehiste (1970), “são aqueles cujo
arranjo em padrões contrastivos na dimensão do tempo não é restrito a um único
segmento definido por suas qualidades fonéticas”. Este conceito, sob o nosso ponto
de vista, é o mais completo e mais adequado, pois nos permite uma visão mais
ampla do que são os aspectos prosódicos ou supra-segmentais (em oposição ao
nível segmental).
69
Feitas estas delimitações conceituais, passemos agora à conceituação da prosódia.
2.1.3 Definição de prosódia
É observada uma certa confusão na utilização dos termos prosódia e entonação em
alguns estudos sobre o assunto. Hirst, em uma lista de discussão do on-line
(SPROSIG, 2000)
9
, estabelece a distinção entre prosódia e entonação de forma
bastante clara e objetiva. O autor sugere que o termo prosódia seja usado tanto para
se referir aos sistemas cognitivos abstratos quanto aos parâmetros físicos nos quais
estes sistemas abstratos são mapeados. No nível fonológico abstrato, ele faz uma
distinção entre a prosódia lexical (tom, acento e quantidade) e a prosódia não-lexical
(entonação). Ele propõe também que o tema entonação seja usado para se referir
especificamente às características fonéticas dos enunciados, à forma pela qual as
características prosódicas abstratas lexicais e não-lexicais de um enunciado são
relacionadas aos parâmetros acústicos.
A entonação pode ser então entendida como uma categoria prosódica abstrata e
representa a elaboração lingüística da melodia, estando esta no nível fonético
(ROSSI, 1995; HIRST; DI CRISTO, 1998).
9
Disponível em: <www.egroups.com/group/sprosig/>. Acesso em 20 abril 2000.
70
Em uma perspectiva auditiva, Couper-Khulen (1986) relaciona a entonação à
percepção da altura melódica, estando esta relacionada à freqüência fundamental
de vibração das pregas vocais durante a fala.
Ainda nesta perspectiva, t’Hart; Collier; Cohen (1990) apontam três diferentes níveis
nos quais a entonação pode ser analisada. O primeiro seria um nível mais concreto,
o nível acústico, no qual a entonação pode ser vista como uma sucessão de curvas
de freqüência fundamental no tempo. O segundo nível é o fonético, em que a
entonação é percebida como uma sucessão de eventos de altura melódica
perceptível. E o terceiro nível, o mais abstrato, é o fonológico, identificado quando
eventos de altura melódica potencialmente distintos são agrupados em categorias.
Procuraremos, no presente trabalho, uma análise que busque um olhar sobre todos
estes níveis, trazendo diferentes perspectivas de análise.
Analisando-se a prosódia das crianças disléxicas, conseguiremos obter delas uma
série de informações concretas, mensuráveis, além de outras a serem inferidas do
seu discurso. De acordo com Reis (1984), a entonação tem um papel primordial na
manifestação de atitudes e emoções de um falante.
A expressividade de um enunciado é fundamental tanto para se estabelecer uma
interação eficiente com o seu interlocutor, quanto para a sua adequada
compreensão e coerência. Madureira (2005) refere que a expressividade da fala
constrói-se pela integração estabelecida entre elementos segmentais, como vogais e
consoantes, e prosódicos, como ritmo, entonação, taxa de elocução, pausas e
padrões de acento. A autora destaca, ainda, que toda fala é expressiva, pois alguma
71
forma de atitude, emoção, crença, estado físico ou condição social é veiculada por
meio de recursos segmentais e prosódicos.
Além destas funções, a entonação revela, entre outros significados:
as atitudes do falante e as suas emoções;
o sexo e a idade do falante;
a procedência do falante;
a estruturação da sua informação. (HOCHGREB, 1983).
Esta estruturação da informação é essencial para a organização mental do texto. A
partir da noção de texto mencionada na seção 1.1 – o qual é concebido com um
todo, organizado, claramente segmentado em partes hierarquicamente organizadas,
internamente coesivas entre si, e com um foco central (COUPER-KHULEN, 1986) –,
torna-se clara a importância da entonação no sentido de possibilitar a organização e
a estruturação textual.
Para Halliday (1970), a entonação é responsável pela estruturação sintática do
discurso, uma vez que há vários padrões entonativos possíveis e estes causam
mudança de significado, sendo que os diferentes significados fazem parte da
gramática. Esta relação sintaxe-entonação-significado é fundamental para as
hipóteses levantadas neste trabalho, pois deixa clara a importância da entonação
para o acesso ao significado.
Ladd (1996) também prioriza, em seu conceito de entonação, a importância desta
para a obtenção do significado. Segundo o autor, a entonação é o uso de
72
características fonéticas supra-segmentais para atribuir significados pragmáticos
pós-lexicais de forma lingüisticamente estruturada. Ainda, para Reis (2001), há
consenso quanto ao fato de a entonação participar de forma fundamental na
interpretação semântica de um enunciado.
Além do acesso ao significado, é importante salientar outros fatores relacionados à
entonação. A prosódia está no domínio da enunciação e se caracteriza pela forma
com que os sons da fala são modificados sob a influência de diversos fatores (entre
eles, podemos citar os contextuais, rítmicos, informacionais, sintáticos, semânticos e
pragmáticos), a fim de produzir um enunciado coerente e que transmita as emoções
e atitudes do falante (ALVES, 2002; LEHISTE, 1970; ROSSI, 1995; SELTING, 1992).
Portanto, a entonação assume múltiplas funções em um discurso, em vários planos
de análise. Estas funções são assumidas contextualmente e de forma socialmente
configurada. Caracteriza-se, assim, como um excelente meio para se conhecer
melhor as crianças disléxicas, o que há sob o discurso delas, mesmo sem que elas
saibam que estejam expressando seus sentimentos, atitudes e intenções.
2.1.4 Entonação, acento lexical e acento frasal
Os termos acento lexical, acento frasal e entonação, comumente utilizados ao se
abordar o tema prosódia, referem-se todos a aspectos supra-segmentais da
estrutura fonológica, mas representam, cada um deles, aspectos diferentes.
73
Observa-se, no entanto, muita confusão na utilização destes termos na literatura.
Dessa forma, apresentaremos, a seguir, a distinção entre tais termos que serão
utilizados em nosso trabalho.
A entonação, de acordo com a definição de Ladd (1996), conforme citado na seção
anterior, refere-se ao uso das características fonéticas supra-segmentais para
atribuir significados pragmáticos no nível da sentença, de uma forma
lingüisticamente estruturada. De acordo com o autor, uma das funções da entonação
seria a de dividir a cadeia sonora em partes, que podemos chamar de frases
entonativas, identificadas por pausa, eventualmente, variação melódica e
desaceleração local. De acordo com Gussenhoven (2004), a entonação apresenta
duas estruturas: uma morfológica, que identifica os morfemas e nos dá o significado
do contorno, e outra fonológica, que nos provê os tons. Em adição ao significado
discursivo ou informacional, a entonação tem também significado emocional ou
atitudinal.
Não é muito clara, na literatura, a definição precisa dos termos propostos (acento
lexical e acento frasal), havendo, em alguns estudos, até uma certa confusão
terminológica. Vários autores (por exemplo, LEHISTE, 1970; GUSSENHOVEN,
2004) concentram-se em discussões relativas aos correlatos acústicos dos
diferentes tipos de acento, sem, no entanto, preocuparem-se com uma clara
definição destes termos.
Para a definição do termo acento lexical (stress), faremos referências aos trabalhos
de Kingdon (1958); Couper-Kuhlen (1986); Bolinger (1986); Reis (1995); Moraes
74
(1998) e Gussenhoven (2004). Este acento, dado pelo léxico, não é determinado por
regras, mas sim por informação lexical. Segundo Reis (1995), tal acento deriva das
propriedades acentuais internas do morfema. Kingdon (1958), assumindo que o
domínio do acento lexical é a sílaba, o define como o grau relativo de força usada na
pronúncia de diferentes sílabas de uma palavra. Em coerência com estas idéias,
Couper-Kuhlen (1986) aponta este acento como uma sucessão de sílabas faladas,
em que algumas serão percebidas como mais salientes ou proeminentes do que as
outras. De acordo com Gussenhoven (2004), o acento lexical refere-se à situação na
qual as características de F
0
co-ocorrem com características, como duração, para
criar a proeminência de uma sílaba. No Português Brasileiro, Moraes (1998) aponta
que os correlatos acústicos para o acento lexical variam em função da posição da
palavra no enunciado e, de forma menos importante, em função do padrão acentual
da palavra. Assim, quando a palavra está em uma “posição fraca” (por exemplo,
dentro de um grupo prosódico), a proeminência acentual é expressa por uma
combinação de intensidade e duração. Em uma “posição forte” (ao final do grupo
prosódico), onde o acento frasal é sobreposto ao acento lexical, o parâmetro F
0
se
junta aos parâmetros duração e intensidade como pistas acentuais. Bolinger (1986)
afirma que a sílaba acentuada é a que carrega o potencial para o acento rítmico.
Segundo Moraes (1998), o agrupamento de palavras em unidades sintáticas
informacionais é expresso foneticamente pelos grupos prosódicos formalmente
definidos como acento frasal (ou acento nuclear). O acento frasal atua em um nível
superior ao do acento lexical, indicando que os elementos dominados por um acento
apresentam maior coesão sintática. Ou seja, estamos aqui nos referindo ao acento
na frase, no nível sintático. O acento frasal está ligado à noção de sílaba
75
proeminente. Para Halliday (1970), a caracterização de uma sílaba como tônica no
nível frasal, dentro de um padrão entoacional, em acréscimo às suas características
de sílaba tônica lexical, é feita por meio da variação de F
0
. Massini (1991), dentro
dos mesmos pressupostos, indica que o acento frasal do português é caracterizado
por uma variação do padrão entoacional que se sobrepõe a uma sílaba tônica no
nível lexical. Em uma sentença sem nenhuma informação contextual (neutra), ele é
associado normalmente ao último elemento desta sentença (BOTINIS, 1989).
A seguir, apresentamos a teoria de Halliday (1970) que orientará a nossa análise
acústica e a estruturação das hipóteses.
2.1.5 A teoria de Halliday
Para realizarmos este estudo, torna-se necessária a escolha por uma teoria
prosódica, a fim de nortear os procedimentos e as análises. Optamos pela teoria de
Halliday (1970). A escolha por tal teoria se deu em função de esta nos fornecer uma
noção clara de grupo tonal, além de ela ser muito bem construída e descrever a
entonação de uma maneira objetiva.
O sistema adotado por Halliday (1970) é relativamente simples e trata dos aspectos
rítmicos e melódicos que definem uma unidade entonativa. De acordo com a teoria
de Halliday, existem quatro unidades fonológicas hierarquicamente relacionadas: o
grupo tonal, o pé, a sílaba e o fonema.
76
O ritmo do português permite a formação de pés fonéticos iniciados sempre em uma
sílaba tônica e que terminam imediatamente antes da próxima sílaba acentuada. O
pé é a unidade básica do ritmo. Esta noção de pé foi proposta inicialmente por
Abercrombie (1967) e desenvolvida por Halliday (1970). Posteriormente, foi melhor
desenvolvida por teorias fonológicas, como a teoria métrica. Cada pé consiste em
uma ou mais sílabas. A primeira sílaba no pé é sempre a saliente (acentuada).
Assim, cada pé normalmente consiste em uma sílaba saliente sozinha, seguida de
uma ou mais sílabas não-salientes (fracas). No nível do pé, são especificadas as
relações abstratas de proeminência.
Passemos agora à definição de grupo tonal (GT), que é a unidade da entonação.
Este é estruturado por dois elementos: o elemento tônico e o pretônico, sendo cada
um deles composto por, pelo menos, um pé completo. Dentro do GT, há uma parte
que é especialmente proeminente. É a parte que o falante quer mostrar ser a mais
importante da mensagem. Esta parte proeminente é chamada proeminência tônica.
A sílaba tônica é freqüentemente mais longa, mais forte e apresenta uma maior
variação melódica do que as outras sílabas salientes do GT. Normalmente, em sua
forma neutra, ela ocorre no final do GT, no último item lexical da frase. A função da
tônica é mostrar o foco da informação: expressar o que o falante decide fazer com o
que seja o ponto mais importante da mensagem.
É importante salientar que o GT não coincide necessariamente com nenhuma
unidade gramatical, ele é, em si, uma unidade de significado, de informação.
Podemos observar, dessa forma, que Halliday não define muito claramente os
77
limites do grupo tonal, mas, de maneira geral, este tende a coincidir com uma
oração. Para o autor, o que determina o GT é uma variação melódica importante em
uma sílaba tônica. Havendo uma só variação, haverá somente um GT.
Para a definição de fronteiras, segmentando o fluxo contínuo de fala em unidades
melódicas, devemos levar em consideração os três sistemas de entonação descritos
por Halliday: a tonalidade, a tonicidade e o tom.
A tonalidade nos permitirá uma divisão do contínuo melódico em grupos tonais. A
tonicidade nos permitirá identificar a tônica proeminente. O tom corresponde a uma
categoria abstrata que reduz o grande número possível de contornos melódicos
foneticamente distintos que podem ser usados na fala em um número reduzido de
contornos definidos dentro de funções gramaticais.
A relação entre tom e tonicidade pode ser entendida da seguinte forma dentro da
teoria de Halliday (1970): enquanto o tom expressa as funções do discurso, a
proeminência tônica expressa a estrutura da informação. Ou seja, a escolha do tom
é relacionada ao modo, à modalidade, aos atos de fala, às atitudes, a todos os
fatores que construirão a relação entre falante e ouvinte. E a escolha da
proeminência tônica mostrará como a mensagem é dividida em unidades de
informação, onde está a “informação nova” e como ela é ligada com o que foi dito
antes.
O tom é a configuração melódica de um grupo tonal, é uma abstração feita do
sistema melódico no nível fonológico. De acordo com Halliday, no Inglês, podemos
78
reconhecer cinco tons simples, que ele chama de tons primários, além dos tons
compostos (constituídos por grupos tonais com duas sílabas tônicas salientes) e
secundários (os quais indicam o uso marcado de um enunciado). Cagliari (1980)
realizou uma adaptação deste sistema de tons para o Português, utilizando seis tons
primários simples e três tons primários compostos. Apresentaremos, a seguir, os
cinco tons simples de Halliday, adaptados para o Português.
Para todos os exemplos apresentados, é feita uma marcação indicando os pés ( / ),
as tônicas ( __ ), os tons (1, 2, 3, 4 ou 5) e os grupos tonais (//), de acordo com a
marcação convecionalizada por Halliday (1970).
Tom 1: descendente
A tônica se inicia no mesmo nível da pretônica e termina em um nível baixo de F0,
implementando o movimento descendente. É o tom mais freqüentemente utilizado
para as declarativas.
Ex: // 1 /Eles não /foram /lá
. //
Tom 2: ascendente alto
A tônica apresenta-se com uma configuração melódica ascendente. É o tom utilizado
para as interrogativas.
Ex: //2 Vo/cê não /vem com a /gente? //
79
Tom 3: ascendente baixo
A tônica começa em um nível mais baixo e faz uma subida discreta. É um tom não
final, reticente.
Ex: //3 Mas /ele não /pode... //
Tom 4: descendente-ascendente
Este tom é usualmente utilizado em enunciados exclamativos, mas expressa
também alguma reserva, em que a produção do falante contrasta ou deixa evidente
uma contradição sobre o que é esperado.
Ex: //4 Vo/cê não sabia /disso?//
Tom 5: ascendente-descendente
Este tom configura-se como o inverso do tom 4. A tônica tem uma subida que é
interrompida. O movimento final é uma descida plena. Este tom expressa
completude, sem nenhuma reserva, com entusiasmo e compromisso.
Ex: //5 Eu gostei de/mais do e/xame. //
80
Dessa forma, em uma situação de fala contínua, a entonação pode ser vista como
uma escolha que se faz em um sistema composto pelos cinco tons primários
ilustrados acima.
A proposta desta pesquisa consiste em utilizar a teoria apresentada (HALLIDAY,
1970) como fundamentação para o desenvolvimento da nossa análise dos dados de
produção oral, obtidos das crianças pesquisadas. Contudo, especificamente esta
exposição sobre os tons foi feita apenas para um melhor conhecimento da teoria,
não nos interessando, para o presente estudo, os tipos de tons, mas a identificação
dos grupos tonais e de seus constituintes. Estes dados foram também submetidos à
análise acústica computadorizada, conforme será descrito posteriormente, no
capítulo sobre metodologia.
Esta seção apresentou a teoria de Halliday (1970), cuja aplicabilidade será discutida
no capítulo seguinte, no qual faremos a exposição de nossa metodologia. A próxima
seção traz um apanhado geral sobre algumas pesquisas, encontradas na literatura
pesquisada, envolvendo a prosódia na leitura em voz alta.
2.2 LEITURA EM VOZ ALTA E PROSÓDIA
Estudos direcionados à fluência na leitura têm sido conduzidos há muito tempo,
entretanto, sobretudo na década de 1980, estes estudos eram direcionados à
decodificação fonológica, no nível do reconhecimento de palavras isoladas. Assim,
81
quando a decodificação fonológica estava normal, e o reconhecimento acontecia
automaticamente, a leitura era considerada fluente. Foi a partir da década de 1990,
sob observações mais profundas do processamento cognitivo e com o auxílio de
novas tecnologias, este campo de pesquisa se ampliou, trazendo a noção de que o
processamento cerebral para a leitura é multidimensional e baseado em processos
interativos de vários componentes que são ativados durante a leitura (BREZNITZ,
2006).
Dessa maneira, ainda hoje, o termo fluência na leitura, embora amplamente utilizado
na literatura, não encontra uma definição tão clara e consensual. O seu uso vai
desde a ênfase na habilidade de reconhecer palavras rapidamente e com precisão à
conexão entre fluência e expressão de pensamentos. Hoffman; Isaacs (1991)
apresentam como definição de fluência na leitura em voz alta uma leitura que
procede suave e ritmicamente, em que as palavras são agrupadas em frases, à
medida que unidades de pensamento com significado são indicadas por pausas
apropriadas e inflexões da voz. DeFord (1991) postula que a leitura oral fluente está
relacionada à homogeneidade, na qual os leitores estão atentos às palavras
(decodificação) e às unidades maiores da linguagem. Dessa forma, enquanto um
certo grau de precisão está freqüentemente relacionado à leitura fluente, os
aspectos mais críticos estão relacionados às pausas, às variações da altura
melódica, ao acento e à habilidade de orquestrar este complexo sistema de
significados; à linguagem e a sistemas de informações visuais e não-visuais no fluxo
do processo de leitura. Estas definições dos dois autores mencionados apresentam
uma visão mais ampla do processamento da leitura e encontram-se condizentes
com a nossa perspectiva de trabalho.
82
Diferentes pesquisadores afirmam que a prosódia apropriada durante a leitura em
voz alta caracteriza uma leitura fluente (CHOMSKY, 1978; RASINSKI, 1990;
SAMUELS; SCHAERMER; REINKING, 1992). De acordo com estes pesquisadores,
uma prosódia apropriada durante o processo de leitura é o resultado de
reconhecimento de palavras e compreensão eficientes, e sua expressão é
caracterizada por uma leitura corretamente acentuada e fluente, com compreensão
textual.
É interessante observar a interferência dos recursos prosódicos na aquisição tanto
da linguagem oral quanto da habilidade de leitura. Conforme alguns estudos sobre
aquisição da linguagem apontam, desde o estágio dos balbucios, as crianças
começam a produzir “enunciados” com características prosódicas da linguagem a
qual elas são expostas (CRYSTAL, 1975). Há também evidências de que, antes
mesmo de um ano de idade, as crianças utilizam a prosódia como indicador primário
da estrutura sintática (HIRSH-PASEK et al., 1987). Assim, uma vez que as crianças
são altamente sensíveis aos aspectos melódicos do sinal de fala e uma vez que
estas características prosódicas constituem um valioso indicador da organização
frasal, pode-se assumir, de acordo com os estudos de Schreiber (1991), que as
crianças, em seus primeiros anos escolares, podem utilizar a prosódia como uma de
suas primeiras pistas para a segmentação sintática.
Breznitz (2006) acrescenta, ainda, que a prosódia na leitura serve como uma
representação auditiva de informações abstratas, como, por exemplo, a estrutura
sintática. Dessa maneira, a informação é mais prontamente disponível ao sistema de
83
processamento lingüístico e mais resiliente para o armazenamento na memória de
trabalho. Esta concepção é fundamental para esta pesquisa, pois nos dá uma
perspectiva da relação entre prosódia e processamento lingüístico e, sobretudo, nos
leva a refletir sobre suas relações com a compreensão da leitura mediada pela
memória de trabalho.
Schwanenflugel; Hamilton; Kuhn; Wisenbaker; Stahl (2004) citam que as
características potencialmente mais importantes para a prosódia na leitura são:
mudanças perceptíveis na altura melódica; acento e intensidade; duração e pausas.
Além destes, deve-se considerar também habilidades, como adequado agrupamento
de palavras em frases ou unidades de significado, de acordo com a estrutura
sintática do texto. Os resultados de suas pesquisas indicam que, à medida que as
crianças se tornam fluentes na leitura, elas lêem com pausas mais curtas e
declinação gradual de F
0
(freqüência fundamental) ao final das sentenças.
Dowhower (1991), em uma investigação da prosódia na leitura em voz alta de
estudantes, identificou seis marcadores relacionados à expressividade na leitura:
a presença ou ausência de pausas de intrusão (hesitações inapropriadas
dentro de palavras ou de unidades sintáticas). Um menor número dessas
pausas foi indicativo de melhores habilidades prosódicas na leitura. As
pausas inapropriadas afetaram a compreensão do texto lido.
o tamanho das frases entre as pausas. Um indicador encontrado de boa
fluência foi a organização do texto em grupos de palavras de forma a
aumentar o tamanho das frases lidas.
84
o número de frases apropriadas e inapropriadas (grupo de palavras
sintaticamente/ fonologicamente aceitáveis). Erros deste tipo comprometem
não somente a fluência, mas também a compreensão do texto.
a duração da palavra final da frase sintática. A última sílaba acentuada de
uma frase tem duração maior do que em uma outra posição. Este
prolongamento reflete a hierarquia de estruturações sintáticas maiores e é um
bom indicador de que o estudante aprendeu a agrupar o texto
apropriadamente.
a mudança de altura melódica na marca de pontuação final. O contorno
entonativo é uma importante pista para o agrupamento de unidades de
informação e estruturação gramatical. Foi encontrado que, à medida que os
estudantes iam lendo mais rápido, com precisão e compreensão, eles
marcavam mais as palavras finais das sentenças com contorno entonativo
descendente.
acento. Com a adequada utilização do acento e da proeminência, o leitor
enfatiza a parte do enunciado que ele percebe como significante.
Dessa forma, os leitores capazes de utilizar estes marcadores apropriadamente são
capazes de transferir o seu conhecimento da sintaxe da fala para o texto,
efetivamente aplicando estas características à sua leitura. Como resultado, esses
leitores mantêm as características de expressividade da linguagem oral em adição à
sua precisão, velocidade e compreensão.
Wichmann (2000) aponta que uma sentença simples isolada, lida em voz alta, tem
um padrão melódico típico: começa alto e termina baixo. Se alguém lê em voz alta
uma lista de sentenças desconexas, este padrão se repetirá, tendo cada sentença o
85
mesmo padrão melódico descendente, começando e terminando em alturas
melódicas similares. Para quem está ouvindo, um dos indicadores mais claros de
que uma nova sentença está começando é a súbita mudança na altura melódica do
fim da sentença para o começo da subseqüente. Esta subida na altura melódica
para um novo começo é conhecida como reinicialização da melodia, uma vez que o
que ocorre é uma reinicialização da declinação. A declinação é a tendência típica de
a altura melódica cair gradualmente no decorrer de uma sentença, seja na fala
espontânea, ou na leitura em voz alta (COHEN; HART, 1967; LADD, 1984). Este
fenômeno, de acordo com autores como Lieberman (1967) e Collier (1975), pode ser
atribuído à queda da pressão subglótica. No entanto, hoje sabemos que a questão é
um pouco mais complexa e envolve, além do lado fisiológico, que desempenha um
importante papel, também questões fonológicas sob o controle do falante
(GUSSENHOVEN, 2004). A maioria dos textos lidos em voz alta, como é o caso na
nossa pesquisa, não consiste de sentenças isoladas. As sentenças encontram-se
agrupadas em unidades maiores de significado, contidas em parágrafos e textos
completos. Dessa forma, o leitor é capaz de sinalizar, por meio da entonação, a
organização de unidades do discurso sobre um único tópico. A forma com que os
falantes utilizam a entonação para agrupar sentenças em uma constituição
semelhante a parágrafos é referida por Lehiste (1970) como ‘parágrafo entonativo’
ou ‘parágrafo conceitual’, cujo correlato prosódico mais comum é uma reinicialização
da melodia extra-alta no começo da primeira sentença.
Voltando agora à perspectiva de fluência como habilidade de decodificação, é
interessante mencionar o estudo de White (1995) citado por Breznitz (2006), que
distinguiu leitores fluentes e não-fluentes, estudantes da quarta série, pela média do
86
número de palavras corretamente lidas em um minuto. Os dados indicaram que
leitores fluentes leram uma média de 140 palavras por minuto, enquanto os leitores
não-fluentes leram apenas 80 palavras por minuto. Este estudo indicou também uma
correlação positiva entre fluência e compreensão.
Estudos de aspectos prosódicos temporais na leitura – utilizando-se não apenas de
palavras ou frases isoladas, mas sim do texto como uma unidade de significação, e
tomando como parâmetro de comparação a habilidade de reconto do material lido –
foram conduzidos por Carvalho (2003), Celeste (2004) e Alves; Pinheiro; Capellini;
Reis (2006).
Carvalho (2003) desenvolveu sua pesquisa a partir da análise acústica de leitura e
relato oral por adultos estudantes universitários. Aspectos prosódicos, como,
velocidade de fala, pausas e variação melódica, foram analisados, e os resultados
demonstraram que a velocidade de fala é maior na leitura do que no relato oral e
que, inversamente, a duração das pausas – que se caracterizaram, em sua maioria,
por pausas silenciosas – é menor na leitura.
O trabalho de Celeste (2004) foi desenvolvido com crianças entre 7 e 8 anos de
idade, estudantes da segunda série do ensino fundamental, com o propósito de
analisar os seguintes aspectos temporais: velocidade de fala, pausas e número de
sílabas. O estudo comparou o desempenho das crianças na leitura e no relato oral
do texto lido. As conclusões do estudo levaram à constatação de que a ocorrência
das pausas na leitura é em maior número, porém elas são mais longas no relato e a
sua ocorrência foi maior dentro dos enunciados para a leitura, enquanto que, para o
87
relato, foi maior entre os enunciados. Foi encontrada também grande diferença do
número de sílabas dentro da leitura de cada criança, do mesmo texto e que a
velocidade de fala foi menor do que a taxa de articulação em todos os sujeitos.
Em estudo semelhante, porém desenvolvido com crianças com transtorno de
aprendizagem em comparação a um grupo-controle, Alves; Pinheiro; Capellini; Reis
(2006) também conduziram análises de aspectos temporais, além de outros
aspectos prosódicos, comparando-se os achados da leitura aos do reconto da
história. Os resultados demonstraram que aspectos relacionados à variação da
freqüência fundamental (demonstrando claramente uma restrição na habilidade de
variar a melodia e também marcar a modalidade frasal através deste recurso),
aspectos relacionados ao processamento temporal (utilização excessiva das pausas
e fora da sua localização habitual, velocidade de leitura e articulação reduzidas) e as
dificuldades na marcação da tônica proeminente foram claramente associados a um
perfil que pode ser atribuído a crianças com transtorno de aprendizagem. Ao se
relacionar os achados das variáveis acústicas prosódicas aos de compreensão, foi
possível chegar às seguintes conclusões: o aumento dos valores de tessitura vocal,
tempo de articulação e taxa de elocução para o reconto provocaram um aumento da
habilidade de compreensão; a diminuição das pausas também se relacionou ao
aumento do número de acertos nas questões de interpretação do texto.
É interessante observar, nos três estudos mencionados, o importante papel
desempenhado pelas pausas na habilidade de leitura, sempre aparecendo como
resultado relevante nas pesquisas. As pausas durante a leitura tendem a ser
relacionadas a necessidades cognitivas e fisiológicas (GOLDMAN-EISLER, 1980;
88
GROSJEAN; COLLINS, 1979; SIEGMAN, 1978). Dessa forma, pausas em um
enunciado falado ou lido são para processar a informação ou respirar. Ambos os
componentes determinam a duração e a freqüência das pausas. A prosódia na
leitura é também expressa pela quantidade e duração de vocalizações e pausas na
leitura em voz alta (BREZNITZ, 2006). Dada essa grande importância, tal variável
será analisada minuciosamente, no presente trabalho.
Alguns estudos tentaram estabelecer uma correlação entre a prosódia e a
pontuação utilizada no texto escrito (CHAFE, 1988; COHEN et al., 2001). Cohen et
al. (2001) investigaram a influência da prosódia e o seu “correspondente visual”: a
pontuação na compreensão de texto, em dois experimentos. O primeiro foi
relacionado ao processamento oral do discurso e objetivou verificar o papel da
prosódia na compreensão do ponto essencial do discurso e o reconhecimento de
unidades lexicais em textos apresentados auditivamente sob três condições: normal
em monotom e com os padrões prosódicos alterados. Os resultados indicaram
melhor compreensão sob condição normal do que em monotom ou em condição
alterada. Além disso, o reconhecimento de palavras foi melhor quando a prosódia
era normal. O segundo experimento envolveu o processamento do texto escrito. A
proposta foi verificar o papel da pontuação na compreensão do texto e o
reconhecimento de unidades lexicais em textos visualmente apresentados sob três
condições: normal, sem pontuação e com a pontuação alterada. Os resultados
indicaram melhor compreensão quando a pontuação era normal do que quando
estava ausente ou alterada, embora a ausência ou alteração da pontuação não
tenham impedido a compreensão. Adicionalmente, a ausência de estruturação
prosódica provida pela pontuação prejudicou o reconhecimento de palavras. Os
89
resultados mostraram ainda que, enquanto a ausência de pontuação não impediu a
compreensão do texto visualmente apresentado, a condição equivalente na
modalidade auditiva impediu a compreensão. Estes estudos, embora relacionados,
demonstram duas situações completamente diversas, envolvendo dois
processamentos diferentes e que, do nosso ponto de vista, não são diretamente
relacionados, que são a habilidade de percepção prosódica (auditiva) e adequada
utilização da pontuação (visual). A ausência desta, no caso de leitores proficientes,
não é capaz de interferir significativamente na organização prosódica, uma vez que
a habilidade de processamento prosódico na leitura pode acontecer normalmente,
desde que haja uma leitura prévia do texto, possibilitando ao leitor oportunidade de
organização semântica e estruturação sintática, o que o levará a uma manifestação
prosódica coerente com a sua estruturação própria. Estudos, como o de Wichmann
(2000), mostram como crianças de 10 anos são capazes de conduzir a estrutura
retórica de um texto, sobrepondo-a a divisões óbvias do texto impresso, ignorando
pontos finais e letras maiúsculas, a fim de manifestar a sua própria organização do
texto pela reestruturação prosódica na leitura em voz alta. Também Schwanenflugel
et al. (2004) afirmam que os leitores devem abstrair as características prosódicas em
uma grande extensão quando lêem em voz alta. Assim, uma das tarefas que as
crianças têm ao aprenderem a ler em voz alta é que há limitações da pontuação
como pistas para a extração da prosódia da estrutura subjacente do texto.
Não existem muitas pesquisas relacionando os temas prosódia e compreensão da
leitura, e uma grande questão permanece ainda sem reposta: seria a prosódia uma
importante habilidade para a capacidade de compreensão, ou seria a habilidade de
compreensão uma determinante para a obtenção de uma boa prosódia durante a
90
leitura? Embora a pesquisa conduzida por Alves; Pinheiro; Capellini; Reis (2006)
tenha encontrado correlação entre as variáveis prosódicas estudadas e a habilidade
de compreensão, a direção dessa relação permaneceu em aberto. Logicamente,
excluindo-se as dificuldades de decodificação, normalmente, a boa compreensão do
texto se reflete na estruturação prosódica. Podemos, assim, levantar a hipótese de
que, na perspectiva do locutor, é a compreensão que determina a prosódia. No
entanto, na perspectiva do ouvinte de uma leitura em voz alta, é a prosódia que
certamente interferirá na compreensão da leitura feita.
Schwanenflugel et al. (2004) apresentam duas teorias que envolvem esta questão. A
primeira postula que a prosódia serve como um mediador parcial entre a velocidade
de decodificação e a compreensão da leitura. Assim, à medida que a criança adquire
habilidades automáticas de decodificação, ela pode alocar a sua atenção para
outras funções superiores de leitura, como a prosódia em situações de leitura oral,
por exemplo. As pausas e as variações na altura melódica servem para prover
feedback relacionado a unidades sintáticas e semânticas do texto, contribuindo
assim, para uma melhor compreensão. A segunda teoria assume a compreensão da
leitura como um preditor do modelo de leitura prosódica. Ou seja, a prosódia na
leitura seria um reflexo da boa compreensão e habilidades de decodificação. Dessa
forma, as crianças mais hábeis em compreender e decodificar o que lêem são mais
aptas a construir ênfases apropriadas e a estruturar, sintática e semanticamente, os
enunciados quando lêem em voz alta. A compreensão é, neste modelo, vista como
um copreditor da prosódia na leitura, juntamente com a velocidade de decodificação.
91
Os estudos de Breznitz (1990) mostraram que a prosódia apropriada na leitura,
medida pela quantidade de pausas e vocalizações na leitura oral, aumenta a
compreensão. A sua pesquisa avaliou os parâmetros extensão das vocalizações e
duração das pausas na leitura oral e sua relação com a compreensão em
estudantes da primeira série. No primeiro bimestre do ano, foi observado que 38%
do tempo de leitura foi de vocalização e 62% foi preenchido por pausas. Já no
quarto bimestre, a extensão das pausas foi de 41% e das vocalizações foi de 59%.
Dessa forma, em comparação ao estágio inicial de aquisição da leitura, os
estudantes, ao final do ano, fizeram um número menor de pausas, que se
apresentaram mais curtas e leram unidades mais longas de vocalização. Durante o
último bimestre do ano, os leitores pronunciaram 53% a mais de palavras por
segundo. Quando estes resultados foram correlacionados aos achados relativos à
compreensão do texto lido, foi encontrado que um menor número de pausas e maior
de vocalizações está associado a uma melhor compreensão. Ao concluir os seus
estudos, Breznitz afirma que a forte conexão encontrada entre prosódia e estrutura
na leitura oral implica que a prosódia pode ser um indicativo de uma transformação
bem sucedida de input visual em código fonológico, trazendo um padrão preciso
para a memória de trabalho para os demais processamentos.
De acordo com Breznitz (2006), o padrão de enunciados e pausas na leitura oral
contribui para a medida da fluência na leitura. Dessa forma, a prosódia, por si só,
não pode ser uma determinante da fluência na decodificação de palavras, mas pode
ser vista como uma medida diagnóstica para a qualidade da decodificação de
palavras e a compreensão da leitura. É extremamente interessante esta visão das
habilidades prosódicas como medida diagnóstica, o que vem reforçar a importância
92
do presente trabalho, sendo que esta visão é compartilhada por outros autores,
como Kuhn; Stahl (2003) e Schwanenflugel et al. (2004).
2.3 DISLEXIA E PROSÓDIA
É evidente a inabilidade de leitura das crianças disléxicas, evidenciada na
modalidade oral de leitura. A fluência, a velocidade, a precisão articulatória e a
entonação estão visivelmente alteradas nestas crianças.
Entretanto, mesmo diante da grande importância desses aspectos para um bom
desenvolvimento da aprendizagem da leitura, eles pouco têm sido pesquisados.
Dentro da bibliografia consultada, encontramos poucas referências que tratam dos
aspectos supra-segmentais da criança disléxica.
Faz-se, portanto, necessária uma investigação minuciosa sobre o funcionamento
dos aspectos prosódicos nas crianças disléxicas, a fim de suprir esta carência. Mas
por que existe esta lacuna? Por que os estudos sobre a dislexia não estão ainda
voltados para os aspectos lingüísticos do seu funcionamento?
Encontramos uma possível resposta na evolução histórica das pesquisas sobre
dislexia. Por volta da década de 70, os especialistas concentravam-se nas
habilidades que hoje são consideradas periféricas no processo de leitura e escrita:
habilidades perceptivas auditivas, visuais e psicomotoras: motricidade, lateralidade,
93
orientação espacial e temporal (GRÉGOIRE; PIÉRART, 1997). Ao final da década
de 70, Vellutino (1979) apresenta sua obra que compara, com rigor metodológico,
crianças disléxicas com diversos grupos-controle. Seus achados levaram à nítida
conclusão de que os “maus leitores” só se diferenciaram do grupo-controle em
habilidades que requerem, direta ou indiretamente, a linguagem oral ou análise
desta (habilidades metafonológicas e metacognitivas). Entretanto, somente alguns
anos depois, diante dos fracassos das hipóteses perceptivas e psicomotoras é que
se passou a considerar a idéia de que os déficits das crianças disléxicas são
cognitivos e lingüísticos (GRÉGOIRE; PIÉRART, 1997).
Vemos assim, atualmente, muitos avanços em pesquisas buscando elucidar a
questão da dislexia do ponto de vista cognitivo, sobretudo no campo da psicologia
cognitiva. Na área de lingüística, especificamente no campo da prosódia, entretanto,
muito há ainda a se contribuir, principalmente no Brasil. Apresentaremos, a seguir,
os resultados de alguns estudos que buscam relacionar questões fonéticas ou
supra-segmentais ao quadro de dislexia.
Anderson; Podwall; Jaffe (1984) administraram o teste de nomeação automática
rápida em um grupo de crianças disléxicas e normais, entre 8 e 11 anos de idade.
Medidas do sinal acústico da fala obtido durante as nomeações foram conduzidas, a
fim de se verificar o tempo de decodificação e de articulação. Foi encontrado que os
tempos de vocalização e de pausas foram significativamente maiores para as
crianças disléxicas, com aumento da duração das vogais entre o grupo de disléxicos.
94
Fawcewtt; Nicolson (2002) conduziram uma pesquisa com pacientes disléxicos entre
13 e 16 anos, voltada para questões articulatórias destes indivíduos. Seus estudos
mostram que, além dos problemas em planejar o gesto articulatório, estas crianças
apresentam problemas também em produzi-los, tornando a velocidade de produção
de cada gesto articulatório mais lenta do que nos indivíduos normais. Lalain; Joly-
Pottuz; Nguyen; Habib (2003) também encontraram diferenças no tempo de
execução de movimentos articulatórios entre crianças disléxicas e de um grupo-
controle, diferenças estas que os levaram à conclusão de que as crianças disléxicas
apresentam um déficit no controle motor fino para os movimentos articulatórios. Do
mesmo modo, Savage (2004) defende a teoria de um déficit no automatismo motor,
na fala de crianças com dislexia.
Com o objetivo de compreender melhor os aspectos temporais das produções
espontâneas de fala na população de crianças disléxicas, Smith et al. (2006)
propuseram um estudo com crianças com risco de transtorno de leitura, verificando
se as características temporais das sílabas e pausas na linguagem espontânea
seriam características preditoras de problemas posteriores de leitura. Os resultados
demonstraram que a velocidade de fala e a proporção do tempo de pausas com o
tempo de fala podem prover indicações precoces de crianças com alto risco de
desenvolverem transtornos de leitura.
Especificamente relacionando estes aspectos à leitura de indivíduos disléxicos,
encontramos os trabalhos de Breznitz (BREZNITZ, 1987; BREZNITZ, 1997;
BREZNITZ, 2006). Breznitz; Leikin (2001) propuseram um estudo em que foram
examinadas as diferenças na atividade cerebral, medidas pela amplitude e pela
95
latência de potenciais evocados (por meio dos testes N100 e P300), enquanto
processavam componentes de sentenças com diferentes funções gramaticais.
Participaram do estudo estudantes entre 18 e 27 anos, normais e disléxicos. Os
resultados apontaram para a velocidade de leitura como uma variável independente,
capaz de influenciar a qualidade da performance na leitura. Os efeitos de se acelerar
a velocidade de leitura foram benéficos para a sua compreensão. Além do fato de
que uma leitura mais rápida caracteriza melhores leitores, também, aumentando-se
a velocidade de leitura, aumenta-se a proficiência destes. As conclusões dos
estudos revelaram não somente que a velocidade de leitura é crucial para uma boa
performance nesta atividade, mas também confirmaram a hipótese de um fraco
processamento sintático em disléxicos.
Na seção 1.2, apontamos, como um dos fatores causais da dislexia, a deficiência do
processamento fonológico, seja por uma alteração no processamento temporal, na
própria codificação fonológica ou por outros déficits de processamento lingüístico.
Assim, o estudo da entonação presente na leitura em voz alta das crianças
disléxicas, assunto escassamente explorado, pode fornecer dados importantes para
a compreensão dos problemas de natureza lingüística dos disléxicos.
Ressaltamos a importância de não somente se estudar a leitura dos indivíduos com
dislexia – uma vez que este é o ponto principal de suas dificuldades –, mas
principalmente de se estudar esta leitura de forma contextualizada. Um texto
completo – por meio do qual se pode retirar uma interpretação e verificar, além de
aspectos segmentais e supra-segmentais relacionados à leitura, o seu
aproveitamento, a interpretação que se obtém – nos provê um bom meio para se
96
observarem os recursos prosódicos e a capacidade de interpretação destes
indivíduos.
Aliado a este fato, é importante também pensarmos que há estudos prosódicos que
se preocupam com a forma na representação prosódica, e outros que se preocupam
com a função. Hirst (2005) esclarece que a função está em nível interpretativo, e a
forma pode-se ter tanto no nível da representação fonética (englobando valores
quantitativos diretamente relacionados ao sinal acústico), quanto no nível da
fonologia de superfície (codificando a forma prosódica como uma seqüência de
símbolos discretos, mas diretamente relacionados ao sinal acústico). O ideal é que
não se separe forma de função, que todos os estudos sejam feitos abordando-se os
dois aspectos. Embora nosso trabalho esteja mais diretamente voltado para a forma
no nível da representação fonética, procuraremos abordar os demais níveis,
voltando a discussão para estes aspectos, sempre que possível.
Passaremos agora, ao capítulo 3 que busca descrever a metodologia a ser utilizada
no presente trabalho.
97
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA
98
3.1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa abrangeu cinco etapas. A primeira consistiu na busca dos
sujeitos com diagnóstico confirmado de dislexia no Ambulatório de Neuro-
Dificuldades de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências
Médicas da UNICAMP. Após esses sujeitos terem sido identificados e contactados,
deu-se início à segunda etapa, na qual foram aplicados os procedimentos de
gravação da leitura e reconto e obtenção da atividade objetiva de interpretação do
texto. Em seguida à constituição deste grupo clínico e após todos os procedimentos
necessários para a pesquisa terem sido aplicados, passou-se para a terceira etapa,
que foi a busca pelos sujeitos que iriam compor o grupo não-clínico, levando-se em
consideração a sua idade, escolaridade, habilidade de leitura e ausência de queixas
de alterações de linguagem ou aprendizagem. Desse grupo, selecionaram-se as
crianças com perfil semelhante ao grupo clínico que formou a amostra do grupo não-
clínico (controle). A quarta etapa consistiu na coleta de dados deste grupo, seguindo
exatamente os mesmos procedimentos realizados com o grupo clínico. E,
finalmente, a quinta etapa consistiu na análise perceptiva, acústica e estatística dos
dados coletados.
99
3.2 AMOSTRA
O estudo teve como objetivo averiguar o efeito da condição dislexia na prosódia da
leitura dos sujeitos com este quadro. Para atingir esse objetivo, dois grupos de
sujeitos foram estudados. O primeiro foi formado por crianças que receberam
diagnóstico de dislexia – grupo clínico (GC) – e o outro, por crianças sem esse
diagnóstico e sem queixas de outras alterações de linguagem ou aprendizagem –
grupo não-clínico (GNC).
Participaram desta pesquisa 40 estudantes, sendo 10 disléxicos (grupo clínico) e 30
do grupo não-disléxicos (grupo não-clínico), com idade entre 9 e 14 anos, cursando
da 3
a
à 5
a
série em escolas da rede pública de ensino, na cidade de Campinas –
São Paulo e região.
A escolha por esta faixa etária se deu em função de ser um período em que o
estudante já passou da fase alfabética plena de leitura (EHRI, 2003) e está inserido
no contexto escolar, em uma época em que é normalmente diagnosticado o
problema.
100
3.3 PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DA AMOSTRA
3.3.1 A seleção do grupo clínico
O diagnóstico da dislexia exige a participação de uma equipe interdisciplinar e a
utilização de diferentes instrumentos de avaliação (CIASCA, 2003). Em função da
inexistência de tal equipe em Belo Horizonte, optou-se por fazer a coleta no
Ambulatório de Neuro-Dificuldades de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – FCM /
UNICAMP, que é adequadamente instrumentalizado. Assim, a pesquisadora coletou
os dados durante o segundo semestre do ano de 2005 junto a esse Ambulatório.
Nossa população clínica é pequena, pois, durante o período mencionado, esse foi o
número total de sujeitos (dez) com o perfil descrito acima – com diagnóstico de
dislexia –, capazes de ler, que participaram de avaliação, tratamento ou receberam
devolutivas no ambulatório. A fim de aumentar o número amostral, outros pacientes
dessa faixa etária, que já haviam recebido o diagnóstico de dislexia pela equipe do
ambulatório foram também contactados para que retornassem, a fim de receberem
orientações e também passarem pela nossa coleta de dados. Contudo, apenas uma
criança compareceu, fechando o nosso número em 10 sujeitos disléxicos.
Assim, todos os sujeitos disléxicos participantes da pesquisa são pacientes já
avaliados pelo referido Ambulatório da FCM – UNICAMP. Estes pacientes foram
101
avaliados por uma equipe interdisciplinar, constando de avaliação neurológica,
neuropsicológica, pedagógica e fonoaudiológica com o diagnóstico confirmado de
dislexia do desenvolvimento. É importante salientar que, embora a pesquisadora não
tenha participado do processo de avaliação desses sujeitos, os dados analisados
neste trabalho foram coletados na íntegra por ela.
No grupo de pacientes com o diagnóstico confirmado de dislexia do
desenvolvimento (grupo clínico), metade da amostra foi submetida a um programa
de remediação fonológica
10
, ou seja, um programa de tratamento constando de 20
sessões baseadas no desenvolvimento das habilidades de consciência fonológica
(SALGADO, 2005). Assim, o grupo clínico (GC) foi dividido em dois subgrupos: um
grupo de 5 crianças que não passou por nenhum tipo de tratamento – GC I, e um
grupo de 5 crianças que passou pelo programa de remediação fonológica descrito
em Salgado (2005) – GC II.
3.3.2 A seleção do grupo não-clínico
Os sujeitos do grupo não-clínico (GNC) são estudantes, também com idade entre 9 e
14 anos de idade, da 3
a
a 5ª séries, de duas escolas da rede Estadual de Ensino em
Bragança Paulista – SP. Tais sujeitos que foram selecionados pelos professores
utilizando-se os critérios desenvolvidos por Pinheiro; Costa (2005) são apresentados
10
Para maior aprofundamento sobre o tema, ver: SALGADO, C. A. Programa de remediação
fonológica em escolares com dislexia do desenvolvimento. 2005. Dissertação (Mestrado) – Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
102
no ANEXO A. Pinheiro (2001) atenta para a discrepância que existe, muitas vezes,
entre a avaliação da professora e a avaliação cognitiva de leitura conduzida
posteriormente aos alunos pré-selecionados. Para diminuir o risco desta
discrepância e aumentar a confiabilidade de nossos dados, aplicou-se aos
professores regentes das classes a escala de Pinheiro e Costa que permitiu a
classificação dos alunos, por critérios objetivos, em três categorias: a) alunos que
lêem bem; b) alunos que lêem mais ou menos; c) alunos que lêem mal. A partir
desta lista classificatória, foram escolhidos os sujeitos classificados como bons
leitores, de modo a compor o número amostral de 30 estudantes sem queixas de
alterações de linguagem oral e escrita.
Para que esses estudantes fossem classificados como bons leitores de acordo com
os critérios de Pinheiro; Costa (2005), foram apontadas, pelos professores, as
características que seguem. Em situação de leitura em voz alta, foram selecionados
os estudantes capazes de:
ler rapidamente as palavras “conhecidas”, as palavras “pouco conhecidas”,
palavras “novas” e palavras inventadas;
ler palavras corretamente;
ler com ritmo, nem tão devagar, nem tão rápido;
ler com entonação compatível com a pontuação, expressando emoções e
sentimentos de acordo com o texto lido;
demonstrar ter entendido o que leu quando indagado sobre o texto lido.
Em situação de leitura silenciosa, foram selecionados os alunos capazes de:
103
identificar personagens, lugares e idéias principais do texto, após a primeira
leitura;
identificar o assunto a partir do título e vice-versa;
escolher um título para passagens apresentadas sem título ou mesmo um
título alternativo para passagens com título;
resumir oralmente o texto lido.
Utilizamos, neste estudo, um grupo-controle composto por três vezes mais
indivíduos do que o grupo-experimental, com o intuito de aumentar a validade
interna dos achados. Quanto maior a amostra do GNC, mais podemos generalizar
os dados para a população geral.
3.3.3 O pareamento da amostra
Os sujeitos participantes desta pesquisa foram então divididos em três grupos: GC I,
que são as crianças com dislexia não submetidas ao programa de remediação
fonológica (constituído por 5 indivíduos); GC II, constituído pelas crianças com o
quadro de dislexia submetidas ao programa de remediação (constituído por 5
indivíduos); e o GNC, formado pelas crianças sem alterações no desenvolvimento da
aprendizagem (constituído por 30 indivíduos).
Foi feito também um pareamento destes estudantes por série, de forma a haver um
número proporcional de estudantes para cada série, tanto no GC quanto no GNC.
104
Assim, como o nosso GNC é três vezes maior do que o GC, buscamos três vezes
mais estudantes de cada série para compor o GNC. Dessa forma, se na 3ª série
temos dois estudantes com dislexia, no GNC, nós temos seis estudantes, e assim
por diante, conforme discriminado na TAB. 1.
Tabela 1 – Distribuição dos sujeitos por série
Série
Número de sujeitos
GC I GC II GNC
3ª série
1 1 = 2 6
4ª série
3 1 = 4 12
5ª série
1 3 = 4 12
Como há, tanto no GC I quanto no GC II, séries com somente um sujeito
representando-a, não foi possível realizar análises comparativas entre as séries.
Assim, foi conduzido o teste estatístico F de Fischer-Snedecor, utilizando-se a série
como fator de bloco, para minimizar o efeito da variável “série”. Utilizar uma variável
como efeito de bloco é tentar diminui o efeito que essa variável possa fazer na hora
da comparação de duas médias.
3.3.4 Aspectos éticos
O presente projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Faculdade de Ciências
Médicas da UNICAMP, tendo sido aprovado em 03/02/2005, sob o protocolo nº
029/2005 (ANEXO B). Obtivemos autorização verbal e por escrito dos responsáveis
105
legais pelas escolas e pelo ambulatório da UNICAMP para a realização do estudo.
Todos os sujeitos analisados foram informados quanto aos procedimentos,
benefícios, riscos e confiabilidade do estudo. Dessa forma, somente foram gravados
a leitura e o reconto das crianças que se dispuseram a participar da pesquisa e após
seus pais ou responsáveis terem assinado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (ANEXOS C e D), como é garantido pela Resolução 196/96
11
.
3.4 PROCEDIMENTOS DA COLETA DOS DADOS
3.4.1 Local da coleta dos dados
A coleta de dados, com gravação da produção oral dos estudantes do GNC foi
realizada na própria escola, individualmente, em uma sala à parte, em horário não
prejudicial à aprendizagem do conteúdo curricular. Já a gravação dos estudantes
disléxicos (GC) foi realizada no Ambulatório de Neuro-dificuldades de Aprendizagem
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, também
de forma individual, no dia do atendimento clínico ou reavaliação das crianças
envolvidas, sem que esses procedimentos tenham ficado prejudicados.
Não foi possível realizar as gravações em sala acusticamente tratada, em função da
indisponibilidade desse tipo de ambiente, tanto no hospital quanto nas escolas. No
11
BRASIL. Resolução MS/CNS/CNEP nº 196/96 de 10 de outubro de 1996. Aprova diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 1996. 24p.
106
entanto, em ambos os contextos, a coleta de dados foi feita em uma sala distante do
trânsito de pessoas ou outros ruídos, em horários de pouco movimento, de forma
que, em todas as situações, conseguiu-se um ambiente silencioso para as
gravações. A qualidade dos dados obtidos foi satisfatória para a análise acústica.
3.4.2 Aplicação dos procedimentos para a coleta de dados
Em primeiro lugar, a pesquisadora se apresentou tanto aos estudantes disléxicos
quanto aos do grupo não-clínico como estudante que investigaria a leitura deles,
deixando claro não se tratar de um procedimento de avaliação, para que eles
ficassem um pouco mais à vontade. Todos foram avaliados individualmente, assim,
no momento da gravação, não havia mais ninguém na sala, além do sujeito
pesquisado e da pesquisadora. Inicialmente, foi estabelecido um diálogo informal, a
fim de se obter uma boa interação entre pesquisadora e participantes da pesquisa.
Foi apresentado o texto “O tatu encabulado” (SCLIAR-CABRAL, 2003) – ANEXO E –
e solicitou-se aos sujeitos de cada grupo que o lessem em voz alta. Na literatura
consultada, foram encontradas poucas referências sobre pesquisas relacionadas à
compreensão de textos em português. Optou-se, então, por aplicar o referido texto,
por ele já ter sido testado por sua autora e por se tratar de um texto simples, de fácil
compreensão, com possibilidades de manifestação prosódica de diferentes
modalidades frasais.
107
Primeiramente, era sugerida uma leitura silenciosa do texto, antes de proceder à
leitura em voz alta. Assim que o estudante sinalizasse que estava pronto, começava-
se a gravação da leitura em voz alta. Após essa leitura, perguntava-se o que ele
havia entendido do texto, e o relato produzido – reconto do texto lido – também era
gravado. Quando o indivíduo não conseguia organizar espontaneamente uma
narrativa oral sobre o texto, a pesquisadora ia direcionando com perguntas gerais
sobre a história, do tipo: “– Sobre quem é esta história?”, “ – O que aconteceu com o
tatu?”, etc. Finalmente, era entregue uma atividade objetiva de interpretação do texto
lido (SCLIAR-CABRAL, 2003) – ANEXO F, que continha frases em que os sujeitos
deveriam marcar um “x” nas que correspondessem ao texto lido.
3.4.3 Equipamentos
O equipamento utilizado para a gravação foi um microfone de cabeça, da marca
LeSon HD-75, unidirecional (cardióide), posicionado em uma distância de cerca de 5
centímetros dos lábios do sujeito e conectado a um computador do tipo portátil da
marca HP Pavilion ZE 2210. A gravação foi feita por meio do programa Sound Forge
6.0 (com entrada de 16 bits de quantização e freqüência de amostragem de 22050
Hz) e analisada acusticamente pelo programa WinPitch Pro, de Philippe Martin.
108
3.5 PARÂMETROS DE ANÁLISE
3.5.1 Análises perceptiva e fonológica
A leitura e o reconto de cada sujeito foram transcritos ortograficamente. Cada frase
foi editada e analisada separadamente. Após a edição do material, realizamos uma
análise fonológica entonativa dos enunciados de acordo com a teoria de Halliday
(1970). À medida que cada enunciado ia sendo ouvido (o que ocorreu várias vezes)
e os seus parâmetros acústicos visualizados por meio do programa WinPitch,
procedeu-se à divisão dos enunciados em grupos tonais. De acordo com Halliday, os
grupos tonais se constituem como base da análise entonativa. Esta é, então, a
nossa unidade de análise.
Os grupos tonais obtidos foram divididos em pés, tiveram suas proeminências
tônicas identificadas e suas pausas examinadas. Toda essa análise recebeu a
devida marcação convencionalizada por Halliday (1970) e apresentada na seção
2.1.5.
109
3.5.2 Análise acústica
Para a análise acústica instrumental, em cada grupo tonal, foi examinado o
espectrograma de banda larga, a curva de freqüência fundamental (F
0
) e o
oscilograma. Essa análise foi feita utilizando-se o programa WinPitch Pro, de
Philippe Martin. Os parâmetros acústicos utilizados no estudo da entonação são:
freqüência fundamental, duração e intensidade (KENT; READ, 1992).
A tela do programa WinPitch é representada na FIG. 8. Temos um gráfico em que o
tempo é representado no eixo horizontal, em segundos e a F
0,
no eixo vertical, em
Hertz. A primeira linha de cima para baixo, em vermelho, consiste na representação
gráfica da curva de F
0
, logo abaixo temos o oscilograma em verde, e o sombreado
azul consiste na representação da intensidade.
Figura 8 – Tela do programa WinPitch ilustrando sujeito do GC lendo a frase: “Você quer?”.
110
3.5.2.1 Análise dos aspectos prosódicos temporais
Os aspectos prosódicos temporais são relacionados ao parâmetro duração. Crystal
(1988) define duração como a extensão de tempo envolvida na articulação de um
som ou sílaba. É importante ressaltar que a duração dos segmentos pode sofrer
influência da interação de fatores, como, o contexto fonológico, a duração intrínseca
do próprio segmento, além de aspectos do ritmo, acento e entonação.
Para a análise dos aspectos temporais, observamos as seguintes medidas que
também são apresentadas esquematicamente, no QUADRO 3:
duração e localização das pausas: pausas
12
contidas dentro das frases e
entre as frases, em milissegundos. Foram avaliadas por meio de análise
perceptiva e acústica instrumental, concomitantemente. Foram medidas tanto
as pausas silenciosas (momentos de silêncio marcados pela ausência de
sinal acústico) quanto as preenchidas por interjeições e outras locuções,
demonstrativas de hesitação;
12
O conceito de pausa a ser seguido por este trabalho é o de Cruttenden (1986), segundo o qual a
pausa é um elemento de juntura, demarcando o limite de grupos entoacionais. Há dois tipos de
pausas: a silenciosa (correspondente a um silêncio absoluto em enunciados), e a pausa preenchida
(correspondente a elementos sonoros que são utilizados para preencher o silêncio, como,
prolongações, murmúrios e elementos do tipo “eh”, “humm”).
111
número de sílabas
13
emitidas: foi utilizada a divisão silábica fonética, por meio
de percepção auditiva;
tempo total de elocução: o tempo total de duração do texto – leitura ou
reconto, em segundos;
taxa de elocução: esta medida é obtida dividindo-se o número total de sílabas
emitidas pela duração completa do texto, ou seja, seu tempo de elocução, em
sílabas/ segundo;
tempo de articulação: este é avaliado subtraindo-se da duração total do texto
a duração total das pausas, em segundos;
taxa de articulação: esta taxa é obtida dividindo-se o número total de sílabas
emitidas pelo tempo de articulação, em sílabas/ segundo.
Essas medidas de taxa de articulação e tempo de articulação são propostas por
Grosjean; Deschamps (1975) e Grosjean; Collins (1979).
13
O conceito de sílaba sempre foi uma questão muito controversa na literatura e ainda é um ponto de
discussão entre diversos autores. Collischonn (1997) representa a sílaba no português como uma
estrutura tripartida, dividida em ataque, núcleo e coda, constituindo os dois últimos a rima. Há
também teorias que buscam a explicação da sílaba pelo mecanismo de produção do som pela
corrente de ar pulmonar (STETSON, 1951; ABERCROMBIE, 1967). Para Grammont (1965), as
sílabas podem ser analisadas sob dois enfoques: o fonológico, no qual a sílaba é uma seqüência de
abertura crescente seguida de uma seqüência de abertura decrescente, e o fonético, em que a sílaba
é a realização física da propriedade fonológica de abertura intrínseca aos fonemas, por uma tensão
fisiológica dos órgãos, crescente na parte ascendente da sílaba e depois decrescente na sua parte
descendente. Para realizar a silabação no presente trabalho, optamos por seguir os preceitos de
Grammont, no entanto, ressaltamos que se trata de uma tarefa difícil, uma vez que a delimitação das
fronteiras silábicas nem sempre se apresenta claramente definida.
112
Quadro 3 – Medidas de aspectos temporais
3.5.2.2 Análise da curva de F
0
Freqüência fundamental (F
0
) é a medida física do número de vibrações das pregas
vocais por segundo. É expressa em Hertz (ciclos por segundo – Hz). Para muitos
autores, como ‘t Hart et al. (1990), Moraes (1993) e Pierrehumbert (1987), a
caracterização do contorno de F
0
é o parâmetro mais relevante para o estudo
quantitativo da entonação.
113
a) Configuração geral da curva de F
0
Para a análise da freqüência fundamental, foi observada, primeiramente, a
configuração geral da curva, ou seja, os aspectos globais de sua configuração,
sendo medidos os valores em Hertz de F
0
inicial, final, mínimo e ximo de cada
enunciado, da seguinte forma:
- F
0
inicial: foi medido o valor inicial de F
0
sobre a primeira vogal, ignorando-se os
três primeiros ciclos, para evitar os efeitos micromelódicos. De acordo com ‘t Hart et
al. (1990), os fenômenos micromelódicos são flutuações involuntárias de F
0
que são
dependentes do conteúdo segmental da enunciação. Estes devem ser
desconsiderados para a análise de dados, pois não são programados e
voluntariamente executados pelo falante. É importante evidenciar que a omissão
destes efeitos não causa nenhuma mudança substancial na percepção da melodia
da fala, e, portanto, optamos por evitar a interferência dos efeitos micromelódicos
durante toda a nossa análise;
- F
0
final: foi medido o valor final da curva de F
0
sobre a última vogal, também se
ignorando os três últimos ciclos, para assim evitar os efeitos micromelódicos;
- F
0
mínimo: foi medido o menor valor encontrado na curva de F
0
;
- F
0
máximo: foi medido o maior valor encontrado na curva de F
0
.
114
Medimos também a tessitura vocal que o sujeito usa para cada grupo tonal, ou seja,
o quanto ele varia da F
0
mais alta produzida até a F
0
mais baixa. Para obter essa
medida, subtraímos, do valor máximo de F
0
, o valor mínimo de F
0
para cada grupo
tonal.
b) Configuração da curva de F
0
na vogal da sílaba tônica proeminente
Após as medidas da configuração geral da curva melódica, partimos para a análise
de aspectos locais, a medida das vogais das sílabas tônicas proeminentes e das
pré-tônicas de cada grupo tonal. A análise específica das vogais é um fator muito
importante, pois estas são responsáveis pela formação da curva de F
0
e constituem,
portanto, o elemento essencial para a percepção da melodia.
O primeiro passo para esta análise é a segmentação das vogais. Baseamos tal
segmentação nas informações extraídas da análise do espectrograma de banda
larga, na curva de F
0
, na curva de intensidade (as vogais, comparadas às
consoantes, em geral possuem maior intensidade) e no oscilograma (o sinal
periódico representa as vogais, além das consoantes nasais).
A configuração melódica da vogal da sílaba tônica proeminente foi observada
definindo-se a direção da curva melódica (classificada em ascendente, descendente,
descendente-ascendente, ascendente-descendente ou nivelada).
115
Para sabermos quanto cada uma das curvas melódicas segmentadas variou desde o
seu ponto inicial até o final, foi medida a amplitude da variação de F
0
(intervalo
melódico = valor mais alto de F
0
da vogal subtraído pelo mais baixo).
A duração deste intervalo e a intensidade também foram medidas.
Ainda na tônica saliente, medimos a taxa de velocidade de mudança melódica
(t’HART et al., 1990). Essa medida, que se constitui na velocidade em que
aconteceu a mudança no movimento melódico, determinada pela inclinação da
curva de F
0
, é obtida subtraindo-se o maior valor de F
0
pelo menor, e dividindo-se o
resultado pela duração deste intervalo. Obtemos assim, uma medida em Hz/s
(QUADRO 4).
Quadro 4 – Medida da taxa de velocidade de mudança melódica (t’Hart et al., 1990)
As mesmas medidas descritas foram conduzidas também na vogal da sílaba pré-
tônica de cada grupo tonal.
116
3.5.2.3 Análise da intensidade
A intensidade é uma medida do nível de energia sonora que está diretamente
relacionada à pressão aérea subglótica. A unidade de medida da intensidade é o
decibel (dB) e o correlato perceptivo é chamado de força (LADEFOGED, 1996).
Assim, por último, avaliamos a intensidade. Medimos a intensidade de cada grupo
tonal no pico do sinal de intensidade de cada sílaba. Observamos dessa forma, a
intensidade máxima e mínima. Foram medidos também os valores de intensidade
nas vogais das sílabas tônicas e pré-tônicas de cada grupo tonal.
3.5.3 Tratamento estatístico dos dados
O suporte para o tratamento estatístico dos dados foi feito da seguinte forma: foram
calculadas as médias, o respectivo desvio padrão e o coeficiente de variação para
cada variável estudada, em cada grupo pesquisado. Em seguida, foi conduzida uma
comparação entre os grupos e, para cada comparação, foi investigado se a
diferença entre as médias era estatisticamente significativa, utilizando-se a análise
de variância (Teste F de Fischer-Snedecor). Por meio dessa análise, foi utilizada a
série como fator de bloco, portanto, dessa forma, teremos o efeito da série sendo
minimizado. O nível de significância utilizado foi o de 5% (p<0,05). Ou seja, sempre
117
que o valor de p for menor do que 0,05, a diferença entre as médias será
considerada estatisticamente significativa.
Para verificar os fatores relacionados à compreensão, correlacionamos as variáveis
pesquisadas ao número de acertos no teste de compreensão. Para isto, utilizamos a
regressão logística Gompit, verificando as variáveis significativas com o número de
acertos, para cada grupo estudado.
118
CAPÍTULO 4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
119
4.1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho procurou realizar um estudo acerca das habilidades entonativas
e de processamento prosódico temporal da leitura de crianças com dislexia e sem
queixas de alterações na linguagem oral e escrita e sua relação com as habilidades
de interpretação. Em decorrência da escassez de estudos nesta área, conforme já
discutido nos capítulos 1 e 2, serão utilizadas, nesta discussão, as poucas
referências encontradas especificamente sobre o assunto, além de correlacionarmos
os resultados às referências de outras pesquisas em estudos similares.
Os resultados consistiram na análise fonológica entonativa, na medida das variáveis
acústicas prosódicas e no número de acertos no teste de compreensão. As análises
estatísticas, realizadas em cada grupo (GNC, GC – como um todo e separadamente
para GC I e GC II), compararam os valores encontrados entre os grupos e
verificaram as diferenças obtidas. Para cada variável acústica, foi feito um
histograma e, a partir do conjunto de histogramas, chegamos à conclusão de que o
Teste F (de Fischer-Snedecor) seria o mais adequado, utilizando-se a série como
fator de bloco, de modo a minimizar esse efeito causado pela série. Para verificar os
fatores relacionados à compreensão, correlacionamos as variáveis acústicas ao
número de acertos no teste de interpretação de texto. Para isso, utilizamos a
regressão logística. A partir dela, obtivemos o conjunto de variáveis que explicam
parte da variação do número de acertos.
120
Na exposição dos resultados, inicialmente, descreveremos a avaliação
interdisciplinar a que os sujeitos do grupo clínico foram submetidos. A seguir,
apresentaremos para os dois grupos, o clínico e o não-clínico, o resultado das
avaliações feitas na seguinte ordem: 1) aspectos gerais da leitura de texto – análise
qualitativa; 2) resultados referentes à análise fonológica entonativa, incluindo os
aspectos prosódicos temporais e os demais aspectos prosódicos (freqüência
fundamental e intensidade); 3) resultados sobre a tarefa de compreensão e 4)
resultados da análise de correlação entre as variáveis pesquisadas e a
compreensão do texto.
4.2 AVALIAÇÃO INTERDISCIPLINAR DOS SUJEITOS DO GRUPO CLÍNICO
Os sujeitos do GC, conforme já explicado no Capítulo 3, foram avaliados pela equipe
do Ambulatório de Neuro-dificuldades de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. Eles passaram pelas seguintes
avaliações:
Avaliação psicológica de base: Teste Gestáltico Viso-Motor – Bender,
Bateria Neuropsicológica Lúria-Nebraska (BLN – Golden, 1989) e Escala
Wechsler de Inteligência para Crianças – (WISC-III - WECHSLER, 2002);
Avaliação fonoaudiológica: avaliação fonológica (YAVAS;
HERNANDORENA; LAMPRECHT, 1991), avaliação da consciência
121
fonológica (PCF – CAPOVILLA; CAPOVILLA, 1998), teste de nomeação
automática rápida (RAN – DENKCLA; RUDEL, 1974), e provas de leitura
(CAPELLINI; CAVALHEIRO, 2000; PINHEIRO, 1994) e de escrita
(PINHEIRO, 1994);
Avaliação neurológica: avaliação neurológica tradicional e exame
neurológico evolutivo (ENE – LEFRÈVE, 1976);
Avaliação de Neuroimagem: Tomografia por Emissão de Fótons Únicos
(SPECT): é um método invasivo, com uso de radiação, que possibilita o
estudo qualitativo de processos neuropsicológicos específicos e de certa
complexidade por meio do estudo da perfusão ou fluxo sangüíneo regional;
Avaliação audiológica: audiometria e imitanciometria;
Avaliação otorrinolaringológica: história clínica e otoscopia segundo
normas do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas
– FCM/ UNICAMP, Campinas/ SP;
Avaliação oftalmológica: avaliação de acuidade visual segundo normas do
Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas – FCM/
UNICAMP, Campinas/ SP;
Avaliação psicopedagógica: prova de conservação de quantidades
contínuas e descontínuas do exame clínico de Piaget (PIAGET, 1973);
122
Todos os sujeitos apresentaram, ainda, histórico familial positivo (ou seja,
apresentam algum caso confirmado na família) de transtornos de linguagem e
aprendizagem.
Não tivemos acesso a todo o prontuário dos sujeitos, apenas nos foram
encaminhados os casos confirmados de dislexia do desenvolvimento e
disponibilizado o relatório de avaliação fonoaudiológica.
As TAB. 2 e 3 apresentadas, a seguir, apontam as principais observações dos
resultados da avaliação fonoaudiológica dos pacientes:
123
Tabela 2 – Resultados da avaliação fonoaudiológica – GC I
GC I Avaliação
fonológica
Consciência
fonológica
(escore mínimo
esperado = 25)
Nomeação
automática rápida
Nível de
leitura
Escrita
GC I.1
Ausência de
alterações
patológicas.
Dificuldades nas
habilidades
fonológicas tanto
em provas
silábicas como
fonêmicas.
(escore: 14)
Dificuldade na
velocidade de
nomeação de dígitos,
objetos, cores e
letras, demonstrando
dificuldades no
acesso ao léxico
mental.
Alfabético
Hiper e
hiposegmentações,
omissões, adições
e transposições de
grafemas. Trocas
do tipo surdo-
sonora.
GC I.2
Ausência de
alterações
patológicas.
Dificuldades nas
habilidades
fonológicas em
algumas provas
silábicas e nas
fonêmicas.
(escore: 23)
Dificuldade na
velocidade de
nomeação de dígitos,
objetos, cores e
letras, demonstrando
dificuldades no
acesso ao léxico
mental.
Alfabético
Hiper e
hiposegmentações,
omissões, adições
e transposições de
grafemas. Trocas
do tipo surdo-
sonora.
GC I.3
Ausência de
alterações
patológicas.
Dificuldades nas
habilidades
fonológicas tanto
em provas
silábicas como
fonêmicas.
(escore: 16)
Resultados
insatisfatórios, em
que o tempo foi
aumentado para seu
nível de escolaridade,
demonstrando
grande dificuldade
em acesso ao léxico.
Alfabético
Omissões e
inversões de
grafemas e até
mesmo de sílabas
inteiras. Trocas do
tipo surdo-sonora.
GC I.4
Ausência de
alterações
patológicas.
Dificuldades em
rima, aliteração e
provas fonêmicas.
(escore: 19)
Resultados
insatisfatórios,
demonstrando
grande dificuldade
em acesso ao léxico.
Alfabético
Trocas do tipo
surdo-sonora e
omissões de
grafemas.
GC I.5
Ausência de
alterações
patológicas.
Dificuldades em
rima e algumas
provas fonêmicas.
(escore: 24)
Resultados
insatisfatórios,
demonstrando
grande dificuldade
em acesso ao léxico.
Alfabético
Trocas do tipo
surdo-sonora e
omissões de
grafemas.
124
Tabela 3 – Resultados da avaliação fonoaudiológica – GC II
GC II Avaliação
fonológica
Consciência
fonológica
(escore mínimo
esperado = 25)
Nomeação
automática rápida
Nível de
leitura
Escrita
GC II.1
Ausência de
alterações
patológicas.
Resultados
adequados.
(escore: 34)
A velocidade de
nomeação com
tempo reduzido e
ainda abaixo do
esperado para sua
idade e escolaridade.
Ortográfico Omissões e
inversões.
GC II.2
Ausência de
alterações
patológicas.
Escore abaixo de
sua faixa etária e
escolaridade.
(escore: 24)
Resultados
insatisfatórios, em
que o tempo foi
aumentado para seu
nível de escolaridade,
demonstrando
grande dificuldade
em acesso ao léxico.
Ortográfico
Omissões e
inversões. Trocas
do tipo surdo-
sonora.
GC II.3
Ausência de
alterações
patológicas.
Escore abaixo de
sua faixa etária e
escolaridade.
(escore: 27)
Resultados
insatisfatórios, em
que o tempo foi
aumentado para seu
nível de escolaridade,
demonstrando
grande dificuldade
em acesso ao léxico.
Ortográfico
Omissões e
inversões.
GC II.4
Ausência de
alterações
patológicas.
Escore abaixo de
sua faixa etária e
escolaridade.
(escore: 25)
Resultados
insatisfatórios, em
que o tempo foi
aumentado para seu
nível de escolaridade,
demonstrando
grande dificuldade
em acesso ao léxico.
Ortográfico
Omissões e
inversões.
GC II.5
Ausência de
alterações
patológicas.
Resultados
adequados.
(escore: 36)
Resultados
insatisfatórios, em
que o tempo foi
aumentado para seu
nível de escolaridade,
demonstrando
grande dificuldade
em acesso ao léxico.
Ortográfico
Omissões e
inversões.
É interessante observar que todos os sujeitos do GC I, os quais não haviam recebido
nenhum tipo de tratamento até o momento da coleta dos dados, apresentaram
dificuldades nas provas de habilidades metafonológicas e de nomeação automática
rápida (evocação de palavras no léxico mental). Todos apresentaram também leitura
silabada, evidenciando dificuldades em fluência e em algum nível em decodificação.
Podemos observar também que todos apresentaram nível alfabético de leitura
125
(FRITH, 1985), ou seja, observa-se um novo e crescente conhecimento sobre a
relação grafema-fonema, o que permite tentativas de pronúncia e soletração de
palavras novas.
Já no GC II, constituído por sujeitos que passaram por um programa de intervenção
terapêutica, observamos um quadro um pouco mais homogêneo, aparentemente.
Todos apresentaram melhores escores nos resultados do teste de consciência
fonológica, o que já era esperado, uma vez que este foi o foco do programa de
remediação ao qual eles foram submetidos. Mesmo assim, podemos observar que
um sujeito ainda não atingiu o escore mínimo esperado como referência (25). Todos
ainda apresentam dificuldades de acesso ao léxico, evidenciado pela dificuldade na
prova de nomeação automática rápida, o que é esperado para indivíduos com esse
quadro patológico. Observamos também que todos apresentam o nível de leitura
ortográfico. Nesse nível ocorre, teoricamente, um abandono do processo alfabético
(utilização da rota fonológica) como recurso único de acesso à pronúncia de
palavras, passando a um acesso lexical, com um desempenho mais competente da
leitura. Entretanto, há observações de que todos ainda apresentam uma leitura
silabada, o que, inicialmente, parece ser contraditório à classificação ao nível
ortográfico.
Quanto à produção escrita, observamos a presença de omissões em todas as
amostras de escrita de todos os pacientes. No GC II, os resultados apresentaram-se
mais homogêneos, constando de omissões e inversões para todos os sujeitos,
acrescido de trocas envolvendo grafemas que representam fonemas vozeados e
não-vozeados (trocas surdo-sonoro), em apenas um sujeito. Este quadro de melhora
126
na produção escrita pode ser uma conseqüência dos efeitos do programa de
remediação, por meio do qual uma maior conscientização sobre a relação grafema-
fonema foi desenvolvida. Já no GC I, os resultados foram mais heterogêneos,
apresentando omissões, inversões, adições e, em todos os sujeitos, trocas surdo-
sonoro.
Nenhum dos sujeitos pesquisados apresentou alterações consideradas patológicas
na produção verbal, ou seja, não foi observada a ocorrência de nenhum processo
fonológico indicativo de alteração patológica na fala.
A TAB. 4 apresenta os valores obtidos para cada sujeito para a avaliação da leitura
de palavras isoladas a partir da lista de Pinheiro (1994). Os números apresentados
referem-se à porcentagem de erros. Ao final de cada grupo, constam as médias de
porcentagem de erros.
Tabela 4 – Avaliação de leitura de palavras – porcentagem de erros cometidos
Legenda – PRR-AF: Palavras reais regulares de alta freqüência; PRg-AF: Palavras reais regra de alta freqüência; PRIr-AF: Palavras reais
irregulares de alta freqüência; PRR-BF: Palavras reais regulares de baixa freqüência; PRg-BF: Palavras reais regra de baixa freqüência; PRIr-
BF: Palavras reais irregulares de baixa freqüência; NPR: Palavras inventadas regulares; NPRg: Palavras inventadas regra; NPIr: Palavras
inventadas irregulares.
Grupo
%
PRR-
AF
PRg-
AF
PRIr-
AF
PRR-
BF
PRg-
BF
PRIr-
BF
NPR NPRg NPIr
GC I.1
37,5 37,5 31,25 56,25 43,75 68,75 62,5 56,25 53,125
GC I.2
6,25 18,75 6,25 6,25 25 25 12,5 50 18,75
GC I.3
25 50 43,75 62,5 62,5 62,5 59,375 59,375 59,375
GC I.4
43,75 56,25 62,5 56,25 75 50 62,5 43,75 75
GC I.5
6,25 12,5 6,25 18,75 12,5 6,25 28,125 46,875 34,375
Média 23,75% 35% 30% 40% 43,75% 42,5% 45% 51,25% 48,13%
GC II.1
0 6,25 6,25 12,5 6,25 25 21,875 21,875 37,5
GC II.2
25 50 37,5 43,75 56,25 43,75 75 68,75 84,375
GC II.3
31,25 31,25 43,75 43,75 62,5 43,75 31,25 40,325 37,5
GC II.4
37,5 18,75 25 25 18,75 37,5 37,5 50 31,25
GC II.5
0 0 6,25 6,25 25 12,5 3,125 25 25
Média 21,5% 28,75% 27,19% 33,75% 39,19% 37,94% 39,88% 46,72% 45,84%
127
Observamos que, para todos os níveis de regularidade de palavras e de não-
palavras, todos os sujeitos do GC I apresentaram uma média de erros maior do que
do GC II, ou seja, os sujeitos que passaram pelo programa de remediação
apresentaram resultados sensivelmente melhores. No entanto, não é observada
nenhuma tendência nesse sentido, se realizarmos comparações individuais, visto
que, ao contrário das demais avaliações realizadas, os resultados desta mostraram-
se bastante heterogêneos entre os escolares disléxicos pesquisados.
Comparando-se esses resultados aos de Pinheiro (no prelo), verificamos que eles
apresentam-se superiores aos obtidos tanto para as crianças do grupo competente,
quanto para o grupo de crianças com dificuldades, ao compararmos aos resultados
apresentados pela autora de crianças de 3ª e 4ª séries. Para a leitura de palavras
reais, a média da porcentagem de erros obtidos pela autora não ultrapassou a casa
da dezena para as palavras reais e oscilou entre 12 e 24% para as palavras irreais.
Vemos, assim, que os resultados apresentados pelos sujeitos disléxicos são
condizentes com as dificuldades não só de decodificação, mas também lexicais
(reconhecimento visual de palavras), já que a porcentagem de erros na leitura de
palavras reais (especialmente as de baixa freqüência), embora menor do que a
porcentagem de erros encontrada na leitura das não-palavras, foi consideravelmente
alta.
Embora esteja claro por meio dos resultados da avaliação apresentada que os
sujeitos do grupo clínico apresentam problemas no reconhecimento de palavras e
habilidades de decodificação, não houve nenhum caso de resultado indicativo de
inabilidade em decodificar palavras novas ou reconhecer palavras familiares. Ou
128
seja, nenhum dos sujeitos pesquisados apresentou dificuldades de decodificação
que o impedisse de realizar as tarefas propostas pela presente pesquisa.
4.3 ASPECTOS GERAIS DA LEITURA – ANÁLISE QUALITATIVA
Após a coleta e análise dos dados referentes à leitura de texto, constatamos que as
generalizações que podem ser feitas quanto ao desempenho na leitura do texto
estão condizentes com as descrições constantes na literatura pesquisada, tanto no
que se refere aos sujeitos do GNC, quanto aos sujeitos do GC (NATION;
NORBURY, 2005; ASHA, 2004; CIASCA, 2003; BARROS; CAPELLINI, 2003; DSM-
IV, 2002; CAPELLINI, 2001; PINHEIRO, 1995; JOHNSON; MYKLEBUST, 1987).
Foi observado que todos os sujeitos participantes do GNC apresentaram leitura
proficiente, o que confirma, assim, a classificação que obtiveram na escala de
Pinheiro; Costa (2005), em que foram classificados como bons leitores. Assim,
conforme esperado, todos os estudantes do GNC apresentaram um melhor
desempenho na leitura do texto. Leram com velocidade adequada evidenciando
reconhecimento lexical – tipo de leitura em que a ortografia e a pronúncia das
palavras são acessadas da memória lexical.
Já no GC (GC I e GC II), foi observada uma grande heterogeneidade no
desempenho em leitura, variando de leituras do tipo silabada, com erros de
decodificação até leituras com poucos erros e fluentes. Também a velocidade de
129
leitura foi muito variada. Esse resultado confirma os achados de Pinheiro (2001) que
também encontrou uma grande heterogeneidade no desempenho de leitura da
amostra de crianças com dificuldade de leitura.
Os erros encontrados durante a leitura foram diversos e eles estiveram presentes
nos dois grupos (GC I e GC II). A TAB. 5 descreve as alterações observadas na
leitura dos sujeitos participantes da pesquisa.
Tabela 5 – Tipo de alterações observadas na leitura
Freqüência
Tipo de alteração
GC I GC II GNC
Repetição de fonema 0 1 1
Repetição de sílaba 15 8 3
Repetição de palavra 1 1 4
Repetição de trecho 2 3 2
Omissão de fonema 5 4 4
Acréscimo de fonema 2 4 4
Inversão de fonemas 2 3 0
Troca de fonemas 3 1 0
Prolongamento de fonema 3 2 0
Erro de acentuação 3 3 0
Reformulação 17 21 16
Adivinhação por aproximação 5 15 7
Erros diversos de decodificação 5 1 1
Pode ser observado que, dentre as repetições, a de sílabas foi a mais freqüente nos
três grupos. Normalmente, esse é um recurso utilizado como um tempo que o sujeito
pensa “ganhar” na tentativa de decodificar o próximo item. Assim, enquanto ele tenta
130
decodificar a sílaba seguinte, ele repete, automaticamente, a anterior. Geralmente,
isso acontece diante de palavras novas para o indivíduo, para a qual ele deverá
utilizar a rota fonológica para processar esta leitura.
A omissão e o acréscimo de fonemas aparecem na mesma quantidade nos grupos
GC II e GNC, mas aparecem de forma diferenciada no GC I, sendo o número de
omissões maior e o de acréscimo menor em relação aos outros grupos. Esse
comportamento pode ser atribuído aos resultados obtidos pelo programa de
remediação fonológica, ao qual os sujeitos do GC II foram submetidos, o que os
coloca em situação similar à do GNC, no que se refere a este tipo de erro na leitura.
O maior valor encontrado para o acréscimo de fonemas pode ter acontecido devido
a episódios de hipercorreções, presentes na leitura dos sujeitos do GC II e do GNC.
A inversão de fonemas, observada somente no GC I e II, ocorreu na maioria das
vezes em sílabas com estrutura VC, as quais os sujeitos inverteram, buscando uma
harmonização com as demais estruturas silábicas da palavra e com as estruturas de
sílabas bem formadas mais freqüentes no português (CV, CVC e CCVCC). Como,
por exemplo, a palavra escondido (VC CVC CV CV), lida como “secondido” (CV
CVC CV CV). Inversão desse tipo parece refletir uma preferência pela sílaba CV,
que é a sílaba mais canônica no português. Outro exemplo de inversão ocorreu
algumas vezes na palavra porque, lida como “proque”. Uma outra justificativa
possível para este fenômeno pode ser a dificuldade dos sujeitos disléxicos para o
reconhecimento ou a produção em voz alta da leitura de sílabas travadas.
131
A troca de fonemas também somente foi observada no GC. Houve uma troca de
fonema vozeado por não-vozeado no GC I e, em ambos os grupos, foi observada,
na palavra gente, a troca do fonema // pelo /g/, o que demonstra dificuldades com a
internalização do fonema //.
O prolongamento de fonema, também um recurso para ganhar tempo na
decodificação do item seguinte, foi observado, com pequena freqüência, só no GC,
assim como erros de acentuação tônica (acento lexical).
A reformulação – ou seja, o ato de ler e, em seguida, ler novamente corrigindo erros
de pronúncia, acento (tonicidade), entonação ou até mesmo de decodificação – teve
a maior freqüência, dentre todos os erros, em todos os grupos. Interessante verificar
que, no GC I, muitos sujeitos leram certos trechos com erros e não voltaram com
reformulações, na tentativa de corrigir, ou seja, provavelmente não perceberam que
erraram. Isso aconteceu porque a repetição é uma estratégia de leitura utilizada
pelos leitores competentes
14
. O aumento da ocorrência desse tipo de alteração na
leitura, do GC I para o GC II demonstra um maior nível de consciência dos sujeitos
desse grupo quanto aos erros produzidos durante a leitura, ao voltarem e relerem o
trecho com as devidas correções.
Os erros de adivinhação por aproximação acontecem quando, diante de uma
palavra desconhecida, o leitor busca, por aproximação visual, outra semelhante em
14
Segundo Neves; Wense; Pinheiro (no prelo), que estudaram as estratégias metacognitivas
utilizadas na leitura de textos por leitores proficientes, a utilização da estratégia repetição ocorre
quando o sujeito relê um parágrafo ou sentença, cita-o em voz alta, buscando fixar a informação na
memória de curto prazo e/ ou resgatá-la da memória de longo prazo.
132
seu léxico mental. A palavra “encabulado”, por exemplo, foi lida como “emburrado” e
“embolado”. O aumento desse tipo de erro no GC II demonstra que eles já estão
tentando realizar a leitura via rota lexical, porém ainda de forma rudimentar.
E, finalmente, dentre os erros diversos de decodificação, temos, como exemplos,
trocas dos grafemas: p por t, b por t, e por a, o por a, e das sílabas sol por dos, ra
por bre. Nenhum deles se enquadrou em nenhuma das classificações aqui
propostas e sua ocorrência foi bem maior no GC I (a maioria deles são erros visuais
e erro linear, exceto ra por bre).
4.4 ANÁLISE FONOLÓGICA ENTONATIVA
Embora não tenha sido o objetivo principal deste estudo, mas certamente trata-se de
uma parte muito importante e básica para a análise fonética dos enunciados, a
análise fonológica entonativa foi cuidadosamente realizada, de acordo com a teoria
de Halliday (1970) já explicada no capítulo 2.
Não achamos pertinente quantificar esses dados e tampouco encontramos uma
metodologia adequada para isso. Apresentaremos, a seguir, uma breve análise
descritiva com observações gerais sobre as características levantadas dos sujeitos
de cada grupo, tanto para a leitura quanto para o reconto.
133
4.4.1 Tonalidade e tonicidade
A divisão do texto lido em grupos tonais, pés e a marcação da sílaba tônica foi uma
tarefa extremamente difícil para muitas amostras de leitura do GC. Várias foram as
dificuldades encontradas para esta análise fonológica e marcação adequada.
Contrariamente, o que pode ser observado no GNC foi uma tendência à
homogeneidade nesta marcação, com algumas variações individuais, mas
claramente foi seguido um padrão rítmico de leitura, com pés bem marcados, com os
grupos tonais normalmente associados a unidades claras de informação, coincidindo
freqüentemente com orações. A proeminência tônica ocorreu, normalmente, ao final
do grupo tonal, e sua identificação foi sempre clara.
Observe o exemplo que se segue, com a marcação dos grupos tonais e dos pés
para a leitura de uma criança do GNC:
// E /lá /foram os /três jo/gar bo/linha de /gu
de. //
Vamos observar, agora, a marcação feita para a leitura de um sujeito do GC:
// E lá /foram /os /três /jo
gos// bo/linhas /de /gude. //
A tarefa de realizar esta marcação foi um grande desafio com o material obtido das
crianças do GC. Não há regularidade rítmica, os grupos tonais são menores e,
134
muitas vezes, não são claramente marcados. Alguns sujeitos, como no exemplo,
cometeram alguns erros de decodificação. A marcação das tônicas proeminentes foi
igualmente difícil, pois, uma vez que elas demoram mais tempo na decodificação,
silabam e o padrão acentual fica alterado. Observe o exemplo que se segue,
possivelmente de um deslocamento da tônica, levando, aparentemente, a
proeminência tônica para a última sílaba do enunciado, que não deveria receber
acento lexical.
//Nós /va/mos /brin/car /de /bo/linha /de /gude.//
É importante ressaltarmos também, como pode ser percebido pelo exemplo, a
ausência do padrão binário de pés, com alternância rítmica de sílabas fracas e
fortes. Conforme já foi explicado, como a leitura apresenta-se silabada, há pausas
entre algumas sílabas, suficientes para caracterizar cada uma como um pé. Já em
outras vezes, aparecem alternâncias entre sílabas fracas e fortes em pés binários
(como em /linha/, da palavra bolinha).
Para o reconto, não foram observadas muitas diferenças entre a organização
fonológica entonativa dos sujeitos do GNC e do GC. Os padrões de tonalidade e de
tonicidade foram semelhantes para os dois grupos.
Observamos apenas que, no GC, as frases eram mais simples, contendo
informações factuais, objetivas e sem maiores detalhes, organizadas em grupos
tonais menores, como pode ser observado no exemplo que se segue:
135
//Num /tinha a/migo//
Por outro lado, no GNC, houve enunciados bem mais elaborados e os grupos tonais
foram mais longos. Observamos, em alguns casos, uma maior expressividade em
certos trechos do reconto destes sujeitos, sendo que os pés apresentaram-se
maiores, e, em poucos casos, como o ilustrado a seguir, houve um deslocamento da
tônica para a esquerda do grupo tonal, indicando uma ênfase.
//O ta/tu ficava /muito encabu/lado /dentro da /toca//
4.5 ANÁLISE DOS ASPECTOS PROSÓDICOS TEMPORAIS
Apresentaremos, nesta seção, os resultados referentes à análise dos seguintes
aspectos prosódicos temporais: tempo total de elocução, número de pausas, número
de sílabas, tempo de articulação, duração das pausas, taxa de elocução, taxa de
articulação e localização das pausas. Serão apresentados os resultados para a
leitura e, em seguida, para o reconto.
136
4.5.1 Aspectos prosódicos temporais – leitura
A seguir, na TAB. 6, seguem os resultados da análise dos aspectos prosódicos
temporais da leitura, em todos os grupos pesquisados. São apresentadas as médias
dos valores obtidos para cada variável pesquisada e, entre parênteses, o desvio
padrão. Os valores são apresentados para o GC considerado como um todo e
também para os seus subgrupos, GC I e GC II, além do GNC.
Tabela 6 – Aspectos prosódicos temporais – leitura
Médias (± Desvio Padrão)
Variável GC (geral) GC I GC II GNC
Tempo total de elocução
(seg) 162,3 (±135,90) 205,10 (±182,20) 119,5 (±61,10) 46,94 (±9,48)
Tempo de articulação (seg) 91,70 (±66,20) 92,80 (±86,90) 90,6 (±48,20) 35,07 (±5,367)
Taxa de elocução
(sil/seg) 1,72 (±0,85) 1,68 (±0,86) 1,758 (±0,93) 3,69 (±0,556)
Taxa de articulação
(sil/seg) 3,11 (±1,79) 3,59 (±2,41) 2,62 (±0,91) 4,86 (±0,610)
Número de sílabas 213,6 (±62,5) 219,80 (±80,70) 207,4 (±46,80) 167,67 (±6,61)
Número de pausas 97,80 (±64,70) 104,60 (±67,70) 91,0 (±68,70) 22,83 (±5,079)
Duração de pausas
(ms) 86,00 (±87,70) 101,40 (±103,30) 70,7 (±77,80) 11,53 (±3,719)
A primeira constatação, a partir da tabela apresentada, é o número equilibrado de
desvio padrão encontrado para o GNC e o número bem mais alto para o GC, o que
demonstra a alta variação entre os valores encontrados para cada indivíduo deste
grupo. Observe que, para quase todas as variáveis, este número é maior para o GC
I, o que demonstra uma maior variação entre os sujeitos não submetidos à
intervenção terapêutica. Este resultado era esperado, uma vez que se trata de um
grupo que, embora tenha um mesmo quadro patológico, apresenta níveis diferentes
de realizações da atividade de leitura, além de diferentes recursos compensatórios
utilizados na tentativa de minimizar os efeitos de suas dificuldades.
137
Outra constatação interessante são os valores decrescentes das médias obtidas
para todas as variáveis, com exceção das taxas de elocução (com valores
crescentes) e de articulação, se compararmos os grupos GC I, GC II e GNC, nesta
ordem. Ou seja, as variáveis, tempo total de elocução, número de pausas, número
de sílabas, tempo de articulação e duração das pausas, apresentam valores maiores
para o GC I e, gradativamente, menores para o GC II e para o GNC. Esse panorama
geral dos resultados nos dá os primeiros indícios de perfis bem definidos pelos
grupos pesquisados com melhor desempenho pelo GNC e, assim, sucessivamente.
Já a variável taxa de elocução, conforme apontado, apresenta um padrão contrário
ao descrito anteriormente, ou seja, os seus valores são maiores para o GNC e
menores para os grupos GC II e I, gradativamente. Também, este comportamento
indica melhor desempenho pelos sujeitos do GNC do que do GC II que apresenta,
por sua vez, melhor desempenho do que o do GC I.
A taxa de articulação foi a única variável que não apresentou um padrão crescente
ou decrescente de comportamento, tomando como base os grupos GC I, GC II e
GNC nesta ordem. Seus valores médios foram mais altos para o GNC e mais baixos
para o GC II, porém com um desvio padrão bem maior no GC I, o que indica uma
maior variação entre os valores encontrados para este grupo.
A TAB. 7 apresenta os valores relativos ao teste estatístico utilizado para verificar a
diferença das médias entre os grupos pesquisados. O teste utilizado foi o teste F,
cujo valor é apresentado à esquerda, e o valor de p é apresentado entre parêntesis,
138
à direita. Sempre que este valor for menor do que 0,05, a diferença entre as médias
dos grupos comparados pode ser considerada estatisticamente significativa.
Tabela 7 – Análise estatística dos aspectos prosódicos temporais – leitura
Teste F (valor-P)
Variável GNC - GC GNC - GC I GNC - GC II GC I – GC II
Tempo total de elocução
(seg) 12,52 (0,00) 23,23 (0,00) 36,41 (0,00) 0,05 (0,84)
Tempo de articulação (seg) 8,71 (0,00) 13,25 (0,00) 85,91 (0,00) 0,11 (0,76)
Taxa de elocução
(sil/seg) 49,69 (0,00) 62,37 (0,00) 56,30 (0,00) 0,94 (0,40)
Taxa de articulação
(sil/seg) 8,83 (0,03) 05,37 (0,03) 54,90 (0,00) 1,64 (0,29)
Número de sílabas 7,34 (0,00) 12,29 (0,00) 38,67 (0,00) 0,04 (0,86)
Número de pausas 26,69 (0,00) 45,71 (0,00) 101,8 (0,00) 0,31 (0,62)
Duração de pausas
(ms) 12,84 (0,00) 23,56 (0,00) 87,77 (0,00) 0,03 (0,87)
Todos os valores obtidos de p, ao se comparar o GNC com o GC e seus subgrupos,
foram inferiores a 0,05, ou seja, a diferença entre as médias foi estatisticamente
significativa para todas as variáveis pesquisadas. A seguir, discutiremos os
resultados de cada variável.
a) Tempo total de elocução
Verificamos que, comparando-se com o GNC, que teve um valor médio do tempo
total de elocução (tempo total dispendido com a leitura) de 46,94 seg, este valor foi
significativamente maior para o GC, e a diferença foi significativa tanto em relação
ao GC I, com 205,10 seg, quanto em relação ao GC II, com 119,5 seg. É notável a
grande diferença entre o tempo total de elocução para o GNC e para os subgrupos
experimentais, que apresentaram tempo muito longo de leitura. Estes resultados são
condizentes com as dificuldades encontradas pelos sujeitos do GC para a atividade
de leitura, os quais apresentam pausas mais longas e mais freqüentes, pois
dispendem um tempo maior com as tentativas de decodificação. Os valores obtidos
139
não podem ser comparados a outras pesquisas realizadas com esta medida, pois é
uma variável dependente, além do tempo individual de organização da fala no
tempo, do tamanho do texto lido.
O GRAF. 1 ilustra estes resultados. No eixo horizontal, são representados os grupos
pesquisados e, no vertical, os valores em segundos. Os círculos correspondem à
localização dos valores das médias e os traços verticais, ao desvio padrão.
Gráfico 1 – Média e desvio padrão dos valores de tempo total de elocução para a leitura
Fica ainda mais clara, por meio do gráfico apresentado, a grande diferença entre os
valores encontrados nos três grupos (embora a diferença entre o GC I e GC II não
tenha sido estatisticamente significativa) e a grande variação observada no GC I,
demonstrada pelo amplo desvio-padrão. No GNC, esta variação foi muito menor, o
3 0 0
2 5 0
2 0 0
1 5 0
1 0 0
5 0
GNC GC I GC II
Tempo total de elocução
140
que demonstra que estes sujeitos apresentaram um comportamento mais
homogêneo com relação ao tempo total dispendido para a leitura.
b) Tempo de articulação
O tempo de articulação, cuja medida foi obtida pela subtração da duração total do
texto pela duração das pausas, também se apresentou significativamente maior no
GC, com o valor médio de 92,80 seg para o GC I e de 90,6 seg para o GC II (TAB.
6). Há também, neste caso, uma grande diferença entre estes valores para o
encontrado no GNC, de 35,07 seg.
Estes valores encontrados para o GNC estão condizentes com os valores obtidos
por Alves et al. (2006) – 36,62 seg, e Celeste (2004) – 40,36 seg, com sujeitos de
faixas etárias similares. Já o trabalho de Alves et al. (2006) com sujeitos com
transtorno de aprendizagem demonstra valores menores (62,71 seg) do que os
obtidos na presente pesquisa, o que demonstra que os sujeitos com dislexia
apresentam uma maior lentidão no tempo de produção da articulação para a leitura
do que os sujeitos com transtorno de aprendizagem.
Ou seja, os sujeitos com dislexia, mesmo desconsiderando-se as pausas utilizadas
na leitura, demandaram um tempo bem maior na articulação dos segmentos da fala
para a leitura. O GRAF. 2 ilustra os resultados obtidos para a variável tempo de
articulação.
141
Gráfico 2 – Média e desvio padrão dos valores de tempo de articulação para a leitura
c) Taxa de elocução
Lembramos que a mensuração desta variável consta do número de sílabas emitidas
dividido pelo tempo de elocução, obtendo-se um resultado em sílabas por segundo
(sil/seg). Esta medida era referida por alguns autores como velocidade de fala,
porém salientamos que o termo “taxa de elocução” nos fornece uma dimensão mais
precisa desta variável. A taxa média encontrada foi de 1,68 sil/seg para o GC I e
1,758 sil/seg para o GC II (TAB. 6), sendo que a diferença entre estes dois grupos
não se mostrou estatisticamente significativa (TAB. 7). Estes valores apresentaram-
se similares aos encontrados por Alves et al. (2006) para sujeitos com transtorno de
aprendizagem – 1,41 sil/seg.
Gr up o
GE2GE1C
140
120
100
80
60
40
20
GNC GC I GC II
Tem
p
o de articula
ç
ão
142
Já os sujeitos do GNC atingiram uma taxa média de 3,69 sil/seg, resultado similar
aos encontrados por Celeste (2004) – 3,61, e um pouco mais altos do que os
encontrados por Alves et al. (2006) – 2,98. Não se pode atribuir esta diferença a
variações dialetais, uma vez que tanto os trabalhos de Celeste quanto o de Alves
foram conduzidos em crianças que compartilham do mesmo dialeto (mineiro, de Belo
Horizonte). De qualquer forma, trata-se de uma variação pequena, para a qual
fatores, como situação de avaliação e perfil do grupo pesquisado, podem ter
influenciado.
Comparando-se os resultados do GNC aos do GC e seus subgrupos, encontramos
valores estatisticamente significativos (TAB. 7) para todas estas comparações, o que
indica que o grupo de sujeitos com dislexia apresenta uma velocidade mais lenta
para ler um texto do que os seus pares sem queixas de alterações na linguagem.
Estes resultados que indicam uma leitura mais lenta nas crianças com dislexia em
função das dificuldades de leitura deste grupo já eram esperados e corroboram as
idéias de Capellini; Cavalheiro (2000).
O GRAF. 3 ilustra estes resultados, reforçando que os sujeitos do GC possuem uma
taxa de elocução para a leitura significativamente menor, ou seja, apresentam leitura
mais lenta.
143
Gráfico 3 – Média e desvio padrão dos valores de taxa de elocução para a leitura
d) Taxa de articulação
Uma menor taxa de articulação também foi evidenciada no GC. Esta taxa, obtida
pela divisão do número de sílabas emitidas pelo tempo de articulação, indicou a
velocidade de produção do gesto articulatório para a leitura, cujos valores também
são apresentados em sil/seg.
No GNC, o seu valor médio foi de 4,86 sil/seg (TAB. 6) e tanto se comparando ao
GC I, com média de 3,59 sil/seg, quanto ao GC II, com 2,62 sil/seg, esta taxa foi
significativamente maior (TAB. 7), o que indica uma lentidão na produção de cada
gesto articulatório para a leitura por sujeitos disléxicos. Assim como as demais
variáveis, esta diferença também não se mostrou significativa ao conduzirmos
comparações entre os grupos GC I e GC II.
Gr up o
GE2GE1C
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
GNC GC I GC II
Taxa de elocução
144
Corroborando estes resultados, temos novamente os resultados de Celeste (2004),
que obteve valores médios de 4,82 sil/seg para sujeitos sem comprometimentos de
linguagem, e os de Alves et al. (2006), com valores médios de 2,65 sil/seg para
sujeitos da mesma faixa etária da pesquisada com transtorno de aprendizagem, o
que indica que a velocidade de produção do gesto articulatório é semelhante entre
sujeitos com dislexia e com transtorno de aprendizagem.
Estes valores reduzidos da taxa de articulação evidenciados no GC estão também
condizentes com a pesquisa de Fawcewtt; Nicolson
(2002), que demonstra que a
velocidade de produção de cada gesto articulatório é mais lenta em crianças com
distúrbio específico de leitura.
O GRAF. 4 ilustra os resultados obtidos. Mais uma vez, observamos o grande
desvio-padrão (alta variabilidade) presente nos valores obtidos para os sujeitos do
GC I, e a grande diferença entre estes valores e os obtidos para o GNC.
145
Gráfico 4 – Média e desvio padrão dos valores de taxa de articulação para a leitura.
É interessante observarmos, conforme já apontado anteriormente, que esta é a
única variável temporal que não seguiu um padrão de resultados em que o GNC
apresentou um desempenho melhor do que o GC II que, por sua vez, apresentou um
desempenho melhor do que o GC I. O que se observa é que os sujeitos do GNC
apresentaram uma maior velocidade de produção do gesto articulatório, e que os
sujeitos do GC I apresentaram estes valores (embora com uma diferença que não se
mostra estatisticamente significativa – TAB. 7) sensivelmente maiores do que os
resultados obtidos pelo GC II. Isto pode indicar que os sujeitos disléxicos submetidos
ao programa de remediação, mais conscientes de suas dificuldades na leitura,
cuidem mais de sua produção articulatória, na tentativa de uma decodificação mais
precisa para a leitura, o que leva tais sujeitos a uma produção mais lenta de cada
gesto articulatório.
Gr up o
GE2GE1C
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
GNC GC I GC II
Taxa de articulação
146
e) Número de sílabas
O número de sílabas produzidas durante leitura em voz alta também foi
significativamente menor para o GNC com, em média, 167,67 sílabas, sendo que, no
GC I, foram contadas, em média, 219,80 sílabas e, no GC II, 207,4 sílabas (TAB. 6).
A comparação do GC I com o GC II, como nas demais variáveis, não resultou em
diferença estatisticamente significativa.
Estes resultados não podem ser comparados aos obtidos por outras pesquisas, pois
os valores são diretamente relacionados ao tamanho do texto lido.
Este número menor de sílabas encontrado nos sujeitos do GNC deve-se a fatores
como a maior proximidade da forma de produção da leitura com a fala espontânea
(talvez uma leitura com maior “naturalidade”), aparecendo em situações como os
fenômenos de sândi (que ocorrem nas junturas intervocabulares, transformando
estas estruturas silábicas por situações, como queda de vogais e formação de
ditongos). Por outro lado, os sujeitos disléxicos decodificam, em algumas partes do
texto, cada sílaba lida, e produzem às vezes repetições destas enquanto processam
os elementos seguintes a serem decodificados, o que causa um aumento no número
de sílabas produzidas.
Estes resultados podem ser melhor visualizados no GRAF. 5.
147
Gráfico 5 – Média e desvio padrão do número de sílabas produzidas para a leitura.
f) Número de pausas
As pausas, de acordo com Yacovenco (2000), constituem-se em um recurso
extremamente importante para a organização temporal do discurso e, por meio
delas, pode-se verificar a organização discursiva em relação à atitude do falante
(hesitação, colaboração, interação com o tema), ao gênero discursivo (narração,
argumentação, descrição) e ao estilo do discurso (texto oral espontâneo ou leitura).
A autora menciona que as pausas não-silenciosas são raras (ou não existem) em
textos de leitura, uma vez que, nestes, não há necessidade de planejamento do
discurso. Tal fato pode ser observado em nosso corpus. Mesmo os sujeitos do GC
Gr up o
GE2GE1C
260
240
220
200
180
160
G
N
C
GC
I
GC
II
Número de sílabas produzidas
148
utilizaram, preferencialmente, as pausas silenciosas ou as repetições já analisadas
na seção 4.3.
Com relação ao número de pausas, é notável que os sujeitos do GNC utilizaram um
número bem menor, com valor médio de 22,83 pausas (TAB. 6), de modo a
apresentar significância estatística (TAB. 7) quando comparado ao valor médio
obtido para o GC I, de 104,60 pausas, e para o GC II, de 91 pausas. O GRAF. 6
ilustra estas diferenças.
Gráfico 6 – Média e desvio padrão do número de pausas produzidas para a leitura.
Gr u p o
GE2GE1C
140
120
100
80
60
40
20
GNC GC I GC II
Número de
p
ausas
p
roduzidas
149
Este maior número de pausas observado no GC justifica-se pelas dificuldades
observadas no processamento do texto impresso, precisando haver um tempo entre
a visualização do item a ser lido e sua decodificação.
g) Duração de pausas
Assim como a quantidade de sua ocorrência, os valores médios de duração destas
pausas foram bastante diferentes entre o GC e o GNC. A diferença entre as médias
obtidas foi estatisticamente significativa (TAB. 7), comparando-se o GNC com os
dois subgrupos clínicos. Mas observe-se que a diferença entre o valor médio obtido
para o GNC, de 11,53 ms foi muito menor do que o do GC I, com 101,40 ms,
também bem superior ao GC II, com 70,7 ms (TAB. 6), embora esta diferença entre
estes subgrupos clínicos não tenha sido estatisticamente significativa.
150
Gráfico 7 – Média e desvio padrão dos valores de duração das pausas para a leitura.
Estes resultados também se mostram próximos aos obtidos por Celeste (2004), com
crianças sem queixas de comprometimento da linguagem (9,13 ms) e aos de Alves
et al. (2006) com sujeitos com diagnóstico de transtorno de aprendizagem (68,9 ms).
Portanto, da mesma forma que os sujeitos disléxicos necessitam de um maior
número de pausas para processar o texto lido, conforme discutido anteriormente,
eles também necessitam que estas pausas sejam mais longas do que as utilizadas
pelos seus pares do GNC. Ou seja, eles demandam mais tempo no processamento
das unidades do texto.
Gr up o
GE2GE1C
160
140
120
100
80
60
40
20
0
GNC GC I GC II
Duração das pausas
151
h) Localização das pausas
Na utilização das pausas, houve também diferenças significativas entre os grupos
pesquisados. A seguir, são apresentadas três tabelas com os valores referentes à
análise da localização das pausas. A TAB. 8 compara o GNC ao GC considerado
como um todo. Já as TAB. 9 e 10 trazem comparações entre todos os grupos.
Podemos observar, pela TAB. 8 que, enquanto os escolares do GNC apresentaram
um número significativamente menor de pausas (22 em média) – que ocorreram
predominantemente entre os grupos tonais, locais esperados para a sua ocorrência
–, os sujeitos do GC utilizaram mais pausas (97 em média) na tentativa de
decodificação do texto. Essas pausas ocorreram também dentro dos grupos tonais
(55 em média) e com freqüência dentro de palavras (23 em média). Nestas
localizações, a freqüência foi significativamente maior para o GC, apresentando uma
ocorrência mínima para o GNC.
Verificamos que a média de ocorrência de pausas entre os grupos tonais é
equivalente para ambos os grupos (em torno de 14 pausas), o que demonstra que
também os indivíduos disléxicos utilizaram as pausas nos locais adequados em sua
leitura. O que ocorreu foi que, acrescidas a estas, houve utilização de pausas dentro
dos grupos tonais, em um número que chega a ser mais do que o triplo das
utilizadas em seus locais convencionais, além das pausas dentro de palavras.
152
Tabela 8 – Análise estatística para a localização das pausas durante a leitura –
comparação entre GNC e GC
Grupo Média D.P.
Teste F Valor p
GNC
14,9 2,28
Entre grupos tonais
GC
14,6 3,062
3,85
0,15
GNC
7,367 4,803
Dentro de grupos tonais
GC
55 40,4
17,06
0,00
GNC
0,567 0,626
Dentro de palavras
GC
23,5 27,33
2301,00
0,00
GNC
22,833 5,079
Total de pausas
GC
97,5 64,3
18,23
0,00
Na comparação entre todos os grupos, conforme demonstrado na TAB. 9,
percebemos um maior número médio de pausas dentro de grupos tonais (63,4),
dentro de palavras (26,8) e total (104) para o GC I, tanto em comparação ao GNC
quanto em comparação ao GC II. No entanto, estes valores somente são
significativos ao compararmos o GNC com o GC I e o GNC com o GC II. Ao
estabelecermos comparações destes valores entre GC I e GC II, encontramos
valores de p maiores do que 0,05, o que indica que a diferença entre as médias não
se mostrou significativa (TAB. 10).
Quanto às pausas entre os grupos tonais, local cuja freqüência foi predominante nos
sujeitos do GNC, não houve diferença estatisticamente significativa ao
estabelecermos comparações entre os grupos, ou seja, conforme discutido
anteriormente, no local onde a pausa realmente deveria acontecer, ela aconteceu
para todos os grupos, embora nos grupos GC I e GC II, elas tenham ocorrido
também freqüentemente, em outras localizações no texto.
153
Tabela 9 – Média e desvio padrão da localização das pausas durante a leitura –
comparação entre todos os grupos
Grupo Média D.P.
GC I
13 1,581
GC II
16,2 3,49
Entre grupos tonais
GNC
14,9 2,28
GC I
63,4 40,8
GC II
46,6 42,8
Dentro de grupos tonais
GNC
7,367 4,803
GC I
26,8 25,8
GC II
20,2 31,5
Dentro de palavras
GNC
0,567 0,626
GC I
104 67
GC II
91 68,7
Total de pausas
GNC
22,833 5,079
Tabela 10 – Análise estatística para a localização das pausas durante a leitura –
comparação entre todo os grupos
Entre grupos tonais
Dentro de grupos
tonais
Dentro de palavras
Total de pausas
teste F Valor-P teste F Valor-P teste F Valor-P teste F Valor-P
GC I –GC II
3,21 0,073 0,1 0,754 0,28 0,59 0,1 0,75
GNC-GC I
2,18 0,094 11,91
0,001
14,37
0
11,59
0,001
GNC-GC II
0,59 0,443 7,53
0,006
13,99
0
9,17
0,002
4.5.2 Aspectos prosódicos temporais – reconto
A seguir, é apresentada a TAB. 11 com os valores das médias obtidas para as
variáveis prosódicas temporais, medidas a partir da análise do reconto do texto lido,
ou seja, do relato oral feito pelos sujeitos sobre o que eles entenderam do texto. O
valor entre parênteses corresponde ao desvio padrão.
154
Tabela 11 – Aspectos prosódicos temporais – reconto
Médias (± Desvio Padrão)
Variável GC (geral) GC I GC II GNC
Tempo total de elocução
(seg)
34,75 (±19,85) 40,1 (±26,0) 29,38 (±11,71) 24,93 (±8,54)
Tempo de articulação (seg)
19,19 (±08,57) 20,06 (±11,82) 18,32 (±4,85) 18,09 (±7,05)
Taxa de elocução
(sil/seg)
2,66 (±1,046) 2,754 (±1,351) 2,57 (±0,78) 3,206 (±0,90)
Taxa de articulação
(sil/seg)
4,19 (±4,85) 4,51 (±1,396) 3,87 (±0,61) 4,84 (±2,497)
Número de sílabas
73,50 (±27,67) 78,0 (±33,1) 69,00 (±24,0) 78,67 (±29,83)
Número de pausas
10,10 (±8,17) 10,00 (±5,83) 10,20 (±3,83) 8,17 (±3,869)
Duração de pausas
(ms)
15,56 (±14,57) 20,06 (±18,78) 11,06 (±8,62) 7,02 (±4,579)
As constatações feitas para as mesmas medidas no procedimento de leitura não se
repetem ao realizarmos a análise para o reconto. A começar pelo desvio padrão.
Observamos, nestes dados, uma variabilidade menor entre os sujeitos do GC – se
compararmos aos resultados obtidos para a leitura –, constatada pelos valores
menores do desvio padrão, exceto para as variáveis, taxa de elocução e de
articulação, que apresentaram estes valores um pouco mais altos para o reconto. Já
no GNC, não foi observado um único padrão de comportamento neste sentido, uma
vez que, para algumas variáveis, como tempo total de elocução, número e duração
de pausas, o desvio padrão foi menor. No entanto, para as demais variáveis, ele
apresentou-se maior no GNC em relação aos valores obtidos durante a leitura. Ou
seja, no GNC houve uma maior variabilidade de resultados para a atividade de
reconto, o que demonstra que, para este tipo de atividade, há um maior número de
variáveis individuais interferindo na análise.
Ao compararmos os valores de desvio padrão entre o GC e o GNC no reconto,
também não existe um padrão único de comportamento, tendo algumas variáveis
apresentado valores maiores e outras menores, comparando-se os grupos e
subgrupos.
155
Quanto aos valores médios encontrados, ao compararmos o GC I com o GC II e o
GNC, não foi observado o mesmo padrão decrescente de médias obtidas na
comparação destas variáveis, como na leitura. Apenas para as variáveis, tempo total
de elocução e duração de pausas, este comportamento foi observado.
A TAB. 12 indica os valores do teste F e, entre parênteses, o valor de p obtido ao
compararmos as médias de cada variável entre os grupos pesquisados.
Tabela 12 – Análise estatística dos aspectos prosódicos temporais – reconto
Teste F (valor-P)
Variável GNC - GC GNC - GC I GNC - GC II GC I - GC II
Tempo total de elocução
(seg)
7,04 (0,01) 8,00 (0,01) 0,31 (0,58) 0,01 (0,94)
Tempo de articulação (seg)
0,35 (0,56) 0,32 (0,58) 0,05 (0,82) 0,01 (0,98)
Taxa de elocução
(sil/seg)
1,99 (0,17) 0,52 (0,48) 2,12 (0,16) 28,45 (0,81)
Taxa de articulação
(sil/seg)
0,29 (0,59) 8,00 (0,01) 0,32 (0,57) 3,01 (0,18)
Número de sílabas
0,10 (0,76) 0,01 (0,92) 0,51 (0,48) 1,07 (0,38)
Número de pausas
1,85 (0,19) 0,78 (0,39) 1,49 (0,23) 0,23 (0,67)
Duração de pausas
(ms)
10,27(0,00) 12,31 (0,00) 0,38 (0,54) 0,09 (0,78)
Ao contrário do cenário observado para as mesmas variáveis durante a leitura, os
valores de p demonstram que a diferença entre as médias obtidas para as variáveis
estudadas não foi estatisticamente significativa para a maioria, ao compararmos os
grupos. As únicas variáveis cujos valores de p indicaram significância na diferença
entre as médias foram o tempo total de elocução, a duração das pausas e a taxa de
articulação. A seguir, discutiremos todos os valores obtidos, com atenção especial
às variáveis que se apresentaram significativas na comparação entre os grupos
pesquisados.
156
a) Tempo total de elocução
O tempo total de elocução apresentou valor médio menor para o GNC, de 24,93 seg.
Porém, esta diferença somente foi significativa em comparação ao GC considerado
como um todo, com média de 34,75 seg (GRAF. 9), e ao GC I, com 40,1 seg (GRAF.
10). Estes valores demonstram que os sujeitos do GNC necessitaram de um tempo
menor para expor suas narrativas sobre a compreensão do texto lido, o que só se
apresentou significativo ao considerarmos todos os sujeitos do GC, ou apenas os do
GC I, ou seja, os sujeitos não submetidos a nenhum tipo de intervenção terapêutica.
Desta forma, os indivíduos que passaram pelo programa de remediação (GC II)
utilizaram um tempo médio equivalente aos sujeitos do GNC para recontar o texto.
Como esta diferença não é decorrente do tamanho do relato, ao contrário, os
sujeitos do GNC apresentaram relatos mais completos, podemos levantar a hipótese
de que o acesso à memória para estas informações foi mais rápido para os sujeitos
do GNC, e que estes necessitaram de um tempo menor para organizar o seu relato.
Os sujeitos do GC, por outro lado, embora tivessem apresentado relatos mais
simples e alguns com informações incompletas sobre o texto lido, demoraram mais
tempo nesta atividade, pois utilizaram pausas maiores, conforme será discutido
posteriormente.
157
Gráfico 8 – Média e desvio padrão dos valores de tempo total de elocução para o reconto: GNC
x GC
Gráfico 9 – Média e desvio padrão dos valores de tempo total de elocução para o reconto: GNC
x GC I
3 0 0
2
5 0
2
0 0
1
5 0
1
0 0
5
0
GNC GC I
2 2 5
2 0 0
1 7 5
1 5 0
1 2 5
1 0 0
7 5
5 0
GNC GC
Tem
p
o total de elocu
ç
ão
GNC x GC
Tem
p
o total de elocu
ç
ão
GNC x GC I
158
b) Tempo de articulação
Os valores obtidos para o tempo de articulação foram bastante próximos entre os
três grupos, variando de 18,32 a 20,06 seg (TAB. 11), não havendo diferença
estatisticamente significativa na comparação entre os grupos pesquisados. Estes
valores estão bem próximos ao valor médio encontrado por Celeste (2004) para
crianças sem alterações de linguagem, 20,71 seg.
Assim, percebemos que tanto os sujeitos com dislexia quanto os seus pares sem
queixas de alterações na aprendizagem, desconsiderando-se as pausas utilizadas
na leitura, demandaram um tempo similar na articulação dos segmentos da fala para
recontar o texto lido.
c) Taxa de elocução
O mesmo comportamento foi observado para a taxa de elocução, ou seja, os valores
obtidos foram bem próximos para os grupos pesquisados, variando de 2,57 a 2,75
sil/seg, sem diferença estatisticamente significativa entre eles. Celeste (2004)
encontrou valores próximos para sujeitos sem queixas (2,75 sil/seg), e Alves et al.
(2006) também encontraram valores semelhantes para sujeitos com transtorno de
aprendizagem (2,46). A pesquisa de Gonçalves (2006), embora tenha utilizado uma
metodologia um pouco diferente, chegou a valores também próximos para sujeitos
do seu grupo-controle, de 2,25 sil/seg, e significativamente maiores para as crianças
com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, 3,21 sil/seg, o que demonstra
159
que estas crianças apresentam uma velocidade de fala acima dos valores de
referência na literatura.
Dessa forma, podemos concluir que não há diferenças, quanto à velocidade de fala,
entre os sujeitos disléxicos e os sujeitos do GNC, ao efetuar um relato oral do texto
lido.
d) Taxa de articulação
A variável taxa de articulação apresentou diferença significativa, mas somente
comparando-se o GNC, com um valor médio de 4,84 sil/seg com o GC I, com 4,51
sil/seg (GRÁF. 10). Celeste (2004) encontrou valores um pouco mais altos para
crianças sem queixas – 5,17 sil/seg, e Alves et al. (2006) encontraram, para sujeitos
com transtorno de aprendizagem, valores um pouco mais baixos, de 3,86 sil/seg.
Percebemos, dessa forma, que a velocidade de produção do gesto articulatório para
o reconto foi mais lenta para os sujeitos com dislexia que não foram submetidos a
nenhuma intervenção terapêutica. É importante ressaltar que esta medida
desconsidera as pausas em suas mensurações. A nossa hipótese é a de que esta
lentidão na produção do gesto articulatório pode ter sido efeito do processamento
simultâneo da elaboração da fala e da evocação das partes a serem retomadas do
texto e sua organização em seu discurso para o reconto. Como conclusão, podemos
perceber este resultado como um reflexo das dificuldades de interpretação
apresentadas por estes indivíduos.
160
Gráfico 10 – Média e desvio padrão dos valores de taxa de articulação para o reconto: GNC x
GC I
e) Número de sílabas
O número de sílabas encontrado também foi equivalente entre os grupos, sendo de
78 para o GC I, 69 para o GC II e 78,67 para o GNC, não havendo diferença
estatisticamente significativa na comparação entre os grupos. Isto nos aponta para
um comportamento similar em situação de fala espontânea e para o fato de que a
presença de fenômenos de ressilabificação ou de juntura vocabular aconteceu de
maneira similar entre os grupos.
f) Número de pausas
O número de pausas utilizadas durante o reconto foi equivalente para os grupos GC
I e II, tendo sido observadas em média 10,10 pausas. No GNC, foi observada uma
Taxa de articulação – GNC x GC I
Grupo
GE1C
5,1
5,0
4,9
4,8
4,7
4,6
4,5
4,4
4,3
4,2
GNC GC I
Grupo
Grupo
GE1C
5,1
5,0
4,9
4,8
4,7
4,6
4,5
4,4
4,3
4,2
GNC GC I
GNC GC I
161
média de 6,17 pausas, número menor, mas cuja diferença não se apresenta
estatisticamente significativa.
Quanto ao tipo de pausas utilizadas, estas foram predominantemente silenciosas.
Houve casos de repetições de palavras e pouquíssimas pausas preenchidas. Este
achado corrobora a afirmativa de Goldman-Eisler (1980) de que, quanto mais
espontâneo e criativo é um texto, maior a presença de pausas não-silenciosas.
Como se trata de um relato a partir de leitura prévia, não houve espontaneidade na
fala destes sujeitos, o que caracteriza a utilização das pausas mais como um recurso
de evocação de idéias armazenadas do que propriamente um recurso de
planejamento de um discurso.
g) Duração de pausas
Já a variável duração das pausas teve valor de p significativo ao compararmos os
resultados do GNC, com média de 7,02 ms, aos do GC como um todo, com 15,56
ms (GRAF. 11), e aos do GC I, com 20,06 ms (GRAF. 12). Assim, podemos
perceber que os sujeitos do GNC necessitaram de um tempo bem menor para
organizar o discurso e evocar as situações, pessoas e objetos envolvidos na
narrativa do que os sujeitos do GC I e também ao se considerar o GC como um
todo. Este é mais um resultado que nos remete aos problemas de interpretação de
texto apresentados pelos sujeitos com dislexia.
162
Gráfico 11 – Média e desvio padrão dos valores de duração das pausas para o reconto: GNC x
GC
Gráfico 12 – Média e desvio padrão dos valores de duração das pausas para o reconto: GNC x
GC I
1 2 0
1 0 0
8 0
6 0
4 0
2 0
0
GNC GC
Dura
ç
ão das
p
ausas
GNC x GC
1 6 0
1 4 0
1 2 0
1 0 0
8 0
6 0
4 0
2 0
0
GNC GC I
Duração das pausas – GNC x GC I
163
h) Localização das pausas
As TAB. 13 a 15 demonstram os valores encontrados para a localização das pausas
durante o reconto. A TAB. 13 apresenta comparações do GNC com o GC
considerado como um todo. As TAB. 14 e 15 demonstram as comparações feitas
entre todos os grupos. Ao contrário do observado na leitura, vemos, para o reconto,
uma distribuição mais homogênea das pausas que tiveram sua localização, na
grande maioria dos casos, entre os grupos tonais, local normalmente esperado para
a sua ocorrência. As ocorrências de pausas dentro de grupos tonais ficaram em
torno de 0,6 a 1,3 pausas, e não foram observadas pausas dentro de palavras em
nenhum dos grupos. Podemos conferir, pela TAB. 15, que a diferença entre os
grupos não se mostrou significativa.
Tabela 13 – Análise estatística para a localização das pausas durante o reconto –
comparação entre GNC e GC
Grupo Média D.P.
Teste F Valor-P
GNC
7,567 2,979
Entre grupos tonais
GC
8,8 3,99
0,68
0,71
GNC
0,633 1,159
Dentro de grupos tonais
GC
1,3 2,058
1,99
0,37
GNC
0 0
Dentro de palavras
GC
0 0
*
*
GNC
8,167 3,869
Total de pausas
GC
10,1 4,65
1,69
0,34
164
Tabela 14 – Média e desvio padrão da localização das pausas durante o reconto –
comparação entre todos os grupos
Grupo Média D.P.
GNC
7,567 2,979
GC I
9 4,36
Entre grupos tonais
GC II
8,6 4,1
GNC
0,633 1,159
GC I
1 2,24
Dentro de grupos tonais
GC II
1,6 2,074
GNC
0 0
GC I
0 0
Dentro de palavras
GC II
0 0
GNC
8,167 3,869
GC I
10 5,83
Total de pausas
GC II
10,2 3,83
Tabela 15 – Análise estatística para a localização das pausas durante o reconto –
comparação entre todos os grupos
Entre grupos tonais
Dentro de grupos
tonais
Dentro de palavras
Total de pausas
teste F Valor-P teste F Valor-P teste F Valor-P teste F Valor-P
GC I-GC II
0,41 0,52 0,03 0,86 * * 0,3 0,58
GNC-GC I
0,35 0,55 1,87 0,17 * * 1,64 0,201
GNC-GC II
0,05 0,832 0,9 0,345 * * 0,04 0,834
Percebemos assim, para o reconto, uma organização quanto à localização das
pausas semelhante entre os grupos, o que demonstra que, na ausência da
necessidade de decodificação e mesmo diante de atividade que exija a evocação de
fatos lidos, os disléxicos não apresentam comportamento diferente de seus pares
sem queixas de alterações de aprendizagem.
165
4.5.3 Aspectos prosódicos temporais – leitura x reconto
Buscamos, finalmente, uma comparação dos valores obtidos para todas as variáveis
analisadas entre leitura e reconto. O nosso objetivo é observar tendências quanto ao
comportamento em cada grupo, na situação de leitura em relação à situação de
relato oral do texto lido.
A TAB. 16 demonstra os valores das médias para cada variável. São apresentados
os resultados obtidos para todos os grupos pesquisados (GNC + GC como um todo)
que chamamos de “geral”, os do GNC e os do GC considerado como um todo (GC I
+ GC II), durante a tarefa de leitura em comparação com o reconto.
166
Tabela 16 – Análise estatística dos aspectos prosódicos temporais – leitura x reconto
Média
Leitura
Média
Reconto
Teste F Valor-P
Geral
75,8 27,4 3,65
0,001
GNC
46,94 24,93 9,45
0,00
Tempo total de elocução
(seg)
GC
162 34,8 2,94
0,017
Geral
49,2 18,37 4,73
0,00
GNC
35,07 18,09 10,5
0,00
Tempo de articulação
(seg)
GC
91,7 19,19 3,43
0,007
Geral
3,2 3,07 0,56 0,578
GNC
3,689 3,21 2,5
0,016
Taxa de elocução
(sil/seg)
GC
1,72 2,66 2,22
0,041
Geral
4,42 4,68 0,66 0,514
GNC
4,86 4,85 0,01 0,989
Taxa de articulação
(sil/seg)
GC
3,11 4,19 1,64 0,123
Geral
179,2 77,4 13,77
0,00
GNC
167,67 78,7 15,95
0,00
Número de sílabas
GC
213,6 73,5 6,48
0,00
Geral
41,6 8,65 4,56
0,00
GNC
22,83 8,17 12,58
0,00
Número de pausas
GC
97,8 10,1 4,27
0,002
Geral
30,2 9,15 2,45
0,018
GNC
11,53 7,02 4,19
0,00
Duração de pausas
(ms)
GC
86 15,6 2,51 ms
0,034
Como resultado, percebemos que houve diferença estatisticamente significativa para
quase todas as variáveis pesquisadas, com exceção da taxa articulação, cujos
valores de p foram bem maiores do que 0,05, além da taxa de elocução, sendo que
esta somente não se apresentou significativa ao considerarmos os resultados gerais
(GNC + GC). Será feita, a seguir, a discussão da comparação entre leitura e reconto
para cada variável pesquisada.
a) Tempo total de elocução
O tempo total de elocução apresentou um valor médio maior na leitura, de 75,8 seg,
do que no reconto, de 27,4 seg, se considerarmos todos os sujeitos, no grupo
167
“geral”. Ou seja, todos os sujeitos demandaram mais tempo na tarefa de leitura do
que na de reconto. Resultados semelhantes podem ser observados ao
estabelecermos estas comparações com o GNC, assim como com o GC.
Celeste (2004) também observou comportamento semelhante em sua pesquisa
conduzida com crianças sem queixas de transtorno de aprendizagem.
Estes resultados são previsíveis, uma vez que, ao relato, as histórias são contadas
de forma resumida e mais objetiva. Há ainda, durante a atividade de leitura, um
maior tempo demandado na tarefa de decodificação e processamento do texto do
que para a tarefa de reconto, bastando para esta evocar os esquemas na memória e
organizar o discurso.
b) Tempo de articulação
O tempo de articulação foi maior na leitura (49,2 seg) do que no reconto (18,37 seg),
ou seja, mesmo desconsiderando-se as pausas, ainda foi necessário um maior
tempo de produção para a leitura, tarefa na qual todos os indivíduos demandaram
bem mais tempo na articulação dos sons.
Celeste (2004) encontrou valores de 40,36 seg para a leitura e 20,71 seg para o
relato em seu grupo de crianças sem alterações de linguagem, ou seja, uma
proporção similar à obtida por nosso estudo. Também Carvalho (2003), em um
grupo de adultos proficientes em leitura, obteve, para a leitura, tempo de articulação
superior ao do relato.
168
Ao concentrarmos nossa análise somente no GC, percebemos uma proporção bem
maior nesta diferença, uma vez que, para a leitura, o tempo médio de articulação
obtido foi de 91,7 seg, e para o reconto, de 19,19 seg. Dessa forma, pode-se
perceber que os sujeitos disléxicos apresentam um comportamento semelhante ao
do GNC e ao das tendências observadas na literatura, de apresentarem também um
tempo de articulação maior para esta atividade, porém, em proporção muito maior
em comparação ao relato. Estes resultados refletem o maior tempo necessário para
que este grupo processe a leitura e articule a sua produção em voz alta, dificuldade
esta não encontrada para o processamento e a evocação das informações lidas
para proceder ao relato.
c) Taxa de elocução
Os valores de taxa de elocução (3,2 sil/seg para a leitura e 3,07 sil/seg para o
reconto) apresentaram valores muito próximos na atividade de leitura e reconto, com
valores de p superiores a 0,05, ou seja, não houve diferença estatisticamente
significativa entre estes valores se considerarmos todos os sujeitos em um só grupo
(o grupo “geral”). Constatamos então que a taxa de elocução foi semelhante para
todos os sujeitos, ao considerarmos todos em um só grupo, tanto para a leitura
quanto para o reconto.
Porém, observando-se cada grupo separadamente, foram encontradas tendências
diferentes às descritas ao se considerar todos os sujeitos em um só grupo, ou seja, a
diferença entre as médias obtidas foi estatisticamente significativa ao compararmos
169
a taxa de elocução da leitura ao reconto no GNC e no GC. O mais interessante é
que observamos um comportamento inverso para os dois grupos.
Observamos que, no GNC, esta taxa foi maior para a leitura (3,689 sil/seg) do que
para o reconto (3,21 sil/seg), o que indica uma produção de fala mais rápida para a
atividade de leitura e um pouco mais lenta ao relatar o texto lido. Estes resultados
podem indicar que os sujeitos do GNC apresentam uma leitura mais fluente, sem
muita utilização de pausas. No entanto, ao relatar o texto lido, um número um pouco
maior de pausas pode ter sido utilizado para a organização das idéias, a evocação
de eventos e personagens, o que tornou a velocidade de produção do relato um
pouco mais lenta.
Por outro lado, no GC, esta medida foi maior para o reconto (2,66 sil/seg) do que
para a leitura (1,72 sil/seg). Ou seja, a velocidade de produção do relato oral foi mais
rápida do que a da leitura. Este fenômeno justifica-se pela maior ocorrência de
pausas durante a atividade de leitura, decorrentes das dificuldades que os sujeitos
disléxicos têm em processar o texto lido, de modo a demandar um maior tempo para
a execução desta tarefa. Já no relato oral, o tempo demandado em evocar eventos e
personagens foi proporcionalmente menor do que as pausas utilizadas na leitura,
ocasionando, proporcionalmente ao tempo utilizado na leitura, uma menor taxa de
elocução para o reconto.
Ao buscarmos por outros resultados na literatura, encontramos também diferenças
significativas na comparação entre estas atividades. Seguindo as tendências
observadas para o GNC, a pesquisa de Celeste (2004) revelou medidas de 3,61
170
sil/seg para a taxa de elocução na leitura e 2,75 sil/seg para o relato oral, com
diferença significativa entre as duas medidas. Também Carvalho (2003) obteve
taxas de elocução maiores para a leitura do que para o relato oral em seu grupo de
adultos. Há também os trabalhos que Chafe (1993) e Delgado-Martins; Freitas
(1993) conduziram com leitura e fala espontânea, demonstrando que a velocidade
de fala é maior na leitura do que na fala espontânea.
Já considerando um grupo clínico de sujeitos com transtorno de aprendizagem, os
resultados obtidos pela presente pesquisa estão de acordo com os obtidos por Alves
et al. (2006), em que os sujeitos com transtorno de aprendizagem apresentaram um
valor médio de taxa de elocução para a leitura (1,14 sil/seg) inferior ao do reconto
(1,53 sil/seg), enquanto os sujeitos do grupo-experimental apresentaram uma
relação inversa, em que o valor médio obtido para a taxa de elocução na leitura
(2,99 sil/seg) foi maior do que a obtida para o reconto (2,46 sil/seg).
Dessa forma, percebemos que os nossos resultados com relação à taxa de elocução
estão em consonância com as tendências referidas na literatura.
d) Taxa de articulação
Já as medidas de taxa de articulação (4,42 sil/seg para a leitura e 4,68 sil/seg para o
reconto) apresentaram valores muito próximos na atividade de leitura e reconto, com
valores de p superiores a 0,05, ou seja, não houve diferença estatisticamente
significativa entre estes valores. Mesmo observando-se cada grupo separadamente,
foram encontradas as mesmas tendências descritas ao se considerar todos os
171
sujeitos em um só grupo, ou seja, o valor de p não demonstrou significância,
indicando que a taxa de articulação para a leitura é equivalente à obtida para o
reconto em todos os grupos pesquisados.
Contrariamente, para a atividade de leitura, esta taxa evidenciou comportamento
diferenciado para o GC, apontando uma lentidão na produção do gesto articulatório,
em comparação aos sujeitos do GNC, conforme discutido anteriormente. No entanto,
esta lentidão do gesto articulatório para a leitura, provavelmente ligada a questões
relativas a maiores dificuldades no processamento do discurso, somente aparece em
contraste aos valores de referência encontrados para o GNC, pois à comparação
com as taxas obtidas para o relato, dentro do GC – embora o valor médio obtido
para o reconto tenha se apresentado maior –, não se pode afirmar que a diferença
seja significante.
Estes resultados nos apontam para a importância desta medida, que desconsidera
as pausas utilizadas na produção de fala para se medir a velocidade de produção do
gesto articulatório. Enquanto a medida de taxa de elocução, que considera as
pausas, aponta diferença na produção da leitura e do reconto, a nossa constatação
é a de que não há diferenças na produção articulatória em si ao ler e recontar,
tomando-se como base as medidas de taxa de articulação.
Alguns estudos que realizaram comparação entre os valores obtidos para a taxa de
elocução comparativamente aos obtidos para a taxa de articulação (CLEMMER;
O’CONNEL; LOUI, 1979; STUCKENBERG; O’CONNEL, 1988; CARVALHO, 2003;
CELESTE, 2004) apontam para valores maiores de taxa de articulação, tanto para o
172
relato como para a leitura. Estes achados estão condizentes com os obtidos por
nossas medidas, nas quais sempre o tempo de articulação mostrou valores maiores
em relação ao tempo de elocução em todos os grupos, nas duas situações
pesquisadas (leitura e reconto). Logicamente, tal fato deve-se à própria fórmula pela
qual cada medida é conduzida: uma vez que, para se mensurar a taxa de elocução
consideram-se as pausas – o que não ocorre na medida de tempo de articulação –,
obviamente, iremos obter uma velocidade de articulação sempre maior. Portanto,
consideramos irrelevante esse tipo de discussão.
e) Número de sílabas
Assim como o tempo total de elocução, também o número de sílabas foi obviamente
maior para a leitura do que para o reconto, com média de 179,2 sílabas na leitura e
77,4 no reconto. Atribuímos esta diferença à maior objetividade apresentada por
ambos os grupos ao relatar o texto lido, resumindo os fatos em um trecho mais curto
de produção verbal. Observa-se também, na produção do reconto, um maior número
de eventos, como juntura vocabular e ressilabificação, fato que não se observa com
freqüência na leitura de crianças (embora este fenômeno possa ser observado na
leitura de adultos proficientes), proporcionando um menor número de sílabas
contadas.
f) Pausas
O número de pausas observadas na leitura foi também bem maior (41,6) do que no
reconto (8,65), assim como a sua duração, com valor médio de 30,3 ms para a
173
leitura e 9,15 ms para o reconto. Essas tendências foram constatadas na
comparação de todos os grupos. Sendo assim, observamos que há uma tendência
geral à necessidade de mais pausas – sendo estas mais longas, demandadas para
a habilidade de decodificação e reconhecimento de palavras na leitura – do que sua
evocação na atividade de relato oral.
Nossos achados corroboram, mais uma vez, os de Celeste (2004), que encontrou
um maior número de pausas para a leitura e também, em sua pesquisa, estas
pausas apresentaram-se mais longas em comparação ao relato do texto lido e,
ainda, aos de Carvalho (2003) e Grosjean; Deschamps (1972, 1973).
Quanto à localização, enquanto, no relato, elas apareceram em ambos os grupos,
predominantemente entre grupos tonais, para a leitura, foram verificadas pausas
dentro de grupos tonais e, inclusive, dentro de palavras, principalmente no GC. Este
encontrou dificuldades para o processamento do texto lido e necessitou utilizar
pausas fora das fronteiras normalmente atribuídas a elas, conforme já discutido.
174
4.6 ANÁLISE DOS ASPECTOS PROSÓDICOS DE F
0
E INTENSIDADE
4.6.1 Freqüência fundamental – Aspecto global
4.6.1.1 Configuração geral da curva de F
0
– leitura
Ao procedermos à análise acústica da leitura dos participantes da pesquisa,
observamos, inicialmente, na configuração geral da curva de F
0
, os valores inicial,
final, mínimo e máximo de cada grupo tonal. O GRAF. 13 ilustra os valores obtidos
para essa medida nos três grupos pesquisados. Cada ponto representa os valores
médios encontrados.
175
Configuração geral da curva de F0
0
50
100
150
200
250
300
350
F0 inicial F0 mín F0 máx F0 final
Freqüência (em Hertz)
GNC
GC II
GC I
Gráfico 13 – Médias obtidas dos valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para a leitura
É perceptível que todos os valores mantiveram um mesmo padrão dentro de cada
grupo pesquisado, sendo que eles apresentaram-se mais altos para o GNC, seguido
dos valores um pouco mais baixos para o GC II, e mais baixos ainda para o GC I. As
TAB. 17 a 20 apresentam as análises estatísticas referentes a estes achados.
Tabela 17 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – leitura
Grupo Média D.P. F P
GNC / GC II
239,92 / 207,61
53,19 / 44,78 -4,77
0,00
GNC / GC I
239,92 / 177,10 53,19 / 60,42 -10,27
0,00
GC II / GC I
207,61 / 177,10
55,3 / 60,42 -3,16
0,00
GNC / GC
239,92 / 190,53
53,19 / 56,04 -10,08
0,00
176
Percebemos, por meio da TAB. 17, que, para os valores de F
0
inicial, encontramos
médias significativamente maiores para o GNC em comparação ao GC como um
todo e com os seus subgrupos, o que indica que os indivíduos disléxicos
apresentaram valores de F
0
significativamente mais baixos ao iniciar os enunciados
em sua leitura. Percebemos, também, que os sujeitos que passaram pelo processo
de remediação (GC II) tiveram valores iniciais de F
0
mais altos do que os sujeitos do
GC I.
Ao analisarmos a TAB. 18, observamos comportamento similar referente aos valores
obtidos de F
0
mínima do enunciado, apresentando os sujeitos disléxicos valores
mínimos de F
0
inferiores aos dos sujeitos do GNC. Porém, ao compararmos os
valores entre o GC I e o GC II, não obtivemos significância estatística.
Tabela 18 – Análise estatística dos valores de F
0
mínima – leitura
Grupo Média D.P. F P
GNC / GC II
183,84 / 157,84 46,98 / 54,44 -4,30
0,00
GNC / GC I
183,84 / 140,53 46,98 / 42,86 -7,87
0,00
GC II / GC I
157,84 / 140,53 54,44 / 42,86 -2,29 0,20
GNC / GC
183,84 / 148,25 46,98 / 48,97 -8,15
0,00
Encontramos, na TAB. 19, os valores de F
0
máxima obtidos e suas médias que se
apresentam também significativamente maiores para o GNC em comparação ao GC
como um todo e seus subgrupos. Isso indica que os sujeitos disléxicos apresentam
valores de máximos de F
0
significativamente mais altos em sua leitura, assim como
os sujeitos remediados (GC II) apresentam estes valores mais altos do que os
sujeitos no GC I.
177
Tabela 19 – Análise estatística dos valores de F
0
máxima – leitura
Grupo Média D.P. F P
GNC / GC II
309,63 / 272,16 68,42 / 49,12 -4,15
0,00
GNC / GC I
309,63 / 211,38 68,42 / 77,96 -11,94
0,00
GC II / GC I
272,16 / 211,38 49,12 / 77,96 -5,35
0,00
GNC / GC
309,63 / 234,48 68,42 / 73,05 -10,71
0,00
Finalmente, para os valores de F
0
final, observamos as mesmas tendências descritas
anteriormente, ou seja, obtivemos valores mais altos para todos os sujeitos do GNC
em comparação ao GC, com exceção do GC II, que apresentou valores de F
0
final
semelhantes aos obtidos para o GNC.
Tabela 20 – Análise estatística dos valores de F
0
final – leitura
Grupo Média D.P. F P
GNC / GC II
211,51 / 203,33 98,78 / 44,07 -0,74 0,97
GNC / GC I
203,33 / 163,15 44,07 / 59,22 -4,88
0,00
GC II / GC I
203,33 / 163,15 44,07 / 59,22 -2,93
0,04
GNC / GC
211,51 / 180,81 98,78 / 56,59 -3,88
0,00
De uma maneira geral, podemos perceber, conforme já mencionado, uma tendência
a valores mais altos de todas as variáveis citadas para o GNC. O GC II, embora com
valores um pouco mais baixos, segue um comportamento similar ao do GNC.
Porém, o GC II apresenta valores médios dentro de uma faixa menor de variação, o
que indica uma restrição destes sujeitos ao alcance de uma gama limitada de
freqüências. Posteriormente, discutiremos esta questão específica ao analisarmos
os valores de tessitura.
No entanto, uma questão intrigante surge desta primeira apreciação das partes
analisadas da curva de F
0
: por que os indivíduos disléxicos apresentam valores de
F
0
inferiores aos dos seus pares? A nossa hipótese é a de que estes indivíduos, por
178
serem plenamente conscientes das suas dificuldades com a leitura, sentem-se
intimidados em situações nas quais exatamente o seu ponto fraco – a leitura – esteja
em foco, ou em situação de avaliação. Este tipo de pressão pode levá-los a um
quadro de introspecção, o que reflete na utilização de intensidades mais baixas
(conforme será especificado mais à frente) e valores mais baixos de F
0
.
Estes resultados são muito interessantes, mas de difícil explicação com os dados
disponíveis. Na realidade, a questão parece ser mais fisiológica, o que demandaria
estudos específicos. Abre-se aqui a perspectiva para futuras pesquisas enfatizando
as questões fisiológicas envolvidas na produção oral de leitura, relato e fala
espontânea em disléxicos.
Apresentaremos, a seguir, este mesmo tipo de análise, entretanto considerando
agora a modalidade como parâmetro de comparação. Os GRAF. 14, 15 e 16
apresentam as mesmas variáveis, porém separadamente para cada modalidade.
Dessa forma, cada curva dentro do mesmo gráfico representa uma modalidade
diferente, conforme representado pela legenda, à direita: exclamativa (E),
interrogativa (I) e declarativa (D).
179
120
170
220
270
320
370
D
E
I
Gráfico 14 – Médias obtidas para os valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para a leitura
de enunciados em cada modalidade pelos sujeitos do GNC.
Na legenda, o que está denominado “D” lê-se declarativa, “E” lê-se exclamativa e “I” lê-se
interrogativa.
Nota-se, no GRÁF. 14, para o GNC, que os valores de F
0
inicial não diferenciaram
muito entre as três modalidades, no entanto, a diferença entre o valor médio de F
0
máximo e mínimo para os enunciados interrogativos apresentou-se maior,
demonstrando a maior variação melódica dispendida para esta modalidade. O valor
de F
0
final também se apresentou maior para os enunciados interrogativos, seguido
dos exclamativos e, por último, com valores de F
0
final mais baixos, estão os
declarativos. Observamos, ainda, que as curvas representativas dos enunciados
declarativos e exclamativos são similares, porém a dos enunciados exclamativos
apresenta valores mais altos.
GNC - Leitura
F
0
inicial F
0
mínimo F
0
máximo F
0
final
180
120
170
220
270
320
370
D
E
I
Gráfico 15 – Médias obtidas para os valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para a leitura
de enunciados em cada modalidade pelos sujeitos do GC I.
Na legenda, o que está denominado “D” lê-se declarativa, “E” lê-se exclamativa e “I” lê-se
interrogativa.
Por meio do GRAF. 15, representativo do GC II, nota-se um comportamento um
pouco diferente do observado para o GNC. Os valores de F
0
inicial encontram-se
mais baixos e sutilmente mais dispersos. A diferença entre o valor médio de F
0
máximo e mínimo que mais chamou a atenção foi para os enunciados declarativos,
percebendo-se uma maior variação melódica para esta modalidade. O valor de F
0
final também se apresentou maior para os enunciados interrogativos, seguido dos
exclamativos e, por último, com valores de F
0
final mais baixos, estão os
declarativos. Diferentemente do observado para o GNC, a modalidade exclamativa
foi a que apresentou os menores valores de F
0
, com exceção do valor final. Assim
como observado no GNC, valores mais baixos de F
0
final aconteceram nos
enunciados declarativos.
GC II - Leitura
F
0
inicial F
0
mínimo F
0
máximo F
0
final
181
120
170
220
270
320
370
D
E
I
Gráfico 16 – Médias obtidas para os valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para a leitura
de enunciados em cada modalidade pelos sujeitos do GC II.
Na legenda, o que está denominado “D” lê-se declarativa, “E” lê-se exclamativa e “I” lê-se
interrogativa.
O GRÁF. 16, que representa os valores obtidos para o GC I, demonstra um perfil
pouco diferenciado entre as três modalidades. Os valores de F
0
inicial encontram-se
ainda mais baixos em comparação aos outros grupos. A diferença entre o valor
médio de F
0
máximo e o mínimo está similar para as três modalidades. O valor de F
0
final também se apresentou maior para os enunciados interrogativos, seguido dos
declarativos e, por último, com valores de F
0
final mais baixos, estão os
exclamativos. A modalidade exclamativa, para o GC I, foi a que apresentou os
menores valores de F
0
para todas as medidas.
Pela análise visual das médias obtidas, percebemos, nos três grupos, que os valores
de F
0
inicial apresentaram-se como os mais estáveis para as três modalidades.
Percebemos, também, a tendência de a F
0
final manter-se mais alta para a
modalidade interrogativa nos três grupos. Podemos observar, ainda, o alcance mais
abrangente de valores extremos de F
0
(maior tessitura) para os enunciados
GC I - Leitura
F
0
inicial F
0
mínimo F
0
máximo F
0
final
182
interrogativos no GNC e para os declarativos no GC II. No GC I, não se observa uma
modalidade com maior variação melódica, inclusive, o que se observa neste grupo é
uma tendência a um comportamento muito similar de valores de F
0
para as três
modalidades. Ou seja, estes indivíduos não apresentaram diferenciação entonativa
na configuração geral da curva melódica como pista para a indicação da
modalidade. Este é um fator que pode causar prejuízo na compreensão da leitura de
um texto, uma vez que diversos estudos na área de prosódia têm demonstrado que
a entonação é um fator decisivo na definição da modalidade das frases no português
brasileiro. Posto que a modalidade não é marcada (ou é pouco marcada) ao nível
prosódico, as constatações acerca de certos pontos de um texto lido podem ficar
equivocadas.
Um outro aspecto a se observar, em especial na comparação entre os valore de F
0
inicial e final é a declinação, que se trata de um fenômeno relacionado ao tempo, em
que há um declive gradual da curva de F
0
durante a emissão de um enunciado
(COHEN; t’HART, 1967; LADD, 1984). De uma maneira geral, este fenômeno está
mais relacionado à modalidade declarativa e, usualmente, ausente nas
interrogativas (GUSSENHOVEN, 2004). A explicação para este fenômeno, conforme
mencionado no capítulo 2, pode estar ligada a questões fisiológicas (LIEBERMAN,
1967; COLLIER, 1975), a efeitos de gramaticalização (GUSSENHOVEN, 2004) e
pode, inclusive, estar sob o controle do falante (‘t HART; COLLIER; COHEN, 1990).
Não nos propusemos, neste trabalho, a executar medidas específicas da linha de
declinação, mesmo porque precisaríamos de uma metodologia específica e uma
análise muito detalhada de todos os pontos da configuração melódica dos
enunciados. No entanto, ao observarmos os pontos iniciais e finais de F
0
,
183
percebemos, de forma rudimentar, este fenômeno. Analisando-se os enunciados
declarativos nos três grupos pesquisados, percebemos nitidamente, no GRAF. 14,
que, no GNC, esta declinação é bastante perceptível. Porém, ao observarmos os
GRAF. 15 e 16, percebemos que esta tendência torna-se muito sutil, em especial
para o GC I, em que se traça uma linha quase plana entre os valores de F
0
inicial e
final. Sugerimos que estudos posteriores sobre o efeito de declinação sejam
conduzidos, a fim de que se possa conhecer melhor este fenômeno na leitura de
crianças e, principalmente, de indivíduos disléxicos.
As TAB. 21 a 24 apresentam a análise estatística para os valores de F
0
inicial,
mínimo, máximo e final nos enunciados declarativos na leitura. Observamos as
mesmas tendências que foram descritas anteriormente, considerando todos os
enunciados, sem separá-los por modalidade, em especial ao analisarmos as TAB.
21 e 22, que representam os valores de F
0
inicial e mínima, respectivamente.
Reis (1995) constatou que os valores de F
0
mínima são os mais estáveis na
evolução da curva de F
0
em enunciados declarativos no português. Realmente, para
os grupos GNC e GC I, estes foram os valores com menor variação (observe-se que
o desvio padrão é menor) dentro de cada grupo, mas abrangendo faixas de F
0
diferentes (significativamente menores para os grupos GC I e II) em cada grupo
pesquisado.
184
Tabela 21 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – enunciados declarativos da
leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
236,78 / 203,17
52,40 / 54,78 -4,19
0
GNC / GC I
236,78 / 176,71 52,40 / 59,25 -8,35
0
GC II / GC I
203,17 / 176,71
54,78 / 59,25 -2,6 0,1
GNC / GC
236,78 / 187,68 52,4 / 58,66 -8,33
0
Tabela 22 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – enunciados declarativos da
leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
181,68 / 150,98 44,29 / 58,98 -4,24
0
GNC / GC I
181,68 / 141,12 44,29 / 42,20 -6,49
0
GC II / GC I
150,98 / 141,12 58,98 / 42,20 -1,12 0,87
GNC / GC
181,68 / 145,21 44,29 / 49,83 -7,18
0
As TAB. 23 e 24, que representam os valores de F
0
máximo e final, apresentam sutis
diferenças, pois não houve significância entre os valores máximos de F
0
(TAB. 23)
encontrados para os grupos GNC e GC. Já na TAB. 24, além de não haver
significância para a diferença entre os valores de F
0
final obtidos para o GNC e o GC
II, também não foi observada significância para a diferença entre o GC I e o GC II.
Tabela 23 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – enunciados declarativos da
leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
302,28 / 273,28 63,64 / 60,22 -2,63 0,09
GNC / GC I
302,28 / 213,12 63,64 / 77,57 -9,37
0
GC II / GC I
273,28 / 213,12 60,22 / 77,57 -4,49
0
GNC / GC
302,28 / 238,05 63,64 / 76,62 -8,16
0
185
Tabela 24 – Análise estatística dos valores de F
0
final – enunciados declarativos da
leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
206,06 / 187,46 113,78 / 56,54 -1,18 0,84
GNC / GC I
205,06 / 160,03 113,78 / 61,34 -3,5
0
GC II / GC I
187,46 / 160,03 56,54 / 61,34 -1,51 0,66
GNC / GC
205,06 / 171,4 113,78 / 60,67 -3,22
0
Para os enunciados interrogativos, conforme demonstrado nas TAB. 25 a 28,
percebemos também algumas questões interessantes. A começar dos valores de F
0
inicial, que somente apresentaram-se significativos ao considerarmos o GC como
um todo ou o GC I (TAB. 25). A mesma tendência pode ser observada para os
valores de mínimos de F
0
(TAB. 26). Ou seja, o GC II encontra-se em um ponto
intermediário entre o alcançado pelo grupo GNC e o pelo GC I.
Tabela 25 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – enunciados interrogativos da
leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
243,87 / 212,7
56,8 / 43,3 -1,99 0,11
GNC / GC I
243,87 / 182,4 56,28 / 43,3
-3,93 0
GC II / GC I
212,7 / 182,4 56,28 / 65,9 -1,47 0,31
GNC / GC
243,87 / 197,5
56,28 / 56,9 -3,91
0
Tabela 26 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – enunciados interrogativos
da leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
177,07 / 173,5 42,15 / 54,1 -0,28 0,96
GNC / GC I
177,07 / 144,0 42,15 / 46,2 -2,68
0,02
GC II / GC I
173,5 / 144,0 54,1 / 46,2 -1,83 0,16
GNC / GC
177,07 / 158,77 42,15 / 51,67 -1,95
0,05
Os valores máximos de F
0
apresentaram-se significativamente maiores para o GNC
em comparação aos grupos GC I e II. Somente não foi observada significância ao
compararmos o GC I ao II (TAB. 27).
186
Tabela 27 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – enunciados interrogativos
da leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
330,72 / 264,7 74,32 / 62,2 -3,22
0
GNC / GC I
330,72 / 211,3 74,32 / 79,4 -5,83
0
GC II / GC I
264,7 / 211,3 62,2 / 79,4
-1,98 0,12
GNC / GC
330,72 / 238,0
74,32 / 75,1 -5,91
0
Também para os valores de F
0
final (TAB. 28), foram obtidos valores
significativamente maiores para o GNC, em comparação ao GC como um todo e ao
GC I. No entanto, os valores obtidos foram similares para o GNC e o GC II.
Tabela 28 – Análise estatística dos valores de F
0
final – enunciados interrogativos da
leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
231,11 / 227,7 58,94 / 47,0 -0,21 0,98
GNC / GC I
231,11 / 174,9 58,94 / 70,8 -3,41
0
GC II / GC I
227,7 / 174,9 47 / 70,8 -2,44
0,04
GNC / GC
231,11 / 201,3 58,94 / 64,9 -2,35
0,02
Para os enunciados exclamativos (TAB. 29 a 32), observa-se o seguinte
comportamento: todos os valores obtidos pelo GNC foram significativamente mais
altos do que o GC I e II. Somente nas comparações entre GC I e II, não se obteve
diferença estatisticamente significativa. Apenas para os valores de F
0
final, não se
obteve significância entre os grupos GNC e GC II.
187
Tabela 29 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – enunciados exclamativos da
leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
249,26 / 199,7
51,59 / 45 -2,76
0,02
GNC / GC I
249,26 / 171,1 51,59 / 66,3 -4,16
0
GC II / GC I
199,7 / 171,1 45 / 66,3 -1,18 0,47
GNC / GC
249,26 / 186,2
51,59 / 56,4 -4,56
0
Tabela 30 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – enunciados exclamativos
da leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
204,23 / 150,1 59,97 / 53,1 -2,75
0,02
GNC / GC I
204,23 / 135,6 59,97 / 43,1 -3,33
0
GC II / GC I
150,1 / 135,6 53,1 / 43,1 -0,55 0,85
GNC / GC
204,23 / 143,2 59,97 / 47,9 -4,05
0
Tabela 31 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – enunciados exclamativos
da leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
313,63 / 251,0 75,48 / 44,5 -2,51
0,04
GNC / GC I
313,63 / 209,3 75,48 / 81,9 -3,98
0
GC II / GC I
251,0 / 209,3 44,5 / 81,9
-1,23 0,43
GNC / GC
313,63 / 231,3
75,48 / 66,6 -4,27
0
Tabela 32 – Análise estatística dos valores de F
0
final – enunciados exclamativos da
leitura
Grupo Média Desvio padrão F P
GNC / GC II
213,48 / 148,0 54,97 / 46,3 -0,79 0,71
GNC / GC I
213,48 / 199,2 54,97 / 44,8 -3,46
0
GC I / GC I
213,48 / 148,0 54,97 / 44,8 -2,1 0,1
GNC / GC
213,48 / 174,9 54,97 / 51,5 -2,71
0,01
Os achados relativos à configuração geral da curva e sua relação com a modalidade
frasal se mostraram bastante interessantes. No entanto, generalizações não podem
ser feitas, em função da grande variação encontrada nos resultados. Além disso,
Reis (1995) afirma que essas relações entre modalidade e entonação são muito
188
complexas, exigindo estudos mais aprofundados para que se confirme a atribuição
de contornos melódicos a determinadas modalidades.
A FIG. 9 representa nove telas do programa WinPitch, com exemplos de
representantes dos três grupos pesquisados lendo frases nas três modalidades
referidas. Na primeira linha, temos representações da leitura de enunciados pelos
sujeitos do GNC. Na segunda linha, encontramos exemplos para o GC II e, na última
linha, para o GC I. Na primeira coluna, observamos a leitura do enunciado
declarativo, “O tatu encabulado”. Na segunda coluna, visualizamos a leitura do
enunciado exclamativo, “O dia está lindo!”. Na terceira coluna, há representações do
enunciado interrogativo, “Você quer?”.
Ao compararmos os três grupos, à primeira vista, o que mais nos chama a atenção é
o alcance mais amplo de freqüências pelo GNC, em especial, de freqüências mais
altas, o que demonstra a maior variação melódica que eles desempenham em sua
leitura. Percebe-se que, gradativamente, esta variação tende a diminuir para o GC II,
e, em especial, para o GC I. Observe-se, ainda, que estes dois grupos têm suas
freqüências limitadas a regiões mais baixas.
Percebemos, também, a presença da linha de declinação, conforme discutido antes,
claramente visível no GNC e quase imperceptível nos grupos GC.
Um outro fator a ser observado é a diferenciação perceptível da curva de F
0
de
acordo com a modalidade no GNC, fato não observado tão nitidamente nos demais
grupos.
GNC O tatu encabulado. O dia está lindo! Você quer?
GC II
GC I
Figura 9 – Representações da tela do WinPitch, de frases declarativas, exclamativas e interrogativas de sujeitos do GNC, GC I e GC II.
Para verificarmos de forma objetiva a variação melódica destes sujeitos durante a
leitura, medimos a tessitura, ou seja, a variação entre o valor máximo e o mínimo
obtido da configuração geral da curva de F
0
.
Tabela 33 – Análise estatística dos valores de tessitura – leitura
Grupo Média (em Hz)
Desvio
padrão F P
GNC/GC
128,28 / 91,25 67,66 / 52,58 6,09
0,00
GNC/GC I
128,28 / 68,64 67,66 / 41,75 7,97
0,00
GNC/GC II
128,28 / 120,23 67,66 / 50,29 0,97 0,93
GC I /GC II
68,64 / 120,23 41,75 / 50,29 4,99
0,00
Conforme demonstrado na TAB. 33, os sujeitos do GNC tiveram valores de tessitura
vocal significativamente maiores do que os do GC (considerado como um todo), em
torno de 128 Hz, enquanto os do GC apresentaram valores em torno de 91 Hz, com
diferença estatisticamente significativa entre esses valores. Estes resultados indicam
que os sujeitos com o quadro de dislexia possuem uma menor variação melódica na
leitura. Ao estabelecermos comparações entre cada um dos subgrupos clínicos,
constatamos que os sujeitos do GC I, ou seja, aqueles que não haviam passado por
nenhum tipo de intervenção terapêutica, apresentaram uma menor variação
melódica, com valor médio em torno de 68 Hz, significativamente menor ao
compararmos com o GNC e também com o GC II. No entanto, ao analisarmos o GC
II, ou seja, os sujeitos submetidos ao programa de remediação fonológica,
percebemos que os valores obtidos para a tessitura (média de 120,23 Hz) não são
estatisticamente distintos dos valores encontrados para o GNC. Percebemos, desta
forma, que os sujeitos que passaram pelo programa de remediação apresentam
habilidades de variação melódica compatíveis com os seus pares, sem queixas de
alterações de aprendizagem.
191
Para concluirmos esta característica de variação melódica restrita, típica da leitura
dos sujeitos com dislexia, podemos chegar a dois pontos: em uma primeira análise,
poderíamos atribuir esta característica ao quadro patológico de dislexia, como outros
autores atribuíram esta característica à patologia pesquisada (por exemplo,
CARDOSO (2003) atribuiu aos sujeitos com apraxia de desenvolvimento; AZEVEDO
(2002) atribuiu aos sujeitos parkinsonianos). Os estudos de Alves et al. (2006)
também demonstraram uma menor variação melódica de sujeitos com transtorno de
aprendizagem em comparação aos seus pares. Embora tenhamos encontrado
também este comportamento para o reconto do texto lido, não podemos fazer esta
generalização para a produção de fala dos disléxicos, a menos que estudos
direcionados à fala espontânea destes sujeitos sejam conduzidos, e estas
conclusões sejam confirmadas. Uma outra hipótese possível de ser levantada para
este fenômeno seria relacionar a proficiência em decodificação às habilidades de
produção de maior variação melódica na leitura. Para esta hipótese, temos
resultados mais conclusivos em nossa pesquisa. Tomemos como referência o GC II,
que foi submetido ao programa de remediação fonológica (SALGADO, 2005) com
base em 20 sessões de desenvolvimento de habilidades de consciência fonológica,
tendo como resultado, de acordo com os dados referidos pela autora, uma melhora
na habilidade de decodificação. Este grupo apresentou resultados de valores de
tessitura (embora um pouco menores) compatíveis com os sujeitos do GNC, cuja
diferença não se apresentou estatisticamente significativa. Assim, percebemos que,
incrementando a habilidade de decodificação, podemos obter uma maior variação
melódica na leitura, o que aumenta a sua expressividade e demonstração de
atitudes, podendo levar, inclusive, a uma melhor compreensão do texto.
192
As FIG. 10 e 11 representam novamente a tela do programa WinPitch,
demonstrando, respectivamente, exemplos de um sujeito do GNC e um do GC I,
lendo a mesma frase do texto, “O tatu encabulado”: “O dia está lindo!”. Agora
ampliado, podemos observar, comparativamente, a grande variação melódica,
constatada pelo alcance de freqüências que variam em torno de 180 a 350 Hz,
presente na amostra do GNC (FIG. 10).
Na FIG. 11 que representa um sujeito do GC I, a variação oscila entre os valores de
110 e 130 Hz, ou seja, uma variação melódica significativamente menor.
Figura 10 – Tela do programa WinPitch representando leitura de sujeito do GNC lendo a
frase: “O dia está lindo!”.
193
Figura 11 – Tela do programa WinPitch representando leitura de sujeito do GC I lendo a
frase: “O dia está lindo!”.
4.6.1.2 Configuração geral da curva de F
0
– reconto
Faremos, a seguir, a mesma descrição do item “a”, a respeito da configuração geral
da curva de F
0
, porém agora para o reconto do texto lido. Para essa descrição, não
será necessário realizar uma análise separada por modalidade, pois, na atividade de
reconto, somente ocorreram enunciados declarativos.
O GRAF. 17 ilustra os valores médios das medidas de F
0
inicial, final, mínima e
máxima de cada enunciado para os três grupos pesquisados.
194
Configuração Geral da Curva de F0
0
50
100
150
200
250
300
350
F0 inicial F0 mín F0 máx F0 final
Freqüência (em Hertz)
GNC
GC I
GC II
Gráfico 17 – Médias obtidas para os valores de F
0
inicial, final, máximo e mínimo para o
reconto dos sujeitos do GNC.
Por meio do GRAF. 17, percebemos como é nítida a ocorrência de valores mais
altos de freqüência fundamental para todos os valores obtidos para o GNC. Os
grupos GC I e GC II apresentaram valores bem próximos, porém o GC II apresentou
valores mais altos de F
0
máxima. Podemos manter a nossa hipótese relacionada à
psicodinâmica vocal, em que a tensão gerada pela atividade e ainda o seu
relacionamento com a intensidade vocal limitam o alcance de freqüências mais altas
também para o reconto, uma vez que, mesmo que os sujeitos não estivessem lendo,
195
ainda se tratava de uma atividade relacionada à leitura feita, e eles ainda estavam
sendo gravados.
Observa-se também uma linha de declinação mais sutil do que a percebida para os
enunciados declarativos para a leitura. O que ocorre na atividade de reconto, em
especial para o GNC, que pode justificar este fenômeno é a presença de um tom
suspensivo ao relatar os fatos. Assim, cada grupo tonal (e enunciado) ia sendo
pronunciado em um tom não-final, sugestivo de continuidade, uma vez que o relato
ainda não estava no fim. Somente nas frases finais, este tom não acontecia. Já os
sujeitos do GC II e GC I, como tiveram dificuldades em relatar o texto lido, foram
proferindo enunciados mais simples, às vezes em resposta a perguntas objetivas
feitas pelo pesquisador, não ocorrendo o tom suspensivo. Ao compararmos os
valores da TAB. 24 (F
0
final declarativas – leitura) aos da TAB. 37 (F
0
final –
reconto), percebemos que, para o GNC, os valores de F
0
final encontram-se mais
altos para o reconto, o que comprova o fenômeno explicado. Aqui cabe apontar o
viés metodológico encontrado, uma vez que alguns sujeitos do GC foram
direcionados na construção do reconto, porque não conseguiram produzi-lo
espontaneamente, e isto ocasiona um padrão de fala diferente dos sujeitos que
produziram todo o reconto espontaneamente. Dessa forma, comparar estas duas
produções acarreta padrões diferentes.
No entanto, observamos também valores mais altos para o reconto do que para a
leitura no GC I. Isto se deve ao seguinte fato: a maioria dos sujeitos desse grupo
necesssitou de perguntas mais freqüentes, precisou ser mais direcionada durante a
atividade de reconto, uma vez que não conseguiu, espontaneamente, formular as
196
suas narrativas. Freqüentemente, estas perguntas eram respondidas em tom de
interrogativa, por exemplo, ao tais sujeitos serem questionados sobre quem
convidou o tatu para brincar, a resposta comumente vinha em uma interrogativa: “- O
sapo e o macaco?”.
As TAB. 34 a 37 apresentam as análises estatísticas referentes aos valores de F
0
inicial, mínimo, máximo e final, obtidos para o reconto. Os resultados de todas as
tabelas, em referência aos valores de F
0
inicial, mínimo, máximo e final, demonstram
o mesmo resultado estatístico: valores significativamente maiores para os sujeitos do
GNC, tanto em comparação ao GC como um todo, ao GC I e ao GC II. Somente ao
estabelecermos comparações entre o GC I e II, não se encontra significância na
diferença entre as médias. Isto demonstra que, ao recontar o texto lido, estes dois
grupos obtiveram comportamento semelhante.
Tabela 34 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – reconto
Grupo Média D.P. F P
GNC / GC I
250,13 / 186,1 43,79 / 72,00 -4,35
0,00
GNC / GC II
250,13 / 178,5 43,79 / 55,3 -4,81
0,00
GC I / GC II
186,1 / 178,5 72,0 / 55,3 -0,39 1,00
GNC / GC
250,13 / 182,3 43,79 / 63,2 -6,05
0,00
Tabela 35 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – reconto
Grupo Média D.P. F P
GNC / GC I
202,60 / 160,8 33,9 / 64,7 -3,19
0,02
GNC / GC II
202,60 / 160,9 33,91 / 74 -3,18
0,02
GC I / GC II
160,8 / 160,9 64,17 / 74 0,00 1,00
GNC / GC
202,6 / 160,8
33,91 / 68,3 -4,21
0,00
197
Tabela 36 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – reconto
Grupo Média D.P. F P
GNC / GC I
312,16 / 222,9 61,13 / 76,5 -4,56
0,00
GNC / GC II
312,6 / 254,1 61,13 / 159,8 -2,96
0,04
GC I / GC II
222,9 / 254,1 76,5 / 159,8 1,21 0,82
GNC / GC
312,16 / 238,5 61,13 / 124,1 -4,86
0,00
Tabela 37 – Análise estatística dos valores de F
0
final – reconto
Grupo Média D.P. F P
GNC / GC I
244,70 / 179,9 55,96 / 59,1 -2,73
0,06
GNC / GC II
244,70 / 166,4 55,96 / 66,8 -3,30
0,01
GC I / GC II
179,9 / 166,4 59,1 / 66,8 -0,44 1,00
GNC / GC
244,70 / 173,2 55,96 / 62,3 -3,97
0,00
A seguir, são apresentados os resultados da variação melódica destes sujeitos
durante o reconto, ou seja, a medida da tessitura. A TAB. 31 apresenta os valores
obtidos.
Tabela 38 – Análise estatística dos valores de tessitura – reconto
Grupo Média (em Hz)
Desvio
padrão
F P
GNC/GC
109,56 / 78,76 59,31 / 49,08 2,29
0,01
GNC/GC I
109,56 / 68,7 59,31 / 57,6 2,25 0,06
GNC/GC II
109,56 / 89,5 59,31 / 57,6 1,36 0,88
GC I /GC II
68,7 / 89,5 38,9 / 57,6 0,90 0,94
Ao compararmos o GNC com o GC considerado como um todo, percebemos que
houve diferença estatisticamente significativa entre os valores, ou seja, os sujeitos
com dislexia, em geral, apresentaram uma menor variação melódica em relação ao
GNC. Os valores de tessitura encontrados foram de 109,56 Hz para o GNC e 78,76
Hz para o GC. Já para as demais comparações, seja do GNC com o GC I, II, ou
entre GC I e GC II, não houve diferença estatisticamente significativa. Porém,
percebemos que o valor de p para a comparação entre o GNC e GC I foi de 0,06, ou
198
seja, foi quase significativo. Podemos, assim, chegar à constatação geral de que,
mesmo para relatar o que foi lido, os indivíduos disléxicos apresentam uma menor
variação melódica. Lembramos aqui das ressalvas feitas anteriormente à
generalização destes achados, atribuindo este perfil de pouca habilidade de variação
melódica aos sujeitos com dislexia. Reforçamos a necessidade de se conduzirem
pesquisas com a fala espontânea para confirmarmos esta hipótese. O que se pode
afirmar é que há uma inabilidade de variação melódica dos sujeitos disléxicos em
atividades relacionadas à leitura (a atividade de leitura em si e o relato do texto lido).
4.6.1.3 Configuração geral da curva de F
0
– leitura x reconto
Ao compararmos a configuração geral da curva de F
0
para a leitura e para o reconto
dentro de cada grupo, em cada variável, percebemos que não há diferenças
estatisticamente significativas entre os valores obtidos para a leitura e os obtidos
para o reconto. Ou seja, todos os indivíduos pesquisados tiveram valores de F
0
inicial, mínimo, máximo e final semelhantes, independente de estarem lendo ou
recontando o texto. Somente os sujeitos do GNC tiveram valores diferenciados, mas
apenas para F
0
mínimo e final. Seus valores mínimos de F
0
foram mais altos para o
reconto, assim como os finais. As TAB. 39 a 42 representam estes valores.
199
Tabela 39 – Análise estatística dos valores de F
0
inicial – leitura x reconto
Média D.P. F P
GNC – reconto / leitura
250,13 / 239,92 43,79 / 53,19 -1,68 0,54
GC I – reconto / leitura
186,1 / 207,61 72,00 / 44,78 1,43 0,71
GC II – reconto / leitura
178,5 / 177,10 55,3 / 60,42 -0,10 1,00
GC – reconto / leitura
182,3 / 190,53 63,2 / 56,04 0,00 0,86
Tabela 40 – Análise estatística dos valores de F
0
mínimo – leitura x reconto
Média D.P. F P
GNC – reconto / leitura
202,60 / 183,84 33,91 / 46,98 -3,47
0,00
GC I – reconto / leitura
160,8 / 157,84 64,17 / 54,44 -0,22 1,00
GC II – reconto / leitura
160,9 / 14053 74,0 / 42,86 -1,54 0,63
GC – reconto / leitura
160,8 / 148,25 68,3 / 48,97 -1,34 0,53
Tabela 41 – Análise estatística dos valores de F
0
máximo – leitura x reconto
Média D.P. F P
GNC – reconto / leitura
312,16 / 309,63 61,13 / 68,42 -0,31 0,99
GC I – reconto / leitura
222,9 / 272,16 76,5 / 49,12 2,46 0,13
GC II – reconto / leitura
254,1 / 211,38 159,8 / 77,96 -2,17 0,25
GC – reconto / leitura
238,5 / 238,48 124,1 / 73,05 0,00 1,00
Tabela 42 – Análise estatística dos valores de F
0
final – leitura x reconto
Média D.P. F P
GNC – reconto / leitura
244,70 / 211,51 55,96 / 98,78 -3,39
0,00
GC I – reconto / leitura
179,99 / 203,33 59,1 / 44,07 0,97 0,93
GC II – reconto / leitura
166,4 / 163,15 66,8 / 59,22 -0,13 1,00
GC – reconto / leitura
173,2 / 180,81 62,3 / 56,59 0,44 0,96
Estas diferenças, obtidas somente para o GNC, podem ser atribuídas às questões
relatadas anteriormente sobre o tom suspensivo utilizado por estes sujeitos ao
recontarem o texto lido.
Alves (2002) refere que este tom suspensivo pode ser utilizado como um recurso
persuasivo, uma vez que a não-finalização melódica no discurso cria uma
expectativa no interlocutor de que existe algo mais a ser dito, o que mantém o
200
interlocutor atento à narrativa. Assim, podemos supor que os sujeitos do GNC
podem ter utilizado este recurso para garantir a atenção do interlocutor até o final de
sua narrativa.
Os resultados comparativos da variação melódica, ou seja, a medida da tessitura
desses sujeitos entre as atividades de leitura e reconto são apresentados a seguir. A
TAB. 43 demonstra os valores obtidos.
Tabela 43 – Análise estatística dos valores de tessitura – leitura x reconto
Grupo
Média (em Hz)
Reconto / Leitura
Desvio
padrão
F P
GNC
109,56 / 128,28 59,31 / 67,66 2,59
0,04
GC
78,76 / 91,25 49,08 / 52,28 0,98 0,76
GC I
68,7 / 68,64 57,6 / 41,75 1,17 0,85
GC II
89,5 / 120,23 89,5 / 68,64 2,92
0,03
Apenas os sujeitos do GNC e os do GC II apresentaram valores médios
significativamente maiores para a tessitura durante a leitura. As demais
comparações não demonstraram valores estatisticamente significativos.
É interessante observar, pelo GRAF. 18, a forma como os grupos estão dispostos,
como há um desempenho crescente da tessitura, do GC I até o GNC. É perceptível
também, para os grupos GNC e GC II, a maior diferença entre a tessitura para a
leitura e para o reconto, com este apresentando valores bem mais baixos.
201
GNC
GC II
GC
GC I
Reconto
Leitura
0
20
40
60
80
100
120
140
Hz
Tessitura - leitura x reconto
Reconto
Leitura
Gráfico 18 – Valores comparativos de tessitura – leitura x reconto
Estes resultados, por um lado, nos surpreenderam, uma vez que esperávamos um
desempenho pior na variação melódica para a leitura do que para o reconto, já que o
GC apresenta dificuldades em processar a leitura. No entanto, até mesmo o GNC
apresentou comportamento semelhante: maior variação melódica para a leitura do
que para o reconto. Encontramos uma possível explicação no fato de que, na leitura,
houve enunciados exclamativos e interrogativos, além dos declarativos, o que traz a
possibilidade de vários padrões melódicos, ao contrário do reconto, produzido
basicamente por enunciados declarativos.
Carvalho (2003), em sua pesquisa com adultos proficientes em leitura, refere uma
maior variação melódica para o relato do que a observada na leitura. Ou seja,
nossos resultados contrariaram pesquisas anteriores e nossas próprias hipóteses.
202
Vamos tentar explicar melhor este fato baseando-nos ainda nos seguintes dados:
em primeiro lugar, os disléxicos, de uma maneira geral (ou seja, o GC como um
todo) e os não submetidos a nenhum tipo de intervenção terapêutica (GC I) não
apresentaram diferença no comportamento entre os dois tipos de atividades, ou seja,
tanto para a leitura quanto para o reconto, mantiveram suas restrições quanto à
variação melódica, praticamente no mesmo nível de dificuldade. Já os sujeitos do
GNC e os submetidos ao programa de remediação fonológica podem ter, diante da
visível situação de avaliação de suas leituras (e da ausência de – ou de menor –
dificuldade em decodificação), implementado maior expressividade à leitura, não se
concentrando tanto em fazê-lo no relato, atividade na qual eles se ocuparam mais
em trazer informações precisas e coerentes com o texto lido.
4.6.2 Aspectos locais da configuração melódica
Nesta seção, faremos a descrição dos aspectos locais observados na vogal tônica
proeminente e na pré-tônica de cada grupo tonal.
203
4.6.2.1 Duração
a) Duração – leitura
A TAB. 44 demonstra os valores médios encontrados para a duração da vogal tônica
proeminente e pré-tônica durante a execução da leitura. Os valores obtidos para a
produção da vogal tônica proeminente não diferenciaram muito entre os grupos,
oscilando entre 0,17 e 0,19 seg, de modo a não haver diferença estatisticamente
significativa.
Ao analisarmos as colunas referentes aos valores de duração das vogais pré-
tônicas, observamos que houve uma duração significativamente maior na produção
destes segmentos pelos indivíduos do GC como um todo (0,10 seg), do GC I (0,09
seg) e II (0,010 seg), ao estabelecermos comparação com o GNC. Somente ao
compararmos os GC I e II entre si, não obtivemos resultados significativos.
Tabela 44 – Análise estatística dos valores de duração das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
(em seg)
Desvio
padrão
F P
Média
(em seg)
Desvio
padrão
F P
GNC/GC
0,17 / 0,18 0,05 / 0,10 0,89 0,81 0,08 / 0,13 0,07 / 0,10 4,51
0,01
GNC/GC I
0,17 / 0,19 0,05 / 0,09 0,6344 0,99 0,08 / 0,13 0,07 / 0,09 3,35
0,01
GNC/GC II
0,17 / 0,18 0,05 / 0,12 0,706 0,98 0,08 / 0,12 0,07 / 0,10 0,47
0,00
GC I /GC II
0,19 / 0,18 0,09 / 0,12 0,00302 1,00 0,13 / 0,12 0,09 / 0,10 0,13 1,00
Sabemos que a vogal da sílaba tônica proeminente é a que carrega maior
importância nos estudos prosódicos, pois é nela que estão as características
204
principais dos movimentos melódicos. No entanto, ao compararmos os resultados
das nossas medidas de duração, percebemos que há uma diferença no
comportamento entre os grupos, relacionada apenas à duração da vogal da sílaba
pré-tônica. Assim, constatamos que os sujeitos disléxicos realizaram estas vogais
com uma duração significativamente maior do que os do GNC. Este fato explica a
dificuldade que encontramos para delimitar a proeminência tônica do GC em alguns
casos, já que os sujeitos disléxicos a realizaram com duração apenas um pouco
maior do que as pré-tônicas, tornando as vogais pré-tônicas mais longas do que o
habitual.
b) Duração – reconto
Para a produção do reconto, não houve diferença significativa no comportamento
entre os grupos, que apresentaram valores de 0,17 a 0,18 seg para a duração da
vogal tônica proeminente e de 0,06 a 0,07 seg para a produção da pré-tônica,
conforme demonstrado na TAB. 45.
Tabela 45 – Análise estatística dos valores de duração das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
(em seg)
Desvio
padrão
F P
Média
(em seg)
Desvio
padrão
F P
GNC/GC
0,18 / 0,18 0,12 / 0,06 0,00 1,00 0,06 / 0,07 0,03 / 0,02 0,00 1,00
GNC/GC I
0,18 / 0,17 0,12 / 0,07 0,00192 1,00 0,06 / 0,07 0,03 / 0,03 0,21 0,99
GNC/GC II
0,18 / 0,18 0,12 / 0,05 0,00047 1,00 0,06 / 0,07 0,03 / 0,02 0,45 0,99
GC I /GC II
0,17 / 0,18 0,07 / 0,05 0,00111 1,00 0,07 / 0,07 0,03 / 0,02 0,18 0,99
Como para a atividade de reconto foi necessário apenas buscar palavras já
armazenadas em seu léxico mental, a proeminência tônica apareceu mais clara para
205
todos os sujeitos do GC, uma vez que, para a fala, eles já têm internalizado o padrão
acentual das palavras e dos grupos tonais. Observe que os valores obtidos são
praticamente os mesmos para todos os grupos, apresentando, a vogal pré-tônica,
valores consideravelmente menores.
c) Duração – leitura x reconto
Estabelecendo-se comparação da duração das vogais na leitura e no reconto,
conforme demonstrado na TAB. 46, percebemos que, para a vogal tônica
proeminente, não houve diferença significativa entre a produção da leitura e do
reconto. Já os valores de duração da vogal pré-tônica apresentaram-se
significativamente maiores para a leitura no GC considerado como um todo.
Conforme já discutido anteriormente, este fato se deu em função da dificuldade de
os sujeitos disléxicos marcarem o padrão acentual na sílaba tônica proeminente por
meio da duração, apresentando, a vogal da sílaba pré-tônica, duração relativamente
maior do que o habitual.
Tabela 46 – Análise estatística dos valores de duração das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura x reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média (em seg)
Reconto / Leitura
Desvio
padrão
F P
Média (em seg)
Reconto / Leitura
Desvio
padrão
F P
GNC
0,18 / 0,17 0,12 / 0,05 0,70761 0,98 0,06 / 0,08 0,03 / 0,07 3,46 0,07
GC
0,18 / 0,18 0,06 / 0,10 0,00 1,00 0,07 / 0,13 0,02 / 0,10 3,62
0,00
GC I
0,17 / 0,19 0,07 / 0,09 0,00291 1,00 0,07 / 0,13 0,03 / 0,09 2,69 0,08
GC II
0,18 / 0,18 0,05 / 0,12 0,00021 1,00 0,07 / 0,12 0,02 / 0,10 2,42 0,14
Os GRAF. 19 e 20 ilustram estes valores. Por meio do GRAF. 19, que representa os
valores de duração obtidos para a vogal tônica proeminente do grupo tonal para a
206
leitura e para o reconto, observamos que os valores obtidos são muito próximos para
todos os grupos pesquisados.
GNC
GC
GC I
GC II
Reconto
Leitura
0,12
0,13
0,14
0,15
0,16
0,17
0,18
0,19
ms
Duração - Vogal tônica proeminente
Gráfico 19 – Médias obtidas para os valores de duração da vogal tônica proeminente – leitura x
reconto
O GRAF. 20 representa os valores de duração obtidos para a vogal pré-tônica do
grupo tonal, para a leitura e para o reconto. Por meio dele, observamos que os
valores obtidos são um pouco diferentes entre os grupos pesquisados, porém,
estatisticamente, esta diferença somente se apresenta significativa para o GC.
207
GNC
GC
GC I
GC II
Reconto
Leitura
0
0,02
0,04
0,06
0,08
0,1
0,12
0,14
ms
Duração - vogal pré-tônica
Gráfico 20 – Médias obtidas para os valores de duração da vogal pré-tônica – leitura x reconto
4.6.2.2 Amplitude melódica
Analisaremos, a seguir, o quanto cada um destes segmentos da curva melódica,
compreendidos nas vogais tônicas proeminentes e pré-tônicas dos enunciados
variou desde o seu ponto inicial até o final, ou seja, o intervalo melódico.
a) Amplitude melódica – leitura
A TAB. 47 apresenta os valores da amplitude da variação de F
0
nas vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas para a leitura. Constatamos que os sujeitos do GNC
apresentaram valores significativamente maiores nas tônicas proeminentes, com
208
média de 50,19 Hz, quando comparado ao GC como um todo (29,73 Hz) e ao GC I
(23,38 Hz). Ou seja, os sujeitos disléxicos (excetuando-se os submetidos ao
programa de remediação – GC II) apresentaram uma amplitude menor de variação
melódica na vogal tônica proeminente. Esses resultados estão condizentes com os
menores valores de tessitura observados na configuração geral da curva melódica
dos sujeitos disléxicos. Por um lado, estas constatações reafirmam as restrições na
habilidade em realizar movimentos melódicos marcados na leitura pelos sujeitos
disléxicos. Por outro lado, nos levam a perceber os efeitos positivos do programa de
remediação sobre a prosódia dos sujeitos que participaram deste programa de
intervenção.
Já para a pré-tônica, somente observamos valores significativos ao compararmos os
sujeitos do GC I (média de 13,06 Hz) aos do GC II (média de 23,81 Hz). E, de uma
maneira geral, observamos valores bem menores de amplitude para a vogal pré-
tônica em comparação aos valores obtidos para as vogais tônicas, o que já era
esperado, uma vez que, como já foi mencionado e que é consenso na literatura, o
movimento melódico mais importante acontece na vogal da sílaba tônica
proeminente. Lopes (2001), em seu estudo sobre a fala alternativa em crianças,
também encontrou que a característica principal do movimento melódico está nas
vogais das sílabas tônicas proeminentes, uma vez que estas sílabas têm a maior
amplitude melódica.
209
Tabela 47 – Análise estatística dos valores de amplitude das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
(em Hz)
Desvio
padrão
F P
Média
(em Hz)
Desvio
padrão
F P
GNC/GC
50,19 / 29,73 33,69 / 32,97 4,92
0,00
17,04 / 17,85 19,15 / 19,85 0,45 0,97
GNC/GC I
50,19 / 23,38 45,63 / 28,71 5,195
0,00
17,04 / 13,06 19,15 / 13,98 1,744 0,502
GNC/GC II
50,19 / 38,13 45,63 / 28,71 2,079 0,298 17,04 / 23,81 19,15 / 24,14 2,698 0,076
GC II /GC I
38,13 / 23,38 36,47 / 28,71 2,068 0,304 23,81 / 13,06 24,14 / 13,98 3,420
0,008
b) Amplitude melódica – reconto
Para o reconto do texto, os valores de amplitude não se mostraram diferentes entre
os grupos pesquisados, não apresentando, conforme a TAB. 48, nenhum valor de p
inferior a 0,05. Ou seja, para a situação de relato, os disléxicos apresentaram os
aspectos prosódicos locais compatíveis com os seus pares.
Tabela 48 – Análise estatística dos valores de amplitude das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
(em Hz)
Desvio
padrão
F P
Média
(em Hz)
Desvio
padrão
F P
GNC/GC
45,87 / 29,19 28,54 / 22,42 1,67 0,34 11,92 / 12,40 9,56 / 10,37 0,13 1,00
GNC/GC I
45,87 / 36,10 28,54 / 26,00 0,721 0,979 11,92 / 14,73 09,56 / 10,65 0,565 0,993
GNC/GC II
45,87 / 24,17 28,54 / 18,31 1,736 0,508 11,92 / 10,07 09,56 / 09,88 0,372 0,999
GC II /GC I
24,17 / 36,10 18,31 / 26,00 0,692 0,983 10,17 / 14,73 09,88 / 10,65 0,717 0,980
c) Amplitude melódica – leitura x reconto
Também, ao compararmos os valores de amplitude obtidos para a leitura e para o
reconto, não se observa diferença estatisticamente significativa dentro dos grupos
(TAB. 49). Estes resultados indicam que, dentro de cada grupo pesquisado, a
210
habilidade local de variação melódica permanece similar para a leitura e para o
reconto.
Já Carvalho (2003), diferentemente dos nossos resultados, ao comparar a amplitude
melódica da leitura à do relato oral em adultos constatou que a variação melódica é
maior no relato, uma vez que os seus dados apontaram para uma maior
regularidade melódica na leitura. Talvez, esta diferença de resultados possa ser
atribuída tanto à maior proficiência em leitura de todos os sujeitos pesquisados pela
autora, proficiência essa que leva a uma maior regularidade na leitura, quanto ao
conhecimento de mundo e à capacidade natural de realizar inferências presentes no
relato oral dos adultos. Isto torna suas produções de fala mais próximas de uma fala
espontânea, obviamente mais expressiva do ponto de vista melódico.
Tabela 49 – Análise estatística dos valores de amplitude das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
Reconto / Leitura
Desvio
padrão F P
Média
Reconto / Leitura
Desvio
padrão F P
GNC
45,87/50,19 28,57/45,63 0,847 0,959 11,92/17,04 09,56/19,15 2,436 0,144
GC
29,59/29,73 22,42/32,97 0,02 1,00 12,40/17,85 10,37/19,85 1,50 0,44
GC I
36,10/23,38 26,00/28,71 0,938 0,937 14,73/13,06 10,65/13,98 0,332 1,000
GC II
24,17/38,13 18,31/36,47 1,090 0,886 10,07/23,81 09,88/24,14 2,662 0,083
Os GRAF. 21 e 22 representam os valores obtidos para a medida de amplitude.
Observe, no GRAF. 21, que representa os resultados para a sílaba tônica
proeminente, a perceptível diferença entre os grupos, observada apenas para a
leitura, sobretudo entre GNC e GC I. Já para o reconto, embora sejam observadas
diferenças, estas não são significativas. Da mesma forma, entre a atividade de
leitura e o reconto, não há diferenças substanciais nos valores alcançados.
211
GNC
GC
GC I
GC II
Reconto
Leitura
0
10
20
30
40
50
60
Hz
Amplitude - vogal tônica proeminente
Gráfico 21 – Médias obtidas para os valores de amplitude da vogal tônica proeminente do
grupo tonal – leitura x reconto
Para a vogal da sílaba pré-tônica, observe, pelo GRAF. 22, que somente há
diferença significativa entre GC I e II apenas para a leitura, com tal vogal não
apresentando diferença em situação de relato. Ao compararmos as situações de
leitura e relato dentro dos mesmos grupos, vemos que também não houve diferença
perceptível.
212
GNC
GC
GC I
GC II
Reconto
Leitura
0
5
10
15
20
25
Hz
Amplitude - vogal pré-tônica
Gráfico 22 – Médias obtidas para os valores de amplitude da vogal pré-tônica do grupo tonal –
leitura x reconto
4.6.2.3 Taxa de velocidade de mudança melódica
Passaremos à análise da velocidade com que aconteceu a mudança no movimento
melódico destes intervalos pesquisados, ou seja, nas vogais tônicas proeminentes e
pré-tônicas de cada grupo tonal. Conforme já explicado, para a obtenção desta taxa,
dividimos o valor do intervalo melódico pela duração deste intervalo, em uma medida
em Hz/seg, conforme proposto por ‘t Hart et al. (1990).
a) Taxa de velocidade de mudança melódica – leitura
É possível perceber, por meio dos valores apresentados na TAB. 50 que, para a
vogal tônica proeminente, no GNC, obtivemos um valor médio de 0,30 Hz/s, que é
213
significativamente maior do que as taxas relativas ao GC considerado como um todo
(0,14 Hz/s) e do que as taxas relativas aos grupos GC II (0,18 Hz/s) e GC I (0,10
Hz/s), que apresentaram valor bem menor. Ao compararmos estes dois grupos
clínicos entre si (GC I e II), não obtivemos diferença estatisticamente significativa
entre as médias.
Podemos constatar assim que, além de uma menor variação melódica, os sujeitos
disléxicos apresentam um menor dinamismo para a mudança melódica, ou seja, eles
gastam um maior tempo para variar a melodia da tônica nuclear.
Cardoso (2003) também encontrou valores reduzidos de taxa de velocidade de
mudança melódica em crianças apráxicas como resultado de um intervalo melódico
reduzido para estes sujeitos. A mesma generalização pode ser feita para o nosso
estudo: obviamente, se temos uma menor amplitude melódica e valores de duração
que não se diferenciaram significativamente, teremos, como conseqüência, uma
velocidade reduzida do movimento melódico.
Esta mudança no movimento melódico na vogal pré-tônica apresentou valores
similares aos encontrados para a vogal tônica, porém somente encontramos
diferenças significativas ao compararmos o GNC ao GC como um todo e ao GC I. É
interessante observar que este movimento é também significativo no elemento pré-
tônico, sobretudo para os sujeitos do GC I, que demonstraram pouca marcação do
elemento tônico, tendo o elemento pré-tônico importância quase equivalente.
214
Tabela 50 – Análise estatística dos valores da taxa de velocidade de mudança
melódica das vogais tônicas proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
(em Hz/s)
Desvio
padrão
F P
Média
(em Hz/s)
Desvio
padrão
F P
GNC / GC
0,30 / 0,14 0,30 / 0,14 6,71
0,00
0,22 / 0,13 0,33 / 0,16 3,15
0,01
GNC / GC II
0,30 / 0,18 0,30 / 0,13 3,555
0,005
0,22 / 0,20 0,33 / 0,18 0,721 0,980
GNC / GC I
0,30 / 0,10 0,30 / 0,14 6,473
0,000
0,22 / 0,08 0,33 / 0,11 3,897
0,001
GC II / GC I
0,18 / 0,10 0,13 / 0,14 1,953 0,370 0,20 / 0,08 0,18 / 0,11 2,285 0,200
O GRAF. 23 ilustra estes resultados. Por meio do gráfico, fica ainda mais claro os
maiores valores encontrados para o GNC em relação aos demais grupos
pesquisados, e o comportamento similar para esta medida tanto na vogal da sílaba
tônica proeminente, quanto na vogal da sílaba pré-tônica.
GNC
GC
GC I
GC II
VTP
VPT
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
Hz/s
Taxa de velocidade de mudança melódica – leitura
Gráfico 23 – Médias obtidas para os valores da taxa de velocidade de mudança melódica –
leitura.
As colunas em verde representam as vogais pré-tônicas (VPT). As colunas em lilás
representam as vogais tônicas proeminentes (VTP) do grupo tonal.
215
b) Taxa de velocidade de mudança melódica – reconto
Já para o reconto, esta mudança no movimento melódico não obteve valores
significativos, conforme representado na TAB. 51, ao estabelecermos comparações
entre os grupos tanto na vogal pré-tônica quanto na tônica proeminente.
Tabela 51 – Análise estatística dos valores da taxa de velocidade de mudança
melódica das vogais tônicas proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
(em Hz/s)
Desvio
padrão
F P
Média
(em Hz/s)
Desvio
padrão
F P
GNC/GC
0,29 / 0,22 0,19 / 0,17 1,40 0,50 0,22 / 0,18 0,20 / 0,14 0,69 0,90
GNC / GC I
0,29 / 0,18 0,19 / 0,16 1,516 0,654 0,22 / 0,14 0,20 / 0,12 1,004 0,917
GNC / GC II
0,29 / 0,25 0,19 / 0,19 0,598 0,991 0,22 / 0,22 0,20 / 0,16 0,039 1,000
GC I / GC II
0,18 / 0,25 0,19 / 0,19 0,700 0,982 0,14 / 0,22 0,12 / 0,16 0,739 0,977
Ou seja, para relatar o texto lido, ambos os grupos alcançaram velocidades similares
de mudança no movimento melódico. Uma vez que não obtivemos diferenças
significativas para os valores de duração e amplitude melódica entre os grupos para
o reconto, logicamente, a taxa de velocidade de mudança melódica também – sendo
uma medida em função das variáveis citadas – apresenta o mesmo comportamento.
c) Taxa de velocidade de mudança melódica – leitura x reconto
Também ao compararmos os valores da leitura aos do reconto, não obtivemos
valores significativos para a mudança no movimento melódico (TAB. 52). A mesma
justificativa apresentada para o reconto se aplica neste caso.
216
Todos os grupos utilizaram velocidades similares de mudança melódica tanto para
ler quanto para recontar o texto.
Tabela 52 – Análise estatística dos valores da taxa de velocidade de mudança
melódica das vogais tônicas proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura x
reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média (em Hz/s)
Reconto / Leitura
Desvio
padrão F P
Média (em Hz/s)
Reconto / Leitura
Desvio
padrão F P
GNC
0,29 / 0,30 0,20 / 0,30 0,480 0,997 0,22 / 0,22 0,20 / 0,32 0,078 1,000
GC
0,22 / 0,14 0,17 / 0,14 1,45 0,47 0,18 / 0,13 0,14 / 0,16 0,82 0,84
G II
0,18 / 0,19 0,16 / 0,13 0,041 1,000 0,14 / 0,20 0,12 / 0,18 0,652 0,987
GC I
0,24 / 0,10 0,19 / 0,14 -2,011 0,330 0,21 / 0,08 0,16 / 0,11 1,714 0,522
4.6.2.4 Direção da curva de F
0
a) Leitura
Apresentamos, a seguir, os resultados obtidos para a direção da curva melódica nas
vogais tônicas proeminentes e pré-tônicas, separadas por modalidade. Em anexo,
encontram-se as tabelas com os valores absolutos obtidos (ANEXOS G, H, I e J). Os
GRAF. 24 e 25 ilustram estes resultados para os enunciados declarativos.
217
Direção da curva - enunciados declarativos
Vogal da sílaba tônica proeminente
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
GNC GC II GC I
A
AD
D
DA
DAD
N
Gráfico 24 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
declarativos na vogal da sílaba tônica proeminente.
Na legenda, “A” representa curvas ascendentes; “AD”, as ascendentes-descendentes; “D”, as
descendentes; “DA”, as descendente-ascendentes; “DAD”, as descendente-ascendente-
descendentes”; e “N”, as curvas niveladas.
Pelo GRAF. 24, que expõe os resultados da direção da curva para a vogal da sílaba
tônica proeminente, percebe-se que, nos três grupos, o tipo de curva predominante
foi a descendente. A literatura refere que os enunciados declarativos são
caracterizados pelo padrão descendente da curva melódica presente na sílaba
tônica final do enunciado (HALLIDAY, 1970; FERNANDES, 1976; BOLINGER, 1986;
REIS, 1995; MORAES, 1998; PICKETT, 1999; ANTUNES, 2000; MIRANDA, 2001),
o que se mostra condizente com os resultados encontrados para esta modalidade.
No entanto, pode ser observado que existe um decréscimo da porcentagem de
ocorrência desta curva, se analisarmos nesta seqüência: o GNC, o GC II e o GC I.
Perceba que, no GC I, há uma diferença de pouco mais de 10% entre a ocorrência
de curvas ascendentes e descendentes e há também um percentual elevado de
curvas niveladas (20%). Estes achados indicam uma menor marcação prosódica da
modalidade por estes sujeitos não submetidos ao programa de remediação. Ou seja,
218
eles apresentam uma menor variação melódica, conforme apontando anteriormente,
e também uma menor habilidade de marcação da modalidade.
Direção da curva - enunciados declarativos
Vogal da sílaba pré-tônica
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
GNC GC II GC I
A
AD
D
DA
DAD
N
Gráfico 25 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
declarativos na vogal da sílaba pré-tônica.
Na legenda, “A” representa curvas ascendentes; “AD”, as ascendentes-descendentes; “D”, as
descendentes; “DA”, as descendente-ascendentes; “DAD”, as descendente-ascendente-
descendentes”; e “N”, as curvas niveladas.
Para a vogal da sílaba pré-tônica, observa-se no GNC e GC II um predomínio de
curvas ascendentes. Já no GC I, houve um predomínio de curvas niveladas,
seguidas das descendentes. Este grupo, mais uma vez, apresenta um padrão
diferente, demonstrando dificuldades em marcar, por meio da entonação, a
modalidade.
Os GRAF. 26 e 27 ilustram estes resultados para a modalidade interrogativa.
219
Direção da curva - enunciados interrogativos
Vogal da sílaba tônica proeminente
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
GNC GC II GC I
A
AD
ADA
D
DA
DAD
N
Gráfico 26 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
interrogativos na vogal da sílaba tônica proeminente.
Na legenda, “A” representa curvas ascendentes; “AD”, as ascendentes-descendentes; “ADA”, as
ascendente-descendente-ascendentes; “D”, as descendentes; “DA”, as descendente-ascendentes;
“DAD”, as descendente-ascendente-descendentes”; e “N”, as curvas niveladas.
O GRAF. 26 apresenta as curvas obtidas na vogal tônica proeminente. Para as
interrogativas, não se observa um padrão coerente entre os três grupos.
Percebemos que cada grupo teve um perfil diferenciado de comportamento
melódico. O GNC apresentou, predominantemente, curvas ascendentes-
descendentes. No GC II, houve predomínio de curvas ascendentes e, no GC I, de
curvas descendentes. Nossos achados para o GNC corroboram os de Antunes
(2000), que encontrou como característica básica de enunciados interrogativos um
movimento ascendente iniciando-se na sílaba anterior à tônica proeminente e
terminando na parte inicial da tônica proeminente, onde começa a realização de um
movimento descendente final. O GC II apresentou também um comportamento
coerente com a literatura, que aponta para um padrão melódico ascendente na
última sílaba acentuada (HALLIDAY, 1970; GAGLIARI, 1981; RIZZO, 1981;
220
HOCHGREB, 1983; REIS, 1995; MORAES, 1998). No entanto, o GC I, mais uma
vez, apresentou padrão melódico discrepante, com curvas predominantemente
descendentes, características de enunciados declarativos. Perceptivamente, este
fato já havia sido notado, já que, para a maioria dos enunciados, não se consegue
distinguir uma interrogativa de uma declarativa, produzidas por este grupo. Ou seja,
evidencia-se, mais uma vez, a dificuldade na marcação melódica da modalidade.
Direção da curva - enunciados interrogativos
Vogal da sílaba pré-tônica
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
GNC GC II GC I
A
AD
D
DA
N
Gráfico 27 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
interrogativos na vogal da sílaba pré-tônica.
Na legenda, “A” representa curvas ascendentes; “AD”, as ascendentes-descendentes; “D”, as
descendentes; “DA”, as descendente-ascendentes; e “N”, as curvas niveladas.
O GRAF. 27, que apresenta estes resultados para a vogal da sílaba pré-tônica,
evidencia a predominância de enunciados descendentes para o GNC e nivelados
para os GC I e II. Observe que, no GC I, houve uma ocorrência muito próxima de
curvas niveladas, ascendentes e descendentes, o que demonstra não haver um
padrão predominantemente seguido pelos sujeitos deste grupo.
221
Os GRAF. 28 e 29 apresentam os resultados para os enunciados exclamativos.
Direção da curva - enunciados exclamativos
Vogal da sílaba tônica proeminente
0%
10%
20%
30%
40%
50%
GNC GC II GC I
A
AD
D
DA
DAD
N
Gráfico 28 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
exclamativos na vogal da sílaba tônica proeminente.
Na legenda, “A” representa curvas ascendentes; “AD”, as ascendentes-descendentes; “D”, as
descendentes; “DA”, as descendente-ascendentes; “DAD”, as descendente-ascendente-
descendentes”; e “N”, as curvas niveladas.
O GRAF. 28 demonstra o comportamento da curvas melódicas na vogal da sílaba
tônica proeminente. Houve, predominantemente, para todos os grupos, a ocorrência
de curvas descendentes. Halliday (1970) aponta, como movimento melódico
característico das exclamativas, o tom descendente-ascendente para o inglês, que
foi observado, em pequena escala, apenas no GNC. Podemos observar a presença
de tons complexos (ascendente-descendente, descendente-ascendente e
descendente-ascendente-descendente) apenas nos grupos GNC e GC II, o que
demonstra a maior expressividade destes sujeitos para a marcação da modalidade
exclamativa.
222
Direção da curva - enunciados exclamativos
Vogal da sílaba pré-tônica
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
GNC GC II GC I
A
AD
D
DA
N
Gráfico 29 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para a leitura de enunciados
exclamativos na vogal da sílaba pré-tônica.
Na legenda, “A” representa curvas ascendentes; “AD”, as ascendentes-descendentes; “D”, as
descendentes; “DA”, as descendente-ascendentes; e “N”, as curvas niveladas.
Para a vogal da sílaba pré-tônica, observamos também um comportamento de
pouca expressividade pelo GC I, marcado pela presença de curvas ascendentes,
descendentes ou niveladas, enquanto nos demais grupos, sobretudo, no GNC, há
ainda a presença de tons complexos.
Estes resultados obtidos para a leitura nos remetem, de uma maneira geral, a um
perfil definido de um desempenho compatível aos estudos relacionados à prosódia e
à modalidade, principalmente pelo GNC. O GC II demonstrou habilidades próximas a
de seus pares, indicando um melhor desempenho na habilidade de variação
melódica e marcação da modalidade, o que não pode ser observado no GC I. Este
apresentou um perfil definido pela não-marcação clara da modalidade por meio da
223
entonação, além de pouca expressividade, demonstrada pela restrição na variação
melódica para a leitura.
b) Reconto
Os GRAF. 30 e 31 demonstram os mesmos resultados, agora para o reconto. Aqui
não foi necessária uma divisão por modalidade, uma vez que, para o reconto, todos
os sujeitos realizaram apenas enunciados declarativos.
Direção da curva - Reconto
Vogal da sílaba tônica proeminente
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
GNC GC II GC I
A
AD
D
DA
N
Gráfico 30 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para o reconto na vogal da sílaba
tônica proeminente.
Os GRAF. 30 ilustra os resultados obtidos para a vogal da sílaba tônica
proeminente. Aqui, conforme já discutido para a leitura, observa-se, dentro do
esperado, de acordo com estudos referidos na literatura, para o GNC, o predomínio
de enunciados descendentes. É interessante observar o predomínio, tanto no GC II
224
quanto no GC I, o predomínio de curvas ascendentes, típicas de ocorrência, nesta
posição, em enunciados interrogativos. Este fato poder ser explicado, conforme já
apontado anteriormente, pelo tom de dúvida em alguns enunciados, reflexo das
dificuldades de interpretação dos sujeitos disléxicos.
Direção da curva - Reconto
Vogal da sílaba pré-tônica
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
GNC GC II GC I
A
AD
D
N
Gráfico 31 – Porcentagem de ocorrência da direção da curva para o reconto na vogal da sílaba
pré-tônica.
Para a vogal da sílaba pré-tônica, conforme demonstrado pelo GRAF. 31, observa-
se um contorno predominantemente nivelado para os grupos GNC e GC II e, para o
GC I, houve a mesma ocorrência para os tons nivelado, ascendente e descendente.
Estas foram, para os três grupos, as curvas que predominaram.
Tais resultados, de menor expressividade, são compatíveis aos já discutidos, de
tessitura. Mais uma vez, percebemos que todos os sujeitos pesquisados
apresentaram uma maior expressividade para a leitura do que para o reconto.
225
4.6.2.5 Intensidade
a) Intensidade – leitura
Conforme já especificado na metodologia, para que pudéssemos obter uma maior
confiabilidade na obtenção desta variável, foi necessária a utilização de um
microfone de cabeça, além do ajuste de uma distância relativamente fixa entre o
microfone e a boca de cada um dos informantes.
A TAB. 53 demonstra os resultados obtidos para a leitura, considerando-se
medições locais, ou seja, a intensidade nas vogais tônica e pré-tônica. Para o GNC
nossas médias se encontraram de acordo com as obtidas por Carvalho (2003) para
leitores adultos (37 dB). Um outro problema ao se tratar do fator intensidade é a
metodologia para a obtenção destes valores. A depender deste fator, além do
programa de análise acústica utilizado para a extração dos valores, estes podem
apresentar variações muito grandes. Podemos comparar nossos achados aos da
autora citada, porque ela utilizou a mesma metodologia para a coleta de dado, e
utilizou o mesmo programa de análise acústica.
Ao estabelecermos comparações entre os grupos, observa-se que os resultados
somente apresentaram-se significativos ao compararmos GNC ao GC e ao GC I,
para a vogal da sílaba tônica proeminente. Ou seja, os sujeitos disléxicos, sobretudo,
os que não passaram pelo programa de intervenção terapêutica apresentam, para a
leitura, menor intensidade do que seus pares do GNC.
226
Os resultados foram semelhantes ao observarmos a intensidade na vogal da sílaba
pré-tônica. Para estes, foram encontrados resultados significativos, inclusive ao
compararmos o GC I ao GC II.
Tabela 53 – Análise estatística dos valores de intensidade das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
(em dB)
Desvio
padrão
F P
Média
(em dB)
Desvio
padrão
F P
GNC/GC
37,72 / 35,43 6,76 / 10,44 3,27
0,01
37,48 / 36,21 5,28 / 5,64 2,53
0,05
GNC/GC I
37,73 / 33,59 6,76 / 8,52 4,2410
0,0003
37,48 / 34,00 5,28 / 4,04 5,1200
0,000
GNC/GC II
37,73 / 36,87 6,76 / 11,57 0,9810 0,9242 37,48 / 38,04 5,28 / 6,12 1,4360 0,705
GC I /GC II
33,59 / 36,87 8,52 / 11,57 2,7050 0,0743 34,00 / 38,05 4,04 / 6,12 6,0300
0,000
Pode-se concluir, por meio destes resultados, que os sujeitos disléxicos apresentam
níveis inferiores de intensidade para a produção da leitura. Autores, como, Sorin
(1981); Alku; Vintturi; Vilkman (2001) e Behlau; Pontes (1995), afirmam que, do
ponto de vista fisiológico, a intensidade está relacionada com a pressão aérea
subglótica que, por sua vez, depende de uma série de fatores, como, amplitude de
vibração e tonicidade das pregas vocais.
Sabemos, assim, que F
0
e intensidade são parâmetros independentes, mas que se
encontram relacionados, o que pôde ser comprovado também pelos estudos de
Alku; Vintturi; Vilkman (2001). De acordo com os autores, a produção de uma
freqüência de voz mais alta leva o falante a aumentar o número de fechamentos
glotais por segundo, o que aumenta a variação rápida da forma da onda da pressão
de fala, a qual, por seu turno, eleva a intensidade vocal. O raciocínio inverso pode
ser aplicado aos nossos resultados, o que demonstra que uma intensidade mais
227
baixa relaciona-se a produções mais baixas de F
0
. Vemos, dessa forma, a inter-
relação entre F
0
e intensidade. Podemos relacionar estes dois aspectos ao perfil
demonstrado pelos sujeitos disléxicos durante a atividade de leitura: pouca variação
melódica, utilização de F
0
mais baixa e baixa intensidade, estando estes três fatores
intimamente relacionados.
Ainda de acordo com Behlau; Pontes (1995), do ponto de vista psicológico, a
intensidade pode permitir diversas interpretações. Uma intensidade reduzida pode
estar relacionada à falta de experiência nas relações interpessoais, timidez, medo da
reação do outro ou complexo de inferioridade. Podemos também atribuir esta baixa
de intensidade ao perfil psicológico destes sujeitos disléxicos que, desde o processo
de alfabetização, enfrentam dificuldades e percebem a evolução dos seus pares,
enquanto permanecem estagnados em um nível de aprendizado que os limita.
Plenamente conscientes de suas dificuldades, eles se percebem como menos
capazes e podem se tornar arredios ao convívio social e tímidos, pelo medo da
exposição de suas dificuldades.
No entanto, não podemos chegar a uma conclusão ou mesmo a uma única hipótese,
visto que pode estar havendo uma interação entre os fatores psicológicos e
fisiológicos ou apenas um deles pode estar causando o efeito observado. Estudos
mais precisos, sobretudo do ponto de vista fisiológico, devem ser conduzidos,
utilizando-se instrumentos adequados e observando-se também a produção
espontânea de fala destes sujeitos, buscando, assim, uma explicação mais
científica, concreta e objetiva para este evento.
228
b) Intensidade – reconto
O resultado destas medidas locais de intensidade para o reconto, ao compararmos o
GNC a cada grupo clínico, não se mostrou significativo. No entanto, ao
aproximarmos as médias dos grupos GC I e GC II e ao compararmos o GNC com o
GC como um todo, observamos um resultado que nos surpreendeu: os sujeitos
disléxicos apresentaram valores maiores do que os apresentados pelo GNC. O
mesmo fenômeno aconteceu para a intensidade da vogal pré-tônica, ao
compararmos o GNC ao GC II.
Tabela 54 – Análise estatística dos valores de intensidade das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média
(em dB)
Desvio
padrão F P
Média
(em dB)
Desvio
padrão F P
GNC/GC
38,42 / 41,87 6,72 / 6,16 2,13
0,04
38,50 / 41,60 5,16 / 4,43 2,76
0,03
GNC/GC I
38,42 / 39,87 6,72 / 3,50 0,6800 0,9842 38,50 / 40,20 5,16 / 3,57 0,3620 0,999
GNC/GC II
38,41 / 43,87 6,72 / 7,60 2,5560 0,1084 38,50 / 43,00 5,16 / 4,87 3,0800
0,030
GC I /GC II
38,87 / 43,87 3,50 / 7,60 1,4320 0,7076 40,20 / 43,00 3,57 / 4,87 1,4600 0,680
Estes resultados podem ter se apresentado como reflexo das questões psicológicas
mencionadas. Como a atividade de leitura representa um momento de tensão para
os sujeitos disléxicos, a atividade de reconto do texto lido, embora relacionada à
primeira, representa um momento de libertação daquele momento difícil de
decodificar, de acessar o léxico ortográfico, etc. Pode ter havido um pequeno
aumento da intensidade como reflexo de uma segurança um pouco maior em
relação ao discurso agora proferido, resultado de suas próprias organizações
mentais e não mais da decodificação e construção de sentido a partir de um texto
impresso.
229
c) Intensidade – leitura x reconto
Por meio dos resultados apresentados na TAB. 55, referentes à comparação entre
os valores obtidos para a leitura e o reconto em cada grupo, podemos confirmar as
constatações feitas acima.
Todos os sujeitos disléxicos (GC, GC I e GC II) apresentaram valores de intensidade
significativamente maiores para a atividade de reconto do que para a atividade de
leitura. Observe que este fenômeno não aconteceu para o GNC, que manteve
valores de intensidade similares para as duas situações.
Tabela 55 – Análise estatística dos valores de intensidade das vogais tônicas
proeminentes e pré-tônicas dos grupos tonais – leitura x reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
Grupo
Média (em dB)
Reconto / Leitura
Desvio
padrão F P
Média (em dB)
Reconto / Leitura
Desvio
padrão F P
GNC
38,74 / 37,73 6,72 / 6,76 0,7850 0,9702 38,50 / 37,48 5,16 / 5,28 0,5360 0,995
GC
41,87 / 35,43 6,16 / 10,44 4,21
0,00
41,60 / 36,21 4,43 / 5,64 5,07
0,00
GC I
39,87 / 33,59 3,50 / 8,52 2,8860
0,0451
40,20 / 34,00 3,57 / 4,04 4,1500
0,000
GC II
43,87 / 36,87 7,60/ 11,57 3,2820
0,0132
43,00 / 38,04 4,87 / 6,12 3,1300
0,000
É interessante ressaltar também que, tanto para a atividade de leitura quanto para a
de reconto, os valores de intensidade obtidos para a vogal tônica proeminente e
para a pré-tônica são equivalentes, ou seja, não houve diferença de intensidade
entre estas duas medidas locais realizadas. Isto indica um comportamento
relativamente uniforme quanto à variação de intensidade no enunciado. Estes
achados em nossa pesquisa contrariam a teoria de Crystal (1969) para o inglês,
segundo a qual as sílabas acentuadas apresentam maior intensidade do que as não-
230
acentuadas. No entanto, a pesquisa de Fernandes (1976) nos mostra que, para o
português brasileiro, a duração tem um papel mais relevante na marca acentual,
sendo identificado como principal correlato acústico do acento, e não a intensidade.
Os GRAF. 32 e 33 ilustram estes resultados. Observe que ambos são muito
parecidos e indicam claramente os maiores valores de intensidade obtidos para o
reconto nos sujeitos disléxicos (GC, GC I e GC II) e pareados para o GNC.
GNC
GC
GC I
GC II
Leitura
Reconto
0
10
20
30
40
50
dB
Intensidade - Vogal tônica proeminente
Gráfico 32 – Médias obtidas para os valores de intensidade na vogal da sílaba tônica
proeminente
231
GNC
GC
GC I
GC II
Leitura
Reconto
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
dB
Intensidade - Vogal pré-tônica
Gráfico 33 – Médias obtidas para os valores de intensidade na vogal da sílaba pré-tônica
4.6.3 Média geral de intensidade
Analisaremos, agora, a medida dos valores de intensidade considerando o
enunciado como um todo, ou seja, em seu aspecto global. Lembramos que foram
medidos todos os picos do sinal de intensidade de cada sílaba do enunciado.
Estes resultados são apresentados nas TAB. 56, 57 e 58.
A TAB. 56, que demonstra os valores da intensidade para a leitura, apresenta
resultados similares aos obtidos para a medida de aspectos locais. Obtivemos
resultados de intensidade significativamente inferiores para os disléxicos que não
foram submetidos a nenhum programa de intervenção, e ao compararmos o GC I ao
GC II.
232
Tabela 56 – Análise estatística dos valores de intensidade – leitura
Grupo
Média
(em dB)
Desvio
padrão
F P
GNC/GC
37,88 / 37,28 3,82 / 5,51 1,48 0,45
GNC/GC I
37,88 / 35,12 3,82 / 3,06 4,990
0,001
GNC/GC II
37,88 / 38,98 3,88 / 6,36 2,190 0,240
GC I /GC II
35,13 / 38,98 3,06 / 6,36 5,670
0,000
Para o reconto (TAB. 57), também encontramos resultados equivalentes aos obtidos
para os aspectos locais, ou seja, médias de intensidade significativamente maiores
para os sujeitos disléxicos.
Tabela 57 – Análise estatística dos valores de intensidade – reconto
Grupo
Média
(em dB)
Desvio
padrão F P
GNC/GC
37,75 / 42,17 4,55 / 4,50 4,81
0,00
GNC/GC I
37,75 / 41,57 4,55 / 4,83 3,210
0,020
GNC/GC II
37,75 / 42,77 4,55 / 4,24 4,210
0,001
GC I /GC II
41,57 / 42,77 4,83 / 4,24 0,765 0,999
Também, ao compararmos os resultados da leitura aos do reconto dentro de cada
grupo pesquisado, observamos que os resultados foram os mesmos obtidos para os
aspectos locais: médias de intensidade significativamente superiores para o reconto,
exceto para o GNC.
Tabela 58 – Análise estatística dos valores de intensidade – leitura x reconto
Grupo
Média (em dB)
Reconto / Leitura
Desvio
padrão
F P
GNC
37,75 / 37,88 4,55 / 3,82 0,444 0,998
GC
42,17 / 37,28 4,50 / 5,51 5,62
0,00
GC I
41,57 / 35,12 4,83 / 3,06 5,300
0,000
GC II
42,77 / 38,98 4,24 / 6,37 3,170
0,020
233
O GRAF. 34 ilustra estes resultados. É perceptível a diferença entre os níveis de
intensidade encontrados para a leitura e para o reconto, apresentando estes valores
superiores. Observe que, para o GNC, as colunas que representam estes valores
têm tamanho idêntico, ou seja, não houve diferença na intensidade para as tarefas
de leitura e de reconto.
GNC
GC
GC I
GC II
Leitura
Reconto
0
10
20
30
40
50
dB
Intensidade
Média geral do grupo tonal
Gráfico 34 – Médias obtidas para os valores de intensidade do grupo tonal
Aqui cabem as mesmas constatações feitas na seção anterior para os valores de
intensidade, uma vez que o comportamento encontrado para as medidas locais e
para a configuração geral não variou substancialmente.
234
4.7 ANÁLISE DOS ASPECTOS RELACIONADOS À COMPREENSÃO DO TEXTO
Conforme já explicado no capítulo 3, foi aplicado a todos os sujeitos um teste
objetivo, contendo questões relacionadas ao texto lido.
Por meio da análise destas questões objetivas, cujos resultados são apresentados
na TAB. 59, constatamos que os sujeitos do GNC obtiveram uma média de 5,67
acertos em um total de 6 opções corretas. Já o GC como um todo obteve um valor
médio de 3,30 acertos, significativamente menor. Também a diferença encontrada
entre as médias foi estatisticamente significativa ao compararmos os resultados do
GNC aos do GC I, cuja média de acertos foi de 2,80. Porém, ao compararmos os
dois grupos clínicos e também ao compararmos o GNC com o GC II, não obtivemos
diferença significativa entre as médias.
Tabela 59 – Número de acertos no teste objetivo de interpretação do texto
Médias (± Desvio Padrão) Teste F (valor-P)
Variável GNC GC (geral) GC I GC II GNC-GC GNC-GC I GNC-GC II GC I-GC II
N
o
de acertos
5,67
(±0,606)
3,30
(±2,31)
2,80
(±2,59)
3,80
(±2,17)
14,89
(0,00)
28,54
(0,00)
01,19
(0,29)
0,00
(1,00)
Contatamos, por meio destes números, que os sujeitos disléxicos demonstraram
dificuldades significativas de interpretação para a atividade apresentada, cujo nível
de dificuldade não foi alto. Especialmente o fato de que os sujeitos do GNC
obtiveram quase 100% de acerto para essa mesma atividade aponta para tal
resultado.
235
O GC II encontra-se em um nível intermediário entre o GNC e o GC I, já que a
diferença entre as médias encontradas não se mostrou significativa à comparação
com estes grupos. Ou seja, eles não apresentam tanta dificuldade quanto os sujeitos
não submetidos ao programa de remediação (GC I), mas também não têm facilidade
em lidar com este tipo de atividade, como os sujeitos do GNC. Estão, ao que tudo
indica, em meio a um processo de desenvolvimento deste quadro para um nível
melhor de interpretação.
O GRAF. 35 ilustra estes resultados.
Gráfico 35 – Média e desvio padrão do número de acertos no teste objetivo de interpretação do
texto
Observa-se, pelas linhas verticais, que o GNC apresenta um pequeno desvio padrão
e que os GC I e II apresentam alta variabilidade entre os valores encontrados, o que
demonstra a grande heterogeneidade dos grupos clínicos pesquisados.
7
6
5
4
3
2
1
0
GNC GC I GC II
Grupo
236
Trazendo para estes achados a teoria de Kintsch (1998) apresentada no capítulo 1
(item 1.1.3), teoria esta que aponta a importância do conhecimento e da experiência
para a representação de esquemas mentais do texto, percebemos algumas
diferenças entre os processos de compreensão dos disléxicos e dos indivíduos sem
queixas de alterações do desenvolvimento. Faremos uma breve relação desta teoria
aos achados do reconto. Ressaltamos que não é objetivo deste trabalho aprofundar
em questões relacionadas à compreensão do texto pelos disléxicos, mas sim
relacionar os achados, de forma objetiva, aos referentes à prosódia para a leitura em
voz alta.
O primeiro ponto a ser levantado é a questão do letramento. Os disléxicos, em
função de suas dificuldades conscientes em lidar com o texto impresso, evitam
situações de contato com este tipo de material, o que acarreta experiências
reduzidas de interações com materiais de leitura, ponto essencial para uma boa
compreensão, de acordo com a teoria em questão.
Por meio do reconto, observamos que os escolares do GNC souberam relatar
adequadamente o texto e fizeram, inclusive, inferências e reflexões sobre a história
lida. Por exemplo, alguns, quando solicitados a recontar o texto, ao invés de apenas
relatarem os fatos, buscando as “proposições” do “texto-base”, enfatizaram
inferências do tipo: “Que todo mundo tem que ser amigo de todo mundo” – (GNC.5),
e reflexões como a de GNC.3: “Não é porque a gente tem uma coisa assim, que a
gente não se sinta muito bem (...). A gente tem que mostrar que a gente tem outras
coisas que são melhores e que a gente pode fazer, né?”. Ou seja, os sujeitos do
237
GNC foram capazes de criar um “modelo situacional”, integrando o “texto-base” aos
seus conhecimentos de mundo, aspirações e motivações.
Já os sujeitos com dislexia apenas conseguiram responder questões factuais,
ficaram presos apenas no “texto-base”. Além disso, precisaram ser direcionados e
demonstraram algumas dificuldades para a organização das sentenças e resgate
das “proposições”. Alguns apenas construíram frases soltas, sem conexão entre si,
outros foram vagos e repetitivos. Houve também, em alguns casos, dificuldades em
evocação dos nomes dos animais envolvidos na narrativa. A seguir, apresentamos
alguns exemplos das narrativas dos escolares do GC:
GCI.2: “Aí os três as, o macaco e o... Esqueci o nome do outro amigo do tatu.”
GCII.1: “Aí chegaram o macaco e o... o macaco e o... ah, esqueci o outro
nome!”
GCII.5: “No final, tipo, é... Eles tava... Aí no final acabou que o tatu tava meio,
sei lá! Ah... é... Acabaram jogando lá.”
Interessante observar que os sujeitos do GC, quando cometiam erros de
decodificação, levando a uma pronúncia inadequada da palavra lida, não foram
capazes de adequar a palavra ao contexto, corrigindo-a para a construção do
significado. Dessa forma, ao recontar a história, eles pronunciaram a palavra da
mesma forma que a leram anteriormente. Seguem alguns exemplos:
GCI.2: “Teve um dia que, o tatu não saía, ele era encaracolado.”
GCII.2: “E o tatu ficou muito embolado na toca.”
238
GCII.5: “Num dava pra ele jogar burpinha.”
Fica nítido, a partir destas observações, que os disléxicos se restringem à
“microestrutura” dos textos, criando apenas uma compreensão local, ao nível da
sentença. A falta de contato, de experiência com material de leitura, aliada ao
empenho da memória operacional para processar aspectos locais (decodificação,
acesso ao léxico ortográfico) em detrimento de conexões mais amplas, podem ser
levantadas como causa deste quadro.
Por outro lado, os escolares do GNC se mostraram capazes de acessar tanto a
microestrutura de um texto, quanto a macroestrutura, gerando interpretações
diversas, em que os seus conhecimentos de mundo e suas experiências com
materiais diversos de leitura interagiram com o texto.
4.8 CORRELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS PESQUISADAS E A COMPREENSÃO
DO TEXTO
Para verificar os fatores relacionados ao número de acertos, usamos a regressão
logística Gompit. A partir da regressão logística, teremos o conjunto de variáveis que
explicam parte da variação do número de acertos. Para isto, são discriminadas as
variáveis significativas, com valor p de significância. A seguir, temos, na TAB. 60, os
resultados obtidos para as variáveis prosódicas temporais para o GNC.
239
Tabela 60 – Regressão logística – variáveis prosódicas temporais para o GNC
Variáveis
Z P
Duração das pausas 2,14
0,033
Taxa de elocução 1,72 0,085
Por este modelo, correlacionando todas as variáveis prosódicas temporais
estudadas aos dados relativos à compreensão para o GNC, vemos que a duração
das pausas mostrou-se significativa (p<0,05), o que indica que, quanto menor for a
duração de pausas, maior é a probabilidade de acertos. Para a taxa de elocução,
não podemos afirmar que esta variável apresenta correlação com o número de
acertos, pois o valor-p encontra-se numa região na qual não se podem tirar
conclusões definitivas (p=0,085). Veja que este valor-p encontra-se próximo do valor
crítico, indicando que esta variável, mesmo que aqui não fique completamente
explicito, pode estar associada com o número de acertos. Ou seja, ela foi quase
significativa e pode indicar que, quanto maior for a taxa de elocução, maior é a
probabilidade de acerto.
Para o GC, conforme observado na TAB. 61, temos que a taxa de elocução e a
duração de pausas mostraram-se significativas (p<0,05), o que indica que, quanto
menor for a duração das pausas e maior for a taxa de elocução, maior é a
probabilidade de acerto. Somente para o GC, a variável número de sílabas mostrou-
se como quase significativa.
Tabela 61 – Regressão logística – variáveis prosódicas temporais para o GC
Variáveis
Z P
Duração das pausas 3,39
0,001
Taxa de elocução 2,93
0,003
Número de sílabas 1,73 0,083
240
Veja que os dois grupos mostraram-se muito parecidos quanto a variáveis
significativas, porém o grupo experimental apresentou uma evidência de que o
número de sílabas poderia estar ligado ao número de acertos. Isso indicaria que
essa variável poderia, de alguma forma, estar ligada a esse grupo.
Dentre todas as variáveis prosódicas temporais analisadas, a duração das pausas
em ambos os grupos e a taxa de elocução no GC parecem ser as mais significativas,
pois possuem menor valor de p. Estes achados estão de acordo com os de Breznitz
(1990), segundo a qual uma prosódia apropriada na leitura, que é medida pelas
pausas e vocalizações na leitura oral, aumenta a compreensão do material lido.
Este resultado nos leva à seguinte hipótese: se as pausas e a taxa de elocução são
fatores indicativos de uma melhor compreensão, a habilidade de decodificação pode
estar presente em tal relação como fator causal desse processo, e não as
habilidades prosódicas temporais em si. Estas representam mais o processo, os
meios, do que os fins ou a base do sistema de compreensão. Isto porque se um
indivíduo apresenta pausas mais longas e uma taxa de elocução mais lenta, é bem
provável que isto se deva a uma dificuldade em decodificar o material que está
sendo lido. E se ele está detido nesta tarefa de decodificação, “ocupando” sua
memória operacional com os segmentos da estrutura textual, ele não consegue
abranger a totalidade do texto, assimilando conceitos mais amplos.
A tomar como base os resultados no teste objetivo de compreensão dos sujeitos do
GC II, temos mais um indício de que esta hipótese seja válida. Estes sujeitos foram
submetidos a um programa de remediação das habilidades de consciência
241
fonológica, cujo objetivo final foi formar uma melhor habilidade de correspondência
grafema-fonema, base para o processo de decodificação. Estes sujeitos
apresentaram melhores níveis de compreensão do que os sujeitos do GC I. Embora
não tenham alcançado os seus pares do GNC, eles demonstraram estar em
processo de adequação dessas habilidades. O que se pode levantar, neste caso, é
que talvez o número de sessões destinadas ao desenvolvimento destas habilidades
não tenha sido suficiente. Ou as estratégias não tenham sido adequadas. Ou, ainda,
faltou investir especificamente no desenvolvimento dessas habilidades prosódicas
temporais, o que poderia levar a uma melhor adequação do quadro destes sujeitos,
uma vez que elas se mostraram correlacionadas à compreensão.
Quanto às demais habilidades prosódicas, não foram encontradas correlações
confiáveis pela regressão logística, o que indica a necessidade de um grupo
amostral mais amplo para revelar com maior segurança esta correlação.
No entanto, assumimos as proposições de Breznitz (2006); Schwanenflugel et al.
(2004) e Kuhn; Stahl (2003), que concebem a prosódia na leitura não como um fator
determinante da fluência na decodificação de palavras, mas sim como uma medida
diagnóstica para esta qualidade de decodificação e compreensão. Percebemos,
dessa forma, que a entonação, conforme hipótese levantada no capítulo 2, interage
com o texto, do ponto de vista do leitor, como um elemento conseqüente de uma
boa compreensão. Enfatizamos, também, que estudos direcionados a questões
sintáticas e representações profundas da estrutura da língua deverão ser
direcionados, a fim de elucidar melhor esta questão.
242
Da mesma forma, estudos da prosódia implícita em leitura silenciosa também
forneceriam dados extremamente importantes e esclarecedores sobre o papel da
entonação na leitura.
Existem também outras questões que deverão ser levantadas em próximos estudos,
fechando melhor esta correlação entonação – compreensão de textos, como, fatores
psicológicos, culturais, ambientais e pedagógicos que poderiam interferir no
processo de construção da habilidade de leitura dos sujeitos pesquisados, e que não
puderam ser totalmente controlados nesta pesquisa.
Uma outra análise que esclareceria muitas questões sobre dislexia é a gradiência
entre a leitura do disléxico, a do “mau leitor” não-disléxico, até se chegar à leitura do
leitor proficiente. Assim, questões, como especificamente quais particularidades
distinguem estes três grupos, nos forneceriam um melhor conhecimento do quadro
clínico da dislexia, permitindo-nos afirmar, com mais segurança, quais são as
características peculiares deste quadro patológico.
243
CAPÍTULO 5
CONCLUSÃO
244
Sem a pretensão de contemplar todas as variáveis possivelmente envolvidas, esta
pesquisa revelou aspectos da organização prosódica da leitura das crianças com
dislexia, permitindo delinear uma tendência na estruturação entonativa e temporal da
leitura em voz alta desses indivíduos.
O presente estudo está longe de esgotar o assunto e, conforme delineado ao final
do capítulo 4, mais estudos em áreas afins precisam ser desenvolvidos para se
elucidar a questão da dislexia, as características da leitura desses sujeitos e seus
atributos prosódicos. Entretanto, acreditamos que este trabalho fornece dados
importantes para um melhor conhecimento de um assunto até então muito pouco
explorado: a relação entre prosódia e leitura em indivíduos com dislexia.
A investigação a que nos propusemos no presente trabalho enfocou aspectos
prosódicos do ponto de vista fonético, por meio de análise acústica instrumental para
se chegar às constatações apresentadas. Ressaltamos que existem outras formas
possíveis de se proceder à análise prosódica da leitura, não contempladas neste
trabalho, como análises perceptivas do ponto de vista do locutor e do alocutário,
análises fisiológicas, análises fonológicas, dentre outras. Estudos nestas áreas
complementariam nossas análises, podendo trazer à luz questões que tenham
ficado pouco delimitadas neste trabalho.
Feitas essas observações, as nossas constatações gerais sobre o perfil prosódico
da leitura de indivíduos disléxicos serão apresentadas a seguir, seguindo o percurso
de nossa proposta investigativa.
245
É importante salientar a heterogeneidade observada nos resultados dos sujeitos
disléxicos, sobretudo, no grupo não remediado (GC I), o que é evidenciado por
valores altos de desvio-padrão. Estes resultados heterogêneos, aliado ao fato de o
grupo amostral ter sido relativamente pequeno, não nos permitiram realizar grandes
generalizações acerca do perfil dos sujeitos disléxicos. Esta é uma questão
relevante, pois os casos de dislexia não chegam com freqüência aos ambulatórios
para diagnóstico em idade precoce. Muitos vão tentando se adaptar ao problema de
maneiras diferentes, buscando, muitas vezes, recursos e estratégias próprias. E os
casos suspeitos que chegam aos ambulatórios, muitas vezes, não são confirmados
como dislexia, sendo confundidos com outras alterações da linguagem escrita. Um
outro fator dificultador de se obter amostras grandes é a falta de equipes
interdisciplinares adequadamente preparadas para a realização confiável do
diagnóstico dessa condição.
As nossas primeiras constatações sobre a prosódia na leitura do grupo de disléxicos
pesquisados – feita a partir de análise fonológica e preliminar ao procedimento de
análise acústica – nos permitiram identificar a falta de regularidade rítmica presente
na leitura destes sujeitos. A dificuldade de delimitação dos grupos tonais, da
marcação dos pés e da proeminência tônica revelou problemas na organização
fonológica entonativa pelos disléxicos. Este quadro, conforme foi possível confirmar
com as análises acústicas, apresenta-se intimamente relacionado às dificuldades em
organização prosódica temporal do discurso lido. Os problemas na marcação da
proeminência tônica são reflexos das irregularidades encontradas na duração do
segmento pré-tônico, que se apresentaram, para os disléxicos, com duração
equivalente ao segmento tônico, o que evidencia a dificuldade de marcação do
246
elemento tônico frasal. Esta dificuldade pode estar relacionada à percepção da
alternância rítmica entre segmentos tônicos e átonos no transcorrer da leitura. É
importante ressaltar que se trata de um perfil da leitura destes indivíduos, não tendo
sido encontradas alterações deste tipo na produção do relato oral do texto lido. Ou
seja, para o processamento da linguagem oral, esta percepção está bem resolvida.
As características dos aspectos prosódicos temporais nos pareceram, em grande
parte dos achados, diretamente relacionadas às dificuldades de decodificação do
texto. Os valores elevados de tempo de articulação, número e duração das pausas
(que estiveram presentes em locais fora do esperado para a sua ocorrência, como
dentro de palavras) e os valores baixos de taxa de elocução nos remetem a esta
relação. No entanto, os valores inferiores de taxa de articulação encontrados para os
disléxicos em suas leituras nos levam à constatação de que existe uma lentidão no
gesto articulatório para a produção da leitura, o que não pode ser diretamente
atribuído às dificuldades de decodificação, mas sim é conseqüência de todo o
processo de dificuldades com este processamento em diversos níveis. Esta
constatação pode ser confirmada pelos achados para o reconto, os quais se
mostraram semelhantes entre os grupos pesquisados, exceto pelo fato de que nos
chamou a atenção, a menor taxa de articulação obtida pelos sujeitos do GC I, o que
também uma lentidão no gesto articulatório para o reconto. Este achado pode estar
relacionado às dificuldades de interpretação do texto, o que reflete em uma
articulação mais lenta enquanto tais sujeitos tentam buscar informações na memória
operacional. Mas, para que se possa chegar a conclusões definitivas, dever-se-ia
investigar a fala espontânea dos sujeitos disléxicos, a fim de se excluir a
247
possibilidade de ser esta característica de lentidão do gesto articulatório uma
peculiaridade da fala de indivíduos com este quadro patológico.
As características prosódicas de variação da curva de F
0
e intensidade mostraram-
se intimamente relacionadas. Os valores mais baixos de intensidade encontrados
para os disléxicos interagem com os valores mais baixos de F
0
também obtidos para
este grupo na atividade de leitura. Estes achados podem estar relacionados não
somente à psicodinâmica vocal, mas também a fatores fisiológicos que devem ser
investigados. Mais uma vez, sugerimos aqui que seja conduzida uma pesquisa
destes parâmetros na fala espontânea dos sujeitos disléxicos, com atenção especial
a questões fisiológicas, para que se possa chegar a conclusões mais precisas.
Aliadas a esta restrição, foram observadas dificuldades em se marcar
entonativamente a modalidade da sentença lida, além de uma restrição também na
habilidade de variação melódica, refletida pelos resultados inferiores de tessitura e
amplitude melódica na tônica proeminente. Foi observado ainda, em consonância
com estes achados, um menor dinamismo na mudança do movimento melódico
pelos disléxicos. Estes resultados podem, conforme levantado no capítulo anterior,
estar relacionados às dificuldades em decodificação para a leitura. Mas não
podemos generalizar este achado, uma vez que há ainda a possibilidade de se
atribuir esta característica ao próprio quadro patológico da dislexia, pois, também
para o reconto, uma restrição em algumas variáveis para a variação melódica foram
observadas. Insistimos, portanto, na necessidade de avaliação dessas variáveis na
produção espontânea de fala para tais constatações.
248
Ao correlacionarmos os achados deste estudo aos dados obtidos para a atividade
objetiva de compreensão do texto, encontramos maior facilidade em se estabelecer
esta correlação para as variáveis prosódicas temporais, o que indica que uma menor
duração das pausas e uma maior taxa de elocução estariam relacionadas a
melhores níveis de interpretação do texto. Os estudos das demais variáveis
prosódicas apresentaram resultados pouco conclusivos, o que sugere a necessidade
de um número amostral maior para constatações mais seguras. No entanto, não
podemos deixar de enfatizar a nossa hipótese da existência desta correlação, haja
vista que, perceptivamente, os sujeitos mais expressivos melodicamente foram os
que melhor se saíram nas atividades de reconto e interpretação objetiva do texto.
Embora possa ser claramente inferida dos resultados apresentados a relação
existente entre prosódia na leitura e compreensão do texto, não podemos, com
segurança, nos posicionar em relação à direção deste relacionamento. A entonação
pode ser percebida como uma via de facilitação ao acesso do significado para a
leitura, mas também podemos contemplar um relacionamento entre a habilidade de
interpretação da leitura e o desempenho em prosódia na direção oposta. Esta é,
inclusive, a hipótese levantada neste estudo: a prosódia apresenta-se como um
reflexo das habilidades de interpretação e também de decodificação, servindo como
uma medida diagnóstica destas capacidades.
Nossos resultados, mesmo que pouco conclusivos por eles mesmos, apontam para
algumas características peculiares que são claramente associadas a um perfil que
pode ser atribuído aos sujeitos disléxicos pesquisados, como: aspectos relacionados
à variação da freqüência fundamental (tais sujeitos demonstram visivelmente uma
249
restrição na habilidade de variar a melodia e também de marcar a modalidade frasal
através deste recurso), aspectos relacionados ao processamento temporal
(utilização excessiva das pausas e fora da sua localização habitual; velocidade de
leitura e articulação reduzidas) e as dificuldades na marcação rítmica e da tônica
proeminente.
Um outro alcance deste estudo foi obtido em relação aos resultados do programa de
remediação das habilidades de consciência fonológica direcionado ao GC II,
conforme descrito em Salgado (2005). A autora relata, após as 20 sessões de
desenvolvimento das habilidades metacognitivas, uma melhora no nível e velocidade
de leitura, além de melhores habilidades de consciência fonológica em si, o que
resultou em uma melhor decodificação. No entanto, nossas medidas objetivas dos
aspectos prosódicos temporais não evidenciaram este comportamento de melhora
na velocidade de leitura. Para todas as variáveis prosódicas temporais medidas, os
resultados não se apresentaram significativamente melhores aos obtidos pelo GC I.
Este achado ressalta a importância de se efetuar medidas mais precisas para a
avaliação da taxa de elocução, e também verificar a taxa de articulação,
procedimentos não utilizados na prática clínica convencional de avaliação destes
sujeitos. Contudo, para os demais aspectos prosódicos pesquisados, como variação
melódica e intensidade, os sujeitos do GC II apresentaram um comportamento
intermediário entre as habilidades do GNC e as do GC I, demonstrando estarem em
processo de evolução das habilidades prosódicas. Percebe-se assim, como já
levantado no capítulo anterior, que melhoras nas habilidades de consciência
fonológica exercem, mesmo que indiretamente, efeitos positivos na habilidade
entonativa para a leitura. Embora não seja objetivo deste estudo entrar em questões
250
clínicas, sejam elas avaliativas ou terapêuticas, não podemos deixar de apresentar,
como sugestão, o desenvolvimento de programas terapêuticos com as habilidades
prosódicas ao longo do processo de remediação fonológica, como elemento
importante na finalização deste procedimento clínico. Diante da proposta
metodológica aqui adotada, por se tratar de um trabalho descritivo, não nos cabe
aprofundar em tais constatações; apontamos, portanto, para futuras e necessárias
pesquisas para fonoaudiólogos, psicólogos e demais profissionais que tenham
interesse clínico nesta área, caminho fértil para investigações.
Concluímos que nossos estudos conseguiram alcançar as perspectivas de nossas
hipóteses, sobretudo, a de que as dificuldades de processamento do texto escrito
presentes nas crianças com dislexia poderiam dificultar a organização prosódica na
leitura de um texto. Não podemos deixar, no entanto, de apontar a necessidade de
se prosseguir na busca de uma melhor compreensão da leitura dos disléxicos,
abordando as lacunas deixadas por este estudo, em investigações complementares.
251
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TALLAL, P. Auditory temporal perception, phonics, and reading disabilities in
children. Brain Lang, v. 9, p. 182-198, 1980.
TALLAL, P. The science of literacy: from the laboratory to the classroom. Proc Natl
Acad Sci USA, v. 97, p. 2402-2404, 2000.
TALLAL, P.; MILLER, S; FITCH, R. Neurobiological basis of speech: a case for the
preeminence of temporal processing. Ann NY Acad Sci, v. 682, p. 27-47, 1993.
269
TEMPLE, C. M.; MARSHALL, J. C. A case study of developmental phonological
dyslexia. British Journal of Psychology, 74, p. 517-533, 1983.
THOMPSON; GIEDD; WOODS; MACDONALD; EVANS; TOGA. Growth patterns in
the developing brain detected by using continuum mechanical tensor maps. Nature,
v. 204, p. 190-193, 2000.
VELLUTINO, F. R. Dyslexia: theory and research. Cambridge: MIT Press, 1979.
WECHSLER, D. Escala de inteligência para crianças (WISC III). São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2002.
WHITE, S. Listening to children read aloud: oral fluency. NAEPFacts. National Center
of Education Statistics, U.S. Department of Education, 1995.
WICHMANN, A. Intonation in text and discourse: beginnings, middles and ends.
London: Longman, 2000.
WIMMER, H.; HUMMER, P. How German-speaking first graders read and spell:
doubts on the importance of the logographic stage. Applied Psycholinguistics, II, p.
349-368, 1990.
YACOVENCO, L. C. O fenômeno prosódico da pausa e a organização temporal do
discurso. 2000. Tese (Doutorado em Língua Portuguesa) – Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000.
YAVAS, M. S.; HERNANDORENA, C. L. M.; LAMPRECHT. R. R. Avaliação
fonológica da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
270
ANEXOS
271
ANEXO A – DEFINIÇÃO OPERACIONAL DOS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO
DE LEITORES EM CATEGORIAS PELOS PROFESSORES
1. Lê bemdevem ser incluídos, nesta categoria, somente aqueles alunos que
exibam os seguintes comportamentos de leitura, de acordo com a situação
explicitada:
Situação de Leitura Oral
Critério Sim Não
01 Lê rapidamente as palavras “conhecidas”
02 Lê rapidamente as palavras “conhecidas” e as palavras “pouco
conhecidas”
03 Lê rapidamente as palavras “novas” e as palavras inventadas
04 Lê palavras corretamente
05 Lê com ritmo, nem tão devagar, nem tão rápido
06 Lê com entonação compatível com a pontuação, expressando
emoções e sentimentos de acordo com o texto lido, por exemplo:
dá entonação de questionamento, em toda a sentença, quando há
sinal de interrogação no texto; dá entonação de alegria ou de
surpresa, em toda a sentença, quando há sinal de exclamação
07 Demonstra ter entendido o que leu quando indagado sobre o texto
lido
Situação de Leitura Silenciosa
Critério Sim
Não
01 É capaz de identificar personagens, lugares e idéias principais do
texto, após a primeira leitura
02 É capaz de identificar o assunto a partir do título e vice-versa
03
É
capaz de escolher um título para passagens apresentadas sem
título ou mesmo um título alternativo para passagens com título
04 É capaz de resumir oralmente texto lido
Nome do Aluno (a):
Série: Escola:
Nome da Professora:
Local: Data:
272
2.razoavelmentedevem ser incluídos, nesta categoria, somente aqueles
alunos que exibam os seguintes comportamentos de leitura, de acordo com a
situação explicitada:
Situação de Leitura Oral
Critério Sim Não
01 Demora iniciar a leitura quando encontra palavras “novas”,
necessitando soletrá-las
02 Com alguma freqüência, comete erros ao ler palavras “novas”
03 Lê muito devagar ou muito depressa
04 Coloca a entonação do sinal de interrogação e/ ou o de exclamação
somente na palavra que precede o sinal de pontuação
05 Às vezes, lê e não sabe contar o que leu
Situação de Leitura Silenciosa
Critério Sim Não
01 Identifica personagens, lugares, mas tem alguma dificuldade para
identificar idéias principais sem uma segunda leitura
02 Nem sempre é capaz de identificar o assunto a partir do título e
vice-versa
03 Apresenta uma certa dificuldade em resumir oralmente o que leu
Nome do Aluno (a): Série: Escola:
Nome da Professora:
Local: Data:
3. Lê maldevem ser incluídos, nesta categoria, somente aqueles alunos que
exibam os seguintes comportamentos de leitura, de acordo com a situação
explicitada:
Situação de Leitura Oral
Critério Sim Não
01 Diz “não sei” quando encontra palavra nova;
02 Lê soletrando tanto as palavras “novas” quanto as palavras
“conhecidas”
03 Freqüentemente, comete erros ao ler palavras “novas”
04 Lê muito devagar, sem ritmo, soletrando cada sílaba, não observa
a pontuação
05 Não observa a entonação compatível com os sinais de pontuação,
fazendo uma leitura monocórdica, ou seja, num só tom
06 Lê, mas não sabe contar o que leu, nem estimulado com questões
Situação de Leitura Silenciosa
Critério Sim Não
01 Não identifica personagens, lugares ou idéias principais expressos
no texto
02 Não identifica o assunto a partir do título, nem vice-versa
03 Não é capaz de resumir o que leu, seja oralmente ou por escrito
Nome do Aluno (a): Série: Escola:
Nome da Professora:
Local: Data:
274
ANEXO B – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA FCM –
UNICAMP
275
276
ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS
SUJEITOS DISLÉXICOS
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 1996 – CNS 196/96)
Prezados Pais,
Estou solicitando dos senhores a autorização para a realização de gravação
da leitura e da fala de seu filho. O objetivo desta gravação é analisar a melodia e
outras características lingüísticas da fala de crianças que apresentam dislexia.
Independente dos resultados obtidos desta análise, fica assegurada a continuidade
do tratamento fonoaudiológico do seu filho no Ambulatório de Neurodificuldade de
Aprendizagem do Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da
UNICAMP.
Esta pesquisa visa contribuir para um maior conhecimento dos mecanismos
lingüísticos utilizados pela criança que apresenta o quadro de dislexia, para
podermos ajudá-la mais facilmente, principalmente em suas tarefas de leitura.
Fica assegurado à criança deixar o processo de gravação em qualquer fase,
sem prejuízo de seu atendimento no serviço, assim como a não identificação da
mesma por nome.
Esclarecemos que, no processo de gravação, não será utilizado nenhum
procedimento que prejudique a saúde física ou mental da criança.
Certa de poder contar com a sua autorização, coloco-me à disposição para
dúvidas e esclarecimentos, através do telefone: (31) 9993-2011. Telefone do Comitê
de Ética em Pesquisa: (19) 3788-8936.
Fonoaudióloga Luciana Mendonça Alves
Doutoranda em Lingüística – UFMG
Autorizado, data ____/____/____
_________________________________
Assinatura do responsável
___________________________ ________________________
Nome do responsável Nome da criança
277
ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS
SUJEITOS DO GRUPO NÃO-CLÍNICO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 1996 – CNS 196/96)
Prezados Pais,
Estou solicitando dos senhores a autorização para a realização de gravação
da leitura e da fala de seu filho. O objetivo desta gravação é analisar a melodia e
outras características lingüísticas da fala de crianças que sejam bons leitores, para
que possamos compará-la à fala de crianças que apresentam dislexia (distúrbio
específico de leitura).
Esta pesquisa visa contribuir para um maior conhecimento dos mecanismos
lingüísticos utilizados pela criança que apresenta o quadro de dislexia, para
podermos ajudá-la mais facilmente, principalmente em suas tarefas de leitura.
Esclarecemos que, no processo de gravação, não será utilizado nenhum
procedimento que prejudique a saúde física ou mental da criança.
Certa de poder contar com a sua autorização, coloco-me à disposição para
dúvidas e esclarecimentos, através do telefone: (31) 9993-2011. Telefone do Comitê
de Ética em Pesquisa: (19) 3788-8936.
Fonoaudióloga Luciana Mendonça Alves
Doutoranda em Lingüística – UFMG
Autorizado, data ____/____/____
_________________________________
Assinatura do responsável
___________________________ ________________________
Nome do responsável Nome da criança
278
ANEXO E – TEXTO PARA LEITURA EM VOZ ALTA
O TATU ENCABULADO
Vocês conhecem a história do tatu?
Era uma vez um tatu que morava numa toca.
Ele era muito encabulado e ficava escondido na toca.
O sapo e o macaco, que moravam perto, resolveram convidar o tatu,
porque queriam ser amigos.
– Tatu, porque você não vem brincar com a gente? O dia está lindo! Nós
vamos brincar de bolinha de gude. Você quer?
– Ah! Mas os meus dedos são muito pequenos – disse o tatu.
– Não faz mal! Você também pode jogar com o rabo.
E lá foram os três jogar bolinha de gude. Assim o tatu saiu da toca e
ficaram amigos.
279
ANEXO F – ATIVIDADE OBJETIVA DE INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
COMPREENSÃO DE LEITURA
Nome: ______________________________________________________________
Idade: ________________ Série: ____________________ Data: ____/____/____
Nome do aplicador: _________________ Local: ____________________________
Coloque um X no parêntesis quando a frase estiver de acordo com
o texto lido:
01. ( ) O tatu era muito exibido.
02. ( ) O tatu era muito envergonhado.
03. ( ) O tatu morava numa casa com muita gente.
04. ( ) O tatu morava sozinho num buraco.
05. ( ) O macaco e o sapo quiseram brincar com o tatu.
06. ( ) Só o sapo quis brincar com o tatu.
07. ( ) O jogo escolhido foi com bolinha de gude.
08. ( ) O macaco e o sapo não sabiam jogar com bolinha de gude.
09. ( ) O tatu disse que podia jogar com os dedos.
10. ( ) O tatu achava que seus dedos eram muito pequenos.
11. ( ) O sapo, o macaco e o tatu ficaram amigos.
280
ANEXO G – VALORES ABSOLUTOS DA OCORRÊNCIA PARA CADA DIREÇÃO
DA CURVA DE F
0
ENCONTRADA NA VOGAL TÔNICA
PROEMINENTE E PRÉ-TÔNICA – NOS ENUNCIADOS
DECLARATIVOS DA LEITURA
Leitura
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
GNC GC I GC II Total GNC GC I GC II Total
Ascendente
60 18 7 85 139 19 17 175
Ascendente-
Descendente
21 2 2 25 35 0 1 36
Ascendente-
Descendente-
Ascendente
0 0 0 0
0
0
0
0
Descendente
184 25 24 33 85 14 9 108
Descendente-
Ascendente
23 6 5 34 3 4 3 10
Descendente-
Ascendente-
Descendente
1 0 0 1 0 1 0 1
Nivelada
11 13 5 29 36 22 12 70
Total
300 64 43 407 298 60 42 400
281
ANEXO H – VALORES ABSOLUTOS DA OCORRÊNCIA PARA CADA DIREÇÃO
DA CURVA DE F
0
ENCONTRADA NA VOGAL TÔNICA
PROEMINENTE E PRÉ-TÔNICA – NOS ENUNCIADOS
INTERROGATIVOS DA LEITURA
Leitura
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
GNC GC I GC II Total GNC GC I GC II Total
Ascendente
22 5 8 35 9 4 4 17
Ascendente-
Descendente
35 0 0 35 4 0 1 5
Ascendente-
Descendente-
Ascendente
2 0 0 2
Descendente
28 6 2 36 62 4 2 68
Descendente-
Ascendente
4 2 3 9 0 0 0 0
Descendente-
Ascendente-
Descendente
1 0 0 1 0 0 0 0
Nivelada
1 1 2 1 16 5 6 27
Total
93 14 15 93 91 13 13 117
282
ANEXO I – VALORES ABSOLUTOS DA OCORRÊNCIA PARA CADA DIREÇÃO
DA CURVA DE F
0
ENCONTRADA NA VOGAL TÔNICA
PROEMINENTE E PRÉ-TÔNICA – NOS ENUNCIADOS
EXCLAMATIVOS DA LEITURA
Leitura
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
GNC GC I GC II Total GNC GC I GC II Total
Ascendente
10 2 3 15 15 4 6 25
Ascendente-
Descendente
19 0 2 21 2 0 0 2
Ascendente-
Descendente-
Ascendente
0 0 0 0
0
0
0
0
Descendente
27 4 4 35 25 4 1 30
Descendente-
Ascendente
3 0 0 3 5 0 1 6
Descendente-
Ascendente-
Descendente
1 0 0 1 0 0 0 0
Nivelada
2 3 1 6 14 1 2 17
Total
62 9 10 81 61 9 10 80
283
ANEXO J – VALORES ABSOLUTOS DA OCORRÊNCIA PARA CADA DIREÇÃO
DA CURVA DE F
0
ENCONTRADA NA VOGAL TÔNICA
PROEMINENTE E PRÉ-TÔNICA – RECONTO
Reconto
Vogal tônica proeminente Vogal pré-tônica
GNC GC I GC II Total GNC GC I GC II Total
Ascendente
21
6
7
34
20
5
2
27
Ascendente-
Descendente
9
4
2
15
1
0
0
1
Descendente
49
3
4
56
20
5
5
30
Descendente-
Ascendente
6
1
0
7
0
0
0
0
Nivelada
6
1
2
9
48
5
8
61
Total
91
15
15
121
89
15
15
119
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