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filho. Atualmente, ele vive em Cuiabá, restabelecendo-se de uma enfermidade que
abalou seriamente a sua saúde.
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• Permeabilidade – Esta atitude missionária, segundo Brandt, ressalta mais uma vez que
nesses conceitos a ênfase não está no dar, mas no receber. Nesse sentido, as
comunidades e religiões indígenas são as que dão ou oferecem uma nova
oportunidade de ver de outra forma a si mesmo. A permeabilidade denota o fato de
que o missionário como agente externo está sujeito a se deixar embeber por impulsos
que vem de sua inserção social e cultural no meio de uma outra sociedade,
resguardada a recepção desses impulsos a partir de uma perspectiva cristã. Brandt vê
aqui uma inversão da direção missionária. Missão não mais como ação sobre o outro,
mas como “paixão”.
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• Atualização do evangelho – Este conceito diz respeito à forma como o evangelho está
sendo incorporado e reinterpretado em outras culturas, como a andina, por exemplo.
Há uma gama de experiências de releitura bíblica por toda a América Latina. Faço
menção de um trabalho bem recente publicado pelo ISEAT – Instituto Superior
Ecumênico Andino de Teologia, de La Paz, Bolívia, sob o título Teología Andina,
uma pesquisa coletiva ainda em processo. Mas é importante registrar que já existe
uma extensa bibliografia sobre este assunto, o que demonstra uma nova percepção da
fé cristã pelos povos ameríndios, comunidades negras e outros setores das camadas
empobrecidas da sociedade latino-americana e caribenha.
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Sobre as conseqüências dessa prática missionária, vale registrar aqui as reflexões do sociólogo OLIVEIRA,
Pedro Ribeiro de. O lugar social do missionário. In: VV. AA. Inculturação e libertação: Semana de Estudos
Teológicos CNBB/CIMI. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 18-26. Sobre as dificuldades vividas por Tomás
Lisboa, valho-me aqui de informações atualizadas que me foram confidenciadas por um amigo comum de
longa data. Sobre a experiência própria, cf. LISBÔA, Thomaz de Aquino. Entre os índios Münkü: a
resistência de um povo. São Paulo: Loyola, 1979. Chama a atenção o fato de que Brandt evita usar o conceito
“inculturação” que nesse contexto é central para a teologia missionária praticada em muitos lugares da
América Latina. Inculturação é mais do que inserção, embora esta esteja implícita naquela. Para a discussão
sobre a teologia da inculturação no âmbito católico-romano, cf. SUESS, Paulo. Evangelizar a partir dos
projetos históricos do outros: ensaios de missiologia. São Paulo: Paulus, 1995, p.167-193; 213-237. Cf.
ainda ANJOS, Márcio Fabri dos (Org.). Inculturação: desafios de hoje. Petrópolis: Vozes, Soter, 1994. Id.
(Org.). Teologia da inculturação e inculturação da teologia. Petrópolis: Vozes, Soter, 1995. Cf. também
BRANDT, Hermann. Zur Inkulturarion in Brasilien. Theologische Literaturzeitung, Leipzig, ano 129, n. 4,
p. 348-360, April 2004. Nesse artigo o autor repassa o que importantes enciclopédias alemãs publicam sob o
verbete inculturação e avalia as posições de teólogos como Leonardo Boff, Paulo Suess e José Comblin, que
escrevem a partir da experiência latino-americana.
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Para esse conceito, Brandt faz referência à minha dissertação de mestrado, onde destaquei a permeabilidade
como um dos componentes da pastoral da convivência enquanto “fator comunicativo”. Cf. ZWETSCH,
Roberto E. Com as melhores intenções: trajetórias missionárias luteranas diante do desafio das comunidades
indígenas (1960-1990). São Paulo: Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, 1993, p. 473-475.
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Sobre este tópico, eu acrescento que o que atualmente tem se desenvolvido em toda a América Latina é mais
do que uma “atualização do evangelho”, e sim um ingente esforço de reinterpretação a partir de novas
percepções culturais e teológicas. Cf. ESTERMANN, Josef (Coord.). Teología andina: el tejido diverso de la
fe indígena. Tomos I e II. La Paz: ISEAT, Plural, 2006. RAMOS SALAZAR, Humberto. Hacia una teología
aymara: “Desde la identidad cultural y la vida cotidiana”. La Paz: CTP-CMI, 1997. SILVA, Antônio
Aparecido da (Org.). Existe um pensar teológico negro? São Paulo: Paulinas, 1998. MENA LÓPEZ,
Maricel; NASH, Peter Theodore (Orgs.). Abrindo sulcos: para uma teologia afro-americana e caribenha. São
Leopoldo: EST, 2003. ZWETSCH, Roberto E. O olhar indígena da bíblia. In: REIMER, Ivoni Richter.
Leitura da Bíblia em 500 anos de Brasil. São Leopoldo; CEBI, 2000 (A Palavra na vida, n. 149/150), p. 41-
55. Em carta pessoal de 13/03/2007, Brandt esclarece o seguinte sobre a expressão atualização: “para evitar
um mal-entendimento, quis dizer: representar, fazer presente o Evangelho, na própria pessoa do missionário,
não uma atualização na escrivaninha”.