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A fase mais regressiva do processo de adoção tardia é a fantasia de
reinclusão no corpo materno. O fantasma intra-uterino leva a criança a
buscar, através de um contato corporal pele a pele, boca a boca, a
realização do desejo de se reintroduzir no corpo matemo, de voltar a viver
na barriga da mãe − no caso de habitar pela primeira vez. O relato de
algumas mães cujos filhos recém adotados verbalizaram querer "morar na
sua barriga", "ter nascido da sua barriga", “entrar na sua barriga para sair de
novo”, é um exemplo dessa fase. Também existe uma conduta destas
crianças utilizarem uma linguagem verbal regredida, bem como outros
comportamentos como a enurese noturna (VARGAS, 1998: 37).
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A segunda fase, denominada de o fantasma de pele comum, pode ser traduzida
como uma busca da criança com a identificação física com os pais adotivos.
Aparece em afirmativas como "mamãe, eu sou como você”, ou, "sou igual a você". É
a partir da manifestação dessa fase que a criança passa a se identificar
psicossocialmente com a mãe. Passa também, a apresentar idéias de apropriação
do mundo, sentimento onipotente de invulnerabilidade, de heroísmos. Estes últimos
são manifestações com o fim de alcançar uma imagem positiva de si e
suficientemente valorizada no ambiente onde possa conviver (VARGAS, 1998: 38).
É comum a manifestação exagerada de afeto e carinho, aos olhos dos adotantes,
uma conduta que os assusta. A criança sente uma enorme necessidade de ser
aceita, de se sentir amada. Pergunta constantemente, se está bonita, desejando
assemelhar-se à mãe ou ao pai adotivo.
Na terceira fase, aparece um distanciamento, chamada de retaliação da
pele comum. Acabou a fase da lua de mel. Nesta fase, a criança, manifesta
agressividade, e pode reagir, tomada de cólera, a algum tipo de controle
dos pais adotivos com afirmativas do tipo "vocês não são meus pais", "não
nasci de vocês”. A perda do objeto de vinculação-identificação com a
primeira figura materna pode levar à desestruturação do mundo interno da
criança, que passa a necessitar de introjetar novos objetos de identificação.
O movimento de introjeção pode levar ao luto pela mãe biológica sobretudo
a mãe internalizada. Tal reconhecimento que pode ser acompanhado, como
defesa, da projeção maciça dos objetos internos maus, pode acarretar uma
profunda angústia na criança. As fantasias persecutórias da criança adotiva,
são geralmente, incrementadas pelos fantasmas, quase sempre maus da
família biológica (má) pode ser confundida com a figura da mãe adotiva e
resultar em ataques a esta, que precisará de esclarecimentos e de preparo
para resistir aos mesmos (VARGAS, 1998: 38).
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Vargas, 1998, refere ainda, que o temor de outro abandono concorre também para o
desencadeamento de atitudes hostis para com os pais adotivos, numa tentativa de
proteger-se de mais uma frustração. Isso pode ser observado não só nessa fase,
15
VARGAS, M.M. Adoção Tardia: da família sonhada à família possível. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1998. p.37.
16
Ibid., p.38.