108
DISCÍPULOS: Explícanoslo.
PAFNUCIO: Atended.
DISCÍPULOS: Con el entendimiento bien dispuesto!
PAFNUCIO: En verdad os digo que, así como el Macrocosmos fue
edificado a partir de cuatro elementos contrarios, pero que fueron
combinándose, a los mandatos del Creador, siguiendo unas
proporciones armónicas, así tambiém el ser humano fue el resultado
de un ensamblaje, no ya sólo de esos mismos elementos, sino incluso
de partes aún más contrarias entre sí.[...] (ROSVITA, 2003, p.92)
Este tema, a nosso ver, é tratado por Rosvita porque ela precisa mostrar
a fragilidade do ser humano diante das coisas materiais. Sua dignidade torna-se
manchada quando ele incorre no vício e na miséria moral. É o que ocorreu com Taíde,
que vivia como meretriz, entregue à luxuria e à ambição. Pafnucio se aproxima dela
para que se arrependa do pecado e aceite o Deus verdadeiro. Este personagem,
assim como Abraão, finge ser um dos seus amantes e exige satisfação de seus atos.
Ele escuta suas razões e pede para ela trocar de vida. Convencida por seus
argumentos, Taíde dedica-se a uma penitência severa, buscando a perfeição
espiritual. Neste momento da peça, ela elucida a existência de dois mundos, o mundo
invisível criado por Deus, ordenado e perfeito, e o mundo terreno no qual atuam a
desordem e o conflito. Ela faz uma reflexão sobre o universo no qual vivemos,
afirmando que ambos constituem um só mundo, apesar das diferenças que cada um
possui em sua substância e em sua natureza
20
.
Nesta mesma obra, existe uma passagem muita ilustrativa e importante
para a época. Como Rosvita está preocupada em ensinar uma das disciplinas do
quadrivium, faz, por meio de Pafnucio, uma admirável explicação, comparando as
proporções harmônicas da natureza com a música:
PAFNUCIO: Poquísimo sabría deciros de ella, porque es una
desconecida de los ermitaños.
DISCÍPULOS: De qué se ocupa?
PAFNUCIO: La música?
20
Nesse mesmo sentido, Morin, autor de nossa época, interroga nossa condição humana e a nossa
posição no mundo e afirma que: “Somos originários do cosmos, da natureza, da vida, mas devido a própria
humanidade, à nossa cultura, à nossa mente, à nossa consciência, tornamo-nos estranhos a este cosmos, que nos
parece secretamente íntimo. Nosso pensamento e nossa consciência fazem-nos conhecer o mundo físico e
distanciam-nos dele. O próprio fato de considerar racional e cientificamente o universo separa-nos dele.
Desenvolvemo-nos além do mundo físico e vivo. É neste “além” que tem lugar a plenitude da humanidade” (
MORIN, 2002, p.51). Como Rosvita, ele aponta que no homem estão refletidas todas as coisas do universo, as
materiais e as espirituais. Porém a valorização das coisas materiais muitas vezes provoca grandes transtornos,
causando a degradação da natureza humana e esta ação negativa causa o desmembramento do ser humano, que
passa a ser visto como um ser fragmentado, fora do cosmo. Isso acontece quando compartimentamos os saberes.
Assim, o objetivo principal da educação é promover um conhecimento do todo dentro de uma concepção global.