MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Azevedo, "constituindo florões e festões de cores vivas e
variadas e delicados arabescos, era o soalho um lindo
mosaico de preciosas madeiras do país, constituindo
florões de cores vivas e variadas, e delicados arabescos;
soalho lindo e rico espécimen da opulenta flora brasileira".
O teto do salão não destoava do conjunto. Cinco
painéis o enchiam, cheios de enfeites de folhas de carvalho
e louro, de flores e folhas, ali rosas, aqui acantos, nos
ângulos do painel central, relevos simbólicos, lembrando
letras, artes, ciências físicas e matemáticas.
Tal, em traços gerais, o Salão Nobre do Externato
onde, a 27 de fevereiro de 1875, recebia grau a turma de
bacharéis de 1874, salão principiado a modificar em março
de 1873.
Acabada a festa recomeçou o ano letivo de 1875,
numa casa em parte nova, devido ao esforço e à
inteligência de Bethencourt da Silva. Nas partes
reconstruídas o arquiteto levantara o madeiramento mais
de metro, arejara e iluminara salas, melhorando,
substituindo, ornando.
Uma das partes principais do edifício era o pátio
central, onde dispostos aparelhos ginásticos. Sombreavam-
no amendoeiras, nas quais ao abrasar do verão se ouvia o
si-si alistridente das cigarras. Outrora, vindo sem dúvida
do tempo do seminário de São Joaquim, no centro do pátio,
erguia-se um poço mandado tapar pelo reitor Souza Corrêa.
No correr do ano letivo de 1875, o Ministro do Império
e os reitores do Externato e do Internato zelavam interesses
do Colégio, sabendo quanto por ele se desvelara o
Imperador.
Opunha-se, por exemplo, o reitor do Externato,
Cónego Fonseca Lima, que para matrícula no Colégio fosse
dispensado de repetir provas o estudante aprovado em
qualquer disciplina, nos exames prestados na Instrução
Pública.
Mostrava-se o reitor infenso à isenção, abrindo
precedente do qual se pretendia valer "Jean Gustave de
Frontin" matricular, no 5
o
ano do Colégio, seu filho André
Gustavo Paulo de Frontin.
Cuidado pelos reitores correu o ano letivo para o
Colégio e para os alunos, sempre em maior número no
Externato, 212 em 1875, entre eles, como dizia o reitor
Fonseca Lima ao Inspetor da Instrução, "S. A. o Príncipe
D. Pedro, honra com que S. M. o Imperador dignou-se de
distinguir o estabelecimento".
Ano letivo concluído, exames feitos, distribuição de
prémios, colação de grau, de novo reaberto para ela o Salão
Nobre, em dia de recompensar e despedir.
Em 1875, novo público vinha admirar o Salão Nobre
do Externato, na solenidade da colação de grau aos
bacharéis em letras. À espera do Imperador, sempre tão
pontual, tendo talvez meditado a advertência de ser a
pontualidade a suprema cortesia dos reis, muita gente
passava olhos e admirações na obra recente de
Bethencourt da Silva.
Contemplavam os espectadores as paredes do
salão, revestidas de estuque-lustre, formando apainelados
coroados de rosas e louros com filetes dourados.
Apresentava o saláo do século XIX, alguma coisa graciosa,
do faceiro estilo Pompadour.
Enquanto aguardavam a chegada do soberano, mais,
do amigo indefectivel da Casa, os bacharéis de 1875
podiam relancear vistas nas sobreportas do salão, nada
menos de vinte três, nelas, entre adornos esculturais,
gravados nomes que para os bacharéis constituíam
verdadeiro ementário das matérias do curso de bacharelado
em letras.
Em cada sobreporta um vulto gravado: Euler
simbolizando a matemática, Demóstenes, a retórica,
Horácio, a poesia, Lucena, a literatura portuguesa, Basílio
da Gama, a brasileira, Xenofonte, a língua grega, César, a
latina, Bossuet a francesa, Goethe, a alemã, Milton, a
inglesa, Rossini a música, Rafael o desenho, Clias, a
ginástica, Anchieta, a doutrina cristã, Calmet a história
sagrada, Temístocles, a antiga, Gibbon, a média, Guizot,
a moderna, Gândavo, a do Brasil, Platão, a filosofia, Cuvier,
as ciências naturais, Kepler, a cosmografia, Estrabão, a
geografia.