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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE ECONOMIA
MESTRADO EM ECONOMIA
A PROBLEMÁTICA DAS AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS
ESPECIALIZADAS: aspectos principais, governança interna e externa e
observação da experiência de São Bento do Sul (SC).
Natália Maria de Lima Bracarense
Uberlândia, maio de 2007.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE ECONOMIA
MESTRADO EM ECONOMIA
A PROBLEMÁTICA DAS AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS
ESPECIALIZADAS: aspectos principais, governança interna e externa e
observação da experiência de São Bento do Sul (SC)
Dissertação submetida à Banca Examinadora do
Programa de Pós-Graduação em Economia da
Universidade Federal de Uberlândia, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre
em Economia, sob orientação do Profa. Marisa
Botelho
Natália Maria de Lima Bracarense
Uberlândia, abril de 2007.
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SUMÁRIO
Introdução........................................................................................................................................................... 1
1. Desenvolvimento industrial e local-regional centrado nas aglomerações produtivas especializadas............. 9
1.1 Introdução................................................................................................................................................. 9
1.2 Aportes teóricos sobre as aglomerações produtivas especializadas........................................................ 13
1.3 O caso paradigmático dos distritos industriais europeus........................................................................ 17
1.3.1 A forma “distrito industrial” e seus traços essenciais.................................................................... 17
1.3.2 Ação empresarial e institucional, relações de trabalho e crédito................................................... 20
1.4 Políticas públicas.................................................................................................................................... 26
1.5 As controvérsias do desenvolvimento endógeno.................................................................................... 30
2. O novo enfoque dado às aglomerações produtivas localizadas: a importância da governança externa a partir
da interação entre a literatura de distrito industrial e a abordagem de cadeia global de valor..........................
41
2.1 Introdução............................................................................................................................................... 41
2.2 A abordagem das cadeias globais de valor............................................................................................. 44
2.2.1 As origens da abordagem das cadeias globais de valor.................................................................. 44
2.2.2 Caracterização dos dois diferentes tipos de governança na cadeia global de valor....................... 48
2.3 Análise comparativa entre as abordagens de cadeia global de valor e clusters ...................................... 56
2.4 Interação entre as abordagens de cadeia global de valor e de cluster..................................................... 61
2.5 Implicações para as políticas públicas.................................................................................................... 68
3. Caracterização da indústria de móveis e estrutura e dinâmica das cadeias globais de valor de móveis....... 75
3.1 Introdução............................................................................................................................................... 75
3.2 Panorama geral do setor de móveis........................................................................................................ 76
3.2.1 Caracterização da indústria de móveis........................................................................................... 76
3.2.2 Modificações na produção da indústria de móveis de madeira ...................................................... 78
3.2.3 Modificações na esfera de mercado de móveis de madeira............................................................. 85
3.3 Mercado internacional de móveis........................................................................................................... 88
3.3.1 Evolução do mercado de móveis ..................................................................................................... 88
3.3.2 Upgrading e Downgrading da indústria de móveis......................................................................... 93
3.3.3 Indústria moveleira de diferentes países......................................................................................... 97
4. Características da inserção externa da aglomeração produtiva de móveis de São Bento do Sul................ 129
4.1 Introdução............................................................................................................................................. 129
4.2 São Bento do Sul: caracterização e trajetória de uma aglomeração moveleira no Sul do Brasil.......... 129
4.3 A internacionalização da comercialização de móveis sãobentense a partir da década de 1990............ 135
4.4 O aprofundamento da internacionalização da comercialização de móveis sãobentense e suas
conseqüências.............................................................................................................................................
141
4.5 Características da internacionalização comercial da aglomeração de moveis de São Bento do Sul a
partir de informações da pesquisa de campo ..............................................................................................
145
4.5.1 Caracterização da amostra........................................................................................................... 145
4.5.2 As vantagens competitivas oferecidas pela localização em São Bento do Sul e as principais
dificuldades encontradas........................................................................................................................
149
4.5.3 Estrutura da cadeia global de valor.............................................................................................. 156
4.5.4 Políticas públicas: estrutura da governança nos âmbitos local-nacional-internacional.............. 190
5. Considerações finais................................................................................................................................... 196
6. Referência bibliográfica ............................................................................................................................. 202
7. ANEXOS.................................................................................................................................................... 213
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Governança e upgrading: clusters versus cadeias de valor ........................................................... 60
Quadro 2 – Tipos de coordenação de atividades econômicas........................................................................... 62
Quadro 3 – Tipos de governança das atividades econômicas........................................................................... 63
Quadro 4 – Determinantes chave da governança na cadeia global de valor..................................................... 66
Quadro 5 – Distribuição de atividades realizadas pelos diferentes tipos de compradores................................ 86
Quadro 6 – Empresas de máquinas e equipamentos instaladas em São Bento do Sul.................................... 161
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Etapas da produção de móveis......................................................................................................... 77
Figura 2 - Fluxograma do processo produtivo da indústria de móveis de madeira restituída........................... 81
Figura 3 - Fluxograma do processo produtivo: indústria de mobiliário de madeira sólida .............................. 83
Figura 4 - Posição de upgrading dos países com no mínimo 1 % de participação de mercado para os 11 sub-
setores de móveis de madeira...................................................................................................
Tabela 26 – Canais de comercialização utilizados pelas empresas entrevistadas........................................... 164
Tabela 27 – Grau de importância da cooperação entre as empresas moveleiras entrevistadas e outras empresas
para frente da cadeia global de valor ............................................................................................................
167
Tabela 28 – Grau de importância da cooperação entre as empresas moveleiras ............................................ 170
Tabela 29 – Atividades cooperativas horizontais em áreas competitivas....................................................... 170
Tabela 30 – Atividades cooperativas horizontais em áreas pré-competitivas................................................. 172
Tabela 31 – Cooperação com institutos de ensino e pesquisa e com outros agentes...................................... 173
Tabela 32 – Melhorias propiciadas pelas ações cooperativas realizadas entre 2003 e 2005 .......................... 176
Tabela 33 – Nível de escolaridade dos funcionários das empresas entrevistadas........................................... 177
Tabela 34 – Empregados com formação específica em produção moveleira................................................. 178
Tabela 35 – Mudanças nas relações de trabalho............................................................................................. 179
Tabela 36 – Inovações implementadas pelas empresas entre 2003 e 2005 .................................................... 181
Tabela 37 – Resultados das inovações implementadas entre os anos de 2003 e 2005 ................................... 184
Tabela 38 – Freqüência de atividades inovativas nas empresas de móveis sãobentenses em 2005................ 185
Tabela 39 – Mecanismo de fixação de preço das empresas............................................................................ 188
Tabela 40 – Nível de conhecimento e avaliação dos programas específicos para o segmento de atuação das
empresas.........................................................................................................................................................
193
Tabela 41 - Políticas governamentais que contribuiriam para o aumento da eficiência da indústria moveleira
local................................................................................................................................................................
194
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição das importações italianas de móveis em 2003 ........................................................ 100
Gráfico 2 – Exportação dos móveis italianos em 1996 .................................................................................. 101
Gráfico 3 – Principais fornecedores de móveis para o mercado Alemão em 2003 ........................................ 104
Gráfico 4 – Composição das exportações de móveis da Alemanha em 2003................................................. 106
Gráfico 5 – Distribuição das importações de móveis dos EUA em 2001....................................................... 107
Gráfico 6 – Distribuição das exportações chinesas ........................................................................................ 111
Gráfico 7 – Distribuição das exportações polonesas em 2003 ....................................................................... 117
Gráfico 8 – Exportação dos móveis mexicanos em 2004............................................................................... 119
Gráfico 9 – Distribuição dos mercados externos consumidores de móveis brasileiros em 1997 ................... 124
Gráfico 10 - Distribuição dos mercados externos consumidores de móveis brasileiros em 2005 .................. 125
Gráfico 11 – Distribuição espacial da exportação de móveis no Brasil (mercado formal)............................. 127
Gráfico 12 – Evolução da taxa de câmbio nominal média anual entre 1996 e 2006 ...................................... 142
Gráfico 13 – Comparação dos fatores críticos de sucesso das vendas para diferentes tipos de compradores 165
Gráfico 14 – Principais concorrentes internacionais das empresas ................................................................ 187
Gráfico 15 – Destinos dos móveis das empresas sãobentenses...................................................................... 189
Agradecimentos
Primeiramente, eu gostaria de agradecer à Professora Marisa por ter aceitado
orientar um trabalho que, em parte, se baseia em uma linha de pesquisa que não é o seu
foco principal de análise. Em especial, admiro a sua dedicação integral a esta dissertação a
despeito do cenário que se constitui com a minha mudança para Campinas, a sua gravidez e
o seu pós-doutorado na Espanha. A Professora Marisa tem sido extremamente importante
para a minha formação acadêmica, seja como professora, orientadora de estágio docência e
de dissertação. Muito obrigada pelos puxões de orelha.
Ao Professor Germano, que vem acompanhando esta dissertação, direta e
indiretamente, desde o começo. Em princípio como professor das disciplinas de Economia
Industrial e da Tecnologia, em seguida com a participação na qualificação e agora como
suplente da orientadora (Prof. Marisa).
Ao Professor Renato Garcia e ao Professor Humberto Martins por terem aceitado
participar desta dissertação.
A todos os professores do IE da UFU que contribuíram para a minha formação,
através das aulas lecionadas durante esses dois anos de mestrado, Marisa, Germano,
Niemeyer, Flávio, Vanessa, Henrique, José Rubens e Ortega. E também àqueles que
viabilizaram a minha participação no PROCAD, professores Ortega, Marisa, Niemeyer e
Brandão.
A Vaine por, apesar de brigar comigo por eu viver na secretaria pedindo alguma
coisa, sempre ter me ajudado a conseguir o que eu precisava.
A todos os entrevistados de São Bento do Sul pela receptividade e pela
disponibilidade em contribuir para esta pesquisa. Em especial ao Prof. José Luís, à Profa.
Marilza, ao Rodrigo e ao Adelino Denk, pela enorme colaboração e pelas informações
fornecidas durante a minha visita a São Bento e via e-mail.
Aos meus pais, que mais uma vez se superaram segurando a minha barra, e
desmotivaram os meus impulsos à desistência sempre com palavras muito sábias e muito
equilíbrio. Ao Paulo Roberto, pelas discussões, sugestões e jóias (como ele chama os
livros). A Maria Emília pelos olhos que sempre deu aos meus longos desabafos virtuais
pelo MSN. À minha irmã por me dar impulso aos estudos e esperanças a uma sociedade
mais justa e saudável.
A Luty, Roberto, tio Samuca, Fátima, Rita e Chiquinho pelo carinho, pelos
conselhos e por sempre me receberem muito bem em suas casas.
Aos meus amigos queridos do mestrado de Uberlândia que me ajudaram a superar
as enormes barreiras que encaramos juntos, Bianca, Hugo, Priscila e Michelle e aqueles que
sempre tiravam um sarro, mas contribuíram muito Tiago Sobel, Vanessa, Thiago Callado,
Henrique e Lima.
Aos meus amigos que de perto ou de longe sempre estiveram presentes nas horas
que eu mais precisava, Guarany e seus familiares, Daninha, Anderson e sua família, Wilson
e seus parentes, Etiene, Elisângela, Fernanda, Fernando, Denise, Shayana, Jacó, Flávio,
Lenina, Daniel e galera da Malta Nagoa. Alguns amigos ajudaram diretamente este
trabalho, com sugestões, auxílios e configurações, Pedro, Carlinha, Elisângela, Daninha e
Karine.
Aos meus novos amigos de Campinas que acompanharam essa nova etapa na minha
vida, principalmente as meninas que moraram comigo, Aline, Lívia e Mariana.
E finalmente ao Pedro por toda a ajuda no decorrer da minha carreira acadêmica,
por conseguir me propiciar momentos agradáveis durante essa longa jornada, pelo carinho,
atenção e paciência.
Àqueles cujos nomes eu esqueci de citar, mas de quem gosto muito. Vale dizer que
culpo o cansaço pelo esquecimento.
Resumo
A partir da década de 1980, pode-se observar o início de um processo de
territorialização econômica e política, concomitante com o aparente enfraquecimento do
governo central. Esse processo condiz com as mudanças que vêm sofrendo as empresas e o
Estado, em âmbito mundial. A etapa da globalização produtiva, que compreende o período
entre 1950 e 1970, permitiu o crescimento das capacidades industriais em uma larga gama
de países em desenvolvimento. Tal difusão industrial causou uma mudança no centro de
gravidade de muitas indústrias manufatureiras do núcleo para a periferia da economia-
mundo e foi a premissa para a globalização comercial (a partir de 1970).
Além disso, em meados da década de 1980 surgiu uma efetiva concentração de
inovações baseadas na eletrônica, que atingiu, direta ou indiretamente, todos os setores da
economia e, também, a sociedade como um todo, configurando-se assim um novo
paradigma tecnológico-produtivo. Esse paradigma caracteriza-se, entre outras coisas, pela
presença crescente da microeletrônica, que possibilita uma maior flexibilidade na produção
e nas relações de trabalho, e também favorece a produção “customizada”, realizada em
lotes menores e dirigida a segmentos mais ou menos específicos de mercados. A aplicação
das tecnologias de informações permitiu a decomposição dos produtos em módulos ou
sistemas com interfaces normatizadas, facilitando a contratação externa de projeto. A
desintegração vertical das corporações transnacionais se caracteriza pela redefinição de
suas competências centrais para se focarem em inovação e estratégia de produto, marketing
e nos segmentos que mais agregam valor da manufatura e dos serviços, enquanto reduzem
sua propriedade direta sobre funções não centrais, tais como serviços genéricos e volume de
produção. Esta tendência, na maioria dos países desenvolvidos, torna mais provável que
cadeias claramente governadas pelos compradores sejam cada vez mais comuns.
Em suma, nos novos modos de organização produtiva, os vínculos interfirmas se
mostram contemplados pelo desenvolvimento tecnológico, assim como pelo interesse das
empresas em concentrar seus esforços nas atividades que constituem o “foco” das suas
operações e em transferir as demais atividades para outras unidades de produção,
praticando a terceirização. Dentro desse contexto notam-se condições favoráveis,
proporcionadas por essas mudanças, a uma maior participação das empresas de pequeno e
médio porte na dinâmica industrial, principalmente daquelas que se encontram inseridas em
aglomerações produtivas especializadas. Tal situação passa a chamar a atenção de diversos
estudiosos nos anos 1980, e a partir de então e, sobretudo, desde os anos 1990, também os
elaboradores de políticas começaram a se interessar pelo assunto.
É neste cenário que o atual trabalho pretende captar a emergência de cadeias
comandadas pelos compradores na indústria de móveis de madeira e, também, analisar a
influência que este tipo de cadeia exerce sobre aglomerações produtivas especializadas.
Para tanto, observa-se, a experiência concreta da aglomeração produtiva de São Bento do
Sul (SC).
Summary
Since 1980’s decade, it can be observed the beginning of an economic and politics
territorialization process, concomitant with the apparent central government weakness. This
process matches with the changes that companies and State have been passing through in
world-wide scope. The stage of the productive globalization, that involves the period
between 1950 and 1970, allowed the growth of industrial capacities in a wide gamma of
developing countries. Such industrial diffusion caused a change in many manufacturing
industries gravity center from the world-economy core to its periphery. This change was the
premise for commercial globalization (since 1970).
Moreover, in middle 1980’s emerged an effective innovations concentration based
on the electronics, which reached, directly or indirectly, all economics sectors and, also, the
society as a whole. This configures thus a new technological-productive paradigm. This
paradigm is characterized, among others things, for the increasing presence of the
microelectronics. That makes possible a greater production and work relations flexibility,
and also favors the customized production, carried through smaller lots and droved to more
or less specific market segments. The information technologies application allowed product
decomposition in modules or systems with normalized interfaces. This facilitates contracts
of external projects. The transnational corporations’ vertical disintegration is characterized
by its central abilities redefinition by focusing in product innovation and strategy,
marketing and in other segments that add more value in manufacture and services, while
these corporations reduce their direct property on not central functions, such as generic
services and production volume. This is a trend in the majority of developed countries,
which becomes each time more likely the emergence of clearly buyers commanded chains.
In short, in this new way of productive organization, the inter-firms bonds are
contemplated by technological development, as well as by companies’ interest on
concentrating efforts on activities that constitute their operational “focus” and on
transferring the others activities to other production units. This context favors deeper
participation small and medium firms in industrial dynamics, mostly those which are
inserted in specialized productive agglomerations. Such situation calls attention of many
researchers in the 1980’s, and policy makers since 1990’s had also started showing interest
on this subject.
This is the scene in which the current work intends to catch the buyers commanded
chains emergence in wooden furniture industry and it also intends to analyze this chain type
influence on specialized productive agglomerations. To fulfill this object São Bento do Sul
(SC) productive agglomeration’s concrete experience has been observed.
1
Introdução
O sucesso dos distritos industriais, observados na Terceira Itália, passou a chamar a
atenção de diversos estudiosos nos anos 1980, e a partir de então e, sobretudo, desde os
anos 1990, também os elaboradores de políticas começaram a se interessar pelo assunto.
Este último fato ocorreu porque os estudiosos passaram a defender que a criação de
ambientes propícios ao fortalecimento das pequenas e médias empresas seria um elemento
importante para um desenvolvimento menos desequilibrado espacialmente e menos
excludente quando comparado ao observado sob o paradigma fordista.
Assim, parece implícito o entendimento de que o “modelo” de distrito industrial
pode possibilitar uma maior eqüidade distributiva entre as regiões de um determinado país
e, conseqüentemente, contribuir para aprofundar o seu processo de democratização,
principalmente em países periféricos. No entanto, ao contrário do esperado, vem ocorrendo
em muitos destes países o aparecimento de ilhas de prosperidades - em meio a regiões
deprimidas - que participam de redes inter-firmas globais e estabelecem comunicação direta
entre as aglomerações produtivas locais e o mercado global, sem que seja atribuída a devida
relevância ao encadeamento produtivo no país, fator essencial para a competitividade
sistêmica.
De fato, as categorias tradicionais através das quais o debate sobre a globalização tem sido
enquadrado – IDE, comércio de commodities, redes globais e produção, etc – insinuam uma
pretensa diminuição da territorialidade da atividade econômica, implicando inclusive a redução
da margem de manobra dos Estados nacionais (...) [No entanto,] parte significativa das cadeias
globais de produção é baseada em importantes recursos vinculados à criação de conhecimento.
Essas cadeias geralmente encontram-se nos países sede das empresas multinacionais, ou no
máximo se espalham pela tríade e em alguns países em desenvolvimento, como os tigres
asiáticos. Em todos estes casos, as políticas nacionais de desenvolvimento científico e
tecnológico têm tido um papel fundamental no enraizamento de atividades mais nobres [i.e.
vinculadas ao conhecimento] (Cassiolato; Lastres, 2003: 25-26).
2
Em decorrência disso é preciso chamar a atenção para como as relações internas ao
cluster
1
são peças chave na definição da forma como as diferentes regiões interagem
com
os agentes externos, portanto tais relações não podem ser entendidas isoladamente. É
necessário verificar como essas economias locais se inserem na economia global, quais são
os interesses dos agentes externos e como tais interesses afetam a estrutura de governança
2
dessas regiões (se de forma favorável ou não). Por último, deve-se verificar como esses
fatores refletem sobre o desenvolvimento do país como um todo. Tais considerações
modificam a possibilidade de promover o desenvolvimento local a partir do “modelo
distrito industrial”. De fato, políticas cujo foco está amarrado somente às relações locais
podem ameaçar o processo de desenvolvimento do país, uma vez que as políticas e práticas
do Estado nacional de distribuição de poder entre o nível internacional e as agências sub-
nacionais têm um papel central no processo de articulação, mantendo a integração da
estrutura de governança como um todo.
Portanto, elaboradores de políticas devem observar as bases dos vínculos entre os
agentes internos e externos. Para tanto, Gereffi (1994) desenvolve a abordagem de cadeias
globais de valor
3
que possibilita avaliar quais nós da cadeia produtiva são mais lucrativos e
quais agentes da cadeia de valor que os dominam, ou seja, “permite prospecções
investigativas sobre dinâmicas industriais contemporâneas e sobre o envolvimento de
1
Como será mostrado adiante, para a literatura dos distritos industriais, cujos autores principais são Becattini,
Brusco e Schmitz, um cluster é uma aglomeração produtiva cujos agentes não necessariamente desenvolvem
articulações suficientes para transformá-la em um distrito industrial.
2
Segundo Gereffi, Korzeniewicz e Korzeniewicz (1994), as estruturas de governança dizem respeito às
relações de poder e autoridade entre as empresas, no interior das quais se define a alocação dos recursos
(financeiros e humanos, por exemplo) e o modo como estes fluem entre os vários “nós” das cadeias
produtivas.
3
O conceito de cadeia global de valor é um de inúmeros conceitos desenvolvidos para captar as relações
inter-firma. Este conceito se baseia na simples idéia de que design, produção e marketing de produtos
envolvem uma cadeia de atividades divididas entre diferentes empresas, frequentemente localizadas em
lugares diferentes. Companhias isoladas raramente transformam matérias-primas em produtos acabados e
então os vendem para seus consumidores. O trabalho de Gereffi tornou-se o principal ponto de referência
nessa literatura, mas o seu conceito central de cadeia mercantil global (global commodity chain), baseado no
trabalho de Hopkins e Wallerstein, é confuso. O problema é que o termo commodity tende a ser associado a
produtos padronizados feitos em grande quantidade, enquanto parte das pesquisas focaliza a fabricação e a
comercialização de produtos diferenciados. Portanto, convencionou-se a utilização do conceito de cadeia
global de valor, que dirige a atenção para a questão de quem adiciona valor e em que lugar ao longo da cadeia
(Humphrey; Schmitz, 2000). Essa convenção será incorporada no trabalho atual.
3
países e regiões nesses processos” (Lins; Alves, 2005: 6) e explica a distribuição de riqueza
a partir da intensidade relativa de competição e inovação na cadeia de valor.
É a partir dessa perspectiva que esse trabalho pretende discutir as possibilidades das
aglomerações produtivas de proporcionar um melhor posicionamento das estruturas local-
regionais na dinâmica da globalização. Analisa-se se a inserção de determinada região em
uma cadeia produtiva global afeta a governança local e se o desenvolvimento desta pode
amenizar os impactos negativos de tal inserção ou potencializar as oportunidades por ela
oferecidas.
Trata-se, em síntese, de refletir sobre o quanto, e em que condições, os clusters e as
políticas que visam fomentá-los favorecem a competitividade das empresas e, inclusive
podem contribuir para o desenvolvimento.
Mais precisamente, o presente trabalho pretende apresentar e discutir a interação –
elaborada primeiramente por Humphrey e Schmitz (2000) – entre a problemática das
aglomerações produtivas especializadas e o enfoque das cadeias globais de valor, a partir da
identificação de seus aspectos centrais e da observação de contornos e detalhes de uma
experiência concreta, com base em pesquisa de campo referente à produção de móveis em
São Bento do Sul, no nordeste de Santa Catarina.
A hipótese principal em que se fundamenta o atual estudo defende que a indústria
moveleira de São Bento do Sul vem se inserindo continuamente em uma cadeia global de
valor de móveis comandada pelo comprador. Isto vem ocorrendo, a despeito do gradual
desenvolvimento da sua governança local, a partir da abertura econômica dos anos 1990,
em que a região passou a se especializar em móveis retilíneos de pinus e a suprir quase que
exclusivamente o mercado externo.
Este estudo baseia-se em pesquisa bibliográfica e em pesquisa de campo. Os três
próximos capítulos envolvem leitura de material bibliográfico pertinente e relevante, e
reflexão sobre ele, enquanto o último é baseado em uma pesquisa de campo na forma de
entrevistas com agentes importantes da aglomeração moveleira de São Bento do Sul.
Com o objetivo de identificar e discutir aspectos centrais da problemática das
aglomerações produtivas especializadas, salientando particularmente os elementos que têm
permitido considerá-las como estruturas capazes de favorecer a situação de locais e regiões
4
em face dos desafios da globalização, foi realizado o levantamento de contribuições
analíticas de destaque e um trabalho de leitura, sistematização dos pontos de maior
importância e desenvolvimento de texto.
Para analisar o novo enfoque dado às aglomerações produtivas localizadas, a partir
da interação entre a literatura de distrito industrial e a abordagem de cadeia global de valor,
será utilizada a interligação, elaborada por Humphrey e Schmitz (2000), da teoria
contemporânea dos distritos industriais e a teoria de cadeia global de valor. Primeiramente,
porque enquanto a primeira abordagem consegue captar as relações internas ao cluster de
forma bastante consistente, a segunda percebe sensivelmente o contexto atual de
globalização econômica.
A teoria das cadeias globais de valor mostra “como a produção, a distribuição e o
consumo são desenhados por relações sociais que caracterizam os estágios seqüenciais de
aquisição de recursos naturais, manufatura, distribuição, marketing e consumo (...) e
proporciona uma análise dinâmica das desigualdades espaciais da economia global em
termos do diferencial de acesso a mercados e recursos” (Gereffi, Korzeniewicz;
Korzeniewicz, 1994: 2).
Além disso, segundo Gereffi, Korzeniewicz e Korzeniewicz (1994), os conceitos de
desenvolvimento nacional e industrialização vêm se tornando cada vez mais problemáticos
em facilitar um entendimento das trajetórias emergentes das organizações sociais e
econômicas. A abordagem convencional tende a assumir que desenvolvimento e
industrialização são positivamente relacionados. A despeito de diferirem em muitos dos
seus principais princípios e hipóteses, teoristas da modernização e da dependência têm
compartilhado a assunção que os estados nacionais constituem o locus primário de
acumulação de capital, crescimento industrial e a política estatal a promoção do
desenvolvimento nacional integrado.
A teoria da cadeia global de valor nos permite focalizar na criação e distribuição da riqueza
global como incorporada a atividades multidimensionais, pluri-seqüenciais ao invés de tratá-las
apenas como resultado da industrialização por si só. Nesse sentido a abordagem das cadeias
globais de valor propicia as bases teóricas e metodológicas necessárias para uma análise mais
5
sistemática dos processos micro e macro na nova política econômica do sistema-mundo
(Gereffi, 1994: 13)
4
.
Assomado a isso, essa literatura se destaca por chamar atenção para diversas
dimensões da cadeia global de valor, que dizem respeito a: a) estrutura de insumo-produto;
b) territorialidade; c) estruturas de governança e; d) estrutura institucional (Gereffi, 1994;
1995; 1999a, citado em Lins; Alves, 2005).
Portanto, esta vertente teórica permite verificar onde cada uma das etapas produtivas
é realizada e quais são as etapas produtivas mais lucrativas, além de possibilitar a
visualização de quais são os líderes da cadeia global e como as ações destes líderes afetam
a estrutura de governança que incide sobre cada região. De fato, essa literatura enfatiza a
importância de olhar para as estratégias organizacionais e relações competitivas entre as
firmas para entender a dinâmica da cadeia de valor global. Além de se focar nas empresas
5
,
a análise das cadeias globais de valor constrói uma ponte entre as preocupações macro-
históricas que normalmente caracterizam a literatura do sistema-mundo
6
e as preocupações
micro-organizacionais e aquelas centradas no estado que têm estimulado os estudos
recentes de política econômica internacional. Isso possibilita entender mais adequadamente
as ligações macro-micro entre processos que são geralmente considerados discretos em
termos de unidade de análise: global, nacional e local.
No entanto, enquanto a literatura sobre cluster subestima os clientes estrangeiros
como fonte de inovação, a abordagem da cadeia global de valor subdimensiona o papel dos
sistemas locais de inovação. De forma que ambas tendem a reduzir a importância dos
limites à atualização tecnológica
7
, por isso, será utilizada a interligação realizada por
Humphrey e Schmitz (2000).
Com o intuito de construir a cadeia global de valor de móveis, devido a pouca
disponibilidade de trabalhos com esse cunho, se fez necessária a leitura de diversos
trabalhos referentes à cadeia de valor de móveis, alguns trabalhos produzidos,
4
Essa citação literária, assim como todas as outras citações tiradas de textos em língua estrangeira, foi
traduzida pela autora do presente trabalho.
5
Tanto individualmente como dentro da rede de produção de uma determinada mercadoria.
6
Uma breve introdução sobre essa abordagem será apresentada no segundo capítulo dessa dissertação. No
entanto, para um entendimento maior da vertente teórica do sistema-mundo é interessante estudar Hopkins e
Wallertein (2000); Arrighi (1996).
6
principalmente, pelo Institute of Development Studies, que incorporam a abordagem da
cadeia de valor elaborada por Gereffi, e ainda diversos estudos de casos de diferentes países
para melhor compreensão da divisão internacional do trabalho dessa cadeia. Devido à
dificuldade de encontrar dados para a indústria de móveis, não há homogeneidade da
narrativa sobre essa indústria de cada um dos países mencionados.
Para delinear a cadeia foram designadas cada uma das operações principais, desde o
produto final até insumos de matéria-prima. Cada uma dessas operações constitui um da
cadeia. Às quais foram indagadas sobre seu grau de monopolização existente no tecido
produtivo e sobre a distribuição geográfica das unidades produtivas que compõem os nós.
Duas cadeias diferentes são necessárias, devido a diferenças profundas nos conjuntos de
produção que ligam os locais de produção a partir de tecnologias que competem entre si.
Finalmente, para analisar uma experiência concreta de aglomeração produtiva
especializada realizou-se uma pesquisa de campo na forma de entrevistas com agentes
importantes da aglomeração moveleira de São Bento do Sul. Foram elaborados dois
questionários, um direcionado para entrevistar empresas moveleiras (disponível no Anexo
II) e outro dirigido para as instituições de apoio (disponível no Anexo III). O primeiro
questionário foi dividido em cinco partes, cujos objetivos são: caracterizar a empresa em
termos de porte e origem; delinear as características da produção, a partir da composição de
vendas e escolaridade dos funcionários; verificar as relações de cooperação, o sistema de
aprendizado e a capacidade de inovar; observar a estrutura de governança e as vantagens
associadas ao ambiente local e; averiguar a estrutura de políticas públicas que afeta a
região.
A maioria das perguntas era de cunho qualitativo, portanto, para facilitar o
entendimento dos dados, quando possível foram realizadas avaliações qualitativas, em que
os entrevistados deviam atribuir um grau de importância de 0 a 3 para os diversos critérios
apontados no questionário. A partir das respostas foi elaborado um índice de importância,
que pode variar de zero a um e cuja fórmula está apresentada no capítulo 4. Os dois
questionários obtinham “questões abertas, nesse caso, quando as visões dos entrevistados
são citadas suas respostas foram mantidas exatamente como foram dadas, sem resumo,
7
O termo upgrading foi traduzido como “atualização tecnológica” (N.B.).
7
paráfrase ou correção de erros gramaticais”, conforme indicado no “Manual para pesquisa
de cadeia global de valor sobre a mão-de-obra domiciliar na indústria têxtil” (McCormick;
Schmitz, 2001: 139).
As entrevistas objetivaram, principalmente, a captação de aspectos fundamentais do
funcionamento da aglomeração moveleira nos dias atuais. A ênfase será a questão relativa à
capacidade dos agentes de responder coletivamente aos novos desafios e, a partir disso,
como se inseriram no mercado global, verificando o grau de monopolização das etapas
produtivas em que São Bento do Sul participa, como a cadeia se desdobra espacialmente, a
participação em diferentes cadeias de valor, a estruturas de propriedade das unidades
produtivas, as formas de controle dos processos de trabalho e as relações entre nós. Esse
recorte se apresenta em sintonia com uma importante orientação do debate contemporâneo
sobre as aglomerações produtivas especializadas, como se falará posteriormente.
Para tanto, a pesquisa de campo foi realizada em quatro instituições de apoio:
Associação Comercial e Industrial de São Bento do Sul (Acisbs), Centro Tecnológico do
Mobiliário (CTM), Sindicato da Indústria da Construção e do Mobiliário de São Bento do
Sul (Sindusmobil) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Foram pesquisadas também duas agências de exportação. Para realizar essas seis pesquisas
foi aplicado um questionário próprio para instituições de apoio
8
. Além disso, foi realizado o
levantamento censual de empresas exportadoras de móveis da microrregião de São Bento
do Sul a partir de uma consulta ao site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, onde existe disponível uma lista de indústrias exportadoras de Santa
Catarina. Desta lista foram selecionadas aquelas firmas que estão localizadas na região
visitada e produzem móveis (para a identificação deste último dado foi necessário utilizar o
site da Confederação Nacional da Indústria). Assim, chegou-se a uma população de 83
empresas, cujos nomes estão disponíveis no Anexo I. Finalmente, a partir desta lista, foram
entrevistadas dezenove empresas moveleiras, escolhidas aleatoriamente: sendo duas delas
8
A escolha por aplicar o questionário de instituições de apoio nas agências de exportação se deve ao fato de
seus entrevistados terem uma visão ampla das movimentações na região. Portanto, julgou-se este questionário
mais adequado para retirar o máximo de informações possível da pesquisa de campo.
8
microempresas; três de pequeno porte, doze empresas médias e duas empresas de grande
porte
9
.
Esta dissertação divide-se em quatro partes, além deste capítulo introdutório e as
considerações finais. A parte seguinte procede ao debate sobre as aglomerações produtivas
especializadas, com uma breve apresentação sobre a emergência da problemática sobre
essas aglomerações. Sugere-se que esse debate localiza-se no entrecruzamento das
reflexões sobre o desenvolvimento (e economia) regional e economia industrial, e discorre-
se sobre os principais temas que representam o seu conteúdo: economias externas, ação
coletiva, difusão do conhecimento e impulso às inovações, entre outros. Ao mesmo tempo,
avança-se sobre elementos que permitem diferenciar as aglomerações produtivas
especializadas entre si, sobretudo o que concerne a uma de suas formas de manifestação,
vinculada aos “distritos industriais”. No texto, referências às experiências européias, base
de boa parte do associado debate, aparecem todo o tempo, no intuito de ilustrar passagens
julgadas merecedoras desse recurso expositivo.
Posteriormente adentra-se no debate sobre as cadeias globais de valor. Mostrando
sua origem, seus principais conceitos e a criação da interação entre esta abordagem e a
literatura sobre arranjos produtivos locais e os seus desdobramentos.
O terceiro capítulo desenha a cadeia global de valor moveleira. Mostra quais são
suas etapas, os seus participantes, e sua subdivisão em diversas cadeias de valor distintas.
Ao definir a situação do Brasil na produção de móveis, aprofunda-se sobre a forma como o
Brasil se insere no mercado internacional, mostrando seus principais concorrentes.
A última parte é quase integralmente nutrida pela pesquisa de campo. Recupera a
trajetória histórica de São Bento do Sul como área de produção moveleira. Depois, pela
ordem, abordam-se as seguintes grandes questões: conseqüências das mudanças
macroeconômicas dos anos 1990 para as atividades locais; “respostas” do tecido
empresarial e institucional local ao novo quadro e, conseqüente, aprofundamento da
internacionalização da aglomeração produtiva; caracterização e análise, à luz do debate
9
Houve tentativa de entrar em contato com outras empresas da região, porém, estas se negaram a responder o
questionário: Moveis e Esquadrias Seiva (média), Intercontinental (média), Moveis Irimar (pequena), Moveis
25 de julho (média), Artes Industriais de Madeira (média), Moveis Weihermann (média), Mila Moveis, Herli
Moveis.
9
sobre aglomerações produtivas especializadas, da situação desenhada localmente,
sublinhando-se aspectos de reestruturação tecnológica e produtiva, de cooperação e ação
coletiva, de avanços nos terrenos da inovação e da competitividade; descrição da sua
inserção na cadeia global de valor moveleira; e análise das políticas públicas.
Nas considerações finais, após uma síntese dos pontos trabalhados no corpo da
dissertação, e particularmente com base no que foi possível observar na experiência de São
Bento do Sul, tecem-se considerações sobre qual estratégia deve ser seguida pelos agentes
da aglomeração produtiva para dialogar melhor com os desafios globais contemporâneos.
1. Desenvolvimento industrial e local-regional centrado nas aglomerações produtivas
especializadas
1.1 Introdução
A partir da década de 1980, pode-se observar o início de um processo de
territorialização econômica e política, concomitante com o aparente enfraquecimento do
governo central. Esse processo condiz com as mudanças que vêm sofrendo as empresas e o
Estado, em âmbito mundial.
Segundo Gereffi (2000) a etapa da globalização produtiva, que compreende o
período entre 1950 e 1970, se fundou prioritariamente sobre a intensificação da
transnacionalização das corporações verticalmente integradas e foi marcada pela formação
de redes de produção, construídas a partir da estratégia de industrialização por substituição
de importações. Essa globalização produtiva permitiu o crescimento das capacidades
industriais em uma larga gama de países em desenvolvimento.
Entretanto, ao final da década de 1960, o paradigma tecnológico produtivo
taylorista-fordista deu sinais de que entrava em uma crise. As repercussões desse processo
atingiram a economia como um todo. Por exemplo, o período que se segue foi caracterizado
“pelos choques de preços de petróleo; pelo choque da taxa de juros e conseqüente
instabilidade financeira; pela relativa paralisia dos fluxos de acumulação produtiva de
capital; pela expressiva redução das taxas de incremento de produtividade” (Coutinho,
1992: 69).
10
Em decorrência disso os fluxos de capital passaram a não encontrar uma ampla
aplicação imediata na esfera produtiva, seja porque as expectativas de lucratividade desta
foram afetadas negativamente, seja porque a acumulação na esfera financeira mostrava-se
cada vez mais atraente. Isso contribuiu para impulsionar os circuitos financeiros. Esses
fenômenos, em conjunto, caracterizaram o período de estagflação. A abertura de um novo
ciclo expansivo exigiria que os investimentos fossem retomados de forma auto-sustentada.
Contudo, até os primeiros anos da década de 1980, as economias industrializadas
pareciam incapazes de articular uma nova onda de investimentos. Apenas em meados dessa
década surgiu uma efetiva concentração de inovações baseadas na eletrônica, que atingiu,
direta ou indiretamente, todos os setores da economia e, também, a sociedade como um
todo, configurando-se assim um novo paradigma tecnológico-produtivo. Esse paradigma
caracteriza-se, entre outras coisas, pela presença crescente da microeletrônica, que
possibilita uma maior flexibilidade na produção e nas relações de trabalho, e também
favorece a produção “customizada”, realizada em lotes menores e dirigida a segmentos
mais ou menos específicos de mercados. Um aspecto importante a ser destacado sobre tal
discussão, são as condições favoráveis, proporcionadas por essas mudanças, a uma maior
participação das empresas de pequeno e médio porte na dinâmica industrial.
A aplicação das tecnologias de informações permitiu a decomposição dos produtos
em módulos ou sistemas com interfaces normatizadas, facilitando a contratação externa de
projeto. A desintegração vertical das corporações transnacionais se caracteriza pela
redefinição de suas competências centrais para se focarem em inovação e estratégia de
produto, marketing e nos segmentos que mais agregam valor da manufatura e dos serviços,
enquanto reduzem sua propriedade direta sobre funções não centrais, tais como serviços
genéricos e volume de produção.
Em suma, nos novos modos de organização produtiva, os vínculos interfirmas se
mostram contemplados pelo desenvolvimento tecnológico, assim como pelo interesse das
empresas em concentrar seus esforços nas atividades que constituem o “foco” das suas
operações e em transferir as demais atividades para outras unidades de produção,
praticando a terceirização (Lins, 2000: 55).
11
A difusão industrial, que ocorreu no período pós-guerra, causou uma mudança no
centro de gravidade de muitas indústrias manufatureiras do núcleo para a periferia da
economia-mundo e foi a premissa para a globalização comercial (a partir de 1970) (Gereffi,
2000). Suzigan (1989) assinala que essa reestruturação e relocalização das indústrias em
nível mundial resultam em uma nova divisão internacional do trabalho, ditada por
vantagens competitivas dinâmicas. Sendo que o alcance dessas vantagens depende
fundamentalmente de políticas macroeconômicas favoráveis ao crescimento, políticas
industriais positivas e explícitas de ajustamento, e investimentos em capital social
10
.
Portanto, há um marcado deslocamento da estratégia de desenvolvimento preferida da
industrialização por substituição de importações para aquela orientada para exportação
11
em muitas partes do mundo em desenvolvimento, começando com o Leste Asiático, mas se
espraiando para a América Latina, África e outros lugares na década de 1980.
Dessa forma, a problemática das políticas econômicas deve ser considerada
levando-se em conta a nova posição dos Estados nacionais perante o emaranhado de
modificações que as recentes décadas vêm apresentando.
Um aspecto central dessa nova posição é que a intensificação das interações
comerciais, produtivas e financeiras em escala mundial (i.e. a globalização), diminui os
graus de liberdade dos Estados para praticar políticas macroeconômicas independentes. Isso
impulsiona um processo de descentralização de algumas de suas funções e atividades,
principalmente no que diz respeito às atividades assistenciais, que tendem a ser transferidas
aos níveis regionais ou locais de ação pública. Porém, o processo de ajuste não envolve
apenas estas atividades. A promoção do desenvolvimento (em diferentes países implicando
a ação pública em parceria com o setor privado) em esferas mais territorializadas de
intervenção parece ter se consolidado como uma forma importante de ação nesse terreno,
refletindo diretamente nas esferas locais (Barquero, 1995).
A literatura sobre essa temática indica que o papel das pequenas e médias empresas
(PMEs) nesse processo tem se revelado muito importante. De fato, a sua maior
10
A despeito das indicações das instituições multilaterais serem em direção à negação da existência de
políticas no sentido exposto por Suzigan (1989), o que efetivamente se observa é a existência da atuação dos
Estados, em maior ou menor grau, na direção indicada pelo autor.
11
A diferenciação das diretrizes desses dois tipos diferentes de orientação política será descrita no próximo
capítulo.
12
flexibilidade, entre outros atributos, favoreceu o ressurgimento dessas empresas como
agentes importantes da dinâmica industrial, capazes de realizar inovações.
No nordeste da Itália, por exemplo, observou-se nas décadas de 1950 e 1960 o
desenvolvimento econômico de uma região que, tradicionalmente pobre, ganhou
visibilidade, a Terceira Itália
12
. Subjacentes a tal processo encontravam-se redes industriais
de pequenas e médias empresas - em que a cooperação entre agentes ao longo da cadeia
produtiva aparece como elemento fundamental na competitividade -, que dialogam
intensamente com o meio socioterritorial
13
.
Suzigan, Garcia e Furtado (2003) afirmam que a governança de relações entre
empresas é um tema recorrente em estudos sobre SPLs (sistemas produtivos locais) “devido
à presença concentrada de produtores, (...) conformando uma estrutura produtiva complexa,
constituída por empresas que atuam em diversas etapas de uma cadeia produtiva, e com
divisão do trabalho entre diversos produtores especializados” (p. 68).
Esse sistema apresenta poucas barreiras à entrada, tanto tecnológicas, quanto
financeiras e acabou sendo considerado como uma alternativa ao modelo fordista de
produção em massa e de integração vertical de produção. Assim, a aparente crise do
paradigma fordista e a “capacidade de adaptação [desses sistemas local-regionais] a
mercados cada vez mais imprevisíveis e competitivos” (Cocco et al, 2002: 14) trouxeram à
tona o debate sobre a aglomeração localizada como alternativa ao modelo de acumulação
fordista.
É com relação a tal problemática que as experiências de regiões européias,
caracterizadas como arranjos produtivos territorializados, passaram a chamar a atenção dos
pesquisadores e, mais tarde, também a dos formuladores de políticas. Justamente por
ostentarem, mesmo diante dos desafios da globalização, performances notáveis,
apresentando níveis de competitividade elevados, essas regiões vêm sendo vistas como
12
A Terceira Itália é uma região tradicionalmente pobre, e que nos meados dos anos 1950 deixou de ser
exportadora de mão-de-obra para tornar-se uma das regiões mais ricas não só do país, mas também da Europa
como um todo. O desenvolvimento dessa região foi baseado em pequenos negócios, na herança familiar e na
identidade local, ou seja, na interação entre os agentes locais e o território (Moreira, 2002).
13
Esse diálogo é prestigiado pelo contexto sócio-cultural em que as empresas estão inseridas, esse contexto é
fruto da vivência histórica comum, compartilhada pelos agentes de certo território, e favorece a confiança, a
busca por objetivos comuns e organizações de auto-ajuda. Neste trabalho, tal relação está melhor explicitada
na subseção 1.3.1 .
13
bases de experiências capazes de inspirar a promoção do desenvolvimento socioeconômico
regional e local (Cassiolato; Lastres, 2002).
É dentro desse contexto que o objetivo desse capítulo é tratar analiticamente das
aglomerações produtivas localizadas de pequenas e médias empresas, vistas como arranjos
capazes de contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, inclusive em países que não
integram as zonas centrais da economia mundial. Logo, mostram-se, resumidamente,
algumas das principais linhas de pesquisas sobre aglomerações produtivas, para então,
realizar-se uma abordagem conceitual sobre as PMEs, demonstrando vantagens
competitivas provindas da sua organização na forma de aglomerações e sobre as
possibilidades dessas aglomerações em face dos desafios contemporâneos. Em seguida,
dirige-se a atenção às formas de política que propiciam um ambiente favorável à boa
performance destas aglomerações nos países europeus. Posteriormente, são analisadas as
controvérsias dessa forma de desenvolvimento assim como as respostas às críticas
realizadas às aglomerações produtivas e a possibilidade deste “modelo” contribuir para o
desenvolvimento socioeconômico, em países em desenvolvimento.
1.2 Aportes teóricos sobre as aglomerações produtivas especializadas
A referência precursora sobre a importância da localização para o desempenho
industrial encontra-se nas observações de Marshall (1982) sobre a Inglaterra em fins do
século XIX. Esse autor destacou que as economias externas
14
, resultantes da concentração
geográfica de empresas especializadas em fases dos processos de produção recorrendo a um
único mercado de trabalho local, permitem que pequenas empresas obtenham algumas
vantagens de produção – como, por exemplo, de mão-de-obra, materiais e maquinaria –
similares às da produção em grande escala. No entanto, durante quase um século o
entendimento das contribuições da concentração espacial de atividades produtivas para a
evolução da civilização foi praticamente esquecido pelas teorias econômicas hegemônicas
que deixaram de lado a dimensão espacial da atividade econômica. “Como bem apontou
14
Economias derivadas de um aumento de escala de produção dependentes do desenvolvimento geral da
indústria. Em contraste com as economias internas, que são aquelas que dependem “dos recursos das
empresas que a ela se dedicam individualmente, das suas organizações e eficiência de suas administrações”.
(Marshall, 1982: 229).
14
Walter Isard (1956), quando os economistas assumem a perfeição e hegemonia dos
mercados, a análise econômica perde a sua importante dimensão espacial” (Cassiolato;
Lastres, 2003: 22).
A pretensa irrelevância do espaço físico e territorial sobre os fatores econômicos,
defendida pela análise econômica tradicional, vem sendo fortemente contestada, e muitos
dos aspectos ressaltados por Marshall (1982) são recuperados nos estudos atuais sobre as
aglomerações produtivas.
Todavia, pesquisadores contemporâneos assinalam que um distrito industrial não é a
mera aglomeração de pequenas empresas do mesmo ramo em um determinado espaço
físico. De fato, é importante distinguir os diversos tipos de aglomerações existentes.
De acordo com Humphrey e Schmitz (2000) e Cassiolato e Lastres (2002),
atualmente a importância da proximidade e dos recursos locais de competitividade é
enfatizado por quatro correntes principais:
Nova geografia econômica: desde meados dos anos 1980, economistas
neoclássicos têm podido modelar retornos crescentes, o que levou à
denominada nova teoria do crescimento, portanto, trata-se de uma agenda
ortodoxa, encorpada pela econometria. Krugman (1991), “em particular
apresentou os retornos crescentes advindos da aglomeração na agenda da
teoria econômica tradicional” (Humphrey; Schmitz, 2000: 6);
Estudos de negócios: afirmam que as vantagens competitivas derivam de
fatores locais. Porter
15
(1990) não enfatiza a importância da cooperação,
contrariamente, sublinha a importância da rivalidade local e ainda da rede de
fornecedores para o desenvolvimento empresarial dinâmico;
Economia regional: estudo multidisciplinar que contribuiu muito para o
entendimento dos clusters, com base, primeiramente, em estudos sobre os
distritos industriais italianos e, posteriormente, se concentrando em outros
15
O termo cluster é central para o trabalho de Porter, este termo é usado muitas vezes, inclusive no artigo
citado, para se referir a concentração setorial e geográfica de firmas. Mas, em outras partes do trabalho desse
autor o termo cluster é utilizado de forma mais abrangente, se referindo a grupos de indústrias com fortes
laços verticais dentro de um país, mas nem sempre geograficamente próximos (Humphrey; Schmitz, 2000: 6).
15
países europeus e nos EUA (Becattini 1990; Pike e Sengenberger, 1992;
Storper, 1995; Brusco, 1990);
Estudos sobre inovação (neo-schumpeterianos): se preocupam com o
desenvolvimento tecnológico, se focam na importância da inovação para o
desenvolvimento e nos determinantes deste. Essa literatura trabalha com o
conceito de sistema de inovação – “a rede de instituições nos setores público e
privado cujas atividades e interações iniciam, importam, modificam e
difundem novas tecnologias..." (Freeman, 1987, citado em Botelho, 1999: 16).
A princípio os autores neo-schumpeterianos tinham como principal foco
sistemas nacionais de inovação, posteriormente dedicaram-se também a
analisar subsistemas de inovação, regionais ou locais (Lundvall, 1993;
Freeman, 1995). Ao estudar a presença dessas estruturas em países em
desenvolvimento, Cassiolato e Lastres (2000) chamam de arranjos
produtivos locais (APLs) aquelas aglomerações produtivas que ainda não se
encontram plenamente desenvolvidas para serem denominadas de sistemas.
É interessante ressaltar que todas as linhas de abordagem citadas acima concordam
que os fatores locais são muito importantes para promover a competitividade, influenciando
tanto o crescimento das firmas quanto a sua capacidade inovativa. “A idéia de aglomeração
torna-se explicitamente associada ao conceito de competitividade principalmente a partir do
início dos anos 90, o que parcialmente explica seu forte apelo para os formuladores de
política” (Cassiolato; Lastres, 2002: 63). Dessa maneira, os arranjos produtivos passam a
ser, não apenas unidade de análise, mas também unidade de ação de políticas industriais.
Dentro dessa perspectiva, quando o assunto é a governança, as duas primeiras abordagens
ignoram a relevância da governança pública e mostram a competitividade como um
resultado que emerge da dinâmica do mercado e da rede inter-firmas. Para as outras duas
escolas, o mercado também exerce um papel fundamental, no entanto, por si só, não é
capaz de alcançar a competitividade pela via-alta, isto é, via inovação (Humphrey; Schmitz,
2000).
Além dessas abordagens principais, cujas linhas fronteiriças não são tão exatamente
delimitadas, existem autores que misturam contribuições de diversas correntes de
16
pensamento. Como, por exemplo, a abordagem elaborada por Humphrey e Schmitz (2000),
que a partir do enfoque sobre a relação entre aglomerados e seus mercados, distinguem
diferentes perspectivas para as aglomerações, utilizando-se do conceito de cadeias globais
de valor (Gereffi, 1994). O ponto principal da visão dessa escola (Institute of Development
Studies – IDS) é que o desenvolvimento de qualquer aglomeração dependerá tanto da sua
posição na cadeia e da sua interação com outros elementos, quanto de sua estrutura e
dinâmica interna. A visão da escola do IDS tem como foco a inserção dos aglomerados
locais no processo de globalização. A proposta apresenta uma ponte interessante, pois
sugere que a busca de uma tipologia para aglomerados deve-se dar a partir de um
entendimento sobre os processos de governança das relações ao longo da cadeia
(Cassiolato; Lastres, 2002).
Em suma, percebe-se que, calcada na experiência da Terceira Itália, a cooperação
entre agentes ao longo da cadeia produtiva passa a ser cada vez mais destacada como
elemento fundamental na competitividade. Em geral, a literatura italiana sobre aglomerados
tem utilizado “uma definição simples (e operacional) de clusters como sendo apenas uma
concentração setorial e espacial de firmas com ênfase em uma visão de empresas como
entidades conectadas nos fatores locais para a competição nos mercados globais”
(Cassiolato; Szapiro, 2003: 36).
De acordo com a vertente multidisciplinar de economia regional, encabeçada por
Becattini (1994), Brusco (1990), Schmitz (1997) e Sengenberger e Pike (2002), um cluster
corresponde à simples concentração geográfica e setorial de pequenas empresas, forma que,
segundo Schmitz (1997), traz em si poucos benefícios. “No entanto trata-se de um fator
facilitador importantíssimo, quando não uma condição necessária, para vários
desenvolvimentos subseqüentes (que podem, ou não, ocorrer)” (p. 169). O benefício central
da forma cluster, conforme esse autor, é que tais configurações “tornam possíveis ganhos
de eficiência que pequenas firmas individuais raramente conseguem obter” (Schimtz,
1997:169), algo decisivo para a competitividade. Esses ganhos de eficiência são as
vantagens competitivas resultantes, simultaneamente, das economias externas locais e da
ação conjunta, aspectos incrustados e estimulados pelas aglomerações e que, juntos,
recebem o nome de “eficiência coletiva”. As economias externas representam resultados
incidentais da aglomeração, enquanto a ação conjunta é conscientemente perseguida, já que
17
depende de voluntarismo. Quando os clusters ostentam “eficiência coletiva”, considera-se
que se apresentam como “distritos industriais”.
Conseqüentemente, os distritos industriais são formas mais desenvolvidas de
aglomerações. Além da proximidade geográfica, da especialização setorial e da
predominância de firmas de pequeno e médio porte, possuem características como
colaboração estreita entre firmas, competição entre firmas baseada na inovação (em
oposição à baseada principalmente na redução de salários), identidade sócio-cultural que
favorece a confiança recíproca, organizações de auto-ajuda ativas e governos regionais e
municipais apoiadores (Schmitz; Musyck, 1994: 890).
1.3 O caso paradigmático dos distritos industriais europeus
1.3.1 A forma “distrito industrial” e seus traços essenciais
No que diz respeito à forma como os distritos industriais se desenvolveram em
países da Europa, cabe assinalar que a sua formação ocorreu, de fato, ao longo de processos
históricos. Assim, a abordagem desses arranjos produtivo-institucionais não pode deixar de
levar em conta aspectos sócio-culturais, históricos e institucionais. O surgimento desses
distritos europeus é, sobretudo, o resultado de processos de evolução ocorridos tanto em
zonas predominantemente agrícolas como em zonas de malha urbana densa, em qualquer
caso com fortes tradições artesanais. Favorecidas pela vizinhança próxima de uma mesma
profissão especializada, essas tradições associaram-se para desenvolver uma indústria
plenamente estabelecida, em processo que foi denominado de “industrialização difusa”
(Coulert; Pecqueur, 1994).
Esse processo de formação inspirou a caracterização do distrito industrial efetuada
por Becattini (1994), que considera tratar-se de entidades socioterritoriais marcadas pela
presença ativa de uma comunidade de pessoas e de uma população de empresas num
determinado espaço geográfico e histórico, onde a cooperação e a confiança entre os
agentes revelam-se favorecidas.
O relacionamento entre os agentes dos distritos industriais tende a se apresentar
como concorrência cooperativa: “[s]e considerarmos os resultados globais do distrito,
18
veremos que existe nele, a par de uma atitude muito concorrencial, uma solidariedade
forçada entre os seus membros, que é fruto da maneira única como o sistema sócio-cultural
impregna e estrutura o mercado no próprio seio do distrito” (Becattini, 1994: 26). Mais do
que isso, essa “combinação entre mercado e solidariedade dá lugar para uma prática - a uma
regulação territorial - cuja identidade é fortemente marcada” (Courlet; Pecqueur, 1994: 54).
A identidade sócio-cultural é um aspecto fundamental desses arranjos, pois dela
depende a existência de um grau considerável de confiança entre os agentes, necessária
para possibilitar aos distritos a configuração de uma de suas características básicas: a sua
organização na forma de redes de empresas. Essa forma de organização permite que as
empresas dos distritos industriais possam usufruir as vantagens ligadas às economias de
escala e escopo, pois nela as empresas se mostram devidamente especializadas e operam
com certo grau de integração horizontal e vertical entre si.
As relações horizontais remetem à competição dos produtores por encomendas, mas
tal concorrência não significa ausência de espaço para ação conjunta com o propósito de
resolver problemas específicos, particularmente em áreas pré-competitivas (provisão de
serviços, infra-estrutura e treinamento, entre outras). Já as relações verticais são menos
conflituosas e se refletem sobre as relações com fornecedores, que, segundo essa vertente
teórica, podem ocorrer através do mercado ou por acordos de subcontratação
16
(Sengenberger; Pike, 2002).
A especialização é um importante requisito para a formação de uma rede local de
pequenas e médias empresas, pois estimula a acumulação de conhecimentos específicos e
tende a facilitar a introdução de novas tecnologias. Para Becattini (1994), o
desenvolvimento de um distrito industrial depende da formação de uma aglomeração de
diversas firmas, cada uma, especializada em uma etapa do processo de produção de
determinado ramo industrial
17
, com interação dinâmica relacionada à divisão e à
integração do trabalho. Essa especialização, note-se, é abordada por Marshall (1982) como
16
Como veremos mais adiante, complementarmente à visão de Sengenberger e Pike (2002), a vertente
escolhida para orientar a pesquisa de campo distingue as relações verticais em cinco tipos diferentes,
enfatizando ao longo de uma cadeia de valor, a forma como os agentes exercem seu poder uns sobre os
outros.
17
No entanto, o termo ramo, aqui, deve abranger, além do produto específico, as máquinas, os produtos
químicos e os serviços a ele interligados.
19
pré-requisito para que as pequenas firmas aglomeradas obtenham vantagens de maquinário
mais próximas às das grandes empresas:
A utilização econômica de máquinas de alto preço pode muitas vezes ser realizada numa região
em que exista uma grande produção conjunta da mesma espécie, ainda que nenhuma das
fábricas tenha um capital individual muito grande, pois as indústrias subsidiárias (...) podem
empregar continuamente máquinas muito especializadas, conseguindo utilizá-las rendosamente,
embora o seu custo original seja elevado e sua depreciação muito rápida (Marshall, 1982: 234).
De fato, a aglomeração, ao induzir a especialização, facilita o investimento efetivo e
a atualização tecnológica em passos pequenos e arriscáveis. “Produtores podem se
concentrar em etapas particulares do processo como um todo, deixando outros estágios para
outros empresários. O investimento de um produtor em uma habilidade específica rende
retorno porque outros produtores investem em habilidades complementares” (Humphrey;
Schmitz, 2000: 19).
Portanto, a especialização favorece a complementaridade entre as firmas, que, por
sua vez, pode produzir um maior grau de interdependência, tornando-as mais solidárias,
umas em relação às outras, e transferindo o processo de decisão para além da firma. Desse
modo, “o grupo de firmas é o sujeito coletivo que assume o papel no jogo competitivo”
(Bianchi, 1996: 4). No entanto, o grau de integração entre as firmas não deve ser
demasiadamente rígido para que o distrito industrial obtenha economias de escala sem
perder, todavia - graças à segmentação desse processo -, a sua flexibilidade e a
adaptabilidade frente às flutuações do mercado (Becattini, 1994).
O nível de flexibilidade do distrito depende das relações interfirmas, pois, quando
estas são especializadas, podem ser combinadas de muitas maneiras diferentes, o que eleva
a capacidade de responder às crises e às oportunidades. A flexibilidade é igualmente
favorecida pela interdependência existente entre as diversas pequenas empresas dentro da
cadeia produtiva, pela renovação constante das empresas no mercado (alta taxa de
natalidade e mortalidade das empresas de menor porte) e pela mobilidade de recursos
humanos. Esses dois últimos aspectos impõem reconhecer, por outro lado, que mesmo em
territórios onde desponta uma capacidade coletiva de inovar, competir e adaptar, não se
deve esperar a existência de “ilhas” de unidade e solidariedade, pois a eficiência coletiva é
20
produto de um processo interno em que algumas empresas crescem e outras declinam
(Schmitz, 1997). Essa flexibilidade pode se configurar de duas formas:
A flexibilidade pode ser ‘versatilidade ativa’ ou ‘maleabilidade passiva’ (...), quer dizer, pode
consistir na capacidade de explorar nichos de mercado e atender rapidamente às encomendas,
com base em uma mão-de-obra qualificada e polivalente, ou também pode significar
simplesmente submeter-se às pressões externas dos clientes e aceitar reduções [nos preços], e
repassar aos trabalhadores de maneira coercitiva as exigências de flexibilidade provenientes do
mercado: expandindo e retraindo o volume de produção, forçando concessões salariais,
‘flexibilizando’ o uso do emprego de curto prazo ou eventual etc (Sengenberger; Pike, 2002:
120).
Segundo esses autores, as pequenas empresas tendem a cair na segunda forma de
flexibilidade, devido à configuração informal das relações de trabalho. Dessa forma,
percebe-se a importância da qualificação da mão-de-obra e também da existência da
eficiência coletiva, que permitem ao distrito um maior poder de barganha no mercado final.
1.3.2 Ação empresarial e institucional, relações de trabalho e crédito
Becattini (1994) salienta que as aglomerações geralmente apresentam uma variada
gama de opções para as atividades profissionais. Estas se encontram em uma cadeia
ininterrupta que vai desde o trabalho domiciliário até o trabalho assalariado, em tempo
parcial ou integral. Pode-se perceber igualmente uma constante flutuação dos trabalhadores,
em termos tanto horizontais quanto verticais. Essa flexibilidade no uso da força de trabalho
é importante porque, ao menos em parte, favorece o amortecimento das flutuações externas.
Esse caráter flexível pode ter efeitos negativos sobre a mão-de-obra, no entanto isso
não deveria ocorrer. O papel da mão-de-obra é central na organização de um distrito bem-
sucedido; sua adaptabilidade permite uma maior velocidade de reação às mudanças no
mercado, e isso depende de trabalhadores treinados e adaptáveis. É importante considerar
que a “adaptabilidade no local de trabalho é favorecida pela eliminação das divisões rígidas
entre gerência e força de trabalho, bem como pela predominância de uma atmosfera de
confiança” (Sengenberger; Pike, 2002: 106).
Segundo Cocco et al (2002), uma vez que no distrito industrial ocorre transferência
do “lugar” da produção, da unidade fabril para os territórios das cidades, as novas formas
21
de trabalho - em tempo parcial, por tempo de serviço, os trabalhadores autônomos -
difundem-se pelo território. Em suas próprias palavras:
Se o emprego (formal, full time) entra em crise, o trabalho (em suas múltiplas formas) se
espraia pelo território, integrador de uma diversidade que encontra as condições para sua
reprodução nas cadeias produtivas formadas pelas redes de pequenas e médias empresas. Na
interação entre estes inúmeros atores produtivos, catalisando e organizando os fluxos materiais
e imateriais existentes entre eles, emerge um tipo de empresariamento essencialmente político
(Cocco et al, 2002: 23-24).
De fato, a produção deixa de depender da figura tradicional do empreendedor, que
passa a desempenhar uma função que vai além da fábrica. Essa função reflete o fato de a
produtividade do distrito depender da força cooperativa entre os agentes. Ora, “tomadas
isoladamente, as empresas só dificilmente podem ter essa capacidade [de compreender a
sua posição relativa e de prever a sua evolução a médio e a longo prazo]. Torna-se assim
evidente a necessidade da emergência de níveis decisórios superiores ao das empresas”
(Garofoli, 1994: 41). A função do “empresário político” é justamente desempenhar “uma
mediação específica ao realizar as condições sociais, administrativas e políticas da
produção, ligando o trabalho de diversos grupos a cadeias produtivas que alcançam
mercados mais alargados” (Cocco et al, 2002: 24). Dessa forma, o empresário passa a ser
coletivo, e sua intermediação oferece ao processo produtivo um sentido ordenado, coeso e
completo. A figura do empresário torna-se, portanto, política: ele assume o papel de força
integradora do distrito com os mercados externos, passando a representar a capacidade
produtiva do distrito no exterior. A função desse “empresário político”, ou broker, é muito
importante, pois a sobrevivência do distrito depende da “criação de uma rede permanente
de relações privilegiadas entre o distrito, os seus fornecedores e os seus clientes” (Becattini,
1994: 20).
Como se percebe, a localização da produção não significa que os distritos industriais
sejam economias fechadas. Na concepção dos autores da literatura de distritos industriais,
os laços das economias locais, envolvendo os pequenos produtores e o mercado externo, se
traduzem no escoamento
18
dos seus produtos (exportações) e envolvem a constante
18
Como já foi dito anteriormente e será analisado mais adiante há muitas críticas sobre essa simplificação da
ligação entre o distrito industrial e agentes externos, uma delas é proveniente da abordagem de Humphrey e
Schmitz (2000), que será explorada no próximo capítulo.
22
comparação entre os custos internos e os da concorrência externa. Essa comparação é fator
de dinamização e renovação do distrito, permitindo “ritmar a vida de todos os agentes
econômicos do distrito” (Becattini, 1994: 28).
O mercado final deve demandar bens diferenciados e personalizados, e essa
demanda ocorre em intervalos de tempo aleatórios. Por isso, as mercadorias deveriam ser
caracterizadas por alta qualidade, design e capacidade de penetração em diversos nichos de
mercados, cujos graus de sofisticação e/ou diferenciação da demanda são elevados.
Segundo Nadvi e Schmitz (1994), a flexibilidade, a adaptabilidade, a complementaridade e
a confiança entre os agentes, e ainda a capacidade tecnológica endógena (que facilita o
processo de inovação contínuo), são os elementos chave para o sucesso dos distritos
industriais em tais mercados. Considerar esse aspecto remete, por exemplo, às idéias de
Freeman (1995) sobre a inovação tecnológica como ocorrência não isolada, mas sim
dependente de ambientes propícios às trocas de idéias sobre problemas e soluções. Daí esse
autor ressaltar a impor1.7
23
bem feito, discutem-se imediatamente os méritos de inventos e melhorias na maquinaria
(...) Se um lança uma idéia nova, ela é imediatamente adotada por outros, que a combinam
com sugestões próprias e, assim, essa idéia se torna uma fonte de outras idéias novas”
(Marshall, 1982: 234).
O grau de desenvolvimento dos distritos industriais depende ainda de outros três
fatores. Um refere-se à provisão de serviços reais, o segundo, estreitamente ligado ao
primeiro, refere-se à criação de um sistema de informações pelo qual as inovações e a
atualização sobre o mercado externo são transmitidas a toda a área do sistema, e o outro se
relaciona à facilidade de acesso ao crédito.
A provisão de serviços “envolve suprir as companhias, tendo em retorno, como
pagamento, aqueles bens e serviços por elas requisitados, ao invés de dar-lhes o dinheiro
que elas precisam para sair e comprar esses bens e serviços no mercado” (Brusco 1992,
citado em Schmitz; Musyck, 1994: 897). Os serviços englobam um largo leque de opções,
tais como “transferência de tendências anunciadas em países estrangeiros, a provisão de
informações sobre os parâmetros técnicos impostos pela lei para uma gama de produtos em
diversos países estrangeiros, ou a provisão de facilidades para a execução de testes de
materiais usados na produção”. No entanto, a provisão de serviço pode ir além da venda de
serviços e informações: pode ser considerada uma política de inovação, pois envolve o
processo de aumento da consciência dos agentes com relação à importância de determinado
serviço, assim a venda ganha o caráter de uma transferência de tecnologia (Schmitz;
Musyck, 1994: 897).
Dessa forma, a formação progressiva de um sistema de informações à escala local é
importante para transformar os conhecimentos num patrimônio comum. Essa forma de
cooperação acelera o processo de aprendizagem entre os agentes e torna o conhecimento
homogêneo dentro do território. As informações podem consistir, por exemplo, em idéias
sobre novas tecnologias ou produtos, o que tende a ajudar “todas as firmas do distrito a
melhorar sua eficiência por meio da elevação da produtividade, da qualidade, do design
etc” (Sengenberger; Pike, 2002: 104).
Segundo os autores, a provisão de informações pode ser feita de modo informal, no
plano pessoal, ou formal, através de instituições criadas especificamente para esse fim. Esta
24
segunda modalidade se aproximaria mais da construção de um sistema de informações.
Esse sistema, que combina provisão de serviços e informações coletivamente “põe ao
alcance das pequenas empresas algo que não poderiam ter a esperança de conseguir pagar
individualmente, como unidades isoladas” (Sengenberger; Pike, 2002: 104). A existência
de tradings e de feiras, também pode ser uma fonte de informações sobre as tendências do
mercado externo.
As tradings consistem em prestadoras de serviços, que fazem a intermediação entre
demandantes externos e as empresas do distrito, apresentando os produtos destas em
mercados estrangeiros, facilitando suas exportações. As agências de exportações (ou
tradings) também atuam como elemento dinamizador do distrito, provendo-lo de
informações sobre a demanda personalizada de diversos mercados consumidores.
Nesse sentido, as tradings têm considerável importância para o distrito industrial,
pois podem influenciar a orientação competitiva das firmas, que pode ocorrer pela via
superior (através das inovações), ou pela via inferior (através da redução dos salários)
(Schmitz, 1997). Com efeito, as tradings participam da organização do distrito, como
agentes de exportação e de difusão de conhecimentos, de novas técnicas e de novos
desenhos e produtos
19
.
A importância das feiras diz respeito à divulgação comercial do distrito industrial
especializado em certo ramo como tal. Os resultados podem tomar a forma da consolidação
das atividades industriais correspondentes, haja vista o papel das feiras no favorecimento da
aprendizagem dos agentes envolvidos e ainda na promoção de cooperação entre eles. Sobre
esse último aspecto cabe salientar que a feira é, com certeza, um interesse comum entre
todas as empresas do distrito: esse tipo de evento pode promover a aproximação entre os
agentes e favorecer o sentimento de confiança entre eles, o que os ajudaria a enxergar a si
mesmos como um conjunto com interesses comuns.
Outro interesse comum entre todas as empresas do distrito são as facilidades de
acesso ao crédito. No entanto, financiamento para pequenas empresas que procuram
19
Como será discutido posteriormente, é importante atentar-se para o fato de que muitas vezes as tradings são
representantes de clientes e estão mais preocupadas em defender o interesse destes do que o dos produtores
locais. Portanto, muitas vezes as tradings estimulam o acirramento da competição entre os agentes locais,
25
expandir ou inovar é um importante problema. O ideal seria que o crédito às aglomerações
fosse fornecido por bancos locais, que são
instituições que cresceram primeiramente coletando poupanças locais e emprestando para
produtores locais (...) [uma vez que os efeitos dos bancos locais, sobre o distrito, podem ter
mais a ver com a quantidade do crédito do que com o seu preço] o papel dos bancos locais de
facilitar o acesso ao crédito fica confirmado (Schmitz; Musyck, 1994: 891-892).
Grandes bancos comerciais também podem estender seus ramos para alcançar as
indústrias locais, mas, segundo Schmitz e Musyck (1994), esses bancos normalmente se
comprometem mais seriamente com os centros de operações em nível nacional do que com
os de nível local. Por isso, freqüentemente, esses bancos são agentes passivos frente às
pequenas indústrias locais. Consequentemente os autores defendem que os bancos locais
são os agentes intermediários mais eficientes para os distritos industriais.
A relação entre os bancos locais e o distrito deve ser harmônica, de forma que os
bancos tenham uma relação cooperativa com o conjunto das atividades locais e não estejam
estritamente preocupados com ganhos na esfera financeira. Assim, os empréstimos e suas
amortizações devem se basear na confiança e na reciprocidade. De todo modo, as condições
econômicas da operação devem ser levadas em conta pelos bancos locais, pois caso
contrário, “esse incentivo suplementar pode se tornar um sério risco para o distrito”
(Garofoli, 1994). Isso pode ocorrer tanto se o banco onerar demais os produtores locais,
através de taxas de juros muito elevadas ou de pressões exageradas para o cumprimento dos
prazos das amortizações, ou ainda se o banco local se envolver em operações de risco fora
do distrito.
Schmitz e Musyck (1994) ressaltam que em algumas aglomerações produtivas,
como, por exemplo, em Baden-Württemberg, na Alemanha, existem instituições de auto-
ajuda e governamentais que oferecem crédito especificamente destinado a projetos de
inovações de pequenas e médias empresas. No entanto, ressaltam serem consideráveis as
dificuldades para a construção de uma instituição local de crédito. O tempo necessário ao
seu adequado funcionamento é um dos aspectos salientados por esses autores.
inibindo as possibilidades de cooperação e minando a construção de um sentimento de confiança entre tais
produtores.
26
Sobre os bancos locais, é importante considerar a estrutura institucional de cada
país, por exemplo, na Europa existem leis que limitam a dimensão espacial de atuação de
alguns bancos. Isso leva os bancos a operarem em uma região específica, o que faz com que
as ligações com a produção local sejam mais estreitas.
Dessa forma, o setor público pode ajudar os distritos através de contribuições na
infra-estrutura ou em termos financeiros, porém só raramente pode oferecer serviços reais
aos distritos industriais sem o apoio do setor privado.
1.4 Políticas públicas
Na literatura sobre clusters, a abordagem que une a atualização tecnológica e a
governança foi primeiramente proposta por Brusco (1990), que divide a cronologia do
desenvolvimento dos distritos industriais em duas fases. A primeira seria aquela, em que o
desenvolvimento ocorre de forma espontânea, e a segunda, aquela em que a indústria
precisa de suporte das instituições locais e regionais para acelerar a inovação, entrar em
novos mercados e consolidar o crescimento (Humphrey; Schmitz, 2000).
A partir das experiências de Baden-Württemberg, Terceira Itália e de outras
experiências européias emergiu um novo modelo de política industrial, que enfatiza:
a delegação de funções para uma série de instituições públicas ou não-governamentais distintas;
opera com instituições próximas às empresas; expande a preocupação com o empreendorismo
do setor privado para o público; e sublinha a auto-ajuda através do estabelecimento de
associações privadas e consórcios de produtores. Em outras palavras, a proposição é a de que o
desenvolvimento e a rápida difusão do conhecimento no cluster não ocorrem apenas devido às
sinergias incidentais, à “atmosfera industrial”, mas são perseguidos por redes de ações políticas
públicas e privadas (Humphrey; Schmitz, 2000: 6).
Tais redes políticas
20
são defendidas sob a afirmação de que as políticas elaboradas
exclusivamente pelo setor público possuem alcance limitado. A limitação se baseia na
20
Redes políticas são mecanismos de mobilização de recursos políticos em situações em que a capacidade de
elaborar decisões, de formular e implementar programas é largamente distribuída ou dispersa entre os atores
públicos e privados (...) Em situações em que os recursos políticos são dispersos e dependentes do contexto
(ou de atores), a rede é apenas um mecanismo para mobilizar e amontoar recursos (Kenis; Schneider, 1991:
41-42, citado em Humphrey; Schmitz, 2000: 29). Pode-se acrescentar a esse argumento a mobilização de
recursos financeiros necessários para iniciativas de atualizações tecnológicas majoritárias (Humphrey;
Schmitz, 2000: 29).
27
necessidade de um conhecimento profundo sobre as especificidades do setor ou de um tipo
de produto e os entraves institucionais referentes à atuação independente do setor público.
A exigência de um conhecimento profundo e específico do processo produtivo de
determinado setor ou produto leva, portanto, a um questionamento sobre a eficiência de
políticas elaboradas de “cima-para-baixo”. Isso não quer dizer, entretanto, que não há
espaço para ações políticas sobre distritos. Como foi dito acima, inicialmente se defendia
que, em uma segunda etapa do desenvolvimento do distrito, quando já há concentração
espacial da indústria, medidas de apoio às instituições locais e regionais e às próprias
empresas, com vistas ao crescimento e desenvolvimento do distrito industrial, revelam-se
de grande importância
21
.
Pode-se mesmo dizer que existe certo consenso, entre pesquisadores e elaboradores
de política, sobre a importância de se priorizar o desenvolvimento de ambientes favoráveis
às PMEs que se apresentam em aglomerações produtivas. Essa orientação difere das
posturas que privilegiam as empresas de grande porte, observadas nas políticas
implementadas durante o predomínio do paradigma fordista-taylorista, do segundo pós-
guerra até meados dos anos 1980.
Um dos motivos para essa mudança de foco é a aposta no desenvolvimento de
PMEs como mecanismos de reforço à estabilidade social dos países através do estímulo ao
crescimento endógeno em regiões menos favorecidas. Dessa forma, as políticas industriais
para PMEs tendem a ser orientadas, no período recente, para a identificação de métodos e
iniciativas que podem criar e/ou fortalecer relações produtivas em nível local nas áreas
onde não há tradição histórica desse tipo de cooperação. De fato, as intervenções devem
procurar fomentar a cooperação e orientar o processo de especialização recíproca dos
agentes envolvidos na produção (Bianchi, 1996).
O enfoque tradicional de promoção de desenvolvimento, implicando a decisiva
intervenção do Estado central por meio de organismos de abrangência nacional, parece ter
cedido espaço a um novo enfoque. Neste, busca-se sustentar o envolvimento de firmas e
21
Segundo Cassiolato e Szapiro (2003), autores das linhas de Manufatura Flexível e de Parques Científicos e
Tecnológicos e Tecnópolis defendem que o Estado tem um papel importante como indutor de aglomerações.
Autores que abordam a Economia Solidária e Popular como Corragio (1994) e Singer(2002), também
argumentam a favor da participação do Estado como indutor das aglomerações.
28
setores na dinâmica do mercado através da promoção de condições para uma
competitividade efetivamente baseada na inovação (Bianchi, 1996). O enfoque tradicional
enfatizava políticas protecionistas e estimulava um processo deliberado de concentração,
reduzindo a competição interna em favor de um benefício nacional esperado. Na atualidade,
foca-se a promoção da inovação e, sobretudo, isso ocorre com base em estímulos
protagonizados no plano local-regional.
Essas ações estão de acordo com a nova posição dos Estados nacionais, quando se focaliza o
padrão internacional, cuja novidade, nesse período, foi a criação da Organização Mundial do
Comércio - OMC e a entrada em vigor dos acordos negociados na rodada do Uruguai. “[E]sses
acordos definiram novos parâmetros de proteção às economias nacionais, que restringiram o
alcance das políticas industriais” (Naretto; Botelho; Mendonça, 2004: 90).
Na Europa, particularmente, desde o final dos anos 1980, passou-se a contemplar
formas de promoção que representam o inverso da intervenção caracterizada,
tradicionalmente, como de “cima-para-baixo”. Cada vez mais se enfatizam as iniciativas de
“baixo-para-cima”, introduzindo, principalmente, programas de estímulo à criação de redes
inovadoras. Na base dessa nova postura está o entendimento de que a associação de firmas
locais, centros de pesquisas e universidades, revelando-se o conjunto envolvido pelo
contexto regional, apresenta maior capacidade de difusão das inovações e de valorização e
desenvolvimento dos ativos intangíveis coletivos (vinculados ao conhecimento tácito) que
caracterizam o território.
Aspecto central dessa concepção de política de promoção é que se desloca da
ênfase, tradicionalmente privilegiada por governos municipais e regionais, na atração de
novas empresas, baseada nas possibilidades locais em termos de baixos custos e de um
ambiente favorável aos negócios. Segundo Sengenberger e Pike (2002), esse deslocamento
é importante, pois “atrair negócios acenando com incentivos financeiros não costuma gerar
um desenvolvimento permanente e estável. As empresas usam os incentivos para abrir
fábricas em períodos de prosperidade rápida e as fecham em tempos de recessão, criando,
portanto, apenas um surto de expansão precário e transitório” (p. 126).
É importante ressaltar que nem todos os autores que discorrem sobre clusters e
distritos industriais compartilham da opinião de Sengenberger e Pike (2002). Segundo
Humphrey e Schmitz (2000) a presença de grandes empresas no cluster é um dos caminhos
29
para a atualização tecnológica. Humphrey e Schmitz (2000: 20) sintetizam as idéias de
diversos autores que defendem que quando “o cluster de iguais é transformado em um
cluster hierárquico consistindo em muitas pequenas empresas que provêm produtos e
serviços para poucas grandes empresas líderes locais”, este se torna mais dinâmico e mais
competitivo
22
.
Essa concepção política voltada para a descentralização das políticas industriais,
seja através de aglomerações igualitárias ou hierárquicas, não deixa de se mostrar em
sintonia com o novo enfoque de intervenção do Estado na economia, com seu tamanho
reduzido, dependente do apoio do setor privado e cujo objetivo básico é a sustentação da
dinâmica do mercado, a partir da promoção das condições para uma efetiva
competitividade em contexto de liberalização comercial.
Essa questão remete a considerações sobre a possibilidade de outros países
adotarem políticas de fomento às aglomerações produtivas nas suas iniciativas de promoção
do desenvolvimento regional. Uma atuação nesse sentido parece relevante, sobretudo,
perante os desafios contemporâneos. Como assinala Barquero (1995), a consolidação dos
sistemas produtivos locais e as políticas de desenvolvimento local respondem à lógica da
reestruturação do sistema capitalista no período atual, no âmbito do qual foi imposta uma
maior flexibilidade, quer nas atividades produtivas, quer na ação do Estado.
Como foi mostrado acima, esse caráter é incentivado pelos organismos
multilaterais, que dificultam as possibilidades de intervenção dos Estados nacionais na
economia, acentuando a falsa impressão de que as políticas de abrangência nacional não
exercem influência relevante sobre as economias locais e impulsionando a concentração da
atuação pública em políticas de desenvolvimento regional. Essa forma de abordagem pode
ameaçar o processo de desenvolvimento do país, uma vez que as políticas e práticas do
Estado nacional de distribuição de poder entre o nível internacional e as agências sub-
nacionais têm um papel central no processo de articulação, mantendo a integração da
estrutura de governança como um todo. “A ligação entre global e local precisa ser moldada
pelas ações do governo [nacional]” (Archibui; Iammarino, 1999: 263). De fato, as relações
estabelecidas entre as regiões e o mercado global não podem ser entendidas sem levar em
22
Essa defesa dos clusters hierárquicos será mostrada na próxima seção.
30
consideração as políticas nacionais, essas afetam a competitividade dos sistemas locais,
influenciando a sua competitividade no mercado internacional.
1.5 As controvérsias do desenvolvimento endógeno
O principal destaque em termos de distrito industrial encontra-se na assim chamada
Terceira Itália. O sucesso registrado não foi alcançado pela subcontratação sufocante de
pequenas empresas, pela clandestinidade da mão-de-obra ou pela evasão fiscal – embora
esses fatores algumas vezes estivessem presentes, não eram as formas de relação
predominantes – e sim pela conjugação de importantes fatores econômicos e extra-
econômicos, vários deles evocados nos parágrafos anteriores. No segundo pós-guerra,
enquanto o modelo norte-americano de empresas verticalizadas espalhava-se pela Europa, e
muitos distritos industriais definhavam devido ao intenso fluxo humano proveniente das
áreas rurais e dos próprios distritos, cerca de cem destes distritos se revelaram bem
sucedidos e ganharam visibilidade crescente na Itália, um processo não menos intrigante do
que o seu sucesso nos mercados interno e externo (Becattini, 2002).
O que se observa nessas experiências é um marcado contraste com a imagem
tradicionalmente associada às PMEs, que tendem a revelar ineficiência principalmente
quando se encontram debilmente integradas às cadeias produtivas das grandes empresas.
Nos distritos industriais italianos verifica-se que quanto maior a autonomia do conjunto em
relação à integração vertical das grandes empresas, maior a cooperação horizontal entre as
firmas menores, favorecendo a multiplicação regional de projetos, inovações e
empreendimentos produtivos (Becattini, 2002).
Na chamada Terceira Itália, de fato, as redes de PMEs impulsionaram o crescimento
da economia, apresentando um padrão de desenvolvimento bastante distinto do fordismo. O
fordismo incentivava um “ciclo de vida geográfico” (Lipietz, 2001), ou seja, as pessoas,
durante o período de vida em que se encontram ativas, se deslocavam de suas regiões de
origem para as grandes metrópoles à procura de melhores oportunidades de emprego. Os
resultados dessa transitoriedade da mão-de-obra sobre o território nacional e,
posteriormente, a flexibilização das relações de trabalho, manifestaram-se na forma de
desequilíbrios regionais e de desvalorização da mão-de-obra.
31
O modelo de desenvolvimento designado “endógeno”, ao contrário, privilegia as
heranças culturais e o capital social existentes nas regiões. A organização industrial na
forma de distritos industriais combina metas econômicas, como eficiência e flexibilidade, e
metas sociais, como boa remuneração e boas condições de trabalho, participação e eqüidade
(Sengenberger; Pike, 2002).
Foi com base na observação dos resultados positivos provenientes da organização
industrial na forma de distritos industriais na Terceira Itália, com efeito, que Piore e Sabel
(1984) defenderam a “tese” do desenvolvimento “endógeno”, ancorado na forma distrito
industrial, como uma nova forma de desenvolvimento capitalista. Essa tese inspirou
diversos estudos voltados à verificação das possibilidades de tal modelo em outras
realidades históricas e sócio-culturais. Pode-se dizer que o desenvolvimento “endógeno”,
ancorado no funcionamento de arranjos como distritos industriais, acabou por alcançar o
perfil de uma (quase) nova ortodoxia nos anos 1990, no que concerne à reflexão e à
promoção do desenvolvimento.
Sem embargo, o assunto não deixa de ser controverso, pois há autores que divergem
da visão segundo a qual as melhores possibilidades de desenvolvimento industrial
encontram-se incrustadas em estruturas como os distritos industriais. Gereffi, Korzeniewicz
e Korzeniewicz (1994) criticam a discussão recente sobre as transformações observadas na
organização da produção e do consumo, porque esta é frequentemente levada como se as
mudanças emergentes fossem simplesmente requerimentos funcionais ou resultados de um
arranjo social pós-industrial ou pós-fordista. Ao enfatizar a multiplicidade de arranjos
organizacionais, a abordagem de cadeias globais de valor, na qual se inserem estes autores,
identifica essas transformações como um resultado de escolhas estratégicas complexas e
diversas realizadas pelos consumidores, estados e empresas.
Raynolds (1994) desafia os conceitos de fordismo e pós-fordismo como categorias
de análises. Os estudos baseados nesses conceitos defendem que grandes empresas tendem
a ganhar vantagens competitivas por causa de seu maior poder de mercado, mas pequenas
empresas retêm uma margem competitiva por causa da sua maior flexibilidade para
organizar a produção. Porém, grandes empresas são menos rígidas do que geralmente se
imagina porque o tamanho permite que elas implementem inovações de grande escala. Por
32
outro lado, as pequenas empresas são menos flexíveis do que se pensa por causa de sua
restrição de ativos que as tornam particularmente vulneráveis ao ciclo (Gereffi;
Korzeniewicz; Korzeniewicz, 1994).
De fato, Arrighi, Barr e Hisaeda (2001) assinalam que as grandes empresas
adaptaram-se à nova situação competitiva, reduzindo suas hierarquias administrativas e sua
força de trabalho subalterna, e avançando em alianças e negociações informais com outras
empresas (norte-americanas ou estrangeiras, pequenas empresas e com todos os níveis de
governo), às quais foram transferidas atividades antes executadas pelas próprias
organizações. As grandes empresas também recorreram à formação de redes “como um
modo altamente eficaz de descentralizar a produção fora de seus domínios operacionais,
sem reduzir seu controle sobre os mercados e os recursos tecnológicos e financeiros”
(Arrighi; Barr; Hisaeda, 2001: 157). Observa-se, portanto, que as grandes empresas
33
entre iguais; agora, há mais hierarquia, no sentido de que as firmas que se tornaram grandes
estão subcontratando as menores”.
Segundo Sabel (1989), nos clusters do estado alemão de Baden-Württemberg, é
reconhecida a importância das grandes firmas líderes locais, pois estas encaixam uma
multidão de fornecedores de pequeno e médio porte à sua produção, através da
subcontratação. Markusen, em sua revisão sobre os clusters industriais nos EUA, denomina
este modelo de hub-and-spoke
23
. Para esses autores, e ainda para Harrison (1994), os
clusters em que grandes empresas (sejam elas oriundas do próprio cluster ou filiais de
grandes empresas estrangeiras) orquestram a divisão local do trabalho são vistos como uma
forma de organização industrial mais competitiva (Humphrey; Schmitz, 2000: 20).
O desenvolvimento de cluster hub-and-spoke parece ser uma tendência provocada
pelos elevados custos de desenvolvimento de marketing internacional e da formação de
marcas, em ambientes crescentemente competitivos caracterizados pela concentração dos
varejistas. É importante ressaltar que o desenvolvimento desse tipo de cluster não é
condição necessária nem suficiente para a promoção de atualização tecnológica, em alguns
casos, por exemplo, o conservadorismo das firmas dirigidas pelas famílias líderes detém o
desenvolvimento do cluster como um todo (Humphrey; Schmitz, 2000).
Segundo algumas posições, que nesse tema coincide com a aplicação de enfoques do
mainstream, a necessidade de uma adequação radical constitui em geral para um distrito
industrial uma bifurcação trágica, até uma hierarquia definitiva do sistema de produção
principal, que permite o desenvolvimento de formas distintas do distrito, ou até a decadência.
De acordo com outras posições, existe ainda uma terceira possibilidade a de que a adequação
esteja dirigida por uma centralização temporária das decisões estratégicas sobre os
investimentos (Bellandi, 2006: 359).
Conclui-se, portanto, que essa transformação no conjunto de governança em direção
a estruturas mais hierárquicas, em si, não é um sinal de fracasso, existindo uma forte e
legítima expectativa de que a indústria de pequeno porte possa ajudar o processo de
reestruturação, principalmente em países periféricos, representando crescimento econômico
23
“O dinamismo em uma economia hub-and-spoke é associado com a posição dessas organizações âncoras
em seus mercados nacionais e internacionais. Outras firmas locais tendem a ter relações subordinadas com
essas organizações” (Markusen, 1996:302, citado em Humphrey; Schmitz, 2000: 20).
34
e novos empregos. Sendo assim, as experiências européias podem representar lições,
mesmo que se deva ter cautela em relação ao assunto nesses países (Schmitz, 1997).
Um outro posicionamento crítico em relação ao “modelo” distrito industrial refere-
se ao risco da monocultura. Como assinalado, para que as PMEs possam competir em
mercados distantes, a sua concentração geográfica e setorial é um requisito necessário, pois
pequenos fabricantes atuando individualmente, em regra, podem suprir apenas a demanda
local de non-tradables. No entanto, a concentração setorial enseja, ao mesmo tempo,
posições críticas baseadas no entendimento de que a monocultura significa risco,
aumentando a vulnerabilidade da região frente às alterações exógenas em termos de
produto e tecnologia. De todo modo, quando o sistema atinge certo nível de
desenvolvimento, há estímulo à “entrada” de segmentos industriais que, mesmo ligados a
outros mercados, guardam estreita vinculação com o setor de especialização original. Esses
segmentos novos geralmente possuem características tecnológicas e econômicas mais
avançadas, bem como apresentam maior capacidade de inovação tecnológica. Processos
desse tipo permitem ao sistema local galgar posições na divisão espacial do trabalho, em
escala regional e/ou internacional, pois a diversidade vertical, introduzindo etapas
produtivas “para frente” e “para trás” possibilita que as firmas locais controlem o mercado
externo final através de diferenciação do produto, as permite evitar a concorrência, nesse
determinado mercado, através de preços, ou seja, as firmas do distrito diminuem o risco de
serem tomadoras de preço.
Quando o sistema alcança esse grau de complexidade, e as economias externas
passam a ter a sua importância cada vez mais ampliada, a continuidade do sistema se torna
mais autocentrada. Isso permite uma independência gradual tendo em vista que a maior
parte dos recursos utilizados é de origem local. É quando se atinge este ponto que o
processo de desenvolvimento torna-se, por assim dizer, “endógeno” (Garofoli, 1994)
24
.
Conforme Schmitz (1997), “o que faz com que o cluster como um todo se mova
para frente é o fato de que algumas firmas não apenas confiam nas economias externas (...),
mas invistam em relações cooperativas (...), particularmente com seus fornecedores” (p.
187). Para Lipietz (2001), a cooperação com os fornecedores, denotando a preferência por
35
fornecedores locais, é muito importante para o desenvolvimento porque aumenta o que
autor chama de coeficiente keynesiano (efeito multiplicador de um aumento de demanda de
um certo produto local, que significa aumento do emprego local e, na esteira disso,
aumento da demanda local, e assim sucessivamente). Esses são fatores de desenvolvimento
“endógeno”, ao que se pode adicionar, segundo Lipietz (2001), a qualidade do emprego
comunitário.
A questão de fundo, portanto, refere-se às opções de avanço no terreno da
competitividade, se pela via inferior - baseada na exploração do trabalho - ou pela via
superior - baseada nas inovações e na diferenciação do produto. Na opinião de Lipietz
(2001), a natureza das relações industriais permite dividir as regiões em dois tipos. De um
lado, as que abrigam forte qualificação global (de empresários, instituições e
trabalhadores), com salários elevados e permitindo aos assalariados o desenvolvimento de
seu capital humano. De outro lado, aquelas onde a qualificação global é mais fraca, com
flexibilização das relações de trabalho excessivamente agressiva e salários muito baixos
para os menos qualificados. No segundo tipo de região, o desenvolvimento fica
comprometido no médio prazo devido ao baixo nível do capital humano, representando
dificuldades em termos de inovação e de qualidade dos produtos regionais.
A importância da aglomeração de firmas e da governança em nível local para o
sucesso de exportações intensivas em trabalho dos países em desenvolvimento recebeu
evidência nos trabalhos de, entre outros, Nadvi (1997) e Schmitz (1995). Esses trabalhos se
inspiraram muito na literatura e experiência de clusters industriais na Europa, e
incentivaram uma literatura dirigida para a análise de clusters em países subdesenvolvidos.
Nestes estudos, primeiramente os autores mostraram que a aglomeração industrial
em países em desenvolvimento é significativa. Existe uma quantidade crescente de
trabalhos que mostram que os clusters são comuns em uma diversidade de países em
desenvolvimento e setores. Em segundo lugar, os autores perceberam que as experiências
de crescimento de clusters nesses países variam enormemente: de um lado do espectro
estão clusters artesanais com pouco dinamismo e aparentemente incapazes de expandir ou
inovar; do outro lado do espectro, estão clusters capazes de adentrar em uma profunda
24
No próximo capítulo será discutida a possibilidade dessa atualização funcional e setorial ocorrer em
36
divisão do trabalho inter-firma, aumentando sua competitividade e entrando em mercados
internacionais (Schmitz, 1995); e, ao longo desse espectro, é possível verificar uma
variedade enorme de casos intermediários (Knorringa, 1996). Uma terceira observação que
surge desses estudos é que nesses clusters é recorrente a emergência de médias e grandes
empresas, cujo papel na governança local se torna muito importante.
Nadvi e Schmitz (1999) ainda realizaram uma análise comparativa de quatro
clusters de países subdesenvolvidos: Índia (Knorringa, 1999), Paquistão (Nadvi, 1999),
México (Rabelloti, 1999) e Brasil (Schmitz, 1999). Essa pesquisa teve como foco verificar
a reação de quatro aglomerações frente a fortes crises enfrentadas por cada um desses
países, na primeira metade da década de 1990, devido à abertura comercial. Os eventos que
inauguraram a crise são variados, mas os desafios eram similares: necessidade de melhorar
a qualidade, maiores flexibilidade e rapidez. Nesse contexto, os autores procuraram
responder: se a cooperação entre as empresas tinha aumentado em resposta ao desafio
representado pela abertura e; se as empresas que aumentaram a cooperação obtiveram
melhoria de desempenho. Dentro desses aglomerados locais, houve uma constatação
comum a todos esses estudos: as empresas que aumentaram a cooperação obtiveram os
maiores ganhos de desempenho.
Portanto, considerações sobre a possibilidade de transferência do “modelo” de
distritos industriais para países subdesenvolvidos perpassam pela argumentação de Schmitz
(1997), de que na América Latina e em outras regiões existem aglomerações produtivas
especializadas, mas que são bastante distintas dos distritos industriais europeus. Entre
outras coisas, por apresentarem abundância de mão-de-obra, o que induz a um tipo de
competição baseada em baixos salários, em vez de baseada em inovações e melhorias de
qualidade. Entretanto, há igualmente várias aglomerações que dão mostras de inovação e
aperfeiçoamento tecnológico, “exibindo uma competitividade sustentada, inclusive em
mercados de exportação. [Algumas] (...) são notáveis por sua habilidade em enfrentar crises
macroeconômicas” (p. 180).
De todo modo, as maiores possibilidades de aumento de lucro dos empresários
através da compressão dos salários acabam reduzindo as chances de desenvolvimento
aglomerações produtivas de países em desenvolvimento.
37
endógeno baseado no “modelo” dos distritos industriais, motivo pelo qual a problemática
da transferência desse modelo para países periféricos é bastante controversa.
Sobre esse tema existem três interpretações principais, a primeira é o
construtivismo, que defende que o nascimento do distrito industrial pode ser, em alguma
medida, planejado. De acordo com o construtivismo o distrito pode ser simplesmente
clonado: seria suficiente levar a um lugar deprimido, cuja atividade econômica não é
dispersa, uma empresa de médio ou grande porte, que atenda mercados externos e que
descentralize as atividades a alguns fornecedores locais para que o desenvolvimento do
distrito floresça (Bellandi, 2006).
Porém, as outras duas interpretações ressaltam que é importante lembrar que as
características históricas da Itália permitem a formação de um sistema inovativo e que a
história difere entre as diversas localidades. Portanto, na base dos argumentos sobre a
dificuldade de transferência do “modelo” dos distritos industriais para outras realidades
históricas figuram considerações sobre as características históricas e sócio-culturais do
modelo italiano.
Sendo assim, a segunda interpretação sobre esse tema é o determinismo local
(regional). Para essa vertente, cuja expressão principal é Putnam (2000) as tradições cívicas
que propiciaram o desenvolvimento das regiões italianas mais industrializadas se baseiam
na história da Alta Idade Média e do Renascimento italiano. No entanto, algumas passagens
do próprio Becattini, sobretudo quando se dedica à interpretação do caráter do distrito têxtil
de Prato (Becattini, 2005), podem sugerir uma interpretação similar. De forma mais ou
menos explícita podem ser atribuídas a esta posição todas aquelas para as quais o
nascimento de um distrito industrial é o resultado de um longo processo evolutivo que,
frente a uma perspectiva favorável de oportunidades de mercado e tecnológicas, adquirem a
forma distrital (Bellandi, 2006).
Por último, entre as três interpretações principais sobre a replicabilidade dos
distritos industriais em países menos desenvolvidos, surge aquela que defende que existem
sérias dificuldades para a replicação desses distritos, mas estas podem ser superadas, “a
história importa, mas é igualmente importante não se tornar (mentalmente) aprisionado pela
história. Caso se preocupe não em replicar os distritos de forma exata, mas sim em aplicar
38
lições selecionadas, então vale a pena ao menos considerar algumas experiências européias
de distrito” (Schmitz e Musyck, 1994: 897).
A vertente neoschumpeterina defende essa possibilidade de replicação a partir dos
processos de criação, uso e difusão do conhecimento que aparecem associados ao
renascimento do interesse no entendimento da mudança técnica e das trajetórias históricas e
nacionais para o desenvolvimento (Cassiolato; Lastres, 2005). O princípio fundamental de
tal abordagem está em defender que o elemento tecnológico deve ser considerado uma
variável endógena. Abandona-se assim, a idéia de que a tecnologia é uma variável
disponível no mercado, passível de ser adquirida livremente, a partir de políticas
neoliberais, pelos países de desenvolvimento tardio a fim de possibilitar eventuais catching
up. Ao contrário aponta-se que o catching up deve ser perseguido pela rede política
formada por elementos de todos os âmbitos de governo. O foco do caráter localizado (e
nacional) da assimilação, uso e difusão da inovação é reforçado em oposição à idéia
simplista de uma suposta globalização tecnológica (Cassiolato; Lastres, 2005).
Diante dessa situação, Lastres, Cassiolato e Maciel (2003) propõem o avanço no
debate sobre as formas estratégicas de estimular o aprendizado interativo visando ao
desenvolvimento local. Neste caso, privilegia-se a produção baseada na criatividade
humana em vez daquelas baseadas em trocas comerciais e acumulação de equipamentos e
de outros recursos materiais (Cassiolato; Lastres, 2005).
Pode-se concluir, então, que esses processos são fundamentais para atingir a
competitividade pela via-alta, subjugá-los pode levar a políticas despreocupadas que
minariam o desenvolvimento desses processos ao invés de promovê-los, trazendo
conseqüências negativas sobre a capacidade de resposta das firmas dos países em
desenvolvimento perante os desafios proporcionados pelo adensamento do mercado global.
Portanto, a aplicação de políticas deve analisar cada localidade “alvo” de acordo
com suas peculiaridades, e sua posição e papel nos contextos nacional e internacional,
visando avaliar qual deve ser a estratégia mais apropriada para seu desenvolvimento.
Destaca-se, adicionalmente ao entendimento da natureza sistêmica da inovação, as
características das esferas produtiva, financeira, social, institucional e política. A forma
como são criadas e evoluem as capacitações produtivas e inovativas em qualquer país passa
39
a ser compreendida como função do modo como se articulam estas diferentes dimensões e
esferas. Argumenta-se ainda que o enfoque sistêmico permite considerar o modo de
inserção dos diferentes países na economia e geopolítica mundial (Cassiolato; Lastres,
2005). Articular uma estrutura teórica com estas características é justamente o objetivo de
Humphrey e Schmitz (2000) ao propor uma interação entre a literatura das aglomerações
produtivas especializadas e a abordagem das cadeias globais de valor proposta por Gereffi
(1994).
40
41
2. O novo enfoque dado às aglomerações produtivas localizadas: a importância da
governança externa a partir da interação entre a literatura de distrito industrial e a
abordagem de cadeia global de valor.
2.1 Introdução
Muitos formuladores de políticas de países em desenvolvimento vêm conformando
o enfoque de aglomerações produtivas locais a seus esforços exportadores, com o intuito de
responder ao ajuste externo que estes vêm sofrendo nas últimas décadas. No entanto, essa
tendência está sujeita a fortes críticas. Segundo Kaplinsky e Readman (2005), os freqüentes
efeitos negativos oriundos da globalização sobre a renda e o padrão de vida da população
de algumas economias, que participam ativamente no processo de integração global,
exigem maior atenção sobre a forma como é realizada a inserção na economia global. De
acordo com Schmitz (2005), o aumento na atividade de exportação tem sido muito superior
à renda gerada por tal atividade, devido à queda relativa dos termos de troca dos produtos
manufaturados dos países em desenvolvimento quando comparado aos dos países
desenvolvidos.
De fato, em muitos casos, o resultado do novo foco de política de desenvolvimento
e da intensificação da participação dos países em geral, e os subdesenvolvidos em
particular, no comércio externo tem sido o fortalecimento de algumas ilhas de prosperidade,
que se desenvolvem dinamicamente no país e que realizam uma comunicação direta entre o
local e o global (Pacheco, 1998). Aparentemente não há uma intermediação da escala
nacional, sendo esta negligenciada, justamente quando se torna essencial para
contrabalancear os desequilíbrios gerados pela a intensificação da globalização.
Outra ameaça aos países em desenvolvimento é a de se encontrarem presos em uma
“corrida para baixo” na qual a competição se dá com base na redução dos salários, sem
levar em consideração as normas trabalhistas e ambientais e evitando o pagamento de
impostos. Esse tipo de estratégia acarretaria, no melhor dos cenários, um “crescimento
baseado na miséria” (Kaplinsky, 1998, citado em Schmitz, 2005).
Segundo Humphrey e Schmitz (2000), os clusters de países em desenvolvimento
normalmente comercializam produtos que apresentam sinais de aumento da concentração
do comércio global e cujo varejo está nas mãos de companhias transnacionais. Essas
42
companhias coordenam as cadeias que conectam os produtores de países em
desenvolvimento com os mercados dos países desenvolvidos e acabam por “amarrar” tais
produtores em relações quase hierárquicas, que favorecem alguns tipos de atualização
tecnológica, porém impedem outros.
Dessa forma, considerações sobre as mudanças nos sistemas produtivos, nos canais
de distribuição e nos mercados financeiros impulsionadas pela intensificação da
globalização, juntamente com os resultados negativos descritos acima, chamam a atenção
de estudiosos para além das relações intra-aglomerações, que passam a se preocupar com a
governança das cadeias globais.
De fato, normalmente a literatura sobre aglomerações não se preocupa com a
relação entre a governança destas e os canais de distribuição porque tendem a ver o
comprador como um mero escoamento para os produtos locais ou um desafiante que exige
maiores qualidade, flexibilidade e preços mais baixos.
Estudos de caso realizados em países em desenvolvimento, inclusive no Brasil
(Nadvi, 1997; Schmitz, 1995, 1999) revelaram que
a relação positiva e estatisticamente significativa entre aumento de cooperação e melhorias no
desempenho suporta o argumento de que respostas de atualização requerem maior governança
local. No entanto, esses estudos precisam ter seus resultados decompostos: a cooperação entre
firmas costuma ser seletiva e não abrange o cluster como um todo, e algumas formas de
cooperação aumentam mais que outras, a cooperação vertical é muito mais forte que a
cooperação horizontal (Humphrey; Schmitz, 2000: 9).
Dessa forma, observa-se que relações próximas entre produtores e consumidores
influenciam positivamente a inovação de processo e de produto no cluster. No entanto,
produtores que mantém vínculos mais atados com compradores globais se mostram menos
interessados nas iniciativas coletivas locais para reposicionar o cluster no mercado global
(Schmitz, 1999). Em decorrência disso, pesquisas sobre as ligações “para frente” e “para
trás” na economia global foram iniciadas, mas ainda não se explora muito a ligação entre
estruturas de governança local e global e suas conseqüências para a atualização tecnológica
(Humphrey; Schmitz, 2000).
Objetivando cobrir essa lacuna, estes autores passaram a observar como o
desenvolvimento dessas relações internas às aglomerações afeta a inserção destas em
43
mercados globalizados. Ao enfatizarem a importância das relações externas ao cluster, se
preocupam ainda em analisar como a inserção global destes modifica as estruturas de
governança da aglomeração produtiva.
De acordo com Humphrey e Schmitz (2000), a literatura recente sobre clusters
industriais é otimista sobre a possibilidade de alcançar a competitividade no mercado global
através da governança local. No entanto, “a literatura sobre cadeias globais de valor, em
contraste, assinala que os compradores globais governam essas cadeias em que clusters
orientados para exportação operam” (p. 1). No artigo elaborado por Humphrey e Schmitz
(2000), analisa-se a interação entre a governança da cadeia global e a governança local,
questionando se a inserção na cadeia global enriquece ou mina as estratégias locais de
upgrading.
Outros estudos
25
vêm sendo realizados no sentido de integrar a literatura típica
sobre aglomerações produtivas especializadas à abordagem de cadeias globais de valor,
(Gereffi; Korzeniewicz; Korzeniewicz, 1994). Dessa forma, Schmitz (2000) observa que o
desafio não é privilegiar as ligações internas ou externas da aglomeração, mas entender a
interação entre as duas ligações.
Portanto, juntamente com Humphrey, Schmitz (2000), ao fazer essa interação entre
as duas abordagens, distingue as diferentes formas de governança da cadeia global de valor,
as diferentes formas possíveis de upgrading e, a partir disso, os autores defendem que
alguns tipos de governança favorecem formas de upgradings, porém impossibilitam outras.
É dentro desse contexto que o objetivo deste capítulo é mostrar a origem da
abordagem teórica utilizada por Humphrey e Schmitz (2000) para elaborarem uma estrutura
analítica que capta o conjunto de governança inerente a certa região, para então mostrar
essa estrutura analítica e seus desdobramentos subseqüentes.
25
Rabellotti (2001) e Kaplinsky et al (2003) são exemplos de autores que aplicaram essa interligação.
Humphrey e Schmitz (2002) e Gereffi, Humphrey e Sturgeon (2005) são exemplos de trabalhos que
aprofundaram a discussão sobre essa interação teórica.
44
2.2 A abordagem das cadeias globais de valor
2.2.1 As origens da abordagem das cadeias globais de valor
A abordagem de cadeia de valor está englobada na perspectiva teórica de Immanuel
Wallerstein, que analisa o sistema mundial moderno a partir de dois conceitos chave:
sistema histórico e economia-mundo.
O primeiro conceito indica que “a sua base de coesão é formada por redes de
processos econômicos, políticos e culturais que amparam a referida auto-centragem
[relativa autonomia]” e que esses sistemas sociais são cíclicos, possuindo uma delimitação
temporal. Existe ainda uma delimitação geográfica, de fato, a extensão desses sistemas é
indicada pela divisão do trabalho necessária para permitir a reprodução social no seu
interior (Lins; Alves, 2005: 2).
A partir disso, pode-se definir economia-mundo como sendo um sistema histórico
em que redes de produção articulam-se a estruturas políticas e culturais múltiplas
26
. Essas
redes de produção são vastas, desdobradas geograficamente e integradas, com
desigualdades entre os seus diversos elos no tocante às formas de processo produtivo e de
trabalho, aos níveis de remuneração/recompensa e à capacidade de retenção do excedente.
A lógica essencial de funcionamento envolve a desigual distribuição do excedente gerado
nas redes produtivas em benefício dos grupos de agentes que logram alcançar, mesmo que
temporariamente, posições privilegiadas nos fluxos mercantis (Hopkins; Wallerstein,
1987).
A economia mundo é constituída de forma que as suas operações básicas estão
expandindo e contraindo em ritmo regular, análogo a respiração de um organismo vivo.
Esse ritmo pode ser medido por muitos dados econômicos quantificáveis. Ou até por
trajetórias qualitativas: termos de comércio; razões de atividades produtivas intensivas em
capital. De acordo com Hopkins e Wallerstein (1994), duas preocupações impostas pelo
26
Este conceito é uma contraposição ao conceito de império-mundo, que seria uma outra forma de entidade
de grande dimensão temporal e geográfica, em que enormes espaços obtêm apenas uma estrutura política
única (embora os padrões culturais possam ser variados) e sua lógica central de funcionamento é marcada
pela punção, via tributos, de recursos existentes nos círculos de produtores diretos. Tais recursos são
transferidos para o centro do império e redistribuídos entre os funcionários dos quais depende a manutenção
das estruturas imperiais (Lins; Alves, 2005: 2)
.
45
sistema aos empresários normalmente requerem mudanças opostas na organização social e
na localização geográfica: a redução de custos de transação e a redução do custo de mão-
de-obra. Normalmente os custos de transação são reduzidos pela integração vertical e pela
convergência geográfica de nós de uma cadeia (concentração em escala global e
urbanização local). Enquanto os custos de mão-de-obra normalmente são reduzidos através
da subcontratação e dispersão geográfica dos nós da cadeia.
Ainda segundo esses autores, uma cadeia de valor é “uma rede de processos de
trabalho e produção cujo resultado é um produto final”, portanto, em termos de estrutura da
economia-mundo capitalista, “as cadeias de valor devem ser pensadas como a urdidura e a
trama desse sistema social de produção” (Hopkins; Wallerstein, 1994: 17).
As várias cadeias globais apresentam diferentes proporções dos seus processos
produtivos localizados nos países predominantemente centrais ou predominantemente
periféricos, ou em países semi-periféricos. Essas proporções mudam historicamente. Tais
deslocamentos seqüenciais na proporção são ligados ao ritmo cíclico da economia-mundo.
Hopkins e Wallerstein (2000) afirmam que a identificação/delimitação de qualquer
cadeia de valor implica partir de uma mercadoria pronta e remontar o encadeamento de
operações que resultam nesta, um procedimento pelo qual se cobrem os diferentes
segmentos e sub-segmentos da seqüência e se alcançam as atividades ligadas às matérias-
primas iniciais.
Cada segmento ou processo específico realizado dentro de uma cadeia de valor é
representado como caixas ou nós. A primeira coisa que se deve notar sobre um é que
suas fronteiras são socialmente definidas e podem ser, portanto, redefinidas. Os nós podem
ser consolidados ou subdivididos
27
. Essas redefinições são efeitos das mudanças
tecnológicas ou das mudanças na organização social. Portanto, ao construir uma cadeia a
ser analisada deve-se observar cada um de seus nós majoritários e verificar a natureza usual
dos fluxos entre determinado e as operações que ocorrem imediatamente depois e antes
(Hopkins; Wallerstein, 2000).
27
Consolidação: quando em uma cadeia as atividades constituídas em dois nós passam a ser elaboradas em
apenas um nó. Subdivisão: quando as atividades realizadas em um passam a ser elaboradas em dois nós
distintos.
46
Segundo Hopkins e Wallerstein (1994) diversas questões podem ser elaboradas a
respeito desses nós, os autores exemplificam seis destas perguntas, sendo a primeira
relacionada ao seu grau relativo de monopolização.
Um dos processos mais importantes da economia-mundo capitalista é a tendência à direção da
desmonopolização de qualquer muito lucrativo, no entanto isso é contrabalanceado pelas
mudanças tecnológicas e/ou pela redefinição dos limites organizacionais do por unidades
produtivas ávidas para recuperar um nível elevado de lucro (Hopkins; Wallerstein, 1994: 18).
A segunda pergunta diz respeito ao grau de dispersão geográfica; os autores
argumentam que um do tipo central tende a ter suas unidades dispostas em
pouquíssimos países, enquanto os nós periféricos tendem a ter unidades dispersas em
muitos países. O que ocorre é que à medida que o começa a se desmonopolizar este
tende a se localizar em mais e mais países. Uma terceira questão seria sobre o número de
diferentes cadeias de valor que certo participa, quanto maior esse número maior é a
diversificação de suas atividades e menor é o risco. Por exemplo, quando produtores
trabalham para muitos compradores, a melhoria em atividades não associadas com a
produção tem menor probabilidade de ser bloqueada por tais compradores.
A quarta questão seria sobre a organização proprietária associada às unidades de
produção de determinado . Segundo os autores, existem diversas possibilidades, em um
dos nós todos os produtores são pequenos (ou grandes) proprietários, enquanto em outros
pode haver tanto grandes como pequenos proprietários, ou ainda, as unidades produtivas de
determinado podem ser gerenciadas não por proprietários, mas por concessão, por
exemplo. Diante dessas possibilidades é importante lembrar que não necessariamente todas
as unidades de um mesmo apresentam as mesmas características proprietárias.
Um quinto questionamento pode surgir com relação ao modo de controle da mão-
de-obra exercido em certo . Isso pode variar de muitas formas assalariadas de emprego
para várias formas de mão-de-obra escrava e outros tipos de trabalho não assalariado.
Trabalho forçado normalmente é encontrado apenas em nós periféricos. Algumas vezes um
pode exibir diferentes formas de controle de trabalho, enquanto diferentes nós dentro de
uma mesma cadeia de valor tendem a mostrar modos de controle de trabalho distintos. Por
sexto e último, é importante “inquirir sobre as relações entre nós, já que tais vínculos não se
restringem ao comércio de insumos e produtos: por exemplo, se unidades produtivas de
47
diferentes nós pertencem a uma mesma empresa, está-se diante de uma relação marcada por
integração vertical” (Hopkins; Wallerstein, citado em Lins; Alves, 2005:4).
Dessa forma, ao traçar as redes das cadeias de valor, pode-se perceber a divisão e a
integração do processo de trabalho e monitorar o desenvolvimento constante a
transformação da economia-mundo. Pode-se observar, por exemplo, que existe uma
afluência maior de riqueza para os nós “centrais” em detrimento aos nós periféricos, devido
à capacidade das empresas e dos estados centrais em inovar e transferir pressões
competitivas para os países periféricos.
Nenhuma razão teórica obriga a aceitar que as cadeias de valor representam divisões
do trabalho amplamente distribuídas no espaço e que sua existência implica a interconexão
de Estados por meio de relações mercantis. Nada impede imaginar tais redes como
organizadas no interior das fronteiras de um mesmo país (Hopkins; Wallerstein, 2000).
Entretanto, conforme assinalam os autores, a análise histórica mostra que a distribuição
espacial abrangente e a forte interação entre Estados são a regra.
Assim, uma economia-mundo tende a se apresentar como estrutura em que o
sistema interestatal é vazado por um conjunto de processos produtivos integrados ligados
em uma divisão social do trabalho contínua, que fundamentalmente determina o
comportamento social (ação social) dentro de sua arena (fronteiras) ao longo do tempo.
Essas fronteiras são variáveis. As forças em trabalho (em conflito) dentro dessa arena social
se expressam ou fazem emergir várias expressões institucionais não apenas como estrutura
para lugar de trabalho, mas como estruturas políticas e culturais. Uma economia-mundo é
definida como um tipo de sistema-mundo em que as estruturas políticas e culturais são
múltiplas e são menos intangíveis e imediatamente constrangedoras do que as estruturas
locais. Um sistema com múltiplos estados com graus de poder diferentes, ligados em um
sistema interestatal coordenado pelas fronteiras da economia social real, não é um simples
emaranhado de estados, mas uma ordem estruturada por regras e mecanismos (Hopkins;
Wallerstein, 1987). “Mostram-se sugestivas, a esse respeito, as palavras de Braudel (1998),
para quem uma economia-mundo envolve um fragmento do universo, um pedaço do
planeta economicamente autônomo, capaz, no essencial, de bastar a si próprio e ao qual
48
suas ligações e trocas internas conferem certa unidade orgânica” (p. 12 citado em Lins;
Alves, 2005: 4).
Nessa perspectiva de análise, o sistema mundial moderno corresponde a uma
economia-mundo capitalista cujos primeiros passos aconteceram na Europa Ocidental no
início do século XVI. Naquele período, por razões ligadas à longa crise do feudalismo e
também devido aos atributos de cunho histórico e geográfico da região, uma economia-
mundo particular mostrou-se menos frágil do que as que a precederam, subsistiu ao peso
até então esmagador da forma império-mundo, impôs-se diante desta e se consolidou. A
consolidação dessa nova entidade – a economia-mundo européia – foi sustentada pela sua
capacidade de abrigar e favorecer as engrenagens da lei do valor – a infinita acumulação de
capital. Isso envolveu expansão geográfica impelida por processos internos, pois o avanço
deu-se em movimentos cíclicos de incorporação de novas áreas em resposta às necessidades
de desdobramento espacial das cadeias de valor (Hopkins; Wallerstein, 1987). “No bojo de
uma dinâmica que levou de roldão outros sistemas históricos, entre eles impérios, o alcance
da divisão do trabalho ampliou-se crescentemente, permitindo a penetração da lógica
capitalista em diferentes – e não raramente longínquas – esferas” (Lins; Alves, 2005: 5).
É a partir dessa abordagem que Gereffi (1994) elabora o conceito de cadeia global
de valor, com o intuito de captar as transformações da organização espacial da produção e
do consumo na economia-mundo contemporânea. O autor conceitua que “a cadeia global
de valor é um conjunto de redes interorganizacional, agrupado em torno de uma mercadoria
ou produto, que liga consumidores, empresas e estados uns aos outros dentro da economia-
mundo” (Gereffi, 1994: 2).
2.2.2 Caracterização dos dois diferentes tipos de governança na cadeia global de valor
A teoria das cadeias globais de valor, elaborada por Gereffi (1994), possibilita
avaliar quais nós da cadeia produtiva são mais lucrativos e quais agentes da cadeia de valor
os dominam, ou seja, “permite prospecções investigativas sobre dinâmicas industriais
contemporâneas e sobre o envolvimento de países e regiões nesses processos” (Lins; Alves,
2005: 6). Explica ainda a distribuição de riqueza a partir da intensidade relativa de
competição e inovação na cadeia de valor, trazendo um novo foco para a teoria da
49
economia-mundo. Essa nova preocupação “é uma conseqüência dos debates recorrentes
sobre o papel das estratégias empresariais, das inovações schumpeterianas e dos padrões de
competição em modelar a divisão global do trabalho” (Gereffi, 1994: 4).
Ao fazer um paralelo com a teoria da cadeia de valor de Porter (1990), Gereffi
(1994) argumenta que existem muitas similaridades entre a teoria daquele autor e a
abordagem da cadeia global de valor. Ambas as teorias defendem que a cadeia de valor em
que se encontra uma firma é um sistema interdependente ou uma rede de atividades,
conectadas por ligações. Essas ligações ocorrem quando a forma como uma atividade é
realizada afeta o custo e efetividade de outras atividades. Portanto, tanto para a teoria das
cadeias globais de valor de Gereffi, quanto para aquela das cadeias de valor de Porter,
quebrar o processo produtivo em segmentos discretos ajuda a percepção das inovações
organizacionais e as práticas gerenciais necessárias para melhorar a produtividade e a
lucratividade das firmas.
Gereffi (1994) destaca a importância da afirmação de Porter (1987) quando defende
que “o sucesso competitivo em uma indústria global requer que a firma gerencie as ligações
existentes na cadeia global de valor de forma integrada e sistêmica” (p. 30, citado em
Gereffi, 1994: 6). Partindo desse ponto existem dois fatores principais que explicam os
deslocamentos geográficos e organizacionais da produção na cadeia global de valor: a
procura por mão-de-obra barata e a busca por flexibilidade organizacional. Portanto, de
acordo com Gereffi, Korzeniewicz e Korzeniewicz,
Mão-de-obra barata é o que Porter denomina de vantagem competitiva de ordem inferior,
porque é uma base inerentemente instável sobre a qual construir uma estratégia global. Fatores
mais significativos que orientam a competitividade internacional das firmas são as vantagens de
ordem superior tais como a propriedade tecnológica, a diferenciação de produto a reputação da
marca, a relação com os consumidores e o upgrade industrial constante. Esses ativos permitem
que as firmas exerçam um grau bem maior de flexibilidade organizacional e,
consequentemente, criem novas oportunidades assim como respondam a elas, na economia
global (Gereffi; Korzeniewicz; Korzeniewicz, 1994: 6).
Contudo, Gereffi (1994) defende sua teoria argumentando que a abordagem de
cadeia global de valor permite especificar mais precisamente os fatores organizacionais e as
50
mudanças no sistema de produção transnacional, tanto em termos temporais quanto em
termos espaciais, que deslocam a trajetória das estratégias competitivas de firmas e estados.
Para Gereffi, Korzeniewicz e Korzeniewicz (1994) e Gereffi (1999a), a cadeia de
valor tem quatro dimensões principais: a estrutura insumo-produto (um conjunto de
produtos e serviços ligados em uma seqüência de atividades econômicas que adicionam
valor); a territorialidade (dispersão espacial ou concentração de empresas em redes de
produção e distribuição); a estrutura de governança (relações de autoridade e de poder); e a
estrutura institucional (condições presentes em distintas escalas - local, nacional e
internacional e iniciativas de política).
A estrutura de governança é essencial para a coordenação de um sistema produtivo
transnacional e, de acordo com Gereffi (1994), as estruturas de governança que emergiram
nas últimas duas décadas podem se dividir entre dois tipos: comandada pelo produtor ou
comandada pelo comprador. A diferença entre os dois tipos de cadeia global de valor reside
na localização da barreira à entrada-chave.
A governança comandada pelo produtor é aquela em que grandes corporações
transnacionais coordenam de forma centralizada as redes de produção para frente e para
trás. Normalmente essas cadeias são caracterizadas por serem intensivas em capital e
tecnologia como, por exemplo, certas indústrias de bens de capitais, as indústrias de
computadores, automobilística e aeronáutica. Nas formas de industrialização comandadas
pelos produtores, a trajetória da produção modela a demanda. Essas cadeias são
transnacionais e são caracterizadas pela elevada intensidade de subcontratação
internacional de peças e componentes (sobretudo quando a fabricação destes envolve
processos mais intensivos em trabalho). Outra característica desse tipo de cadeia é que elas
registram acordos na forma de alianças estratégicas mesmo entre rivais, entre os quais
geralmente despontam, na condição de líderes, empresas que constituem oligopólios globais. A
lucratividade, para as companhias que organizam e lideram tais redes, deriva sobretudo das
economias de escala e do desenvolvimento tecnológico, esferas nas quais incidem, assinale-se
importantes barreiras à entrada (Lins; Alves, 2005: 7).
As cadeias de valor comandadas pelo comprador são aquelas em que grandes
varejistas, donos de marcas ou importantes empresas de comercialização modelam as redes
51
de produção desdobradas mundialmente de forma descentralizada, implicando uma
variedade de países exportadores geralmente localizados na periferia.
Esse padrão de industrialização é típico em bens de consumo intensivos em mão-de-obra tal
como vestuário, calçados, brinquedos (...) e um número enorme de itens artesanais (e.g. móveis,
ornamentos). A principal função das empresas do núcleo nessas redes é apropriar-se das
atividades de alto valor, como design e marketing, e coordenar as relações entre as outras
atividades (Gereffi; Korzeniewicz; Korzeniewicz, 1994: 7)
.
Por essas indústrias serem muito competitivas nas etapas produtivas, porém
intensivas em design e marketing, existem elevadas barreiras à entrada no nível de
empresas e varejistas com marcas reconhecidas, que investem consideráveis somas no
desenvolvimento de produtos, propaganda e redes de lojas computarizadas para criar e
vender esses produtos. Normalmente, na cadeia de valor comandada pelo comprador a
organização do consumo é o principal determinante de onde e como a produção global
acontece.
Freqüentemente estes compradores globais “não obtêm nenhuma facilidade de
produção própria. Ao invés disso, essas companhias funcionam como mercadores que
elaboram o design e/ou comercializam, mas não fabricam os produtos que vendem e
carregam suas marcas” (Gereffi, 1994: 99). Esses compradores recebem a denominação de
“produtores sem fábricas”, que separam a produção física dos bens e as etapas de design e
marketing do processo produtivo. (Gereffi, 1999a: 4). A produção nessas cadeias de valor
tende a se basear em contratos internacionais firmados entre grandes comerciantes e
unidades fabris independentes (em geral firmas pequenas e médias) que fazem bens
acabados conforme as especificações dos clientes – ao invés de componentes, como ocorre
nas cadeias comandadas pelos produtores (Gereffi, 1994).
A principal função desses compradores é garantir que a interação entre as diversas
etapas da cadeia de valor - seja na produção ou no comércio - se enrede suavemente. Pode-
se concluir que a maior lucratividade nesse tipo de cadeia incide nos “nós centrais” - antes
de tudo nas vendas finais - e refletem o grau de adequação das combinações de atividades, -
cuja coordenação é predominantemente descentralizada - que perpassam as tramas de
relações (Lins; Alves, 2005). As firmas líderes não apenas compram produtos prontamente
disponíveis dos fabricantes ou intermediários com base em relações de mercado. Estes
52
governam a cadeia, especificando o que é para ser produzido, quem deve produzi-lo e
monitoram o desempenho dos produtores. O conceito de cadeia governada pelo comprador
expressa a idéia de que o comprador exerce o controle sobre a cadeia mesmo não obtendo
propriedade sobre cada etapa produtiva que a conforma (Humphrey; Schmitz, 2000).
Uma tendência importante, observada por Gereffi, Korzeniewicz e Korzeniewicz
(1994), é que parece haver, atualmente, um movimento em que se percebe o deslocamento
da manufatura global de cadeias de valor conduzidas pelo produtor para aquelas conduzidas
pelo comprador, principalmente nos setores tradicionais. Como foi afirmado no capítulo
anterior, entre as décadas de 1950 e 1970 ocorreu um processo de transnacionalização
produtiva através de estratégias de desenvolvimento pela industrialização por substituição
de importações. Isso possibilitou a existência de atividades industriais em uma enorme
gama de países em desenvolvimento, o que por sua vez permitiu a intensificação da
subcontratação de empresas de países subdesenvolvidos e a focalização das empresas de
países avançados em suas competências, como, por exemplo, pesquisa de alto valor, design,
vendas, marketing e serviços financeiros, que passaram a funcionar, portanto, como
“compradores” na cadeia de valor.
Portanto, percebe-se que Gereffi (1999a) liga o desenvolvimento das cadeias
comandadas pelos compradores na produção ao aumento da concentração dos varejistas nos
Estados Unidos, e afirma que a mesma tendência é também evidente na Europa.
Em um artigo subseqüente, Dolan e Humphrey (2000) desenvolvem o conceito de
governança em cadeias comandadas pelos compradores, apontando para três diferentes
áreas em que atacadistas podem exercer o controle:
A posição da cadeia no mercado. Supermercados jogam um papel decisivo na
determinação de o que é oferecido para o consumidor. Eles determinam quais
produtos estão disponíveis e quando, e suas características (qualidade;
aparência, embalagem, etc.). Isso envolve uma interpretação das tendências do
mercado e a especificação de quais produtos devem ser produzidos para ir de
encontro com essas tendências. O que pode também envolver a especificação
dos processos que devem ser usados para fabricar os produtos. No entanto,
53
existem situações em que o supermercado dita apenas o que deve ser produzido
e deixa que os fornecedores decidam como produzir.
A estrutura da cadeia. Supermercados do Reino Unido se deslocaram da busca
de produtos através de mercados atacadistas para o gerenciamento atado de
cadeias de fornecimento. As suas decisões-chave influenciam a estrutura da
cadeia como um todo – o tipo e número de firmas envolvidas e a distribuição de
funções entre essas firmas.
O monitoramento e controle do sistema. Os supermercados do Reino Unido
especificam o sistema de qualidade dos fornecedores e os procedimentos de
monitoramento de desempenho. Eles vão também influenciar decisões
especificas sobre quais produtores e exportadores devem ser incluídos ou
excluídos da cadeia.
Dessa forma, a mensagem de Gereffi (1999a) e de Dolan e Humphrey (2000) é
sobre a força da governança exercida na cadeia pelos compradores. O aumento da
concentração dos varejistas na maioria dos países desenvolvidos torna mais provável que
cadeias claramente governadas pelos compradores sejam cada vez mais comuns.
Segundo Gereffi,
a distinção entre a cadeias de valor comandada pelo produtor e aquela comandada pelo
comprador se sustenta no debate que aborda sistemas de organização industrial de produção em
massa e de especialização flexível. A produção em massa é claramente um modelo dirigido pelo
produtor, enquanto a especialização flexível vem sendo semeada, em parte, pela crescente
importância da demanda segmentada e por compradores mais exigentes nos mercados dos
países desenvolvidos (1994: 99).
O autor destaca as distinções de sua abordagem daquela liderada por Piore e Sabel
(1984). Primeiramente, estes autores analisaram a especialização flexível em função das
economias domésticas e dos distritos industriais locais, como sendo, portanto, uma
conseqüência da organização industrial. Além disso, estes autores enxergaram que,
possivelmente, a especialização flexível viria a suplantar a produção em massa. Em
contraposição, a teoria de cadeias globais de valor se foca nas propriedades organizacionais
da indústria global e explica “a emergência de formas de produção flexivelmente
54
especializadas em termos das mudanças na estrutura dos varejistas, que reflete
deslocamentos geográficos e novos imperativos organizacionais”. E uma diferença ainda
mais marcante seria que “as cadeias de valor comandas pelo comprador ou produtor são
vistas como pólos opostos (mas não mutuamente excludentes) em espectro das
possibilidades de organização industrial”, então a emergência da primeira não significa o
definhamento da segunda (Gereffi, 1994: 99).
Gereffi (1994) também aponta a importância das políticas estatais no
estabelecimento de novas formas de relação das indústrias domésticas com a produção
global. “As estratégias de desenvolvimento nacional jogam um papel importante em
estabelecer novas formas de relação no sistema global de manufatura” (Gereffi, 1994: 100).
A partir disso compara a inserção global de países que seguiram a estratégia de
industrialização por substituição de importações e aqueles que optaram pela estratégia de
industrialização orientada para exportação.
Países relativamente grandes e ricos em recursos naturais, onde a produção
industrial era guiada pelas necessidades de extensos mercados domésticos, em geral
adotaram a estratégia de industrialização por substituição de importações (e.g. Brasil,
México, Índia); as empresas estrangeiras internalizadas por esses países, na forma de
investimento direto externo, participam, em sua grande maioria, de indústrias intensas em
capital e tecnologia, ou seja, aquelas comandadas pelo produtor. Nesse caso, os principais
agentes econômicos são corporações transnacionais e empresas estatais. De fato, quando
essa estratégia de desenvolvimento é seguida, normalmente os governos nacionais são
muito intervencionistas, dado que “usam o arsenal completo de instrumentos de política
industrial (...) [e] o Estado, frequentemente, se envolve nas atividades produtivas,
principalmente nas indústrias mais dinâmicas” (Gereffi, 1994: 100-101).
Já a estratégia de desenvolvimento nacional de industrialização orientada para
exportação é adotada principalmente por países pequenos pobres em recursos naturais,
sendo canalizada pelas cadeias de valor comandadas pelo comprador. Nesse caso, a
produção de indústrias intensivas em mão-de-obra se concentra em firmas de pequeno e
médio porte de propriedade doméstica e privada. Gereffi (1994:100) sugere que existe uma
55
correlação positiva “entre o sucesso dessa estratégia e o desenvolvimento de novas formas
de integração organizacional nas redes industriais comandadas pelo comprador”.
Além disso, Gereffi (1994) afirma que normalmente as políticas públicas nesse caso
são direcionadas a dar suporte infra-estrutural às empresas exportadoras, porém sem que
haja uma intervenção direta na produção por parte do Estado. Conquanto, é importante
ressaltar que nas cadeias de valor comandadas pelos compradores, as políticas estatais
sobre o consumo ou sobre a importação do país importador é altamente significativa, tais
como quotas, tarifas e restrições voluntárias a produtos estrangeiros. Portanto, para analisar
as cadeias de valor é importante levar em conta as políticas dos países exportadores e
daquele que participa na cadeia como líder.
Percebe-se, portanto, que essas diferentes cadeias exercem implicações distintas
sobre as estratégias nacionais de desenvolvimento e as conseqüências de diferentes modos
de incorporação na economia-mundo.
Em resumo, a abordagem de cadeia global de valor é histórica já que a força relativa
de diferentes agentes econômicos na cadeia de valor muda ao longo do tempo; é também
comparativa porque os arranjos estruturais da cadeia de valor variam através dos setores
industriais, assim como através de áreas geográficas. O papel dos agentes principais da
cadeia de valor está longe de ser estático. As fontes de mudança estão enraizadas em fatores
políticos e econômicos, além do deslocamento das trajetórias organizacionais de segmentos
distintos das cadeias globais de valor.
Atualmente, por exemplo, observa-se a ocorrência de uma proliferação de fábricas
além-mar na maioria das indústrias de bens de consumo. Os produtos em que os países em
desenvolvimento estão se especializando são aqueles que são comercializados globalmente
e estão sofrendo um processo de concentração contínua e cujos canais de venda estão nas
mãos das companhias transnacionais. Essas companhias coordenam a cadeia que conecta os
países em desenvolvimento com o mercado dos países avançados. A combinação de
aumento da concentração de poder no setor varejista/atacadista e o excesso de capacidade
em fábricas além-mar têm permitido que grandes compradores paguem preços mais baixos
para os bens e que ditem padrões de desempenho mais rigorosos para seus vendedores
simultaneamente. Grandes compradores são agudamente sensíveis a fatores políticos que
56
possam afetar as redes globais de fornecimento e eles normalmente podem alterar as
trajetórias da produção além-mar de acordo com seus interesses (Gereffi, 1994).
Tanto no Sudeste Asiático, como na América Latina e na África, um
desenvolvimento genuíno provavelmente será truncado pelas vulnerabilidades implícitas
em seu papel de exportador nas redes de contratos globais. Os principais ativos dos
exportadores do Terceiro Mundo na cadeia de valor comandada pelo comprador são o
baixo custo de trabalho e as quotas abundantes. Essas são fontes notoriamente instáveis de
vantagem competitiva (Gereffi, 1994).
Até mesmo os benefícios provindos da criação de emprego e do acesso ao comércio
externo podem se tornar passivos quando compradores globais decidem se mudar para
outro lugar devido a considerações políticas ou econômicas de curto prazo. Para o Terceiro
Mundo, só ocorrem benefícios de longo prazo se o impulso exportador se tornar um
primeiro passo em um processo de desenvolvimento domesticamente integrado.
2.3 Análise comparativa entre as abordagens de cadeia global de valor e clusters
28
Segundo Schmitz (2005), em princípio, parece fácil conjugar a literatura sobre as
aglomerações produtivas locais e a abordagem das cadeias globais de valor. Enquanto a
primeira enfatiza a importância dos relacionamentos de empresas locais, a segunda
abordagem sublinha a importância das relações de empresas locais com os seus clientes
globais. Ambas enfatizam a importância de upgrading (atualização tecnológica) para
sustentar a renda diante da crescente competição nos mercados globais, mas os caminhos
para esse mesmo fim são distintos.
A literatura sobre aglomerações produtivas focaliza principalmente na questão da
qualidade dos relacionamentos locais, defendendo que os recursos necessários para a
atualização são provindos principalmente da localidade. Essa abordagem enfatiza a
necessidade de melhorar a cooperação e governança em nível local para atingir níveis mais
elevados de competitividade no mercado. Ligações com o mundo externo são
28
Como já ressaltado na introdução, o termo “abordagem da cadeia global de valor” refere-se aos trabalhos de
Gereffi (1994;1995;1999a) e aqueles de Hopkins e Wallerstein (1987; 1994), anteriores à interação elaborada
por Humphrey e Schmitz (2000).
57
frequentemente lembradas, porém pouco é teorizado sobre tais ligações. De fato, esta
literatura não se preocupa com a relação entre a governança do cluster e os canais de
distribuição, porque o comprador surge como um mero escoamento para os produtos locais
ou um desafiante que exige maiores qualidade e flexibilidade e preços mais baixos. Não há
avaliação sobre a estrutura do mercado em que as empresas competem (Schmitz, 2005).
Quando a discussão perpassa sobre o papel dos consórcios de venda e a provisão de
serviços de exportação se foca principalmente em questões como: a provisão de
informações sobre as regulações em mercados distantes ou a transferência de tendências
anunciadas em países estrangeiros. Esses são tipos de serviços que facilitam transações
reguladas pelo mercado e que permitem que as firmas do distrito conformem seus produtos
com as necessidades de mercados particulares. Deve-se prestar atenção a essa
argumentação porque esta resulta na defesa de que os sistemas de aprendizagem e de
geração de conhecimento estão retidos dentro do distrito (Humphrey, 2003).
Segundo Humphrey, essa idéia de que os distritos industriais são processos
produtivos completos, ou quase completos, é freqüente na literatura sobre distritos
industriais italianos. “É a completude do sistema local de produção, abrangendo ambos os
sistemas de processos de produção e de conhecimento, que dão suporte à inovação dentro
dos distritos. Isso é essencial para o upgrading e a competitividade contínuos” (2003:3).
Mesmo quando as análises de distritos industriais reconhecem que “a divisão do
trabalho entre as firmas internas e externas dos distritos está se tornando mais complexa
(...) afirma-se que o aumento da subcontratação de firmas em outras partes da Itália e
mesmo de firmas em outros países não envolve perdas das atividades estratégicas”. Essa
descentralização não é necessariamente ruim, desde que as atividades de alto valor e
estrategicamente importantes do ciclo de produção sejam mantidos localmente (Humphrey,
2003: 4).
Desta forma, os distritos industriais italianos, em particular, se encontram em uma
posição privilegiada para competir no mercado internacional. O fato de seu posicionamento
nesse mercado estar baseado em conhecimento tácito, confiança e estrutura institucional
difícil de ser replicada significa que suas competências não estão disponíveis aos
58
competidores. Nesse sentido, a globalização faz do conhecimento local um elemento de
competitividade ainda mais importante.
Essa ênfase na importância do local dentro do global se foca principalmente nos nós
centrais de redes globais de produção particulares. No entanto, à medida que os nós centrais
passam a organizar redes de produção muito mais abrangentes, devido à dispersão das
atividades manuais, ou com baixo valor agregado, então quais são as possibilidades
disponíveis às firmas e às aglomerações produtivas especializadas da periferia do sistema?
De fato, de acordo com Humphrey (2003), é importante diferenciar a forma de
inserção de aglomerações produtivas especializadas européias daquela disponível aos
clusters de países menos desenvolvidos. Segundo o autor, é certamente possível encontrar
nesses países aglomerações de pequenas empresas, cooperação inter-firma e divisão do
trabalho e instituições locais nutrindo o seu desenvolvimento. Contudo, quando analisada a
estrutura de governança que recai sobre esses clusters, a diferença entre os distritos
industriais e aglomerações produtivas dos países em desenvolvimento surge ao referir-se à
posição das firmas e aglomerações produtivas de países em desenvolvimento na divisão
internacional do trabalho. O papel dos países em desenvolvimento nas atividades
econômicas internacionalmente dispersas e funcionalmente integradas é a questão chave
para entender suas possibilidades de desenvolvimento. Portanto, é necessário olhar com
cautela a possibilidade de, pelo menos alguns clusters de países em desenvolvimento,
promoverem um upgrading sustentável e melhorar sua renda.
Controvérsias com relação ao caráter positivo ou negativo da influência dos
vínculos externos “para frente” e “para trás” da cadeia produtiva impulsionaram estudos
que visam o aprofundamento dessa questão. Um exemplo desse tipo de estudo é aquele
elaborado por Gereffi (1994) sobre a cadeia global de valor.
Contudo, a abordagem da cadeia de valor, liderada por Gereffi (1994), ignora os
recursos e a governança locais, supõe-se que todos os recursos se originam de dentro da
cadeia. Dessa forma, a atualização tecnológica resulta do “learning by exporting”, da
promoção do comprador em capacitações dos produtores de países em desenvolvimento ou
ao conseguir entrar em uma cadeia de valor cujos consumidores são mais exigentes.
(Humphrey; Schmitz, 2000).
59
Diante dessa comparação surge uma contradição quando atenta-se para as
características do mercado: enquanto a literatura sobre clusters desconsidera a estrutura de
mercado, a literatura sobre cadeias globais de valor, em contraste,
demonstra que o mercado internacional de exportações é extremamente estruturado, e que
empresas globais coordenam as cadeias nas quais as empresas exportadoras locais operam. Em
outras palavras, [na teoria das cadeias globais de valor] destacam-se os temas como poder e
desigualdade existentes nas cadeias globais – que presumivelmente afetam as possibilidades de
atualização tecnológica das empresas locais (Schmitz, 2005: 322).
Humphrey e Schmitz (2000) apontam que a ênfase da abordagem das cadeias
globais de valor – liderada por Gereffi (1994) – cobre as ligações externas das atividades
produtivas sem prestar atenção ao papel das associações patrimoniais locais e das relações
locais inter-firmas para a promoção da competitividade e os processos de modernização. O
próprio Gereffi (1994), afirma que uma das dificuldades metodológicas que surgem da
abordagem de cadeia global de valor é que os estados nacionais não são as unidades de
análise ideais para estabelecer a trajetória de contratação global, já que países individuais
estão amarrados à economia-mundo através de uma variedade de papéis exportadores.
Atualmente a produção ocorre em regiões específicas, dentro de um país, essas regiões
apresentam características sociais e econômicas muito diferentes uma das outras. Onde as
diferentes cadeias de valor “encostam” em cada país é um importante determinante do tipo
de relação de produção que é estabelecida com o varejista. Portanto, pode haver infinitas
formas de contratação internacional em um mesmo país (Gereffi, 1994). O Quadro abaixo
resume as diferenças descritas acima.
60
Quadro 1 – Governança e upgrading: clusters versus cadeias de valor
Cluster Cadeia global de valor
Governança dentro da
localidade
Forte governança local caracterizada por
cooperação inter-fima próxima e instituições
públicas e privadas ativas. Riscos atenuados
pelos mecanismos locais de compartilhamento
de risco.
Não é discutido. Cooperação local inter-firma
e política local largamente ignorada.
Relação com o
mundo externo
Relações externas não teorizadas ou assumidas
como baseadas em transações de mercado.
Forte governança dentro da cadeia. Comércio
internacional crescentemente administrado
através de redes inter-firmas baseada em
relações quase hierárquicas
Atualização
tecnológica
Ênfase em upgrading incremental (learning by
doing) e disseminação de inovações através de
interações dentro do cluster. Para upgrading
descontínuo, centros de inovação locais jogam
um papel importante.
Upgrading incremental se torna possível
devido ao learning by doing e pela alocação,
organizada pelas firmas líderes, de novas
tarefas. Upgrading descontínuo é possibilitado
pela sucessão organizacional que permite a
entrada em cadeias de valor mais complexas.
Desafios
competitivos chave
Promover a eficiência coletiva através da
interação dentro do cluster.
Ganhar acesso a cadeias e desenvolver
ligações com os consumidores majoritários.
Fonte: Humphrey e Schmitz (2000).
O quadro sobrepuja as diferenças e concomitantemente ressalta a existência de
claras limitações de ambas as análises. Com relação à governança, a questão chave de
pesquisa está ligada à interação entre a literatura de cluster e a abordagem da cadeia de
valor. Deve-se reconhecer que os agentes locais chave, frequentemente, operam também
em cadeias globais. Com relação ao upgrading, a análise de cluster subvaloriza a função
dos consumidores estrangeiros como fonte de inovação, enquanto a literatura sobre cadeias
de valor desconsidera o papel dos sistemas locais de inovação. Finalmente, as duas linhas
de análises subestimam os limites para a promoção da atualização tecnológica: se tal
atualização é tão fácil de ser realizada, porque não é permissiva em países em
desenvolvimento?
Sendo assim, a interação entre as abordagens das cadeias globais de valor e a das
aglomerações produtivas especializadas surgiu da preocupação de Humphrey e Schmitz
(2000) em cobrir a lacuna existente entre os estudos sobre as relações intra-cluster e
aqueles sobre as ligações globais. Nessa linha, os autores fazem a interação entre as duas
abordagens, distinguindo as diferentes formas de governança da cadeia de valor e, então, as
diferentes formas possíveis de upgrading disponíveis para as aglomerações produtivas dos
países em desenvolvimento.
61
2.4 Interação entre as abordagens de cadeia global de valor e de cluster
A interação teórica elaborada por Humphrey e Schmitz é fundamentada em dois
conceitos principais: governança e upgrading. De acordo com os autores a governança
pode ser definida de distintas formas. Segundo o trabalho de Jessop (1998) existem dois
conceitos explícitos de governança: o primeiro afirma que governança pode referir-se a
qualquer tipo de coordenação de atividades interdependentes, incluindo a anarquia das
trocas, a organização hierárquica e a tetrarquia; o segundo é mais restrito e significa
tetrarquia, ou seja, organização através de redes. No entanto, Humphrey e Schmitz
argumentam que é possível encontrar um terceiro significado de governança, sendo que
este está implícito no trabalho de Jessop (1998). Neste caso governança se refere à
organização através de relações que não de mercado. “Esta permite a inclusão não apenas
de redes, mas também de organizações mais hierárquicas, como governança corporativa”
(Humphrey; Schmitz, 2000: 4).
É preciso ressaltar que os conceitos de mercado, rede (contratos correlativos) e
hierarquia são aqueles desenvolvidos por Williamson (1989), em que estes elementos são
instituições econômicas que surgem como estrutura de governança. Nessa concepção, o
propósito principal das instituições econômicas do capitalismo é a economia dos custos de
transação – os custos de administração do sistema econômico. Sendo assim, hierarquia (ou
firma) se encontra em um extremo do espectro e o mercado no outro, com inúmeras
matrizes mescladas ou intermediárias.
Fora da firma, os movimentos de preço dirigem a produção, que é coordenada através de uma
série de transações de troca no mercado. Dentro da firma, essas transações de mercado são
eliminadas e no lugar de complicadas estruturas de mercado com transações de troca surge o
empresário-coordenador que dirige a produção (Coase, 1996: 5).
Esse processo de substituição do mercado pela firma ocorre quando os custos de
transação de certa etapa são muito elevados, a empresa escolhe incorporar essa etapa à sua
coordenação interna, ou seja, ocorre uma integração vertical. O quadro 2 mostra
comparativamente os tipos de coordenação de atividades econômicas desenvolvidos por
Jessop (1998), Williamson (1989) e Humphrey e Schmitz (2000).
62
Quadro 2 – Tipos de coordenação de atividades econômicas
Jessop Williamson Humphrey e Schmitz
Anarquia das trocas Mercado Relações de mercado
Organização heterárquica Redes Redes
Quase-hierarquia
Organização hierárquica Integração vertical Hierarquia
Fonte: Humphrey e Schmitz (2000).
A partir da escolha do conceito de governança como organização do sistema
econômico através de relações que não de mercado para elaborar suas análises, Humphrey e
Schmitz (2000) afirmam que a governança se divide em três tipos: redes, que implicam em
cooperação entre firmas que têm graus de poder mais ou menos iguais, onde o comprador e
o fornecedor definem o produto conjuntamente e combinam competências complementares;
quase-hierarquia, que envolve relações entre firmas legalmente independentes em que uma
firma é subordinada a outra; e hierarquia, quando a firma local é apropriada por uma firma
externa. Embora este aspecto esteja implícito no que se indicou, vale destacar que para os
autores o conceito de governança não inclui relações de mercado, em que compradores e
vendedores não precisam colaborar para as definições dos produtos pelo fato de estes serem
padronizados, ou em virtude de os fornecedores os definirem sem referência a nenhum
cliente específico.
Os autores afirmam igualmente que, além das formas de governança privada,
existem as de governança pública, que se originam do conjunto institucional existente,
recaindo a ênfase da abordagem, a rigor, na análise de formas híbridas de governança, ou
seja, com elementos públicos e privados, que formam redes políticas que
incluem associações de negócios, centros tecnológicos, grupos de liderança, associados com
agências governamentais. Implícita ou explicitamente grande parte da literatura que se preocupa
com as estratégias locais de atualização as enxergam como iniciativas promovidas pela rede
política (Humphrey; Schmitz, 2000:5).
No quadro 3 os autores mostram quais são as principais categorias de governança
publica, privada e híbrida, locais e globais, que podem afetar um cluster.
63
Quadro 3 – Tipos de governança das atividades econômicas
Nível local Nível global
Governança privada
Associação local de negócios
Hub-and-spoke cluster
Cadeia comandada pelo comprador
Cadeia comandada pelo produtor
Governança pública
Governo local-regional Regras da WTO
Regras nacionais e supranacionais de padrões
globais
Governança híbrida
Redes políticas locais e
regionais
Padrões internacionais
Campanhas ONG internacionais
Fonte: Humphrey e Schmitz (2000).
Com base nessa distinção, os autores mostram que alguns tipos de governança
favorecem certas formas de upgradings, porém dificultam outras. Não há concordância
completa sobre as possibilidades de a governança das cadeias globais comandadas por
compradores favorecer a atualização tecnológica local. Gereffi (1999a) é otimista sobre
isso, pois assinala que os produtores que ganham acesso às cadeias globais de valor têm
boas perspectivas de passar por atualizações na esfera produtiva e de subsequentemente
avançar em atividades como design, marketing e branding, como conseqüência de uma
combinação de “learning by exporting” e sucessão organizacional
29
. Nessa análise, o
conhecimento flui ao longo da cadeia, e os compradores têm a importante função de
transmiti-lo aos fornecedores. Ora, como indica Schmitz (2005), existe pelo menos quatro
formas de atualização:
Atualização produtiva: realizar melhor determinadas tarefas, como, por
exemplo, reorganizar o processo de produção ou introduzir uma nova máquina.
Diversos autores concordariam com Gereffi que os produtores locais
experimentam avanços significativos na esfera da produção. A integração na
cadeia global auxilia esse processo, pois os produtores locais aprendem
significativamente, com os compradores globais, a melhorar os seus processos
de produção, obter qualidade consistente e elevada e aumentar a velocidade da
resposta. Esse efeito de melhoria é particularmente significativo para produtores
locais que são novos no mercado global. (Humphrey; Schmitz, 2000).
29
Segundo Gereffi (1999a) a “sucessão organizacional” refere-se ao processo pelo qual produtores começam
a produzir para compradores pertencentes a cadeias de baixo valor e que sucessivamente se movem em
direção a segmentos de mercado mais sofisticados.
64
Atualização de produto através da sucessão de compradores: fazer um produto
de melhor qualidade, mais sofisticado ou que simplesmente tenha o menor
preço. Nesse caso, produtores podem começar a produzir para compradores que
abastecem segmentos de mercados menos exigentes e depois se deslocam para
segmentos mais sofisticados. À primeira vista este cenário parece plausível,
porém três aspectos requerem exame mais próximo. Primeiramente, em que
medida esse movimento “para frente” é uma simples conseqüência do processo
de “learning by exporting” ou se pauta sobre um esforço de atualização mais
ativo, por parte dos produtores. Em segundo lugar, essa atualização pode muito
bem conflitar com o interesse de compradores estabelecidos. A busca por novos
fornecedores é raramente possível sem o dispêndio de investimento dos
compradores na capacitação desses novos fornecedores. Quanto maior esse
custo mais provável será a tentativa do comprador de impedir que seus
produtores simplesmente se mudem para outros compradores. Finalmente, a
atualização de produto não necessariamente exige a mudança de compradores,
de fato, o reposicionamento do comprador para outra cadeia fornece
oportunidades de atualização para os fornecedores existentes.
Atualização funcional: deslocamento para novas etapas na cadeia de valor,
como, por exemplo, design e marketing. Em algumas cadeias globais os
compradores desencorajam, quando não obstruem, o desenvolvimento de
atividades como design, marketing e branding pelos produtores locais. De
acordo com Schmitz e Knorringa (2000, citado em Schmitz, 2005), nesse caso,
os fabricantes locais encontram obstáculos, pois tal avanço infringe a
competência central dos seus compradores. Entretanto, serviços ligados à
embalagem, codificação de barra, certificação de qualidade e logística podem
ser internalizados, representando boa oportunidade de atualização funcional para
os produtores locais. Trata-se de um exemplo das forças centrífugas da
globalização refreando as estratégias locais.
Atualização intersetorial: uso das competências adquiridas em uma função
específica para deslocamento em direção a um novo setor. Por exemplo,
65
utilizando competências adquiridas na produção de televisão para produzir
monitores e, dessa forma, ingressar no setor de informática (Schmitz, 2005).
Note-se que essas considerações permitem sublinhar a necessidade de cautela sobre
as oportunidades locais, já que a governança da cadeia global pode criar barreiras para o
processo de atualização local. Se essas barreiras podem ou não ser ultrapassadas, depende
do nível de controle nas cadeias e da disponibilidade de recursos locais para promover a
atualização.
Algumas melhorias auxiliam o reposicionamento do aglomerado produtivo na cadeia global,
outras apenas reforçam a posição existente. A melhoria funcional tem o claro propósito de
promover um reposicionamento vertical das empresas, enquanto algumas formas de melhoria
de produtos têm o objetivo de incentivar o reposicionamento horizontal (ingresso em novos
nichos de mercado). Quando o propósito da atualização é fortalecer a posição estabelecida, os
interesses dos produtores e das empresas líderes [compradores] serão, provavelmente,
semelhantes. Em contraste, quando o objetivo é reposicionar o aglomerado, há maior
probabilidade de conflitos com os coordenadores da rede global (Schmitz, 2005: 323).
Em consonância com a análise dos nós, proposta por Hopkins e Wallerstein (1994),
Schmitz (2005) afirma que é necessário pesquisar se – e de que forma – o poder do
comprador afeta as perspectivas de atualização dos produtores locais. Esse poder pode ser
operacionalizado em termos do grau de concentração existente entre compradores em
determinada cadeia de valor (ou sub-cadeia). Nesse caso, a hipótese é que em cadeias com
um elevado grau de concentração de compradores, o avanço funcional é menos comum do
que em cadeias com um baixo grau de concentração de compradores. Outra sugestão é que
a distinção entre compra direta e fornecimento via intermediários afeta as opções abertas
aos produtores para que progridam na cadeia de valor. Normalmente produtores que
operam via intermediários possuem um maior escopo para ingressar em etapas de maior
valor adicionado na cadeia. Já o controle direto do comprador sobre uma cadeia menos
complexa torna o raio de ação das empresas locais restrito à manufatura. Um terceiro fator
que afeta a capacidade de atualização do cluster é o número de compradores globais que
são abastecidos pelos produtores locais, quanto maior esse número mais chances o cluster
tem de não ter sua atualização funcional obstruída (Schmitz, 2005).
66
Recentemente, Gereffi, Humphrey e Sturgeon (2005) contribuíram para essa
análise, acrescentando os fatores que determinam a capacidade dos produtores locais de
desobstruir obstáculos impostos pela governança global. Portanto, à rigidez do controle
exercido pelos compradores nas cadeias e à disponibilidade de recursos locais para
promover a atualização se une a capacidade de codificação das transações realizadas. Essas
três variáveis jogam um grande papel na determinação de como as cadeias globais de valor
são governadas e como se modificam.
Esse avanço baseou-se na interligação de três literaturas: a literatura da economia
de custos de transação, a de redes de produção e a de capacidade tecnológica e aprendizado
ao nível da firma. A partir dessa construção são introduzidos matizes na noção de redes
como mecanismo de governança, em que Gereffi, Humphrey e Sturgeon (2005)
desdobraram a categoria de redes em três tipos distintos de governança: modular, relacional
e cativa
30
. Dessa forma, a teoria gera cinco tipos de governança na cadeia global de
valor
31
– hierarquia, cativa, relacional, modular e mercado – que se arranjam desde altos
para baixos níveis de coordenação explícita e assimetria de poder.
Quadro 4 – Determinantes chave da governança na cadeia global de valor
Tipo de
governança
Complexidade
das transações
Habilidade
para codificar
transações
Capacitações
da base de
fornecedores
Grau de
coordenação
explícita e de
assimetria de poder
Mercado Baixa Baixa Alta Baixa
Modular Alta Alta Alta
Relacional Alta Baixa Alta
Cativa Alta Alta Baixa
Hierárquica Alta Baixa Baixa Alta
Fonte: Gereffi, Humphrey, Sturgeon (2005).
1. Mercado – Ocorre quando as transações são facilmente codificáveis, as
especificações do produto são relativamente simples e os fornecedores tem a
capacidade de fabricar esses produtos sem muita interferência do comprador, porque
30
O conceito de quase-hierarquia desenvolvido por Humphrey e Schmitz (2000) corresponde à governança do
tipo cativa (Gereffi; Humphrey; Sturgeon, 2005).
31
Existem oito combinações possíveis para as três variáveis. Cinco delas geram tipos de governança na cadeia
global de valor. A combinação de baixa complexidade de transações e baixa habilidade para codificá-las é
improvável que ocorra, o que exclui duas combinações.
67
provavelmente a especificidade dos ativos não será passível de acumulação. Nas
relações dominadas pelo mercado, os compradores respondem a especificações e
preços definidos pelos fornecedores.
2. Modular – Ocorre quando a habilidade para codificar especificações se estende a
produtos complexos. Isso acontece quando a arquitetura do produto é modular e os
padrões técnicos simplificam as interações ao reduzir a variação dos componentes e
ao unificar especificações
68
5. Hierarquia – Ocorre quando as especificações de produto não podem ser
codificadas, o produto é complexo e, ou fornecedores capacitados não podem ser
encontrados, ou as operações envolvidas são consideradas competências
estratégicas. Diante dessa situação as firmas líderes serão forçadas a desenvolver e
manufaturar os produtos internamente, ou seja, a firma se integra verticalmente
(Gereffi; Humphrey; Sturgeon, 2005: 83-88).
Em suma, é necessário compreender as circunstâncias externas que promovem ou
bloqueiam o avanço de produtores locais, e para isso devemos complementar o foco sobre a
eficiência coletiva das empresas locais com perspectivas das cadeias globais de valor.
2.5 Implicações para as políticas públicas
O enfoque nas cadeias de valor fornece dois subsídios específicos para análise do
processo de atualização tecnológica. Em primeiro lugar, mostra que o processo de criação
de valor não é limitado à produção. A segunda contribuição da perspectiva da cadeia de
valor é que um volume crescente do comércio internacional ocorre sob a forma de comércio
explicitamente coordenado entre empresas formalmente independentes dentro de redes, e
não por meio de transação de mercado ou do comércio intra-empresas (Humphrey;
Schmitz, 2000).
Compreender a organização dessas cadeias é fundamental para poder fazer um
julgamento sobre:
Oportunidades para adicionar valor: que tipo de trabalho é alocado para as
empresas da cadeia sediadas em países em desenvolvimento?
Atualização tecnológica: a cadeia permite o aprendizado e a melhoria dos
produtores sediados em países em desenvolvimento?Ao fazer tal julgamento, é
necessário distinguir entre dois tipos de produtores (em estágios incipiente ou
avançado); entre diferentes tipos de aprimoramento (ele é limitado à produção
ou é estendido ao design e ao marketing?); e entre diferentes tipos de cadeias (as
relações entre produtores e compradores são simétricas ou um controla o
outro?).
69
Novos produtores nessas cadeias podem obter ganhos rapidamente, em termos de
melhorias em processos e produtos, porém os produtores mais avançados com ambições de
ingresso em novas funções das cadeias podem descobrir que as suas tentativas são
frustradas pelas relações desiguais de poder. Podem ser obrigados a escolher entre conflitos
nas cadeias existentes ou o deslocamento para novas cadeias onde as relações com os
clientes sejam mais simétricas (Humphrey; Schmitz, 2000).
As pesquisas sobre aglomerados produtivos têm gerado duas principais conclusões
para as políticas públicas:
Aglomerados locais bem-sucedidos não podem ser criados do nada; é preciso
haver uma massa crítica de empreendimentos e capacitações (não importando
quão rudimentares) que as ações de promoção possam mobilizar.
O apoio dos governos aos aglomerados locais funciona melhor quando a política
industrial é descentralizada e construída em torno de parcerias público-privadas
(Humphrey; Schmitz, 2000).
A principal conclusão analítica que emerge da análise das cadeias globais de valor
pode ser assim sintetizada: a capacidade e o escopo para a política industrial local variam
de acordo com a forma como os aglomerados industriais se inserem nas cadeias globais de
valor. Clusters que operam em cadeias globais muito atadas (cativa, modular ou hierarquia)
embarcam em um rápido processo de atualização de produto e de processo, no entanto,
enfrentam dificuldades para realizar progressos em direção a etapas como design e
marketing. Esse tipo de atadura é menos provável em clusters inseridos em cadeias não
hierárquicas como é o caso dos tipos relacional ou de mercado. Nesses tipos de cadeias a
atualização tecnológica não pode ocorrer sem que haja investimento substancial dos
produtores locais e ainda suporte das instituições locais. Para que essa estratégia local
funcione, a posição das firmas locais líderes é crítica: estas se aliam prioritariamente com a
rede política local ou com os seus compradores globais? (Humphrey; Schmitz, 2000)
A construção das redes políticas depende das relações ao longo do eixo público-
privado e, em alguns casos, essas redes precisam ser construídas ao longo de um eixo local-
global. No caso de um aglomerado orientado para a exportação, a rede política necessitaria
incluir agências públicas e organizações privadas (associações empresariais), os
70
empreendedores locais chave e talvez até os seus clientes no exterior. Essa rede política
deve ser mobilizada quando o objetivo é fortalecer a posição existente do aglomerado local
na cadeia global, por exemplo, via melhoria da infra-estrutura local e melhoria das
facilidades para treinamento, teste e certificação (Humphrey; Schmitz, 2000).
Em contraste, se o objetivo é reposicionar o aglomerado progredindo para o design
e o marketing, será mais difícil mobilizar essa rede política, especialmente se o aglomerado
vende para um número pequeno de compradores globais (Schmitz, 2005). Para as políticas
públicas, a conclusão que emerge dessa experiência é que as respostas estratégicas às
pressões competitivas globais não podem depender exclusivamente de ações privadas:
requerem iniciativas de agências públicas como elemento catalisador ou mediador.
Considerando as forças centrífugas da globalização, o potencial para o surgimento
de conflitos entre os agentes locais aumenta. Particularmente em projetos de
aprimoramento produtivo, o conflito é freqüentemente inevitável. “A mediação de política
bem informada é necessária para construir ou reconstruir alianças. Esse papel é
particularmente importante para o Estado “enxuto” que depende do apoio do setor privado”
(Schimtz, 2005: 339). A pergunta é se as agências públicas efetivamente procuram esse
papel de mediadores na condução da política industrial. Assumir esse papel requer
conhecimento de dois tipos: conhecimento do setor industrial em questão e capacidade
política de resolução de conflitos (Humphrey; Schmitz, 2000).
Cassiolato e Szapiro (2003) afirmam que a proposta elaborada pela escola do
Institute of Development Studies (IDS), de fato, apresenta uma ponte interessante ao
sugerir a busca de uma tipologia para aglomerados a partir do entendimento sobre os
processos de governança das relações ao longo da cadeia. No entanto, Cassiolato e Szapiro
(2003) criticam a visão dessa escola por ter como foco a inserção dos aglomerados locais
no processo de globalização.
Para Cassiolato e Szapiro (2003), as análises disponíveis da escola do IDS com
relação aos países em desenvolvimento, apesar de incorporarem importantes elementos
sobre a coordenação das atividades ao longo das cadeias, ainda são extremamente
reducionistas, no sentido de que geralmente: a) limitam as possibilidades de transformação
dos arranjos produtivos locais a uma quase inevitável integração à globalização via
71
exportação de commodities e; b) reduzem as possibilidades desses clusters à participações
em cadeias que são inevitavelmente coordenadas por entidades externas a tais países
(Cassiolato; Szapiro, 2003).
Com relação à primeira crítica realizada por Cassiolato e Szapiro (2003), pode ser
visto no começo desse capítulo, que fundamentos iniciais da teoria sobre cadeias globais de
valor e ainda desdobramentos posteriores não suportam a idéia de que o mercado
internacional é a única alternativa. Cada vez mais pesquisadores pertencentes ao IDS
defendem que produtores locais operando em cadeias globais podem encontrar barreiras
para obter avanços e que melhores oportunidades podem existir em cadeias de valor que
têm alcance nacional ou que se estendem a países vizinhos. Essas cadeias tendem a ser
menos dominadas pelos compradores, as relações produtores-compradores tendem a ser
mais igualitárias e o tamanho das encomendas menores, tornando o processo de
experimentação mais fácil.
Schmitz (2005), por exemplo, inicia seu texto afirmando que devido ao processo de
liberalização comercial que ocorreu nos países em desenvolvimento durante as décadas de
1980 e 1990, a maioria desses países deveria se questionar não se deve se integrar à
economia global, mas como deve se integrar ao mercado global. Nota-se que aparentemente
esses países não têm escolha de participar ou não do mercado internacional, mas que
existem alternativas em termos de forma de inserção.
No entanto, ao longo do texto ao analisar as possibilidades de atualização
tecnológica oferecidas pela inserção em cadeias globais, critica “o debate sobre política
industrial [de muitos países, que] toma como ponto de partida consensual a premissa de que
o foco nas exportações oferece melhores oportunidades de aprendizado. E assim, as
empresas voltadas para a exportação ganham status superior”. O autor defende que as
pesquisas indicam que as empresas que têm os mercados nacionais ou de países vizinhos
como alvo investem mais em design e marketing e têm adquirido capacidades que não
foram desenvolvidas pelos fabricantes que exportam para a América do Norte ou para a
Europa. Talvez essas empresas devessem ser as novas heroínas no debate de política
industrial (Schmitz, 2005: 340).
72
Sendo assim, Schmitz (2005) defende que a política industrial deve dar maior
atenção às oportunidades de avanço que surgem em cadeias nacionais de valor. Os desafios
colocados pelos mercados nacionais ou regionais são, entretanto, consideráveis em razão da
abertura dos mercados às importações – grandes segmentos são caracterizados pela
demanda por alta qualidade, rápida entrega e novos modelos.
No que diz respeito à segunda crítica realizada por Cassiolato e Szapiro (2003),
verifica-se que a escola do IDS atualmente defende que os clusters de países em
desenvolvimento podem participar de cadeias de governança relacional, porém, reafirma
que, de fato, a construção de relações no mercado internacional baseadas nesse tipo de
governança exige muito investimento.
Segundo Humphrey e Schmitz (2000) uma das dificuldades enfrentadas pelos
clusters de países em desenvolvimento é o acesso restrito a recursos que possibilitem o
investimento necessário para o desenvolvimento da governança local, que possibilita um
upgrading mais do que incremental. Para entender tal argumentação é necessário explicitar
duas diferenciações: a primeira é entre os conceitos sistema de produção e sistema de
conhecimento; e a segunda entre os conceitos de uso de conhecimento e mudança de
conhecimento.
Os sistemas de produção podem ser entendidos como aqueles que englobam design do produto,
insumos, materiais, máquinas e trabalho, e ainda transações típicas de bens produzidos a partir
de uma especificação originária de fora do sistema. Os sistemas de conhecimento, por outro
lado, engloba os fluxos de conhecimento, o estoque de conhecimento e os sistemas
organizacionais envolvidos na geração e no gerenciamento de mudanças de produtos, processos
ou organização de produção (Bell; Albu, 1999: 1723).
Os elementos de utilização de conhecimento envolvem manter ou expandir a capacidade usando
os modos de produção existentes, treinar trabalhadores em procedimentos em operação ou
dentro de um cluster, a imitação de técnicas de produção usadas por firmas vizinhas. Os
elementos de mudança de conhecimento envolvem, por exemplo, gerenciar processos de
inovação; em desenvolvimento e design de produtos; ou na busca por seleção, adaptação e
assimilação de novos produtos ou processos tecnológicos de fora do cluster (Bell; Albu, 1999:
1724).
Dentro desse contexto, clusters de países em desenvolvimento adquirem
competências através da inclusão em cadeias globais de valor. No entanto, upgrading
73
envolve mais do que aquisição passiva e circulação de conhecimento adquirido através da
participação em mercados globais (learning by exporting). A entrada em cadeias de valor
caracterizadas pela governança relacional requer investimentos em upgrading e serviços
relacionados dentro do cluster. Em outras palavras, longe de substituir o investimento em
nível local, o desenvolvimento de governança relacional dentro da cadeia de valor depende
dos investimentos em upgrading em nível de firma e/ou de cluster. Mudança de
conhecimento requer recursos específicos como: investimento em pessoas, arranjos e
equipamentos organizacionais (Humphrey; Schmitz, 2000).
Entretanto, raramente o upgrading realizado em clusters muda o conhecimento em
formas mais do que incrementais.
O desafio para clusters de países em desenvolvimento é que, ao se depararem com novos
competidores em mercados globais existentes, eles precisam atualizar seus produtos, precisam
estender a gama de funções que eles realizam e precisam procurar novos clientes. Isso requer
um investimento considerável. No entanto, grandes investimentos em clusters são inibidos pelo
tamanho da estrutura da indústria local, onde clusters são constituídos de uma multidão de
pequenas empresas. Ainda pior, o risco individual e os grandes investimentos são inibidos
porque o conhecimento existente dificilmente é apropriado. Erguer barreiras aos fluxos de
novos conhecimentos em um cluster é próximo do impossível. Mesmo que os empresários não
visitem as fábricas ou os laboratórios uns dos outros, seus empregados giram e se encontram
socialmente, as empresas compartilham fornecedores e clientes e existem outras numerosas
formas pelas quais novas idéias vazam e infiltram. Como então pode ocorrer uma reposição do
cluster em mercados globais? Bell e Albu (1999) argumentam que esse tipo de upgrading pode
apenas ocorrer quando a busca por conhecimento é estruturada, proposital e aberta. Isso
combina conhecimento gerado internamente pelas firmas e instituições com conhecimento
adquirido fora do cluster (Humphrey; Schmitz, 2000: 20).
Não se deve deixar de reconhecer que fatores como a tentativa estratégica e o
ambiente político são determinantes importantes para o upgrading local. A experiência do
Leste Asiático sublinha essa importância. A literatura sobre Coréia, Taiwan, Hong Kong e
Singapura provêm exemplos para inúmeros setores em que firmas locais foram capazes de
passar de produtores de equipamento original (PEO) para produtores de design original
(PDO) e em alguns casos até mesmo produtores com marca original (PMO)
32
. Esse
32
Estudos elaborados por Gereffi (1999b); Hobday (1995); Kishimoto (2000); Lee e Chen (forthcoming)
citados em Humphrey e Schmitz (2000).
74
desenvolvimento gradual corresponde à noção de atualização funcional. As explicações
para esse progresso diferem, porém parecem ter um elemento em comum: a tentativa
estratégica de algumas empresas locais, com esforços conscientes para aprender e vontade
de efetuar os investimentos intra-firma e inter-firma requeridos.
Por que essa tentativa estratégica é mais comum em países do Leste Asiático em
comparação aos países da América Latina? Alguns autores a relacionam com o ambiente
político de suporte, porém, diferenças entre países e entre setores dificultam a
generalização
33
. No entanto, os países do Leste Asiático claramente não sofreram com um
ambiente macroeconômico, como aquele que aleijou o desenvolvimento no Brasil e em
outros países, durante as décadas de 1980 e 1990. Mudanças drásticas e freqüentes na
estrutura de incentivo torna difícil o desenvolvimento e a manutenção de tentativas
estratégicas de atualização. Decisões e percepções de investimento para a atualização são
influenciadas por uma combinação de fatores, como por exemplo, criação de recursos
humanos e estrutura para pesquisa que facilite a inovação e o upgrading. Conclui-se,
portanto, como afirmado no início do primeiro capítulo que as políticas nacionais afetam a
competitividade sistêmica das aglomerações, influenciando a sua competitividade no
mercado internacional. Sendo a competitividade sistêmica calcada em elementos
cumulativos, históricos e idiossincráticos, pode se afirmar que enquanto as atividades
produtivas são crescentemente globais, as atividades estratégicas de inovação continuam
concentradas nos países de origem das firmas líderes globais (Lastres; Cassiolato, 1999).
Com base no que precede, levando em conta as considerações sobre governança nas
aglomerações produtivas e nas cadeias globais de valor, este trabalho concentra-se na
seqüência na problemática relativa às possibilidades das aglomerações produtivas com
vistas a um melhor posicionamento das estruturas local-regionais na dinâmica da
globalização. Isso é efetuado com relação à indústria de móveis instalada em São Bento do
Sul, no norte catarinense. Os focos principais são vislumbrar de que modo a governança
local é afetada pela inserção da localidade no mercado global e como influencia na forma
como a localidade se insere no mercado global.
33
Pack e Westphal (1986); Wade (1990) citados em Humphrey e Schmitz (2000).
75
3. Caracterização da indústria de móveis e estrutura e dinâmica das cadeias globais de
valor de móveis.
3.1 Introdução
Nas duas últimas décadas, significativas mudanças têm sido observadas no setor
moveleiro em escala internacional, inclusive no que diz respeito aos seus principais agentes
externos. Até a década de 1950, esse setor se limitava a atender os respectivos mercados
internos. Desde então, a Dinamarca passou a destacar-se como pioneira no abastecimento
de mercados externos e, com a intensificação do comércio internacional de móveis nos anos
1970, a liderança foi assumida pela Itália; tal posição foi mantida por esse país por mais de
três décadas, tendo sido conquistada pela China em 2004. Os países em desenvolvimento
entraram nesse mercado internacional a partir da década de 1980, apresentando uma
participação mais intensa na década seguinte. Os contínuos déficits na balança comercial
dos países líderes do setor figuraram entre os resultados dessa consolidação. Note-se que
ainda hoje o mercado consumidor de móveis se concentra nos países desenvolvidos, sendo
os EUA o maior consumidor mundial.
O desempenho chinês, acompanhado por outros países em desenvolvimento, chama
a atenção e remete a questionamentos sobre quais fatores vêm possibilitando a ascensão
desses países, rumo a posições no topo do ranking dos maiores exportadores de móveis.
Esse reposicionamento dos agentes da cadeia produtiva de móveis e madeiras pode ser
visto como resultado de transformações tanto na esfera produtiva quanto na esfera de
mercado do setor.
A despeito da intensificação do processo de especialização produtiva, sobretudo nas
duas últimas décadas, que impulsionou os países desenvolvidos a se especializarem em
indústrias de alta tecnologia, a indústria de móveis é um setor importante para muitos
países de economia avançada. Observa-se que, principalmente países industrializados
europeus de superfícies territoriais pequenas, ainda se mantêm presentes nos mercados
internacionais de alguns setores de baixa tecnologia, inclusive no setor moveleiro (Maskell,
1996). Porém, por se mostrar um tipo de negócio com relevante volume, e por ser uma
indústria de transformação tradicional, intensiva em trabalho e em recursos naturais, e
normalmente constituída por pequenas e médias empresas, é principalmente para os países
76
em desenvolvimento que esse setor se apresenta como uma oportunidade, representando
possibilidade para que suas firmas participem efetivamente da economia global. A
liderança chinesa e o aumento da participação dos países em desenvolvimento no comércio
internacional de móveis parecem refletir essa característica do setor. No entanto, segundo
Kaplinsky e Readman (2005), os desafios representados pela globalização e os efeitos
negativos desta em algumas economias ativamente integradas no comércio internacional
exigem uma grande atenção sobre como se dá a inserção na economia global.
3.2 Panorama geral do setor de móveis
3.2.1 Caracterização da indústria de móveis
De acordo com Kaplinsky et al (2003), a indústria de móveis inclui tanto firmas
locais artesanais quanto produtores de grande volume. O setor de móveis de madeira é
dividido em muitos segmentos. A indústria moveleira pode ser segmentada tanto em função
dos usos a que se destinam (residencial, institucional ou escritório), como também de
acordo com materiais com os quais os móveis são confeccionados (madeiras, aglomerados,
plásticos ou metais) (Coutinho et al, 2002). Esses segmentos apresentam nichos distintos
como, por exemplo, os de intensidade em volume, intensidade em design e os sensíveis ao
preço, entre outros. Cabe também a diferenciação em termos do tipo de vendedor final, se
varejistas, atacadistas ou independentes.
77
tubulares e aço plano, e de alguns componentes, como dobradiças, puxadores e corrediças.
A indústria de tecidos e curtumes atua como fornecedora da matéria-prima básica para o
segmento produtivo de móveis estofados (Geremia, 2004).
Figura 1 - Etapas da produção de móveis
Fonte: Geremia (2004).
Portanto, no que diz respeito às matérias-primas, a indústria do mobiliário possui
diferentes processos produtivos e cada um
78
último segmento. A classificação da base de dados de comércio do Sistema Harmonizado
com um nível de desagregação de até oito dígitos divide os produtos em grupos distintos,
que leva em consideração o material com que o produto é feito, a intenção de uso e a
dimensão física do produto. Utilizando esse nível de desagregação Kaplinsky e Readman
(2005) apresentam, no que diz respeito aos móveis de madeira, a seguinte divisão sobre a
intenção de uso: móveis de cozinha, móveis de quarto, assentos estofados com estrutura de
madeira, assentos com estrutura de madeira; mesas para escritório; móveis para escritório
(=< 80 cm altura); estantes para escritório (> 80 cm altura); móveis para sala de estar e
jantar; móveis de madeira para lojas; outros móveis de madeira.
A partir dessas diferenciações, observam-se as diversas mudanças ocorridas no setor
nas últimas décadas. Essas mudanças, em termos de etapas produtivas, englobam não
apenas a introdução de máquinas e equipamentos com dispositivos microeletrônicos e a
reestruturação organizacional protagonizada, como também inovações em termos de
matéria-prima.
3.2.2 Modificações na produção da indústria de móveis de madeira
O padrão tecnológico do setor em nível mundial é determinado pela indústria de
máquinas e equipamentos, sendo que em países como Itália e Alemanha, onde a indústria
de móveis tem acesso direto a esta indústria, o maior desenvolvimento é facilitado.
Assinale-se assim que as “mudanças no processo de produção da indústria [moveleira]
costumam ser incrementais, enquanto as inovações tecnológicas em produtos geralmente
ocorrem através de mudanças no design e uso de novos materiais” (Lanzer et al, 1997: 8).
Dessa forma, os principais fatores de competitividade dessa indústria relacionam-se às
tecnologias, às estratégias comerciais, ao design e à inovação de matéria-prima (Lanzer et
al, 1998).
Ao referir-se às inovações de máquinas e equipamentos, verifica-se que o principal
avanço tecnológico das últimas décadas foi a substituição de máquinas e equipamentos
mecânicos por tecnologias informatizadas de Controle Numérico Computadorizado (CNC)
tanto em máquinas mais simples, tais como serras, tupias, plainas, entre outras, quanto em
79
equipamentos mais sofisticados, tais como centro de usinagem, pantógrafo, coladeira de
bordas, lixadeiras banda larga, seccionadeira (Geremia, 2004).
As máquinas e equipamentos em CNC operam de maneira integrada entre a etapa
do corte e o centro de usinagem. De acordo com Geremia (2004), depois que o lote de
produtos a serem fabricados é definido, lança-se uma ordem de produção no sistema,
gerando assim o plano de corte que é enviado, on line, à seccionadeira. Depois que os
cortes de cada grupo de peças são executados, etiquetas com códigos de barras das peças
são emitidas, por exemplo, à coladeira de bordas, que, então, se auto-regula, para atender as
especificações enviadas. Na seqüência, a peça se dirige para o centro de usinagem, onde
ocorre o mesmo processo de leitura do código de barras e autoregulação para executar a
usinagem da peça em questão.
No centro de usinagem, as máquinas e equipamentos em CNC possibilitam realizar
economia de materiais através de melhor aproveitamento, de maior agilidade e de maior
produtividade, permitindo relativa redução de custos de mão-de-obra e aumento de
flexibilidade, o que confere maior facilidade em efetuar regulações nas mudanças de um
lote para outro. Entretanto, contribuem também para isso as inovações ocorridas em
materiais que, através de novas composições, proporcionaram desenvolvimento de novos
estilos e design.
A principal vantagem competitiva dos países em desenvolvimento, em geral, é o
fácil acesso à matéria-prima. No entanto, muitos países subdesenvolvidos exportam
madeira bruta para países centrais, transferindo, assim, mais vantagens comparativas a estes
países. Além disso, maiores exigências com relação à preservação ambiental induziram a
introdução de inovações de matéria-prima, na década de 1990. As restrições ambientais,
interpostas em escala ampla, forçaram uma diminuição drástica da exploração de madeiras
nobres (Coutinho et al, 2002), possibilitada também pelo desenvolvimento de tecnologia
moderna que reduziu as dificuldades existentes na utilização de madeiras menos nobres.
Assim, tornaram-se cada vez mais utilizadas as madeiras reflorestadas (pinus e eucalipto) e
a madeira aglomerada, o MDF (medium density fiberboard), as chapas e os painéis. Essa
inovação modifica a estrutura da indústria de móveis de madeira e a divide em duas
80
indústrias distintas, aquela que utiliza madeira aglomerada, ou madeira reflorestada, e
aquela que ainda usa madeiras duras.
O MDF é um produto derivado da madeira, constituído de partículas desta, com
melhores condições para substituir a madeira maciça. O MDF possui características
competitivas importantes por ser resistente à umidade e ao calor. Possui facilidade para o
processamento industrial, proporcionando melhores condições de acabamento e
modificações em design, permitindo designs mais sofisticados.
Na fabricação de móveis retilíneos, as matérias-primas predominantemente
utilizadas são chapas e painéis em FF e BP. As chapas em BP são constituídas de madeira
aglomerada de baixa pressão, sua utilização elimina a necessidade de revestimentos, como
tintas, vernizes e folhas de madeira, possibilitando significativa redução de custos. Já o
aglomerado em FF é constituído por chapas, cujas faces são revestidas com folhas de
material celulósico resinado, chapas que também permitem a redução dos custos e do
tempo de produção (Geremia, 2004).
O surgimento de novos materiais permitiu a mistura de diferentes matérias-primas.
Entretanto, apesar da diminuição da dependência das matérias-primas derivadas da
madeira, esta continua sendo a principal matéria-prima para a indústria do mobiliário. A
utilização de novos materiais afetou, por sua vez, as possibilidades do desenvolvimento do
design e possibilitou o surgimento da produção em massa de móveis. Essa estratégia se
tornou viável a partir do desenvolvimento de móveis retilíneos e ready-to-assemble.
Essa inovação de produto mudou a forma do design dos móveis, da manufatura e do embarque
dos produtos em grande quantidade. Firmas que produzem móveis retilíneos em massa
tendem a vender para mercados de preços médios e baixos (...) locais e estrangeiros
(Kaplinsky et al., 2003: 1).
Segundo Gorini (2000), essas transformações influenciaram ainda o mercado
consumidor, tendo havido uma massificação no consumo, especialmente no segmento de
móveis lineares retilíneos (fabricados a partir de painéis de madeira), sendo que neste
segmento, o ciclo de reposição sofreu grande redução nos países desenvolvidos,
aumentando o dinamismo da indústria.
81
As indústrias de móveis seriados são mais rígidas e verticalizadas e o seu grande
diferencial competitivo ocorre em escala. Essas empresas geralmente se concentram em
aglomerações produtivas, como resultado de externalidades proporcionadas pelo espaço
geográfico. A comercialização é feita através de lojas, de catálogos, ou através de grandes
distribuidores atacadistas, o que leva a uma margem de lucro reduzida. O padrão de
concorrência baseia-se na capacidade de introduzir novos produtos, com designs
diferenciados, associado às estratégias de comercialização ligadas a baixos preços. A
reestruturação organizacional permitiu um aumento da flexibilidade produtiva da indústria
do mobiliário, resultando na produção de móveis personalizados e modulados. O processo
produtivo da indústria de móveis de madeira reconstituída, chapas e painéis, é apresentado
na figura 2.
Figura 2 - Fluxograma do processo produtivo da indústria de móveis de madeira
restituída
Fonte: Geremia (2004).
Segundo Geremia (2004), esse é o processo mais usado pelas empresas da indústria
do mobiliário, cujas matérias-primas básicas são chapas e painéis de madeira reconstituída
ou laminada, MDF, aglomerado ou chapas duras.
82
É importante ressaltar que, a despeito das inovações de matéria-prima “os
produtores de móveis de madeira sólida ainda são um importante nicho de mercado que se
direciona para produtos de alta qualidade, caros e com design sofisticado. Esses produtos
especializados tendem a ser negociados localmente” (Kaplinsky et al, 2003: 1). A indústria
de móveis por encomenda apresenta um elevado grau de flexibilidade, cujo principal
diferencial competitivo é o desenvolvimento de produtos de elevado valor agregado e
acabamentos de alta qualidade.
A comercialização desses móveis é, normalmente, realizada sem intermediários, ou
seja, há uma ligação direta entre o fabricante e o consumidor. O elevado grau de
customização desses móveis caracteriza essa indústria como um serviço presente em
praticamente todos os locais. “As tecnologias utilizadas são simples e de fácil acesso,
enquanto que a mão-de-obra é altamente qualificada, quase artesanal” (Geremia, 2004: 58).
Segundo esse autor, quando se observam as etapas produtivas desse segmento da
indústria de móveis, certifica-se que, primeiramente, a empresa recebe as toras ou madeiras
cortadas, secas ou não. Em seguida essas madeiras são destinadas para o processo seguinte
conforme a classificação realizada. Após passar pela serraria, a madeira segue para estufa
para passar pela secagem final. Após a secagem, a madeira é levada para a destopadeira e
para a plaina, etapas onde são realizados os pré-cortes das peças segundo a finalidade a que
se destinam. “O centro de usinagem caracteriza-se como a principal etapa do processo
produtivo realizado neste segmento. Nesta etapa a madeira sofre a maior transformação
passando pela furação e aplicação do design, caracterizando a execução do projeto do
móvel” (Geremia, 2004: 59). Posteriormente os móveis são lixados, e então montados e os
acessórios acoplados. Finalmente, as peças seguem para o processo da pintura. A figura 3
apresenta o encadeamento da produção de móveis de madeira maciça.
Mesmo no processamento de madeira sólida (maciça), os avanços tecnológicos das
máquinas e equipamentos proporcionaram uma redução do tempo de secagem da madeira,
o que diminui os custos e a necessidade de espaços para a armazenagem de peças.
Outra inovação significativa, neste segmento, ocorreu no processo de pintura que, com recentes
desenvolvimentos tecnológicos, proporcionaram redução nos custos de produção e de mão-de-
obra através de mudanças estruturais, como túnel contínuo ou através de novas composições de
83
tintas que resistem a temperaturas diversas, ou ainda a mecanização de algumas partes do
processo de pintura (Geremia, 2004: 70).
Figura 3 - Fluxograma do processo produtivo: indústria de mobiliário de madeira
sólida
Fonte: Geremia (2004)
Conclui-se que a indústria do mobiliário de madeira possui duas formas de
organização do processo produtivo: a primeira é caracterizada pela fabricação de mobília
seriada e a segunda se caracteriza pela produção de móveis sob encomenda. Como pode se
observar, esses dois tipos de estratégia competitiva apresentam inserções, no mercado
internacional, completamente diferentes entre si. Portanto, os dois tipos de processo
descritos acima são considerados duas cadeias de valor distintas.
O estágio da embalagem da mobília é comum aos dois tipos de processos produtivos
descritos acima. À primeira vista pode parecer uma etapa simples, entretanto, exige cuidado
84
especial, de fato é a embalagem que garante a proteção necessária ao produto até o cliente
ou consumidor. As principais dificuldades constatadas referem-se à armazenagem e ao
transporte, principalmente quando existem grandes distâncias envolvidas. Cada empresa ou
segmento enfrenta um leque de opções de diferentes materiais e formas de embalagem
entre as quais deve escolher, dependendo do mercado que pretende atender.
É importante ressaltar que o sistema de produção global observa um crescente
dinamismo dos fatores críticos de sucesso desde os meados de 1980. A redução das tarifas
nos países consumidores resultou em um declínio das barreiras à entrada, porém, o aumento
de formas variadas de certificação trouxe à tona barreiras novas. Essas barreiras estão mais
relacionadas a processos em vez de, como era o caso das tarifas, aos produtos. Elas incluem
padrões de qualidade (ISO 9000), trabalho (SA 8000) e de meio ambiente (ISO 14000 e
padrões específicos do setor de madeira FSC
34
).
Os produtores de móveis não apenas devem desenvolver a habilidade de atualizar os
processos e produtos existentes, mas há uma expectativa de que as firmas proporcionem
assistência para que seus próprios fornecedores se atualizem e proporcionem valor para os
clientes da indústria de móveis. Ainda pode ser exigido que os fabricantes dessa indústria
desenvolvam novas capacidades e que realizem atualizações funcionais, internalizando
etapas como design de produtos e logística, tanto dentro do próprio elo da cadeia em que
estão inseridos como em diferentes elos. Além disso, pode ser necessário que os
fornecedores promovam atualizações intersetoriais, se direcionando para outro setor
relacionado, caso queiram se manter no mercado.
Conforme Gorini (1998), a competitividade da indústria moveleira depende não
somente da eficiência dos processos produtivos, mas também da qualidade, do conforto, da
facilidade de montagem e, sobretudo, do design dos móveis.
A utilização de novos materiais, os novos tipos de acabamento e o design constituem as
principais atividades inovadoras na indústria, ou seja, a mais importante fonte de dinamismo
tecnológico origina-se da inovação dos produtos, uma vez que as tecnologias de processo estão
consolidadas e difundidas e as mudanças tecnológicas são incrementais (1998: 22).
34
Forest Stewardship Council é uma organização sem fins lucrativos baseada em membros associados que
85
O desenvolvimento das formas e funções é de fundamental importância, pois o
design é muito mais que um avanço na estética, significando o aumento da eficiência global
na fabricação do produto (diminuição de materiais e insumos, queda do número de peças e
redução do tempo de fabricação), incluindo práticas que minimizem a agressão ao meio-
ambiente. Assim, o design é a principal estratégia de diferenciação para o mercado e,
internamente, visa à melhoria de processos e redução de custos, integrando engenharia e
marketing.
3.2.3 Modificações na esfera de mercado de móveis de madeira
No que diz respeito às modificações na esfera mercadológica, a tendência à
formação de cadeias globais de valor comandadas por compradores, principalmente nos
setores tradicionais, faz emergir novos agentes também na cadeia de móveis.
Em alguns setores (...) é evidente que compradores globais bloqueiam o acesso dos
produtores a atividades mais lucrativas, tais como design e branding, mas sustentam o
incremento das capacidades produtivas destes. No entanto, os incrementos de capacidades
de produtores independentes não resultam apenas de esforços promocionais de compradores
independentes, mas também da tendência crescente das companhias multinacionais em
externalizar as atividades produtivas e se concentrar em áreas como design, tecnologia,
promoção de marca própria, logística, marketing e serviços pós-venda (Kaplinsky et al,
2003: 7).
Estes autores identificam três diferentes tipos de agentes compradores no mercado
internacional de móveis:
Grandes lojas de departamento, redes de varejistas desdobradas
internacionalmente que compram de um grande número de fornecedores
localizados em numerosos países (IKEA, por exemplo, compra móveis de 2000
fornecedores em 52 países diferentes e tem mais de 300 pontos de revendas em
3 continentes);
Compradores varejistas de menor escala que recebem produtos de um número
pequeno de fornecedores localizados em poucos países; e
86
Compradores especializados que possuem diversos fornecedores em diferentes
países e vendem em apenas um país ou região. Esses compradores podem ter
mais de 1500 fornecedores, localizados em vários países. Até mesmo pequenos
compradores especializados subcontratam, tipicamente, mais de 100
fornecedores (Kaplisky el al, 2003).
As atividades de elevado valor da cadeia produtiva de móveis incluem: atendimento
ao cliente; varejo; distribuição em mercados finais; marketing; design; compras; e
transporte internacional. Como é possível verificar no quadro 5, cada um dos compradores
citados apresenta padrões de atuação nas cadeias das quais participam bem distintos entre
si.
Quadro 5 – Distribuição de atividades realizadas pelos diferentes tipos de
compradores
Fonte: Kaplinsky et al (2003).
Observação: O sombreamento escuro representa a internacionalização exclusiva ou quase exclusiva da atividade, as barras verticais
significam a predominância de internacionalização, o sombreamento claro significa a predominância de subcontratação e sem
sombreamento representa 100% de subcontratação.
A única atividade em comum entre os três tipos de compradores é a compra em si
mesma. As grandes lojas de departamento tendem a apresentar um nível de subcontratação
relativamente baixo, não apenas porque estas têm uma forte presença competitiva em um
leque de atividades ao longo da cadeia de valor, mas porque, por exemplo, no caso da
IKEA, isso inclui ter suas próprias fábricas. Os pequenos revendedores são os que mais
variam o seu leque de atividades, eles tendem a se responsabilizar pela logística e pela
distribuição, contudo, em alguns casos, que envolvem revendedores relativamente
pequenos e fornecedores relativamente grandes, essas funções são assumidas pelos
87
fornecedores de móveis. Os compradores especializados tendem a apresentar um elevado
grau de subcontratação, dado que sua competência principal é comprar e fazer o marketing.
No entanto, algumas vezes eles também elaboram design.
De fato, a atividade de design é realizada de forma distinta pelos diferentes
compradores. Os compradores varejistas não desenvolvem seu próprio design. Já as redes
de lojas varejistas e os compradores especializados ou adquirem seus designs de escritórios
especializados ou investem significativos recursos em pesquisa e desenvolvimento para
elaborar design próprio. De forma geral, estes últimos tipos de compradores procuram
assegurar o domínio das atividades de design, por que o consideram como uma importante
fonte de vantagem competitiva no comércio mundial.
Dessa forma, a logística de distribuição para os principais mercados mundiais (EUA
e Europa) possui algumas particularidades. O mercado de móveis de pinus se caracteriza
pela crescente competitividade via preço e por ser predominantemente dominado por
compradores especializados. Entretanto, esta característica ultrapassa o simples caráter
comercial. Os compradores especializados globais controlam o acesso aos mercados e à
informação e as possibilidades de atualização tecnológica por parte das empresas do
mobiliário. Portanto, os produtores que participam dessa cadeia tendem a não ser
estimulados à atualização tecnológica em etapas da cadeia produtiva que vão além da
produção. De fato, nesse tipo de cadeia, os compradores especializados podem cooperar
com seus fornecedores para que estes implementem inovações nas etapas produtivas, porém
chegam até mesmo a prejudicar qualquer iniciativa destes em direção à atualização nas
etapas de distribuição, marketing e design.
Kaplinsky et al (2003) afirmam que países de baixa renda não tendem a participar
de outras atividades da cadeia que não a produção.
Apenas varejistas independentes de pequeno porte dependem de fornecedores de países de
baixa renda para elaborar o design de seus produtos, cujo mercado tende a ter baixa margem
de lucro e a ser sensível ao preço [...] o único outro caso em que produtores de países de
baixa renda estarão diretamente envolvidos [em atividades fora da produção] é no controle
de entregas para os países consumidores (Kaplinsky et al, 2003: 9).
Dessa forma, percebe-se que, com exceção de países que fabricam produtos de alto
valor agregado e competem no mercado internacional por meio do design do produto e
88
através de estratégias agressivas de promoção comercial (marketing), a concorrência no
correspondente mercado é estabelecida via preço, pois os móveis não diferenciados são
caracterizados como commodities.
Essas mudanças se somam à tendência de desregulamentação comercial dos anos
1990 para impulsionar, de um lado, um forte crescimento desse mercado internacional,
tendo o setor de móveis crescido mais que o resto do comércio de mercadorias como um
todo e, de outro lado, um processo de especialização produtiva que modificou a
configuração da divisão internacional do trabalho.
3.3 Mercado internacional de móveis
3.3.1 Evolução do mercado de móveis
Em 2000, o mercado de móveis era o maior entre aqueles pertencentes aos setores
de baixa tecnologia, ultrapassando até mesmo o setor de vestuário (Kaplinsky et al, 2003).
Em 2004, o valor comercializado foi de U$ 84 bilhões, tendo o crescimento da indústria
atingido a média de 14% anuais desde a década de 1970 até 1999, e de 10% de 1999 a
2004, apresentando-se como o setor de baixa tecnologia com maior crescimento entre os
anos de 1995 e 2000. Além disso, a liberalização comercial intensificou o “processo de
modernização do parque fabril da indústria moveleira dos países em que o setor
apresentava atrasos em comparação com os países líderes” (Scheffer, 2001: 29), o que
favoreceu a participação desses países no comércio internacional.
Como pode ser visualizada na tabela 1, a participação da China corresponde a 15%
da oferta do mercado internacional, sendo esse país o maior exportador mundial do setor. O
segundo maior exportador é a Itália, cuja participação no mercado mundial é de 13%. Em
seguida vem a Alemanha, que corresponde a 9% da oferta mundial, e depois aparecem
Canadá, México, Polônia, Estados Unidos e França. A participação conjunta desses países
representa aproximadamente 62% do total das exportações do mercado mundial.
Entre os países em desenvolvimento, além da China, Polônia, México, Indonésia e
Malásia são os maiores exportadores, representando, respectivamente, 15%, 6%, 5%, 2% e
2% do total comercializado internacionalmente. Taiwan foi o primeiro país em
89
desenvolvimento a ocupar um lugar importante entre os grandes exportadores, mas na
década de 1990 perdeu competitividade por causa dos elevados custos de matéria-prima e
da mão-de-obra, além da falta de trabalho especializado. Em conjunto, os países em
desenvolvimento que se encontram entre os 20 maiores exportadores no mercado
internacional, representavam 20% do total ofertado nesse mercado em 1998 (Coutinho et
al, 1999), participação que em 2004 se elevara para 31% (UNCTAD/WTO, 2005).
Tabela 1 – Exportação mundial de móveis
35
, 2000-2004 (milhões de US$)
Valor
2000
Participação
Mercado
Valor
2004
Participação
Mercado
Crescimento
2000 (%) 2004 (%)
1 China 4.582 7,93 12.619 15,03 175,39
2 Itália 8.474 14,66 10.905 12,99 28,69
3 Alemanha 4.736 8,20 7.279 8,67 53,70
4 Cana 5.179 8,96 5.386 6,42 3,98
5 Polônia 2.191 3,79 4.934 5,88 125,21
6 México 3.315 5,74 4.187 4,99 26,31
7 EUA 4.744 8,21 4.058 4,83 -14,45
8 França 2.353 4,07 2.934 3,50 24,67
9 Dinamarca 1.900 3,29 2.677 3,19 40,91
10 Bélgica 1.711 2,96 2.173 2,59 27,03
11 Malásia 1.596 2,76 1.902 2,27 19,18
12 Espanha 1.453 2,51 1.842 2,19 26,75
13 Áustria 1.035 1,79 1.783 2,12 72,32
14 Reino Unido 1.536 2,66 1.768 2,11 15,13
15 Suécia 1.308 2,26 1.732 2,06 32,43
16 Indonésia 1.518 2,63 1.669 1,99 9,99
17 Rep. Tcheca 780 1,35 1.572 1,87 101,61
18 Holanda 825 1,43 1.152 1,37 39,69
19 Eslovenia 586 1,01 1.099 1,31 87,37
20 Tailândia 949 1,64 0 0,00 -100,00
21 Romenia 445 0,77 1.035 1,23 132,75
22 Portugal 346 0,60 982 1,17 183,97
23 Brasil 496 0,86 951 1,13 91,59
24 Hungria 560 0,97 946 1,13 69,11
25 Eslováquia 286 0,49 755 0,90 164,12
26 Japão 466 0,81 727 0,87 56,03
27 Suíça 593 1,03 646 0,77 8,86
28 Vietnam 232 0,40 0 0,00 -100,00
29 África do Sul 410 0,71 637 0,76 55,27
30 Turquia 177 0,31 605 0,72 241,10
Sub-Total 54.781 94,80 78.956 94,06 44,13
Total - C30 3.007 5,20 4.983 5,94 65,73
TOTAL
57.788
100,00
83.939
100,00 45,25
País
Fonte: OMC-UNCTAD (2005)
90
Os maiores importadores em ordem decrescente são Estados Unidos, Alemanha,
Reino Unido, França, Japão e Canadá, representando, em conjunto, cerca de 71% do total
$das importações. Essas informações podem ser visualizadas na tabela 2. Os países em
desenvolvimento, a despeito de seus grandes mercados internos, apresentam um baixo
coeficiente de importação de móveis. De fato, esses mercados são atendidos quase que
exclusivamente pela produção local, razão pela qual a sua participação no grupo de maiores
exportadores líquidos é muito mais significativa do que a dos países avançados.
35
Os dados da UNCTAD levam em consideração todos os tipos de móveis: de madeira, de metal, de vime ou
de plástico, o nível de desagregação dos dados é de três dígitos.
91
Tabela 2 – Importação mundial de móveis, 2000-2004 (milhões de US$)
Valor
2000
Participação
Mercado
Valor
2004
Participação
Mercado
Crescimento
US$ '000 2000
(
%
)
US$ '000
2004 (%)
1 EUA 20.604 32,87 30.694 32,61 48,97
2 Alemanha 6.266 10,00 8.979 9,54 43,29
3 Reino Unido 3.517 5,61 7.274 7,73 106,83
4 França 3.601 5,74 5.991 6,37 66,40
5 Japão 3.715 5,93 4.635 4,92 24,77
6 Canadá 3.136 5,00 4.106 4,36 30,96
7 Bélgica 1.928 3,07 2.711 2,88 40,63
8 Holanda 1.878 3,00 2.444 2,60 30,10
9 Espanha 922 1,47 2.380 2,53 158,11
10 Suíça 1.604 2,56 2.145 2,28 33,73
11 Áustria 1.438 2,29 1.954 2,08 35,83
12 Itália 985 1,57 1.700 1,81 72,52
13 Suécia 961 1,53 1.612 1,71 67,75
14 Austrália 712 1,14 1.321 1,40 85,36
15 México 1.079 1,72 1.193 1,27 10,60
16 Noruega 715 1,14 1.137 1,21 59,08
17 Hong Kong 1.354 2,16 1.069 1,14 -21,06
18 Dinamarca 690 1,10 1.014 1,08 46,80
19 Polônia 376 0,60 742 0,79 97,25
20 Rep. Tcheca 335 0,53 716 0,76 114,04
21 China 170 0,27 668 0,71 291,59
22 Grécia 219 0,35 618 0,66 182,18
23 Rep. Coreana 236 0,38 616 0,65 161,12
24 Portual 326 0,52 581 0,62 78,39
25 Hungria 266 0,42 531 0,56 99,53
26 Fed. Russa 171 0,27 529 0,56 208,95
27 Irlanda 298 0,47 526 0,56 76,57
28 Finlandia 305 0,49 447 0,48 46,85
29 Eslováquia 153 0,24 404 0,43 163,19
30 Arabia Saudita 315 0,50 0 0,00 -100,00
Sub-Total 58.276 92,96 88.738 94,28 52,27
Total - C30 4.411 7,04 5.388 5,72 22,14
TOTAL
62.687 100,00 94.126
100,00 50,15
País
Fonte: OMC-UNCTAD (2005)
92
Pode-se notar, na tabela 1, que entre os 15 maiores exportadores mundiais, 11 são
países desenvolvidos, sendo que os únicos países em desenvolvimento que aparecem neste
ranking são China, Polônia, México e Malásia. No entanto, os países desenvolvidos são
enormes importadores de móveis, como é visível a partir da tabela 2, sendo que entre os 15
maiores importadores o único país subdesenvolvido que aparece na lista, e ainda assim em
último lugar, é o México. Dessa forma, quando as atenções se voltam para os exportadores
líquidos a situação dos países em desenvolvimento se inverte e estes se tornam maioria,
dado que entre os 15 maiores exportadores líquidos 11 são países em desenvolvimento
(tabela 3).
Tabela 3 – Maiores exportadores líquidos de móveis
Fonte: OMC-UNCTAD
De acordo com Kaplinsky et al (2003), não está clara a regionalização desses
fluxos. Em geral, o rápido crescimento das exportações chinesas e mexicanas reflete o
aumento das importações estadunidenses. A soma do comércio com os EUA e a União
Européia corresponde a 95% e 50%, respectivamente, das exportações da Indonésia e da
País
Valor 2004
milhares US$
% (Exp. liq. do
p
aís/Ex
p
.
1
China 11.950.885 14,45
2
Itália 9.205.777 11,13
3
Polônia 4.191.660 5,07
4
México 2.993.195 3,62
5
Malásia 1.902.171 2,30
6
Dinamarca 1.663.048 2,01
7
Indonésia 1.624.150 1,96
8
Espanha 1.541.313 1,86
9
Cana 1.279.231 1,55
10
Tailândia 953.996 1,15
11
Rep. Tcheca 856.148 1,04
12
Romenia 839.350 1,01
13
Brasil 801.681 0,97
14
Eslovenia 793.383 0,96
15
Vietnam 624.277 0,75
16
Hungria 414.748 0,50
17
Portugal 401.232 0,49
18
Lituania 399.292 0,48
19
África do Sul 382.693 0,46
20
Eslováquia 351.177 0,42
Total 43.169.407 52,20
93
Malásia. A Polônia e a Espanha são fornecedores europeus que, devido aos custos
relativamente baixos, suprem os mercados da União Européia.
Além disso, não basta apenas analisar as participações de mercado com elevado
nível agregado para entender o que vem ocorrendo em termos competitivos na indústria de
móveis. É necessário verificar se os fatores competitivos, que permitem que cada um dos
países participantes desse mercado aumente a sua participação relativa, são de caráter
espúrio ou autônomo, ou seja, se são baseados na inovação ou na compressão de salários ou
má utilização dos recursos naturais (Kaplinsy et al, 2003).
3.3.2 Upgrading e Downgrading da indústria de móveis
Kaplinsky e Readman sugerem uma análise dinâmica da capacidade relativa de
inovar de diferentes países, que deve ser mensurada através das estatísticas de comércio
internacional. De acordo com os autores existe uma diferença entre inovar e promover o
upgrading. Inovar é a capacidade de produzir alguma coisa nova ou com maior eficiência,
enquanto, promover o upgrading significa inovar mais rápido e melhor do que os
competidores. “É a capacidade de promover o upgrading ao invés de simplesmente inovar
que, principalmente, determina a sustentabilidade do crescimento da renda” (2005: 21).
Esses autores propõem uma medida para identificar a capacidade de upgrade,
composta pelo preço unitário do produto em questão e a participação de mercado de cada
um dos países no mercado internacional de móveis. A combinação entre estes dois
indicadores e a análise de sua mudança ao longo do tempo, considerando um nível de
desagregação das estatísticas internacionais de oito dígitos, possibilita que os autores
vislumbrem o processo de upgrading de diversos países.
Kaplinsky e Readman (2005) analisam dados, do período entre 1989 e 2001, que
lhes permitem dividir a indústria de móveis de madeira em 11 segmentos distintos. Através
dessa análise, realizada a partir das estatísticas demonstradas na tabela 4, os autores
concluem que:
Na década de 1990, ocorreu uma queda de 36% no preço unitário do setor;
94
Há uma tendência em direção a um preço unitário mundial em sete dos onze
segmentos analisados, ou seja, os preços de produtos fabricados em diferentes
tipos de economias vêm convergindo;
Há um aumento da dispersão do setor. Em 1989, apenas 28 países tinham mais
de 1% de participação no mercado em pelo menos um dos segmentos
analisados, em 2001 esse número subiu para 48 países;
Os países em desenvolvimento estão aumentando a sua participação no mercado
externo. No período observado pelos autores, o número de países de baixa renda
que possuíam no mínimo 1% de participação em um dos 11 segmentos mais que
dobrou, de 11 países em 1989, o número aumentou para 28 países em 2001.
Tabela 4 – Tendência do preço unitário e número de países que possuem 1% de
participação nas importações para a União Européia, 1988 e 2001
Fonte: Kaplinsky e Readman (2005)
Nota-se, portanto, que houve mudanças bastante significativas no setor. Esses dados
indicam uma intensificação da competição global dessa indústria. Isso pode ser percebido a
partir do forte aumento no número de países que participam do mercado externo e da
tendência a um preço unitário global e decrescente. Essa queda nos preços indica que a
expansão desse setor ocorreu de forma extensiva (mais do mesmo) e em oposição à forma
intensiva (novos produtos) (Kaplinsky; Readman, 2005).
Variação
do preço
1988-89 2000-01 1988-892000-01
1989
2001 1989 2001
1
Móveis de cozinha
3.63 2.51
-31
4.26 1.83 15 14 2 4
2
Móveis de quarto
2.34 1.94
-17
2.36 1.74 18 25 6 11
3
Assentos estofado
7.38 4.42
-40
4.03 3.16 19 26 6 12
4
Assentos com estrutura de madeira
3.26 3.06
-6
2.77 4.44 24 31 10 18
5
Mesas para escritório
3.13 2.51
-20
4.23 2.16 19 19 5 6
6
Móveis para escritório (=< 80 cm altura)
4.41 2.68
-39
3.84 2.41 19 25 3 7
7
Estantes para escritório (> 80 cm altura)
4.09 3.09
-24
1.76 1.9 14 18 1 6
8
Móveis para escritório ( > 80 cm altura)
3.52 2.88
-18
2.48 2.5 17 20 2 4
9
Móveis para sala de estar e jantar
3.26 2.07
-37
3.32 1.99 20 35 6 18
10
Móveis de madeira para lojas
5.31 4.73
-11
2.51 4.64 14 23 1 7
11
Outros móveis de madeira
2.9 2.19
-24
2.47 2.44 23 31 8 16
Todos móveis de madeira
2.72 2.17
-20
28 48
11 28
No. total de
países
emergentes
No. total de
países
exportadores
Desvio Padrão
Média do preço
unitário
95
Portanto, o aumento do número de países produtores de móveis e a queda do preço
unitário no mercado internacional mostram o aumento da dispersão geográfica dos nós
produtivos da indústria moveleira e um processo de desmonopolização desses nós em
andamento. Além disso, percebe-se que entre os 20 países que começaram a participar do
mercado internacional de móveis na década de 1990, 17 são países em desenvolvimento.
Portanto, esse aumento da dispersão corrobora com a tese de Gereffi (2000), de que a
industrialização de países menos desenvolvidos e a liberalização comercial permitiram que
os países desenvolvidos passassem a subcontratar dos países em desenvolvimento as etapas
produtivas da fabricação de móveis. É importante ressaltar que para fundamentar essa
afirmação, serão apresentados casos específicos de diversos países na próxima subseção.
Ao analisar estes dados conjuntamente com aqueles de participação de mercado,
pode-se chegar à matriz demonstrada na figura 4.
96
Figura 4 - Posição de upgrading dos países com no mínimo 1 % de participação de
mercado para os 11 sub-setores de móveis de madeira
Fonte: Kaplinsky e Readman (2005)
Obs.: Os números apresentados representam a quantidade de sub-setores nos quais os respectivos países estão: no quadrante dois, em uma
situação de upgrading; no quadrante quatro, em uma situação de downgrading; e nos quadrantes um e três estão em situações ambíguas.
De fato, não há como extrair afirmações conclusivas sobre a situação de upgrading
ou downgrading no setor de móveis de madeiras dos dados apresentados acima, no entanto,
pode se delinear algumas predições razoáveis (Kaplinsky; Readman, 2005). De fato, o
quadro apresenta apenas uma situação de upgrading produtivo, pois só leva em
97
considerações etapas de manufatura, ou seja, os fatores de competitividade considerados
pelos autores não engloba etapas anteriores e posteriores à produção. Dessa forma, estas
informações podem contribuir como base para estudos mais detalhados de cada um dos
países participantes desse mercado externo, uma vez que este trabalho considera
importantes outros fatores de competitividade, além daqueles utilizados por Kaplinsky e
Readman (2005). O quadro acima distingue claros casos de upgrading de casos de
downgrading e as categorias ambíguas.
No entanto, estes dados precisam ser complementados com maiores detalhes sobre a
estrutura industrial dos diferentes países (Kaplinsky; Readman, 2005), a competitividade
em etapas como design, marketing e branding, as relações de trabalho, a participação do
governo, as interações entre agentes internos e estes e os agentes externos que influenciam
a competitividade dos sistemas produtivos. A análise comparativa das vantagens
competitivas entre países distintos, não deve ser realizada sem considerações mais
profundas desses sistemas como um todo (Kaplinsky; Readman, 2005). É por isso, que
passa a se analisar, as peculiaridades da indústria de móveis de alguns países importantes
no palco do comércio internacional.
3.3.3 Indústria moveleira de diferentes países
Para a realização dessa subseção foram selecionados seis países, além do Brasil: três
desenvolvidos e três em desenvolvimento. Entre os países desenvolvidos se encontram:
1. A Itália, que por ter sido líder em exportações durante trinta anos e por ser o caso
paradigmático no que diz respeito às aglomerações produtivas especializadas;
2. A Alemanha, por também ser uma região que apresenta forte presença de
aglomerações produtivas especializadas, no entanto, do tipo hierárquica; por estar
entre os maiores exportadores de móveis há vários anos; por ser o segundo maior
importador desse produto; e por mostrar uma forte tendência ao downgrading; e
3. Os EUA, por ser o maior importador de móveis do mundo e por suas empresas
moveleiras apresentarem uma forte tendência de subcontratação internacional e
estarem se especializando em design, marketing e branding.
98
Os três países em desenvolvimento, além do Brasil, a serem analisados são os três
maiores exportadores de móveis entre os países subdesenvolvidos
36
. Estes são:
1. A China, por ser a maior exportadora de móveis do mundo; por apresentar uma
grande velocidade de crescimento da sua participação no mercado internacional de
móveis; e por ter padrões competitivos muito próximos das empresas brasileiras no
mercado internacional;
2. A Polônia, por ser um país do Leste Europeu, tradicional fornecedor de móveis para
os outros países europeus, que após a crise da União Soviética perdeu sua
competitividade no mercado internacional, mas que no atual momento vêm
recuperando esse mercado devido à qualidade e à sofisticação de seus produtos;
3. O México, por ser um grande exportador, que atende o mercado da Nafta,
principalmente o mercado dos EUA, sendo que nesse mercado concorre com o
Brasil; e ainda porque a estrutura da indústria moveleira mexicana é muito próxima
a do Brasil.
Destaque-se que, devido à dificuldade para encontrar dados sobre a indústria
moveleira, não houve possibilidade de abordar as características dessa indústria de cada um
dos países selecionados de forma homogênea.
3.3.3.1 – Itália
A competitividade dos móveis italianos é atribuída à sua estrutura industrial
extremamente fragmentada, que conta com aproximadamente 39 mil empresas altamente
especializadas e desverticalizadas. Dentre essas empresas, 30 mil operam com menos de 10
empregados. Normalmente, estas microempresas fornecem peças e componentes para
grandes empresas. Firmas desse porte são raras, segundo Florio, Peracchi e Sckokai (1998)
36
Além desses quatro países em desenvolvimento, apenas a Indonésia e a Malásia se encontram entre os 15
maiores exportadores de móveis em 2004. No entanto, houve dificuldades de encontrar material sobre esses
países, principalmente no que diz respeito a distribuição geográfica da produção de móveis, os destinos dos
móveis e o tamanho das empresas que compõem essa indústria em ambos os países. Esses países competem
com o Brasil, o México e a China no mercado internacional, no entanto, suas vantagens competitivas se
baseiam no elevado grau de informalidade das relações de trabalho e das empresas e da extração ilegal da
madeira.
99
existem, na Itália, apenas seis empresas de grande porte. No entanto, ao analisarem a
distribuição da indústria de móveis na Itália estes autores, desconsiderando aquelas com
menos de 20 empregados, a grande maioria da indústria de móveis italiana, apresentam a
seguinte tabela.
Tabela 5 – Porte das empresas de móveis na Itália em 1997
Porte das empresas No. de empresas Participação
20-49
1428 74,7
50-99
330 17,3
100-199
106 5,5
200-499
42 2,2
500 ou mais
6 0,3
Total
1912 100
Fonte: Stati (citado em Floreo; Peracchi; Sckokai, 1998).
Essas empresas maiores, em geral, dedicam-se basicamente ao design e à montagem
de móveis, estão voltadas para o mercado externo e atuam com estratégias bastante
agressivas. Portanto, essas empresas são velozes inovadoras de produto. Dessa forma, a
Itália é líder em design e tem uma enorme indústria manufatureira e exportadora.
O mercado italiano de móveis é bastante exigente com relação a inovações de
design. Esse mercado é o segundo maior da Europa, representando em torno de 17% do
mercado europeu; o consumo doméstico ultrapassou os US$ 15 bilhões, ou US$ 272 per
capita em 2004, estando este último bem acima da média européia (CBI, 2006). A maior
parte desse mercado é atendida por empresas nacionais, de fato, as importações, em 2004,
somaram US$ 1,7 bilhões (OMC/UNCTAD, 2006). Isso significa que o país apresenta um
coeficiente de importações de móveis mediano equivalente a 14,3% do consumo.
O aumento desse coeficiente vem ocorrendo devido à internacionalização de
algumas etapas produtivas promovida pelas empresas italianas em busca de menores custos.
As exportações de partes de móveis desse país aumentaram em 6% entre 2001 e 2003 (CBI,
2006). A subcontratação em outros países é evidenciada pelo seguinte fato: em 2003, 40%
das importações italianas foram compostas por partes de móveis ou móveis inacabados. As
importações de partes são provenientes principalmente de países europeus, tais como,
Áustria (14%), Eslovênia (9%) e Alemanha (8%). Esses dados mostram-se de acordo com a
100
tendência, observada por Gereffi (1994), à focalização das empresas dos países
desenvolvidos em etapas como design, marketing e branding.
O gráfico 1 mostra a distribuição das importações italianas de móveis. Como pode
se perceber, tais importações são bastante pulverizadas e há uma forte participação dos
países em desenvolvimento entre os exportadores de móveis para a Itália.
Gráfico 1 – Distribuição das importações italianas de móveis em 2003
Alemanha
10%
Romênia
9%
Indonésia
6%
França
5%
Suíça
5%
Outros
32%
Áustria
12%
China
11%
Polônia
5%
Espanha
5%
Fonte: CBI (2006).
Já no que diz respeito ao coeficiente de exportação, este é bastante elevado, sendo
que as exportações correspondem a 51% da produção doméstica. A produção atingiu US$
19 bilhões em 2004, sendo US$11 bilhões provenientes das exportações (CBI, 2006;
OMC/UNCTAD, 2006). Os distritos industriais italianos de móveis são competitivos em
todos os segmentos da indústria moveleira, no entanto, suas especialidades são os móveis
para dormitório e para salas de jantar e estar (inclusive assentos estofados). Suas empresas
têm acesso direto à indústria de máquinas e equipamentos especializados. Isso aumenta a
velocidade da inovação de processo. Essa capacidade de inovar com velocidade é uma das
armas competitivas dos distritos industriais italianos de móveis. Porém, o país também
apresenta desvantagens competitivas, sendo a principal delas a sua dependência de matéria-
prima importada, já que o país é importador líquido de matéria-prima. Exceto pela falta de
matéria-prima doméstica, a Itália possui todas as outras etapas da cadeia de valor de móveis
em seu interior: design, produção, distribuição, marketing e branding.
101
A maior parte da exportação de móveis italianos ocorre no comércio intra-europeu,
principalmente dentro da União Européia. Dentre os países que compõem a União
Européia, os maiores importadores de móveis da Itália são a França e a Alemanha, o
restante é enviado para o Reino Unido, o Leste Europeu, países que compõem a NAFTA,
países asiáticos ou localizados no Oriente Médio (Gráfico 2). A composição das
exportações de móveis italianos é bastante volátil apresentando variações ano a ano (Florio,
Peracchi e Sckokai, 1998).
Gráfico 2 – Exportação dos móveis italianos em 1996
Uno Européia
54%
Leste Europeu
14%
Reino Unido
5%
Oriente Médio
5%
Ásia
6%
Outros
4%
Nafta
12%
Fonte: Elaborazione Federlegno-Arredo su dati Istat (1997)
O distrito de móveis mais antigo da Itália é o de Brienza, que surgiu na metade do
século XIX e engloba 45 municípios, tem aproximadamente 6,5 mil empresas e mais de 30
mil empregados. Sua participação na produção total da indústria de móveis italiana e
européia é, respectivamente, 18,5% e 5,2%. Grande parte da produção de Brienza é
constituída por móveis sofisticados. Este distrito possui desde pequenos produtores até
grandes empresas de marca renomada, que são as principais responsáveis pela exportação
dos móveis de maior valor agregado.
Na tabela 6 apresenta-se a distribuição regional da indústria de móveis italiana. A
figura 5 mostra o mapa que contém todos os distritos industriais italianos, sendo os pontos
marcados em azul escuro aqueles que se referem à indústria italiana do mobiliário.
Tabela 6 -Distribuição regional da indústria
de móveis italiana em 1996
Distrito líder no
setor de móveis
No de
Empresas
No. De
empregados
Brienza 6,356 31,979
Total
Lombardia
8,946 44,153
Pesaro e Urbino 1,309 11,337
Total Marche
2,128 17,671
Veneto 7,018 49,512
Friuli 1,777 22,765
Trentino 594 3,473
Total Triveneto
9,389 75,75
Firenze 1,025 3,975
Pisa 803 3,217
Total Toscana
3,99 18,319
Puglia 1,47 9,207
Basilicata 109 1,195
Total Puglia-
Basilicata
1,579 10,402
Total Itália
39,076 217,391
Figura 5 - Mapa dos distritos industriais
italianos
Fonte: Elaborazione Ufficio Studi Federlegno-Arredo/Cosmit su dati censimento intermedio ISTAT
Nota-se, portanto, que a despeito da estratégia de subcontratação de empresas
moveleiras de países menos desenvolvidos (e da queda de custos proporcionada por essas
subcontratações), a Itália vem perdendo participação no mercado internacional (Tabela 2).
Além disso, os produtores de móveis italianos não estão promovendo upgrading em
nenhum subsetor moveleiro. Dessa, forma, apesar de a Itália continuar sendo o segundo
maior exportador de móveis, os artigos italianos vêm perdendo competitividade no mercado
internacional.
3.3.3.2 – Alemanha
A indústria moveleira da Alemanha possui cerca de 1200 empresas e a estrutura
industrial alemã deste setor apresenta empresas relativamente grandes, quando comparadas
com as empresas do mesmo setor em outros países (tabela 7). Essa indústria apresenta um
elevado grau de concentração, já que as vinte maiores empresas de móveis alemãs
103
representam 25% do mercado e 37% das exportações. Essa indústria também se encontra
concentrada em termos regionais; a produção de móveis está localizada principalmente em
três regiões North Rhine-Westphalia, Bavária e Baden-Wünttemburg, e equivalia a US$ 20
bilhões, em 2004 (CBI, 2006).
Tabela 7 – Porte das empresas de móveis na Alemanha
Porte das empresas No. de empresas Participação (%)
20-49
503 38,7
50-99
250 28,6
100-199
172 18,2
200-499
122 12
500 ou mais
26 2,5
Total
1073 100
Fonte: Deutsche Statitische Bundesamt (citado em Florio; Peracchi; Sckokai, 1998).
A indústria de mobiliário alemã é umas mais desenvolvidas da Europa, a despeito
da estagnação do mercado doméstico. Tal mercado é relativamente grande, sendo o maior
da Europa; o consumo doméstico, em 2004, atingiu a cifra de US$ 21 bilhões, o que se
deve à elevada taxa de gasto per capita em mobiliário, equivalente a US$ 262. No entanto,
atualmente apresentam-se tendências de queda no consumo, já que em 2001 as vendas no
mercado doméstico somavam US$24 bilhões. Portanto, houve uma redução no consumo de
12,5% entre 2004 e 2001 (CBI, 2006).
Os consumidores alemães são bastante exigentes. Produtos bem sucedidos
normalmente são fortes em termos de inovações técnicas, funcionalidade e flexibilidade de
design, além de bons encaixes e facilidade de movimentação (CBI, 2006). Existe neste
mercado a preferência por móveis de madeira sólida, contudo, as restrições ambientais
internas e dos países exportadores de madeira nativa (Leste Europeu e Sudeste Asiático)
constrange a produção de móveis com este tipo de madeira (Floreo; Peracchi; Sckokai,
1998). Há grande volume de importação de partes e componentes provenientes da
Comunidade Européia e do Leste Europeu, sendo comum a terceirização de etapas da
produção ou implantação de subsidiárias em outros países, visando redução de custos
(Coutinho et al., 2002).
As empresas instaladas dentro do país operam com utilização máxima de
capacidade, no entanto, não são realizados investimentos para ampliação ou abertura de
104
novas dentro do país, pois as empresas de móveis alemãs têm preferido abrir plantas em
outros países (Florio; Peracchi; Sckokai, 1998). Essa estratégia de internacionalização vem
aumentando os volumes de importação de móveis. De fato, em 2000 as importações alemãs
de móveis atingiram o valor de US$ 6,3 bilhões, já em 2005 essa cifra equivalia a US$ 9
bilhões, apresentando um crescimento de 43,3%. Dentre essas importações, US$ 3,4
bilhões são referentes a partes e componentes de móveis ou móveis inacabados. Os
principais fornecedores de componentes para a indústria de móveis alemã são República
Tcheca, Polônia e Áustria, que correspondem, respectivamente a 17%, 15% e 10% da
importação alemã de móveis (CBI, 2006)
Gráfico 3 – Principais fornecedores de móveis para o mercado Alemão em 2003
Polônia
24%
Itália
11%
República Tcheca
9%
Dinamarca
6%
Áustria
6%
China
4%
Outros
40%
Fonte: CBI (2006).
O maior fornecedor de móveis para Alemanha, em 2003, foi a Polônia, que
representava 24% das importações alemãs. A Polônia supre o mercado alemão de todos os
segmentos de móveis, sendo sua participação equivalente a 25% das importações de móveis
para salas de estar e jantar, 24% das importações de assentos não estofados, 29% das
importações de móveis para dormitórios, 13% daquelas referentes a outros móveis e 15%
daquelas de partes e componentes. O gráfico 3 apresenta os principais fornecedores de
móveis para o mercado alemão.
Entre 2001 e 2003, a oferta de móveis de países do Leste Europeu para Alemanha
cresceu em 13%, resultado principalmente do aumento de produção desses países. As
105
ofertas da Polônia cresceram 20%, da República Tcheca 11%, da Hungria 11%, da
Eslováquia 53%, a Croácia e a Lituânia também mostraram um crescimento agudo como
exportadores de móveis para a Alemanha. Por outro lado, as importações provindas da
Itália e da Áustria diminuíram, em 28% e 12%, respectivamente (CBI, 2006).
A Alemanha passou a importar mais móveis de países em desenvolvimento,
considerando que o valor de tais importações sofreu um acréscimo de 57% em termos de
volume e 18% em termos de valor. No entanto, é importante ressaltar que os fornecedores
pertencentes a esse grupo não permaneceram os mesmos. No período entre 2001 e 2003,
enquanto a Indonésia, a Tailândia, o Brasil perderam participação no mercado alemão de
10%, 14% e 4%, respectivamente, a China exportou 58% mais em 2003 do que exportava
em 2001 (CBI, 2006).
Portanto, o grande, apesar de estagnado, mercado interno e os investimentos diretos
externos nos países do Leste Europeu explicam o aumento do coeficiente de importação do
país, que se equipara a 42,9% (CBI, 2006) e ainda o deslocamento da Alemanha da lista de
exportadores líquidos para aquela dos importadores líquidos (Florio; Peracchi; Sckokai,
1998).
O destino dos móveis alemães exportados é bastante estável e 70% de tais
exportações são destinadas a cinco países vizinhos. A Alemanha é especializada, no
mercado externo, principalmente, em móveis para escritório e para cozinha. Atualmente
observa-se um crescimento das exportações de móveis alemães para países do Leste
Europeu, tais exportações dobraram nos últimos dez anos e ainda estão crescendo
significativamente, especialmente para Eslovênia e para a Croácia. O mercado do Leste
Europeu é uma ótima oportunidade para as empresas de móveis, uma vez que o poder de
compra de suas populações vem aumentando e tende a aumentar ainda mais à medida que
esses países são incorporados à União Européia (CBI, 2006).
106
Gráfico 4 – Composição das exportações de móveis da Alemanha em 2003
Holanda
18%
Bélgica-
Luxemburgo
10%
França
9%
Áustria
17%
Suíça
15%
Outros
31%
Fonte: Florio, Peracchi e Sckokai (1998).
O tamanho expressivo do mercado interno alemão e o aumento da subcontratação
de empresas de outros países justificam o crescimento do valor das importações de móveis
desse país. No que diz respeito aos móveis predominantemente de madeira, observa-se que
a indústria Alemã está sofrendo um downgrading em 10 dos 11 subsetores analisados
(Figura 4). No entanto, sua participação no mercado internacional de móveis em geral se
encontra constantemente na faixa dos 8% (Tabela 1), o que significa que provavelmente as
empresas alemãs de móveis estão diversificando sua produção, passando a fabricar móveis
de outros materiais.
3.3.3.3 – Estados Unidos
A indústria moveleira estadunidense é bastante fragmentada, apresenta
aproximadamente 4 mil empresas e gerou em torno de US$ 87 bilhões em 2001. Essa
indústria atua em segmentos de móveis para quartos, salas de jantar e estar e cabines,
assentos (estofados ou não) e mesas (Bryson et al, 2003). Suas empresas se apresentam
bastante dispersas pelo território do país, no entanto, a produção é concentrada na Carolina
do Norte, que detém aproximadamente um terço das fábricas de móveis de uso residencial
(Coutinho et al, 2002).
107
O setor de móveis de madeira é relativamente concentrado quando comparado com
a estrutura do mesmo setor em outros países, dado que as 25 maiores empresas de móveis
para uso residencial fabricam aproximadamente 50% do total produzido nesse segmento.
A principal matéria prima dessa indústria é a madeira, especialmente carvalho,
pinheiro e freijó, chapas e painéis reconstituídos também são bastante utilizados. As
importações de madeira, em especial de molduras de pinus originárias do Chile (segmento
de madeira serrada e de material de construção) vêm crescendo significativamente ao longo
dos anos (Bryson et al, 2003).
De acordo com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, as importações
de móveis deste país cresceram 200% entre 1996 e 2001, enquanto as importações totais do
mercado internacional cresceram apenas 14% no mesmo período. Depois de 2001, as
importações do país continuam crescendo, no entanto, no mesmo ritmo que o crescimento
do mercado externo, mantendo constante sua participação nas importações totais desse
produto. Boa parcela dos móveis domiciliares vendidos nos EUA é manufaturada em países
distantes, sendo a China a maior exportadora de móveis para o mercado estadunidense,
tendo esta desbancado o Canadá, que tradicionalmente ocupava essa posição. O gráfico 5
apresenta os dados sobre essas importações.
Gráfico 5 – Distribuição das importações de móveis dos EUA em 2001
China
44%
Taiwan
5%
Itália
11%
Canadá
17%
Brasil
2%
xico
7%
Malásia
4%
Indonésia
5%
Tailândia
3%
Filipinas
2%
Fonte: Departamento do Comércio (citado em Bryson et al, 2003).
108
Em 2001, a China exportou US$ 2,8 bilhões de móveis de madeira para uso
residencial para os EUA, o que representava 30% do total de importação deste país (Bryson
et al, 2003). Porém, ao se considerar todos os tipos de móveis, como os de metal, plástico e
outros essa participação atinge os 44%.
O aumento das importações vem ocorrendo devido ao aumento da subcontratação
de empresas moveleiras em países cuja mão-de-obra é mais barata. Estruturas de baixo
custo, melhorias de qualidade e distribuição eficientes de produtores transoceânicos estão
mudando a forma como as firmas dos EUA competem no mercado de móveis. Produtores
dos EUA estão se focando mais em competências em que eles têm vantagem comparativa.
Confirmando a argumentação de Gereffi (1994), a chave para esse modelo de negócio é a
habilidade em alavancar as relações de subcontratação transoceânicas, enquanto mantêm as
relações existentes com os varejistas domésticos. Produtores e distribuidores dos EUA têm
a habilidade de aumentar o controle de qualidade, o cumprimento de prazo das
embarcações e o preço de negociação devido à quantidade de produtos que eles importam
(Bryson et al, 2003). Estas são características típicas de compradores que comandam
cadeias de valor inteiras.
No entanto, o aumento das subcontratações transnacionais realizadas por produtores
estadunidenses de móveis vem ocasionando uma quantidade significativa de falências nos
últimos anos. A principal tendência é que os produtores estrangeiros tentem se relacionar
diretamente com os consumidores, ao invés de utilizar canais tradicionais. A grande ameaça
para os produtores dos EUA são os produtores estrangeiros. Caso estes sejam capazes de
estabelecer canais diretos com varejistas dos EUA, os produtores estadunidenses vão se
encontrar fora do círculo e vão sofrer para sobreviver (Bryson et al, 2003).
A presença de agências de exportação e, mais atualmente, o deslocamento de
empresas dos EUA vêm permitindo a atualização da indústria de móveis chinesa e também
de outros países subdesenvolvidos, possibilitando que suas empresas usufruam de outras
vantagens competitivas que não as de custos. A entrada das agências de exportação em
países menos desenvolvidos possibilitou atualizações funcionais, internalizando etapas
como acabamento, montagem, embalagem e controle de qualidade.
109
Uma conseqüência dessa atualização funcional é a redução da utilização de
intermediários entre os fabricantes chineses e os varejistas estadunidenses. A princípio,
grande parte das exportações provindas de países em desenvolvimento era de móveis
inacabados, com as empresas dos EUA responsáveis pelo acabamento e pela distribuição de
tais móveis. Atualmente, os subcontratados transoceânicos passaram a vender diretamente
para as lojas de varejo, através de agentes de exportação, e têm força de venda própria nos
EUA (Xu; Cao; Hansen, 2003).
Portanto, realmente existe a ameaça de manufaturas transoceânicas irem diretamente
para varejistas, apesar da maior parte dos varejistas não terem infra-estrutura ou capital para
ultrapassar produtores e distribuidores dos EUA. No entanto, como pode se verificar na
subseção sobre a indústria moveleira chinesa, alguns grandes varejistas estadunidenses já se
relacionam diretamente com grandes produtores de países subdesenvolvidos,
principalmente da China (Xu; Cao; Hansen, 2003).
De acordo com Bryson et al (2003), se a tendência de eliminar os intermediários da
cadeia de valor se confirmar, os únicos produtores estadunidenses de móveis que poderiam
obter sucesso nesse modelo são aqueles capazes de estabelecer nomes fortes no mercado,
através de estratégia de formação de marca (branding)
37
.
3.3.3.4 – China
Domesticamente, a indústria de móveis é a oitava maior indústria do país,
contribuindo com cerca de 1,6% do PND em 2002 e de 2% do valor das exportações no
mesmo ano. O segmento de móveis de madeira é o maior entre aqueles referentes à
indústria do mobiliário, atingindo cerca de 70% da produção, os móveis de metais
representam 15%, em seguida aparecem os segmentos de assentos elevados, de vime e de
plástico (Xu; Cao; Hansen, 2003).
Na China essa indústria é fragmentada, sua estrutura é formada por apenas duas
grandes empresas públicas e muitas firmas de pequeno porte, cujos tipos mais comuns de
37
Alguns exemplos de grandes produtores estadunidenses são La-Z-Boy e Furniture Brands International,
estes produtores adquiriram e construíram marcas e são capazes de dirigir vendas a partir do reconhecimento
de suas marcas.
110
propriedade são a privada, nacional e estrangeira. Tanto a indústria como o mercado
revelam características regionais distintivas. Essas especificidades são privilegiadas pelas
relações Estado-firma. De fato, as firmas diferem de acordo com o contexto social em que
estão inseridas, pois na China, a história das firmas é profundamente marcada por suas
relações com o Estado.
Entretanto, na década de 1980, ocorreram mudanças nesta relação: primeiramente
houve um processo de descentralização das empresas estatais através do estabelecimento do
Sistema de Responsabilidade Contratual. Essa descentralização transferiu o controle para os
governos locais e permitiu que estes implantassem um monitoramente ainda mais estreito
tanto sobre as firmas estatais quanto sobre as empresas privadas (Koch, 2003). Outra
mudança é a crescente presença de acionistas nas empresas, o que possibilitou certa
111
queda nas exportações da Tailândia (Kaplinsky; Readman, 2005). As exportações para os
EUA totalizavam, em valor, US$ 3 bilhões em 2004, o que equivalia a um quarto das
exportações chinesas. As exportações de móveis de madeira da China para os EUA
cresceram 80% entre 2000 e 2001, enquanto o total dos móveis exportados cresceu 40% no
mesmo período.
Os detalhes sobre as exportações da China estão apresentados no gráfico 6. Segundo
Coutinho et al (2002), o país possui como principal comprador de seus produtos os Estados
Unidos e, em menor escala, Hong Kong e Japão.
De fato, a maior vantagem competitiva da China são os baixos custos com a mão-
de-obra, sua taxa salarial varia, em média, entre US$ 0,50 e US$ 0,75 por hora. Além disso,
o país apresenta uma força de trabalho muito grande, garantindo, em grande medida, a
manutenção das baixas taxas salariais por muitos anos. No passado, as elevadas taxas de
demissão de empregados levaram os manufatureiros chineses a operar ineficientemente. No
entanto, produtores estão investindo recursos em treinamento e desenvolvimento para atrair
e manter empregados qualificados (Bryson et al, 2003)
Gráfico 6 – Distribuição das exportações chinesas
EUA
50%
Hong Kong
14%
União Européia
12%
Japão
11%
Outros
13%
Fonte: Xu, Cao e Hansen (2003).
112
Contudo, a China apresenta outras vantagens de custos com relação aos demais
países exportadores de móveis, tais como baixos custos de crédito e de overhead. Os
fabricantes chineses têm acesso ao crédito a um juro de 0,5% ao mês. Já os custos de
overhead incluem todos os custos de produção exceto custos com a mão-de-obra, frete e
matérias-primas
38
. Os baixos custos de construção na China permitem que os produtores
expandam rapidamente, mantendo as vantagens de custo.
De acordo com Bryson et al (2003), a maioria das empresas chinesas funcionava a
toda capacidade, em 2003. No entanto, os produtores de móveis planejavam aumentar sua
capacidade produtiva entre 25 e 30%. Analistas estimavam que a demanda dos EUA e da
Europa deve absorver 20% dessa extensão de capacidade nos próximos anos. Isso indica
uma expansão excessiva, que levaria a uma erosão dos preços.
As importações chinesas de matéria-prima são extremamente pulverizadas. Uma
característica importante de suas importações é o grande número de produtos de madeira
comercializados, destacando-se compensados e chapas de fibra. A China é também um
importador emergente enorme de madeiras serradas. A Rússia e a Malásia são os maiores
fornecedores de madeira mole e dura, respectivamente. A África e a América do Sul são
importantes fontes também. Ainda deve-se ressaltar que os EUA têm direcionado sua
exportação de madeira dura para a China. Essa dependência de matéria-prima pode ser a
maior ameaça para o futuro da indústria de móveis chinesa (Xu; Cao; Hansen, 2003).
A falta de qualidade e as deficiências nas técnicas de acabamento e montagem são
outros problemas dos móveis chineses, por isso, muitos dos móveis são exportados
inacabados. Ainda deve-se apontar que as empresas chinesas de móveis são carentes de
habilidade inovativa e não possuem estratégia para desenvolvimento de design, marketing
ou branding. Entretanto, as empresas chinesas se apresentam cada vez mais preocupadas
com a qualidade de seus produtos e com os ganhos de produtividade. Em função dessa
preocupação observa-se uma aceleração da absorção de tecnologia nesse país. Essa
38
A construção nos Estados Unidos custa aproximadamente US$ 15 por pé quadrado, na
China ela custa aproximadamente US$ 3-4 por pé quadrado. Adicionalmente, os proprietários das fábricas
chinesas não são submetidos aos mesmos padrões de construção que as firmas dos EUA encaram. Pesquisas
indicam que a maioria das empresas chinesas tem sistemas de coleta de pó insuficientes e não tem outras
ferramentas de segurança e de conveniência tipicamente encontradas das fábricas estadunidenses. Esse
minimalismo não apenas reduz os custos de overhead, mas mantém o investimento inicial baixo (Bryson et
al., 2003).
113
tendência levou a uma diminuição de 30 a 40% nos custos com matéria-prima de muitas
empresas (Bryson et al, 2003).
A presença de agências de exportação e a introdução de sistemas de controle de
qualidade no país vêm possibilitando melhorias nesse sentido.
114
Essa é uma cadeia claramente comandada pelo comprador com governança cativa,
sendo os compradores grandes empresas com um elevado grau de concentração. Essa
cadeia de fornecimento é intermediada por agentes, que privilegia as atualizações de
produto e de processo; no entanto, abre pouco espaço para avanços em termos de
atualização funcional.
Já o segundo modelo impõe à empresa estadunidense a decisão de importar versus
aquela de produzir no exterior, e esse trade-off envolve muitos fatores. As empresas dos
EUA podem escolher produzir diretamente na China pelas seguintes razões: para capturar
as margens de lucro dos produtores chineses (entre 10 e 20%); para ganhar maior controle
sobre as agendas de produção e entrega; e para conseguir produzir muitos tipos de
produtos, especialmente aqueles cujas competências necessárias não são dominadas pelos
fabricantes chineses. No entanto, investimentos diretos na China são arriscados por muitos
motivos. Construir ao invés de importar exige maior quantidade de capital. Além disso,
existem expectativas de que uma expansão excessiva pressione a tendência de queda dos
preços, favorecendo firmas que importam e prejudicando produtores. E finalmente, deve-se
considerar que a China representa um risco político significativo, com muitas incertezas
(Bryson et al, 2003).
Neste caso, se os produtores estadunidenses decidirem transferir suas plantas para a
China, o tipo de governança na cadeia é hierárquica, uma vez que os produtores
estadunidenses não confiam na capacitação dos chineses para produzir os móveis como
desejado e preferem eles mesmos manter as etapas produtivas internamente a subcontratar
empresas chinesas.
Com relação aos varejistas dos EUA que compram diretamente dos produtores
chineses, podem se verificar vários exemplos. O Walmart, a Ethan Allan and a Rooms To
Go estabeleceram uma relação de longo prazo com o maior produtor de pinus da China,
Markor, Inc. Essa cadeia de fornecimento não envolve nenhum produtor estadunidense,
nem agente, e as vantagens são óbvias: o tempo de trânsito é menor, a margem bruta é
maior para ambos os lados e a informação de mercado pode ser transferida de forma mais
rápida e acurada. No entanto, esse modelo funciona tipicamente para grandes varejistas
estadunidenses e grandes produtores chineses, porque grandes empresas são mais propensas
115
a estabelecer relações de longo prazo para melhorar o controle de qualidade e para obter
maior estabilidade de fornecimento. Grandes produtores chineses são mais fortes
financeiramente e estão aptos a estender o crédito para os varejistas para facilitar a
transação (Bryson et al, 2003). Xu, Cao e Hansen (2003) afirmam que esse modelo pode
ser uma tendência contínua no futuro.
Nesse caso a relação entre produtores e compradores é de mercado. A
transformação de cadeias cuja governança é cativa, para cadeias dirigidas pelo mercado, se
deve ao aumento da capacitação dos produtores chineses.
Por último, existe o processo de fornecimento de móveis chineses realizado por
agentes de importação norte-americanos, que buscam produtos na China e os vendem
diretamente para pequenos varejistas nos EUA. Nesse caso, os agentes negociam produtos
massivamente para uma lista de lojas nos EUA, vendendo para pequenos varejistas que não
têm condições de comprar diretamente da China. No entanto, esse modelo ocorre em menor
escala. Aqui a governança é exercida através de relações de mercado (Bryson et al., 2003).
Finalmente, alguns produtores estadunidenses fazem um mix de bens produzidos
domesticamente e dos modelos de importação descritos acima. Ocasionalmente os
produtores dos EUA podem achar mais eficiente produzir alguns bens domesticamente. No
entanto, a tendência é o crescente movimento para a plena subcontratação e para a
formação de cadeias comandadas por compradores (Bryson et al, 2003).
Enquanto os fabricantes chineses previamente eram apenas capazes de lidar com
grandes volumes de produção, com direção tecnológica dos parceiros dos EUA, agora eles
são capazes de lidar com lotes bem menores.
A princípio as empresas chinesas eram meras fornecedoras de componentes para as
empresas do EUA. À medida que invadiam o mercado com produtos de maior valor
agregado, o aumento da competitividade no mercado estadunidense devido à entrada dos
móveis chineses levou muitas empresas dos EUA à falência. Dessa forma, a grande maioria
dos produtores estadunidenses se tornou distribuidora de produtos chineses, no entanto
mesmo essas empresas que lograram se transformar em distribuidoras não estão isentas de
ameaças, um delas é a tentativa das empresas chinesas de se relacionarem diretamente com
os varejistas. De fato, segundo Nassif (2006), os chineses passaram a vender diretamente
116
para as lojas de varejo e têm força de venda própria nos EUA, eliminando a necessidade de
intermediários.
A abertura comercial, a permissão de entrada de investimentos externos ligados às
atividades exportadoras e o incentivo às exportações, foram fatores importantes para
melhorar a competitividade das indústrias chinesas no mercado internacional (Medeiros,
2000). O acesso da China a Organização Mundial de Comércio (WTO) deve facilitar o
crescimento continuado da indústria. Espera-se que a indústria de móveis chinesa sofrerá
mudanças qualitativas nos próximos dez anos.
3.3.3.5 – Polônia
A indústria de móveis polonesa é composta principalmente de pequenas e médias
empresas, que para melhorar sua competitividade dependem de interação entre si, de
recursos de capital próprios e das condições de acessibilidade a fontes externas de
financiamento. Em 2003, a indústria do mobiliário da Polônia, contava com um total de 381
empresas, empregando em torno de 94 mil funcionários (Polônia, 2004a).
O ano de 2003 foi o período de transição da estagnação para a recuperação da
economia polonesa. Em maio de 2004, a Polônia se tornou membro da União Européia e a
possibilidade do país competir em um mercado compartilhado fez com que a economia
encarasse um novo desafio. O dinamismo das exportações deste país é um efeito da taxa de
câmbio favorável diante do dólar e do euro, combinadas com o consolidado conceito
conquistado pelos exportadores de móveis poloneses como fornecedores tradicionais de
móveis sofisticados no mercado europeu. Os investimentos diretos externos alemães
também exercem influência importante sobre as exportações; tecnologias modernas e
melhorias organizacionais e de marketing contribuem para o aumento da competitividade
dos produtos poloneses e causam uma mudança positiva na estrutura produtiva e de vendas
no mercado doméstico (Polônia, 2004b).
De fato, nesse ano, a indústria moveleira da Polônia apresentou um crescimento de
24,1% em relação ao ano anterior em termos de valor vendido. Esse crescimento foi
principalmente impulsionado pelo mercado externo, pois os consumidores poloneses ainda
117
são bastante conservadores, não encaram os móveis como objeto decorativo, e apenas os
renovam quando seus móveis se encontram bastante obsoletos (CBI, 2006).
Em 2003 tal indústria exportava cerca de 80% da sua produção. Quando
comparadas às exportações de commodities, as vendas externas de móveis são uma das
mais significativas exportações polonesas. Os móveis de madeira correspondem a 70% do
total de exportações da indústria de madeira e a soma das exportações de móveis com a de
produtos de madeira equivale a 10% das exportações totais da Polônia. Sendo os países da
União Européia os principais parceiros para negócios desse setor (Polônia, 2004a), como
pode se ver no gráfico 7.
Gráfico 7 – Distribuição das exportações polonesas em 2003
A
lemanha
34%
França
10%
Suécia
5%
Noruega
4%
Outros
18%
Hungria
4%
Eslováquia
4%
Áustria
4%
República Tcheca
5%
Bélgica
5%
Reino Unido
7%
Fonte: CBI (2006)
Atualmente observam-se modificações no perfil da demanda e, consequentemente,
da oferta de móveis poloneses; enquanto a produção de sofás-cama apresenta uma queda de
21% quando comparados os anos de 2002 e 2003, os segmentos de móveis para salas de
jantar, segmento de maior relevância em termos de volume de produção do país, e de
móveis para dormitórios e para cozinhas, sofreram acréscimos de 39%, 10% e 24%
respectivamente (Polônia, 2004a).
Com relação às exportações percebe-se um aumento dos valores exportados de,
aproximadamente, 26% ao ano entre 2002 e 2004, enquanto as importações cresceram 42%
118
entre 2002 e 2003, e 20% entre 2003 e 2004. Dessa forma houve um aumento das
exportações líquidas do país, que em 2003 atingiu US$ 3 bilhões e US$ 4,1 bilhões em
2004. Esses números são reflexos do deslocamento de empresas alemães para a Polônia, em
busca de mão-de-obra e matéria-prima baratas. Em 1996, 14% dos móveis alemães
importados pela Polônia eram reexportados para a Alemanha (Pellegrin, 1999), o que
significa que móveis alemães inacabados são enviados para Polônia para passarem pelas
etapas de acabamento, para então serem reexportados para Alemanha, onde são revendidos
com maior valor agregado, devido às práticas de marketing e de comercialização avançadas
desse último país. Essa situação é típica de cadeias comandadas pelos compradores
governadas de forma cativa, portanto, mesmo produtores de produtos sofisticados estão
sujeitos a serem submetidos a este tipo de governança.
A recuperação econômica e a situação econômica relativamente boa levaram a um
crescimento marcante da demanda de produtos de madeira. Isso causou escassez de oferta
de madeira domesticamente, no entanto o elevado nível de auto-suficiência tem sido uma
das forças marcantes desse mercado na Polônia. Portanto, uma das maiores dificuldades do
setor é a oferta de madeira em níveis apropriados para propiciar o funcionamento e o
desenvolvimento dos setores a montante da cadeia. De fato, 94% da madeira ofertada são
fornecidos pelo maior produtor de madeira da Polônia, a State Wood. Essa situação, além
de manter um gerenciamento propício sobre as fontes de madeira, deve assegurar condições
estáveis de venda de madeira e possibilitar um planejamento pró-desenvolvimento para as
empresas
39
. Considerando não apenas questões relacionadas com a estabilidade da
distribuição da madeira como também com o nível de preço aplicado, isso resultaria em
eficiência econômica para ambos os lados: os fornecedores e os clientes.
3.3.3.6 – México
O setor manufatureiro de móveis no México é composto por 19 mil empresas,
dentre as quais mil são fábricas e o restante são pequenos carpinteiros e oficinas (tabela 8).
39
Atualmente cerca de 6,8 milhões de hectares de áreas florestais são certificados pelo FSC, o que significa
que são gerenciados de maneira apropriada e equilibrada e que a extração de madeira é feita sem ameaçar o
meio ambiente. Tal área corresponde a 76% da área florestal total da Polônia, e a 84% da renovação da
madeira do país (Polônia, 2004b).
119
No que diz respeito à distribuição espacial da indústria, essa se encontra concentrada
principalmente no centro e no norte do México: Distrito Federal, Estado do México, Nuevo
Leon, Jalisco, Guanajuato, Nayarit, Aguascalientes, Durango, San Luis Potosi, Puebla,
Chihuaha e Baja Califórnia.
Tabela 8 – Porte das empresas mexicanas de móveis
Porte das empresas No. de empresas Participação
Micro
17537 92,3
Pequena
1064 5,6
Média
380 2
Grande
19 0,1
Total
19000 100
Fonte: Zayas e Cascarano (2005).
A maior parte dos móveis fabricados domesticamente é destinada para domicílios
(51%), o segmento de móveis para escritório representa 10%, enquanto os móveis para
cozinha correspondem a 6%. As peças e componentes atingem 33% da produção de móveis
deste país. É importante ressaltar que apenas 25% da produção de móveis mexicana é
completamente fabricada no país, o resto inclui componentes importados (Zayas;
Cascarano, 2005).
Gráfico 8 – Exportação dos móveis mexicanos em 2004
Nafta
72%
América Latina
21%
União Européia
5%
Outros
2%
Fonte: Zayas e Cascarano (2005).
120
Os produtores mexicanos de móveis têm dificuldade para exportar devido à base de
capital inadequado para atingir uma estratégia de grande escala, apresentam problemas em
termos de design, qualidade, preço e com quantidades mínimas para atingir o lote
demandado. No entanto, o maior gargalo produtivo do país é a falta de cumprimento dos
prazos de entrega (Zayas; Cascarano, 2005).
Aproximadamente 24% dos móveis são produzidos para o mercado externo,
enquanto o restante é destinado para o mercado doméstico. O México exportou
aproximadamente US$ 5 bilhões em 2004, no entanto devido à importação de peças e
componentes o país apresenta exportações líquidas de US$ 3 bilhões (Zayas; Cascarano,
2005).
O principal parceiro comercial do México são os Estados Unidos, que fornece
matéria-prima para a indústria de móveis mexicana e apresenta superávits persistentes do
saldo comercial de madeira. Como contrapartida, o México exporta móveis para os EUA
em escala crescente, de forma que o saldo comercial total (madeira e móveis) é favorável
ao México (Coutinho et al, 2002).
No que diz respeito ao Canadá, este adquire quantidades muito menores de móveis
mexicanos quando comparadas com os valores transacionados com os Estados Unidos. Um
possível motivo para essa diferença entre as quantidades importadas dos EUA e do Canadá
é o tamanho relativamente reduzido do mercado interno desse último país. Nos últimos
anos nota-se um leve crescimento no saldo comercial mexicano perante o Canadá.
Deve-se notar que as importações de madeira canadenses pelo México cresceram
consideravelmente após a entrada deste na Nafta: em 1995 as importações de madeira
equivaliam a aproximadamente US$ 52 mil, já em 2001 essas importações totalizaram um
valor de cerca US$ 1,43 milhões (Coutinho et al, 2002).
Coutinho et al (2002), afirmam que
segundo Abimóvel (2002), uma tendência verificada após a entrada na Nafta foi o surgimento
de empresas “maquilladoras”, que são as maiores contratantes de mão-de-obra do setor
moveleiro. O mecanismo de “maquilla” consiste na importação temporária de produtos para
serem processados e reexportados aos mercados de origem. São empresas associadas a grandes
grupos estrangeiros (principalmente americanos), de alta tecnologia, sendo responsáveis por
121
mais da metade da produção mexicana de móveis. A maior parte das “maquilladoras” tem a
produção concentrada em dormitórios, salas de jantar e de estar (Coutinho el al, 2002: 27).
De acordo os autores, pode-se concluir que a abertura comercial entre os países
participantes da Nafta foi altamente benéfica para o México que, neste setor, se tornou
rapidamente um exportador de móveis e importador de matéria-prima. Essa tendência
provavelmente foi impulsionada pelo menor custo da mão-de-obra mexicana e ainda pela
proximidade com fontes de abastecimento da indústria.
4.3.3.7 – Brasil
A participação do Brasil nas exportações do mercado internacional de móveis de
madeira equivale a 1,2%. Os grandes concorrentes do Brasil são China, México e Malásia,
países que estão inseridos no mercado mundial de forma bastante similar: confeccionam a
partir de designs “importados”, participam do mercado internacional de móveis inseridos
em cadeias de valor comandadas por compradores e apresentam níveis de tecnologia
semelhantes ou um pouco superiores à brasileira.
O padrão de competitividade dos móveis brasileiros se baseia na capacidade
produtiva, na qualidade dos produtos e no cumprimento do prazo de entrega. No entanto, a
indústria moveleira do país compete no mercado internacional via commodities, pois ainda
não produz design próprio. A maioria dos móveis fabricados para exportação é
confeccionada a partir de designs enviados do exterior (Coutinho et al, 2002). Sua
promoção comercial é extremamente deficiente, pois apenas em 2005 os móveis exportados
pelo país passaram a apresentar selo indicador do país de origem, mesmo assim, os móveis
e as embalagens vão geralmente selados com a marca do importador.
No tocante à estrutura produtiva, cabe destacar que essa indústria é bastante
pulverizada no Brasil, sendo constituída por algo como 13113 estabelecimentos, sendo que
cerca de 85% da produção encontra-se vinculada ao segmento de móveis de madeira. A
tabela 9 mostra a distribuição do setor de móveis de madeira por tamanho. O grau de
informalidade é alto, sendo estimado que o número de empresas totaliza aproximadamente
50.000, se incluídas as informais (Coutinho et al, 2002).
122
Tabela 9 – Porte das empresas de móveis com predominância de madeira no Brasil
40
Porte das empresas No. de empresas Participação
Micro-empresas
11627 88,53
Pequenas
1311 9,98
Médias
182 1,39
Grandes
13 0,1
Total
13133 100
Fonte: RAIS (2005).
No Brasil, a indústria moveleira evoluiu na forma de aglomerações produtivas
especializadas, formando sistemas territoriais compactos em poucos municípios. As
aglomerações existentes em São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina foram as
pioneiras do setor, pois desde o começo do século XX as respectivas regiões já assistiam ao
surgimento de pequenas marcenarias. “A indústria moveleira surgia, então, agregada ao
primeiro estágio de desenvolvimento da indústria [nacional] [...] baseado no trabalho
assalariado e do incremento do movimento imigratório que se delineava” (Coutinho et al,
1999: 1). As outras regiões especializadas nas atividades mobiliárias, como, por exemplo,
Votuporanga e Mirassol (SP), Ubá (MG), Linhares (ES) e Arapongas (PR), surgiram no
ciclo de substituição de importações do pós-guerra, entre o fim da década de 1960 e o início
da década de 1980.
Quanto à tecnologia, os fornecedores de equipamentos para a indústria de móveis
são predominantemente nacionais para as linhas não-integradas. Nas linhas integradas, a
produção nacional de máquinas ainda não acompanha o nível tecnológico das produzidas
no exterior no que diz respeito à precisão e produtividade (Gorini, 1998).
Observe-se que, apesar do aumento na participação do Brasil no comércio
internacional de móveis, o país ainda apresenta um baixo coeficiente de abertura. Porém,
não se pode negar que houve uma rápida evolução nesse aspecto, pois em 1995 as
exportações brasileiras não atingiam 10% da produção nacional (Lanzer et al, 1998), e em
2004 essa percentagem ultrapassou os 20%, com uma pequena queda em 2005 (Tabela 10).
40
O critério escolhido para a classificação do porte das empresas é o do SEBRAE, em que micro empresas
possuem de 1 a 19 trabalhadores, pequenas de 20 a 99, médias de 100 a 499 e grandes acima de 500.
123
Tabela 10 – Faturamento da indústria brasileira de móveis em US$ milhões
41
Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Produção (faturamento)
4.815 4.129 3.526 3.446 4.266 5478
Consumo
4.453 3.758 3.074 2.881 3.422 4500
Exportação
485 479 533 662 941 991
Importação
113 99 78 70 92 108
Balança comercial
372 380 455 592 849 883
Exportação /Produção (%)
10,1 11,6 15,4 17,2 22 18
Importação/Consumo (%)
2,5 2,6 2,6 2,3 2,6 2,3
Fonte: Abimóvel (2007).
Em 2003, a maior participação das exportações no faturamento ocorreu devido aos
movimentos simultâneos de queda do faturamento e crescimento das exportações. Já em
2005 houve uma queda do coeficiente de abertura porque a produção aumentou mais rápido
do que a exportação.
Tabela 11 – Exportações da indústria brasileira de móveis
Ano US$ Var.%
1990
39.744.595
1991
57.295.962 44,16
1992
125.694.839 119,38
1993
266.069.681 111,68
1994
293.545.956 10,33
1995
336.558.513 14,65
1996
351.324.802 4,39
1997
366.331.006 4,27
1998
338.081.212 -7,71
1999
385.202.520 13,94
2000
485.174.452 25,95
2001
479.085.232 -1,26
2002
532.486.497 11,15
2003
661.556.905 24,24
2004
940.574.475 42,18
2005
990.424.209 5,30
Fonte: Abimóvel (2007).
A evolução das exportações, como pode ser observado na tabela 11, se explica
principalmente pelas variações das taxas cambiais. Após a explosão exportadora dos
primeiros anos de abertura econômica (1990-1993), as exportações continuaram crescendo
41
Estes valores são apresentados pela Abimóvel, portanto, levam em consideração apenas empresas formais.
Dessa forma, estes dados subestimam os valores reais de produção moveleira.
124
até 1997, porém com uma velocidade consideravelmente inferior ao triênio anterior. A
sobrevalorização da moeda nacional, na esteira do Plano Real, dificultou as exportações,
porém essa carga incidiu com mais peso no setor moveleiro somente no ano de 1998,
quando houve uma queda nas exportações de 7,71%. No entanto, o setor respondeu rápida e
positivamente à desvalorização da moeda nos primeiros meses de 1999, tendo a média do
crescimento anual das exportações atingido 19,14% entre 1999 e 2003 e 24,7% entre 2003
e 2005.
As exportações brasileiras eram direcionadas para poucos países em 1997; os sete
maiores importadores dos móveis nacionais representavam 82% das vendas totais, como
pode ser verificado no gráfico 9. Este gráfico ainda mostra que os EUA era o maior
importador de móveis brasileiros, porém, não se distanciava muito da Argentina e da
França.
Gráfico 9 – Distribuição dos mercados externos consumidores de móveis brasileiros
em 1997
Estados Unidos
23%
Argentina
16%
Alemanha
8%
França
14%
Reino Unido
8%
Países Baixos
7%
Uruguai
6%
Outros
18%
Fonte: Coutinho et al (2002)
Atualmente, as vendas de móveis brasileiros estão um pouco mais pulverizadas
geograficamente, dado que os sete maiores importadores desse produto representam 75%
do total exportado. No entanto, a participação do EUA está ainda mais forte, este país
importa aproximadamente 41% dos móveis brasileiros enviados para o exterior.
Atualmente entre os sete maiores importadores de móveis do Brasil surge o Chile, que
substitui a posição de outro país da América Latina, o Uruguai (Gráfico 10).
125
Gráfico 10 - Distribuição dos mercados externos consumidores de móveis brasileiros
em 2005
126
Figura 6 - Concentração de fabricantes de móveis no Brasil
Fonte: Abimovel (2007).
Apesar de São Paulo ser o maior produtor de móveis, sendo responsável por 25% da
produção nacional, São Bento do Sul (SC) e Bento Gonçalves (RG) são os principais
exportadores. Os principais clusters moveleiros permanecem nas regiões Sul e Sudeste, que
representam aproximadamente 90% das exportações do país, como pode ser observado no
gráfico 11. A indústria revela-se bastante heterogênea em escala de país, com padrões
produtivo e organizacional que variam muito de aglomeração para aglomeração, uma
característica que não é exclusiva do Brasil.
127
Gráfico 11 – Distribuição espacial da exportação de móveis no Brasil (mercado
formal)
Santa Catarina
44%
Rio Grande do Sul
27%
Paraná
9%
São Paulo
9%
Bahia
7%
Minas Gerais
1%
Outros
3%
Fonte: Abimovel (2007).
No Estado de São Paulo a indústria de móveis se encontra espacialmente dispersa e
atende a todos os segmentos do mercado. No entanto, as regiões de Votuporanga e Mirassol
(noroeste paulista) são especializadas na linha de móveis residenciais, enquanto a região da
Grande São Paulo concentra a sua produção em móveis para escritório, sendo responsável
por 80% da oferta existente para esse segmento no mercado interno.
A região de Bento Gonçalves especializou-se nos móveis retilíneos de madeira,
utilizando como matéria-prima, principalmente, madeira aglomerada, chapa dura e MDF. É
a aglomeração produtiva especializada mais desenvolvida em termos de design (Coutinho
et al, 1999). De fato, 80% das suas empresas investem com destaque nesse fator de
competitividade. Ainda que a comercialização de seus produtos seja principalmente voltada
para o mercado interno, e apenas 10% da produção seja direcionada para o mercado
externo, é o segundo maior exportador do Brasil, só ficando atrás de São Bento do Sul.
Já a micro região de São Bento do Sul (incluindo os municípios de Rio Negrinho e
Campo Alegre), em Santa Catarina, exporta 80% do que é produzido na região, o que a
torna a maior área exportadora de móveis no Brasil. A região é responsável por mais de
40% das exportações totais do país, um aspecto que, vale ressaltar, indica, por si só, a
relevância de pesquisas sobre a realidade dessa aglomeração produtiva, foco do estudo de
128
Em Minas Gerais, na aglomeração de Ubá, encontra-se estabelecida a maior
empresa produtora de móveis do país, a Itatiaia, especializada em móveis de aço para
cozinha. Nesta região também se encontram, aproximadamente, 300 pequenas e médias
empresas produtoras de móveis residenciais em madeira e aço, destinados
predominantemente ao mercado interno.
Arapongas, no Paraná, é voltada principalmente para a produção de móveis
residenciais populares destinados ao mercado interno. No entanto, as pequenas e médias
empresas da região têm alto padrão tecnológico e atingem 7% do total de vendas brasileiras
para o exterior.
Estes foram alguns exemplos de características gerais de aglomerações moveleiras
no Brasil. No que segue afina-se o olhar sobre a indústria de móveis, observando de perto
uma aglomeração produtiva específica: a de São Bento do Sul, em Santa Catarina. Cabe
assinalar que essa aglomeração foi escolhida para a pesquisa de campo, entre outros
motivos, por ser uma aglomeração moveleira consolidada e ainda por ser a maior
exportadora de móveis do Brasil.
129
4. Características da inserção externa da aglomeração produtiva de móveis de São
Bento do Sul.
4.1 Introdução
Este capítulo pretende abordar uma experiência concreta de aglomeração produtiva
especializada, enfatizando sua forma de inserção no mercado internacional. Para tanto, a
pesquisa se focou no período que abrange a abertura comercial, ocorrida no Brasil no início
dos anos 1990, até os dias atuais. A ênfase da abordagem incidiu na capacidade dos agentes
locais de responder coletivamente aos novos desafios com os quais se defrontaram os
fabricantes de móveis de São Bento do Sul, a partir da sua inserção no mercado externo e
como o caráter dessa inserção variou ao longo do tempo. Como se ressaltou nos capítulos 1
e 2, o processo histórico, a ação conjunta e as relações entre os nós da cadeia de valor são
aspectos centrais no debate sobre aglomerações produtivas especializadas.
Dessa forma, o capítulo se inicia com a análise histórica da aglomeração produtiva
de móveis sãobentense, focalizando aspectos gerais. Em seguida serão apresentadas as
características da aglomeração moveleira de São Bento do Sul. Por último serão explorados
os resultados da pesquisa de campo, realizada em julho de 2006 por meio de entrevistas em
empresas e instituições da região de São Bento do Sul, conforme indicado no capítulo de
introdução.
4.2 São Bento do Sul: caracterização e trajetória de uma aglomeração moveleira no Sul
do Brasil
São Bento do Sul, localizada no Norte de Santa Catarina, foi fundada em 1873 por
imigrantes de origens predominantemente alemã, austríaca e polonesa. Atualmente, esta
região se constitui em importante centro industrial no planalto norte de Santa Catarina, que
se situa a 259 Km da capital estadual (Florianópolis) e a 117 Km do porto marítimo de São
Francisco do Sul e é o centro da microrregião do Alto Vale do Rio Negro, que inclui os
municípios de Rio Negrinho (15 km) e Campo Alegre (15 km). A cidade conta com cerca
de 75.000 habitantes e, somando a população de Rio Negrinho e de Campo Alegre, a
microrregião totaliza 133.000 habitantes (Denk, 2006).
130
Esta microrregião é a maior exportadora de móveis do Brasil, nela existem 330
empresas especializadas na produção de móveis de madeira, cuja produção representa 47%
do PIB e é responsável por, pelo menos, a metade dos empregos da localidade (Jurgenfeld,
2006). Apesar do faturamento dessa microrregião representar apenas 14% da produção total
de móveis no Brasil, suas exportações representam 37% do total de móveis exportado pelo
país (Abimovel, 2007).
Os imigrantes europeus que colonizaram a região chegavam ao Brasil devido aos
problemas sociais e políticos recorrentes em seus países nativos, e a região fazia parte de
um espaço destinado pelo governo a ser uma área de colonização estrangeira. A colônia se
desenvolveu rapidamente, através da iniciativa e apuradas técnicas de trabalho que os
colonos traziam dos países de origem (já que se encontravam com o processo de
industrialização avançado para o período vigente), e da abundância de recursos naturais.
(Denk, 2000).
A acumulação de recursos financeiros ocorreu principalmente através da exploração
da erva-mate e beneficiamento da madeira; segundo Brancaleone (1999), era possível
observar experiências de exportação de tais bens desde o início da colônia. A partir dessa
dinâmica, antes mesmo do final do século XIX, surgiram novas oportunidades para
investimentos de pequeno porte como pousadas, mercearias, serrarias e carpintarias. Dessa
forma, em São Bento do Sul, assim como no resto do país, o surgimento da indústria
coincidiu com as regiões agro-exportadoras
42
.
Segundo Brancaleone (1999), já na primeira década do século XX, a pobreza dos
solos e o relevo acidentado da região desfavorecem as atividades agrícolas, dada a baixa
fertilidade da terra. A grande queda nas exportações da erva-mate, na década de 1920,
encerrava o primeiro ciclo econômico de São Bento do Sul. Diante dessa situação, os
conhecimentos existentes entre os próprios colonos em trabalhar a madeira incentivaram as
atividades artesanais e a exploração desta matéria-prima. Ocorreu assim, a expansão de
marcenarias de fundo de quintal, cuja produção era artesanal e o gerenciamento de base
familiar, favorecidas pelas poupanças locais provenientes da renda adquirida com a
42
Para ver esse assunto mais profundamente, consultar Tavares (1972).
131
exploração da erva
43
. Portanto, “a fase inicial da industrialização de São Bento do Sul
caracteriza-se pelo predomínio do artesanato e das pequenas iniciativas individuais” (Denk,
2000: 66).
Segundo Kaesemodel (1990), a partir dos anos 1940, iniciou-se o processo de
proliferação das empresas moveleiras e a reestruturação das existentes. O pólo moveleiro
foi se constituindo basicamente de pequenas e médias empresas, atuando como força
descentralizadora de mão-de-obra, de pequenos investimentos de formação de capital local
e gerenciamento de base familiar. Nessa época, antigos funcionários das firmas pioneiras
saiam destas empresas e fundavam as suas próprias, se tornando empresários. Um exemplo
desse desmembramento é a indústria Artefama – hoje uma das maiores empresas da região
– que foi originária da dispersão da mão-de-obra das Indústrias Zipperer (Kaesemodel,
1990). Ao observar tal evento, Bercovich (1993) afirma que existe na região “um processo
incessante de criação de novas micro-empresas que voltam a recorrer ao caminho de
amadurecimento que as empresas mais antigas já consolidadas percorreram (…) [, isso foi
possível devido à] expansão sustentada da demanda e da existência de barreiras à entrada
pouco significativas” (p. 12).
Contudo, é importante ressaltar que foi a intensificação da comercialização da
madeira que contrabalanceou a crise do mate, durante as décadas de 1930 e 1950, enquanto
a formação do parque industrial, nesta primeira etapa, surtiu efeito amenizante secundário
sobre a crise. A formação desse parque industrial foi impulsionada pelo progresso dos
meios de transportes e comunicação, que permitiram a maior integração do mercado
nacional.
Dessa forma, se o primeiro impulso ao desenvolvimento da indústria moveleira
decorreu da crise da erva mate, o segundo ocorreu no pós-Segunda Guerra, quando São
43
Segundo Kaesemodel (1990:36), “o aproveitamento dos resíduos de matéria-prima das serrarias,
principalmente da araucária e imbuia, estimulou o aparecimento de marcenarias e carpintarias em forma de
pequenas oficinas, acopladas às serrarias, por iniciativa dos proprietários das mesmas”. Em 1913, Jorge
Zipperer e Willy Jung fundaram a primeira serraria a vapor da região, denominada Jung e Cia., na localidade
de Salto, com equipamentos importados da Alemanha, que produzia caixarias para exportação. Como os
rejeitos se acumulavam no pátio das serrarias, em função de que a imbuia para exportação só poderia ser de
boa qualidade, Jorge Zipperer, em 1919, consultou seu irmão Martin Zipperer, que possuía uma pequena
oficina de móveis em São Paulo, sobre o melhor aproveitamento dos rejeitos de imbuia. A sugestão foi que se
aproveitasse a matéria-prima para a fabricação de pés de cadeiras. Nasce assim, uma nova empresa, com sede
em Rio Negrinho.
132
Bento do Sul deixou de ser uma região exclusivamente agro-exportadora e, ao acompanhar
o crescimento acelerado do país através das substituições de importações, passou a atender
o mercado interno. Ainda na década de 1950 o município especializou-se na produção
industrial de móveis e, devido à experiência de seus habitantes nesse setor, sua produção
conseguiu atingir um bom nível de competitividade no mercado nacional, a partir da década
de 1960 (Brancaleone, 1999).
Portanto, nota-se que, a partir do processo histórico, houve uma evolução desde uma
sociedade agrícola para uma sociedade industrial aglomerada e especializada em móveis,
podendo se caracterizar como um processo de industrialização difusa
44
, como o descrito
por Coulert e Pecqueur (1994). De fato, na década de 1960, a região se consolidou como
uma aglomeração produtiva especializada em móveis, movimento acompanhado pela
aceleração do desmembramento de antigos funcionários das firmas pioneiras.
No período do “milagre econômico” – entre 1968 e 1973 – o grande aumento da
demanda por móveis resultou em exigências de mudanças estruturais na indústria do setor.
De fato, a necessidade de aumentar a produção e a competitividade exigiu investimento em
novas tecnologias (Brancaleone, 1999). Esse movimento foi intensificado pela
possibilidade de exportação de móveis para Alemanha e Reino Unido e também pela
iniciativa do Governo Federal que, em 1973, implementou uma lei que limitava a saída de
madeira bruta do país, para impulsionar a exportação de móveis
45
. Nesse período, a
indústria moveleira passou de um estágio de produção artesanal para ingressar em um
estágio de escala industrial
46
(Denk, 2000). A atividade moveleira atingiu ainda outros
municípios próximos a São Bento do Sul, como, por exemplo, Rio Negrinho, Campo
44
Um exemplo da história da construção dessas empresas pode ser tomado pela Indústria Zipperer S/A: “foi
fundada por Carlos Zipperer Sobrinho, filho dos primeiros colonizadores alemães, o qual, já aos 11 anos de
idade, começou seu aprendizado de marcenaria. A marcenaria de Carlos Bollman foi adquirida em 1923 pelo
seu funcionário Carlos Zipperer Sobrinho, que incentivado por leituras em revistas alemãs que continham
informações técnicas de como trabalhar madeira e reaproveitar rejeitos, reestruturou a marcenaria com novos
artefatos de madeira” (Kaesemodel, 1990, citado em Denk, 2000: 54). Essa autora dá diversos exemplos como
este em sua tese.
45
Conforme Brancaleone (1999), o Brasil exportou móveis num total de US$ 10,3 milhões de dólares em
1973, passando esse valor para US$ 20,9 milhões de dólares em 1979. A despeito dos baixos valores, a
duplicação da exportação de móveis é muito importante por representar a expansão do mercado de móveis
para além das fronteiras nacionais.
46
Além do setor moveleiro, se observou, na região, o desenvolvimento de outros setores como o têxtil, o
cerâmico, o metalúrgico e o de alimentos (Brancaleone, 1999).
133
Alegre, Mafra e Jaraguá do Sul. O redirecionamento das maiores empresas para o exterior
abriu espaço para que as pequenas ocupassem o mercado interno.
[E]sse processo de progressiva conquista de novos mercados é liderado pelas maiores empresas
– que passam assim a atender os nichos de mercado mais atrativos –, enquanto os novos
empreendimentos – geralmente microempresas de base familiar – encontram a sua base de
desenvolvimento em mercados descuidados ou abandonados pelas empresas já consolidadas
(Bercovich, 1993:12).
Devido à euforia com a conquista de novos mercados, foi organizada, em setembro
de 1973, uma mostra industrial de São Bento do Sul e região. Este evento foi marcante,
projetando São Bento do Sul no cenário nacional. Chamada de EXIBE 100, a “Exposição
do Centenário” foi a confirmação de São Bento do Sul como a Capital Nacional dos
Móveis (Denk, 2000). Com a exposição no centenário do município ocorreu o auge na
produção de móveis do estilo “colonial”, introduzido pela Weihermann e Zipperer,
alcançando todo o mercado nacional. Dessa forma, São Bento do Sul passou a ser
conhecida como a região que produzia os melhores móveis desse estilo (Denk, 2000: 58).
No entanto, a falta de mão-de-obra qualificada, antes resolvida através da utilização
de aprendizes, passou a representar um gargalo às exportações. Durante o período que
compreende o segundo pós-guerra até a década de 1970, houve um rápido crescimento da
produção local, devido a uma escalada de novos estabelecimentos, o que provocou um
intenso déficit de trabalhadores qualificados. A partir de então, a preocupação com relação
à capacitação dos trabalhadores aumentou, ainda mais com o surgimento do interesse de
atender o mercado externo, cujas exigências em termos de qualidade se mostravam muito
maiores do que aquelas do mercado doméstico.
Essa preocupação com a qualidade da mão-de-obra resultou na inauguração do
Centro de Treinamento do SENAI, em 1977, cuja função era a formação técnica da mão-
de-obra moveleira. Ainda na década de 1970 foi criada a Fundação de Ensino, Tecnologia e
Pesquisa – FETEP, com o objetivo de “promover estudos, pesquisas e projetos relacionados
[ao] desenvolvimento tecnológico, econômico e social” (Denk, 2000:76). A FETEP
priorizava o setor moveleiro, fornecendo cursos e treinamento para a capacitação da mão-
de-obra.
134
O fim da década de 1970 ainda foi marcado por dois fatores que caminhavam no
sentido oposto das tendências mundiais. Primeiramente, a despeito de haver certa
preocupação com relação à incorporação de novas tecnologias (que eram freqüentemente
importadas da Itália e da Alemanha), o excesso de demanda sobre a oferta induzia os
fabricantes a certo comodismo, de fato, os fabricantes não se preocupavam muito em inovar
seus produtos ou sua maquinaria. O segundo fator diz respeito aos investimentos em
atividades de verticalização da produção, enquanto a tendência mundial se dirigia à
desverticalização. Recorrer a serviços externos era percebido como penalização devido aos
custos decorrentes da incerteza em relação à qualidade e a prazos de entrega, bem como
devido à dificuldade de controlar e renegociar permanentemente preços numa economia
inflacionária.
Os anos 1980 marcaram uma nova e decisiva fase no desenvolvimento da indústria
de móveis na região, caracterizada pela retração do mercado interno, mudança de matéria-
prima (consolidação do pinus) e busca do mercado internacional (Lanzer et al, 1998).
A crise da economia brasileira na considerada “década perdida” conduziu o setor
moveleiro para uma das piores fases da sua história. Além disso, São Bento do Sul foi um
dos pólos mais prejudicados, pois se afastava do padrão de produção nacional do mercado
interno. De fato, a partir dessa época, o móvel colonial não era mais o preferido do mercado
brasileiro, novas linhas mais voltadas aos apartamentos (móveis menores) e em cores claras
sinalizavam a mudança de perfil do consumidor. Sendo assim, a renovação dos outros pólos
nas características do produto foi mais fácil, pois as empresas estavam entrando no mercado
mais recentemente e atendendo às suas exigências, enquanto a região de São Bento do Sul
continuava acreditando no sucesso da sua tradição na fabricação dos móveis coloniais.
Outro entrave encarado pela aglomeração moveleira sãobentense foi a escassez de
imbuia (matéria-prima original), o que resultou na substituição dessa madeira pelo pinus,
que se tornou a principal matéria-prima utilizada na fabricação de móveis da região. No
entanto, o pinus era considerado um material de baixa qualidade no mercado nacional.
Diante desses três fatores, crise econômica no país, mudança no padrão de consumo não
acompanhado pela oferta dos fabricantes da região e escassez da matéria-prima costumeira,
São Bento perdia, a cada ano, uma maior parcela do mercado interno para outros pólos
135
moveleiros. Sendo, portanto, a primeira metade da década de 1980 um dos piores períodos
para o setor moveleiro da região, em que se pôde observar um elevado número de falências
e aquisições.
Na segunda metade da década as empresas enxergaram o mercado externo como a
saída para superar a crise, destinando assim sua produção para esse mercado. Para apoiar os
fabricantes de móveis a enfrentar a mudança na matéria-prima principal e no mercado a ser
atendido, a FETEP elaborou cursos técnicos para as empresas, objetivando repassar
informações para as mesmas quanto à secagem do pinus. A nova matéria-prima que
começava a ser intensamente utilizada, tanto para o mercado interno como para o externo,
exigia técnicas novas quanto à secagem, usinagem, manuseio, colagem e, para a área de
pintura/lustração. Bercovich (1993) também destaca o importante papel desempenhado pela
FETEP quanto ao apoio para a internacionalização da comercialização da indústria
moveleira.
Segundo Denk (2000), nesse período também surgiram duas agências de exportação
locais, que desempenharam um papel central no movimento exportador das empresas da
região. Além das agências de exportações, surgiram estabelecimentos de fundo de quintal
especializados em serviços, como por exemplo, lustração, lixação e tornearias, procurando
atender a demanda de serviços de empresas maiores, ou seja, iniciou-se um processo de
terceirização de certas etapas do processo produtivo.
Pode-se concluir que, na década de 1980, a indústria de São Bento do Sul sofreu
contínuas crises e que as dificuldades só começaram a ser superadas na segunda metade da
década, quando o atendimento ao setor externo passou a ser visto como uma boa alternativa
à crise do mercado interno.
4.3 A internacionalização da comercialização de móveis sãobentense a partir da década
de 1990.
A primeira metade da década de 1990 foi marcada pela intensificação das
exportações, internacionalização alcançada primeiramente pelas grandes empresas, que
depois foram seguidas pelas pequenas e médias empresas. Segundo Bercovich (1993), o
boom” exportador do início dos anos 1990 ocorreu devido a agências exportadoras. Elas
136
potencializaram a penetração no mercado internacional, intermediando os negócios entre
fabricantes e os importadores e distribuidores estrangeiros e difundindo informações sobre
mercado externo.
O processo de internacionalização ocorreu com a diminuição das vendas do
mercado interno. As possibilidades aumentaram com a abundância de pinus na região e
com a boa aceitação dessa matéria-prima no exterior. A preocupação ecológica na Europa
não permite a entrada de madeira de lei e o pinus brasileiro é mais barato (15-20 anos para
beneficiamento), do que o europeu (30-40 anos). Além destes fatores, a mão-de-obra barata
e a existência de capacidade de produção instalada ociosa contribuíram para esse processo.
A partir desse período, algumas empresas passaram a destinar a totalidade de seus
produtos ao mercado externo. Os importadores faziam pedidos sob encomenda, tornando-se
muito importantes para o processo de inovação e sofisticação dos produtos da região; os
clientes definiam “os modelos e envia[va]m planos detalhados com exigências estritas em
termos de normas e especificação técnica”, o que compensava a falta de tradição em design
da região (Lanzer et al, 1998). Pode-se dizer que as empresas locais eram “compradas”,
através de uma espécie de “leilão” dos fabricantes promovido pelos importadores. A
despeito de a variável econômica externa ter beneficiado a indústria da região em termos de
demanda (não faltavam pedidos), muitas empresas tiveram prejuízos pela incapacidade de
calcular custos (fator empresarial) e por aceitarem o preço imposto pelo importador.
Entretanto, a partir de 1994, a situação se tornou mais complicada devido à
sobrevalorização cambial, que prejudicava as exportações. Durante esse período de
sobrevalorização (que durou até 1999), alguns fabricantes tentaram competir novamente no
mercado interno. Porém, não obtiveram sucesso devido à ausência das empresas
sãobentenses no mercado nacional durante a década de 1980 e início da década de 1990 que
lhes custou boa parcela desse mercado para outros produtores nacionais.
Entretanto, os efeitos negativos do câmbio foram amenizados pela crise do Leste
Europeu
47
, tradicional fornecedor de móveis no mercado internacional. As empresas
47
Com a queda da União Soviética, houve a falência de diversas empresas, que deixaram de ser competitivas
devido ao enfraquecimento do governo, tradicionalmente interventor. Diante da crise, este governo se viu
forçado a retirar diversos incentivos oferecidos às indústrias da região.
137
também aproveitaram a taxa cambial para reequipar e renovar suas estruturas produtivas,
compensando a ausência de investimento em bens de capital da década de 1980.
Segundo Bercovich (1993), os principais mecanismos que viabilizaram a penetração
e assimilação de tecnologia externa foram os seguintes: a FETEP através de apoio à
modernização do setor e à difusão de conhecimentos técnicos; as firmas fornecedoras de
insumos e equipamentos, com a rede de assistência técnica; os grandes clientes, que
solicitaram novos requisitos de qualidade e design; e as agências de exportação vinculando
a indústria de São Bento do Sul com países onde a nova tecnologia era gerada.
A tendência local a verticalização, que já havia sido observada na década de 1980,
se manteve na década de 1990. Contudo, as pequenas e médias empresas se encontravam
mais especializadas que as grandes, movimento que ocorria devido aos gargalos da
produção, decorrente da impossibilidade de realizar investimentos em equipamentos, infra-
estrutura e alcance de escalas mínimas de lotes de produção, e não como conseqüência de
uma estratégia de desverticalização.
A década de 1990 destacou-se um ponto muito importante para o fortalecimento de
São Bento do Sul como pólo moveleiro: a consolidação de diversas instituições de apoio,
tais como sindicatos, associações, centros tecnológicos e universidades. Em 1994, o
primeiro curso superior de Tecnologia Mecânica de Móveis passou a ser oferecido por uma
parceria entre a FETEP e a UDESC (Universidade do Desenvolvimento de Santa Catarina).
Neste período, também foi instalado o Centro Tecnológico do Mobiliário (CTM) que
recebia equipamentos do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). O SENAI
ainda foi responsável pela formação do Centro de Gestão Empresarial (CGE), outra grande
parceria, estimulada por lideranças locais, para abrigar a Associação Comercial e Industrial
de São Bento do Sul (ACIBS), o Sindicado Patronal da Indústria da Construção e do
Mobiliário de São Bento do Sul e Campo Alegre (Sindusmóvel), a Associação Regional da
Pequena e Média Empresa Moveleira, entre outras instituições
48
.
A partir de 1996 passaram a ser promovidas feiras nacionais e internacionais que
apoiaram a consolidação do setor moveleiro. Isso foi possível devido à construção da
Fundação Promotora de Eventos de São Bento do Sul, um pavilhão de exposições que
48
Junta Comercial, Câmera de Dirigentes Lojistas (CDL) e Centro Internacional de Negócios (CIN).
138
oferece a estrutura necessária para realização das feiras e ainda seminários e congressos.
Em 1998, a Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) inaugurou um campus
próprio e criou diversos cursos de graduação e pós-graduação. E ainda em 2000 foi
inaugurada a Sociedade Educacional de São Bento do Sul, produto de uma parceria entre os
setores privado e público (Denk, 2000).
A interpretação de diversos pesquisadores como, por exemplo, Bercovich (1993), de
que a excessiva dependência das empresas em relação às agências de exportação para
realizar suas exportações as tornava muito vulneráveis, impulsionou a iniciativa da
Abimóvel em promover um programa, o Promóvel (em 1998). O programa visava
incentivar as fábricas a fazerem consórcios para negociar diretamente com os seus clientes
finais, através do desenvolvimento de uma marca brasileira reconhecida no exterior. No
entanto, o projeto não obteve êxito. Os empresários e as instituições locais acreditavam que
não havia possibilidade de trabalhar diretamente com o cliente final e os agentes de
exportação prejudicavam as iniciativas de desenvolvimento de design e formação de
marcas (Bracarense, 2005). Essas características são típicas de empresas inseridas em
cadeias globais de valor comandadas pelo comprador, cuja governança é do tipo quase-
hierárquica ou cativa.
Objetivando realizar um estudo que dialogasse com o trabalho de Nadvi e Schmitz
(1999)
49
, Bracarense (2005) procurou perceber qual a reação dos produtores de São Bento
do Sul perante a abertura comercial realizada no Brasil durante a década de 1990
50
. O setor
moveleiro sãobentense exibia bom êxito frente à abertura comercial, devido: à já
mencionada crise do Leste Europeu, à ínfima penetração de fluxos de investimento direto
externo nesse setor;
à defasagem tecnológica dos outros países do MERCOSUL com
relação ao Brasil; e, ao baixo coeficiente de importação de móveis no Brasil,
proporcionando a ausência de empresas estrangeiras na concorrência pelo mercado interno.
Os dados apresentados na tabela 12 deixam claro que a abertura comercial,
promovida no Brasil a partir da década de 1990, não prejudicou a aglomeração no que diz
49
Essa pesquisa teve como foco verificar a reação de quatro aglomerações de países em desenvolvimento
frente a fortes crises, provocadas pela abertura comercial na década de 1990 em cada um de seus respectivos
países.
50
Os próximos parágrafos desta seção do atual trabalho serão, em grande parte, baseados no estudo de caso
realizado por Bracarense (2005).
139
respeito à receita e à absorção de sua oferta, pois esta soube aproveitar as oportunidades
que surgiram dessa mudança. Entre 1990 e 1999, o número de empresas cresceu em 65,8%
e o valor da produção cresceu em 34,9%. No que diz respeito ao número de empregados,
nota-se que as demissões promovidas pelas outras indústrias da região foram compensadas
pelo aumento de 18,4% no número de empregos na indústria moveleira.
Tabela 12 – Desenvolvimento industrial recente, evolução do número de
estabelecimentos (N), empregos (L) e valor de produção (P) (em US$ milhares) em São
Bento do Sul entre 1990 e 1999
1990 1999
N L P N L P
Móveis 120 5.950 134.367 199 7.048 181.298
Outras indústrias 125 5.970 172.428 118 4.820 215.873
Total Indústria 245 11.920 306.795 317 11.868 397.172
Fonte: Bercovich (1993) e Prefeitura Municipal de São Bento do Sul.
A consolidação de São Bento do Sul como aglomeração moveleira e sua evolução a
partir da década de 1960 podem ser observadas na tabela 13, que considera o início das
atividades das empresas da região. Dessa forma, observou-se um rápido desenvolvimento
de São Bento do Sul, principalmente, na década de 1990.
A análise do parque moveleiro sãobentense comparada com a de outros setores
presentes na região, em 1999, confirmou a significativa participação da indústria de móveis
no setor industrial da cidade. Destaca-se a participação da mão-de-obra da indústria
moveleira, que representava 45,6% do total do emprego no município, e o valor da
produção da indústria de móveis, que equivalia a 45,6% da produção industrial e 35,66%
do total do movimento econômico do município no ano de 1999 (Denk, 2000).
140
Tabela 13 – Agrupamento de empresas de móveis, segundo o ano de início de
atividades São Bento do Sul (1960-1999)
51
Ano de fundação Número de empresas Percentual %
Antes de 1960
9 4,5
1961-1970
5 2,5
1971-1980
45 22,6
1981-1991
60 30,2
1992-1999
80 40,2
Total
199 100
Fonte: Denk (2000) a partir de dados encontrados em Bercovich (1993) e Prefeitura Municipal de São
Bento do Sul.
Apesar de a abertura não ter representado prejuízos em termos de faturamento para
a aglomeração em questão, ficou visível a necessidade de uma reestruturação, e por isso
grande parte dos fornecedores nacionais de máquinas específicas para a produção de
móveis foram substituídos por fornecedores principalmente italianos, pois a defasagem
tecnológica impedia que os produtos nacionais competissem via diferenciação ou qualidade
no mercado externo. Ainda buscando atender às exigências dos clientes estrangeiros, as
empresas passaram a implementar modificações internas objetivando receber certificados
ISO 9000, ISO 14000.
Dessa forma, a internacionalização da comercialização dos móveis produzidos em
São Bento do Sul exigiu que as empresas se reestruturassem rapidamente, e São Bento do
Sul conseguiu responder a essas exigências com eficácia. Essa reestruturação teve que
ocorrer não apenas no processo produtivo, mas também foram necessárias a intensificação
da capacitação dos funcionários, a profissionalização dos cargos administrativos, a
introdução de sistemas de qualidade e a absorção de técnicas de gestão de custos. As
empresas precisaram se tornar mais flexíveis e dinâmicas para se adaptarem aos padrões do
mercado internacional.
Essas mudanças foram alcançadas principalmente porque os empresários
começaram a se unir para demandar às instituições de apoio oferta de serviços; o
51
O autor apresenta apenas dados sobre a evolução do número de empresas moveleiras para o município de
São Bento do Sul e não para a microrregião como um todo.
141
Sindusmobil teve uma participação muito importante nessa transição, porque direcionou
todos os empresários para uma mesma resposta, um mesmo interesse. Houve um profundo
processo de profissionalização das instituições, principalmente no fim da década de 1990.
Percebeu-se que o novo quadro dos anos 1990 estimulou a maior cooperação entre os
agentes locais, principalmente através da troca de informações, possibilitando maior
aprendizado, treinamento e absorção de tecnologia.
Com relação à cooperação, pode-se afirmar que houve aumento da cooperação entre
as empresas e entre estas e as instituições locais, diante do choque provocado pela abertura
comercial. Este resultado condiz com aquele encontrado por Nadvi e Schmitz (1999), ao
comparar várias aglomerações produtivas de diferentes países em desenvolvimento. Porém,
o grau de cooperação entre os agentes ainda não havia atingido, naquele momento, um
nível suficientemente alto para que as empresas deixassem de ser a referência da
organização produtiva e passassem tal referência ao território.
4.4 O aprofundamento da internacionalização da comercialização de móveis sãobentense
e suas conseqüências.
Entre 2000 e 2003 houve um forte movimento do crescimento do faturamento da
indústria moveleira da região em dólar e mais ainda em reais devido à desvalorização da
moeda (Agente de exportação 1 e Abimóvel, 2005). O que se deve, principalmente, à
reestruturação estabelecida na década de 1990, ao aumento da interação entre os diversos
agentes da região e à taxa de câmbio favorável. No entanto, como mostra o gráfico 12, a
partir de 2004, a taxa de câmbio passou a apresentar forte queda. A despeito dessa
sobrevalorização, as empresas continuaram exportando, e o faturamento em dólar
continuou crescendo até 2005, enquanto o faturamento em real ainda cresceu em 2004, mas
em 2005 já era declinante. Em 2006, com relação a 2005, houve uma queda de 17% do
faturamento em dólar, sendo que em termos da moeda doméstica essa queda foi de 26%
52
.
52
Devido à dificuldade de encontrar dados condizentes às exportações da região de São Bento do Sul, essas
informações foram atingidas a partir de Abimóvel (2006), Banco Central do Brasil e informações de
instituições locais, enviadas por e-mail. Portanto, os dados não são extremamente confiáveis e estão expostos
para uma elucidação geral da situação externa da região.
142
Gráfico 12 – Evolução da taxa de câmbio nominal média anual entre 1996 e 2006
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
1
9
9
6
1
9
9
7
1
998
1
9
9
9
2
0
0
0
2
00
1
2
0
0
2
2
0
0
3
2
0
0
4
2
005
2
0
0
6
Fonte: Banco Central do Brasil.
Apesar de algumas empresas estarem buscando mudar sua estratégia de vendas nos
últimos anos, ao tentar se voltar para o mercado interno, em termos gerais, observou-se um
aumento da participação do mercado externo sobre o total de vendas das empresas. De fato,
a intensidade da inserção da microrregião de São Bento do Sul no mercado externo chegou
ao ponto em que 79% do faturamento total da indústria de madeira e móveis do Alto Vale
do Rio Negro derivavam de exportações, em 2005 (Denk, 2006). Enquanto em 1999, este
percentual era de 65,2% (Denk, 2000)
53
.
Na avaliação dos empresários, desde 2005, a indústria local vive o pior momento
desde que se estruturou para atender o mercado externo, no início dos anos 1990, devido ao
cambio sobrevalorizado (Jungerfeld, 2006). Houve uma redução de 15,2% no número de
empresas na região, entre 2002 e 2005 (RAIS), e muitas empresas diminuíram a capacidade
utilizada e realizaram cortes em seu quadro de funcionários.
53
Em 1999, por exemplo, o faturamento bruto total do segmento de madeira e móveis da região foi de R$ 409
milhões, destes R$ 271 milhões são provenientes do comércio externo (Denk, 2000). Já em 2005 o
faturamento bruto total do segmento de madeira e móveis da região foi de R$ 752 milhões, destes R$ 597
milhões são provenientes do comércio externo (Denk, 2006).
143
Os resultados em termos de emprego foram: uma queda de 16,5% no número de
horas trabalhadas nas indústrias de móveis da região, quando comparados o mês de janeiro
dos anos de 2005 e 2006, e uma redução de 14,4% no número de empregos no mesmo
período (Denk, 2006). Sendo que entre 2004 e 2005 já havia sido contabilizada uma
redução de aproximadamente 1200 empregos na indústria moveleira da região.
Além disso, no ano de 2005 foi contabilizado um prejuízo bruto acumulado de mais
de R$ 51 milhões, enquanto o lucro acumulado foi de R$ 19 milhões, o que resultou em um
prejuízo acumulado líquido R$ 32 milhões (Denk, 2006). Essa desaceleração é reflexo das
dificuldades enfrentadas pelas empresas nos últimos anos.
A dificuldade para faturar com as exportações é clara. As duas maiores empresas
locais, a Artefama e a Rudnick, reduziram sua jornada de trabalho em 2005 e ainda
promoveram reduções salariais. Mais recentemente, as empresas de médio porte Inter Link
e Weihermann decidiram dar férias coletivas de dez a vinte dias para seus funcionários
(Jungerfeld, 2006). Já a Intercontinental, uma empresa de grande porte, em 2005 cortou
pela metade o número de funcionários na sua reestruturação e fechou suas portas em junho
de 2006. Havia ainda casos de empresas que entraram em concordata preventiva, como
Tremóvel e a Consular (com 140 e 99 empregados respectivamente) (Jungerfeld, 2006). No
entanto, ao comparar os dados do ano de 2005
54
com os de 2002, percebeu-se que o
segmento que mais sofreu com as dificuldades foi o de microempresas.
Para tentar entender o que ocorreu na aglomeração entre esses dois anos observa-se
a tabela 14, que apresenta dados detalhados por tamanho de empresa e por município para
os anos de 2002 e 2005.
Tabela 14 – Distribuição das empresas moveleiras da microrregião de São Bento do
Sul por tamanho em 2002 e 2005 e variação percentual entre os dois anos.
São Bento do Sul Rio Negrinho Campo Alegre Total
2002 2005 % 2002 2005 % 2002 2005 %
2002 2005 %
Micro 142 126 -11,27 101 84 -16,83 43 19 -55,81
286 229 -19,93
Pequena 33 42 27,27 32 22 -31,25 5 6 20
70 70 0
Média 21 18 -14,29 4 8 100 3 3 0
28 29 3,57
Grande 3 2 -33,33 2 0 -100 0 0 0
5 2 -60
54
É importante ressaltar que foram utilizados os dados do RAIS 2005 porque estes são os dados mais
atualizados que se encontram disponíveis.
144
Total 199 188 -5,53 139 114 -17,99 51 28 -45,1
389 330 -15,17
Fonte: Elaboração própria a partir de RAIS 2002 e 2005.
A perda no número de empresas de Campo Alegre foi notável, este de 51 para 29
em um período de três anos. Nesse município, o segmento que mais sofreu foi o de
microempresas, cujo número passou de 43 para 19, o que representou uma grande perda no
número de empresas, tanto em termos absolutos (24 empresas) quanto relativos (55,81%).
Em Rio Negrinho, o segmento que teve maior perda percentual foi o de grandes
empresas, pois as duas únicas grandes empresas de móveis existentes no município
transferiram suas sedes administrativas para outras cidades
55
. O único segmento que obteve
ganhos em termos de número de empresas foi o de médias empresas: passou de 4 empresas
para 8. As pequenas e as microempresas sofreram perdas significativas, 31% e 17%,
respectivamente. Levando em consideração a totalidade das empresas desse município, se
verificou que a perda foi de 25 (18%) empresas.
Em São Bento do Sul, comparativamente com os outros municípios da
microrregião, ocorreu a menor perda em termos de número de empresas, tanto percentual
(5,53%) quanto absoluta (11 empresas). O segmento que sofreu a maior perda percentual
foi o de grandes empresas, devido ao fechamento da empresa Intercontinental S/A, filial da
norte-americana Ashley S/A, que ganhou incentivos fiscais do governo de Santa Catarina
para adquirir a empresa Móveis Leopoldo. No entanto, em termos absolutos, a maior perda
foi do segmento de microempresas, cuja redução foi de 16 empresas. O segmento de
pequenas empresas foi o único que obteve ganhos no município.
Em termos gerais, estes dados são bastante difusos e não há relação direta entre
tamanho e falência. Porém, pode-se afirmar que há uma tendência a concentração, não pelo
aumento do tamanho das empresas, mas pelo grande número de falências de
microempresas. De fato, esse segmento sofreu reduções nos três municípios referidos, o
que significa menos 57 microempresas na microrregião, enquanto no segmento de grandes
empresas houve três baixas. Os segmentos menos prejudicados são os de pequenas e
55
A Terra Nova foi comprada pela Masisa e os dados da Masisa são computados em Ponta Grossa (PR). A
Irani Móveis que pertence ao grupo Irani Celulose e também mudou o sistema de contabilização para a matriz
que fica na cidade de Irani (PR).
145
médias empresas, nota-se uma manutenção do número de empresas desses portes quando
considerada a microrregião como um todo.
É importante ressaltar que as relações sociais são dinâmicas, portanto, nota-se que
estavam ocorrendo mudanças na microrregião na primeira metade dos anos 2000. É
justamente com o intuito de captar essas mudanças, assim como as suas causas e
conseqüências, que o estudo atual foi elaborado a partir de uma pesquisa de campo. Dado o
objetivo deste trabalho, o de analisar a evolução e características da internacionalização da
aglomeração moveleira sãobentense na década de 2000, na seqüência se avaliam as
mudanças na estrutura de governança, interna e externa, que incidem sobre essa
aglomeração, para então refletir sobre como essa estrutura afeta a inserção da aglomeração
no mercado internacional de móveis. Os resultados da pesquisa serão apresentados a seguir.
4.5 Características da internacionalização comercial da aglomeração de moveis de São
Bento do Sul a partir de informações da pesquisa de campo
4.5.1 Caracterização da amostra
Para atingir o objetivo de entender os reflexos dinâmicos da internacionalização da
região, a pesquisa de campo foi realizada em quatro instituições de apoio, duas agências de
exportação e dezenove empresas moveleiras, sendo duas delas microempresas, três de
pequeno porte, doze empresas médias e duas empresas de grande porte.
A tabela 15 mostra a segmentação da amostra, comparando-a com os dados do
RAIS 2005. Nota-se que a amostra não é proporcional à população, portanto, os resultados
das entrevistas não podem ser generalizados para toda a população de empresas moveleiras
da região.
146
Tabela 15 – Características da amostra: tamanho, segmentação por porte,
comparação com as características da população
56
Porte das
empresas
No. de
empresas
da
amostra
Participação
na amostra
Total de
empresas na
microrregião
Participação
na região
(%)
No. Empresas na
amostra/Total de
empresas na
microrregião (%)
Micro
2 10,53 229 69,39 0,87
Pequena
3 15,79 70 21,21 4,29
Média
12 63,16 29 8,79 41,38
Grande
2 10,53 2 0,61 100,00
Total
19 100,00 330 100,00 5,76
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo e do RAIS 2005.
A composição do capital de todas as empresas entrevistadas é 100% nacional e com
exceção das duas grandes empresas, cujo capital é constituído por sociedade anônima, o
capital das empresas é totalmente familiar. Dentre as empresas entrevistadas 16 (84,2%)
são independentes e as 3 (15,8%) restantes fazem parte de um grupo, de forma coligada
57
.
A origem étnica dos fundadores das empresas entrevistadas é composta por austríacos,
alemães, poloneses, brasileiros e italianos, cujas participações percentuais na amostra são
apresentadas na tabela 16.
Tabela 16 – Composição da origem étnica dos sócio-fundadores das empresas
entrevistadas
Origem étnica No. de respostas %
Alemã 11 45,83
Austríaca 4 16,67
Brasileiros 6 25,00
Poloneses 2 8,33
Italianos 1 4,17
Total
24 100,00
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Entre as empresas entrevistadas, quatro foram fundadas entre 1925 e 1950, entre
estas se encontram as duas grandes empresas de São Bento do Sul. No que diz respeito aos
56
Das empresas entrevistadas dezesseis se localizavam nos municípios de São Bento do Sul, duas em Campo
Alegre e uma no município de Rio Negrinho.
57
Na verdade, em dois destes três casos, uma mesma família possui mais de uma empresa, com razões sociais
distintas e que funcionam de forma independente. No terceiro caso, a empresa adquiriu outras empresas locais
e se constitui um grupo formado por cinco empresas, sob a mesma razão social e a mesma estrutura
proprietária.
147
fundadores destas quatro empresas: apenas um já era dono de uma marcenaria, enquanto os
outros eram empregados de empresas locais de móveis, que após adquirem conhecimento
sobre a produção moveleira, abriram suas próprias empresas. Outras sete empresas
entrevistadas foram fundadas entre 1965 e 1980. Entre seus fundadores quatro já eram
empresários, sendo dois do segmento de móveis; outros três fundadores eram empregados
de outras empresas moveleiras locais; dois eram lavradores; e um era estudante. As últimas
oito empresas da amostra foram criadas entre 1980 e 2000 e, entre seus fundadores, três
eram empregados de empresas moveleiras locais; três eram empresários, dos quais dois já
atuavam no segmento moveleiro; um era funcionário de uma empresa de outro segmento; e,
os outros três exerciam atividades no setor terciário. Portanto, as entrevistas confirmaram
tanto o processo de desmembramento das empresas, quanto a evolução de marcenaria para
indústria de móveis (Tabela 17).
Tabela 17 – Atividades do sócio-fundador quando abriram suas próprias empresas
Atividade do fundador No. respostas %
Estudante universitário 0 0,00
Estudante de escola técnica 1 3,85
Empregado de empresa local 11 42,31
Empregado de empresa fora do arranjo 1 3,85
Funcionário de instituição pública 0 0,00
Empresário 8 30,77
Outro: Comércio/Lavradores /Banco 5 19,23
Total
26 100
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Das empresas entrevistadas, todas atendem o mercado externo e apenas cinco
atendem o mercado interno simultaneamente. Essa profunda inserção no mercado externo
foi iniciada pelas grandes empresas que abriram o mercado e construíram certa imagem da
região e, posteriormente, foram seguidas pelas médias, pequenas e microempresas. A tabela
18, apesar de os dados da amostra não serem estaticamente significativos, parecem
confirmar essa argüição.
Em 1990, as microempresas entrevistadas não participavam do mercado externo, já
em 2000 a participação das vendas no mercado externo passou para 50% e em 2005 para
100%. Já no que diz respeito às pequenas empresas, estas não exportavam na década de
1990, porém a participação do mercado externo como destino de seus produtos foi
aumentando progressivamente até atingir 100%, em 2005. O destino externo dos produtos
148
das médias empresas começou antes do início da década de 1990; em 1990, 38% dos
produtos dessas empresas já eram dirigidos para esse mercado. O grande salto exportador
das pequenas empresas se deu entre 1995 e 2000, para as médias empresas esse salto
ocorreu entre 1990 e 1995. Outra diferenciação entre esses dois segmentos é que, em 2005,
as pequenas empresas da amostra exportavam a totalidade de suas mercadorias, enquanto as
médias empresas exportavam 93,75%. As grandes empresas também já tinham uma
participação significativa no mercado externo no início da década de 1990, porém o
aprofundamento da inserção destas se mostra mais lento que aquele das médias empresas,
assim como o aprofundamento das médias não ocorreu de forma tão brusca como o das
pequenas. Já as microempresas entrevistadas se inseriram de forma abrupta no mercado
externo.
Tabela 18 – Evolução das vendas
Anos
Destino
1990 1995 2000 2005
1. Micro
1.1Brasil 100,00 100,00 50,00 0,00
1.2 Exterior 0,00 0,00 50,00 100,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
2. Pequena
2.1 Brasil 100,00 83,33 36,67 0,00
2.2 Exterior 0,00 16,67 63,33 100,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
3. Média
3.1 Brasil 61,36 20,00 11,67 6,25
3.2 Exterior 38,64 80,00 88,33 93,75
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
4. Grande
4.1 Brasil 65,00 55,00 38,50 21,00
4.2 Exterior 35,00 45,00 61,50 79,00
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.
Diante dos dados apresentados acima, pode-se dizer que houve uma confirmação da
afirmativa de que, mesmo diante das dificuldades representadas pela sobravalorização do
dólar, as empresas continuam aprofundando sua inserção no mercado externo. Dessa forma,
nas próximas seções, pretende-se, buscar explicações para essa situação.
149
4.5.2 As vantagens competitivas oferecidas pela localização em São Bento do Sul e as
principais dificuldades encontradas
Em termos da análise das vantagens e desvantagens oferecidas pela localização, um
primeiro ponto diz respeito aos reflexos da tradição e da cultura local sobre o desempenho
da aglomeração moveleira sãobentense. Quatro entrevistados, entre os seis responsáveis
pelas entrevistas direcionadas para as instituições de apoio, afirmaram que a tradição e a
cultura local favorecem o crescimento do setor moveleiro da região, devido à vocação
moveleira dos ascendentes europeus. Contudo, mesmo esses quatro entrevistados
apontaram que a cultura e tradição local também têm aspectos negativos, como o
conservadorismo, a rivalidade entre as famílias e o caráter fechado da tradição germânica.
É exatamente devido a este ponto que o entrevistado da instituição de apoio 4
argumentou que a cultura e a tradição local não são favoráveis ao desenvolvimento do
aglomerado: “a vida relativamente fácil dos empresários locais [em termos de esforços
necessários para vender a produção], a tradição individualista e a mentalidade fechada de
muitos empresários, dificultam ações conjuntas”. Este entrevistado ainda afirmou que “os
empresários locais acreditam saber de tudo e, portanto, não abrem espaço para idéias
externas. Muitos não aceitam a intervenção das instituições de apoio, a conseqüência disso
é que quando há alguma tentativa de iniciativa conjunta por parte de alguns empresários
não há resultados porque lhes falta metodologia, falta a presença de um agente catalisador”.
O entrevistado da agência de exportação 2, cuja resposta também foi negativa, defendeu
que a tradição e a cultura locais foram importantes no passado, porém isso já não é mais
verdadeiro: “outras aglomerações que não apresentam descendência germânica estão se
saindo muito melhor, estão avançando, enquanto São Bento do Sul está estagnada, parada”.
De acordo com as entrevistas e leitura prévia a sua realização, a aglomeração
produtiva de São Bento do Sul está inserida em um contexto histórico que privilegia a
concorrência cooperativa. O processo de formação do município, a proximidade cultural e
religiosa e os esforços conjuntos dos seus colonizadores se mantêm até o momento da
pesquisa e favorecem a confiança e a cooperação entre os agentes, compativelmente com as
formulações realizadas por Becattini (1994). No entanto, a confiança e a identidade sócio-
cultural possivelmente geradas por este cenário não são certeiras e, como já alerta Schmitz
150
(1997), não significam que a aglomeração é uma ilha de prosperidade. No caso de São
Bento do Sul, confirmou-se a proposição de Humphrey e Schmitz (2000), a mesma cultura
e tradição local que privilegiam a cooperação, algumas vezes detêm o desenvolvimento do
cluster como um todo, devido ao conservadorismo das firmas líderes locais.
Dessa forma, apesar de todos os responsáveis pelas respostas dos questionários às
instituições de apoio terem afirmado que a localização em São Bento do Sul representa
benefícios para as empresas, a afirmação se deve mais a fatores como a disponibilidade de
infra-estrutura física e de serviços, a proximidade com fornecedores de matéria-prima e de
equipamentos e disponibilidade de serviços técnicos especializados do que a tradição e
cultura local.
Tabela 19 - Vantagens oferecidas pela localização em São Bento do Sul
58
Externalidades
Índice das
empresas
Disponibilidade de mão-de-obra qualificada 0,73
Baixo custo da mão-de-obra 0,24
Proximidade com fornecedores de insumos e matérias-primas 0,79
Proximidade com cliente/consumidores 0,29
Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicação) 0,70
Proximidade com produtores de equipamentos 0,63
Disponibilidade de serviços técnicos especializados 0,78
Existência de programas de apoio e promoção 0,38
Proximidade com universidades e centros de pesquisa 0,67
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Com relação às vantagens oferecidas pela proximidade com fornecedores de
insumos, as instituições afirmaram que estas são muito importantes para a competitividade
da região. Como pode se ver na Tabela 19, as empresas também atribuíram um índice
elevado para a importância da proximidade de fornecedores, tanto de matéria-prima (0,79),
quanto de equipamentos (0,67). Já no que diz respeito à proximidade com clientes tal
58
A maioria das perguntas era de cunho qualitativo, portanto, para facilitar o entendimento dos dados, quando
possível foram realizadas avaliações qualitativas, em que os entrevistados deviam atribuir um grau de
importância de 0 a 3 para os diversos critérios apontados no questionário. A partir das respostas foi elaborado
um índice de importância, que pode variar de zero a um e cuja fórmula está apresentada abaixo:
[ ]
respostasdetotaln
repostasnrespostasnrespostasnrespostasn
Índice
.
)"3".()"2".6,0()"1".3,0()"0".0(
+
×
+
×
+×
=
151
afirmação não é verdadeira, este índice atingiu o valor de apenas 0,29 para as empresas
(Tabela 19). Um dos motivos para o baixo índice é que a maioria dos empresários
considerava os compradores externos como clientes das empresas, nesse caso a
proximidade com os clientes não seria uma vantagem competitiva relevante.
No caso da infra-estrutura física, a tabela 19 mostra que o índice atribuído pelas
empresas foi de 0,73. Estas apresentavam reclamações sobre algumas falhas da infra-
estrutura, como por exemplo a portuária, cuja defasagem tecnológica e as greves ocasionais
prejudicam o cumprimento de prazos de entrega, critério de competitividade muito
importante devido à sazonalidade das vendas de móveis.
No que diz respeito à provisão de serviços especializados a região é muito rica, dado
que são oferecidos na cidade ensino prático, como cursos rápidos no SENAI, segundo grau
profissionalizante de tecnólogo em móveis, curso técnico em produção moveleira. Além
disso, a UDESC oferece um curso de nível superior de engenharia moveleira e também
curso de pós-graduação especializado e, assim como a UNIVILLE, oferece outros cursos de
nível superior, como administração, design, comércio exterior, entre outros.
O centro tecnológico moveleiro também oferece muitos serviços para as empresas
da região, como testes de queda para embalagens, testes de durabilidade de móveis em
laboratórios que simulam variações bruscas de temperatura, além de avaliação dos padrões
técnicos dos móveis e consultoria.
O SEBRAE dispõe para as empresas serviços de consultoria para gestão, consultoria
para área técnica e produtiva, auxílios para a elaboração de projetos, incubadora e linhas
especiais de crédito.
O sindicato patronal e a associação de micro e pequenas empresas oferecem espaços
para reuniões e colaboram com a organização de reivindicações comuns. A ACISBS
disponibiliza às empresas serviços de assessorias jurídicas, a organização de núcleos
setoriais, que procura buscar respostas para problemas comuns de cada setor, inclusive o
moveleiro, salas de treinamento para a utilização de equipamentos, cursos e palestras sobre
proteção de crédito, bancos de dados e, atualmente, em convênio com o BRDE, a ACISBS
colocou em funcionamento uma incubadora tecnológica. A Abimovel, que apesar de não
conseguir se aproximar dos empresários, continua trabalhando na região com a oferta de
152
elaborações de projetos e com a conscientização da necessidade de se pensar estratégias
para melhorar a inserção das empresas no mercado internacional.
Vale informar que o sindicato patronal e a Abimovel formados, como não poderia
deixar de ser, por empresários moveleiros, são dirigidos respectivamente por nomes
tradicionais do setor, como Weihermann e Weiss. A família Weihermann chegou ao
município em 1925 e logo instalou uma marcenaria; Weiss é o diretor presidente da
empresa Artefama, mencionado no Sindusmobil como um dos “pais” da indústria de
móveis da região. As empresas Artefama S/A e Móveis Weihermann S/A são das maiores
da região, mostrando-se a Artefama como a maior exportadora do Brasil. Na década de
1950, a Móveis Weihermann S/A foi pioneira na produção em série de móveis coloniais
(marca da cidade nesse período) e vinte anos depois a Artefama S/A foi a pioneira no
mercado externo. Portanto, essas empresas abriram mercados que posteriormente foram
seguidos por empresas menores. Essa é, exatamente, uma importante função do broker,
conforme observado anteriormente. Estes empresários criaram redes de relações que outras
empresas passaram a usufruir.
Com relação à participação nas entidades de representação de classe, notou-se que
estas possuem elevado grau de representatividade entre as empresas entrevistadas, por
exemplo, todas as empresas entrevistadas participam dos seus respectivos sindicados
patronais. A tabela 20 mostra a avaliação das empresas sobre a contribuição de sindicatos e
associações cooperativas locais. Esta foi bastante positiva na maioria dos aspectos, mas
principalmente no que diz respeito à apresentação de reivindicações comuns, cujo índice de
importância foi de 0,82; na criação de fóruns e ambientes para discussão (0,66); na
organização de eventos técnicos e comerciais (0,58); e no estímulo ao desenvolvimento do
sistema de ensino e pesquisa local (0,57).
153
Tabela 20 – Contribuições de sindicatos e associações cooperativas locais
Tipo de contribuição Índice
Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo 0,52
Estímulo na percepção de visões de futura para ação estratégica 0,46
Disponibilidade de informações sobre matéria-prima, equipamento, assistência técnica,
consultoria, etc. 0,54
Indicação de fontes e formas de financiamento 0,39
Promoção de ações cooperativas 0,42
Apresentação de reivindicações comuns 0,82
Criação de foruns eubiin
154
relação a indicações de fontes e formas de financiamento, as instituições receberam um
índice de 0,39, sinal de que não estão conseguindo se aproximar das empresas.
O SEBRAE oferece linhas especiais de crédito para ações conjuntas, no entanto,
poucas empresas têm conhecimento da existência dessa possibilidade de financiamento;
entre as empresas entrevistadas, apenas duas mostraram conhecer os programas do SENAI,
assim como do SEBRAE juntamente com a FINEP, que criam várias oportunidades de
captação de crédito direcionado para arranjos produtivos locais. Porém, os empresários da
região não conseguem captar esses recursos, primeiro porque muitos deles não aceitam uma
aproximação do SEBRAE, então nem sabem da existência do programa e, segundo, porque
esses empresários não conseguem se organizar para elaborar um projeto em conjunto.
Então, a maioria dos empresários entrevistados apontou que não existem programas de
apoio e promoção direcionados para a região.
Nota-se, portanto, que há uma enorme gama de recursos políticos na região,
aparentemente o processo de mobilização desses recursos vem evoluindo nos últimos anos,
há um bom grau de eficiência na disseminação de informação e já existe um certo diálogo
entre as diversas instituições locais e alguns empresários de posição consolidada. A
presença desses recursos representa vantagens para a região, uma delas é a criação de um
conceito para a região, que contribua para a atração de fornecedores, clientes e serviços
especializados, tais como agências de exportação
59
, escritório de design e empresas de
consultoria. Do mesmo modo, é considerável o número de estabelecimentos especializados
na elaboração de protótipos, em tornearia ou em pintura, por exemplo. Esse conceito é
formado por algumas empresas tradicionais (as primeiras a exportar), do qual as outras se
aproveitam. No entanto, essa mobilização ainda não é suficiente para a formação de uma
rede política local, há carência de um agente que consiga catalisar todos esses recursos em
direção a ações conjuntas mais consolidadas.
A tabela 21 mostra que a despeito das vantagens vultosas que a localização em São
Bento do Sul oferece às empresas, estas ainda encontram algumas dificuldades. Quando
questionado aos empresários locais sobre as maiores dificuldades que estes enfrentam, a
59
Em São Bento Sul, existem aproximadamente 30 agências exportadoras, cujo pacote de serviços inclui
assistência técnica, desenvolvimento do produto, acompanhamento da mercadoria desde a elaboração do
protótipo até a entrega no mercado de destino, busca de encomendas e fechamento do negócio.
155
dificuldade para contratar empregados qualificados foi apontada como sendo a maior de
todas (o índice de 0,57). Em seguida, a maior dificuldade encontrada pelos fabricantes de
móveis da microrregião foi custo e falta de capital de giro e de capital para aquisição de
instalações: a primeira dificuldade surgiu devido ao não cumprimento da lei Kandir
60
por
parte do governo, que acumula a quase três anos mais de 100 milhões de reais de créditos
tributários no setor de madeira e móveis do Alto Vale do Rio Negro (Denk, 2006); e a
segunda devido à dificuldade de captar recursos em bancos de fomento, créditos de longo
prazo e com juros subsidiados
61
. Os empresários apontaram não encontrar dificuldades para
produzir com qualidade, índice que alcançou o valor de 0,38.
Tabela 21 – Dificuldades enfrentadas pelas empresas moveleiras de São Bento do Sul
Critérios Índice
Contratar empregados qualificados 0,57
Produzir com qualidade 0,38
Vender .95ulj2 8e10.1 34.Fo141 0,38
156
moveleiro
62
porque a dificuldade para lucrar com as exportações é um fator prejudicial de
peso. Além disso, os empresários não se prepararam para uma possível crise e,
consequentemente, não aproveitaram a alta do dólar para renovar o seu parque fabril
63
.
Conclui-se que a localização na região oferece muitas vantagens para as empresas,
já que a proximidade geográfica de diversas empresas moveleiras impulsionou a construção
de uma gama enorme de instituições de apoio e a oferta de uma diversidade de serviços
específicos para servir essa indústria. Com relação às dificuldades, pode-se dizer que elas
não se devem, em geral, às características da aglomeração e, sim, a fatores conjunturais e a
determinações que extrapolam o local.
4.5.3 Estrutura da cadeia global de valor
Como visto no capítulo 2, para analisar a estrutura da cadeia global de valor em que
se inserem os fabricantes de móveis de São Bento do Sul é importante verificar a natureza
usual dos fluxos entre determinado e as operações que ocorrem imediatamente depois e
antes. Quais os tipos de governança que se estabelecem nas relações desses produtores ao
longo da cadeia, tanto para frente quanto para trás. É interessante também observar a
localização dos nós com os quais estes produtores se relacionam
64
.
4.5.3.1 Relação com fornecedores: governança e territorialidade
No que diz respeito à cadeia global de valor de móveis, os nós imediatamente antes
da produção do mobiliário são os fornecedores de matérias-primas e os fornecedores de
máquinas e equipamentos. Portanto, a importância de estudar as relações estabelecidas
entre os produtores de móveis e seus fornecedores justifica-se. Foi necessário averiguar,
62
“A dificuldade para exportação é o principal fator, não se consegue fechar negócio, porque o móvel que há
dois anos atrás era US$100 e gerava R$350 de receita, continua os mesmo US$100, mas hoje gera só R$220
de receita. Aí você pode ver a lacuna, a diferença e isso as empresas estão tendo dificuldade para fechar novos
negócios” (Entrevistado da instituição 1).
63
“Não houve planejamento por parte das empresas, porque não havia uma expectativa de que o mercado
passaria por um momento de contração, portanto, a sobrevalorização vigente desde 2003 não teve um peso tão
favorável sobre a aquisição de equipamentos como aquele presente em 1994” (Entrevistados da instituição 2).
64
Os termos governança e territorialidade utilizados aqui ganham o sentido de duas entre as quatro dimensões
da cadeia global de valor expostas por Gereffi, Korzeniewicz e Korzeniewicz (1994, apresentadas na pg. 48
do atual estudo).
157
dentro do espectro cujos dois extremos eram o mercado e a hierárquica, em que situação
essas relações se encontram.
Dessa forma, em São Bento do Sul, observou-se que, apesar de 89,5% das empresas
entrevistadas afirmarem que subcontratam empresas para aquisição de peças, componentes,
materiais e serviços, o grau de terceirização das empresas é baixo (Tabela 22). O grau é
aparentemente proporcional ao tamanho da empresa; no entanto é preciso lembrar que
havia bastante assimetria dentro dos segmentos, por exemplo, no segmento das pequenas
empresas, enquanto uma das empresas entrevistadas terceirizava 30% da sua produção, as
outras duas não terceirizavam nada
65
.
Tabela 22 – Forma de produção por porte de empresa
Forma de produção % Forma de produção %
1. Micro 3. Média
1.1Em série 60,00 3.1Em série 90,67
1.2 Sob medida 40,00 3.2 Sob medida 0,00
1.3 Terceirizado 0,00 3.3 Terceirizado 9,33
Total 100,00 Total 100,00
2. Pequena 4. Grande
2.1Em série 90,00 4.1Em série 80,00
2.2 Sob medida 0,00 4.2 Sob medida 0,00
2.3 Terceirizado 10,00 4.3 Terceirizado 20,00
Total 100,00 Total 100,00
Fonte: Elaboração própria a partir de entrevista de campo.
De acordo com a tabela 23, ainda com relação às atividades de subcontratação,
verificou-se que no geral mais da metade (56,0%) das empresas entrevistadas transferem
atividades para outras empresas da região, enquanto 29,8% das empresas entrevistadas não
terceirizam atividades e apenas 14,2% subcontratam empresas de outras regiões.
Apesar de apenas 9,5% das empresas entrevistadas não subcontratarem fornecedores
de insumos e componentes (Tabela 23), ficou visível que as outras 90,5%, mesmo
subcontratando terceiros para essas funções, apresentam baixa intensidade de terceirização
(Tabela 22). A terceirização de produtos geralmente realizada se refere às tarefas
correspondentes às etapas iniciais, como componentes. No entanto, algumas empresas de
médio e grande porte chegam a terceirizar até mesmo móveis completos. Isso ocorre, por
65
Quando foi realizado o teste de correlação entre tamanho e grau de terceirização, o índice 0,334 de
correlação além de ser baixo é pouco significativo, uma vez que o R
2
igualou 0,11.
158
exemplo, quando surgem encomendas grandes a ponto de esgotar a capacidade produtiva
das empresas.
Com relação à subcontratação de etapas do processo produtivo, apenas 42,1% das
empresas entrevistadas tem relações que não de mercado com seus fornecedores, sendo que
a maioria dessas subcontrata etapas do processo produtivo na região. Entre as empresas
entrevistadas nenhuma era subcontratada de outra, o que, provavelmente, ocorreu porque a
seleção da população engloba apenas empresas exportadoras e as empresas de São Bento
do Sul geralmente não exportam partes para o exterior, mas sim móveis completos.
Tabela 23 – Atividades e localização da empresa subcontratada
Descrição
Não
subcontrata
Localização
Local Fora da
região
Fornecimento de insumos e componentes 9,5 66,7 23,8
Etapas do processo produtivo (embalagem, montagem, etc.) 57,9 31,6 10,5
Serviços especializados na produção (laboratoriais, engenharia,
manutenção, certificação, etc.)
10,0 75,0 15,0
Administrativas (gestão, processamento de dados, contabilidade e
recursos humanos)
42,1 47,4 10,5
Desenvolvimento do produto (design, projeto, etc.) 66,7 27,8 5,6
Comercialização 0,0 71,4 28,6
Serviços gerais (limpeza, refeições,
159
Diante desses dados, pode se dizer que as empresas da região continuam avessas a
desverticalização e, pelas entrevistas, notou-se que há uma tendência para a verticalização:
quando questionada se a empresa preferia a desverticalização ou a verticalização, nove
empresas disseram que preferem se manter verticalizadas, enquanto sete afirmaram que
procuram terceirizar cada vez mais etapas do processo produtivo.
Também de acordo com as instituições, em geral as empresas estão tendendo à
verticalização. Segundo o entrevistado da instituição 3, nos últimos anos houve muita
falência de empresas terceirizadas, sendo estas principalmente microempresas, talvez essa
seja uma das explicações para a grande diminuição, observada entre 2002 e 2005, no
número de empresas desse porte na região. Ademais, o entrevistado afirmou que “as
empresas estavam elaborando projetos para intensificar a desverticalização, porém, diante
da crise atual representada pela sobrevalorização do Real, que dificulta a venda da
produção, essas passaram a buscar a verticalização novamente”. Essa informação foi
confirmada pelo entrevistado da instituição 1 que apontou que as empresas estão
internalizando o máximo de etapas produtivas que conseguem, cuidando desde o
reflorestamento até a embalagem do móvel.
Uma mudança notável nos últimos três anos foi o aumento da especialização em
nichos de mercados, assim as empresas diminuem a diversificação dos produtos finais
produzidos em nível de fábrica. Observou-se que as empresas mais especializadas estão
adquirindo maiores vantagens porque conseguem ser mais competitivas em preço, por
aumentarem a acumulação de conhecimentos específicos (Entrevistado da instituição 2).
Nota-se, portanto, que as empresas da microrregião de São Bento do Sul, em geral,
preferem manter uma governança hierárquica no maior número de nós possíveis e, naquelas
etapas da cadeia que não são internalizadas, as relações com os fornecedores são
estabelecidas, em grande parte, através do mercado. Mesmo sendo altos os custos que as
empresas geralmente assumem ao organizar o processo produtivo de forma altamente
centralizada, as empresas se especializam sem se desverticalizar, pois consideram a
verticalização como uma forma de se resguardar. É interessante observar como essa
estrutura de governança afeta a cooperação entre as empresas na região.
160
Entre as empresas entrevistadas, 58% afirmaram que se envolveram em atividades
cooperativas, formais ou informais com outras empresas da região, nos últimos três anos
(2003-2005), enquanto 37% disseram que não se envolveram nesse tipo de atividade e 5%
dos entrevistados não responderam a esta pergunta
66
. A localização dos fornecedores de
matérias-primas e de máquinas e equipamentos foi analisada de forma estratificada (Tabela
24).
Tabela 24 – Distribuição dos fornecedores de insumos e matéria-prima e de máquinas
e equipamentos das empresas de móveis
Fornecedores de insumos e matéria-
prima
Fornecedores de máquinas e
equipamentos
Localização dos fornecedores % Localização dos fornecedores %
1. Micro 1. Micro
1.1 Fornecedor local 85,0 1.1Fornecedor local 100,0
1.2 Fornecedor nacional 15,0 1.2 Fornecedor nacional 0,0
1.3 Fornecedor internacional 0,0 1.3 Fornecedor internacional 0,0
Total 100,0 Total 100,0
2. Pequena 2. Pequena
2.1 Fornecedor local 77,0 2.1 Fornecedor local 83,3
2.2 Fornecedor nacional 20,0 2.2 Fornecedor nacional 16,7
2.3 Fornecedor internacional 3,0 2.3 Fornecedor internacional 0,0
Total 100,0 Total 100,0
3. Média 3. Média
3.1 Fornecedor local 56,8 3.1 Fornecedor local 33,9
3.2 Fornecedor nacional 35,0 3.2 Fornecedor nacional 39,1
3.3 Fornecedor internacional 8,2 3.3 Fornecedor internacional 27,0
Total 100,0 Total 100,0
4. Grande 4. Grande
4.1 Fornecedor local 0,0 4.1 Fornecedor local 20,0
4.2 Fornecedor nacional 90,0 4.2 Fornecedor nacional 0,0
4.3 Fornecedor internacional 10,0 4.3 Fornecedor internacional 80,0
Total 100,0 Total 100,0
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
A partir da análise da tabela 24, percebe-se uma relação positiva entre tamanho das
empresas de móveis e o coeficiente de importação de matérias-primas
67
e o de importação
de máquinas e equipamentos
68
. A maioria dos fabricantes entrevistados compra apenas
66
As questões referentes ao grau de importância da cooperação entre os agentes estarão expostas nas tabelas
25 e 27-31.
67
O índice resultante do teste de correlação baixo é 0,27 e não é significativo R
2
0,07.
68
É importante ressaltar que ao realizar o teste de correlação entre o tamanho das empresas e o coeficiente de
importação de máquinas e equipamentos, o índice de correlação é elevado 0,56 e apesar de o seu grau de
significância ser baixo, o R
2
de 0,31 é o mais alto entre os testes realizados.
161
equipamentos novos, quatro empresas compram máquinas novas e também reaproveitam
máquinas já utilizadas por outras empresas, comprando-as de segunda-mão
69
.
Muitas empresas de máquinas e equipamentos nacionais e estrangeiras vêm sendo
atraídas para São Bento do Sul nos últimos anos e, segundo o entrevistado da instituição 1,
a internalização da rede de fornecimento está aumentando. O quadro 6 mostra a relação
dessas empresas e seus países de origem, assim como os produtos fabricados por elas que
são direcionados para a
162
A tabela 25 mostra que as empresas moveleiras são bastante exigentes ao escolher
seus fornecedores de insumos e que, apesar do índice atribuído para a importância da busca
de relação de longo prazo ser um dos mais baixos da tabela, ele é bastante elevado. Os
produtores moveleiros de São Bento se mostraram satisfeitos com os seus fornecedores e
afirmaram que estes são importantes fontes de informação. Os fornecedores de máquinas
contribuem com informações sobre inovações de processo, dentro e fora do cluster.
Enquanto, os fornecedores de matérias-primas trazem informações sobre novas formas de
utilização de madeiras, por exemplo, que diminua o desperdício e podem ajudar a redução
dos impactos da produção sobre o meio ambiente.
Tabela 25 – Relação cooperativa com os fornecedores de insumos e os critérios
adotados para a escolha destes
Agentes Índice
Fontes externas de informação
Fornecedores de insumos (matéria-prima e máquinas) 0,92
Importância da cooperação
70
Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais, componentes e softwares) 0,25
Tipo de cooperação
Compra de insumos e equipamentos 0,26
Critérios para escolha de fornecedores
Preço baixo 0,79
Facilidade de negociação 0,86
Garantia dos prazos de entrega 0,94
Cumprimento de especificações técnicas 0,94
Garantia de qualidade 0,98
Conteúdo tecnológico dos insumos 0,69
Assistência técnica oferecida 0,93
Busca de relações de longo prazo/parcerias 0,77
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Entre os entrevistados apenas 27,8% afirmaram que a cooperação com fornecedores
de insumos é bastante relevante e o grau de importância atribuído pelos entrevistados a esse
70
Essa questão assim como as outras referentes à cooperação foi respondida por 11 empresas, que equivalem
a 58% das empresas entrevistadas que afirmaram ter exercido atividades cooperativas nos últimos três anos.
Objetivando calcular os índices, para as outras 7 empresas que afirmaram que não cooperaram com outros
agentes nesse período, considerou-se como se sua atribuição ao grau de importância de todos os critérios fosse
0.
163
tipo de cooperação ainda é baixo (0,25), o que significa que em média existe uma parceria,
porém não muito forte, entre empresas e seus fornecedores. Algumas empresas,
individualmente, conseguem cooperar com fornecedores para compra de insumos e
equipamentos. Constrói-se uma relação de confiança entre poucas empresas e seus
fornecedores, assim suas relações com estes agentes deixam de ser realizadas através do
mercado e passam a ser relações mais autárquicas. Portanto, as relações entre produtores de
móveis e fornecedores em geral não são conflituosas e há bastante espaço para o
desenvolvimento de parcerias, porém estas ainda estão em estágio embrionário. Além disso,
observa-se que a internalização de fábricas de máquinas e equipamentos na região significa
que está havendo um upgrading do tipo setorial.
4.5.3.2 Canais de distribuição dos produtos e reflexos sobre a governança da
aglomeração moveleira de São Bento do Sul
A inserção da aglomeração de São Bento de Sul no mercado externo ocorreu através
da exportação de móveis pouco sofisticados, cujo design é elaborado pelos clientes
estrangeiros, portanto, as empresas moveleiras da região produzem commodities e vendem
a sua capacidade produtiva, não há marca própria, nem estilo característico. A maioria das
empresas de São Bento vende móveis através dos agentes de exportação, que possuem
contato com diversas distribuidoras de móveis.
Algumas empresas estão iniciando um processo de desvinculação do agente, porém
a dificuldade é muito grande, porque a estrutura necessária para internalizar um
departamento de comercialização exige investimentos elevados. Então, como a região já
tem a fama de produtora de móveis de alta qualidade técnica e baixo preço consolidada no
mercado e, por isso, é procurada por distribuidores estrangeiros, o comodismo ainda é a
atitude predominante.
164
Tabela 26 – Canais de comercialização utilizados pelas empresas entrevistadas
Descrição No. de respostas
Agências de exportação 19
Venda direta aos varejistas 2
Representantes comerciais no Brasil 4
Representantes comerciais no exterior 4
Lojas próprias -
Venda direta aos consumidores 1
Venda direta na fábrica 1
Vendedores diretos -
Venda para atacado -
Venda por telefone -
Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.
Na opinião de alguns pesquisadores (como, por exemplo, Bercovich, 1993), as
empresas sãobentenses são excessivamente dependentes das agências de exportação para
realizar as suas exportações. De fato, 80% das exportações de móveis realizadas pela região
são intermediadas por agentes de exportação; entre as empresas entrevistadas todas utilizam
esse canal de comercialização (Tabela 26), cujo peso sobre as vendas varia entre 40% e
100% (dados constatados durante a pesquisa de campo). A percepção deste problema
impulsionou o Promóvel, que, como já apresentado anteriormente, foi frustrado e o
Brazilian Furniture, que ainda está nos primeiros anos de implementação.
De fato, como é possível observar no gráfico 13, as empresas que escolhem
internalizar o departamento comercial e realizar as vendas através de representantes
comerciais no exterior devem estar preparadas para um elevado grau de exigências. Em
termos gerais, esse canal de comercialização é o que mais impõem a necessidade do
desenvolvimento de competências diversas do fabricante, como: qualidade (1,0),
atendimento especializado (0,87), prazo de entrega (1,0), padrões técnicos (0,82) e
elaboração de design (0,47). Nesse caso, comparando com os outros canais de
comercialização, as empresas não precisam se preocupar tanto com relação ao preço (0,87)
e conseguem fugir da cadeia de móveis comandada pelo comprador.
As empresas que conseguem comercializar seus móveis diretamente com os
varejistas são aquelas que sofrem menor nível de exigência, de fato, nesse caso, a relação é
de mercado e as empresas, por enfrentarem compradores menores do que os grandes
distribuidores, conseguem ter maior poder de barganha perante o cliente, porém esses
165
clientes, quando se compara com os outros, se mostram bastante preocupados com relação
ao preço (1,0) e à capacitação tecnológica da empresa (0,67). Esta última preocupação
provavelmente se justifica pelo fato de esses varejistas não obterem tantas garantias quanto
aqueles clientes que importam móveis através das agências de exportação.
Na venda realizada através do agente de exportação, os maiores fatores críticos de
sucesso são a qualidade (0,96) e o cumprimento dos padrões técnicos (0,86), juntamente
com o preço baixo (0,94), e o prazo de entrega (0,96). Porém, as exigências são baixas em
relação à elaboração de design (0,24) e a capacitação tecnológica das empresas (0,47).
Quando as empresas conseguem eliminar o agente de exportação no atendimento a
atacadistas, atendem a mesma cadeia, porém sem intermediários, portanto, é uma cadeia
comandada pelos compradores. Nesse caso, as empresas moveleiras obtêm maiores
facilidades em termos de qualidade (0,77), padrões técnicos (0,77) e prazos de entrega
(0,87), porém enfrentam maiores exigências na questão do preço (1,0) e da tecnologia de
máquinas e equipamentos (0,77).
Gráfico 13 – Comparação dos fatores críticos de sucesso das vendas para diferentes
tipos de compradores
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
Qualidade
Localização
Padrões técnicos
Prazo de entrega
Preço
Design
Tecnologia - máquinas e
equipamentos
Atendimento especializado
Agentes de exportação Varejistas Atacadistas Representantes no exterior
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
166
Nota-se que o vínculo com o agente de exportação é bastante atado, principalmente
pela dificuldade que deve ser encarada para conseguir abrir outros canais de
comercialização. O entrevistado da empresa 17 afirmou que os clientes bons e fortes estão
nas mãos dos agentes, que têm um vínculo pessoal com o cliente final. O poder das
agências de exportação é realmente preocupante, dado que seu vínculo com os clientes é
bem mais forte do que aquele com os fabricantes de móveis. Durante a pesquisa de campo
isso ficou perceptível a partir de pelo menos dois aspectos.
O primeiro é que as agências de exportação fazem pressão para as empresas
reduzam custos porque eles não querem deixar de atender o cliente e não querem perder os
negócios. O segundo é que os clientes, em sua maioria, distribuidoras estrangeiras, fazem
uma encomenda para os agentes de exportação e essas distribuem as encomendas para as
empresas a eles filiadas. Os agentes entrevistados, por exemplo, têm ligações com empresas
de outras cidades e até mesmo de outros países. Nesse caso, se nenhuma empresa de São
Bento do Sul conseguir produzir um lote dentro dos padrões desejados pelos clientes, os
agentes podem passar essa encomenda para outras aglomerações.
O grau de parceria entre as empresas entrevistadas e os seus clientes é baixo (0,17)
(Tabela 27). Apenas quatro entre as empresas entrevistadas afirmaram que realizam esse
tipo de parceria, sendo que destas, duas disseram que a parceria existe, mas é bastante frágil
e as outras duas afirmaram que o grau de cooperação com os clientes é elevado. As duas
primeiras estabelecem relações informais com os clientes, enquanto para as duas últimas o
vínculo é mantido formalmente, talvez isso justifique as respostas quanto à
fragilidade/solidez dessa relação. É importante ressaltar que essa afirmação não está
relacionada com o tamanho da firma, com direcionamento das vendas (mercado interno ou
mercado externo), com pioneirismo no mercado externo e com empresários políticos.
Portanto, não há como argumentar, a partir desses dados, que os empresários mais
próximos aos clientes são aqueles que comandam as empresas líderes da região.
Segundo os empresários entrevistados, a relação de parcerias entre as empresas
moveleiras sãobentenses e as agências de exportação é um pouco mais forte (índice de
0,33). O entrevistado da instituição 1 argumentou que o agente de exportação e o cliente
externo conhecem bem a região e ao perceberem que está havendo um acirramento da
167
concorrência internamente, devido à pressão do mercado externo para a busca simultânea
de qualidade e preço, jogam com isso estrategicamente. Essa atitude acaba fragilizando as
empresas sãobentenses.
Tabela 27 – Grau de importância da cooperação entre as empresas moveleiras
entrevistadas e outras empresas para frente da cadeia global de valor
71
Agentes Índice
Empresas
Clientes 0,17
Representação comercial 0,33
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo
De fato, as agências de exportação já funcionaram como meras atravessadoras e
muitas vezes promoveram leilões para buscar fabricantes que conseguissem produzir os
móveis desejados pelo menor preço, essa atitude promovia uma guerra pelo preço entre as
empresas moveleiras. Entretanto, durante a crise da primeira metade de década de 2000,
observou-se que dentro dos interesses comerciais que são inerentes, tanto do lado dos
fabricantes quanto dos agentes, existe uma parceria porque ambos procuram sobrevivência.
Portanto, apesar de ainda existirem agentes oportunistas, em geral, os agentes de
exportação estão passando por mudanças nos últimos anos. A falência de diversas empresas
moveleiras e a dificuldade das empresas em conseguir atender os clientes sem incorrer em
prejuízo, impulsionaram uma relação mais cooperativa entre os fabricantes e os agentes, em
que estes ajudam na elaboração de projetos e discutem mais fluidamente com os
empresários.
Esse processo de transformação dos agentes de exportação poderia reverter a visão
negativa que estes causam. A instituição 4 afirmou que a reestruturação do papel dos
agentes pode torná-los compatíveis com o desenvolvimento de atividades de design,
marketing e branding na região. Esses podem passar a fazer o controle de qualidade,
trâmites burocráticos, despache dos produtos e, como eles conhecem o mercado externo,
podem ajudar no desenvolvimento de produtos novos. Dessa forma, os programas de
71
A tabela completa que, além das atividades cooperativas mostra se essas parcerias são realizadas através de
trâmites formais ou informais e a localização dos parceiros das empresas, será apresentada no Anexo IV.
168
desenvolvimento dessas etapas não se confrontariam com os interesses dos agentes e teriam
maior chance de serem bem sucedidos.
Portanto, quando existe cooperação entre as empresas e os agentes de exportação
esta se destina a desenvolver produtos que sejam compatíveis com os mercados alvo; já que
o agente de exportação obtém quase a totalidade das informações sobre o mercado de
consumo. De fato, a maioria das empresas não tem contato direto com os clientes finais,
mas já se visualiza uma mudança também neste aspecto, pois cada vez mais os clientes vêm
ao Brasil e visitam as fábricas.
Essa falta de relação cooperativa entre as empresas e seus clientes ficou clara
quando outras questões sobre esse assunto foram levantadas. Entre as empresas
entrevistadas, apenas cinco realizam pesquisa de satisfação dos clientes, isso representa
apenas 26,3% da amostra; ainda menos empresas realizam pesquisa de mercado para
lançamento de novos produtos, apenas três
72
.
A governança dos clientes sobre a cadeia de valor é do tipo cativa e impede que as
empresas moveleiras consigam realizar atualizações tecnológicas funcionais, as poucas
empresas que procuram se reposicionar na cadeia global de valor através desse tipo de
atualização se deparam com barreiras à entrada elevadas devido ao elevado grau
concentração dos compradores. Portanto, os compradores desenvolvem uma dependência
transacional, por meio do confinamento do fornecedor a um escopo reduzido de tarefas, o
que torna os custos de troca de clientes altos para os fornecedores (Gereffi; Humphrey;
Sturgeon, 2005).
Dessa forma, a oportunidade de promover atualizações funcionais reside no fato de
os produtores operarem via intermediário. Segundo Schimtz (2005), essa situação abre
certo espaço para a atualização funcional, por dar mais liberdade para os fabricantes do que
aquela operação de venda que é realizada diretamente com os compradores. De fato, a
forma como está se configurando a reestruturação do papel dos agentes de exportação pode
significar uma oportunidade para a promoção desse tipo de atualização na região de São
Bento do Sul.
72
Essas três são de médio porte e entre elas duas atendem tanto o mercado interno quanto o externo e outra
atende apenas o mercado externo, mas atende a América Latina.
169
Conclui-se que, em geral, as empresas de São Bento do Sul estão de fato inseridas
em uma cadeia de valor comandada pelos compradores que exercem controle: sobre a
posição da cadeia, definindo as características dos produtos a serem oferecidos pelos
fabricantes; sobre a estrutura da cadeia, escolhendo quem produz o quê; e sobre o
monitoramento do sistema, especificando sistema de qualidade e o desempenho dos
fabricantes.
Como visto, essa forma de inserção prejudica o desenvolvimento das relações
horizontais quando, por exemplo, os clientes colocam os fabricantes uns contra os outros
para conseguir preços melhores. Além disso, o excesso de verticalização prejudica o
desenvolvimento de um maior grau de interdependência. Não há divisão do trabalho mais
profunda entre as empresas e essas são, portanto, concorrentes em muitas etapas do
processo produtivo e em geral investem nas mesmas atividades não havendo
complementaridade entre esse investimento (Humphrey; Schmitz, 2000). Esse fato
prejudica a acumulação de conhecimentos específicos e tende a dificultar a introdução de
novas tecnologias (Becattini, 1994) e de atualizações funcionais (Humprhey; Schmitz,
2000).
4.5.3.3 Estrutura de governança local: relações de cooperação entre as empresas
moveleiras e destas com outros agentes
Segundo Pike e Sendengerber, o desenvolvimento de relações horizontais
cooperativas nas áreas competitivas é raro, já que as empresas competem entre si por
encomendas. Ainda mais quando as empresas competem em cadeias globais de valor cujo
produto é uma commodity, como é o caso dos fabricantes de móveis de São Bento do Sul.
No entanto, mesmo com esse fator pesando contra a cooperação dos empresários de móveis
em áreas competitivas, apenas 12,9% dos fabricantes entrevistados consideraram que seu
principal concorrente se encontra na região de São Bento do Sul.
É interessante observar que, durante as entrevistas, os empresários consideraram
algumas empresas da região como concorrentes e outras como “outras empresas do setor”;
os entrevistados argumentaram que essa diferenciação ocorre a partir da afinidade entre os
empresários.
170
Tabela 28 – Grau de importância da cooperação entre as empresas moveleiras
Agentes Índice
Empresas
Outras empresas dentro do grupo 1,00
Concorrentes 0,17
Outras empresas do setor 0,47
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
De acordo com a pesquisa de campo, a parceria entre os empresários e aqueles que
estes consideraram seus concorrentes é baixa (0,17). Enquanto a parceria entre os
empresários e aquelas empresas que estes consideraram como “outras empresas do setor” é
o tipo de cooperação que atingiu o segundo maior grau de importância durante as
entrevistas (0,47), só ficando atrás da parceria entre empresas do mesmo grupo (1,0).
Como mostra a tabela 29, em termos de cooperação horizontal em áreas
competitivas a mais utilizada pelas empresas é a participação conjunta em feiras (0,26),
porém, mesmo esta ainda é muito fraca. O entrevistado da instituição 3 afirmou que a
última feira organizada pelas empresas da região foi cancelada, devido à falta de
organização conjunta. Com relação à participação em feiras realizadas fora da região, os
entrevistados da instituição 2 afirmaram que poucas empresas participam e são sempre as
mesmas, normalmente as grandes empresas e cada uma vai por si, não há maior
cooperação. Entre os entrevistados, 63,2% participaram de feiras nos três últimos anos e,
em geral, afirmaram que estas vêm trazendo resultados positivos para as empresas.
Tabela 29 – Atividades cooperativas horizontais em áreas competitivas
Descrição Índice
Venda conjunta de produtos 0,18
Desenvolvimento de produtos e processos 0,24
Design e estilo de produtos 0,16
Participação conjunta em feiras 0,26
Outros (especificar): 0,11
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
A cooperação para compra de insumos e equipamentos não é realizada entre
empresas da região. O entrevistado da instituição 4 argumentou que “alguns empresários
escondem o jogo em termos de preço de matéria-prima, caso tenham acesso a matérias-
171
primas mais baratas não repassam isso para os outros, portanto, não se consegue organizar
uma ação conjunta, apenas esporadicamente uma ação isolada é conquistada”.
Essa afirmação foi reforçada pelo entrevistado da instituição 1 que defendeu que
algumas vezes as empresas conseguem articular uma central de compra, porém, essa
articulação é bastante delicada, existe um distanciamento entre os empresários, que tendem
a encontrar a melhor solução individuais e não conseguem pensar em conjunto. “Em alguns
momentos, são feitas algumas ações mais articuladas, mas normalmente entre duas, três
empresas, uma ação coordenada maior ainda é difícil” (Entrevistado da instituição 1).
A cooperação para o desenvolvimento de produtos e processos recebeu um grau de
importância 0,18 nas entrevistas para as empresas (Tabela 29). Uma empresa afirmou que
realiza empréstimos de matéria-prima e equipamentos para outro fabricante de móveis da
região. Outra empresa argumentou que coopera com empresas moveleiras da região para
melhorar as técnicas de acabamento dos móveis. No entanto, as instituições responderam
que a cooperação é bastante frágil nesse ponto.
O entrevistado da agência de exportação 1 acredita que entre as empresas de móvel
a cooperação para o desenvolvimento de processo são mais aberta, os empresários visitam
uns as fábricas dos outros, no entanto, com relação ao produto o espaço de cooperação
entre empresas moveleiras é mais fechado e raro. Mas segundo a instituição 1, a cooperação
entre empresas para o desenvolvimento de produto está aumentando bastante, as empresas
estão vendo que a situação está mudando e que novas estratégias são essenciais,
principalmente agora nesse momento de dificuldade, porque todos estão procurando atingir
novos nichos e novos produtos. Então há uma preocupação maior com o desenvolvimento
de novos modelos e busca de novos mercados.
O índice para a cooperação para o desenvolvimento de design atingiu o valor de
apenas 0,16 (Tabela 29). Esse tipo de cooperação é incentivado pelas instituições, mas se
até mesmo o desenvolvimento de design na região é incipiente, mais rara ainda é a
cooperação entre empresas para o seu desenvolvimento. Os entrevistados da instituição 2
afirmaram que em julho de 2006 entrou em andamento uma incubadora com o objetivo de
ajudar as empresas a desenvolverem novos produtos. O SENAI também tem um papel
importante ao ministrar cursos especializados para design de móveis.
172
A cooperação para venda conjunta de produtos também é fraca, o índice atingiu o
valor de 0,16. Segundo o entrevistado da agência de exportação 2, às vezes ocorre esse tipo
de cooperação entre empresas para que estas consigam atender a escala do pedido. O
entrevistado da agência de exportação 1 argumentou que a “dificuldade com relação à
venda de produtos ocorre porque as empresas precisam ter qualidades e padrões parecidos
para conseguir atender uma demanda com maior escala, então essa cooperação
normalmente ocorre sempre entre as mesmas empresas”.
Nota-se que a cooperação horizontal em áreas competitivas, em geral, é muito
baixa, não existindo de forma abrangente (que inclua mais que duas ou três empresas). Esse
ponto foi reforçado pela entrevistas das instituições, que mostraram que existem muitas
reuniões e conversas sobre tentativas para melhorar o grau de cooperação das empresas da
região. No entanto, essas tentativas não saem do papel, não existindo nada na prática, “até
os dias atuais nenhum dos programas desenvolvidos nessa direção obtiveram sucesso”
(Entrevistado da instituição 4).
Em consonância com a afirmativa de Pike e Sengenberger (2002) as entrevistas
mostraram que a cooperação horizontal entre empresas raramente se desenvolvem em áreas
competitivas e são mais comuns em áreas pré-competitivas. Segundo as instituições
entrevistadas, as dificuldades atuais ocasionaram tentativas de iniciar ações conjuntas por
parte das empresas, principalmente no que diz respeito a reivindicações comuns. Isso foi
confirmado pelas empresas que defenderam que as reivindicações comuns foram a forma
de cooperação da qual participaram com mais intensidade durante os últimos três anos e a
esta atribuíram um índice de importância de 0,27 (Tabela 30).
Tabela 30 – Atividades cooperativas horizontais em áreas pré-competitivas
Descrição Índice
Capacitação de recursos humanos 0,12
Obtenção de financiamento 0,05
Reinvidicações 0,27
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
De acordo com a instituição 3, no contexto em que se insere a pesquisa, devido à
crise decorrente da política cambial vigente os empresários estão mais preocupados e estão
se unindo mais, principalmente através do Sindusmobil. A partir dessa ação conjunta,
173
foi elaborado um estudo sobre o cluster moveleiro em parceria com Rio Negrinho para tentar
buscar junto ao governo os recursos retidos, analisar o impacto da crise cambial no setor, esse
documento foi encaminhado para o Ministro Guido Mantega e para a Câmara de Deputados no
Estado. A partir disso, foi feita uma audiência pública sobre a crise do setor de madeira e
móveis no Estado de Santa Catarina e foi discutido aqui com fornecedores, agentes de
exportações (Entrevistado da instituição 1).
Existe uma conscientização por parte dos empresários da importância da
proximidade entre as empresas e universidades, instituições e centros de pesquisa,
principalmente devido à contribuição dessas instituições para melhorias qualitativas da
mão-de-obra e dos conhecimentos técnicos da região. No entanto, a relação de cooperação
entre empresas e universidades é extremamente baixa (0,06), os empresários não enxergam
estas instituições como possíveis parceiros para a elaboração de projetos conjuntos apenas
uma empresa exercia uma parceria, sendo esta formal, com uma universidade local.
Tabela 31 – Cooperação com institutos de ensino e pesquisa e com outros agentes
Agentes Índice
Universidades e outros institutos de
pesquisa
Universidade (qual) 0,06
Institutos de pesquisa 0,08
Centro tecnológico do mobiliário (CTM) 0,28
Instituições de testes, ensaios e certificações 0,06
Outros agentes
Entidades sindicais 0,11
Órgãos de apoio e promoção 0,00
Agentes financeiros 0,08
Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.
Institutos de pesquisa e instituições de testes, ensaios e certificações também
mostraram um baixo grau de cooperação, 0,08 e 0,06, respectivamente. O CTM é o
responsável por alguns desses serviços na região e o grau de cooperação entre este e as
empresas é baixo (0,28), porém importante quando comparado àqueles atribuídos para os
outros agentes. Entretanto, o representante do CTM durante a pesquisa de campo afirmou
que este desenvolveu vários programas para promover a cooperação entre as empresas,
estas ocasionalmente aderiram,
174
no entanto, a partir do momento que não lhes é mais interessante, os empresários largam o
programa sem cogitação. O problema é que os empresários precisam ser conscientizados da
importância do longo prazo, não podem abandonar o programa porque naquele momento não
está sendo interessante. A gente tenta trabalhar com metas de cooperação definidas, mas, do
jeito que está não há como os programas serem bem sucedidos.
Apesar da presença de entidades como a parceria SENAI/FETEP e da UDESC, que
oferecem diversas alternativas para capacitação dos recursos humanos da região, a
cooperação para a capacitação desses recursos recebeu um índice de importância de
somente 0,12. Há também algumas palestras, alguns treinamentos que procuram envolver o
setor como um todo. Existe um processo de conscientização sobre a importância do
aprendizado dos trabalhac6ciaCi0 g1d90anost4( acnic3(pr ain3o,inccomovlver o003 Tc 0.2998 Tw -3469625 TD[(jei)4(t)4(alfabe43o sobre a imh)6(d90g trs.-1(oPor4( ad9,001 Tc 0.24687 0 Td[6de consciende ivelcurs)T tipop)-2(er)5(43o para a ca-1(oa1( )68((o )3o,s )]T7 Tc 0.2833 Tw 18845 T1.725 TTd[(aprendizadinsufiaçe343o))-2fat0.000maioFETEd0 g1a06 Tc 18.436 0 Td[73e conscien3o,inveproc)-2for2(tas reg,inlteidual, 0(h)-2(o)-1(mtTJ003 Tc 0.2991 Tw -20795 -1.72573e [(aprendizadcomporel0.00ca3o,d90sa8( envol347ä3o ronsc Tc 0 Tw -20737 0 Td[s recebeuu0g trs,inlteidualtos que)2(t)2(“As se)nj-03 Tc 0.2998 Tw -208325 -1.725 [(aprendizadc42nci0 g1possuesso )]TJse)-6tras, )rção desses re43o))43ocompo) ó5(g)(m)FETEc42nci0 gpr t4( 2sso )inveprido03 Tc 0.2997 Tw 0.1515 T TD[(jei)4(t)4(muito ni.00” (Eompov7)68(st tr ag4( 2 )]TJ7que)] exia d para a ca-1(o1).03 Tc 0.193 0 Td2.Td[2.2rendizadO3(a)63rg a ca(p)-2apoi(t))]TJtos osobre a imnes recur3 Tc 0.1947 0 Td
175
Portanto, segundo as instituições, a crise atual, teve seu lado positivo, já que
provocou um aumento na interação entre as empresas. As parcerias vêm evoluindo e está
havendo mais preocupações com a questão de mercado, melhoria e alternativa de
conhecimento. As empresas estão buscando mais alternativas, mais soluções em conjunto,
foram criados mais espaços para trocas de idéias
73
.
Entre os tipos de cooperação em que se encontra mais incidência, por ordem de grau
de importância atribuído pelos empresários, estavam aquelas estabelecidas com: outras
empresas do setor para reivindicações, desenvolvimento de produto e processos e
participação em feiras; agentes de exportação para desenvolvimento do design e estilo do
produto; o CTM para desenvolvimento dos produtos; e os fornecedores para compra de
insumos e equipamentos. Notou-se, portanto, desenvolvimento de ações cooperativas em
termos horizontais e verticais.
No entanto, como destacou o entrevistado da instituição 4, a despeito de a troca de
informações ser intensa na região
74
o grau de cooperação ainda é incipiente: “talvez esse
momento seja uma janela de oportunidade para aumentar a interação das empresas e dessas
com as instituições, porque os empresários estão atribuindo maior importância à
cooperação nesse momento de crise, portanto, desde o ano passado o grau de cooperação
vem melhorando, mas ainda está em estágio embrionário”.
Conclui-se que existe uma estrutura muito bem consolidada de instituições de apoio
na região, que estão cada vez mais profissionalizadas e mais preparadas para dirigir os
empresários a ações conjuntas e conseguir formar um sistema de informação. Mas existem
dificuldades para lograr uma maior aproximação com os empresários, primeiro devido à
suficiência (até a atualidade) de soluções individuais por parte destes, segundo por causa da
ausência de um agente catalisador, que consiga unir em um bloco sólido e coerente as ações
das instituições, e ainda porque este é necessariamente um processo de longo prazo, como
aponta a bibliografia sobre aglomerações.
73
Por exemplo, “tinha uma empresa com uma solução tecnológica para reduzir custos, reduzir custos do
material, esta difundiu a idéia para as outras. Existem visitas entre os concorrentes, um já vê o processo do
outro e começam a aplicar processos semelhantes. Já está acontecendo agora” (Entrevistado da instituição 2).
74
Ver tabela no anexo IV.
176
4.5.3.4 Resultados da cooperação e reflexos da estrutura de governança sobre a forma
de flexibilidade da aglomeração
A aglomeração moveleira de São Bento apresenta graus elevados de flexibilidade e
de adaptabilidade frente às flutuações do mercado. O que se reflete nos resultados das ações
conjuntas promovidas entre 2003 e 2005 apontados pelas firmas. Entre os mais importantes
estão a melhoria na qualidade dos produtos (0,63) e novas oportunidades de negócios
(0,62).
Tabela 32 – Melhorias propiciadas pelas ações cooperativas realizadas entre 2003 e
2005
Descrição Índice
Melhoria na qualidade dos produtos 0,63
Desenvolvimento de novos produtos 0,48
Melhoria nos processos produtivos 0,49
Melhoria nas condições de fornecimento do produto 0,45
Melhor capacitação dos recursos humanos 0,32
Melhoria nas condições de comercialização 0,49
Introdução de inovações organizacionais 0,18
Novas oportunidades de negócio 0,62
Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.
Observa-se que, de acordo com as entrevistas, as melhorias na capacitação dos
recursos humanos, nos últimos anos, foram relativamente pequenas. Portanto, para verificar
de que forma a aglomeração moveleira sãobentense conseguiu reagir às mudanças no
mercado externo (maleabilidade passiva ou versatilidade ativa, segundo Pike e
Sengenberger, 2002) se faz importante analisar as relações de trabalho e o processo de
inovação presentes na localidade.
A grande maioria dos trabalhadores das empresas tem o ensino fundamental ou o
ensino médio, essas duas categorias somaram 81,88% do total dos empregados das
empresas entrevistadas. O percentual de empregados que estão no mínimo cursando o
terceiro grau (12,86%) também é bastante significativo.
177
Tabela 33 – Nível de escolaridade dos funcionários das empresas entrevistadas
Ensino Número de funcionários %
Analfabeto
75
5 0,10
Ensino fundamental 2096 42,30
Ensino médio 1961 39,58
Ensino superior 531 10,72
Pós-graduação 106 2,14
Sem resposta
76
256 5,17
Total 4955 100,00
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
A preferência das empresas pelo conhecimento prático era dominante até 2000. No
entanto, a crescente exigência de profissionalização das empresas mudou esse cenário. Isso
afetou as possibilidades de conseguir colocação no mercado de trabalho local. As palavras
do diretor do SENAI, entrevistado na pesquisa de campo, foram indicativas sobre a
situação. Segundo ele, “o índice de empregabilidade dos cursos oferecidos pela instituição,
e também dos cursos de terceiro grau oferecido pela UDESC, está na faixa de 90%.
Praticamente, só não tem emprego quem não quer. A maioria dos nossos alunos já está
empregada durante o curso”.
Nas entrevistas com as empresas ficou clara a preocupação dos fabricantes com as
melhorias no ensino formal e com os cursos práticos na atualidade. Todas as empresas
declararam que estão enviando diversos trabalhadores para freqüentar os cursos rápidos,
específicos para o setor moveleiro, oferecidos pelo SENAI.
Como se pode ver na tabela 34, o número de empregados que obtêm formação
especializada em fabricação moveleira é considerável e atingia 16,74% do total de
empregados das empresas entrevistadas, sendo que 6,52% estudaram ou na escola técnica
do CTM/FETEP ou cursaram o 2º grau de tecnólogo de móveis e 2,07% eram engenheiros
75
Apenas 0,10% dos empregados das empresas entrevistadas são analfabetos; os entrevistados dessas
empresas afirmaram que estes empregados são aqueles muito antigos, que já trabalham na empresa há muitos
anos, porém argumentam que atualmente não se emprega mais analfabetos.
76
Duas das empresas entrevistadas não especificaram a escolaridade de seus funcionários, portanto, não há
informação sobre o nível educacional de 256 empregados, o que representa 5,17% do número total de
empregados das empresas entrevistadas.
178
moveleiros. Além disso, quatro das empresas entrevistadas afirmaram oferecer cursos
específicos rápidos dentro da empresa, acessíveis a todos os seus funcionários.
Tabela 34 – Empregados com formação específica em produção moveleira
Curso
Número de
funcionários
%
Curso na escola técnica CTM/FETEP 102 2,63
2
o
. grau tecnólogo em móveis 112 2,89
Curso eng. Moveleira nível superior UDESC 77 1,99
Cursos específicos e rápidos SENAI/FETEP 354 9,14
Pós-graduação especializada em móveis 3 0,08
Total
648 16,74
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
A maior proximidade ao nível internacional do padrão tecnológico e organizacional
da localidade estudada, refletiu nas relações de trabalho na região. Isso decorreu da redução
dos níveis hierárquicos (as empresas reduziram muito o seu quadro de pessoal nesse
período) e da introdução de novas técnicas organizacionais.
Porém, nos últimos três anos essa maior flexibilidade vem afetando negativamente a
mão-de-obra desqualificada, aquela do chão-de-fábrica, que possui conhecimento prático
na produção de móveis e é abundante na região. No que diz respeito à mão-de-obra
qualificada, com conhecimentos técnicos mais aprofundados sobre a produção de móveis,
há uma demanda não atendida. De fato, as empresas declararam que no momento a mão-de-
obra qualificada está escassa, e como visto anteriormente, os empresários apontaram essa
escassez como a principal dificuldade enfrentada pela região atualmente.
No entanto, nesse momento de dificuldade, apesar da demanda das empresas por
cursos específicos indicar uma preocupação com relação à qualificação dos funcionários,
além de sugerir que a quantidade de mão-de-obra qualificada disponível na região não
atende à demanda dos fabricantes, muitos dos benefícios, inclusive bolsas de estudos
direcionadas a capacitação de funcionários, estão sendo cortados. Durante as entrevistas, as
empresas afirmaram estar adotando modificações no plano de benefícios (Tabela 35), mas
não fizeram muitos comentários sobre o sentido dessas modificações. Contudo, as
instituições defenderam que houve reduções desses benefícios.
179
São notáveis as mudanças nas relações de trabalho que as empresas vêm adotando
nos últimos três anos. A principal delas é a redução dos níveis hierárquicos (0,75),
estratégia de organização empresarial que já é comum nas empresas da região devido ao
tamanho reduzido da maioria das empresas entrevistadas e ainda à gestão familiar (Tabela
35). O próprio dono da empresa acompanha o processo produtivo e conhece seus
empregados pessoalmente. Além disso, o pessoal do escritório teve que se aproximar do
chão-de-fábrica para conseguir encontrar soluções para a crise, o que foi facilitado pelo
enorme volume de demissões que levou a um acúmulo de funções do pessoal do escritório.
A segunda mudança mais significativa, com índice de 0,63, foi adoção do controle de
qualidade total.
Tabela 35 – Mudanças nas relações de trabalho
Tipo de contribuição Índice
Adoção do controle de qualidade total, realizado em
todas as etapas produtivas. 0,63
Introdução da avaliação de desempenho 0,56
Redução dos níveis hierárquicos 0,75
Modificações nos planos de benefícios 0,58
Prêmios de produção ou distribuição de resultados 0,34
Redução das faixas salariais 0,22
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Outra mudança importante foi a introdução de avaliação de desempenho, esse índice
alcançou o valor 0,56 (Tabela 35). Algumas empresas adotaram avaliação de tempo de
produção, para verificar a produtividade dos trabalhadores, em esquemas bastante
profissionalizados. Com relação a prêmios de produção ou distribuição de resultados, o
índice resultante das entrevistas foi baixo, 0,34 (Tabela 35). A maioria das empresas que
utilizava o sistema de distribuição de resultados deixou de usá-las; segundo as instituições o
motivo para tal redução foi a insatisfação com o sistema, e ainda o fato de muitas empresas
estarem incorrendo em prejuízo. No que diz respeito a prêmios de produção, poucas
empresas o adotaram, uma delas afirmou que premia seus funcionários a partir das
melhorias implementadas por estes.
Com relação a reduções nas faixas salariais, as empresas afirmaram não estar
implementando essa modificação, o índice resultante das entrevistas foi de 0,22 (Tabela
180
35). Apenas 26,3% das empresas entrevistadas assumiram que houve redução nas faixas
salariais, estas afirmaram que isso ocorreu mais no sentido de um achatamento devido à
crise vigente que a aglomeração está passando. Essas informações foram confirmadas pelas
instituições entrevistadas.
Portanto, percebe-se que, os empresários estão conscientes sobre a importância da
qualificação da mão-de-obra para o desenvolvimento da aglomeração e investem na
capacitação de seus empregados. Atualmente, devido à conjuntura imposta pela
sobrevalorização cambial, as empresas do setor moveleiro vêm respondendo de forma
negativa aos desafios impostos pela pressão do mercado externo. As empresas da
aglomeração estão se submetendo às pressões externas dos clientes e repassando-as aos
trabalhadores.
Para chegar a uma resposta sobre a forma de flexibilidade do cluster devem ser
também levados em consideração aspectos sobre o processo inovativo da região. Dessa
forma, nota-se que as pressões provocadas pelo comércio internacional e a baixa cotação do
dólar influenciaram positivamente o processo inovativo. Dada a necessidade de se
adaptarem ao novo quadro, as empresas se viram obrigadas a aumentar o ritmo de
introdução de inovações para se tornarem mais competitivas no mercado externo. As
inovações no processo produtivo são realizadas com freqüência, as empresas estão revendo
o processo a toda a hora, principalmente na preparação da madeira e estão procurando
introduzir novos lay-outs para buscar maior produtividade. De acordo com as instituições
“a qualidade está num padrão bem interessante, o pessoal tem qualidade para atender o
mercado, às vezes, coloca até qualidade demais, isso gera custos excessivos” (Entrevistado
da instituição 1).
Quando questionados sobre quais foram os tipos de inovação implementados pela
empresa entre 2003 e 2005, em geral, os empresários afirmaram que estão inovando. O tipo
de inovação mais comum na região é a incorporação de tecnologias já existentes, sendo as
empresas, portanto, receptoras de esforços tecnológicos realizados fora dos seus limites
(Tabela 36). A título de ilustração, uma empresa apontou que inovou no processo de
secagem da madeira, de forma que o coeficiente de aproveitamento se tornou maior, técnica
nova na região, mas já conhecida em outros países. Além disso, muitas empresas realizam
181
pequenas inovações em processo, como incorporação de mecanismos anti-ruído e
adaptação de máquinas para maior aproveitamento de resíduos e redução do número de
etapas produtivas necessárias para produzir o móvel. Todas essas inovações são do tipo
incremental.
Tabela 36 – Inovações implementadas pelas empresas entre 2003 e 2005
Descrição 1. Sim 2. Não
Inovação de Produto
Produto novo para sua empresa, mas que já existente no mercado? 15 4
Produto novo para o mercado nacional? 4 0
Produto novo para o mercado internacional? 14 5
Inovação de Processo
Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no
setor? 18 1
Processos tecnológicos novos para o setor de atuação? 7 12
Outros tipos de inovação
Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo do
condicionamento (embalagem) dos produtos?
15 4
Inovações no desenho de produtos? 13 6
Realizações de mudanças organizacionais (inovações organizacionais)
Implementação de técnica avançada de gestão? 4 15
Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional? 12 7
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing? 4 15
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização? 9 10
Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando atender normas
de certificação (ISO 9000, ISO 14000, etc.) 8 11
Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.
De acordo com a pesquisa de campo, 73,7% das empresas entrevistadas produziram
produtos novos para o mercado. Essa elevada porcentagem se explica pelo fato de os
empresários terem considerado as inovações enviadas pelos clientes como se fossem
inovações próprias. É importante ressaltar que as empresas de fato possuem estrutura para
elaboração de novos produtos, já que 94,7% das empresas obtêm estrutura própria para
elaboração de protótipos de produtos a serem lançados no mercado e 73,7% possuem
sistema de produção CAD/CAM para desenvolvimento de projetos e desenhos técnicos. No
entanto, as empresas não produzem móveis com designs próprios, quando o móvel é
encomendado pelo cliente, este entrega para as empresas o desenho do produto e as
especificações técnicas.
182
Portanto, as inovações em desenhos de produtos realizadas pelas empresas de São
Bento que são direcionadas para o mercado externo são incrementais. As inovações de
produto são realizadas pelos clientes, as empresas algumas vezes sugerem mudanças nos
desenhos, normalmente para reduzir a utilização de madeira e conseguir atingir o preço
meta (target), porém estas mudanças são pequenas, como por exemplo, alteração do
material, de um puxador, de uma corrediça, de um encosto de cadeira.
O mais marcante é que a maioria das empresas não enxerga a criação de design
próprio como um fator importante para sua competitividade no mercado internacional. Os
empresários ainda estão muito presos aos clientes vigentes e à mentalidade de que não é
necessário desenvolver design por não ser o desejo dos clientes. Contudo, algumas
empresas já estão procurando clientes que ocupam outros segmentos no mercado externo,
utilizando outros tipos de materiais, como vidros, metais ou outros tipos de madeira
(marfim e jequitibá) para tentar produzir móveis mais sofisticados e sair do mercado de
commodities. Um reflexo dessa tendência à busca de novos nichos de mercado é a
preocupação do CTM de tentar combater essa deficiência, ao instalar laboratório de design
que deve entrar em funcionamento dentro de 2 ou 3 anos.
No que diz respeito aos conceitos e práticas de marketing, as empresas não
evoluíram muito nos últimos três anos (Tabela 36), de fato, a forma como o produto é
vendido não abre espaço para formação de marca. Até há pouco tempo, as empresas
exportavam produtos que não apresentavam nem mesmo o selo “made in Brazil”, e muito
menos o selo próprio. Porém, desde outubro de 2005 devido a exigências do governo dos
EUA, os móveis, as embalagens e os esquemas de montagem devem carregar um selo
indicando o país de origem do móvel, mas a marca carregada pelos móveis ainda é a do
cliente estrangeiro. Ou seja, as empresas, em geral, não têm como objetivo consolidar uma
marca brasileira no exterior. Isso sugere problemas na visão de mercado das empresas, que
não fazem pesquisa direta junto aos consumidores para verificar suas preferências e
tendências. Essa atitude é reflexo da distância que existe entre os produtores de São Bento
do Sul e os consumidores finais, e também da visão voltada para “dentro da fábrica”, em
que se priorizam ações de produção e não de marketing.
183
A despeito disso, os produtos da região representam alto potencial de inserção de
uma marca própria no exterior, devido à sua qualidade e competitividade. Porém, isso
levaria certo tempo para ser concretizado, pois depende, primeiramente, do fortalecimento
da idéia de que é necessário implementar inovações originais e autênticas no produto, já
que os empresários parecem ainda não enxergar essa necessidade. Esforços no sentido de
avançar neste aspecto têm sido feitos pela Abimóvel e pelo SENAI, e a questão vem sendo
abordada por diversos pesquisadores, como Coutinho et al (1999). Posteriormente, a
inovação dependerá do ritmo de troca de idéias na região e, consequentemente, da
efetivação da inovação tecnológica, ou seja, dos investimentos em Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D).
Segundo as empresas, as embalagens sofreram um processo de inovação muito
intenso (Tabela 36). As empresas estão investindo muito nas embalagens para evitar o
desperdício de móveis devido a danos ocorridos durante a viagem. As embalagens
apresentam um nível tão alto de desenvolvimento tecnológico que chegam a custar 30% do
valor do móvel (Entrevistado da instituição 3). Essa melhoria no condicionamento dos
produtos foi propiciada pela instalação de um laboratório de teste de embalagens no CTM
em 2004.
As empresas, em geral, não implementaram técnicas avançadas de gestão, porém,
aparentemente, existe uma tendência para a maior profissionalização das empresas, uma
vez que uma nova geração de empresários, que freqüentou faculdades de administração,
engenharia de produção, entre outras, está assumindo o controle administrativo das
empresas.
A tabela 37 mostra que as inovações promovidas nas empresas permitiram o
aumento da participação no mercado externo em termos de volume. Este acompanhado da
queda dos preços no exterior dos móveis caracterizados como commodities coloca São
Bento do Sul entre uma daquelas posições ambíguas de upgrading, nos termos da tipologia
de Kaplinsky e Readman (2005) descrita no capítulo 3. Além disso, confirmando a
proposição de Schmitz (2005), a queda do preço unitário desses produtos no mercado
internacional juntamente com a sobrevalorização acarretou em uma redução da renda
gerada pelas exportações, a despeito do aumento do volume exportado.
184
Essa situação foi possibilitada pelo aumento da produtividade das empresas e da
qualidade do produto, porém apesar das empresas terem aumentado a gama de produtos
ofertados e estarem abrindo novos mercados, estas não conseguem ainda atingir de forma
significativa nichos de mercado mais sofisticados, cuja pressão sobre os preços é menor.
Com relação ao mercado interno, muitas empresas deixaram de atendê-lo e se voltaram
para o mercado externo, de fato, entre as empresas entrevistadas nenhuma aumentou a
participação das vendas para o mercado interno, mostrando que, de fato, o processo de
aprofundamento da internacionalização comercial dos móveis da região ainda está em
marcha.
A redução do impacto sobre o meio ambiente também foi significativo, esta foi
permitida devido à implementação de novas técnicas de secagem da madeira e da adaptação
de processo que diminuem o desperdício de resíduos.
Tabela 37 – Resultados das inovações implementadas entre os anos de 2003 e 2005
Descrição Índice
Aumento da produtividade da empresa 0,83
Ampliação da gama de produtos ofertados 0,78
Aumento da qualidade dos produtos 0,83
Permitiu que a empresa mantivesse a sua participação
nos mercados de atuação
0,91
Aumento da participação no mercado interno da empresa 0,24
Aumento da participação no mercado externo da empresa 0,81
Permitiu que a empresa abrisse novos mercados 0,79
Permitiu a redução de custos do trabalho 0,86
Permitiu a redução de custos de insumos 0,75
Permitiu a redução do consumo de energia 0,44
Permitiu o enquadramento em regulações e normas
padrão relativas ao:
- Mercado interno 0,44
- Mercado externo 0,77
Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente 0,89
Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.
Os gastos com P&D foram bastante baixos, em 2005; entre as empresas
entrevistadas apenas duas lograram buscar financiamento para tais atividades em órgãos
públicos e duas buscaram financiamento com agentes privados. Nesse ano, a maioria das
empresas investiu entre 0 e 10% do faturamento em atividades inovativas, porém esses
cálculos foram estimados ex-post, não há um planejamento prévio sobre os gastos com
185
P&D, que são aleatórios e dependem da necessidade. Isso demonstra certa falta de
planejamento em relação a esse aspecto, o que pode vir a prejudicar a velocidade das
inovações devido à falta de recursos necessários
77
. A tabela 38 mostra a freqüência de
atividades inovativas nas empresas em 2005.
Tabela 38 – Freqüência de atividades inovativas nas empresas de móveis sãobentenses
em 2005
Grau de constância/no. de empresas (%)
Descrição
Não
desenvolveu
Rotineiramente Frequentemente
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na sua empresa 8 (42,1) 4 (21,0) 7 (36,8)
Aquisição externa de P&D 11 (57,9) 1 (5,3) 7 (36,8)
Aquisição de máquinas e equipamentos que
implicaram em significativas melhorias tecnológicas de
produtos/processos ou que estão associados aos novos
produtos/processos 6 (31,6) 6 (31,6) 7 (36,8)
Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças ou
acordos de transferência de tecnologias tais como
patentes, marcas, segredos industriais) 8 (42,1) 5 (26,3) 6 (31,6)
Projeto industrial ou desenho industrial associados à
produtos/processos tecnologicamente novos ou
significativamente melhorados
4 (21,0) 6 (31,6) 9 (47,4)
Programa de treinamento orientado à introdução de
produtos/processos tecnologicamente novos ou
significativamente melhorados
7 (36,8) 5 (26,3) 7 (36,8)
Programas de gestão da qualidade ou de modernização
organizacional, tais como: qualidade total,
reengenharia de processos administrativos,
desverticalização do processo produtivo, métodos de
"just in time", etc. 10 (52,6) 3 (15,8) 6 (31,6)
Novas formas de comercialização e distribuição para o
mercado de produtos novos ou significativamente
melhorados
10 (52,6) 5 (26,3) 4 (21,0)
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Em média, as empresas investiram frequentemente em inovações no último ano. É
importante destacar que cinco empresas, sendo quatro empresas consideradas líderes,
afirmaram que inovaram em todos os aspectos com freqüência, salvo no caso das formas de
comercialização, que uma das cinco investiu, porém, esporadicamente. No total nove
empresas investiram em novas formas de comercialização, exatamente empresas que
77
As instituições confirmaram a ausência de planejamento dos empresários, que no momento não estavam
conseguindo se atualizar porque “não se preparavam para uma eventual contração do mercado. Na verdade o
mercado é feito de altos e baixos, você tem que se prevenir para uma futura crise. Ninguém esperava que o
dólar chegaria a R$ 2” (Entrevistados da instituição 2).
186
estavam conseguindo entrar em novos mercados (alguns na América Latina) ou estavam
utilizando outros canais de acesso ao mercado externo que não os agentes de exportação.
Em suma, a região conseguiu responder com velocidade às mudanças de mercado e
a maioria das empresas inova constantemente. É importante apontar que essas inovações
são incrementais (adaptações de designs) ou são realizadas através da transferência de
tecnologia (aquisição de máquinas e equipamentos).
Nota-se que os empresários se preocupam com a qualificação da mão-de-obra, e
normalmente investem no aumento da capacitação dos seus empregados. Apesar de
atualmente ser possível observar certa flexibilização negativa da mão-de-obra, devido às
pressões provenientes da sobrevalorização cambial, há um impulso muito forte para a
reestruturação estratégica através da inovação e uma forte preocupação com o meio
ambiente. Pode-se dizer que dentro de um espectro, cujos extremos são a versatibilidade
ativa e a maleabilidade passiva, a situação de São Bento do Sul é mediana, mas sua forma
de flexibilidade estava mais próxima da via alta.
4.5.3.5 Reflexos da estrutura de governança sobre a competitividade das empresas
sãobentenses de móveis no mercado internacional
As instituições de apoio entrevistadas apontaram que o nível de competitividade das
empresas moveleiras nos últimos três anos piorou, isso a despeito das iniciativas de peso
travadas pelos fabricantes locais para implementar atualizações tecnológicas. Segundo
esses entrevistados, ao se comparar o desempenho dos fabricantes sãobentenses de móveis
àquele de três anos atrás, estes obtiveram muitas melhorias. Porém, ao comparar a
competitividade relativa destes produtores e a de fabricantes de outros países (ou
aglomerações) há três anos, com a competitividade relativa vigente, o desempenho dos
fabricantes sãobentenses piorou. Portanto, perante a diferenciação realizada por Kaplinsky
e Readman (2005), os empresários de São Bento inovaram, no entanto, não conseguiram
obter um upgrading significativo, pois estes não conseguiram inovar mais rápido e melhor
do que os seus competidores estrangeiros.
Atualmente, as instituições locais e os empresários estão mais conscientes da
necessidade de uma mudança estratégica. Porém, somente algumas empresas mais
187
privilegiadas conseguem efetivar tais mudanças. Portanto, em termos gerais o Brasil
continua a competir com países asiáticos no mercado internacional.
Entre as 19 empresas entrevistadas, todas afirmaram que seus principais
concorrentes estão localizados em outros países, como China (53%), Vietnam (16%), Índia
(6%) e em outros países asiáticos (13%). Alguns empresários que conseguem entrar em
mercados direcionados para produtos mais sofisticados, estão competindo com países como
a Polônia, a Estônia e a Lituânia, cada um recebeu 3% das respostas. Outro concorrente
importante é a África do Sul.
Gráfico 14 – Principais concorrentes internacionais das empresas
China
53%
India
6%
Ásia
13%
África do Sul
3%
Ponia
3%
Estônia
3%
Lituânia
3%
Vietnam
16%
Fonte: Elaboração própria a partir de pesquisa de campo.
O principal critério para a formação de preços no mercado externo, segundo os
empresários, é a negociação entre fabricantes e compradores. Na verdade, o mecanismo de
formação do preço ocorre da seguinte forma: o comprador entrega o desenho do móvel
desejado para os agentes de exportação e estipulam um preço meta (target); os agentes, por
sua vez, que conhecem as empresas da região, entregam o desenho para algumas empresas
cuja especificidade produtiva é compatível com o desenho e pedem o orçamento. As
empresas chegam a um preço; caso esse esteja muito distante do target os agentes,
juntamente com os fabricantes, procuram elaborar modificações no desenho para aproximar
o preço àquele desejado pelo cliente, processo durante o qual o cliente é questionado sobre
a possibilidade de tais modificações. Quando se entra em um acordo, os empresários
188
montam um protótipo, se os clientes aprovarem, este é fotografado e incorporado ao
catálogo do cliente no país importador. Alguns meses depois, chegam as encomendas.
De acordo com a instituição 2 “quando são fechados os contratos é feito pela moeda
vigente, o contrato é elaborado e assinado seis meses antes da entrega e os empresários
daqui que tomam todo o risco porque o contrato é fechado em dólar, o negócio não é
fechado em real, porque quem ditas as regras são os clientes”. A maioria das empresas
encara esse mecanismo como um processo de negociação, outros afirmam que o comprador
fixa o preço. Estas empresas estabelecem uma relação de governança cativa com seus
clientes.
Diante dos questionários aplicados às empresas, alguns fabricantes responderam que
eles que fixam o preço. Isso é possível porque estes estão se especializando e procuram
ocupar outras cadeias de valor, que não são comandadas pelos clientes, nestas os
fabricantes conseguem maior poder de barganha frente aos clientes. Portanto, algumas
empresas estão conseguindo caminhar para uma relação de governança com seus clientes
mais próxima da modular.
Tabela 39 – Mecanismo de fixação de preço das empresas
Critérios
Mercado
Interno Mercado Externo
Fabricante fixa o preço 5 4
Comprador fixa o preço 0 6
Fabricante adota o preço do mercado 0 1
Fabricante e comprador negociam o preço 1 12
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Os principais destinos dos móveis sãobentenses são os Estados Unidos e a União
Européia, mercados, cujas estruturas de comercialização, tanto varejistas como atacadistas,
são altamente concentradas. Em seguida aparecem o Reino Unido e a América Latina
(Gráfico 15). Neste último mercado, as empresas conseguem competir com móveis
diferenciados, no entanto, todas as empresas entrevistadas respondem que a formação do
MERCOSUL não afetou sua estratégia competitiva.
De fato, a participação do mercado consumidor do MERCOSUL nas exportações
brasileiras de móveis diminuiu muito entre 2001 e 2004. No entanto, de acordo com o
entrevistado da instituição 4, no momento volta a se pensar no MERCOSUL como um bom
189
destino para os móveis brasileiros. As empresas afirmaram que estão procurando atender
novos mercados e novos nichos onde possam competir via diferenciação do produto,
tentando agregar mais valor a seus produtos, melhorando as técnicas de acabamento e
saindo dos nichos e da cadeia em que competem com a China.
Gráfico 15 – Destinos dos móveis das empresas sãobentenses
Uno Européia
49%
Reino Unido
11%
EUA
24%
América Latina
8%
Canadá
3%
Japão
2%
Austrália
3%
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
O entrevistado da empresa 17 argumentou que devido às vantagens competitivas da
China, em termos de baixos gastos com juros, baixa necessidade de investimento para a
construção de plantas e baixos custos trabalhistas, as empresas de São Bento do Sul
deveriam observar quais são as estratégias competitivas deste país e evitar a competição
direta. Alguns agentes de exportação compartilham dessa opinião e estão ajudando os
fabricantes a encontrar espaço nesses mercados onde competiriam com produtos de alto
padrão.
Contudo, muitas empresas ainda sentem muita dificuldade de “abandonar” seus
clientes atuais e de criar novos produtos. Essa situação é decorrente das diferenças nas
técnicas produtivas e do maquinário necessário para as empresas migrem da produção de
móveis de baixo padrão para móveis mais sofisticados, porque estes últimos, mesmo que
190
utilizem pinus, normalmente incluem outros materiais, como outros tipos de madeira (que
precisam de técnica de tratamento diferentes), vidro e metais.
4.5.4 Políticas públicas: estrutura da governança nos âmbitos local-nacional-internacional
No Brasil, a mudança de foco das políticas públicas em termos de políticas
industriais esteve marcadamente visível. Entre 1950 e 1980, o processo de industrialização
brasileira esteve alicerçado na substituição de importações, em que os planos e estratégias
de desenvolvimento industrial apoiavam as grandes empresas e o processo trazia
concentração econômica.
Segundo Naretto, Botelho e Mendonça (2004), na década de 1980, o Brasil entrou
em uma grave crise econômica que induziu as políticas macroeconômicas e aquelas
direcionadas ao apoio à indústria a objetivar prioritariamente a geração de excedentes
exportáveis e de divisas externas para sustentar o pagamento dos serviços da dívida externa.
Neste ambiente, o governo definiu mudanças importantes na política industrial: interrompeu as
ações voltadas para o desenvolvimento da estrutura industrial no rumo das mudanças ocorridas
na economia mundial, e passou a privilegiar ações de reforço aos setores geradores de
excedentes exportáveis, em particular aqueles produtores de commodities intensivas em
recursos naturais (Naretto; Botelho; Mendonça, 2004: 70).
A partir da década de 1990, o Estado brasileiro reforçou a estratégia de liberalização
econômica, dessa forma a atuação do Estado deixou seu caráter fortemente intervencionista
e passou a regulador econômico. Segundo Naretto, Botelho e Mendonça:
Em consonância com o propósito de mudar a intervenção estatal do apoio a setores espeficos
para o apoio por meio de políticas horizontais, o governo iniciou trabalho mais efetivo no campo
das políticas dirigidas ao apoio a PMEs e ao empreendedorismo (2004: 90).
Neste período, segundo os mesmos autores, no Brasil diversos clusters foram
formados pelas iniciativas indiretas do governo federal, inclusive a partir de políticas
191
atrativas de grandes empresas através de isenção fiscal e diversas concessões
78
.
Diversos destes eram muito dinâmicos, porém não convêm avaliar a contraposição entre
esses clusters e aqueles formados de forma espontânea ainda no início do século XX.
Nos últimos anos, o governo federal sentiu a necessidade de retomar a política
industrial, tecnológica e de comércio exterior para superar os desafios do comércio
internacional. No entanto, a política industrial estava subordinada à política
macroeconômica e à visão de política pública da OMC, “que considera[va] esforço legítimo
os programas de desenvolvimento tecnológico, de desenvolvimento regional, de apoio a
pequenas e médias empresas e de proteção do meio ambiente” (Naretto; Botelho;
Mendonça, 2004: 97).
As políticas públicas de apoio a PMEs passam a ocupar-se dos desafios da inovação e da
exportação e da articulação empresarial propiciada pela atuação no mesmo espaço geográfico.
O apoio à gestão nas microempresas isoladas e ao empreendedorismo continuou na pauta, mas
abriu-se espaço relativo para a construção de aparatos institucionais favorecedores da criação e
consolidação de arranjos produtivos locais e pólos tecnológicos e da articulação de PMEs
(Naretto; Botelho; Mendonça, 2004:98).
Os arranjos produtivos locais e os pólos tecnológicos começaram a receber atenção
do Estado, que passou a realizar o mapeamento das vocações regionais, analisando a
distribuição espacial das atividades produtivas e as especializações produtivas. Além disso,
foi realizado um mapeamento das deficiências competitivas das empresas brasileiras no
mercado internacional. Este apontava a especialização em produtos de baixo valor agregado
como um dos principais entraves à expansão do comércio externo brasileiro. Outros
entraves foram igualmente identificados como “a falta de articulação no âmbito das cadeias
produtivas, a falta de estratégia de inserção nas cadeias produtivas globalizadas e a ausência
de empresas líderes brasileiras atuantes como players internacionais nos diversos
78
A indústria moveleira não foi um foco direto dessas políticas de atração de capital, até mesmo porque em
geral essa indústria é constituída de empresas de pequeno porte e no caso de São Bento do Sul a indústria deu
seus primeiros passos de forma espontânea. Entretanto, a partir do incentivo fiscal do Governo de Santa
Catarina, em 2000 instalou-se em São Bento do Sul uma multinacional moveleira. Neste caso, que não
permite generalizações, a experiência concreta sustenta a proposição de Pike e Sengenberger (2002), já que a
empresa Ashley S/A aproveitou os incentivos para abrir fábrica no período de maior prosperidade da região.
Porém, no momento atual de crise causado pela sobrevalorização cambial e o baixo poder de negociação das
empresas locais, a empresa multinacional fechou as portas, tendo participação importante na criação de
desempregos, já que a empresa possuía mais de mil funcionários.
192
mercados” se faziam presentes (Naretto; Botelho; Mendonça, 2004: 98). De fato, a análise
da pesquisa de campo, mostrou que a indústria moveleira de São Bento do Sul se enquadra
perfeitamente nesse padrão.
Naretto, Botelho e Mendonça (2004) destacam que a orientação política direcionada
para aglomerações produtivas locais demanda enorme esforço de integração e coordenação
no âmbito do governo federal e deste com os governos locais. De fato, como proposto por
Humphrey e Schmitz (2000) a construção das redes políticas depende das relações ao longo
do eixo público-privado e, em alguns casos, essas redes precisam ser construídas ao longo
de um eixo local-global. No caso de um aglomerado orientado para a exportação, a rede
política necessitaria incluir agências públicas e organizações privadas (associações
empresariais), os empreendedores locais chave e talvez até os seus clientes no exterior. A
construção dessa rede política em São Bento do Sul ainda se encontra em etapas
incipientes.
Como salientado durante a exposição dos resultados da pesquisa de campo, a
aglomeração produtiva moveleira de São Bento do Sul foi construída a partir da migração
de colonos de origem européia na região, de forma que ao longo do século XX a indústria
de móvel passou por um processo de formação e consolidação. Atualmente, a região possui
uma rica estrutura de instituições privadas, como associações e sindicatos, cujo objetivo é
promover o desenvolvimento local. Também se fazem presentes na região instituições que
são frutos de parcerias público-privada.
Nesses termos, há na região uma estrutura institucional capaz de construir uma rede
política eficiente. Contudo, não é o que acontece, porque, a despeito da tentativa das
associações de se abrirem mais para interagir entre si, coletivamente falta alguém para
coordená-las. O SEBRAE está tentando organizar um sistema de coordenação mais fluído
entre as instituições, para sair da situação vigente, em que os empresários conseguem se
unir e trocar informações, porém não conseguem por projetos em prática. O andamento do
processo de construção da rede política é lento e demora a trazer resultados. Apesar de o
SEBRAE já obter diversos projetos e programas direcionados para o desenvolvimento
dessa rede, a idéia da maior eficácia das políticas elaboradas de baixo-para-cima impede o
SEBRAE de entregar o projeto pronto. Dentro dessa perspectiva, o projeto não pode ser do
193
SEBRAE, porque assim os empresários não aceitariam as propostas, a instituição deve
levantar questionamentos para induzir que os empresários cheguem a uma solução
conjunta.
Grande parte das empresas declarou não conhecer programas ou ações específicas
para o segmento de móveis por parte do governo Federal. Outras empresas têm
conhecimento, porém, a maioria não tem acesso aos programas federais para a APLs. No
caso do governo estadual e municipal, o grau de desconhecimento é ainda maior e em todos
os casos é difícil chegar a qualquer conclusão sobre a avaliação dos programas, porque a
maioria das empresas respondeu que não tem elementos para avaliá-los.
Tabela 40 – Nível de conhecimento e avaliação dos programas específicos para o
segmento de atuação das empresas
Avaliação dos programas
Instituição/esfera
governamental
Índice de
conhecimento
dos programas
Positiva Negativa
Sem elementos
para avaliação
Governo federal 0,34 2 4 13
Governo estadual 0,18 2 2 15
Governo local/municipal 0,16 2 3 14
SEBRAE 0,42 4 1 14
Abimóvel 0,55 3 3 13
SENAI/FETEP 0,55 8 1 10
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Além disso, a instabilidade política e econômica constantemente presente na história
brasileira dificulta o desenvolvimento de relações e formação de expectativas de longo
prazo. Exemplos dessa instabilidade são a falta de cumprimento da Lei Kandir e a variação
contínua do Real. De fato, os empresários de São Bento do Sul apontaram que o
cumprimento da Lei Kandir e uma política cambial mais favorável seriam as políticas
governamentais mais importantes para o aumento da eficiência da indústria moveleira local.
194
Tabela 41 - Políticas governamentais que contribuiriam para o aumento da eficiência
da indústria moveleira local
Ações políticas Índice
Programas de capacitação profissional e treinamento técnico 0,63
Melhorias da educação formal (1
o
,2
o
e 3
o
grau) 0,79
Programas de apoio a consultoria técnica 0,57
Programas de acesso à informação 0,55
Linhas especiais de crédito e outras formas de financiamento 0,81
Incentivos fiscais 0,89
Programas de estímulo ao investimento 0,79
Estímulo à cooperação, à ação coletiva 0,69
Outras: Cumprimento da Lei Kandir e política cambial
favorável 1,00
Fonte: Elaboração própria a partir da pesquisa de campo.
Além disso, os empresários reclamaram por linhas especiais de crédito, dado que as
condições de financiamento às PMEs (custos e prazos) seguem desfavoráveis, e persistem
entraves enormes no acesso aos recursos (exigências de garantias reais, cronogramas
rígidos, burocracia) (Naretto; Botelho; Mendonça, 2004). Outras carências apontadas como
importantes de serem sanadas foram a melhoria da educação formal e a criação de
programas de estímulo ao investimento.
A política de apoio às aglomerações produtivas está vinculada ao aprofundamento da
exportação e apesar do mapeamento das deficiências competitivas das empresas brasileiras
realizado pelo governo, as mudanças necessárias na orientação política ainda não
alcançaram a região de São Bento do Sul de forma adequada. Apesar de algumas
modificações na forma de inserção dos empresários sãobentenses serem perceptíveis, estes
em sua maioria ainda tentam conseguir se manter no mercado externo, se inserindo neste de
forma precária: especializados em produtos de baixo valor agregado, carentes de uma
estratégia de inserção nas cadeias produtivas globalizadas e de empresas líderes brasileiras
que se enxerguem como players internacionais.
Como apontado por Humphrey e Schimtz (2000), as forças centrífugas da
globalização potencializam o surgimento de conflitos entre os agentes locais.
Particularmente em projetos de atualização tecnológica, o conflito é freqüentemente
195
apoio do setor privado. Sendo assim, a generalização do vínculo entre as políticas
direcionadas para as aglomerações produtivas especializadas e o esforço exportador do
governo é preocupante, antes de aplicar esse pacote às aglomerações o governo deve
analisar as suas especificidades. Porque de fato, a pesquisa de campo evidenciou que as
empresas que se deparam com cadeias de valor de alcance nacional ou que se estendem a
países vizinhos podem encarar melhores oportunidades. Essas cadeias tendem a ser menos
dominadas pelos compradores, as relações produtores-compradores tendem a ser mais
igualitárias
79
.
79
Essa afirmação se baseia no fato de que entre os entrevistados, aquelas empresas que atendem países latino-
americanos ou o mercado doméstico possuem maior poder de barganha frente aos clientes (tabela 39);
encontram maior espaço para o desenvolvimento de design, marketing e canais de comercialização
alternativos que os permitem maior liberdade de atuação (páginas 183-184 e nota 73).
196
5. Considerações finais
Conforme indicado no capítulo introdutório, essa dissertação objetivava discutir e
analisar a temática da aglomeração produtiva especializada; os aspectos teóricos principais,
dando ênfase ao caso paradigmático da Terceira Itália; a interação da literatura
especializadas em tais aglomerações e aquela das cadeias globais de valor; e através da
pesquisa de campo, observar uma experiência concreta, dando especial atenção às respostas
da aglomeração específica frente à globalização.
No primeiro capítulo discorreu-se brevemente sobre sob quais circunstâncias
ocorreu a emergência da temática relativa às aglomerações produtivas especializadas. Foi
possível verificar que a crise do paradigma fordista-taylorista resultou em uma
reestruturação produtiva, caracterizada pela flexibilização não apenas da produção, como
também da política econômica exercida pelos Estados em geral. As reações das empresas a
este novo cenário foram, entre outras, o enxugamento de seus processos produtivos, o
aumento das subcontratações transnacionais
80
e, consequentemente, a especialização
produtiva e a maior velocidade em que as inovações produtivas e organizacionais eram
incorporadas. Esse novo contexto colocou as pequenas e médias empresas diante de
oportunidades e desafios. Nesse sentido, a exigência do novo quadro por uma maior
flexibilidade permitiu que essas empresas reassumissem uma posição dinâmica na
economia.
Porém, a necessidade de obter economias de escala e de escopo e de se fortalecer
para competirem em mercados mais amplos e diversificados impulsionou as PMEs a se
agruparem, procurando aumentar o nível de interação entre si e com outros agentes locais
para construir eficiência coletiva. Sobre essa necessidade foram identificados e discutidos
aspectos centrais da problemática das aglomerações produtivas especializadas através do
estudo de diversos autores.
Boa parte dessa discussão, feita no primeiro capítulo, se baseou no caso
paradigmático da Terceira Itália e demonstrou como a concentração espacial de diversas
empresas, com especialidades semelhantes, pode melhorar as condições das PMEs.
80
É importante salientar que, apesar dessa redistribuição produtiva representar uma das características do
novo paradigma produtivo, ela só foi possível graças à precedente internacionalização da produção realizada
sob o paradigma fordista-taylorista.
197
Defende-se que, quanto mais robustas forem as relações entre as empresas (e destas
com as instituições de apoio), mais apta a aglomeração se torna para responder a ameaças e
oportunidades que as mudanças econômicas lhe proporcionam. Porém, o capítulo mostra
críticas realizadas à literatura tradicional sobre distritos industriais e apresenta as
dificuldades para que localidades com realidades históricas distintas da italiana encontram
para replicar esse modelo de organização industrial. Argumenta-se que essas dificuldades
decorrem do papel representado por esses países na divisão internacional do trabalho.
O capítulo dois aprofunda o debate sobre essa última afirmação, defende-se que os
países em desenvolvimento vêm se especializando em etapas do processo produtivo com
baixo nível de agregação de valor. Isto acontece porque tais etapas normalmente são
bastante dispersas geograficamente e, portanto, seu grau de monopolização é pequeno.
Além disso, o capítulo discorre sobre como a inserção desses países na economia global
pode influenciar as relações proprietárias e de trabalho neles existentes. A depender desses
fatores as aglomerações produtivas especializadas entram no mercado global incumbidas a
realizar certas funções. Em decorrência, muitas vêem seu processo de desenvolvimento
amarrado a determinantes que estão além das deliberações locais e que prejudicam a
construção da eficiência coletiva local. De forma que muitas aglomerações produtivas de
países em desenvolvimento não conseguem realizar atualizações tecnológicas que não de
processo ou de produto. Portanto, conclui-se que as políticas públicas territorializadas não
devem ser generalistas, porque nem sempre a inserção em mercados mais amplos gera
desenvolvimento para as economias locais ou aumenta a eficiência coletiva destas.
A partir do terceiro capítulo a dissertação pretende realizar a observação de uma
experiência concreta: a aglomeração produtiva moveleira de São Bento do Sul, no estado de
Santa Catarina. Para tanto, apresentou-se no capítulo três o contexto global da indústria de
móveis e no capítulo seguinte concentrou-se sobre esse arranjo produtivo local. Esse
caminho expositivo foi tomado em respeito às conclusões a que levaram o capítulo um e
dois, ou seja, reservando capital importância à forma como a inserção de aglomerações
produtivas na divisão internacional do trabalho influencia suas possibilidades de
desenvolvimento.
198
No decorrer do capítulo três percebe-se as diversas mudanças sofridas pela indústria
do mobiliário nos últimos vinte anos, sendo uma delas o aumento da presença dos países
em desenvolvimento entre aqueles que possuem uma balança comercial mais positiva desse
produto no mercado internacional. Essa mudança foi possível exatamente pela escolha das
empresas moveleiras dos países avançados em se especializar em etapas como design,
marketing e branding, dispersando geograficamente a subcontratação das etapas produtivas
para diversos países do Terceiro Mundo. O que, em grande medida, valida a tendência de
formação de cadeias globais de valor comandadas por compradores, elaborada por Gereffi
(1994, 1995, 1999a, 2000).
Além disso, a inovação de matéria-prima dividiu a cadeia produtiva de móveis em
duas cadeias globais de valor, uma que produz móveis de madeira maciça e outra de móveis
de aglomerados, chapas e MDF. Dentro dessas cadeias ainda existem diversos nichos
diferentes, alguns de móveis mais sofisticados e outros de commodities. Nesse contexto,
argumenta-se que países asiáticos e latino-americanos se especializaram principalmente em
nichos desse último tipo, enquanto alguns países do leste europeu atendem mais
frequentemente nichos de mercado mais sofisticados. Essas constatações permitiram
concluir que, no que diz respeito à produção de móveis, grande parte das aglomerações
daqueles países se inserem em cadeias comandadas pelos compradores.
Portanto, grande parte dos clusters moveleiros do Brasil concorrem via preço com a
China, o México, a Indonésia, entre outros países em desenvolvimento. É importante frisar
que as exportações chinesas vêm crescendo rapidamente e estão apresentando melhorias
significativas em termos de qualidade e cumprimento de padrões técnicos e de prazos.
Essas atualizações tecnológicas por que vêm passando as empresas moveleira da China
representam uma grande ameaça para as empresas brasileiras de móveis, uma vez que as
empresas chinesas estão recuperando sua defasagem tecnológica e seus custos produtivos e
financeiros são muito menores do que aqueles vigentes no Brasil. Dessa forma, uma
alternativa para as aglomerações moveleiras brasileiras seria evitar a concorrência com a
China, o que poderia acontecer de três formas: a partir da atualização funcional, como, por
exemplo, a internalização de etapas como design, marketing e branding; tentando atender
nichos de mercado cujos produtos são mais sofisticados; ou atender mercados mais
199
próximos, como o nacional ou o latino-americano, em que as empresas encontrariam mais
espaço para inovar em etapas como design, marketing e branding.
O estudo aplicado à região de São Bento do Sul, permitiu verificar que observações
de experiências concretas ajudam a refletir sobre o tema de aglomerações produtivas
especializadas. Como apresentado no capítulo quatro, São Bento do Sul está inserida em
uma cadeia global de valor comandada pelo comprador, cuja governança é
predominantemente do tipo cativa.
No que diz respeito à governança local, nota-se que os vínculos de cooperação em
escala de tecido empresarial se encontram incipientes. De fato, o conservadorismo dos
empresários locais dificulta o desenvolvimento da parcela ativa da eficiência coletiva. Os
empresários evitam a desverticalização de suas empresas o que prejudica o processo
inovativo local e o desenvolvimento de ações conjuntas.
Porém, há espaços para o desenvolvimento de eficiência coletiva, principalmente
devido ao conjunto institucional existente na região, que consegue formar um bloco sólido
e coerente de idéias, mostrando grandes esforços para conscientizar os empresários sobre a
importância das ações conjuntas para o desenvolvimento da aglomeração. A formação de
uma rede política local ainda está dando seus primeiros passos, sendo necessário para a
continuação desse processo um agente catalisador que consiga transformar as soluções
conjuntas em práticas conjuntas. Para tanto, este agente precisa propiciar um ambiente que
alimente a coesão social e diminua a desconfiança, que naturalmente existe entre
concorrentes, os aproximando.
De forma que empresas de pequeno porte encontram oportunidades que não lhes
seriam possíveis caso não estivessem inseridas nesse tecido social, em que se encontram
instituições de apoio, fornecedores de equipamentos, matéria-prima, componentes e
serviços. Mesmo as grandes empresas de São Bento do Sul não teriam conseguido reagir
tão bem às dificuldades impostas pela inserção do cluster no mercado internacional sem a
participação das pequenas empresas da região em parte da sua produção. As micro e
pequenas empresas colaboram para a superação de gargalos na produção de móveis,
aumentam a flexibilidade e a adaptabilidade da região.
200
Ao invés da mão-de-obra qualificada da região se deslocar para as metrópoles,
diminuindo o capital social da área, caminho normalmente escolhido frente aos desafios da
globalização, são feitos esforços e encontradas respostas dentro da aglomeração. Como, por
exemplo, a criação de cursos específicos e a implantação de campi universitários, para
aumentar a capacitação dos trabalhadores e empresários da localidade. Ou seja, a forma
organizacional em que estão inseridas as aglomerações produtivas locais contribui para que
as estruturas locais tenham um diálogo melhor com os desafios econômicos
contemporâneos.
De fato, além de haver uma estrutura institucional forte e consolidada, há uma
fluidez muito grande de idéias na aglomeração, o que permite diminuir desperdícios e
possibilita o melhor aproveitamento de oportunidades, aumentando a velocidade de
resposta da região.
Conclui-se que há um baixo grau de cooperação entre as empresas e que a estrutura
de governança interna é forte apenas em termos passivos (ou seja, no que diz respeito às
economias interna externa locais), o que se deve principalmente às vantagens formadas pela
infra-estrutura local e pelas instituições. Por fim, ficou claro que a consolidação da
estrutura institucional demanda enorme esforço de integração e coordenação no âmbito do
governo federal e deste com os governos locais.
Essa estrutura de governança interna e externa permite a emergência de iniciativas
para a atualização tecnológica de processo e de produtos das empresas moveleiras de São
Bento do Sul, principalmente em etapas manufatureiras. De fato muitas empresas da região
conseguem inovar seus processos e lay-outs respondendo de forma rápida às exigências de
seus clientes. No entanto, em termos de atualização de funcional, as empresas locais só
conseguem desenvolver aquelas atividades, cujos desenvolvimentos são interessantes para
os clientes como, por exemplo, embalagens, certificação de qualidade e logística. Porém, as
empresas locais encontram enormes entraves para desenvolver etapas que mais agregam
valor aos produtos, como design, marketing e branding. Finalmente, a atualização de
produto é a alternativa mais buscada pelas empresas da região, que procuram se direcionar
para nichos de mercado mais exigentes, o que representa uma atualização horizontal ao
longo da cadeia.
201
A partir dessas constatações, conclui-se que a intensificação da internacionalização
dos produtos das empresas sãobentenses de móveis, em geral, conduz a um
aprofundamento de sua inserção subordinada em uma cadeia de valor comandada pelo
comprador, sendo que apenas algumas empresas logram desenvolver relacionamentos com
os clientes que não através de uma governança do tipo cativa. Isso a despeito do
fortalecimento da governança interna da região, o que confirmou a hipótese principal desse
trabalho.
202
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7. ANEXOS
ANEXO I - Lista de empresas exportadoras de móveis da micro-região de São Bento
do Sul
Faixa Empresa Município UF
1
Até US$ 1 milhão MOVEIS SCHONSTE TECNICK LTDA São Bento do Sul SC
2
Até US$ 1 milhão ARTE REAL MOVEIS LTDA. ME Rio Negrinho SC
3
Até US$ 1 milhão BH INDUSTRIA DE MOVEIS LTDA.
ME
São Bento do Sul SC
4
Até US$ 1 milhão EMBRAMOVEL EMPRESA
BRASILEIRA DE MOVEIS LTDA
São Bento do Sul SC
5
Entre US$ 1 e 10 milhões ZIPPERER MOVEIS E DECORACOES
LTDA
São Bento do Sul SC
6
Entre US$ 1 e 10 milhões NORMOVEIS INDUSTRIA COMERCIO
E PARTICIPACOES LTDA
Campo Alegre SC
7
US$ 1 milhão BVS MOVEIS LTDA ME São Bento do Sul SC
8
Entre US$ 1 e 10 milhões HERLI IND E COM DE MOVEIS LTDA Rio Negrinho SC
9
Entre US$ 1 e 10 milhões PEALE-INDUSTRIA E COMERCIO DE
MOVEIS LTDA EPP
Rio Negrinho SC
10
Entre US$ 1 e 10 milhões MILAMOVEIS LTDA Rio Negrinho SC
11
Até US$ 1 milhão MARTINEZ EMPREENDIMENTOS
LTDA ME
São Bento do Sul SC
12
Até US$ 1 milhão H I MOVEIS LTDA São Bento do Sul SC
13
Até US$ 1 milhão RADIANCE INDUSTRIA E COMERCIO
DE MOVEIS LTDA
São Bento do Sul SC
14
Até US$ 1 milhão INDUSTRIAS LIEBL LTDA ME São Bento do Sul SC
15
Até US$ 1 milhão MOVEIS CALIFORNIA LTDA Rio Negrinho SC
16
Entre US$ 10 e 50 milhões INTERCONTINENTAL INDUSTRIA DE
MOVEIS LTDA
São Bento do Sul SC
17
Até US$ 1 milhão SEDNA INDUSTRIA E COMERCIO DE
MOVEIS LTDA
São Bento do Sul SC
18
Até US$ 1 milhão TALENTO MOVEIS LTDA São Bento do Sul SC
19
Até US$ 1 milhão TORNEADOS BRASIL LTDA – ME São Bento do Sul SC
20
Até US$ 1 milhão GROMOVEIS INDUSTRIA E
COMERCIO LTDA
Campo Alegre SC
21
Entre US$ 1 e 10 milhões D.I.T. INDUSTRIA E COMERCIO LTDA São Bento do Sul SC
22
Até US$ 1 milhão MARAZUL MOVEIS LTDA São Bento do Sul SC
23
Até US$ 1 milhão MOVEIS BRASIL SUL INDUSTRIA E
COMERCIO LTDA
São Bento do Sul SC
24
Até US$ 1 milhão MOVEIS 4 X PORT LTDA Rio Negrinho SC
25
Até US$ 1 milhão MOVEIS BEUTHER LTDA São Bento do Sul SC
26
Até US$ 1 milhão LAJUR IND COM DE MOVEIS LTDA
ME
Rio Negrinho SC
27
Entre US$ 1 e 10 milhões TREMOVEL INDUSTRIA DE MOVEIS
LTDA
São Bento do Sul SC
28
Até US$ 1 milhão JOHANN IND E COM DE MOVEIS
LTDA
São Bento do Sul SC
29
Até US$ 1 milhão BRASMOVEIS INDUSTRIAL DE São Bento do Sul SC
MOVEIS LTDA
30
Entre US$ 1 e 10 milhões SO BERCOS INDUSTRIA E COMERCIO
DE MOVEIS LTDA
Rio Negrinho SC
31
Entre US$ 1 e 10 milhões INDUSTRIA DE MOVEIS CLEMENT
LTDA
São Bento do Sul SC
32
Entre US$ 1 e 10 milhões FRANCINE MOVEIS LTDA São Bento do Sul SC
33
Até US$ 1 milhão HIFER INDUSTRIA E COMERCIO DE
MOVEIS LTDA
Rio Negrinho SC
34
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS KATZER LTDA São Bento do Sul SC
35
Até US$ 1 milhão BAUMOVEIS FABRICA DE MOVEIS
LTDA ME
Rio Negrinho SC
36
Entre US$ 1 e 10 milhões CRUZADO MOVEIS INDUSTRIA E
COMERCIO LTDA ME
Rio Negrinho SC
37
Até US$ 1 milhão CAMALAR INDUSTRIA E COMERCIO
DE MOVEIS LTDA
São Bento do Sul SC
38
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS POLSKA LTDA São Bento do Sul SC
39
Até US$ 1 milhão ECOFLEX FABRICA DE ESPUMAS E
COLCHOES LTDA
São Bento do Sul SC
40
Até US$ 1 milhão ALEVI INDUSTRIA DE MOVEIS E
DECORACOES LTDA ME
São Bento do Sul SC
41
Entre US$ 1 e 10 milhões NASA INDUSTRIAL IMPORT E
EXPORT DE MANUFATURADOS
Campo Alegre SC
42
Até US$ 1 milhão M P R INDUSTRIA DE MOVEIS LTDA.
EPP
São Bento do Sul SC
43
Até US$ 1 milhão DANETTE MOVEIS LTDA Rio Negrinho SC
44
Entre US$ 1 e 10 milhões INDUSTRIA DE MOVEIS 3 IRMAOS
SOCIEDADE ANONIMA
Campo Alegre SC
45
Até US$ 1 milhão IND DE MOVEIS CASCATA LTDA Campo Alegre SC
46
Até US$ 1 milhão CALE MOVEIS LTDA São Bento do Sul SC
47
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS CONSULAR LTDA São Bento do Sul SC
48
Até US$ 1 milhão MOVEIS GROSSL LTDA São Bento do Sul SC
49
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS REALEZA LTDA São Bento do Sul SC
50
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS 25 DE JULHO LTDA São Bento do Sul SC
51
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS E ESQUADRIAS SEIVA LTDA São Bento do Sul SC
52
Até US$ 1 milhão TECLAR MÓVEIS LTDA ME São Bento do Sul SC
53
Entre US$ 1 e 10 milhões IMOCOL INDUSTRIA DE MOVEIS
COLONIAIS LTDA
São Bento do Sul SC
54
Até US$ 1 milhão INDUSTRIA DE MOVEIS WEMA LTDA São Bento do Sul SC
55
Até US$ 1 milhão MOVEIS PAULO LTDA São Bento do Sul SC
56
Até US$ 1 milhão ISOVEL IND E COM DE MOVEIS LTDA Rio Negrinho SC
57
Até US$ 1 milhão MOVEIS OBERLAK LTDA Rio Negrinho SC
58
Até US$ 1 milhão IMOSEST INDUSTRIA DE MOVEIS E
ESTOFADOS LTDA
São Bento do Sul SC
59
Entre US$ 1 e 10 milhões INDUSTRIA DE MOVEIS AMERICA
LTDA
São Bento do Sul SC
60
Entre US$ 1 e 10 milhões INDUSTRIA DE MOVEIS IMPERIAL
LTDA
São Bento do Sul SC
61
Entre US$ 1 e 10 milhões LUCAMOVEIS INDUSTRIA E
COMERCIO DE MOVEIS LTDA
Rio Negrinho SC
62
Entre US$ 1 e 10 milhões MAXIMA INDUSTRIA DE
ESQUADRIAS LIMITADA ME
São Bento do Sul SC
63
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS RUECKL LTDA Rio Negrinho SC
64
Até US$ 1 milhão MOVEIS IRIMAR INDUSTRIA E
COMERCIO LTDA
Rio Negrinho SC
65
Até US$ 1 milhão MOVEIS IRIMAR INDUSTRIA E
COMERCIO LTDA
Rio Negrinho SC
66
Entre US$ 1 e 10 milhões FABRICA DE MOVEIS RIO NEGRINHO
LTDA
Rio Negrinho SC
67
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS WALFRIDO LTDA São Bento do Sul SC
68
Entre US$ 1 e 10 milhões INDUSTRIAS ZIPPERER SA São Bento do Sul SC
69
Entre US$ 10 e 50 milhões INDUSTRIAS ARTEFAMA S.A. São Bento do Sul SC
70
Entre US$ 10 e 50 milhões MOVEIS RUDNICK S A São Bento do Sul SC
71
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS SERRALTENSE LTDA São Bento do Sul SC
72
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS WEIHERMANN S A São Bento do Sul SC
73
Entre US$ 1 e 10 milhões MOVEIS JAMES LTDA São Bento do Sul SC
74
Até US$ 1 milhão PRODUMEX MOVEIS LTDA São Bento do Sul SC
75
Entre US$ 1 e 10 milhões FABRICA DE MOVEIS NEUMANN
LTDA
São Bento do Sul SC
76
Entre US$ 1 e 10 milhões ARTES INDUSTRIAIS DE MADEIRA
LTDA
São Bento do Sul SC
77
Entre US$ 10 e 50 milhões CELULOSE IRANI S.A. Rio Negrinho SC
78
Até US$ 1 milhão EXPORTADORA E IMPORTADORA
COLUMBIA DO BRASIL LTDA
São Bento do Sul SC
79
Até US$ 1 milhão BATTISTELLA TRADING SA
COMERCIO INTERNACIONAL
Rio Negrinho SC
80
Entre US$ 1 e 10 milhões COMERCIAL EUROPEIA DO BRASIL
LTDA
São Bento do Sul SC
81
Até US$ 1 milhão DAUNE PRODUTOS INDUSTRIAIS
LTDA
São Bento do Sul SC
82
Entre US$ 1 e 10 milhões COMFLORESTA CIA CAT. DE EMPR.
FLORESTAIS
Campo Alegre SC
83
Entre US$ 1 e 10 milhões GFB GRUPO FRANCO BRASILEIRO DE
COM E EXP DE MOVEIS
São Bento do Sul SC
ANEXO II – Questionário: Entrevista para empresas moveleiras
1. Organização
1.1 Razão social
1.2 Endereço_________________________________________ Cidade_______________
1.3 Fone_______________ Fax_________________ E-mail
1.4 Responsável pelas informações ________________________
1.5 Pessoal ocupado atual ____________________
1.6 Ano de Fundação____________
1.7 Origem do capital controlador da empresa -- Nacional ___ % Estrangeiro ___ %
( ) Familiar ( ) Sociedade Anônima
1.8 Caso seja controlado por capital estrangeiro, qual a sua localização?
( ) Mercosul
( ) EUA
( ) Outros países da América
( ) Ásia
( ) Europa
( ) Oceania ou África
1.9 A sua empresa é
( ) Independente
( ) Parte de um grupo
1.10 Caso seja parte de um grupo
( ) Controladora
( ) Controlada
( ) Coligada
1.11 Qual a origem étnica dos fundadores ou atuais sócios?
______________________________________________
1.12 Identifica a principal atividade do sócio-fundador antes de criar a empresa:
( ) Estudante universitário
( ) Estudante de escola técnica
( ) Empregado de empresa local
( ) Empregado de empresa fora do arranjo
( ) Funcionário de instituição pública
( ) Empresário
( ) Outra atividade. Citar: ____________________
1.13 Identifique as principais dificuldades da empresa. Favor indicar a dificuldade utilizando a escala, onde 0
é nulo, 1 é baixa dificuldade, 2 é média dificuldade e 3 é alta dificuldade
Critérios
Contratar empregados qualificados 0 1 2 3
Produzir com qualidade 0 1 2 3
Vender a produção 0 1 2 3
Custo ou falta de capital de giro 0 1 2 3
Custo ou falta de capital para aquisição de máquinas e equip. 0 1 2 3
Custo ou falta de capital para aquisição de instalações 0 1 2 3
Pagamente de juros de empréstimo 0 1 2 3
Outras 0 1 2 3
1.14 A empresas está filiada em que entidades de representação da classe?
( ) Sindusmobil – Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do
Sul e Campo Alegre.
( ) Acisbs – Associação Comercial e Industrial de São Bento do Sul.
( ) Arpem – Associação da Micro e Pequena Empresa Moveleira.
( ) Abimóvel – Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário
2. Produção
2.1 Evolução da empresa
2.2 Escolaridade do pessoal ocupado
2.3 Quanto às atribuições dos trabalhadores e mudanças nas relações de trabalho, quais mudanças mais
importantes que a empresa está adotando? . Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é
baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua
empresa.
Tipo de contribuição Grau de importância
Redução de funcionários no controle de qualidade 0 1 2 3
Introdução da avaliação de desempenho 0 1 2 3
Redução dos níveis hierárquicos 0 1 2 3
Modificações nos planos de benefícios 0 1 2 3
Prêmios de produção ou distribuição de resultados 0 1 2 3
Redução das faixas salariais 0 1 2 3
2.4 Qual o número de funcionários na produção com treinamento específico em produção de móveis e
tecnologia moveleira
Curso Número de funcionários %
Curso na escola técnica CTM/FETEP
2
o
. grau tecnólogo em móveis
Curso eng. Moveleira nível superio UDESC
Cursos específicos e rápidos SENAI/FETEP
Outros ______________
Vendas
no Brasil
Vendas no
exterior
Total
1990 100%
1995 100%
2000 100%
2005 100%
Mercados (%)
Ensin
o
Número de funcionários
%
Analfabeto
Ensino fundamental
Ensino médio
Ensino superior
Pós-graduação
3. Inovação, cooperação e aprendizado
3.1 Qual das ações da sua empresa no período entre 2003 e 2005, quanto à introdução de inovações?
3.2 A empresa possui estrutura própria para elaboração de protótipos de produtos a serem lançados no
mercado? ( ) sim ( ) não
3.3 A empresa possui sistema de produção CAD/CAM para desenvolvimento de projetos e desenhos
técnicos? ( ) sim ( ) não.
3.4 A empresa utiliza serviços de assessoria e consultoria? ( ) sim ( ) não
3.5 Avalie a importância do impacto resultante da introdução de inovações introduzidas durante os últimos
três anos, 2003 a 2005, na sua empresa. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é
baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua
empresa.
Descrição 1. Sim 2. Não
Inovação de Produto
Produto novo para sua empresa, mas que já existente no mercado?
Produto novo para o mercado nacional?
Produto novo para o mercado internacional?
Inovação de Processo
Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor?
Processos tecnológicos novos para o setor de atuação?
Outros tipos de inovação
Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo do
condicionamento (embalagem) dos produtos?
Inovações no desenho de produtos?
Realizações de mudanças organizacionais (inovações organizacionais)
Implementação de técnica avançada de gestão?
Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional?
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing?
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização?
Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando atender normas de
certificação (ISO 9000, ISO 14000, etc.)
Descrição
Aumento da produtividade da empresa 0 1 2 3
Amplião da gama de produtos ofertados 0 1 2 3
Aumento da qualidade dos produtos 0 1 2 3
Permitiu que a empresa mantivesse a sua participação nos mercados de
atuação
0123
Aumento da participação no mercado interno da empresa 0 1 2 3
Aumento da participação no mercado externo da empresa 0 1 2 3
Permitiu que a empresa abrisse novos mercados 0 1 2 3
Permitiu a redução de custos do trabalho 0 1 2 3
Permitiu a redução de custos de insumos 0 1 2 3
Permitiu a redução do consumo de energia 0 1 2 3
Permitiu o enquadramento em regulações e normas padrão relativas ao: 0 1 2 3
- Mercado interno 0 1 2 3
- Mercado externo 0 1 2 3
Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente
0
1
2
3
Grau de importância
3.6 Que tipo de atividade inovativa sua empresa desenvolveu no ano de 2005? Indique o grau de constância
dedicado à atividade assinalando (0) se não desenvolveu, (1) se desenvolveu rotineiramente, e (2) se
desenvolveu ocasionalmente.
3.7 Informe os gastos despendidos para desenvolver as atividades de inovação:
Gastos com atividades inovativas sobre faturamento em 2005 _____________(%)
Gastos com P&D sobre faturamento em 2005 _____________ (%)
Fontes de financiamento para as atividades inovativas (em %)
- Próprias ________
- De terceiro ________
- Privados ________
- Públicos (BNDES, FINEP, SEBRAE, BB, etc.) _______
3.8 Quais dos seguintes itens desempenharam um papel importante como fonte de informação para o
aprendizado, durante os últimos três anos, entre 2003 e 2005? Favor indicar o grau de importância utilizando
a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for
relevante para a sua empresa. Quanto à localização utilizar 1 quando localizado no pólo moveleiro, 2 no
estado, 3 no Brasil e 4 no exterior.
Descrição
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na sua empresa 0 1 2
Aquisição externa de P&D 0 1 2
Aquisição de máquinas e equipamentos que implicaram em significativas
melhorias tecnológicas de produtos/processos ou que estão associados
012
Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças ou acordos de
tranferência de tecnologias tais como patentes, marcas, segredos
012
Projeto industrial ou desenho industrial associados à produtos/processos
tecnologicamente novos ou significativamente melhorados
012
Programa de treinamento orientado à introdução de produtos/processos
tecnologicamento novos ou significativamente melhorados
012
Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional,
tais como: qualidade total, reengenharia de processos administrativos,
desverticalização do processo produtivo, métodos de "just in time ", etc.
012
Novas formas de comercialização e distribuição para o mercado de
produtos novos ou significativamente melhorados
012
Grau de constância
3.9 Durante os últimos três anos, 2003 a 2005, sua empresa esteve envolvida em atividades cooperativas,
formais ou informais, com outra (s) empresa (s) ou organização?
( ) sim ( ) não
3.10 Em caso afirmativo, quais dos seguintes agentes desempenharam papel importante como parceiros,
durante os três últimos anos, 2003 a 2005? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é
baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua
empresa. Indicar a formalização utilizando 1 para formal e 2 para informal. Quanto a localização utilizar 1
quando localizado no pólo moveleiro, 2 no estado, 3 no Brasil e 4 no exterior
Fontes internas
Departamento de P&D 0 1 2
Área de produção 0 1 2
Área de vendas, marketing, serviços internos de
atendimento ao cliente
012
Outras (indicar) 0 1 2
Fontes externas
Outras empresas dentro do grupo 0121234
Empresas associadas (joint venture) 0121234
Fornecedores de insumos (matéria-prima e
máquinas)
0121234
Clientes 0121234
Concorrentes 0121234
Outras empresas do setor 0121234
Empresas de consultoria 0121234
Universidades e outros institutos de pesquisa
1234
Universidade (qual) 0121234
Institutos de pesquisa 0121234
Centro tecnogico do mobiliário 0121234
Instituições de testes, ensaios e certificações 0121234
Outras instituições
1234
Licenças, patentes e know-how 0121234
Conferências, seminários, cursos e publicações
especializadas
0121234
Feiras, exibições e lojas 0121234
Encontros de lazer (clubes, restaurantes e etc.) 0121234
Associações empresariais (inclusive consórcios de
exportações)
0121234
Informações de rede baseadas na internet ou
computador
0121234
Grau de importância
Localização
Agentes Grau de importância Formalização Localização
Empresas
Outras empresas dentro do grupo 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Empresas associadas (joint venture) 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais,
componentes e softwares)
0 1 2 1 2 1 2 3 4
Clientes 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Concorrentes 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Outras empresas do setor 1 2 1 2 3 4
Empresas de consultoria 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Universidades e outros institutos de pesquisa
Universidade (qual) 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Institutos de pesquisa 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Centro tecnológico do mobiliário 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Instituições de testes, ensaios e certificações 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Outros agentes
1 2 1 2 3 4
Representação 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Entidades sindicais 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Órgãos de apoio e promoção 0 1 2 1 2 1 2 3 4
Agentes financeiros 0 1 2 1 2 1 2 3 4
3.11 Qual a importância das seguintes formas de cooperação realizadas durante os últimos três anos, 2003 a
2005 com outros agentes do arranjo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa
importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Descrição Grau de importância
Compra de insumos e equipamentos 0 1 2 3
Venda conjuntas de produtos 0 1 2 3
Desenvolvimento de produtos e processos 0 1 2 3
Design e estilo de produtos 0 1 2 3
Capacitação de recursos humanos 0 1 2 3
Obtenção de financiamento 0 1 2 3
Reinvidicações 0 1 2 3
Participação conjunta em feiras 0 1 2 3
Outros (especificar): 0 1 2 3
3.12 Caso a empresa já tenha participado de alguma forma de cooperação com agentes locais, como avalia os
resultados as ações conjuntas já realizadas. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é
baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua
empresa.
Descrição Grau de importância
Melhoria na qualidade dos produtos 0 1 2 3
Desenvolvimento de novos produtos 0 1 2 3
Melhoria nos processos produtivos 0 1 2 3
Melhoria nas condições de fornecimento do produto 0 1 2 3
Melhor capacitação dos recursos humanos 0 1 2 3
Melhoria nas condições de comercialização 0 1 2 3
Introdução de inovações organizacionais 0 1 2 3
Novas oportunidades de negócio 0 1 2 3
3.13 Como resultado dos processos de treinamento e aprendizagem, formais e informais, acima discutidos,
melhoraram as capacitações da empresa. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é
baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua
empresa.
Descrição
Grau de
importância
Melhor utilização de técnicas produtivas, equipamentos, insumos e
componentes 0 1 2 3
Maior capacitação para realização de modificações e melhorias em
produtos e processos
0 1 2 3
Melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos 0 1 2 3
Maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação da
empresa 0 1 2 3
Melhor capacitação administrativa 0 1 2 3
3.14 Indique os principais obstáculos que impedem maior relação cooperativa entre a sua empresa e as outras
empresas do local
3.15 A tradição e cultura local são importantes? ( ) sim ( ) não
3.16 A empresa realiza pesquisa de satisfação de clientes? ( ) sim ( ) não
3.17 A empresa realiza pesquisa de mercado para lançamento de novos produtos?
3.18 As feiras realizadas para exposição dos produtos têm resultados sobre as vendas da empresa ( ) muito
positivos ( ) positivos ( ) pouco significativos ( ) negativos
3.19 No que diz respeito aos fornecedores de matéria-prima, qual a participação (em percentual) de
fornecedores:
____% locais ____% nacionais fora da localidade ____ %internacionais
3.20 Quais os critérios adotados pela empresa para a escolha dos fornecedores? Gradue: nenhuma importância
(0), pouca importância (1), importância (2) muita importância (3).
Critérios
Preço baixo 0 1 2 3
Facilidade de negociação 0 1 2 3
Garantia dos prazos de entrega 0 1 2 3
Cumprimento de especificações técnicas 0 1 2 3
Garantia de qualidade 0 1 2 3
Conteúdo tecnológico dos insumos 0 1 2 3
Assistência técnica oferecida 0 1 2 3
Busca de relações de longo prazo/parcerias 0 1 2 3
3.21 As máquinas compradas são: ( ) novas ou de ( ) segunda-mão?
3.22 Sobre os fornecedores de máquinas e equipamentos qual a participação (em percentual) de fornecedores:
____% locais ____% nacionais fora da localidade ____ %internacionais
Descrição Localização
Fornecimento de insumos e componentes 0 1 2
Etapas do processo produtivo (embalagem, montagem, etc. 0 1 2
Serviços especializados na produção (laboratoriais, engenharia, manutenção, certificação,
etc. 0 1 2
Administrativas (gestão, processamento de dados, contabilidade e recursos humanos) 0 1 2
Desenvolvimento do produto (design, projeto, etc.) 0 1 2
Comercialização 0 1 2
Serviços gerais (limpeza, refeições, transporte, etc.) 0 1 2
4.8 Qual a sua avaliação sobre a contribuição de sindicatos, associações, cooperativas locais no tocante as
seguintes atividades? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é
média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Tipo de contribuição Grau de importância
Auxílio na definição de objetivos comuns para o arranjo produtivo 0 1 2 3
Estímulo na percepção de visões de futura para ação estratégica 0 1 2 3
Disponibilidade de informações sobre matéria-prima, equipamento, assistência
técnica, consultoria, etc. 0 1 2 3
Indicação de fontes e formas de financiamento 0 1 2 3
Promoção de ações cooperativas 0 1 2 3
Apresentação de reivindicações comuns 0 1 2 3
Criação de foruns e ambientes para discussão 0 1 2 3
Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica de empresas 0 1 2 3
Estímulo do desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local 0 1 2 3
Organização de eventos técnicos e comerciais 0 1 2 3
4.9 Na sua opinião onde estão localizados seus os competidores mais importantes?
( ) Na região de São Bento do Sul
( ) No estado de Santa Catarina
( ) Em outros estados
( ) Em outros países. Qual?_______
4.10 Assinale qual a metodologia para a fixação de preços.
Critérios Mercado Interno Mercado Externo
fabricante fixa o preço
comprador fixa o preço
fabricante adota o preço do mercado
fabricante e comprador negociam o preço
4.11 A sua empresa prefere a verticalização ou a desverticalização?
4.12 Para que países sua empresa exporta atualmente? ______________________________
4.13
A empresa enfrenta dificuldades para exportar? ( ) sim ( ) não. Por quê? __________
_________________________________________________________________________
4.14 Qual é o principal canal de comercialização utilizado pela empresa?
4.15 Qual o papel das agências de exportação? ___________________________________
_________________________________________________________________________
4.16 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis através dos agentes de exportação ? Favor
indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 0 indica que não é relevante para a sua empresa e 3 é
alta importância.
4.17 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis diretamente para varejistas? Favor indicar o grau
de importância utilizando a escala, onde 0 indica que não é relevante para a sua empresa e 3 é alta
importância.
4.18 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis por atacado? Favor indicar o grau de importância
utilizando a escala, onde 0 indica que não é relevante para a sua empresa e 3 é alta importância.
Descrição
Mercados participação
sobre vendas totais (%)
Agências de exportação
Venda direta aos varejistas
Representantes comerciais no Brasil
Representantes comerciais no exterior
Lojas próprias
Venda direta aos consumidores
Venda direta na fábrica
Vendedores diretos
Venda para atacado
Venda por telefone
Descrição
Qualidade 0 1 2 3
Localização 0 1 2 3
Padrões técnicos 0 1 2 3
Prazo de entrega 0 1 2 3
Preço 0 1 2 3
Design
0123
Tecnologia - máquinas e equipamentos 0 1 2 3
Atendimento especializado 0 1 2 3
Grau de importância
Descrição
Qualidade 0 1 2 3
Localização 0 1 2 3
Padrões técnicos 0 1 2 3
Prazo de entrega 0 1 2 3
Preço 0 1 2 3
Design
0123
Tecnologia - máquinas e equipamentos 0 1 2 3
Atendimento especializado 0 1 2 3
Grau de importância
4.19 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis através de representantes diretos no exterior?
Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 0 indica que não é relevante para a sua empresa
e 3 é alta importância.
5. Políticas Públicas e o Impacto das mudanças estruturais na década de 1990
5.1 A empresa participa ou tem conhecimento sobre algum tipo de programa ou ações específicas para o
segmento onde atua, promovido pelos diferentes âmbitos do governo e/ou instituição abaixo relacionados.
Qual a sua avaliação de tais programas?
5.2 Quais políticas governamentais poderiam contribuir para o aumento da eficiência da indústria moveleira
local como um todo? Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é
média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Instituição/esfera
g
overnamental
1. Não tem
conhecimento
2. Conhece, mas
não participa
3. Conhece
e participa
Positiva Negativa Sem elementos
para avaliação
Governo federal 1 2 3
Governo estadual 1 2 3
Governo local/municipal 1 2 3
SEBRAE 1 2 3
Abimóvel 1 2 3
CTM 1 2 3
Outras instituições 1
2
3
Descrição
Qualidade 0 1 2 3
Localização 0 1 2 3
Padrões técnicos 0 1 2 3
Prazo de entrega 0 1 2 3
Preço 0 1 2 3
Design
0123
Tecnologia - máquinas e equipamentos 0 1 2 3
Atendimento especializado 0 1 2 3
Grau de importância
Descrição
Qualidade 0 1 2 3
Localização 0 1 2 3
Padrões técnicos 0 1 2 3
Prazo de entrega 0 1 2 3
Preço 0 1 2 3
Design
0123
Tecnologia - máquinas e equipamentos 0 1 2 3
Atendimento especializado 0 1 2 3
Grau de importância
5.3 Como a empresa tem reagido aos novos fluxos de investimento direto externo que tem entrado no país?
Favor indicar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3
é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Descrição Grau de importância
Fez associações com empresas nacionais 0 1 2 3
Fez associações com empresas multinacionais 0 1 2 3
Concentrou investimento em áreas de maior competência produtiva 0 1 2 3
Buscou apoio em programas de fomento (financiamento, incentivos) à industria 0 1 2 3
Realizou projetos voltados a alianças tecnológicas com outras empresas 0 1 2 3
Outras 0 1 2 3
( ) a empresa não foi afetada e não alterou sua estratégia 0 1 2 3
5.4 Em que medida a formação do MERCOSUL vem influenciando a estratégia da empresa?
Descrição
levou à formação de alianças cooperativas com empresas
dos países do MERCOSUL, voltadas para
melhorias na produção
0123
conduziu a um maior acirramento concorrencial com
empresas dos países do MERCOSUL
0123
levou a empresa a realizar investimentos nos países do
MERCOSUL
0123
levou a empresa a maior integração com empresas locais
na busca de maior especialização produtiva
0123
levou a empresa a realizar esforços junto a governos em
favor de tratamento mais eqüitativo às empresas locais
0123
levou a empresa a ampliar sua estrutura de vendas para os
países do MERCOSUL
0123
outros
0123
não houve influência importante
0123
Grau de importância
5.5 Qual a situação dessa empresa no mercado externo? Como se caracteriza a sua inserção no mercado
externo?________________________________________________________
Ações poticas
Programas de capacitação profissional e treinamento técnico 0123
Melhorias da educação formal (1o. ,2o. e 3o. grau) 0123
Programas de apoio a consultoria técnica 0123
Estímulos de apoio a consultoria técnica 0123
Programas de acesso à informação 0123
Linhas especiais de crédito e outras formas de financiamento 0123
Incentivos fiscais 0123
Políticas de fundo aval 0123
Programas de estímulo ao investimento 0123
estímulo à cooperação, à ação coletiva 0123
Outras 0123
Grau de importância
ANEXO III - Questionário para instituições de apoio
1. Organização
1.1 Entidade _______________________________________________________________
1.2 Endereço_________________________________________ Cidade_______________
1.3 Fone_______________ Fax_________________ E-mail
1.4 Data de Fundação ___/___/___
1.5 Responsável pelas informações ________________________
1.6 Quais os serviços oferecidos pela instituição
______________________________________
______________________________________
______________________________________
1.7 Quais as principais fontes de financiamento da instituição? Assinale as três fontes mais importantes.
( ) recursos próprios. Qual a origem?_______________
( ) recursos provenientes de associados
( ) bancos
( ) recursos externos
( ) outros (especificar): _______________
1.8 Qual a sua avaliação sobre o nível de competitividade das empresas moveleiras nos últimos três anos?
( ) piorou o desempenho ( ) estável ( ) aumentou o desempenho
1.9 Na sua avaliação, qual o principal fator de competitividade de uma indústria de móveis? Favor indicar a
relevância do fator utilizando a escala: sem importância (0); pouca importância (1); importante (2); muito
importante (3)
Critérios
Qualidade 0 1 2 3
Preço 0 1 2 3
segmento do mercado (nicho) 0 1 2 3
tecnologia - máquinas e equipamentos 0 1 2 3
design - estilo do móvel 0 1 2 3
entraves fiscais 0 1 2 3
1.10 A localização em São Bento do sul representa benefícios para as empresas?
( ) sim ( ) não.
1.11 Na sua opinião quais as principais vantagens que podem ser associadas à localização das empresas na
região? Favor indicar a relevância da vantagem utilizando a escala: sem importância (0); pouca importância
(1); importante (2); muito importante (3)
Tipos de vantagens Grau de importância
Infra-estrutura disponível (física e de serviços) 0 1 2 3
Disponibilidade de mão-de-obra 0 1 2 3
Qualidade da mão-de-obra 0 1 2 3
Custo da mão-de-obra 0 1 2 3
Existência de programas governamentais 0 1 2 3
Proximidade com universidades e centros de pesquisa 0 1 2 3
Proximidade com os fornecedores de insumos 0 1 2 3
Proximidade com os clientes/consumidores 0 1 2 3
Proximidade com outras empresas que cooperam entre si 0 1 2 3
Proximidade com instituições que representam espaços de cooperação e prestam serviços 0 1 2 3
Na sua opinião a maioria das empresas:
( ) não usufrui dessas vantagens
( ) usufrui pouco dessas vantagens
( ) usufrui dessas vantagens
( ) sabe aproveitar-se muito bem dessas vantagens
1.12 A tradição e cultura local são importantes para o crescimento do setor moveleiro?
( ) sim ( ) não.
1.13 Qual o grau de cooperação entre as empresas do setor moveleiro?
( ) muito baixo ( ) baixo ( ) médio ( ) alto ( ) muito alto
Justifique _________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
1.14 Na sua opinião, durante os três últimos anos, 2003 a 2005, as empresas moveleiras desempenharam
papel importante em termos de parceria com suas concorrentes, clientes e fornecedores?
________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________
1.15 Normalmente qual o grau de formalidade da parceria entre as empresas, e destas com seus fornecedores e
clientes?
________________________________________________________________________
1.16 Essas parcerias se estabelecem com mais freqüência entre agentes da região, do país ou estrangeiros?
__________________________________________________________
1.17 No que diz respeito à parceria das empresas com Universidades, Centros de Tecnologia do Mobiliário e
Institutos de pesquisa, você acredita que as empresas têm atribuído maior importância a essas relações durante
os três últimos anos, 2003 a 2005?
_____________________________________________________________________
1.18 Qual a importância da cooperação realizada entre as empresas e outros agentes do arranjo para compra
de insumos, ou venda conjuntas de produtos, ou ainda participação conjunta em feiras durante os últimos três
anos, 2003 a 2005? _________________________________________________________________
1.19 Qual a importância da cooperação realizada entre as empresas e outros agentes do arranjo para
desenvolver produtos e processos ou ainda design e estilo de produtos durante os últimos três anos, 2003 a
2005? ____________________________________________________________________________
1.20 Qual a importância da cooperação realizada entre as empresas e outros agentes do arranjo para a
capacitação de recursos humanos durante os últimos três anos, 2003 a 2005?
__________________________________________________________________
1.21 Qual a importância da cooperação realizada entre as empresas e outros agentes do arranjo para a
obtenção de recursos financeiros durante os últimos três anos, 2003 a 2005
________________________________________________________________________
1.22 Na sua avaliação existe um bom ambiente para a troca de informações entre as empresas? ( ) sim ( )
não. Justifique ______________________________________________________________________
1.23As empresas do setor moveleiro tendem à especialização em certas etapas do processo produtivo ou à
verticalização? __________________________________________
1.24 A política cambial dos últimos 3 anos representou dificuldades para o setor moveleiro?
( ) sim ( ) não.
Se afirmativo, quais foram os fatores prejudiciais. Favor indicar o grau de importância utilizando a escala,
onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para
a aglomeração como um todo.
Descrição
Grau de
importância
Aumento da competição no mercado interno 0 1 2 3
Dificuldade para exportação 0 1 2 3
Desnacionalização de algumas etapas do processo produtivo 0 1 2 3
Substituição de fornecedores locais por fornecedores internacionais devido ao câmbio
sobrevalorizado. 0 1 2 3
Defasagem tecnológica para competir via diferenciação ou qualidade dos produtos 0 1 2 3
Comente _________________________________________________________________
1.25 Foram criadas alternativas para amenizar os efeitos negativos de tais dificuldades?
( ) sim ( ) não
1.26 Quais os programas foram oferecidos por essa instituição com esse objetivo?______________________
1.27 Na sua avaliação houve um aumento da competição entre as empresas nos últimos cinco anos? ( ) sim (
) não. Como? Por quê? _____________________________________
Se afirmativa você acredita que essa competição provocou, em nível de empresa,
( ) Redução das faixas salariais
( ) Aumento da velocidade das inovações de produtos
( ) Aumento do grau de terceirização das empresas
( ) Inovações no processo produtivo
( ) Redução dos níveis hierárquicos
( ) Modificações nos planos de benefícios
( ) Prêmios de produção ou distribuição de resultados
( ) Introdução de novas técnicas organizacionais
Comente _________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
1.28 As dificuldades atuais ocasionaram tentativas de ação conjunta das empresas? ( )sim ( )não.
Justifique___________________________________________________
1.29 O quadro de dificuldade atual vem estimulando as empresas a recorrerem com mais freqüência e
intensidade às instituições? Como? Por quê? Com que objetivos? __________
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
____________________________
1.30 Como as instituições responderam á maior demanda por seus serviços/facilidades?
________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________
1.31 Na sua opinião, as iniciativas das empresas e instituições, frente às dificuldades atuais, vem apresentando
resultados positivos? ( ) sim ( ) não. Como? Por quê? Exemplificar.
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
1.32 As agências de exportação tiveram papel importante no novo quadro? ( ) sim ( ) não.
Como? Por quê? Exemplos. __________________________________________________
1.33 Qual a relação mantida entre as empresas e a agência de exportação? Quais são os as conseqüências
dessa relação?
________________________________________________________________________________________
1.34 Como funciona o mecanismo de exportação via as agências de exportação? Essas agências são
instituições, em sua maioria, com propriedade ( ) nacional ou ( )estrangeira
1.35 Qual a importância das agências de exportação para a competitividade da região no mercado
internacional? ______________________________________________________
1.36 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis através dos agentes de exportação ?
( ) Qualidade
( ) Localização
( ) Padrões técnicos
( ) Prazo de entrega
( ) Preço
( ) Design
( ) Tecnologia – máquinas e equipamentos
( ) Atendimento especializado
Comente _________________________________________________________________
1.37 Qual a sua avaliação sobre a tendência recente (nos últimos cinco anos) para exportação do setor
moveleiro?
( ) positiva para o setor e o desenvolvimento da região
( ) negativa para o setor e o desenvolvimento da região
( ) as empresas devem exportar sem deixar de atender o mercado interno para evitar crises
( ) as empresas devem especializar-se no seu nicho de mercado
Justificar _________________________________________________________________
1.38 Quais as decisões políticas que devem ser tomadas para apoiar o desenvolvimento da indústria
moveleira?
( ) Mudança na alíquota dos impostos sobre o produto
( ) Política de estímulo às exportações
( ) Melhor acesso ao crédito e taxas de juros menores
( ) Política de estímulo à importação de máquinas
( ) Programa específico para o desenvolvimento
( ) Políticas para aumentar cooperação entre agentes
( ) Estímulo ao desenvolvimento de design
( ) Outros (especificar)____________________
Comente __________________________________________________________________
1.39 Quais os fatores sistêmicos e institucionais que exercem maior influência sobre o desempenho das
empresas?
( ) Política de transporte rodo-portuário (tarifas/qualidade)
( ) Distorções no sistema de política tributária
( ) Falta de política educacional para formação de designers
( ) Falta de uma política de desenvolvimento industrial
( ) Falta de incentivos na política de comércio exterior
( ) Política cambial instável
( ) Falta de uma política habitacional
( ) Falta de incentivo a P&D (pesquisa e desenvolvimento)
( ) Difícil acesso à tecnologia externa
( ) Falta de eletricidade
( ) Variação no poder de compra dos consumidores domésticos
( ) Ameaça dos concorrentes internacionais
( ) Ameaça de produtos substitutivos/alternativos
( ) Elevado custo do capital para investimentos
Justificar _________________________________________________________________
1.40 Quais as principais iniciativas, implementadas localmente, deveriam ser promovidas para melhorar o
desempenho do pólo moveleiro da região.
( ) Treinamento especializado de gerentes – atitudes empreendedoras e de liderança
( ) Treinamento especializado para a formação de supervisores de produção
( ) Formação técnica das lideranças e dos funcionários
( ) Permitir melhor compreensão sobre o padrão tecnológico do setor
( ) Realizar/estimular investimentos em softwares adequados para a indústria moveleira
( ) Realizar/estimular investimentos em maior profissionalização das empresas
( ) Realizar/estimular investimentos em conjunto para melhorias no fornecimento da matéria-prima
( ) Realizar/estimular investimentos para evitar escassez da matéria-prima para os próximos anos
Comente _________________________________________________________________
1.41 Em que medidas essas iniciativas poderiam ser realizadas como ações conjutas/cooperativas, envolvendo
empresas e instituições locais? Justifique.
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
___________________________________________
ANEXO IV – Tabelas utilizadas que, porém, não foram incorporadas ao texto
1.14 A empresas está filiada em que entidades de representação da classe?
Entidades de representação No. de empresas
participantes
Acisbs – Associação Comercial e Industrial
de São Bento do Sul.
12
Sindusmobil – Sindicato das Indústrias da
Construção e do Mobiliário de São Bento do
Sul e Campo Alegre.
18
Arpem – Associação da Micro e Pequena
Empresa Moveleira.
12
Abimovel - Associação Brasileira da
Indústria do Mobiliário
6
Sinduscom - Sindicato da Indústria de
Contrução e do Mobiliário de Rio Negrinho
1
3.8 Quais dos seguintes itens desempenharam um papel importante como fonte de informação para o
aprendizado, durante os últimos três anos, entre 2003 e 2005?
Fontes internas Índice
Departamento de P&D 0,34
Área de produção 0,87
Área de vendas,
marketing
, serviços internos de
0,76
Outras (indicar) 1,00
Fontes externas
Outras empresas dentro do grupo 0,83
0000
Empresas associadas (
joint venture
)
0,50
0000
Fornecedores de insumos (matéria-prima e
máquinas)
0,92
0000
Clientes 0,92
0000
Concorrentes 0,50
0000
Outras empresas do setor 0,53
0000
Empresas de consultoria 0,50
0000
Universidades e outros institutos de pesquisa
Universidade (qual) 0,47
0000
Institutos de pesquisa 0,29
0000
Centro tecnológico do mobiliário 0,74
0000
Instituições de testes, ensaios e certificações 0,58
0000
Outras instituições
Licenças, patentes e
know-how
0,16
0000
Conferências, seminários, cursos e publicações
especializadas
0,55
0000
Feiras, exibições e lojas 0,68
0000
Encontros de lazer (clubes, restaurantes e etc.) 0,34
0000
Associações empresariais (inclusive consórcios de
exportações)
0,74
0000
Informações de rede baseadas na internet ou
computador
0,58
0000
Localização
3.10 A empresa esteve envolvida em atividade cooperativas nos últimos três anos, 2003 a 2005? Em caso
afirmativo, quais dos seguintes agentes desempenharam papel importante como parceiros, durante os três
últimos anos, 2003 a 2005?
Agentes
Índice
Empresas
Outras empresas dentro do
g
ru
p
o
1,00 1,00 0 1,00 0 0 0
Empresas associadas (joint
venture
)
0,00000000
Fornecedores de insumos
(equipamentos, materiais,
componentes e softwares) 0,25 0 0,28 0,22 0,06 0 0
Clientes
0,17 0,11 0,11 0 0 0 0,22
Concorrentes
0,17 0,06 0,11 0,17 0 0 0
Outras em
p
resas do setor
0,47 0,00 0,50 0,50 0 0 0
Empresas de consultoria
0,08 0,11 0 0,11 0 0 0
Universidades e outros
institutos de
p
es
q
uisa
Universidade
(q
ual
)
0,06 0,06 0 0,06 0 0 0
Institutos de
p
es
q
uisa
0,08 0,11 0 0,11 0 0 0
Centro tecnológico do
mobiliário
0,28 0,11 0,17 0,28 0 0 0
Instituições de testes, ensaios e
certificações
0,06 0,06 0 0,06 0 0 0
Outros agentes
Re
p
resentação
0,33 0,11 0,22 0,33 0 0 0
Entidades sindicais
0,11 0,11 0 0,11 0 0 0
Ór
g
ãos de a
p
oio e
p
romoção
0,00000000
Agentes financeiros
0,08 0,11 0 0,06 0,06 0 0
LocalizaçãoFormalização
3.13 Como resultado dos processos de treinamento e aprendizagem, formais e informais, acima discutidos,
melhoraram as capacitações da empresa.
Descrição Índice
Melhor utilização de técnicas produtivas, equipamentos, insumos e
componentes
0,73
Maior capacitação para realização de modificações e melhorias em
produtos e processos
0,73
Melhor capacitação para desenvolver novos produtos e processos 0,32
Maior conhecimento sobre as características dos mercados de atuação
da empresa
0,61
Melhor capacitação administrative 0,60
4.17 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis através dos agentes de exportação ?
Descrição Índice
Qualidade 0,96
Localização 0,33
Padrões técnicos 0,86
Prazo de entrega 0,96
Preço 0,94
Design 0,24
Tecnologia - máquinas e equipamentos 0,47
Atendimento especializado 0,46
4.18 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis diretamente para varejistas?
Descrição Índice
Qualidade 0,73
Localização 0,40
Padrões técnicos 0,77
Prazo de entrega 0,87
Preço 1,00
Design 0,20
Tecnologia - máquinas e equipamentos 0,67
Atendimento especializado 0,53
4.19 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis por atacado?
Descrição Índice
Qualidade 0,77
Localização 0,43
Padrões técnicos 0,77
Prazo de entrega 0,87
Preço 1,00
Design 0,33
Tecnologia - máquinas e equipamentos 0,77
Atendimento especializado 0,53
4.20 Quais os fatores críticos de sucesso para vender móveis através de representantes diretos no exterior?
Descrição Índice
Qualidade 1,00
Localização 0,38
Padrões técnicos 0,82
Prazo de entrega 1,00
Preço 0,87
Design 0,47
Tecnologia - máquinas e equipamentos 0,48
Atendimento especializado 0,87
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