64
Nos poetas brasileiros, a tristeza é um tema recorrente, basta lembrarmos poetas como
Casimiro de Abreu que no poema Minha alma é triste assim se expressa: “minh’alma é triste
como o grito agudo/ das arapongas no sertão deserto/ como o nauta sobre o mar sanhudo/
longe da praia que julgou tão perto”; Raimundo Correia que, evocando a África de onde
vieram os escravos, fala (em banzo) de “uma tristeza imensa, imensamente”; Álvares de
Azevedo, cujos versos falam de crepúsculos, de solidão, de saudade, da morte e Olavo Bilac,
que no soneto “Música brasileira” lembra que, atrás da cadência voluptuosa, está:
a tristeza/ dos desertos, da mata, do oceano/ bárbara pocaré, banzo africano,/ e
soluços da trova portuguesa” em acordes que são “desejos e orfandades/ de
selvagens, cativos e marujos”. É uma música feita de “nostalgias e paixões”; é
“lasciva dor, beijo de três saudades,/ flor amorosa de três raças tristes”.
Em Bilac, encontramos em forma poética, segundo Scliar (2003), o que Paulo Prado
desenvolveria em seu ensaio, ou seja, a superposição da tristeza e de volúpia, a alusão às “três
raças tristes”, à lusa, à indígena e à africana. Scliar (2003) destaca que o ensaio de Prado
apontaria a tristeza brasileira como sendo resultante de o brasileiro ser um povo que descende
de três raças tristes: os portugueses, além de outros fatores, pelo degredo, o exílio que o Brasil
representava para eles, segundo Gilberto Freire (apud Scliar, 2003, p.190): “o português, já de
si melancólico, deu no Brasil para sorumbático, tristonho”; os indígenas, pelas doenças, a
escravidão e dizimação, entre outros, trouxe um clima de total desesperança culminando em
um fenômeno de suicídio, para Scliar (2003), conseqüência da depressão; os africanos, entre
outros fatores, por terem sidos brutalmente arrancados de suas terras, transportados em
infames navios, submetidos ao humilhante trabalho escravo e pelo banzo (saudade da África).
Em Bilac, como percebemos, essa idéia já era proposta em forma poética.
Podemos destacar ainda a presença da melancolia nas obras de Machado de Assis, tais
como nos romances “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1997, p.15), na qual o narrador
fala de uma idéia que lhe ocorreu: “a invenção de um medicamento sublime, um emplastro
anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade”, “Quincas Borba”
(2004, p.33), através do qual descobrimos que “a melancolia da paisagem está em nós
mesmos”, “Dom Casmurro” (1994), que começa melancólico já no título; nos contos “Um
apólogo”, no qual o narrador fala, no final, com “um professor de melancolia”, “O delírio”, no
qual aparece a expressão “a melancolia da tarde” proferida pela Natureza, que nesse conto
fala como personagem, “Cantiga de Esponsais”, no qual mestre Romão é apresentado como
melancólico e “O alienista”, conto no qual, segundo Scliar (2003, p.213) “manifestações