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Isso era manifestado em uma série de conferências,
workshops, artigos de revista e documentos de política
externa promovidos por autoridades do DFA em conjunto
com especialistas em relações internacionais do ANC,
assim como com acadêmicos locais e internacionais,
para repensar fundamentalmente o papel da África do
Sul e seu posicionamento no ambiente global, além de
iniciar o processo de formação de uma estrutura pós-
1994 da política externa sul-africana.
51
Os principais atores da sociedade civil que se engajaram na formulação
da política externa sul-africana eram organizações não-governamentais e
centros acadêmicos. Entre as entidades mais importantes estão a South
African Institute of International Affairs (SAIIA), o Institute for Global Dialogue
(IGD, antigo Foundation for Global Dialogue), o Institute for Security Studies
(ISS, antigo Institute for Defence Policy), o Centre for Policy Studies, o Centre
for International Political Studies e o African Centre for the Constructive
Resolution of Disputes. Hughes cita o caso bem-sucedido da parceria entre o
governo sul-africano e o tradicional SAIIA, fundado em 1934. A formulação do
New Partnership for Africa’s Development (NEPAD), uma das principais ações
de política externa sul-africana pós-apartheid, contou com a contribuição
intensa de técnicos do SAIIA.
52
O papel da sociedade civil organizada, porém, teve limites, como
observam outros autores
53
. Alden e Le Pere escrevem:
O setor [da sociedade civil] passou por uma profunda
transformação desde o começo da transição
democrática. O alinhamento próximo da sociedade civil
com a luta do ANC por liberalização nacional deu lugar a
um sentido de alienação e marginalização, na medida
em que o governo usurpou muitas das áreas tradicionais
e coagiu muitos dos seus talentosos integrantes [...] O
desconforto com as rotas de transformação do Estado se
aliou à percepção do governo "levado para longe" pela
globalização, levando a conclusões enormemente
51
Hughes, 2004. p. 31
52
Idem. Nos anos do apartheid, o SAIIA evitou a todo custo receber financiamento do governo federal,
por condenar o regime de segregação. A entidade ficou conhecida internacionalmente pelo lema informal
criado por um dos seus diretores, Harry Oppenheimer: “poor, but pure” (“pobres, porém puros”).
53
O papel de ONGs foi relevante em diversas situações. Não é possível aqui enumerar todos os exemplos,
pois são muitos. As ONGs participaram de negociações muito distintas, desde o engajamento sul-africano
na campanha internacional para banimento de minas terrestres até a formulação dos princípios de
participação da África do Sul em missões de paz, passando pelo já citado acordo comercial com a União
Européia. Ver Alden e Le Pere, 2004, p.18