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sócio
-histórico e cultural da infância
24
. Tais conceitos têm sua natureza singular abrigando uma
carga de valores, significados, opções de vida presentes no decurso de cada época e sociedade.
O desdobramento de tais aspectos conduziu as disciplinas de Ciências Sociais a um
rearranjo no interior dos campos de estudo. Segundo Sarmento e Pinto (1997, p. 14), muito da
diversidade de olhares acerca da infância se deve a ‘disputas’ entre as linhas teóricas dentro das
disciplinas. As motivações também se materializaram em inúmeros encontros, colóquios,
seminários, grupos e centros de pesquisa, intensificados a partir dos anos 90, envolvendo
sociólogos da infância, antropólogos, historiadores da educação, pedagogos e psi
cólogos
25
. Além
disso, nesse processo foram - e estão sendo - criadas revistas especializadas, programas, grupos e
centros de pesquisa revelando um alargamento
26
de suas fronteiras epistemológicas o que
confere, em grande medida, uma sensibilização e um esta
tuto teórico
-
metodológico ao tema.
Esta síntese deixa na sombra certo número de trabalhos o que a faz ser limitada também
pelo pouco aprofundamento que recebe. Além disso, pode-
se até considerar talvez que as idéias e
24
Fernandes (2004). Ressaltamos o estudo de Pereira (1997). A autora faz uma retrospectiva da ‘A
ntropologia da
Infância’ a partir da análise dos trabalhos de Margaret Mead, Mary Goodmann e Charlotte Hardman retratando o
modo como o adulto percebe e vê a criança. Além disso, mostra a ausência da criança na pesquisa antropológica.
Instigante também é a
coletânea de artigos organizada por Castro (2001b). Nela, três cidades brasileiras: Rio de
Janeiro, Fortaleza e São José dos Campos foram o cenário de um estudo junto a crianças e jovens nos seus modos de
compreenderem as diferenças e desigualdades sociai
s.
25
Citamos alguns núcleos interinstitucionais e/ou interdisciplinares que desenvolvem e aprofundam o conhecimento
das várias situações nas quais a infância se constrói. O (NUCEPEC) Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a
Criança da Universidade F
ederal do Ceará; o (NESCIA) Núcleo de Estudos Socioculturais da Infância e
Adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; o (NIPIAC) Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e
Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas da Universida
de Federal do Rio de Janeiro; o (NEIA)
Núcleo de Estudos sobre a Infância e a Adolescência da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Marília; o
(CIESP) Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância do Rio de Janeiro; o (LAPIC) Laborató
rio de
Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação da Escola de Comunicação e Artes; o (LEPSI) Laboratório de
Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância da Faculdade de Educação ambos da
Universidade de São Paulo; o (ICA) Ins
tituto da Criança e do Adolescente da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais. A existência desses centros e núcleos de pesquisa permite que se faça algumas observações, a saber:
eles demonstram a carência e a parcialidade de estudos empíricos sob
re a infância; apontam a ausência de
comunicação interdisciplinar e em alguma medida buscam romper a fragmentação disciplinar; ilustram a tentativa de
pesquisas originais e renovadas já que a formação dos pesquisadores é bem variada. Caberia investigar se
a presença
desses e outros centros e núcleos de pesquisas disseminados nas instituições de ensino superior, ou então vinculados
a elas, expressam o resultado de trabalhos ali realizados ou se são, condição para que eles se efetivem.
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Em 1996, o Governo Fe
deral, realizou em Brasília, um encontro que reuniu centros brasileiros de pesquisa, como
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os Ministérios do Trabalho, Saúde e
Educação e organismos internacionais como a Organização In
ternacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF), onde foram narradas e debatidas experiências de combate ao trabalho precoce
como as feitas pelo Programa Internacional para Abolição do Trabalho Infantil (IPEC)
-
criado em
1992, pela OIT
-
e intervenções em áreas críticas de vários Estados brasileiros, com ênfase nas atividades realizadas nos canaviais,
olarias, carvoarias e em regiões tipicamente urbanas. Além disso, houve um grande estímulo a novas investigações
no campo
do trabalho infantil, tendo como pano de fundo intervenções diretas na realidade (FERREIRA, 2001, p.
216
-
217).