compreendido, pondo em movimento a razão:
Ora, se for submetida a um conceito uma representação da capacidade de imaginação que pertence à sua
exibição, mas por si só dá tanto a pensar que jamais deixa compreender-se em um conceito determinado, por
conseguinte amplia esteticamente o próprio conceito de maneira ilimitada, então a capacidade de imaginação é
criadora e põe em movimento a faculdade de idéias intelectuais (a razão), ou seja, põe a pensar, por ocasião de
uma representação (o que na verdade pertence ao conceito do objeto), mais do que nela pode ser apreendido e
distinguido (KU 194-5, 160)
220
.
Novamente Cicovacki expressa belíssimamente o que podemos concluir desse estudo:
Exatamente quando estamos convencidos de que no jogo [entre capacidade de imaginação e entendimento, que
o gênio comunica] não há nada além de um jogo infantil, nada além da pura alegria de estar vivo, algo
insuspeito e extraordinário acontece. (...) [N]a experiência da arte algo volta para nós, só que aumentado e
intensificado. Aquilo com que jogamos e o que espalhamos são imagens, o que de repente volta a nós e nos
atinge através dessas imagens é o que Kant chama de 'idéias estéticas'. (...) Essas são idéias para as quais
faltam palavras e conceitos apropriados. Kant entende idéias estéticas como arquétipos ou imagens originárias.
Isso indica que idéias estéticas não representam simplesmente qualquer possibilidade nem equivalem a
simplesmente qualquer “pode ser”. Elas exibem e trazem à nossa atenção aquelas possibilidades que são
relevantes para nós enquanto seres humanos. As possibilidades nos são relevantes na medida em que tratam de
nossos medos e esperanças, da miséria e da felicidade, do vício e da virtude, do homem e de Deus, da ilusão e
da verdade; elas são relevantes quando se dirigem a nossas necessidades e interesses humanos fundamentais.
Em nossa brincadeira ilusória e infantil somos abatidos pelo reconhecimento de um interesse humano sério. O
interesse cômico ou trágico de um personagem fictício é de repente reconhecido como um interesse humano,
como nosso próprio interesse (CICOVACKI, 2001: 484)
221
.
E assim podemos entender a epígrafe de nosso trabalho em todo o seu significado:
A capacidade de imaginação (enquanto faculdade de conhecimento produtiva) é mesmo muito poderosa na
criação como que de uma outra natureza a partir da matéria que a natureza efetiva lhe dá. Nós entretemo-nos
com ela sempre que a experiência pareça-nos demasiadamente trivial; também a remodelamos de bom grado,
na verdade sempre ainda segundo leis analógicas, mas contudo também segundo princípios que se situam mais
acima na razão (e que nos são tão naturais como aqueles segundo os quais o entendimento apreende a natureza
empírica); neste caso sentimos nossa liberdade da lei da associação (a qual é inerente ao uso empírico daquela
faculdade), de modo que segundo ela na verdade tomamos emprestado a matéria, a qual porém pode ser
reelaborada por nós para algo diverso, a saber, para aquilo que ultrapassa a natureza (KU 193, 159)
222
.
220 “Wenn nun einem Begriffe eine Vorstellung der Einbildungskraft untergelegt wird, die zu seiner Darstellung
gehört, aber für sich allein so viel zu denken veranlaßt, als sich niemals in einem bestimmten Begriff zusammenfassen
läßt, mithin den Begriff selbst auf unbegrenzte Art ästhetisch erweitert; so ist die Einbildungskraft hiebei schöpferisch,
und bringt das Vermögen intellektueller Ideen (die Vernunft) in Bewegung, mehr nämlich bei Veranlassung einer
Vorstellung zu denken (was zwar zu dem Begriffe des Gegenstandes gehört), als in ihr aufgefaßt und deutlich gemacht
werden kann” (KU 194-5, 160).
221 “Precisely when we are convinced that in the game there is nothing but a childlike play, nothing but a pure joy of
being alive, something unsuspected and extraordinary happens. (...) [I]n the experience of art something comes back to
us, only magnified and intensified. What we play with and throw around are images, what suddenly comes back to us
and hits us through those images is what Kant calls ‘aesthetic ideas’. (...) These are ideas for which the appropriate
words and concepts are missing. Kant understands aesthetics ideas as archetypes or original images. This indicates
that aesthetics ideas do not represent just any possibility, nor do they stand for just any ‘could be’. They display and
bring to our attention those possibilities that are relevant to us as human beings. The possibilities are relevants to us
when they deal with fears and hopes, misery and happiness, vice and virtue, man and God, illusion and truth; they are
relevant when they address our fundamental human needs and concerns. In our illusory and childish playfulness, we
are struck by the recognition of a serious human concern. The comic or tragic concern of a fictional character is
suddenly recognized as a human concern, as our own concern” (CICOVACKI, 2001: 484).
222 “Die Einbildungskraft (als produktives Erkenntnisvermögen) ist nämlich sehr mächtig in Schaffung gleichsam
einer andern Natur, aus dem Stoffe, den ihr die wirkliche gibt. Wir unterhalten uns mit ihr, wo uns die Erfahrung zu
alltäglich vorkommt; bilden diese auch wohl um: zwar noch immer nach analogischen Gesetzen, aber doch auch nach
Prinzipien, die höher hinauf in der Vernunft liegen (und die uns eben sowohl natürlich sind, als die, nach welchen der
Verstand die empirische Natur auffaßt); wobei wir unsere Freiheit vom Gesetze der Assoziation (welches dem
empirischen Gebrauche jenes Vermögens anhängt) fühlen, nach welchem uns von der Natur zwar Stoff geliehen, dieser
aber von uns zu etwas ganz anderem, nämlich dem, was die Natur übertrifft, verarbeitet werden kann” (KU 193, 159).
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