Sabemos que a Revolução Técnico-Científica causa o fenômeno do
desemprego. Este desemprego é conhecido como estrutural porque não
decorre de uma crise passageira, mas de característica própria do sistema
capitalista. As empresas buscam avançar cada vez mais no setor tecnológico
para conseguirem maior produtividade, maior lucro, melhores produtos para
vencerem a concorrência e tudo isto, com mão-de-obra mais qualificada. Mas
onde ficam os trabalhadores menos qualificados? Neste novo modelo, os
indivíduos desqualificados estão fora do mercado de trabalho. O trabalhador
vive um momento de instabilidade ocupacional e de desemprego. Há três
projeções de cenários possíveis, no campo do trabalho, a partir da realidade do
neoliberalismo: primeiro, Blade Runner
44
mais Fahrenheit
21
451 - onde os laços
de solidariedade
45
Blade Runner, Ridley Scott, 1982/1993.
O filme situa-se em novembro de 2019, em Los Angeles. Dá uma visão do que seria o século XXI, levando-nos a imaginar
uma sociedade desenvolvida tecnologicamente mas, ao mesmo tempo, questionando se isto, representaria uma melhoria na
qualidade de vida das pessoas. Para o diretor, pensar assim é que pode ser uma ficção.
O desenvolvimento tecnológico está presente no filme através de imagens, como dos outdoors eletrônicos nas laterais dos
prédios, que funcionam como imensas telas de televisão assim como, nos outdoors ambulantes que cruzam os céus como que
perseguindo seu público. Também quando os aparelhos funcionam ao comando da voz, como por exemplo, para o elevador
funcionar; o digitalizador de imagem que serve para enquadrar melhor um determinado ângulo das fotografias; as portas se
abrindo com cartões eletrônicos e as luzes da casa acendendo-se na medida em que as pessoas passam pelos aposentos.
A tecnologia procura desenvolver robôs feitos à imagem e semelhança dos homens, mas sem sentimentos. Estes seres
serão chamados de replicantes (NEXUS 6) criados com a mais alta tecnologia mas que tem um tempo determinado de vida.
Esses seres são usados para trabalhos de exploração em outros planetas e não podem vir para a terra. Se voltarem para a terra,
serão caçados, ou seja, eliminados.
O filme mostra que apesar de todo o avanço tecnológico, o planeta Terra, não foi transformado e ainda está envolto em
névoas, as pessoas ainda fumam incessantemente. As ruas são apinhadas de pessoas, sujas como se fossem lixões a céu
aberto. Os prédios são amplos e vazios, como se não fossem habitados. A rua parece ser o local onde as pessoas procuram
algum tipo de humanidade. Nelas são vendidos alimentos, geralmente, frituras feitas por orientais. E a língua falada uma
mistura do inglês, espanhol, japonês e outras.
É muito interessante o trabalho do diretor, ao contrastar através do convívio dos robôs e dos ratos, no apartamento de
Sebastian, a mistura que há entre o velho e o novo. Demonstrando que nada é inteiramente novo ou velho. Ridley Scott
questiona o tempo através da ação dos replicantes que buscam saber quanto ainda lhes resta de vida. Procuram seu criador,
mas este também não sabe, por isto, é morto pela criatura. Os replicantes são os únicos que parecem constituir família
porque só assim constroem sua identidade, e não são solitários, ao contrário dos humanos que são sós.
21
BRADBURY, Ray. Fahrenheit 451. 10ª edição. São Paulo: Editora: Melhoramentos, 1988.
O livro Fahrenheit foi escrito em 1950. A história se passa após uma grande guerra ocorrida na década de 90, do
século XX. Esta guerra foi provocada devido à desestruturação do Estado e das pessoas. Dos questionamentos provocados
pela troca de idéias, pela leitura de livros que questionavam a existência humana, seus problemas, seus sonhos, suas
necessidades e a própria ação ou omissão do Estado frente aos problemas dos homens.
Para que este problema fosse resolvido após a guerra o Estado resolveu intervir diretamente na vida das pessoas
impedindo seu livre pensar, suas conversas, seu contato pessoal, o desenvolvimento de qualquer forma de interesse pelo
outro, pela natureza, pelos animais (que se transformaram em animais mecânicos, o que nos lembra os cães e gatos
desenvolvidos pelos japoneses no final da década de 90, na vida real)
Na realidade imaginada por Ray Bradbury, as pessoas são controladas por grandes telões de entretenimento, dentro
de suas casas. Estes telões permitiam ao telespectador interagir com os personagens da televisão. Os programas são tolos e
vazios, mas as pessoas passam horas repetindo o que está na tela. Esta sociedade tem ainda, um grande número de suicídios
devido a solidão em que vivem. As pessoas ignoram não dando a menor importância para isto. Fahrenheit 451 é a temperatura
na qual os livros são queimados. Todo o livro encontrado é destruído junto com seu dono e a casa onde estava guardado pela
ação dos bombeiros que tem como função colocar fogo nos objetos ou pessoas que possam provocar alguma ameaça ao poder
estatal.
O autor discute ainda, a questão da lavagem cerebral feita nas pessoas através da televisão, dos entretenimentos
destrutivos da juventude, todos são igualados, as informações não dizem nada. As crianças são vistas como um estorvo e as