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porém sendo o gênero conto de assombro um tipo relativamente novo, tem se ocupado
de explorar também aspectos sinistros de épocas a partir da Idade Média até a
Contemporaneidade com ingredientes da área médica, religiosa entre outros aspectos
culturais e folclóricos. Quanto ao tempo da duração do conflito, é semelhante aos
outros contos, isto é, perdura por algumas horas, não passando de poucos dias.
A verossimilhança não se opõe absolutamente ao fantástico, segundo Todorov
(2007), uma vez que ela é uma categoria relacionada à coerência interna com submissão
ao gênero, enquanto que o fantástico se refere à percepção ambígua do leitor e da
personagem. No conto de assombração ela é considerada para garantir a crença do leitor
de que se encontra no nível da realidade, pois no transcurso da narrativa vai se
extrapolar essa realidade. E esse jogo, entre uma realidade e outra, precisa ser
conduzido pelo enunciador de tal forma que não se perca o leitor.
Adjetivos
O narrador do conto de assombro é inevitavelmente onisciente já que a escolha dos
fatores constituintes do enredo devem ser premeditados por ele em função do que se
deseja para o desfecho da narrativa. Se se posiciona, fazendo parte da história, ou
assistindo os fatos, observando-os de fora, trata-se da escolha de cada autor. O
narrador/locutor utiliza termos avaliativos que se propõem a um julgamento positivo ou
negativo, classificados como avaliativos do tipo axiológico. Encontramos assim
adjetivos que remetem a avaliação apreciativa ou depreciativa do ser denotado, verbos
que valorizam ou desvalorizam as atitudes do ser descrito, bem como outras categorias
de palavras como advérbios, indicadores de atitude ou estado psicológico que
constroem a imagem de um personagem, por exemplo. E, além de tudo, esses
elementos revelam a competência do enunciador que encoraja o leitor à interpretação
presente na situação enunciativa.
Modo e tempo verbal
Como nas demais narrativas, também na deste estudo encontram-se
predominantemente os indicativos perfeito e imperfeito. Mas como os modos e tempos
verbais se caracterizam no gênero conto de assombração? Pelo tempo verbal
asseguramos os fatos naturais e também os sobrenaturais no enredo.
Os tempos do pretérito perfeito - que manifestam um tempo concluso - e o
pretérito imperfeito inconcluso, não são distintas de outras narrativas, mas a escolha
lexical pode determinar alguma singularidade, pois ela vai aproximar da temática do
assombro; assim alguns exemplos: cravou, arrancou, paralisou, zumbia, demoliram,
cavaram, gritou, suplicou, agarrou-a, morderam, fugiu, mexeu, escapou, espiei, travei).
Inseridos no diálogo, os verbos de fala e os que não são também têm o mesmo
comportamento nas demais narrativas.
Uso de advérbios
Há indiscutivelmente a presença apropriada de advérbios nestas narrativas.
Assim são freqüentes os advérbios e locuções de modo (lentamente, levemente, bem
devagar, mais que depressa, muito agilmente, igualmente, de tal maneira, rapidamente,
etc.); de tempo (depois, em seguida, ontem, hoje, naquela hora, naquela noite, certo dia,
sempre, durante certo tempo, quando, imediatamente, sempre assim, numa dessas
manhãs, certa ocasião etc.); de lugar (de aldeia em aldeia, sobre os ombros, desde que,
à aldeia, onde, de um canto para o outro, no lugar, pela floresta, no céu, lá); de
intensidade (tão, esquisitíssimo, intensa, mais, pouco a pouco, quase, maior, depressa,