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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
A PESCA COMERCIAL NO MUNICÍPIO DE MANICORÉ (RIO
MADEIRA
)
, AMAZONAS, BRASIL.
RENATO SOARES CARDOSO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Biologia Tropical e Recursos
Naturais, do convênio INPA/UFAM, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Ciências Biológicas, área de concentração em
Biologia de Água Doce e Pesca Interior.
Manaus – Amazonas
2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZONIA – INPA
A PESCA COMERCIAL NO MUNICÍPIO DE MANICORÉ (RIO
MADEIRA
)
, AMAZONAS, BRASIL.
RENATO SOARES CARDOSO
ORIENTADOR: DR. CARLOS EDWAR DE CARVALHO FREITAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Biologia Tropical e Recursos
Naturais, do convênio INPA/UFAM, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Ciências Biológicas, área de concentração em
Biologia de Água Doce e Pesca Interior.
Financiamento: CNPq (Edital Universal 2002. Processo Nº 472581/2003-1).
Manaus – Amazonas
Fevereiro de 2005
ii
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Cardoso, Renato Soares
A pesca comercial no município de Manicoré (rio Madeira), Amazonas,
Brasil. / Renato Soares Cardoso. 2005.
xiv 126 f: il
Dissertação (Mestrado) – INPA/UFAM, Manaus, 2005.
1. Amazônia 2. Pesca comercial 3. Locais de captura 4. Espécies
explotadas 5. Frota pesqueira. I. Título
CDD 19. ed. 639.209811
SINOPSE
A pesca comercial foi analisada qualitativa e quantitativamente por
intermédio dos desembarques que ocorreram na sede do município no
período de junho de 2003 a maio de 2004, foram identificadas as espécies
explotadas, principais locais de captura e sua utilização durante o período
anual, bem como foi evidenciado algumas aspectos da dinâmica que
envolve a atividade pesqueira no município.
Palavras-chave: caracterização da frota, dinâmica da pesca, esforço de
pesca, espécies explotadas, locais de captura.
iii
Aos meus pais Valdemar e Maria, e
aos meus irmãos, pelo afeto e
carinho durante todos esses anos
da minha vida.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida e por todas as graças alcançadas até o momento e
pelas muitas ainda a receber;
Ao meu orientador Dr. Carlos Edwar de Carvalho Freitas, pelos
ensinamentos, apoio e paciência durante todos esses anos de orientação;
Aos meus irmãos Honorina, Rosa, Raimundo, Belmiro, Washington, Miguel,
Valdemar, Sebastião, e Luciana, que mesmo distante não se cansam de apoiar-me
em todos os meus estudos, de maneira especial ao José “Fino”, me orgulho do seu
orgulho por mim;
À Suely Oliveira “Littlefish”, minha amiga, companheira e quase irmã, que foi
meu porto seguro durante a caminhada do mestrado e que continuará sendo por
toda a vida;
Ao meu amigo e irmão Marcelo “Boy” Barroncas, pessoas como você não se
encontra em qualquer lugar; também a Charles Henry, que muito contribuiu para que
essa dissertação ficasse pronta;
De maneira especial aos meus “camagadas” do PIATAM, Edimar Costa
“irmão, salva a tua alma, porque teu corpo...”, Allan Rezk “cara, a água do mar é
salgada mesmo”, Doney Vitor, Raniere Garcez, Cláudio Silva pelo companheirismo
durante a dissertação e pelos e-mails informativos, valeu mesmo;
Às amigas “frientas”, Márcia Melo, Karen Lorena, Alzira Miranda, Flávia Kelly,
Fabíola Aquino, Wildes Cley, Blaíse Saraiva, Renata Mourão e Fabiane Santos, por
terem me aturado durante os momentos sem criatividade da dissertação;
Aos meus coletores, Marijara Santos, Marcelo Barreto e Edivaldo Guimarães,
que foram companheiros importantes na coleta das informações em Manicoré;
v
Aos membros da Colônia Z-20, Antonio Passos, Antonio Tufi e Ana
Vasconcelos, pela parceria e ajuda valiosa durante todos esses anos de trabalho;
Aos amigos do Núcleo de Socioeconomia, Jozane Lima, Marcos Castro,
Nágila Lima, Geandro Pantoja e Albejamere e principalmente à ”Semi-Deusa” Dra.
Terezinha Fraxe, pelo carinho e companheirismo durante os trabalhos;
Aos amigos do INPA, Adriana Chippari, Cristiane Feitoza, Nivia Pires,
Cristhian Pérez, Katherine Vásquez, Carminha Arruda e Elany Moreira, pela ajuda
valiosa com os “pepinos” e os momentos agradáveis compartilhados nestes dois
anos de estudos.
Aos professores orientadores do curso de Biologia de Água Doce e Pesca
Interior, que contribuíram para o meu aprendizado durante esses dois anos e em
especial ao Dr. Geraldo Santos, que sem saber ajudou muito na escolha do caminho
a seguir.
Aos membros oficiais e ”trainees” da ”Sociedade dos Otários”, Suelen
Miranda e Grace Leal (o líder eu já citei), que seguraram uma barra legal durante
boa parte do curso;
A todos os colegas da turma de mestrado de 2003, que estiveram presentes
no caminhar dessa dissertação;
A todos os pescadores da minha cidade altaneira, sem os quais essa
dissertação não passaria de um sonho, em especial José Antonio (Comte Raul III),
Ordemith Bezerra (Comte Michel), Sebastião Riatequi (Flexa), Manoel Santos (Bom
Jesus) e Antonio Correa (Stalonne), valeram as dicas de como pescar em Manicoré.
vi
EPÍGRAFE
Manicoré cidade altaneira,
Tens a glória de viver na lareira,
Para tua grandeza, glória e defesa,
Tens para sempre o nosso amor e a nossa vida.
Manicoré, teu povo é forte,
Grande e fecunda é a tua terra,
Queremos com alegria,
Saudar esta terra querida.
Manicoré, teus filhos hoje vêm saudar,
Mandai Jesus, a santa paz abençoar,
Manicoré, teus filhos hoje vêm saudar,
Mandai, mandai, mandai Jesus, a santa paz!
(Hino de Manicoré, Marta do N. Ferreira, Olga M. Soares e Eulália L. Reis)
vii
LISTA DE FIGURAS – CAPÍTULO I
Figura 01 – Localização geográfica do município de Manicoré.............................. 23
Figura 02 Freqüência relativa de dependência da atividade pesqueira por parte
dos pescadores da frota pesqueira que atuam no município de
Manicoré..............................................................................................
26
Figura 03 – Estrutura etária dos pescadores do município de Manicoré............... 28
Figura 04 Período de atividade pesqueira por parte dos pescadores que
executam a pesca comercial do município de Manicoré.....................
29
Figura 05 Grau de escolaridade dos pescadores que atuam na pesca
comercial do município de Manicoré...................................................
30
Figura 06 – Percentual de pescadores cadastrados por ano na Colônia de
Pescadores do município de Manicoré................................................
33
Figura 07 Distribuição de classe de comprimento dos barcos de pesca que
formam a frota comercial do município de Manicoré...........................
34
Figura 08 Distribuição de classe de comprimento das canoas motorizadas que
formam a frota comercial do município de Manicoré...........................
35
Figura 09 Freqüência de ocorrência das marcas ou modelo dos motores de
propulsão nos barcos de pesca...........................................................
36
Figura 10 Distribuição da potência dos motores dos barcos de pesca da frota
comercial do município de Manicoré...................................................
36
Figura 11 Freqüência de ocorrência das marcas ou modelos dos motores de
propulsão nas canoas motorizadas.....................................................
37
Figura 12 – Distribuição da potência dos motores das canoas motorizadas da
frota comercial do município de Manicoré...........................................
37
Figura 13 – Estruturas utilizadas para o armazenamento do pescado nos barcos
de pesca no município de Manicoré....................................................
39
Figura 14 Freqüência das caixas isotérmicas, em capacidade de
armazenamento de gelo, utilizadas pelos pescadores de canoas
motorizadas..........................................................................................
39
viii
Figura 15 – Principais ambientes de destino das expedições de pesca de canoas
motorizadas durante o período da seca...............................................
40
Figura 16 – Principais ambientes de destino das expedições de pesca de canoas
motorizadas durante o período da cheia..............................................
42
Figura 17 – Principais ambientes de destino das expedições de pesca dos
barcos durante o período da seca.......................................................
43
Figura 18 – Principais locais de destino das expedições de pesca dos barcos
durante o período da cheia..................................................................
44
Figura 19 – Principais espécies-alvo dos barcos de pesca durante o período da
seca......................................................................................................
46
Figura 20 – Principais espécies-alvo dos barcos de pesca durante o período da
cheia......................................................................................................
46
Figura 21 – Principais espécies-alvo das pescarias das canoas motorizadas
durante o período da seca....................................................................
47
Figura 22 – Principais espécies-alvo das pescarias das canoas motorizadas
durante o período da cheia...................................................................
48
Figura 23 – Ocorrência dos apetrechos de pesca nos barcos de pesca da frota
do município de Manicoré.....................................................................
49
Figura 24 Freqüência de utilização dos apetrechos pelos barcos de pesca da
frota municipal.....................................................................................
50
Figura 25 Ocorrência dos apetrechos de pesca nas canoas motorizadas da
frota do município de Manicoré.............................................................
51
Figura 26 Percentual de aplicação dos investimentos em apetrechos pelos
proprietários dos barcos de pesca........................................................
53
Figura 27 Percentual de aplicação dos investimentos em apetrechos de pesca
pelos proprietários de canoas motorizadas..........................................
54
ix
LISTA DE FIGURAS – CAPÍTULO II
Figura 01 – Produção mensal de pescado desembarcado pela pesca comercial
no município de Manicoré...................................................................
77
Figura 02 Nível do rio Madeira durante os meses de agosto de 2003 e março
de 2004...............................................................................................
77
Figura 03 – Produção de jaraqui desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
82
Figura 04 Freqüência de desembarque de jaraqui pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
82
Figura 05 Produção de pacu desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
83
Figura 06 Freqüência de desembarque de pacu pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
84
Figura 07 Produção de curimatá desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
85
Figura 08 Freqüência de desembarque de curimatá pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
85
Figura 09 Produção de sardinha desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
86
Figura 10 – Freqüência de desembarque de sardinha pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
87
Figura 11 – Produção de branquinha desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
88
Figura 12 – Freqüência de desembarque de branquinha pela pesca comercial
no município de Manicoré...................................................................
88
Figura 13 – Produção desembarcada por barcos de pesca, canoas motorizadas
e compradores de pescado................................................................
91
Figura 14 Produção de pescado pela pesca comercial do município de
Manicoré por local de captura.............................................................
93
x
Figura 15 Produção dos agentes de comercialização provinda do ambiente
igarapé................................................................................................
96
Figura 16 Produção dos agentes de comercialização provinda do ambiente
lago......................................................................................................
99
Figura 17 Produção dos agentes de comercialização provinda do ambiente
rio.........................................................................................................
101
Figura 18 Produção dos agentes de comercialização provinda de ambiente
não identificado...................................................................................
102
Figura 19 –
A
nálise de correspondência dos agentes de produção e locais de
pesca no período de vazante e seca...................................................
105
Figura 20 – Análise de correspondência dos agentes de produção e locais de
pesca no período de enchente e cheia...............................................
106
Figura 21 – Diferenciação entre as médias de captura das embarcações............. 107
LISTA DE TABELAS – CAPÍTULO I
Tabela 01 – Atividade principal ou complementar para geração de renda dos
proprietários das embarcações de pesca.............................................
27
Tabela 02 – Atividade principal ou complementar para geração de renda dos
pescadores de canoas motorizadas.....................................................
27
Tabela 03 Freqüência de ocorrência de conflitos entre pescadores comerciais e
ribeirinhos no município de Manicoré...................................................
32
Tabela 04 – Número de pescadores filiados à Colônia de Pescadores Z-20........... 33
Tabela 05 Locais de captura para pescadores de canoas motorizadas no
período da seca...................................................................................
41
Tabela 06 – Locais de captura para pescadores de canoas motorizadas no
período da cheia...................................................................................
42
Tabela 07 Locais de captura para barcos de pesca no período da
seca.......................................................................................................
44
xi
Tabela 08 Locais de captura para os barcos de pesca no período da
cheia......................................................................................................
45
Tabela 09 Número de apetrechos por barco de pesca e canoa
motorizada...........................................................................................
51
Tabela 10 – Investimento monetário para a aquisição de apetrechos e
manutenção em geral, pelos proprietários de canoas motorizadas e
barcos de pesca..................................................................................
52
Tabela 11 – Custos médios das expedições de canoas motorizadas e barcos de
pesca...................................................................................................
55
LISTA DE TABELAS – CAPÍTULO II
Tabela 01 – Produção mensal de pescado por espécie ou grupo de espécie,
desembarcada pela pesca comercial..................................................
79
Tabela 01 – Produção mensal de pescado por espécie ou grupo de espécie,
desembarcada pela pesca comercial (continuação)...........................
80
Tabela 02 – Freqüência de desembarque das principais espécies ou grupo de
espécies capturadas pela pesca comercial no município de
Manicoré..............................................................................................
81
Tabela 03 Produção de pescado por agente de produção da pesca comercial
no município de Manicoré...................................................................
90
Tabela 04 Principais locais de captura explorados pela pesca comercial no
município de Manicoré........................................................................
92
Tabela 05 – Freqüência de expedições de pesca para o ambiente igarapé pela
pesca comercial no município de Manicoré........................................
94
Tabela 06 – Percentual de explotação do ambiente igarapé pelos agentes de
pesca atuando no município de Manicoré...........................................
95
Tabela 07 – Freqüência de explotação do ambiente lago pela pesca comercial
do município de Manicoré...................................................................
97
xii
Tabela 08 – Percentual de explotação do ambiente lago pelos agentes de pesca
atuando no município de Manicoré.....................................................
98
Tabela 09 – Freqüência de explotação do ambiente rio pela pesca comercial do
município de Manicoré........................................................................
100
Tabela 10 –
Percentual de explotação do ambiente rio pelos agentes de pesca
atuando no município de Manicoré.....................................................
100
Tabela 11 Esforço e Captura por Unidade de Esforço para barcos de pesca da
frota municipal.....................................................................................
103
Tabela 12 – Esforço e Captura por Unidade de Esforço para canoas
motorizadas da frota municipal...........................................................
104
Tabela 13 – Parâmetros da análise de covariância efetuada................................. 107
xiii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS................................................................................................... viii
LISTA DE TABELAS................................................................................................... xi
Apresentação.............................................................................................................. 01
Introdução geral.......................................................................................................... 02
CAPÍTULO I - Caracterização da atividade pesqueira comercial no município de
Manicoré (rio Madeira), Amazonas, Brasil: uma análise a partir da frota...................
17
Introdução........................................................................................................... 20
Metodologia empregada..................................................................................... 22
Resultados.......................................................................................................... 25
Discussão........................................................................................................... 55
Conclusão........................................................................................................... 61
Referencias bibliográficas.................................................................................. 62
CAPÍTULO II – Análise do desembarque de pescado no município de Manicoré
(rio Madeira), Amazonas, Brasil.................................................................................
67
Introdução........................................................................................................... 70
Metodologia empregada..................................................................................... 71
Resultados.......................................................................................................... 75
Discussão........................................................................................................... 107
Conclusão........................................................................................................... 113
Referencias bibliográficas.................................................................................. 115
Anexos........................................................................................................................ 119
xiv
APRESENTAÇÃO
A pesca é uma importante atividade social e econômica no estado do
Amazonas, visto que aproximadamente 200.000 pessoas dependem direta ou
indiretamente da mesma para geração de renda (Fisher et al., 1992), bem
como o pescado é a principal fonte de proteína animal de boa qualidade e de
custo acessível para os centros urbanos da região amazônica.
Porém, a ausência de conhecimento aprofundado da atividade
pesqueira e do comportamento dos pescadores de centros urbanos localizados
fora da calha principal do rio Amazonas, faz com que a política pesqueira, tanto
relativa ao manejo, quanto aos incentivos, seja até certo ponto ineficiente.
Na
Introdução Geral, buscamos descrever de maneira sucinta, parte
do conhecimento sobre: a atividade pesqueira regional, recurso explotado e o
manejo da atividade e dos recursos, bem como as principais características do
rio Madeira e da atividade pesqueira nele existente.
No
Capítulo I, procuramos analisar física e estruturalmente a frota dos
barcos de pesca e das canoas motorizadas, que são os principais agentes que
desembarcam pescado no município e as suas principais características,
dentro da atividade que executam.
No
Capítulo II, analisamos os desembarques da pesca comercial,
ocorridos na sede do município, durante o período de um ano, com ênfase nas
principais espécies capturadas, locais de captura e a utilização destes, frente à
sazonalidade do ciclo hidrológico existente na região.
A intenção maior deste trabalho foi de contribuir com informações-
chave que pudessem ser utilizadas para a confecção de medidas de manejo
mais adequadas para este setor produtivo do Estado do Amazonas.
1
Introdução Geral
A atividade pesqueira
Na Amazônia, dentre as atividades ligadas ao setor produtivo primário,
a pesca é uma das que merece maior destaque, por ser a principal fonte de
proteína e geração de renda, seja para moradores da zona rural ou urbana
(Ruffino et al., 1998; Freitas & Batista, 1999; Cerdeira et al., 2000; Almeida et
al., 2001; Freitas et al., 2002). Segundo Almeida et al. (2000; 2001) somente na
região do Baixo Amazonas, a pesca é responsável, direta e indiretamente, pela
geração de renda para mais de 30.000 pessoas.
Utilizada apenas para subsistência pelos moradores das comunidades
ribeirinhas até a década de 60, a pesca paulatinamente tornou-se uma
atividade comercial para estes, devido principalmente à decadência dos
produtos cultivados na várzea (Furtado, 1993; Fraxe, 2000), o que forçou os
ribeirinhos a buscarem uma nova fonte de geração de renda para o sustento de
suas famílias.
A entrada dos ribeirinhos na explotação dos recursos pesqueiros, para
fins comerciais, provocou um aumento no esforço de pesca em toda a bacia
Amazônica, bem como a exploração de ambientes que antes eram restritos
apenas à pesca de subsistência das comunidades ribeirinhas (Pereira, 1999).
A explotação dos recursos pesqueiros foi impulsionada também pela
inovação tecnológica pela qual passou o setor pesqueiro (Marrul Filho, 2003).
Entre as inovações incorporadas à atividade pesqueira, destacam-se a
introdução de material sintético na fabricação de apetrechos como redes e
malhadeiras, a utilização de motores a diesel pelos barcos de pesca, que
permitiu deslocamentos para pesqueiros mais distantes em menor espaço de
2
tempo e a facilidade de aquisição de gelo, que permitiu o armazenamento e
conservação do pescado por um período mais longo (McGrath et al., 1993a).
Com o intuito de estudar o explotador do recurso pesqueiro, Barthem
et al. (1997) classificaram os pescadores da região Amazônica em cinco
categorias: (i) pescador citadino, aquele que vive nas cidades e não tem mais
ligação com a terra; (ii) pescador interiorano, que vive na zona rural, fazendo
da atividade pesqueira a sua fonte principal ou complementar de renda; (iii)
pescador indígena, que pesca apenas para subsistência, comercializando
esporadicamente o excedente produzido; (iv) pescador esportivo, que pesca
apenas para lazer e (v) pescador ornamental, ligado à pesca de peixes
ornamentais, voltada para o comércio exterior.
Barthem et al. (1997) identificaram também a existência de cinco tipos
de pescarias: (i) pesca industrial, efetuada por barcos de parelhas, voltada
exclusivamente para a captura de bagres no estuário amazônico; (ii) pesca
artesanal comercial, efetuada por barcos geleiras, voltada principalmente para
a captura de peixes de escama, direcionada para o abastecimento dos
principais centros urbanos; (iii) pesca artesanal de subsistência, realizada
principalmente por ribeirinhos; (iv) pesca ornamental, dirigida à captura de
peixes ornamentais e a (v) pesca de reservatório, praticada nos lagos artificiais
existentes na região.
Das cinco modalidades de pesca anteriormente citadas, apenas quatro
são encontradas no Estado do Amazonas (inexistindo aqui a pesca industrial),
sendo as mais importantes em termos de volume de produção, a pesca
comercial e a pesca de subsistência (Freitas, 2002). Estas duas pescarias
apresentam uma produção sazonal, ligada diretamente ao ciclo hidrológico
3
(Ruffino & Isaac, 2000; Cetra & Petrere Jr., 2001; Freitas et al., 2002), onde as
capturas variam tanto em biomassa quanto em diversidade (Batista et al.,
1998a; 1998b; Batista, 2003).
O recurso pesqueiro
O valor econômico e social do recurso pesqueiro existente na região
amazônica é inestimável, esta constatação se dá, não somente pela extensa
bacia hidrográfica que comporta em seu território, mas também pela riqueza de
espécies de peixes existente (Goulding, 1980; 1981), e que se encontra
parcialmente sub-explorada pela pesca comercial local (Bayley & Petrere Jr.,
1989).
O consumo per capita de pescado na região amazônica é um dos mais
altos do mundo, sendo que os valores de consumo diário variam conforme a
calha de rio. Em comunidades ribeirinhas, Fabré & Alonso (1998) estimaram
um consumo de 500 a 800 g/dia para a região do Alto Solimões, enquanto
Batista et al. (1998a), estimaram um consumo de 490 a 600 g/dia para a região
do Baixo Solimões/Alto Amazonas e Cerdeira et al. (1997), estimaram um
consumo de 369 a 550 g/dia para o Baixo Amazonas.
A produção pesqueira desembarcada em Manaus foi estimada em
25.000 t/ano, para a década de 80 (Merona & Bittencourt, 1988). Tentativas de
estimar a produtividade total para a região foram efetuadas por Bayley &
Petrere Jr. (1989) que chegaram a um valor de 199.000 t/ano, levando-se em
consideração o tamanho da área de inundação. Bayley (1981) estimou uma
produção pesqueira de aproximadamente 217.000 t/ano para a região do
Médio e Alto rio Amazonas.
4
Das mais de 1.400 espécies já descritas na região (Roberts, 1972
apud Bayley & Petrere Jr., 1989), entre 30 e 40 espécies ou grupo de espécies
são explotadas pela pesca comercial, sendo que entre oito e quinze são
responsáveis por 80 a 90% de todo o desembarque realizado, por exemplo, na
capital do Estado do Amazonas (Petrere Jr., 1978a; 1978b; 1983; Merona &
Bittencourt, 1988; Bittencourt & Cox-Fernandes, 1990; Batista, 1998; Batista &
Petrere Jr., 2003).
A pesca efetuada em comunidades ribeirinhas do Médio rio Madeira,
explota entre 35 e 45 espécies (Pereira et al., 2001; Pereira & Cardoso, 2003),
em comunidades do Médio Solimões são explotadas 44 espécies (Cardoso et
al., 2003) e em comunidades da Amazônia Central, são explotadas um total de
48 espécies (Batista et al., 1998b).
O manejo de recursos pesqueiros
O caráter difuso das pescarias (Merona, 1993), o sistema de livre
acesso aos recursos, previsto na legislação brasileira (Decreto-Lei 221/67),
aliado à multiespecificidade das capturas e a utilização de multiapetrechos
(Petrere Jr., 1978a; 1978b), faz com que a pesca da região, apresente grandes
dificuldades quanto à sua gestão. Diante disso, Bayley (1981) considerou para
as pescarias na região, quatro possibilidades para a gestão deste recurso: (i) a
proibição permanente das pescarias comerciais; (ii) a manutenção da
diversidade das capturas atuais; (iii) o gerenciamento da atividade em função
da produção máxima e, (iv) não fazer nada.
Diversos autores analisando as alternativas propostas constataram
que, a gestão da pesca na região, seria efetiva com uma combinação das
5
possibilidades anteriores, descartando apenas as alternativas (i) e (iv), por se
tornarem inviáveis quanto à aplicação (Merona, 1993; Isaac & Barthem, 1995;
Freitas, 2002; Freitas & Rivas, 2002).
Em uma análise efetuada sobre a legislação pesqueira vigente para a
região amazônica, Isaac et al. (1993) concluíram que as mesmas são irrealistas
para as pescarias existentes. Os motivos para esta inadequação, seria a
ausência de embasamento científico e o desconhecimento de muitas
características da pesca e do pescador (Isaac et al., 1993). Essa inadequação
na legislação está agora sendo modificada, visto que nos últimos anos, os
órgãos responsáveis pela criação e aplicação das políticas públicas
direcionadas ao setor, estão tomando como base, os resultados das pesquisas
efetuadas nas instituições, para a tomada de medidas mais realistas visando o
manejo da atividade.
Em decorrência disto, o Estado do Amazonas conta com ações de
manejo regionalizado, prática adotada pelo Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que desde o ano de 1998
edita portarias anuais visando o fechamento de vários tributários de rios para a
prática da pesca comercial (Pereira et al., 2001), durante o período da
migração reprodutiva.
Uma prática de gerenciamento comum da atividade pesqueira, e que
vem se expandindo muito na região são os acordos de pesca, praticados em
parceria entre os órgãos de gerenciamento e os explotadores do recurso.
Neste tipo de manejo, o órgão de gestão delega aos usuários do recurso,
poderes para a implantação da auto-regulação (Berkes & Kislalioglu, 1991;
Pomeroy & Berkes, 1997). Essa prática, denominada de manejo comunitário
6
(McGrath et al., 1993b; Pomeroy, 1995), é muito comum principalmente nas
comunidades da região do Médio Solimões e Baixo Amazonas (Isaac &
Barthem, 1995; Pereira & Cardoso, 1999).
O rio Madeira
O rio Madeira é um dos maiores tributários da margem direita do rio
Amazonas, sendo considerado o afluente mais importante e de melhor
navegabilidade deste, pois tem excelente traçado, com pequena sinuosidade
(Goulding, 1979; Costa, 1998), além de ser um dos maiores rios do mundo.
A partir de Porto Velho (capital do Estado de Rondônia), em direção à
foz e numa extensão de 1.450 km, o rio Madeira é utilizado como hidrovia. Ao
adentrar o Estado do Amazonas, permeia-se em sentido noroeste, entre os
municípios de Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã, Borba e Nova Olinda do
Norte, sendo a principal via de escoamento dos produtos destes e para estes
municípios.
Em estudo realizado no final da década de 70, Goulding (1979) dividiu
o rio Madeira, para efeito de estudo, em quatro zonas: Baixo rio Madeira, que
compreende o trecho à jusante do rio Aripuanã até a foz no rio Amazonas;
Médio rio Madeira, que corresponde ao trecho entre o rio Aripuanã e o rio
Machado, já no estado de Rondônia; Alto rio Madeira, região compreendida
entre o rio Machado e a cachoeira de Santo Antônio; Cachoeiras do rio
Madeira, compreendendo o trecho entre as cachoeiras até a foz do rio Beni.
Isaac & Barthem (1995), considerando somente as frotas pesqueiras existentes
e características ambientais, dividiram o rio Madeira em duas áreas pesqueiras,
o rio Madeira e a bacia do Mamoré-Guaporé.
7
Goulding (1979; 1980; 1981), Santos (1987) e Boishio (1992),
analisando a atividade pesqueira na região do Médio e Alto rio Madeira e o
desembarque de pescado em Porto Velho, demonstraram a importância da
pesca para o abastecimento protéico da população residente nesta região.
Estudos demonstraram também, que o pescado proveniente do rio
Madeira representava, na década de 70, um percentual de 4,0 a 5,5% de todo
o pescado desembarcado em Manaus (Petrere Jr., 1985); estimativas para os
anos de 1994 a 1996 demonstraram que este valor estava situado entre 10,0 e
14,8% (Batista & Petrere Jr., 2003), porém houve um decréscimo na
contribuição de 13,3% em 1997 para 2,6% em 1998 devido à proibição da
pesca comercial em alguns de seus tributários (Ribeiro et al., 1999 apud
Soares & Junk, 2000).
No trecho que abrange a área territorial do município de Manicoré, o
rio Madeira possui cinco tributários que são: o rio Mariepaua, localizado a
jusante da sede do município, sendo o limite entre Manicoré e Novo Aripuanã;
o rio Mataurá, também localizado a jusante da sede do município; o rio
Atininga, único rio que realmente nasce dentro do limite territorial do município,
localizado a jusante da sede; o rio Manicoré, localizado a montante da sede do
município e o afluente localizado mais próximo da sede; e, o rio Marmelos,
localizado a montante da sede, sendo o limite entre Manicoré e Humaitá.
Todos esses rios são situados na margem direita do rio Madeira,
sendo influenciados pelos sedimentos provindos do planalto central (Gibbs,
1967 apud Goulding, 1979). Esses tributários são todos de água preta, exceção
do rio Marmelos de águas claras, conforme classificação de Sioli (1983).
8
O município de Manicoré
O município de Manicoré localiza-se na porção sudeste do Estado do
Amazonas, Médio rio Madeira e geograficamente na mesorregião 04,
microrregião 013, distando de Manaus 333 km em linha reta, 421 km por via
fluvial e 427 km por via terrestre, seguindo a BR 319 (ICOTI, 1995). A
economia do município é baseada em produtos da agricultura de várzea,
principalmente mandioca, melancia e banana. A pesca representa um setor
que responde por parte da geração de emprego e renda da população local.
A atividade pesqueira encontra-se em plena expansão, uma vez que
Goulding (1979) relatou a inexistência de barcos de pesca providos de gelo
atuando no município, durante o ano de 1977, relatando apenas a presença de
pescadores utilizando-se de redinha, na foz do rio Manicoré, afluente que se
localiza próximo à sede do município.
Em estudo recente, Pereira et al. (2001) identificaram duas
modalidades de pescarias existentes no município: comercial e de
subsistência. Observaram também a existência de um comércio sazonal
voltado para a exportação de pescado, principalmente de bagres para o Estado
de Rondônia.
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16
CAPÍTULO I
CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE PESQUEIRA COMERCIAL NO
MUNICÍPIO DE MANICORÉ (RIO MADEIRA), AMAZONAS, BRASIL: UMA
ANÁLISE A PARTIR DA FROTA.
17
Resumo
Apesar da evolução da ciência pesqueira, ainda estamos carentes de
informações-chave sobre a dinâmica das pescarias que ocorrem em algumas
regiões do Amazonas, incluindo nestas, a bacia do rio Madeira. Com o objetivo
de contribuir para o conhecimento da atividade pesqueira e do comportamento
do explotador do recurso, este trabalho apresenta uma análise da frota
pesqueira sediada no município de Manicoré, na região do Médio rio Madeira.
A coleta dos dados foi efetuada, com o auxílio de questionários estruturados
aplicados para pescadores de barcos de pesca e de canoas motorizadas no
período de junho de 2003 a maio de 2004. Foram obtidas informações sobre as
dimensões da embarcação, características de armazenamento, locais de
captura, espécies explotadas, número de apetrechos, dentre outras. Barcos de
pesca apresentam valores médios de 12,4 m de comprimento, 6,1 toneladas de
capacidade de armazenamento, tripulação de 5,5 pescadores, três expedições
de pesca mensais e oito apetrechos. Canoas motorizadas apresentam valores
médios de 6,8 m de comprimento, 0,2 tonelada de capacidade de
armazenamento, dois pescadores, 5,5 expedições mensais e onze apetrechos.
Barcos são usados nas pescarias em rios durante todo o ano e as canoas
motorizadas são utilizadas na pesca no rio Madeira durante a seca e nos lagos
durante a cheia. A redinha é o apetrecho responsável por 70% dos
investimentos dos proprietários dos barcos e a malhadeira e arrastão por
82,9% dos investimentos das canoas. Tanto para os barcos de pesca quanto
para as canoas motorizadas, o combustível é o principal item de custos das
expedições, financiados principalmente pelos tripulantes das embarcações.
18
Abstract
Despite of the evolution of fisheries science the gap in key information about
fisheries dynamics that occurs in some regions of Amazonas State, including
the Madeira River basin, make the management of activity unsuitable. In this
sense, this work presents a characterization of the fisheries fleet of Manicoré
town, located in the Medium Madeira River. Information was collected from 13
boats and 42 motorized canoes, between May of 2003 and June of 2004,
through questionnaires given to boat owners or skippers of fishing expeditions
and fishermen using motorized canoes. Information was registered about boat
dimensions, storage capacity, fishing grounds, and exploited species, among
others. Medium sized fishing boats are 12.4 m, storage capacity of 6.1 tons and
5.5 fisherman and three fishing expeditions per month, with eight fishing gears
exploiting rivers in the drought and flood season. Motorized canoes have a
mean size of 6.8 m, storage capacity of 0.2 ton and 2.0 fisherman and 5.5
fishing expeditions by month, with 11 fishing gear exploiting the Madeira River
in the drought season and lakes in the flood season. In boats, the purse seine is
the gear responsible for 70% of the investment cost. Motorized canoes have a
bigger investment in gillnets and driftnets. Fuel is the most expensive item for
fishing expeditions by boats and motorized canoes. The crew are the principal
financer of expedition costs.
19
INTRODUÇÃO
Na região amazônica existem duas categorias de frota pesqueira,
classificadas, conforme a área de atuação e os apetrechos de pesca que
utilizam, sendo denominadas de frota industrial e frota artesanal (Barthem et
al., 1997; Batista et al., 2004), com zona de distribuição e espécies-alvo bem
definidas e distintas.
A frota industrial é composta por barcos de casco de aço que atuam
particularmente no estuário amazônico, com o esforço de pesca voltado à
explotação de bagres da ordem Siluriformes, utilizando-se de redes-de-arrasto
de parelha, além de aparelhos de localização por satélite para auxiliar na
localização e retorno aos melhores locais de pesca (Barthem et al., 1997;
Batista et al., 2004). Os pescadores dessa frota apresentam um alto grau de
especialização no exercício da atividade, em decorrência da utilização de
modernos aparelhos de pesca, sendo o pescado proveniente da captura dessa
frota direcionado exclusivamente para a exportação (Fisher et al., 1992).
A frota artesanal é composta por barcos fabricados por processo
artesanal, com estrutura de madeira e propulsão com motor de centro, e por
canoas (Petrere Jr., 1978; Faria Jr., 2002; Batista et al., 2004). Os pescadores
dessa frota utilizam-se principalmente da redinha e da malhadeira para
efetuarem suas capturas, explotando principalmente a calha dos rios e os lagos
de várzea, com capturas direcionadas a peixes da ordem Characiformes e
Siluriformes, destinados ao abastecimento dos principais centros urbanos
regionais (Bittencourt & Cox-Fernandes, 1990).
Uma característica peculiar nas pescarias efetuadas na região
amazônica é que as embarcações pertencentes a essa frota servem apenas
20
para o transporte dos pescadores e armazenamento do pescado capturado,
sendo assim veículos dispersores do esforço de pesca, pois não participam
ativamente das pescarias (Petrere Jr., 1978; Parente, 1996; Batista, 1998;
Faria Jr., 2002). As capturas por sua vez, são efetuadas com o auxílio das
canoas para o lançamento ou fixação dos apetrechos de pesca e o
deslocamento da produção até a embarcação.
Dentre as diversas classificações de pescadores que atuam nas
pescarias da região amazônica (Bayley & Petrere Jr., 1989; Furtado, 1993;
Barthem et al., 1997), os pescadores de canoas estão presentes em todas.
Esses podem ser divididos em pescadores que executam a atividade em
canoas impulsionadas por motores de popa, conhecidos regionalmente como
rabetas (Barthem, 1999; Batista et al., 2004) e pescadores de canoas a remo
e/ou vela.
Os pescadores de canoas utilizam na maioria das vezes caixas de
isopor para refrigeração e armazenamento do pescado capturado (Isaac et al.,
1996; Almeida et al., 2001), essa utilização depende da proximidade dos locais
de venda do pescado, uma vez que efetuam suas pescarias principalmente em
ambientes localizados nas proximidades do seu município de origem, como
igarapés nos lagos de várzea e ambientes adjacentes aos canais dos rios.
Apesar da evolução pela qual vem passando a ciência pesqueira,
concretizando medidas de regulamentação da atividade em função dos estudos
efetuados nas instituições de pesquisa da região, ainda estamos carentes de
informações-chave sobre a dinâmica das pescarias que ocorrem em algumas
regiões do Amazonas, incluindo nestas, a bacia do rio Madeira.
21
O rio Madeira é o principal tributário da margem direita do rio
Amazonas em volume de água e o segundo em termos de bacia de drenagem
(Gibbs, 1969 apud Goulding, 1979). Seus recursos pesqueiros têm sido
explotados continuamente pela frota pesqueira de Manaus e Porto Velho
(Goulding, 1979), sustentando também a pesca artesanal destinada ao
suprimento das comunidades ribeirinhas e das sedes municipais situadas em
sua bacia hidrográfica (Pereira et al., 2001; Pereira & Cardoso, 2003).
Com o objetivo de contribuir para o conhecimento da atividade
pesqueira desenvolvida em pontos de comercialização distantes de Manaus,
que é o principal local de comercialização de pescado do Amazonas, e
principalmente do comportamento do explotador do recurso, visando a tomada
de medidas de manejo mais adequadas para a utilização racional e sustentável
dos recursos pesqueiros neste trecho do rio Madeira, este trabalho apresenta
uma análise da frota pesqueira comercial, que atua no município de Manicoré,
na região do Médio Madeira.
METODOLOGIA EMPREGADA
Área de estudo
As coletas foram efetuadas na sede do município de Manicoré,
localizado na porção sudeste do Estado do Amazonas, margem direita do
Médio rio Madeira (Figura 01), está distante de Manaus aproximadamente 333
km em linha reta, 421 km por via fluvial e 427 km por via terrestre, seguindo a
BR 319 (ICOTI, 1995).
22
Figura 01 – Localização geográfica do município de Manicoré.
23
Coleta dos dados
Os dados primários para essa caracterização foram coletados com o
auxílio de questionários estruturados aplicados no período de junho de 2003 a
maio de 2004, para pescadores de barcos de pesca (Anexo I A) e de canoas
motorizadas (Anexo I B).
Neste período foram aplicados 13 questionários para proprietários ou
encarregados dos barcos de pesca, que desembarcaram pescado e que fazem
parte da frota atuante no município de Manicoré. As informações obtidas
versaram sobre as dimensões da embarcação, motor de propulsão,
características de armazenamento, locais de captura freqüentados durante o
período da seca e cheia, principais espécies explotadas, apetrechos utilizados,
número de tripulantes, custos das expedições de pesca e os critérios de divisão
da receita gerada com a venda da produção, custo de armação, conserto dos
apetrechos, escolaridade, além de informações diversas sobre as expedições
de pesca (Anexo I A).
Para os pescadores das canoas motorizadas foram aplicados 42
questionários. Os pescadores foram escolhidos aleatoriamente, de acordo com
a sua chegada para a comercialização do pescado e da disponibilidade de
tempo para a entrevista. Entre outras informações contidas nos questionários,
os entrevistados foram argüidos sobre seu nome, idade, local de nascimento,
dependência da atividade pesqueira, características gerais da embarcação,
capacidade e tipo de armazenamento, principais locais de pesca, espécies-
alvo, apetrechos utilizados, custo dos apetrechos, canoas e caixas isotérmicas,
composição dos custos das expedições de pesca, manutenção dos apetrechos,
24
manutenção da canoa e do motor, locais de comercialização, bem como
informações diversas sobre as pescarias (Anexo I B).
Para complemento das informações, dados secundários sobre o
número total de pescadores atuando no município foram levantados junto a
Colônia de Pescadores Z-20, no município de Manicoré e na Delegacia Federal
de Agricultura (DFA) em Manaus.
Análise estatística
Os dados coletados foram armazenados em planilhas eletrônicas,
sendo em seguida submetidos à estatística descritiva para cálculo de
freqüência de ocorrência, média e desvio padrão (±), visando fornecer
resultados consistentes para a caracterização dos pescadores e da frota dos
barcos de pesca, seguindo os referenciais de Batista (1998) e Batista & Petrere
Jr. (2003). Os dados de comprimento das embarcações foram submetidos à
análise para verificação da normalidade dos mesmos e correlação (Zar, 1999)
entre o comprimento da embarcação e a capacidade de estocagem.
RESULTADOS
A frota pesqueira sediada no município de Manicoré é composta por
dois tipos básicos de embarcações, barcos de pesca e canoas. Os barcos que
efetuam desembarques de pescado são do tipo pescador e de recreio, as
canoas são do tipo: a remo e motorizada. A frota dos barcos de pesca do
município é composta por 15 barcos de pesca e por aproximadamente 150
canoas (motorizadas e a remo). As embarcações (barcos e canoas)
25
amostradas neste trabalho corresponderam a aproximadamente 87% dos
barcos de pesca existentes no município e 28% das canoas motorizadas.
Aspectos gerais
A dependência da atividade pesqueira para geração de renda é mais
acentuada para os proprietários (pescadores) de canoas motorizadas do que
para os das embarcações de pesca (Figura 02). Dos pescadores de canoas
amostrados durante o estudo, 52,4% fazem da pesca sua principal atividade
para geração de renda, os demais 47,6% exercem outra atividade
complementar. Para os proprietários dos barcos de pesca, a dependência da
atividade é menor, pois apenas 46,2% dos entrevistados têm nesta atividade, a
sua principal geração de renda.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Parcial Exclusivo
Dependência da pesca
Freqüência (%)
Barcos Canoas
Figura 02 – Freqüência relativa de dependência da atividade pesqueira por
parte dos pescadores da frota pesqueira que atuam no município de Manicoré.
26
As atividades complementares de renda, exercidas pelos donos de
embarcações, além da pesca, estão especificadas na Tabela 01, com destaque
para a função de empresário, comerciante varejista e marreteiros no comércio
de pescado. Os pescadores de canoas motorizadas que não dependem
diretamente da pesca têm na agricultura a mais freqüente atividade
complementar de renda (Tabela 02).
Entre os proprietários de embarcações, o percentual que participam
das pescarias é de 53,8%, equivalente àqueles que dependem exclusivamente
da atividade para geração de renda. Esses não possuem função específica na
tripulação, sendo mais freqüente a atuação como cambiteiro, remador/proeiro
dentre outras funções durante a pesca.
Tabela 01 – Atividade principal ou complementar para geração de renda dos
proprietários dos barcos de pesca.
Atividade Freqüência (%)
Empresário 28,6
Marreteiro da pesca 28,6
Comerciante 28,6
Transporte fluvial 14,2
Tabela 02 - Atividade principal ou complementar para geração de renda dos
pescadores de canoas motorizadas.
Atividade Freqüência (%)
Agricultura 70,0
Funcionalismo público 20,0
Autônomo 10,0
27
O tempo médio de inserção na atividade pesqueira dos pescadores de
canoas motorizadas é de aproximadamente 20,9 (± 12,7) anos. A estrutura
etária dos pescadores exibe média de 45,6 (± 11,8) anos e duas modas (Figura
03). A maioria dos pescadores de canoas motorizadas nasceu em
comunidades rurais (76,2%) e migrou posteriormente para a sede do município.
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
18,0
20,0
<20 20-24 24-28 28-32 32-36 36-40 40-44 44-48 48-52 52-56 56-60 >60
Classe etária
Freqüência (%)
Figura 03 – Estrutura etária dos pescadores do município de Manicoré.
Grande parte dos pescadores de canoas motorizadas (36,7%)
permanece na atividade durante todo o ano, enquanto que 20,4% apenas
sazonalmente (verão ou inverno) e 22,5% efetuam a pesca apenas
esporadicamente. Para os pescadores dos barcos de pesca, a permanência na
atividade é anual. As pescarias realizadas pelas tripulações das embarcações
são efetuadas durante todo o ano para a maioria dos barcos da frota (76,9%),
sendo a equipe fixa e formada por pescadores da zona urbana em 84,6% dos
casos.
28
As pescarias realizadas por pescadores dos barcos de pesca são
efetuadas usualmente durante o dia e noite, não sendo notificadas pescarias
ocorrendo exclusivamente à noite (Figura 04). Para os pescadores de canoas
motorizadas, as pescarias ocorrem com maior freqüência de dia/noite, porém
as pescarias efetuadas somente durante o período do dia ou da noite são
bastante comuns.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
noite e dia dia noite
Período da pesca
Freqüência (%)
Canoas Barcos
Figura 04 – Período de atividade pesqueira por parte dos pescadores que
executam a pesca comercial do município de Manicoré.
A prática de pagamento por parte dos pescadores para efetuarem
pescarias em lagos de propriedade particular ou comunal (arrendamento), foi
identificada para 15,4% dos barcos de pesca e 2,4% das canoas motorizadas,
sendo o pagamento efetuado em dinheiro, correspondendo a um percentual de
aproximadamente 10% do valor líquido obtido com a comercialização do
pescado.
29
Quanto ao grau de escolaridade, um grande percentual dos
pescadores não chegou a concluir o ensino fundamental (Figura 05), sendo
freqüente a presença de pescadores que estudaram até a 4ª série, que é o
nível máximo de escolaridade que se pode atingir no ensino oferecido nas
comunidades interioranas (63,4% dos pescadores, com ensino fundamental
incompleto). O percentual de alfabetizados foi de 12,2% enquanto que 22,0%
são analfabetos.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
ANAEFIEM
Escolaridade
Freqüência (%)
Figura 05 – Grau de escolaridade dos pescadores que atuam na pesca
comercial do município de Manicoré. (São indicados na Figura: A =
alfabetizados; NA = não alfabetizados; EFI = ensino fundamental incompleto;
EM = ensino médio).
O número médio de tripulantes por barco de pesca foi estimado em 5,5
(± 1,8) pescadores, não sendo comum a contratação de pescadores no local
onde se efetua a pescaria. Em 38,5% dos barcos amostrados, membros da
30
tripulação têm parentes morando nas proximidades dos locais de pesca. Para
as canoas motorizadas, o número médio de pescadores é de 2,0 (± 0,8), sendo
o percentual de pescadores com parentes entre os moradores das
comunidades próximas aos locais de pesca é de 43,9%.
A frota de barcos de pesca efetua em média 3,0 (± 1,9) expedições de
pesca por mês, sendo as pescarias realizadas sempre nos mesmos lugares por
46,2% das embarcações. Já as canoas motorizadas efetuam em média 5,5
viagens de pesca por mês, com 78,6% das expedições sendo conduzidas para
o mesmo local de pesca.
Aproximadamente 76,9% dos barcos amostrados citaram já ter
alterado sua rota de pesca devido a conflitos com os moradores dos locais
(Tabela 03), sendo estes acontecimentos mais comuns na região dos rios
Marmelos (35,8%) e Manicoré (21,5%). O último conflito entre pescadores de
barcos e moradores ocorreu no ano de 1999, no rio Aripuanã, fora dos limites
do município de Manicoré.
Em 80% dos casos de ocorrência de conflito, os barcos de pesca
foram para outro pesqueiro, enquanto que 20% retornaram para o município.
42,9% dos pescadores de canoas motorizadas afirmaram já ter alterado a rota
de pesca em decorrência de conflitos; com este tipo de pescador, os lagos
Matupiri e Jatuarana (Tabela 03) foram os locais de maior freqüência. Os
conflitos mais recentes também ocorreram nestes locais, em 2002 e 2003.
31
Tabela 03 – Freqüência de ocorrência de conflitos entre pescadores comerciais
e ribeirinhos no município de Manicoré.
Freqüência (%)
Ambiente Denominação Barcos de pesca Canoas motorizadas
Rio Marmelos 35,8 -
Rio Manicoré 21,5 -
Lago Matupiri 14,3 35,0
Lago São João - 5,0
Lago Jatuarana - 35,0
Igarapé Jacaré - 5,0
Lago Igarapezinho - 5,0
Rio Aripuanã 7,1 -
Lago Boquerão 7,1 5,0
Rio Atininga 7,1 10,0
Ilha Onças 7,1 -
Filiação à associação de classe – Colônia de Pescadores
No município de Manicoré estavam cadastrados até o mês de junho de
2004, junto à Colônia de Pescadores Z-20, aproximadamente 841 pescadores,
sendo a maioria dos associados do sexo masculino e residente na zona urbana
do município (Tabela 04). Do total de pescadores cadastrados junto a Colônia
Z-20, somente 250 estavam cadastrados também junto à Delegacia Federal da
Agricultura do Estado do Amazonas, até o mês de janeiro de 2004, e todos
receberam o seguro-desemprego no ano de 2004. Este benefício é pago pelo
governo federal no município desde 2001. Para que o pescador tenha direito ao
mesmo, deve estar cadastrado junto à Colônia, estar em dia com as
contribuições sindicais e não possuir remuneração decorrente de emprego
formal por um período mínimo de um ano. O pagamento de benefício aos
pescadores, gerou uma busca muito grande pela afiliação junto à Colônia por
32
parte dos habitantes do município o que pode ser observado pelo aumento
considerável de associados a partir do ano de 2002 (Figura 06).
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
1990
19
9
1
199
2
199
3
1
9
9
4
1
9
9
5
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9
9
6
1
9
9
7
1
998
1
999
2
000
2001
2002
2003
2004
Ano
%
Figura 06 – Percentual de pescadores cadastrados por ano na Colônia de
Pescadores do município de Manicoré.
Todos os proprietários de barcos de pesca, bem como os
encarregados das embarcações amostradas, são filiados à Colônia de
Pescadores do município. Entre os pescadores proprietários de canoas
motorizadas, amostrados durante o estudo, 69% são associados à Colônia.
Tabela 04 – Número de pescadores filiados à Colônia de Pescadores Z-20.
Zona urbana Zona rural Sem identificação
NI* (%) NI* (%) NI* (%) Total (NI)
Homens 506 65,5 257 33,2 10 1,3 773
Mulheres 42 61,8 25 36,8 1 1,5 68
Total 548 65,2 282 33,5 11 1,3 841
Fonte: Colônia de Pescadores Z-20; * NI = número de indivíduos.
33
Características físicas da embarcação
Todos os barcos de pesca atuando no município de Manicoré possuem
estrutura confeccionada de madeira, tanto o casco quanto a casaria. O
tamanho das embarcações apresenta amplitude entre 9,0 e 18,0 m de
comprimento, com média de 12,4 (± 2,2) m de comprimento (Figura 07), 3,1 (±
0,8) m de boca e aproximadamente 1,6 (± 0,8) m de pontal. As canoas
motorizadas são confeccionadas todas de tábua (91,4%) ou de uma
combinação de casco de madeira e tábuas. Esses dois tipos de canoas são
conhecidos localmente como canoas de forma. As canoas têm comprimento
médio de 6,8 (± 0,7) m e boca de 1,4 (± 0,3) m, e apresentam amplitude de
comprimento variando entre 5,0 m e 9,0 m (Figura 08).
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
9 101112131418
Classe de comprimento (m)
Freqüência (%)
Figura 07 – Distribuição de classe de comprimento dos barcos de pesca que
formam a frota comercial do município de Manicoré.
34
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
5,0 6,0 7,0 7,5 8,0 9,0
Classe de comprimento (m)
Freqüência (
%
)
Figura 08 – Distribuição de classe de comprimento das canoas motorizadas
que formam a frota comercial do município de Manicoré.
Foram identificadas três marcas de motores de propulsão equipando
os barcos de pesca, sendo o mais freqüente o YANMAR, e também foram
usados os motores MWM e CMC, este último, foi identificado em apenas uma
embarcação (Figura 09). A maior parte dos barcos é equipada com motor com
potencia igual ou inferior a 25 HP (Figura 10). As canoas motorizadas são
impulsionadas principalmente por motores de popa da marca HONDA (74,2%),
os YAMAHA também são freqüentes (Figura 11). Quanto à potência dos
motores que impulsionam as canoas, os mais utilizados foram os de 5,5 HP,
sendo identificados motores com potência variando entre 1,4 e 8,0 HP (Figura
12). Nesta categoria de motores de propulsão, foram identificados motores a
gasolina (96,8%) e a diesel (3,2%).
35
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
YANMAR MWM CMC
Marca do motor
Freqüência (%)
Figura 09 – Freqüência de ocorrência das marcas ou modelo dos motores de
propulsão nos barcos de pesca.
0
5
10
15
20
25
30
35
4 5 13 25 45 48 75
Potência (HP)
Freqüência (%)
Figura 10 – Distribuição da potência dos motores dos barcos de pesca da frota
comercial do município de Manicoré.
36
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
HONDA YAMAHA MONTGOMERY
Marca do motor
Freqüência (%)
Figura 11 – Freqüência de ocorrência das marcas ou modelos dos motores de
propulsão nas canoas motorizadas.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
1,4 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,5 6,8 8,0
Potência (HP)
Freqüência (%)
Figura 12 – Distribuição da potência dos motores das canoas motorizadas da
frota comercial do município de Manicoré.
37
Armazenamento
A principal estrutura utilizada para o armazenamento do pescado nos
barcos da frota local é a caixa fixa (ou urna de gelar), sendo de
aproximadamente 76,9% a freqüência dos barcos amostrados que possuem
caixa (Figura 13), com capacidade média de armazenamento de 6,1 (± 4,3) t,
com amplitude de 2 a 15 t. O restante dos barcos (23,1%) possui caixa móvel
ou possui apenas caixas de polipropileno expandido (isopor), com uma média
de 8 (± 2,8) caixas com capacidade total variando entre 0,5 e 1,3 t. A
correlação efetuada entre o comprimento dos barcos e sua capacidade de gelo
foi positiva (r = 0,84).
Em canoas motorizadas utilizam-se unicamente de caixas de isopor
para armazenamento do pescado, possuem em média 2,5 caixas (± 1,3) com
capacidade de armazenamento de gelo variando entre 50 e 280 litros. A caixa
de isopor mais freqüente entre os pescadores é a de 170 litros (Figura 14), que
possui capacidade aproximada de transporte de 80 kg pescado de escama, e
de 70 kg de bagres.
38
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
Caixa fixa Caixa móvel Sem caixa
Tipo armazenamento
Freqüência (%)
Figura 13 – Estruturas utilizadas para o armazenamento do pescado nos
barcos de pesca no município de Manicoré.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
50 60 70 80 110 120 170 180 200 240 250 280
Capacidade (l)
Freqüência (%)
Figura 14 – Freqüência das caixas isotérmicas, em capacidade de
armazenamento de gelo, utilizadas pelos pescadores de canoas motorizadas.
39
Principais áreas de pesca
Os pescadores de canoas motorizadas citaram 51 diferentes locais de
pesca entre rios, lagos e igarapés, como destino de suas expedições durante o
período da seca. Os locais de pesca com maior freqüência de citação são as
praias que estão localizadas na calha principal do rio Madeira (Figura 15).
Foram identificadas 14 diferentes praias como propensos locais de captura,
sendo a praia do Medeiros o principal destino das pescarias (Tabela 05). O
segundo local em termos de freqüência de expedições são os lagos, com um
total de 24 lagos como locais de captura. Expedições para igarapés e rios
tributários do Madeira são menos freqüentes.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
Igapó Igarapé Lago Praia Rio
Locais de pesca
Freqüência (%)
Figura 15 – Principais ambientes de destino das expedições de pesca de
canoas motorizadas durante o período da seca.
40
Tabela 05 – Locais de captura para pescadores de canoas motorizadas no
período da seca.
Nº Ambiente Denominação Rio principal Freqüência (%)
01 Praia Medeiros Madeira 8,1
02 Rio Madeira Madeira 7,2
03 Igarapé Matupiri Madeira 6,3
04 Praia Pandegá Madeira 6,3
05 Praia São João Madeira 6,3
06 Lago Boquerão Madeira 3,6
07 Praia Grande Madeira 3,6
08 Rio Atininga Madeira 3,6
09 Lago Acará Madeira 2,7
10 Lago Matupirizinho Madeira 2,7
11 Outros locais 49,6
Durante o período da cheia, existe uma diminuição quantitativa dos
ambientes, sendo indicados apenas 36 locais como destino das pescarias. Os
principais locais de captura de pescado são os lagos (Figura 16), com um total
de 13 explotados pelos pescadores, sendo os lagos Jatuarana e Matupiri os de
maior freqüência de citação (Tabela 06). O segundo local em destino das
expedições são os igapós (um total de 13 igapós) que são formados no entorno
dos lagos ou próximos a igarapés. Ocorre também durante este período, uma
diminuição das expedições de pesca para os rios, principalmente na calha do
Madeira, onde o rio Manicoré, é o único rio apontado como destino das
expedições (Tabela 06).
41
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Igapó Igarapé Lago Restinga Rio
Locais de pesca
Freqüência (%)
Figura 16 – Principais ambientes de destino das expedições de pesca de
canoas motorizadas durante o período da cheia.
Tabela 06 – Locais de captura para pescadores de canoas motorizadas no
período da cheia.
Nº Ambiente Denominação Rio principal Freqüência (%)
01 Lago Jatuarana Madeira 9,0
02 Lago Matupiri Madeira 9,0
03 Lago Acará Madeira 7,5
04 Lago Boquerão Madeira 6,0
05 Rio Manicoré Madeira 6,0
06 Igapó Acará Madeira 4,5
07 Lago Matupirizinho Madeira 4,5
08 Igapó São João Manicoré 3,0
09 Igapó Matupiri Madeira 3,0
10 Igapó Jatuarana Madeira 3,0
11 Outros locais 44,5
O levantamento efetuado junto aos barcos de pesca evidenciou 12
locais de pesca, como destino das expedições durante o período da seca, com
42
destaque para a utilização do ambiente rio (Figura 17). Levando em
consideração que as praias estão localizadas na calha do rio Madeira, este é o
principal rumo das embarcações durante este período, seguido pelas pescarias
ao rio Manicoré e Mataurá (Tabela 07). Já durante a cheia, igualmente ao que
ocorre com as canoas, há diminuição da quantidade de locais de destino das
expedições (Tabela 08), porém assim como no período da seca, os rios
continuam sendo os principais ambientes em destinos das expedições (Figura
18). O rio Manicoré é o que recebe mais expedições dos barcos de pesca,
devido a proximidade com a sede do município, e da localização de um “furo”
que conecta este rio ao Madeira, o que torna este local propício à pesca, pela
migração intensa de peixes neste local, principalmente de jatuarana (Brycon
amazonicus) e jaraqui (Semaprochilodus taeniurus e S. insignis).
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
Igarapé Lago Praia Rio
Locais de pesca
Freqüência (%)
Figura 17 – Principais ambientes de destino das expedições de pesca dos
barcos durante o período da seca.
43
Tabela 07 – Locais de captura para barcos de pesca no período da seca.
Nº Ambiente Denominação Rio principal Freqüência (%)
01 Rio Madeira Madeira 26,7
02 Rio Manicoré Madeira 16,7
03 Rio Mataurá Madeira 13,3
04 Rio Marmelos
Madeira
10,1
05 Praia São João
Madeira
6,7
06 Rio Atininga
Madeira
6,7
07 Rio Uruapiara
Madeira
3,3
08 Igarapé São João
Madeira
3,3
09 Lago Boquerão
Madeira
3,3
10 Praia Meio
Madeira
3,3
11 Igarapé Matupiri
Madeira
3,3
12 Praia Ubiraci
Madeira
3,3
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
Igarapé Lago Rio
Locais de pesca
Freqüência (%)
Figura 18 – Principais locais de destino das expedições de pesca dos barcos
durante o período da cheia.
44
Tabela 08 – Locais de captura para barcos de pesca no período da cheia.
Nº Ambiente Denominação Rio principal Freqüência (%)
01 Rio Manicoré
Madeira
29,2
02 Igarapé Matupiri
Madeira
16,6
03 Rio Marmelos
Madeira
12,5
04 Rio Madeira
Madeira
12,5
05 Rio Mataurá
Madeira
8,3
06 Rio Atininga
Madeira
8,3
07 Rio Mariepaua
Madeira
4,2
08 Lago Acará
Madeira
4,2
09 Lago Boquerão
Madeira
4,2
Espécies-alvo das pescarias
Foram citadas aproximadamente 31 espécies ou grupos de espécie,
como alvos preferenciais das pescarias da frota manicoreense. As mais
explotadas pelos barcos de pesca durante o período da seca são pacu
(Mylossoma duriventri), curimatá (Prochilodus nigricans) e sardinha
(Triportheus spp) (Figura 19). Para o período da cheia, jatuarana (Brycon
amazonicus), jaraqui (Semaprochilodus insignis e S. taeniurus) e pacu
(Mylossoma duriventri) são as mais importantes (Figura 20).
45
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
Aracu
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p
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Jatuarana
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Tambaqui
Freqüência (%)
Figura 19 – Principais espécies-alvo dos barcos de pesca durante o período da
seca.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
A
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Ta
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Tu
cun
a
r
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Freqüência (%)
Figura 20 – Principais espécies-alvo dos barcos de pesca durante o período da
cheia.
46
Os pescadores de canoas motorizadas apontaram como principais
espécies-alvo de suas pescarias durante o período da seca, o pacu
(Mylossoma duriventri), curimatá (Prochilodus nigricans) e dourada
(Brachyplatystoma rousseauxii) (Figura 21). No período de cheia, pacu
(Mylossoma duriventri), branquinha (Potamorhina spp), pirapitinga (Piaractus
brachypomus) são as principais espécies-alvo (Figura 22).
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
Ara
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S
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Espécies
Freqüência (%)
Figura 21 – Principais espécies-alvo das pescarias das canoas motorizadas
durante o período da seca.
47
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
A
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B
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g
a
Tamb
a
qui
Espécies
Freqüência (%)
Figura 22 – Principais espécies-alvo das pescarias das canoas motorizadas
durante o período da cheia.
Apetrechos de pesca utilizados
Um total de 13 apetrechos são utilizados pela frota pesqueira do
município de Manicoré, entre redes de cerco, redes de emalhar (malhadeiras) e
anzol. Para os barcos de pesca foram identificados oito apetrechos, sendo a
redinha (76,9%) e a malhadeira (69,2%), os apetrechos que estão presentes na
maioria dos barcos (Figura 23). Outro apetrecho importante e que está
presente em 23,1% dos barcos é o arrastão, utilizado para a captura de bagres,
conhecida na região da Amazônia Central como bubuia. A escolhedeira, que
serve para selecionar o pescado capturado pela redinha foi identificada em
apenas 23,1% das embarcações.
48
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
A
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rozei
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a
M
a
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a
deir
a
Re
dinha
Tar
rafa
Tr
a
malha
Apetrechos
Freqüência (%)
Figura 23 – Ocorrência dos apetrechos de pesca nos barcos de pesca da frota
do município de Manicoré.
Para a captura do pescado, os barcos utilizam principalmente redinha
e malhadeira, sendo a freqüência de utilização da redinha igual para os
períodos de seca e cheia (Figura 24). O apetrecho arrastão é utilizado somente
no período de seca e a utilização da malhadeira é maior nos períodos de cheia.
Os barcos de pesca geralmente possuem apenas uma redinha, embora nos
levantamentos tenham sido encontrados barcos com até duas unidades desse
apetrecho. A média de malhadeiras foi de 6,2 (± 4,2) unidades por barco de
pesca, porém entre os barcos amostrados, um possuía um total de 35
malhadeiras, sendo este valor, retirado do cálculo da média por se tratar de um
out lier.
49
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
redinha arrastão malhadeira
Apetrechos
Freqüência (%)
Seca Cheia
Figura 24 – Freqüência de utilização dos apetrechos pelos barcos de pesca da
frota municipal.
Pescadores de canoas utilizam 11 apetrechos para efetuarem suas
capturas (Tabela 09). A malhadeira é o apetrecho mais freqüente entre estes
pescadores (Figura 25). Eles levam em média 7,1 (± 4,2) malhadeiras durante
as pescarias. A tarrafa foi o segundo apetrecho mais presente na composição
de aparelhos de pesca, estando presentes também zagaia, arpão e outros
(Tabela 09).
50
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Arco
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Redinh
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T
arrafa
Z
a
gai
a
Apetrechos
Freqüência (%)
Figura 25 – Ocorrência dos apetrechos de pesca nas canoas motorizadas da
frota do município de Manicoré.
Tabela 09 – Número de apetrechos de pesca por barco de pesca e canoa
motorizada.
Canoa motorizada Barco de pesca
Apetrecho Número de médio de apetrechos
01 Arco e flecha 2,9 -
02 Arpão 1,1 -
03 Arrastão 1,3 2,0
04 Caniço 2,7 -
05 Currico 1,7 -
06 Escolhedeira - 1,0
07 Espinhel - -
08 Grozeira 3,3 4,0
09 Malhadeira 7,1 5,7
10 Redinha 1,0* 1,3
11 Tarrafa 1,1 1,0
12 Tramalha - 3,0
13 Zagaia 3,2 -
*Valor absoluto.
51
Custos da atividade da frota
Afora os investimentos dos proprietários com a aquisição do motor de
propulsão, casco e casaria (para os barcos de pesca), a avaliação dos
investimentos necessários à inserção e manutenção dos barcos e canoas na
atividade pesqueira na região, constatou maior aplicação por parte dos
proprietários de barcos de pesca na aquisição dos apetrechos (Tabela 10).
Tabela 10 – Investimento monetário para a aquisição de apetrechos e
manutenção em geral, pelos proprietários de canoas motorizadas e barcos de
pesca.
Canoa motorizada Barco de pesca
Descrição Investimento/Custo (R$)
Apetrechos 1.510,00 10.050,00
Canoas auxiliares 1.650,00 3.390,00
Motor rabeta 1.050,00 1.390,00
Manutenção máquina/embarcação 140,00 2.370,00
Manutenção apetrechos 17,00 50,00
Total 4.367,00 17.250,00
Dentre os apetrechos adquiridos, o maior investimento dos
proprietários dos barcos de pesca deu-se para a aquisição da redinha que
concentrou aproximadamente 70% dos investimentos em apetrechos (Figura
26).
52
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
Ar
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r
r
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Trama
lha
Apetrechos
%
Figura 26 – Percentual de aplicação dos investimentos em apetrechos pelos
proprietários dos barcos de pesca.
Canoas motorizadas (rabetas) têm maiores investimentos na aquisição
de redes de emalhar, especialmente a malhadeira e o arrastão (Figura 27), que
são os apetrechos responsáveis por 40,9 e 42,0% do percentual total dos
investimentos em apetrechos. Quanto ao investimento com as canoas
auxiliares, destaca-se o maior custo das canoas dos barcos de pesca que
equivaleu ao triplo das canoas dos pescadores de rabeta (Tabela 10). Foi
identificado também que a soma dos investimentos e dos custos de
manutenção dos barcos de pesca, podem alcançar o triplo dos de canoas
motorizadas.
53
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
Arco e
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G
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a
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lh
a
d
eira
Ta
rrafa
Za
g
aia
Apetrechos
%
Figura 27 – Percentual de aplicação dos investimentos em apetrechos de
pesca pelos proprietários de canoas motorizadas.
A Agência de Fomento do Estado do Amazonas – AFEAM, financia os
pescadores do município desde o ano de 2001. Dos pescadores de canoas
amostrados durante o estudo, 14,3% tiveram suas canoas e motores rabetas
financiados pela AFEAM, enquanto que 6,3% obtiveram financiamento para a
aquisição das caixas isotérmicas e 9,1% para aquisição de apetrechos, mais
especificamente redinha e malhadeiras. Aproximadamente 15,4% dos barcos
de pesca apresentaram financiamento da AFEAM para aquisição de redes de
emalhar (arrastão e malhadeiras).
Os custos variáveis com a expedição de pesca dizem respeito a
somente três itens: combustíveis (diesel, gasolina e óleo lubrificante), gelo e
rancho. Tanto para os barcos de pesca quanto para as canoas motorizadas, o
combustível é o principal item em termos de gastos (Tabela 11). Os principais
54
financiadores das expedições dos barcos de pesca (40,9%) e das canoas
motorizadas (86,0%) são os tripulantes.
A taxa de comercialização do pescado, cobrada pela Colônia de
Pescadores para os barcos e canoas a cada expedição de pesca é de 2,5%,
incidente sobre o peso do pescado comercializado, sendo este percentual
(valor) convertido em Real (R$). Para barcos de pesca não sediados no
município, e que desembarcam pescado no mercado local e para o pescado
que é importado de outros locais, o valor de comercialização cobrado é de
5,0%. Este valor é recolhido pelo funcionário da colônia, após a
comercialização do pescado e recebimento do pagamento por parte dos
compradores de pescado (marreteiros).
Tabela 11 – Custos médios das expedições de canoas motorizadas e barcos
de pesca.
Canoas motorizadas Barcos de pesca
Nº Itens Quantidade Custo (R$) Quantidade Custo (R$)
01 Diesel (l) - - 157,3 277,56
02 Gasolina (l) 9,7 22,86 18,1 33,80
03 Óleo (l) 0,9 4,68 7,2 42,00
04 Gelo (kg) 110,6 25,03 2.858,3 153,93
05 Rancho - 17,48 - 110,50
DISCUSSÃO
O pescador comercial é um dos principais explotadores dos recursos
pesqueiros existentes na região amazônica, no entanto esta classe tem
permanecido ausente das tomadas de decisões quanto às medidas de manejo
a serem empregados pelas agências reguladoras da pesca (Almeida et al.,
2003). Salas & Gaertner (2004) destacam que o conhecimento prévio das
55
táticas e estratégias de pesca, possibilita aos administradores a elaboração de
medidas de manejo adequadas que podem mais facilmente ser aceitas por
parte dos pescadores, contribuindo assim para uma maior efetividade dos
planos.
Estudos apontam para a importância do conhecimento do explotador
do recurso (pescador) para a efetividade do manejo, porém estudos prévios
sobre a pesca na Amazônia enfatizaram apenas a avaliação dos recursos
pesqueiros. Mais recentemente, estudos direcionados ao conhecimento do
explotador foram conduzidos para a região da Amazônia Central e Baixo
Amazonas, evidenciando características da frota pesqueira destes locais, como
os tipos de embarcações empregadas na pesca, locais de pesca, apetrechos
utilizados, etc. (Batista, 2003).
Os pescadores que efetuam a atividade no município de Manicoré, não
fogem às características gerais dos demais pescadores dos locais já estudados
na região amazônica. As peculiaridades que são encontradas na atividade local
devem ser entendidas e utilizadas para medidas direcionadas, como já está
sendo efetuado pela gerência local do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, por intermédio do defeso
regionalizado (Pereira et al., 2001).
Uma das características da atividade pesqueira no município é a baixa
dependência de alguns proprietários dos barcos de pesca desta atividade, uma
vez que Parente (1996), Faria Jr. (2002) e Cardoso et al. (2004), constataram
para a região da Amazônia Central, uma dependência bem mais acentuada.
Porém os tripulantes dos barcos e de canoas motorizadas apresentam uma
maior dependência da pesca (Almeida et al., 2003), devido provavelmente, à
56
falta de qualificação para o exercício de outras atividades melhor remuneradas,
o que explicaria até certo ponto o aparecimento da agricultura como atividade
complementar da renda, principalmente para os pescadores de canoas.
Independente deste fato, pesa também contra os pescadores de maneira geral,
o nível de escolaridade, que os atrela ainda mais à atividade pesqueira, porém
há de se notar que os níveis encontrados, não diferem de outras regiões do
país, como exposto por Camargo & Petrere Jr. (2001) para a região do Médio
rio São Francisco.
Uma outra característica importante a ser observada é que a maioria
dos pescadores são moradores da área urbana do município, porém nascidos
na zona rural, o que os diferencia, por exemplo, dos pescadores do Baixo
Amazonas, que são na sua maioria, moradores da zona rural (Isaac et al.,
1996; Ruffino et al., 1998; Almeida et al., 2001). O fato de terem nascido na
zona rural pode se tornar um fator importante visto que a ligação existente, de
parentesco ou amizade, entre os pescadores de canoas motorizadas ou de
barcos de pesca com moradores das comunidades próximas aos locais de
pesca, pode facilitar o acesso dos mesmos aos locais, evitando assim os
conflitos entre as partes. Como explicitado por Pereira (1999) e Pereira &
Cardoso (1999) para o município de Itacoatiara (Amazônia Central), os
pescadores artesanais urbanos do município que já fizeram parte da
comunidade ou que foram autorizados por moradores da comunidade, podem
requerer o acesso aos locais de pesca pertencentes à comunidade.
Diferentemente do que ocorre em outros locais da Amazônia, como em
Santarém (Almeida et al., 2001; 2003) e Tefé (Barthem, 1999; Viana, 2004), os
proprietários de barcos não participam com efetividade da atividade pesqueira,
57
deixando as embarcações aos cuidados de seus encarregados durante as
expedições de pesca ou alugando a mesma para uma determinada tripulação.
Esta segunda colocação é verdadeira para o município, pois foi observada a
ocorrência desta prática para quatro dos quinze barcos que compõem a frota
manicoreense. Na ocorrência desses casos, o proprietário do barco de pesca
não participa do rateio das despesas de armação da embarcação para a
expedição de pesca, porém tem sua cota de participação nos lucros obtidos
com a venda do pescado capturado, alcançando partes iguais ou superiores às
do encarregado pela embarcação, que é o pescador mais bem remunerado da
tripulação (Falabella, 1994; Parente, 1996; Faria Jr., 2002; Cardoso, et al.,
2004).
Nas pescarias que ocorrem na região amazônica, a divisão dos
eventuais lucros com a expedição de pesca é efetuada em parcelas
denominadas de cotas-parte, entre o proprietário da embarcação e os
participantes da pesca, de acordo com a função exercida (Falabella, 1994;
Parente, 1996), podendo um pescador ganhar cotas a mais, de acordo com
sua atuação durante as pescarias (Faria Jr., 2002). Esse tipo de divisão dos
lucros inexiste na pesca local, sendo os pescadores, remunerados em partes
iguais, independente da função que executaram durante a pescaria, com
valores diferenciados apenas para o encarregado e para o proprietário do
barco.
Embora os pescadores dos barcos de pesca tenham declarado que as
suas pescarias ocorrem durante os dois períodos do dia, essa afirmação deve
ser tomada com cautela, porque os lanços com redinha são impraticáveis à
noite, pois uma condição para a sua ocorrência é a visibilidade do cardume do
58
peixe a ser capturado, como exposto por Goulding (1979) para pescarias que
ocorreram na região do Alto rio Madeira. Neste ponto, existe uma diferença
quanto a aplicação do esforço de pesca entre os pescadores dos barcos e os
de canoas motorizadas, sendo que estes últimos podem efetuar suas capturas
durante os dois períodos do dia, pois utilizam-se de apetrechos de captura
passiva que não necessitam da visibilidade dos cardumes para a efetividade da
captura.
O deslocamento de pescadores de canoas motorizadas é, em tese,
limitado pelo tamanho da embarcação e pela capacidade de carga, que não
permite deslocamentos até os locais de pesca mais distantes, fato relatado
para as pescarias realizadas em Tefé, na região do Médio Solimões (Barthem,
1999) e em Santarém, no Baixo Amazonas (Almeida et al., 2001).
A propensão pela pesca na calha principal do rio Madeira, em locais
relativamente próximos à sede do município, é explicada em parte, por essa
incapacidade de deslocamentos mais distantes, e também pela pequena
capacidade de carga que, segundo Batista et al. (2004), não ultrapassa os 500
kg para pescadores de canoas motorizadas baseados na região da Amazônia
Central, embora Petrere Jr. (2004) tenha relatado que a capacidade de
armazenamento de pescado dessas canoas possa excepcionalmente atingir
2.000 kg. Este valor pode ser menor ainda para a região do rio Madeira, se
considerar-mos que a capacidade máxima suportada pelas canoas é de três
caixas de isopor, o que daria um total de no máximo 240 kg por viagem.
Um fator a colaborar para que a pescaria das canoas motorizadas se
dê em maior grau nas praias do rio Madeira é a abundância de peixes no
período de seca, época de formação de cardumes para a migração de
59
dispersão (piracema) (Goulding, 1979; 1980; Araújo-Lima & Ruffino, 2003),
além disso, a pequena profundidade das praias favorece o uso das
malhadeiras, o principal instrumento de captura dos pescadores de canoas.
Durante o período de cheia, com o desaparecimento das praias e com
o aumento das dificuldades de captura de peixes nos rios, as expedições das
canoas motorizadas, para os lagos se tornam mais freqüentes. Esse aumento
das pescarias em lagos de várzea e igapós é um fenômeno que se repete em
outras regiões da bacia amazônica (Batista et al., 1998).
Para a utilização da redinha, os pescadores necessitam no mínimo de
duas canoas, uma canoa de forma de maior porte, para a acomodação da
redinha e outra de menor porte, denominada de casco que serve para a
atuação do cambiteiro, que é o pescador responsável pelo fechamento da
redinha no momento do lanço (Falabella, 1994). As embarcações da frota do
município também seguem este padrão, sendo que em alguns casos foram
amostrados barcos que possuíam mais de uma canoa de forma para a
execução do lanço, sendo que estas podem ser usadas também para o
deslocamento de pescadores do barco para efetuar pescarias utilizando
malhadeiras. Em apenas uma embarcação de pesca, foi identificada a
existência de canoa de alumínio sendo utilizada na atividade da pesca.
Os valores médios do comprimento dos barcos de pesca de Manicoré
são similares aos valores apresentados por Almeida et al. (2003) para a frota
que desembarcou em Santarém entre janeiro e junho de 1998, o que
corroboraria com o exposto por Batista (2003) que evidenciou indícios de
diminuição do comprimento das embarcações de pesca, de acordo com o
distanciamento da cidade de Manaus.
60
Um dos motivos apontado pelos cientistas pesqueiros que contribuiu
para uma maior explotação dos recursos pesqueiros na região amazônica foi a
utilização de motores a diesel nas embarcações, que tornaram possível o
deslocamento dos barcos de pesca para locais distantes em um curto prazo de
tempo (Ruffino & Isaac, 1994; Marrul Filho, 2003). No município, os motores
YANMAR estão presentes na maioria das embarcações de pesca. Batista
(2003), analisando os motores de propulsão das frotas de barcos de pesca dos
municípios de Parintins, Itacoatiara e Manacapuru, na região da Amazônia
Central, observou que os motores YANMAR são os mais freqüentes em todas
as frotas. Cardoso et al. (2004), também indicaram que a maioria dos barcos
que desembarcaram pescado em Manaus nos anos de 1999 e 2000, possuía
motores YANMAR. Embora Batista (2003) tenha afirmado que existe uma
tendência à diminuição da participação desses motores, equipando os barcos
de pesca, à medida que se distancia de Manaus, essa tendência não foi
confirmada por este estudo, embora o próprio autor justifique que há a
necessidade de se confirmar essa assertiva para a frota de pesca do Estado do
Pará, bem como para outras regiões do Estado do Amazonas.
CONCLUSÃO
A análise efetuada da frota de pesca comercial sediada no município
de Manicoré permitiu concluir que:
1) Existe uma menor dependência dos proprietários de barcos de pesca, da
atividade pesqueira, sendo esta apenas complementar a outras exercidas;
61
2) Canoas motorizadas tendem a utilizar um maior número de ambientes de
pesca para suas capturas, quando comparados aos barcos de pesca;
3) Os barcos que formam a frota de pesca comercial são de pequeno porte, em
termos de capacidade de armazenamento;
4) Embora exista um considerável número de pescadores filiados à Colônia de
Pescadores, poucos atuam diretamente na atividade;
5) A área de atuação da frota pesqueira de Manicoré (barcos e canoas) está
limita a este município;
6) As principais características dos pescadores da região são: têm em média
45,6 anos, atuam na pesca há 20,9 anos, têm baixa escolaridade e moram na
zona urbana, embora tenham frequentemente nascido na zona rural.
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66
CAPÍTULO II
ANÁLISE DO DESEMBARQUE DE PESCADO NO MUNICÍPIO DE
MANICORÉ (RIO MADEIRA), AMAZONAS, BRASIL.
67
Resumo
Estudos demonstraram que o pescado proveniente do rio Madeira representou
aproximadamente 14% de todo o desembarque pesqueiro em Manaus na
década de 90; apesar disto, a região ainda é carente de estudos voltados à
compreensão da dinâmica da pesca. Nesse sentido o presente trabalho teve
como objetivo, analisar a pesca comercial no município de Manicoré, na região
do Médio rio Madeira, por intermédio do desembarque de pescado. Dados de
produção foram coletados diariamente, entre junho de 2003 a maio de 2004,
por intermédio de questionário, com informações sobre as expedições de
pesca. Foi calculado o esforço de pesca e a CPUE para a frota e foi efetuada
uma análise de covariância para verificar quais os parâmetros relacionados à
pesca influenciam na captura. Aproximadamente 256.206 kg de pescado foram
desembarcados em Manicoré, com média mensal de 21.350 kg. Os barcos de
pesca apresentaram valore médios de CPUE de 22,9 kg/pescador*dia,
enquanto canoas motorizadas apresentaram valores de 20,6 kg/pescador*dia
Canoas efetuaram mais expedições, porém a produção dos barcos foi maior.
Das 36 espécies registradas, cinco foram responsáveis por aproximadamente
80,3% do pescado produzido. As pescarias apresentaram tendência de
aumento do esforço de pesca durante o período de enchente e cheia e a
análise de correspondência evidenciou uma maior utilização dos ambientes
igarapés e lagos pelos pescadores de canoas motorizadas e de rios para os de
barcos de pesca.
68
Abstract
Survey demonstrated that fish landings derived from the Madeira River
represented about 14% of fish landed in Manaus city in the 1990’s. In this
context, the study aimed to analyze the commercial fishing activity in Manicoré
city, in Medium Madeira River region, through fish landings. Fish landings were
sampled daily, using questionnaires given to fishers during the fish weighing,
between June 2003 and May 2004. Boats presented a mean value of CPUE of
22.9 kg/fisher/day while motorized canoes presented 20.6 kg/fisher/day.
Motorized canoes undertook more fishing trips, but higher fish landings were
accomplished by boats. From the 36 species registered, five were responsible
for 80.3% of overall production. The fisheries showed an increased tendency for
fishing effort during the rising water and flood seasons. The corresponding
analysis confirmed most utilization from streams and lakes from fishermen in
motorized canoes and from the river for fishing boats. The fish catch was
influenced only by vessel type.
69
INTRODUÇÃO
A pesca de pequena escala, seja para fins comerciais ou de
subsistência (Berkes et al., 2001), envolve complexas interações entre o
recurso pesqueiro e os pescadores que se utilizam desse recurso (Charles,
1991). A visão de que o manejo do recurso e não da atividade pesqueira como
um todo, seria suficiente para a manutenção do rendimento sustentável,
mostrou-se falha, com o declínio de muitas pescarias ao redor do mundo
(Ludwig et al., 1993). A exclusão do explotador do recurso dos modelos
aplicados para a previsão da sustentabilidade da atividade, pode ter sido um
dos fatores que levaram essas pescarias ao colapso.
O grande entrave à avaliação de medidas de gerenciamento da
atividade pesqueira é a falta de dados qualitativos e quantitativos sobre os
desembarques existentes, devido à necessidade de séries históricas para a
realização de inferências sobre o comportamento do estoque ou a uma
mudança nas características de explotação imposta por uma determinada frota.
Essa realidade não é diferente para a região amazônica, onde existem
poucos dados coletados sobre o desembarque de pescado nos principais
centros urbanos (Petrere Jr., 1978a; Merona & Bittencourt, 1988; Isaac et al.,
1996; Batista & Petrere Jr., 2003). Isso torna o gerenciamento menos efetivo,
levando a imposição de normas baseadas em estudos realizados em
determinado local e que são extrapolados para os demais locais da região, ou
a realização de extensivas reuniões nas quais as decisões são tomadas a partir
de opiniões enfatizadas com maior ou menor intensidade.
Na ausência de séries históricas de dados de desembarque, as
medidas de gestão poderiam ser tomadas utilizando-se do princípio da
70
precaução (Garcia, 1994; Hilborn et al., 2001; Stergiou, 2002). As medidas
poderiam se basear, por exemplo, em resultados de análises anuais de
desembarque de pescado, para a implementação de medidas de manejo para
aquela determinada região. Isso poderia conferir maior utilidade às análises
efetuadas a partir de séries temporais pequenas, como ferramenta para o
conhecimento rápido da dinâmica das espécies explotadas e da atividade
pesqueira.
Nos últimos anos, a coleta de informações sobre o desembarque
pesqueiro tem se concentrado apenas nos grandes centros urbanos
localizados na calha do sistema Solimões-Amazonas (i.e. Batista & Petrere Jr.,
2003). Faz-se necessário então, que os estudos sejam voltados para o
conhecimento da realidade de outros locais distantes desses centros, para que
a situação da atividade pesqueira na bacia amazônica seja descrita.
O presente trabalho teve como objetivo, analisar a pesca comercial
realizada no município de Manicoré, através do desembarque de pescado,
buscando identificar os agentes de produção, as modalidades e apetrechos de
pesca existentes, os ambientes e as principais espécies explotadas em termos
de volume de produção.
METODOLOGIA EMPREGADA
Área de estudo
O município de Manicoré, localizado na porção sudeste do Estado do
Amazonas, região do Médio rio Madeira, tem aproximadamente 48.000 km
2
de
extensão, com uma população residente de 38.038 habitantes (IBGE, 2001),
sendo banhado em sentido noroeste pelo rio Madeira.
71
Coleta dos dados
Os desembarques de pescado no município de Manicoré ocorreram
principalmente no flutuante mantido pela Colônia de Pescadores Z-20, às
margens do rio Madeira, próximo ao mercado municipal. Um outro local de
chegada de pescado é o porto localizado próximo ao matadouro municipal,
localizado no extremo oposto ao mercado municipal, sendo utilizado apenas
por pescadores de canoas motorizadas.
Os dados de desembarque pesqueiro foram coletados diariamente na
sede do município, no período de junho de 2003 a maio de 2004, por
intermédio de questionário estruturado (Anexo II), aplicado no momento do
desembarque no mercado municipal ou nas residências dos pescadores que
desembarcaram pescado em outro local. As informações versaram sobre o
local de pesca, data de saída e chegada da expedição, custo da expedição,
tempo de chegada ao local de pesca, espécie (s) capturada (s), apetrecho
utilizado, captura total (kg), local de venda e agente financiador da expedição.
Esforço de pesca, CPUE (Captura por Unidade de Esforço).
Os valores de esforço de pesca foram padronizados no número de
pescadores * dias de pesca, e a unidade de CPUE (Captura por Unidade de
Esforço) utilizada foi kg/número de pescador * dias de pesca (Gulland, 1983;
King, 1996; Petrere Jr. 1978b) sendo calculados separadamente somente para
os agentes de produção: barcos de pesca e canoas motorizadas.
72
Análise estatística.
Os dados coletados foram armazenados em planilhas eletrônicas,
sendo em seguida submetidos à estatística descritiva, para cálculo de
freqüência de ocorrência, média e desvio padrão (±). Uma análise de
correspondência (McGarigal et al., 2000), tendo como objetos unidades
formadas pelos locais de pesca e pela época do ano e como descritores os
agentes de produção, foi empregada para identificar padrões no uso dos
recursos pesqueiros e dos locais de pesca pelos pescadores artesanais e frota
pesqueira.
Uma análise de covariância (ANCOVA) foi aplicada aos dados de
captura e os itens componentes das expedições de pesca, locais de captura e
sazonalidade, seguindo o proposto por Isaac et al. (1996), Batista (1998),
Alonso (1998) e Souza et al. (2003), visando identificar quais dos parâmetros
testados têm influência nas capturas.
O modelo proposto está demonstrado abaixo:
iii DCBA
ε
β
β
β
β
α
µ
γ
+
+
+
+
+
+
= )()()()( 4321
Onde:
γ
i
= variável resposta (captura em kg);
µ = média global;
α
i
= esforço de pesca i (i =1, 2);
β
1
= coeficiente custo da expedição de pesca;
β
2
= coeficiente local de captura;
β
3
= coeficiente sazonalidade;
β
4
= coeficiente embarcação;
A = covariável custo da expedição de pesca;
73
B = covariável local de captura (i = 1, 2, 3);
C = covariável sazonalidade (i = 1, 2);
D = covariável embarcação utilizadas (i = 1, 2);
ε
i
= resíduo N [0, σ
2
].
Foram utilizadas variáveis Dummy para as covariáveis, local de
captura (igarapés, lagos, rios), sazonalidade (enchente/cheia, vazante/seca) e
embarcação utilizada (barcos, canoas). Para se obter a homogeneidade, os
dados de captura, esforço de pesca (barcos, canoas) e custo da expedição
foram logaritmizados. Os referenciais teóricos utilizados para as análises
seguiram os pressupostos por Zar (1999) e McGarigal et al. (2000).
Para a análise de produção, os dados de desembarque dos barcos de
recreio, foram adicionados aos dos compradores (marreteiros), devido aos
proprietários destes barcos se comportarem de maneira semelhante e os
desembarques das canoas a remo foram adicionados à categoria canoas
motorizadas, por estes pescadores terem o mesmo poder de pesca. Os dados
de captura relacionados ao ambiente de rio (paranás, furos, praias) foram
incluídos na categoria rio, de acordo com a sua calha. As capturas dos igapós
foram agrupadas de acordo com a sua localização à categoria igarapés ou a
lagos, i.e., capturas efetuadas no igapó do lago Acará, foram adicionadas ao
ambiente lago.
Neste trabalho, o termo “embarcação” será utilizado para designar o
conjunto formado pelo barco de pesca e canoa; e o termo “o pescador do barco
de pesca desembarcou” e “o pescador de canoa motorizada desembarcou”
será suprimido pela expressão o barco e/ou a canoa desembarcou.
74
Para comparação das capturas com o ciclo hidrológico anual, os dados
da cota mensal do nível do rio Madeira (estação de Manicoré) foram adquiridos
junto a Agência Nacional de Águas (ANA). No município de Manicoré, os
períodos do ciclo hidrológico estão assim divididos: período de vazante, nos
meses de maio até agosto; período de seca, nos meses de setembro e
outubro; período de enchente, nos meses de novembro até fevereiro e período
de cheia, nos meses de março e abril.
RESULTADOS
Aspectos gerais do desembarque
Foram identificados três agentes efetuando desembarques no
município: barco de pesca, canoas motorizadas e compradores de pescado,
estes últimos, conhecidos localmente como marreteiros ou atravessadores, que
são agentes que atuam na compra de pescado dos pescadores que chegam
para o desembarque na sede, ou de pescadores moradores das comunidades
ribeirinhas, atuando ainda na importação de pescado de outros municípios.
Apesar dos pescadores comerciais possuírem até 13 apetrechos,
foram identificados somente sete apetrechos como os utilizados nas capturas
de pescado durante o período estudado: anzol, arrastão, arco e flecha,
grozeira, malhadeira, redinha e tarrafa (Goulding, 1979). As malhadeiras
(61,8%), a redinha (32,2%) e o arrastão (3,6%) foram os apetrechos mais
frequentemente utilizados para as capturas de pescado. A redinha foi o
apetrecho responsável por 58,6% do volume capturado para o período de
estudo, enquanto que as malhadeiras capturaram aproximadamente 38,5% do
volume total desembarcado.
75
A produção pesqueira desembarcada
Para o período de estudo, foram registradas aproximadamente 857
expedições de pesca com uma produção total de 256.206 kg de pescado. Os
valores mensais médios foram de 21.350 (± 14.366) kg/mês, com produção
máxima de 54.036 kg no mês de setembro (seca) e mínima de 3.989 kg no
mês de março (cheia).
Os barcos desembarcaram, em média, 11.742 kg/mês, enquanto que
as canoas motorizadas desembarcaram uma média de 4.946 kg/mês e os
compradores de pescado 4.661 kg/mês. As canoas motorizadas foram as que
efetuaram mais desembarques em termos de freqüência (50%), porém, em
termos de produção, os barcos de pesca foram os que mais capturaram
pescado.
A tendência observada foi que o maior desembarque de pescado
ocorreu nos períodos extremos do ciclo hidrológico. O desembarque efetuado
pela frota de pesca comercial do município de Manicoré apresentou pico
máximo de produção no mês de setembro (Figura 01), durante o período da
seca, apresentando tendência de diminuição do volume de captura a partir do
mês de dezembro (período da enchente e cheia) até o mês de abril, quando
ocorreu outro pico de produção. Uma redução abrupta na produção foi
observada durante os meses de agosto de 2003 em função da ocorrência de
repiquete, que é o fenômeno da subida repentina do nível do rio, durante o
período da vazante (Sioli, 1983; Goulding, 1979) (Figura 02). Outro fenômeno
semelhante ocorreu durante o mês de março de 2004, quando foi observado o
menor volume de produção desembarcada.
76
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
Produção Cota
Figura 01 – Produção mensal de pescado desembarcado pela pesca comercial
no município de Manicoré.
1260
1280
1300
1320
1340
1360
1380
1400
1420
1440
1460
1480
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
2
7
29
31
Nível do rio (cm) - 2003
2240
2260
2280
2300
2320
2340
2360
Nível do rio (cm) - 2004
ago mar
Figura 02 – Nível do rio Madeira durante os meses de agosto de 2003 e março
de 2004.
77
A produção e freqüência de desembarque por espécies desembarcadas
Foram registradas 36 espécies ou grupos de espécies de peixes nos
desembarques da pesca comercial durante o período de estudo, com destaque
para jaraqui (Semaprochilodus spp), pacu (Mylossoma spp e Metynis spp),
curimatá (Prochilodus nigricans), sardinha (Triportheus spp) e branquinha
(Potamorhina spp) que foram as espécies responsáveis por 80,3% de todo o
pescado desembarcado no município (Tabela 01). Essas espécies (ou grupo
de espécies) foram também as mais freqüentes, e estiveram presentes em
62,7% dos desembarques de pescado efetuados pela frota de pesca comercial
(Tabela 02). Também foram freqüentes os desembarques de surubim
(Pseudoplatystoma fasciatum) e dourada (Brachyplatystoma rousseauxii),
únicos peixes da ordem Siluriformes a compor a lista das principais espécies
em freqüência de captura. A dourada foi responsável por cerca de 3,07% do
desembarque total no município, durante o período estudado.
Do total de espécies ou grupo de espécies desembarcadas, apenas
doze apresentaram percentual maior que 1% em relação ao volume de
pescado produzido (aproximadamente 2.500 kg/ano, Tabela 01). Para efeito
deste estudo, essas espécies foram consideradas raras, por não apresentarem
desembarques constantes, ou por ter um volume desembarcado muito
pequeno (< 100 kg) para o período de estudo (Tabela 01), como foi o caso do
acari (Liposarcus pardalis), piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii), urubarana
(Hemiodus spp), piranambu (Pinirampus pinirampu), apapá (Pellona spp) e
peixe-lenha (Sorubimichthys spp).
78
Tabela 01 – Produção mensal de pescado por espécie ou grupo de espécie, desembarcada pela pesca comercial.
Ano 2003 Ano 2004
Espécies Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Total (kg) % total
01 Jaraqui 3.740 387 1.608 5.832 1.601 4.330 12.853 5.182 66 53 28.702 3.060 67.414 26,31
02 Pacu 518 4.267 3.220 16.198 10.326 7.523 2.239 3.195 2.363 326 398 548 51.121 19,95
03 Curimatá 681 16.626 2.176 17.310 2.598 5.945 1.651 613 836
25 - 34 48.495 18,93
04 Sardinha - 7.048 2.231 4.557 1.944 3.730 460 1.503 622 64 - 22.159 8,65
05 Branquinha 711 702 1.475 409 431 992 2.227 1.332 5.617 805 705 1.078 16.484 6,43
06 Dourada - 37 70 3.273 653 442 107 2.106 228 108 - 840 7.864 3,07
07 Tamoatá - - 150 2.166 1.883 1.493 320 - - - - - 6.012 2,35
08 Jatuarana - 1.035 - 100 80 120 54 73 - 2.023 1.287 297 5.069 1,98
09 Tucunaré 83 890 8 1.040 140 70 843 764 12 86 50 172 4.158 1,62
10 Acará-açú - 74 4 75 60 2.474 381 800 22 15 70 3.975 1,55
11 Surubim 399 271 30 1.295 347 418 90 240 32 26 102 466 3.716 1,45
12 Aruanã 60 242 12 30 1.230 763 942 - 24 3.303 1,29
13 Aracu 129 576 329 358 251 16 303 339 101 15 25 40 2.482 0,97
14 Pirapitinga
46 603 404 302 129 277 429 - 10 80 20 100 2.400 0,94
15 Pescada 292 409 100 310 438 177 259 40 52 - - 33 2.110 0,82
16 Filhote 40 9 - 70 237 - 126 575 66 100 - 770 1.993 0,78
17 Piranha - 132 122 30 - - 95 517 96 20 99 208 1.319 0,51
18 Traíra 163 158 10 119 140 124 75 102 5 - - 57 953 0,37
19 Carás 166 292 6 67 70 200 25 44 21 - - 51 942 0,37
79
Tabela 01 – Produção mensal de pescado por espécie ou grupo de espécies, desembarcada pela pesca comercial (continuação).
Ano 2003 Ano 2004
Espécies Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Total (kg) % total
20 Tambaqui 744 55 20 - 40 - 12 - 22 13 - 49 955 0,37
21 Pirarara - - - 125 - - 27 187 201 158 - 48 746 0,29
22 Caparari - 165 - 65 203 - 6 60 13 8 - - 520 0,20
23 Matrinxã
- 123 100 109 - - 35 - - - - 5 372 0,15
24 Charuto - - - - - - 60 - 307 - - - 367 0,14
25 Peixe liso - - - - 100 - - - - - - 100 200 0,08
26 Jeju 40 - - - - 59 - 14 - - - 75 188 0,07
27 Peixe-cachorro - 50 88 2 - 8 - - 24 - 30 5 207 0,08
28 Mandií - 1 - 28 - 50 - 50 2 40 - - 171 0,07
29 Babão - - - 150 - - - - 13 - - - 163 0,06
30 Mapará - - - - 48 - 20 10 6 - - 3 87 0,03
31 Cuiu-cuiu - 3 - 30 - - 5 - 22 - - 6 66 0,03
32 Acari - 40 - - - - 50 - - - - - 90 0,04
33 Piramutaba - - - - - - - - 47 - - - 47 0,02
34 Misturado - - - - - - - - - - - 30 30 0,01
35 Urubarana - - - 5 - - - - 8 - - - 13 0,01
36 Piranambu - - - 6 - - - - - - - - 6 0,00
37 Apapá - - - 5 - - - - - - - - 5 0,00
38
Peixe-lenha
- - - - 3 - - - - - - - 3 0,00
Soma 7.812 34.195 12.163 54.03621.75229.67823.51518.688 10.815 3.989 31.418 8.145 256.206 100
80
Tabela 02 – Freqüência de desembarque das principais espécies ou grupo de
espécies capturadas pela pesca comercial no município de Manicoré.
Nome comum Freqüência anual (%) Total de desembarques
01 Pacu 21,5 404
02 Curimatá 14,4 271
03 Branquinha 10,6 200
04 Jaraqui 9,5 179
05 Sardinha 6,6 125
06 Surubim 4,3 80
07 Dourada 3,6 68
08 Aracu 3,3 62
09 Tucunaré 3,1 59
10 Pescada 2,0 38
11 Outras espécies 21,1 394
Total 100 1.880
O jaraqui foi a principal espécie (ou grupo) em volume desembarcado,
apresentando dois picos de produção nos meses de dezembro e abril, períodos
de enchente e cheia, respectivamente (Figura 03). Apesar da maior produção,
esta espécie não teve desembarque constante durante o período de estudo,
apresentando valores irrisórios durante os meses de julho, fevereiro e março
(Tabela 01). O jaraqui foi a quarta espécie em termos de freqüência de
desembarque (n = 179) com pico no mês de abril, coincidindo também com o
mês de maior produção. Um segundo pico em termos de freqüência ocorreu
nos meses de novembro e dezembro (Figura 04).
81
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
jaraqui Cota
Figura 03 – Produção de jaraqui desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Freqüência (%)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
jaraqui Cota
Figura 04 – Freqüência de desembarque de jaraqui pela pesca comercial no
município de Manicoré.
82
O pacu, representado principalmente pela espécie Mylossoma
duriventri, foi a segunda espécie em peso desembarcado. Apresentou pico de
produção durante o período da vazante e seca, entre os meses de julho a
novembro (Figura 05), atingindo o máximo no mês de setembro. Essa espécie
apresentou um decréscimo na produção desembarcada durante os meses de
junho, março, abril e maio, que corresponde ao período de cheia e início da
vazante. O pacu foi a espécie mais freqüente nos desembarques da frota (n =
404), apresentando dois picos, durante os meses de setembro e janeiro, porém
com tendência de redução no período de enchente e cheia (Figura 06). Embora
tenha sido freqüente o desembarque dessa espécie durante o período da
enchente, a captura em biomassa foi baixa.
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
pacu Cota
Figura 05 – Produção de pacu desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré.
83
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Freqüência (%)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
pacu Cota
Figura 06 – Freqüência de desembarque de pacu pela pesca comercial no
município de Manicoré.
O curimatá (Prochilodus nigricans) foi a terceira espécie em termos de
produção desembarcada, apresentando dois picos nos meses de julho e
setembro, durante o período de vazante e seca (Figura 07) e valores irrisórios
durante os meses de janeiro, fevereiro e março, durante o período da enchente
e cheia. A espécie esteve ausente dos desembarques efetuados durante o mês
de abril (pico da cheia). O curimatá foi a segunda espécie em freqüência de
desembarque (n = 271), apresentando maior freqüência entre os meses de
julho e novembro (Figura 08), durante o período da vazante e seca.
84
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
curimatá Cota
Figura 07 – Produção de curimatá desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Freqüência (%)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
curimatá Cota
Figura 08 – Freqüência de desembarque de curimatá pela pesca comercial no
município de Manicoré.
85
A sardinha representada nos desembarques do município por três
espécies (Triportheus elongatus, T. angulatus e T. albus) foi a quarta espécie
em termos de produção desembarcada, com maior captura ocorrendo entre os
meses de julho a novembro (Figura 09), com o pico máximo de captura durante
o meses de julho (vazante) e setembro (seca). A produção no mês de março
(cheia) foi irrisória e nos meses de junho, abril e maio, esta espécie esteve
ausente dos desembarques da pesca comercial do município. A sardinha foi a
quinta espécie em freqüência de desembarque (n = 125), apresentando maior
freqüência durante todo o período de vazante até o período da enchente, com
máximo nos meses de julho e agosto (Figura 10), durante o período da
vazante.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
sardinha Cota
Figura 09 – Produção de sardinha desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré.
86
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
18,0
20,0
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Freqüência (%)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
sardinha Cota
Figura 10 – Freqüência de desembarque de sardinha pela pesca comercial no
município de Manicoré.
A branquinha (Potamorhina spp) foi a quinta espécie (grupo) em
produção na pesca local, esta espécie apresentou desembarque durante todo o
período estudado e atingiu a maior produção a partir do mês de novembro até
fevereiro, durante o período da enchente (Figura 11). A produção máxima foi
alcançada durante o mês de fevereiro, quando a pesca de outras espécies de
peixes é mais difícil e então cresce o esforço de pesca sobre essa espécie. A
branquinha foi a terceira espécie em termos de freqüência de desembarque (n
= 200), apresentando maior freqüência durante o período enchente e cheia, e
valores menores de desembarque no período de vazante e seca (Figura 12).
87
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
branquinha Cota
Figura 11 – Produção de branquinha desembarcada pela pesca comercial no
município de Manicoré.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Freqüência (%)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
branquinha Cota
Figura 12 – Freqüência de desembarque de branquinha pela pesca comercial
no município de Manicoré.
88
Outras espécies, como dourada (Brachyplatystoma rousseauxii),
tamoatá (Hoplosternum spp), jatuarana (Brycon amazonicus), tucunaré (Cichla
spp), acará-açú (Astronotus spp), surubim (Pseudoplatystoma fasciatum) e
aruanã (Osteoglossum bicirhossum) também apresentaram desembarques
relativamente importantes em termos de produção mensal. A jatuarana, uma
das espécies mais importantes nas capturas, nesta parte do rio Madeira, não
apresentou uma produção considerável devido à proibição de captura desta
espécie imposta pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Naturais), durante o mês de novembro de 2003 até o final do mês de fevereiro
de 2004. O aracu comum (Schizodon fasciatum) foi uma das espécies que
esteve presente nos desembarques durante todo o período estudado.
Produção desembarcada por agente
Dos agentes envolvidos com a atividade pesqueira no município de
Manicoré, o responsável pela maior produção foram os barcos de pesca, que
tiveram produção superior às canoas motorizadas e compradores de pescado
em dez dos doze meses de estudo (Tabela 03). A produção dos barcos de
pesca foi menor em comparação com a dos compradores de pescado durante
o mês de junho de 2003 e janeiro de 2004; em comparação com as canoas
motorizadas, a produção foi menor somente no mês de janeiro de 2004. A
produção total de pescado desembarcada pelos pescadores de canoas
motorizadas e pelos compradores de pescado durante o período foi similar
(Tabela 13).
89
Tabela 03 – Produção de pescado por agente de produção da pesca comercial
no município de Manicoré.
Barco Canoa motorizada Comprador
Mês Ano Produção (kg)
Junho 2003 2.258 1.247 4.307
Julho 2003 28.166 5.525 504
Agosto 2003 7.762 4.260 141
Setembro 2003 23.416 13.738 16.726
Outubro 2003 11.493 8.598 1.761
Novembro 2003 12.881 6.488 10.309
Dezembro 2003 11.836 3.024 8.655
Janeiro 2004 4.291 5.088 9.359
Fevereiro 2004 6.708 3.302 810
Março 2004 2.967 911 111
Abril 2004 24.996 4.822 1.600
Maio 2004 4.133 2.353 1.660
Soma 140.908 59.356 55.943
O pico de produção pelos barcos de pesca coincidiu com o de maior
freqüência de desembarque no município de Manicoré, apresentando
diminuição nos meses correspondentes ao período de enchente e cheia (Figura
13). As canoas motorizadas apresentaram maior desembarque nos meses de
julho a novembro, com máximo alcançado durante o mês de setembro e
mínimos durante os meses de junho e março (Figura 13). Os compradores de
pescado apresentaram máximo desembarque nos meses de setembro,
novembro, dezembro e janeiro (Figura 13), não somente pela compra de
pescado capturado no município, mas também pela importação de peixes
pescados em outros municípios da calha do rio Madeira.
90
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
Barco Canoa motorizada Comprador cota
Figura 13 – Produção desembarcada por barcos de pesca, canoas motorizadas
e compradores de pescado.
Produção e utilização dos locais de captura
Os principais locais de captura de pescado em freqüência de
expedições, estão localizados na calha principal do rio Madeira. O segundo
local de explotação foi o rio Manicoré, seguido pelo igarapé Matupiri (Tabela
04). Esses três ambientes foram os destinos de 56,9% das expedições de
pesca efetuadas pela frota do município.
91
Tabela 04 – Principais locais de captura explorados pela pesca comercial no
município de Manicoré.
Nº Ambiente Denominação Freqüência (%)
01 Rio Madeira 25,1
02 Rio Manicoré 16,6
03 Igarapé Matupiri 15,2
04 Não identificado Não identificado 8,9
05 Lago Boquerão 7,1
06 Lago Acará 5,8
07 Rio Mataurá 3,4
08 Rio Atininga 2,2
09 Lago Matupirizinho 1,9
10 Igarapé Jatuarana 1,3
11 Outros 12,5
A maior produção de pescado capturado foi proveniente do rio Madeira
e de seus afluentes, dentre estes o rio Manicoré (Figura 14). O pescado
desembarcado dos lagos apresentou maiores valores nos meses de julho e
dezembro, sendo que a produção advinda dos lagos foi maior que os demais
ambientes somente no mês de maio. A maior captura proveniente dos igarapés
ocorreu durante o mês de julho e de setembro a novembro, durante o período
de vazante, seca e início da enchente. Desembarques de pescado
provenientes de outros municípios foram identificados somente nos meses de
novembro e dezembro.
92
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
Igarapé Lago Rio NI OM Cota
Figura 14 – Produção de pescado pela pesca comercial do município de
Manicoré por local de captura (NI = não informado; OM = outro município).
Igarapés
A pesca efetuada pela frota comercial no município explotou um total
de nove igarapés, sendo o mais importante em termos de freqüência de
explotação, o igarapé Matupiri, que recebeu aproximadamente 85,0% das
expedições de pesca direcionadas aos igarapés. Já as expedições de pesca
para o igarapé Jatuarana (segundo mais freqüentemente explotado) foram de
apenas 7,2%, sendo irrisória a freqüência de expedições para outros igarapés
(Tabela 05).
93
Tabela 05 – Freqüência de expedições de pesca para o ambiente igarapé pela
pesca comercial no município de Manicoré.
Igarapé Rio principal Freqüência (%)
01 Matupiri Madeira 85,0
02 Jatuarana Madeira 7,2
03 Jacaré Manicoré 3,3
04 Baiua Manicoré 1,3
05 Coxo Manicoré 0,7
06 Miriti Manicoré 0,7
07 Baeta Madeira 0,7
08 Grande Madeira 0,7
09 Olaria Madeira 0,7
O principal agente que efetuou a pesca no ambiente igarapé foi o
pescador de canoa motorizada (62,3%). A participação dos barcos de pesca na
explotação destes ambientes em número de expedições a estes locais, ocorreu
em aproximadamente 19,2%, percentual similar à do comprador de pescado
(Tabela 06). O igarapé Jacaré apresentou uma maior explotação por parte dos
pescadores dos barcos de pesca por ser de propriedade de dono de barco.
94
Tabela 06 – Percentual de explotação do ambiente igarapé pelos agentes de
pesca atuando no município de Manicoré.
Canoa Comprador Barcos
Nº Ambiente Denominação %
01 Igarapé Matupiri 62,3 18,5 19,3
02 Igarapé Jatuarana 81,8 - 18,2
03 Igarapé Jacaré 40,0 - 60,0
04 Igarapé Baiua 100,0 - -
05 Igarapé Coxo 100,0 - -
06 Igarapé Miriti 100,0 - -
07 Igarapé Grande 100,0 - -
08 Igarapé Baeta - - 100,0
09 Igarapé Olaria - - 100,0
A produção de pescado proveniente de igarapés, desembarcada pelos
barcos de pesca e por compradores de pescado, foi superior às das canoas
motorizadas nos meses de junho, julho e janeiro (Figura 15). Canoas
motorizadas apresentaram três picos de produção, nos meses de setembro a
novembro, janeiro e fevereiro e no mês de abril, com decréscimos de captura
nos meses de agosto, dezembro e março. Barcos de pesca apresentaram uma
alta produção deste ambiente no mês de julho, em relação à produção dos
demais agentes, proveniente da captura de curimatá, pacu e sardinha do
igarapé do Jacaré, localizado no rio Manicoré.
95
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
comprador barco canoa Cota
Figura 15 – Produção dos agentes de comercialização provinda do ambiente
igarapé.
Lagos
Foram identificados 35 lagos que foram explotados pela pesca
comercial do município de Manicoré durante o período de estudo, o lago
Boquerão e Acará foram os principais em freqüência de explotação,
destacando-se também os lagos Matupirizinho, Jacaré e Tapaiuna (Tabela 07).
96
Tabela 07 – Freqüência de explotação do ambiente lago pela pesca comercial
do município de Manicoré.
Lago Rio principal Freqüência (%)
01 Boquerão Madeira 30,0
02 Acará Madeira 24,6
03 Matupirizinho Madeira 8,4
04 Jacaré Manicoré 4,4
05 Tapaiuna Manicoré 4,4
06 Jatuarana Madeira 3,9
07 Baiua Manicoré 2,5
08 São João Madeira 2,5
09 Chadá Madeira 2,5
10 Baeta Madeira 2,5
11 Outros 14,3
Os pescadores de canoas motorizadas foram os principais
explotadores em freqüência de expedições para os lagos (Tabela 08). Os lagos
Boquerão e Acará foram os únicos que apresentaram um maior número de
expedições de pesca dos barcos. O percentual de “expedições” atribuídas aos
compradores de pescado para os lagos Matupirizinho e Chadá, deve-se a
existência nesses locais de compradores que moram em comunidades
localizadas próximas a esses ambientes e efetuam a compra de pescado dos
moradores do local.
97
Tabela 08 – Percentual de explotação do ambiente lago pelos agentes de
pesca atuando no município de Manicoré.
Canoa Comprador Barcos
Nº Ambiente Denominação %
01 Lago Boquerão 54,1 - 45,9
02 Lago Acará 60,0 2,0 38,0
03 Lago Matupirizinho 64,7 35,3 -
04 Lago Tapaiuna 100,0 - -
05 Lago Jacaré 77,8 - 22,2
06 Lago Jatuarana 100,0 - -
07 Lago Baiua 100,0 - -
08 Lago Baeta - - 100,0
09 Lago São João 100,0 - -
10 Lago Chadá 60,0 40,0 -
Em termos de produção desembarcada do ambiente lago, os barcos
de pesca apresentaram maior produção durante seis meses (Figura 16), com
destaque para o mês de julho quando foi registrado o maior desembarque. A
produção das canoas motorizadas provinda deste ambiente superou a dos
barcos e compradores durante os meses de setembro, janeiro e fevereiro. O
mês de maior expressividade de produção dos compradores foi o mês de
dezembro, porém no restante do período de estudo a produção desembarcada
por este agente foi inexpressiva.
98
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
comprador barco canoa Cota
Figura 16 – Produção dos agentes de comercialização provinda do ambiente
lago.
Rios
Foram identificados oito rios como destino das expedições de pesca
pela frota que desembarcou no município (Tabela 09). Dentre estes, o rio
Madeira foi o principal local de captura em termos de freqüência de expedições
de pesca, seguido em importância pelo rio Manicoré e Mataurá. Foi identificado
também expedições para rios localizados em outros municípios da calha do
Madeira, porém com baixa freqüência.
99
Tabela 09 – Freqüência de explotação do ambiente rio pela pesca comercial do
município de Manicoré.
Nº Ambiente Denominação Município Freqüência (%)
01 Rio Madeira Manicoré 51,1
02 Rio Manicoré Manicoré 33,9
03 Rio Mataurá Manicoré 6,9
04 Rio Atininga Manicoré 4,5
05 Rio Aripuanã Novo Aripuanã 1,9
06 Rio Mariepaua Manicoré 1,2
07 Rio Canumã Borba 0,2
08 Rio Marmelos Manicoré 0,2
Em termos de freqüência de expedições, as canoas motorizadas foram
as que mais efetuaram expedições de pesca para o rio Madeira e Atininga, este
último concentrando expedições de pesca de moradores das comunidades
existentes na calha deste tributário (Tabela 10).
Tabela 10 – Percentual de explotação do ambiente rio pelos agentes de pesca
atuando no município de Manicoré.
Canoa Comprador Barco
Ambiente Denominação %
01 Rio Madeira 60,0 21,9 18,1
02 Rio Manicoré 33,1 2,8 64,1
03 Rio Mataurá 6,9 - 93,1
04 Rio Atininga 78,9 10,5 10,6
05 Rio Canumã - 100,0 -
06 Rio Mariepaua - - 100,0
07 Rio Aripuanã - - 100,0
08 Rio Marmelos - - 100,0
100
A produção desembarcada pelos barcos de pesca oriundo dos rios, foi
superior à produção dos outros agentes durante quase todo o período de
estudo (Figura 17), exceto no mês de junho quando foi registrado o menor
desembarque deste agente, sendo superado pela produção desembarcada
pelos compradores de pescado. As canoas motorizadas apresentaram maior
produção de pescado deste ambiente durante os meses de seca (setembro e
outubro).
0
5000
10000
15000
20000
25000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
comprador barco canoa Cota
Figura 17 – Produção dos agentes de comercialização provinda do ambiente
rio.
Outros ambientes de captura
Os desembarques de pescado efetuados por compradores não
puderam ser identificados quanto a sua origem, principalmente no mês de
setembro (Figura 18). Durante o mês de novembro e dezembro, ocorreu um
aumento considerável de desembarque de pescado, por parte dos
101
compradores de pescado, importado do município de Nova Olinda do Norte
(Baixo rio Madeira), que não foi possível identificar seu ambiente de origem.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Meses
Produção (kg)
0
500
1000
1500
2000
2500
Nível do rio (cm)
comprador barco canoa Cota
Figura 18 – Produção dos agentes de comercialização provinda de ambiente
não identificado.
Esforço de pesca e Captura por Unidade de Esforço
Os barcos de pesca apresentaram uma tendência de aumento nos
dias de pesca, de acordo com o aumento do nível do rio, atingindo o maior
número de dias pescando, durante o período da enchente e cheia, com o valor
máximo no mês de março e mínimo no mês de agosto. O esforço de pesca
seguiu a mesma tendência apresentada pelos dias de pesca, com um aumento
do esforço durante o período da enchente e cheia e diminuição durante o
período da vazante e seca (Tabela 11).
O rendimento pesqueiro mensal para os barcos de pesca apresentou
valores variando entre 6,86 kg/pescador*dia no mês de março, durante o
102
período da cheia e 45,19 kg/pescador*dia no mês de setembro, durante o
período da seca.
Tabela 11 – Esforço e Captura por Unidade de Esforço para barcos de pesca
da frota municipal.
Mês Ano
Dias
pescando
Nº.
pescadores
Esforço CPUE
Captura
média (kg)
Junho 2003 3,55 3,27 11,60 17,69 205,27
Julho 2003 3,41 5,35 18,22 41,77 761,24
Agosto 2003 2,04 5,67 11,57 27,54 318,58
Setembro 2003 2,94 4,89 14,40 45,19 650,46
Outubro 2003 4,43 4,71 20,88 23,07 481,62
Novembro 2003 3,58 4,63 16,57 27,46 455,04
Dezembro 2003 4,04 5,48 22,15 23,23 514,61
Janeiro 2004 5,33 4,27 22,76 12,57 286,07
Fevereiro 2004 5,33 5,33 28,44 11,23 319,43
Março 2004 11,38 4,75 54,03 6,86 370,88
Abril 2004 6,64 5,36 35,59 28,09 999,84
Maio 2004 9,50 4,10 38,95 10,61 413,30
As pescarias efetuadas pelas canoas motorizadas tiveram duração
maior no mês de abril e menor no mês de setembro. O esforço de pesca
apresentou um padrão de crescimento durante o período de enchente e cheia,
atingindo um maior valor no mês de abril e menor valor no mês de junho
(Tabela 12).
O rendimento pesqueiro mensal para as canoas motorizadas
apresentou valores entre 7,85 kg/pescador*dia no mês de março, durante o
período da cheia e 38,02 kg/pescador*dia no mês de agosto, durante o período
da vazante.
103
Tabela 12 – Esforço e Captura por Unidade de Esforço para canoas
motorizadas da frota municipal.
Mês Ano
Dias
pescando
Nº.
pescadores Esforço CPUE
Captura
média (kg)
Junho 2003 2,33 1,80 4,20 18,65 78,33
Julho 2003 2,40 2,49 5,97 21,88 130,51
Agosto 2003 2,56 2,33 5,96 38,02 226,72
Setembro 2003 1,98 2,23 4,41 27,89 123,03
Outubro 2003 2,31 2,07 4,78 33,66 160,76
Novembro 2003 2,93 2,26 6,61 25,20 166,56
Dezembro 2003 2,64 2,00 5,29 17,99 95,11
Janeiro 2004 3,70 2,50 9,25 16,42 151,85
Fevereiro 2004 4,25 2,31 9,80 8,65 84,75
Março 2004 3,63 2,00 7,25 7,85 56,94
Abril 2004 5,00 2,68 13,42 18,60 249,58
Maio 2004 4,65 2,12 9,84 14,06 138,38
Utilização de ambientes por período sazonal
A Análise de Correspondência efetuada para o período da vazante e
seca (Figura 19), separou os pescadores de canoas motorizadas e os
pescadores de barcos dos compradores de pescado pela dimensão 1
(autovalor 0,05197; 91,1% de inércia), evidenciando uma maior utilização dos
ambientes de igarapés e lagos pelos pescadores de canoas motorizadas e de
rios para os de barcos de pesca. O comprador de pescado não apresentou
tendência para nenhum dos ambientes, mostrando-se mais generalista para os
períodos, o que é uma situação comum, pois este agente não pesca
efetivamente.
104
Comprador
Barco
Canoa
Igarapé
Lago
Rio
-0,8
-0,7 -0,6 -0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Dimensão 1; Autovalor: 0,05197 (91,1% de Inércia)
-0,14
-0,12
-0,10
-0,08
-0,06
-0,04
-0,02
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
Dimensão 2; Autovalor: 0,00508 (8,9% de Inércia)
Figura 19 – Análise de correspondência dos agentes de produção e locais de
pesca no período de vazante e seca.
Para o período da enchente e cheia, a dimensão 1 (autovalor 0,14602,
94,5% de inércia) agrupou os pescadores de barcos de pesca e os
compradores de pescado (Figura 20), no entanto o padrão de utilização dos
ambientes permanece inalterado daquele evidenciado para o período da
vazante e seca.
105
Comprador
Barco
Canoa
Igarapé
Lago
Rio
-0,5 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Dimensão 1; Autovalor: 0,14602 (94,5% de Inércia)
-0,3
-0,2
-0,1
0,0
0,1
0,2
Dimensão 2; Autovalor: 0,00851 (5,5% de Inércia)
Figura 20 – Análise de correspondência dos agentes de produção e locais de
pesca no período de enchente e cheia.
Parâmetros que afetam a captura
A análise de covariância identificou diferença significativa nas capturas
entre os tipos de embarcações utilizados (Figura 21), com barcos de pesca
efetuando maiores capturas que as canoas motorizadas. Não houve porém,
diferença das capturas provindas dos lagos e dos igarapés, entretanto existiu
diferença entre as capturas desses ambientes em relação ao ambiente rio
(Tabela 13). A análise indicou também diferença entre o período da
vazante/seca e enchente/cheia, indicando uma redução nas capturas durante a
transição.
106
Canoas Barcos
Tipo de Embarcação
4,6
4,7
4,8
4,9
5,0
5,1
5,2
5,3
5,4
5,5
Captura
Figura 21 – Diferenciação entre as médias de captura das embarcações.
Tabela 13 – Parâmetros da análise de covariância efetuada.
F p<0,05
Esforço 23,1019 0,000002
Ambiente 1 0,0823 0,774381
Ambiente 2 8,0411 0,004888
Sazonalidade 6,5710 0,010860
Custo 18,1483 0,000027
Embarcação 6,8472 0,009334
DISCUSSÃO
A concentração dos desembarques de pescado no flutuante da
Colônia foi muito importante para o sistema de coleta implantado, porque
permitiu o controle mais efetivo do pescado presente nos desembarques
efetuados durante o período de estudo. O desembarque e a comercialização
do pescado no município são efetuados principalmente no mercado municipal,
restando pouco pescado para ser comercializado nas demais feiras existentes.
107
Dos agentes presentes nos desembarques do município, os barcos de
pesca foram os principais em produção de pescado. Essa característica é
comum nas regiões da Amazônia (Isaac et al., 1996; Barthem, 1999; Almeida
et al., 2001; 2003; Viana, 2004), porém as canoas motorizadas produzem um
volume importante de pescado. A pescaria efetuada em canoas motorizadas é
responsável pela maior absorção de mão-de-obra nesta atividade; essa
característica deve ser comum em todos os locais que possuam uma frota de
barcos de pesca reduzida, ou ainda que não possua barcos de pesca, como no
município de Novo Aripuanã, na região do Baixo-Médio rio Madeira (Pereira &
Cardoso, 2003).
O predomínio da utilização da redinha nas pescarias do Médio rio
Madeira é um padrão observado também em outros rios da Amazônia (Batista
& Petrere Jr., 2003). Da mesma forma, o padrão sazonal de substituição de
apetrechos também ocorre em outros rios, sendo a malhadeira o apetrecho
preferencial durante a época de cheia, quando as capturas com a redinha são
mais reduzidas, pela ausência de cardumes migrando. Os pescadores dos
barcos utilizam esses apetrechos nos igarapés e igapós próximos à foz de
tributários do rio Madeira. Capturas com arrastão pelos barcos de pesca e
pelas canoas motorizadas, foram efetuadas somente no período da vazante e
da seca, justamente quando ocorre a migração dos grandes bagres pela calha
principal do rio Madeira (Goulding, 1979; Araújo-Lima & Ruffino, 2003).
Os desembarques de pescado no município de Manicoré seguiram o
padrão dos demais locais, seja na região do rio Madeira (Goulding, 1979; 1980;
Boischio, 1992) ou do Alto e Médio rio Solimões (Barthem, 1999; Viana, 2004),
Amazônia Central (Petrere Jr., 1978a; Merona & Bittencourt, 1988; Batista &
108
Petrere Jr., 2003) ou Baixo Amazonas (Isaac et al., 1996; Ruffino & Isaac,
2000; Almeida et al., 2001; 2003), com poucas espécies sendo responsáveis
pela maior parte do pescado desembarcado. O predomínio de Characiformes
também foi observado em outras regiões da bacia (Isaac et al., 1996; Barthem,
1999; Batista, 1998; Almeida et al., 2001).
Goulding (1979) informou que a pesca no Alto e Médio rio Madeira
estava baseada em pelo menos 30 grupos de espécie. Um valor similar ao
encontrado nos desembarques efetuados em Manicoré. Comparando a
composição das capturas, observamos que ocorreu uma aparente similaridade
em número de espécies (ou grupos) explotadas, com as espécies listadas por
Goulding (1979) e também por Boischio (1992) para os desembarques que
ocorreram em Porto Velho, capital do estado de Rondônia..
O jaraqui escama-grossa (Semaprochilodus insignis), principal espécie
em volume de desembarque em Manicoré, não era comumente explotado pela
frota existente no rio Madeira. Goulding (1979) observou, para o ano de 1977,
que o desembarque dessa espécie atingiu valores de 45 toneladas. Boischio
(1992), analisando os desembarques do mesmo local, estimou que a produção
de jaraqui variou entre 53 e 136 toneladas entre os anos de 1984 a 1989, o que
representa uma evolução na captura dessa espécie na bacia do Madeira.
Goulding (1979) apresentou valores de produção de pescado para o
município de Manicoré de aproximadamente 20 toneladas anuais para o ano de
1977. Goulding (1979) ressaltou também, que naquele ano, não existia barco
de pesca com urnas de gelar operando nas pescarias do local, sendo a mesma
efetuada apenas com o uso de canoas de forma, tendo como principal
apetrecho a redinha, num total de 13 unidades, explotando somente a calha do
109
rio Madeira e a foz do rio Manicoré, locais próximos á sede do município,
devido a não utilização do gelo para a manutenção do pescado capturado.
Valores fornecidos pela Superintendência de Desenvolvimento da
Pesca – SUDEPE, para o ano de 1987, indicaram uma produção de 1.095
toneladas de pescado por ano para o município (SUDEPE, 1987 apud Isaac &
Barthem, 1995). Comparando os valores apresentados por Goulding (1979) e
pela SUDEPE (1987), com aqueles anotados pelo sistema de estatística
pesqueira implantado em nosso projeto, nos defrontaríamos com um possível
paradoxo. Os desembarques de pescado teriam exibido um espetacular
crescimento de 20 para 1.095 toneladas, 5.475%, em oito anos. Depois, uma
drástica redução de aproximadamente 428% em 18 anos.
Consideramos que os valores apresentados por Goulding (1979) são
mais compatíveis com a população do município de Manicoré à época, de
7.000 habitantes. E que os valores apresentados pela SUDEPE devem
apresentar forte distorção. Salientamos que 1987 foi o último ano do sistema
de estatística pesqueira da SUDEPE no Estado do Amazonas e que, segundo
Freitas (com. pessoal) este sistema já se encontrava em franco colapso.
Como ocorre em muitos locais da região amazônica, em que as
pescarias são direcionadas em maior escala para os ambientes fluviais
(Barthem, 1999; Batista & Petrere Jr., 2003; Viana, 2004), as pescarias no
município foram direcionadas para o rio Madeira e tributários, principalmente o
rio Manicoré. A maior utilização do rio Manicoré, deve-se em grande parte à
sua localização próxima a sede do município, que facilita os deslocamentos
tanto de barcos de pesca quanto de canoas motorizadas até os locais de pesca
existentes na calha deste tributário. Este rio apresenta grande importância nas
110
pescarias, principalmente durante o período de cheia, quando existe um “furo”,
canal de conexão entre este rio e a calha principal do Madeira, no local
denominado “Varador Moreira”. Este é um pesqueiro bastante conhecido pela
produtividade das pescarias de jatuarana e jaraqui durantes os meses de
março a maio.
Os picos de captura para os rios corresponderam aos dois períodos
migratórios existentes na bacia do rio Madeira, a migração de dispersão na
época da seca e a migração reprodutiva durante o início da enchente
(Goulding, 1979; Bittencourt & Cox-Fernandes, 1990; Araújo-Lima & Ruffino,
2003).
Os lagos de maneira geral apresentaram uma utilização maior para as
capturas durante o período da enchente e cheia, quando a captura proveniente
desses ambientes superou a dos rios. Os principais lagos em produção de
pescado e freqüência de expedições de pesca, apresentaram características
bastante distintas, o lago Boquerão que é um lago de banco de meandro,
localizado a jusante da sede do município, foi explotado principalmente por
barcos de pesca que utilizam malhadeiras para a captura de pescado. Essa
maior explotação por parte dos barcos pode ser atribuída à localização próxima
da calha principal do rio Madeira, o que facilita o acesso dos barcos a este
local. O lago Acará, inversamente ao que ocorre com o lago Boquerão, foi
explotado principalmente por canoas motorizadas, tornando-se um dos
principais locais de captura de pescado durante os meses de cheia.
Canoas de rabeta explotaram principalmente lagos nas épocas de
enchente, cheia e início da vazante. Suas capturas foram orientadas para a
calha do rio Madeira durante o final da vazante e seca, quando seus
111
deslocamentos foram menores, permanecendo nas proximidades da sede do
município em pescarias de, no máximo, um dia de duração. Uma característica
do mercado local e que se assemelha aos demais locais da região amazônica
foi o desembarque de pescado por parte dos compradores que atuam nas
comunidades rurais, que foi efetuado por intermédio dos barcos de recreio
municipal e intermunicipal ou por somente por este último, quando os mesmos
importaram pescado de outros municípios (compradores urbanos).
O igarapé do Matupiri está localizado relativamente próximo da sede
do município, sendo, portanto de fácil acesso, principalmente aos pescadores
de canoas motorizadas, que têm neste ambiente o principal local de captura de
pescado durante boa parte do ano. Esse igarapé dá acesso à reserva extrativa
do Matupiri Grande, onde a pesca de caráter comercial é proibida, sendo
liberada apenas no mês de março, período máximo da cheia, quando as
capturas são relativamente menores e não é atrativo para os pescadores das
canoas motorizadas efetuarem a pesca nestes locais.
Os valores do tempo de pesca gasto principalmente pelos barcos de
pesca durante o período de enchente e cheia parece ser bastante influenciado
pela subida do nível do rio, o que favorece novos abrigos as espécies de
peixes. Existe ainda um aumento considerável no esforço de pesca por parte
dos pescadores de canoas motorizadas no período de enchente e cheia,
devido a dispersão dos cardumes nas áreas alagadas de várzea ou nos igapós
formados nas áreas de entorno dos lagos, o que dificulta a captura por parte
dos pescadores. Isto pode ser comprovado observando-se o peso médio de
desembarque para este período para este agente de pesca. Barthem (1999)
também encontrou este padrão para pescadores de rabetas que
112
desembarcaram pescado no município de Tefé, localizado na região do Médio
Solimões, esses pescadores também são encontrados na região do Baixo
Amazonas na cidade de Santarém, porém os dados de desembarque de
pescado para essa área, não mencionam a quantidade de pescado
desembarcado por este agente, muito menos faz referência ao esforço de
pesca empregado por estes pescadores.
O resultado apresentado pela análise de correspondência efetuada
confirmou a principal tendência da pesca que ocorre no município de Manicoré,
os barcos de pesca que usam a redinha como principal apetrecho de captura,
não utilizam efetivamente os lagos e igarapés para suas capturas, diferente do
que ocorre com a pesca efetuada pelos barcos de pesca na região do Baixo
Amazonas, que direcionam suas capturas igualmente para os lagos e rios
(Ruffino & Isaac, 2000; Almeida et al., 2001), embora exista uma diferenciação
entre o principal apetrecho de captura. Goulding (1979) analisando as capturas
de pescado na região do Alto rio Madeira, já apontava para a tendência de
utilização da redinha, apontando principalmente para a utilização da foz dos
tributários do rio Madeira para a captura durante o período da migração de
desova.
CONCLUSÃO
A análise do desembarque de pescado no município de Manicoré nos
permitiu concluir que, a atividade pesqueira local apresenta características
similares às das outras regiões da Amazônia, porém com algumas distinções
como:
113
1) O predomínio das capturas na calha do rio Madeira durante a vazante e
seca e no rio Manicoré durante o período da enchente e cheia, com menor
utilização dos lagos de várzea e igarapés para as capturas;
2) Os locais de captura são restritos aos rios: Madeira e Manicoré (para barcos
e canoas); aos lagos: Boquerão e Acará (principalmente canoas motorizadas) e
o igarapé Matupiri (canoas motorizadas);
3) Pescadores de canoas motorizadas utilizam os ambientes igarapés e lagos
como principais locais de captura;
4) As principais espécies capturadas pertencem a ordem Characiformes,
apresentando um esforço de pesca anual mais intenso para o jaraqui, pacu e
curimatá e sazonal para a dourada, única espécie da ordem Siluriformes com
valores expressivos nos desembarques;
5) Os pescadores de canoas motorizadas e barcos de pesca tentam
compensar a diminuição das capturas com o aumento do esforço de pesca,
durante o período da enchente e cheia;
6) Embora participe indiretamente da pesca, o comprador de pescado é
responsável de maneira considerável pelo abastecimento de pescado do
município, principalmente no período de entressafra, nos meses de novembro,
dezembro e janeiro.
114
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118
ANEXO I A
Questionário para barcos de pesca
Questionário _______ Data: ___/___/_______
IDENTIFICAÇÃO:
Nome do barco: ______________________________________________________
Município: Estado: ____________________________________________________
Nome do entrevistado:_________________________________________________
Nome do dono do barco: _______________________________________________
Entrevistado: ( ) dono do barco( ) encarregado( ) ________________
O dono do barco participa da pesca? sim/não Qual função? ________________
O dono do barco vive somente da pesca? Sim/não
Qual a atividade (s)? ________________________________________________
CARACTERÍSTICAS DA EMBARCAÇÃO
Comprimento: _________ m; Boca: ______ m; Pontal: _________ m
Comprimento da caixa de gelo: _____ X _____ X _______ m
Marca do motor: _________; HP: _____; Centro ou popa? (C/P) Combustível (D/G)
ARMAZENAMENTO
( ) caixa fixa ( ) isopor: ______ unidades ________ litros
Capacidade para gelo: ________ (t/kg)
Capacidade para peixe de escama: _______ (t/kg)
Capacidade gelo + pescado escama: _______ (t/kg) gelo + peixe liso: ____ (t/kg)
Capacidade média utilizada por viagem: safra __________ entressafra _________
ÁREA DE PESCA PRINCIPAL
SECA PESQUEIRO RIOS PRINCIPAIS POVOADO + PRÓXIMO
CHEIA PESQUEIRO RIOS PRINCIPAIS POVOADO + PRÓXIMO
ESPÉCIES MAIS PESCADAS PELA EMBARCAÇÃO
SECA ESPÉCIE RIO UTENSÍLIO MALHA FIO
CHEIA ESPÉCIE RIO UTENSÍLIO MALHA FIO
119
TRIPULAÇÃO:
Número de pescadores nesta viagem:
Efetivos: _______; Do barco: ___________; Contratados no local: ___________
FUNÇÕES NECESSÁRIAS PARA EFETUAR A PESCARIA NESTE BARCO:
( ) Armador ( ) Encarregado ( ) Piloto ( ) Cozinheiro ( ) Gelador
( ) Lanceiro ( ) Vigia ( ) Pescador ( ) ___________ ( ) ___________
APETRECHOS DE PESCA:
( ) Redinha: _______ com total de _______ m de comprimento; custo total R$ ___
( ) Malhadeira: _______ com total de _______ m de comprimento; custo total R$ _
( ) Tramalha: _______ com total de _______ m de comprimento; custo total R$ __
( ) Escolhedeira: _______ com total de _______ m de comprimento; custo total R$
( ) Espinhel: ______ com: ______ anzóis Tamanho dos anzóis: ___; R$
Tipo de linha: _______ Diâmetro da linha: ________ Comprimento da linha; ______
Linha R$_________
( ) Arpão ______ R$ _______
( ) Tarrafa ______ R$ _______
Apetrechos financiados por:
( ) Próprio ( ) Armador ( ) Comércio ( ) ____________________
CANOAS AUXILIARES:
Forma: _______ unidade (s) R$ _________
Alumínio: ________ unidade (s) R$ ________
Casco: ________ unidade (s) R$ ___________
Outro: _______________ unidade (s) R$ __________
Motor de popa: ___________ HP __________ R$ ____________
Canoas financiadas por:
( ) Próprio ( ) Armador ( ) Comércio ( ) ____________________
COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS POR VIAGEM:
Diesel: ______ litros R$ _____________ ; Gasolina: ________ litros R$ _________
Óleo 40 _______ litros R$ ________; Rancho R$ __________;
Gelo : ________ R$ ____________; Adiantamento/Abono: R$ ________________
Quem banca a viagem (%):
( ) próprio ( ) Armador ( ) Frigorífico ( ) Comerciante ( ) _______________
Qual finalidade:
( ) rancho ( ) gelo ( ) combustível ( ) abono ( ) _______________
Forma de pagamento dos custos:
( ) dinheiro ( ) pescado ( ) _________________
DIVISÃO DAS DESPESAS/RECEITAS:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Número
%
Partes
Salário
1- Armador; 2- Encarregado; 3 - Piloto; 4 - Cozinheiro; 5 - Gelador; 6 - Lanceiro; 7 –
Vigia; 8 - Pescador; 9 - ___________ ;10 - ___________; 11 - _______________.
120
NÚMERO DE VIAGENS NOS ÚLTIMOS TRÊS MESES: ______________
CAPTURA NO PERÍODO:
Espécie
(pescado/comprado)
Quantidade
(kg/cento/unidade/mil)
Apetrecho Valor total (R$)
MANUTENÇÃO DOS APETRECHOS:
Gasto com o conserto dos apetrechos R$ ________________
Número de pessoas: __________ tempo gasto: _____________
Valor do material gasto R$ ________; Mão-de-obra R$ _____________
Qual a forma de pagamento ( ) dinheiro ( ) peixe ( ) ______________
Fonte do financiamento para o conserto:
( ) Próprio ( ) Armador ( ) Comércio ( ) ____________________
MANUTENÇÃO DO BARCO:
Tipo de manutenção Periodicidade Valor (R$) Onde faz
Motor
Calafeto
Pintura geral
Encalhação
Diária de encalhação
Dedetização
Taxas Periodicidade Valor (R$) Onde faz
Capitania
IBAMA
FLUXO DE COMERCIALIZAÇÃO:
Onde comercializou o produto: ( ) mercado municipal ( ) feiras no município
( ) recreio ( ) marreteiros ( ) frigorífico ( ) ________________________
DIVERSOS:
Equipe de pescadores fixa durante o ano:
( ) sim ( ) não
São pescadores (equipe) da:
( ) zona urbana ( ) zona rural ( ) misto
Pesca sempre no mesmo lugar:
( ) sim ( ) não
Pagou algo para pescar no lugar;
( ) sim ( ) não
O que: ________________________________________________
121
Pesca durante:
( ) ano todo ( ) verão ( ) inverno ( ) de vez em quando
Quantas vezes por mês: __________
A pesca é efetuada:
( ) de dia ( ) de noite ( ) noite e dia
Participa de alguma associação:
( ) sim ( ) não Qual? ____________________
De onde o sr prefere contratar pescadores? ______________________________
Já teve que alterar sua rota de pesca devido a conflitos com moradores do local?
( ) sim ( ) não; Onde: _____________________________________________
Quando aconteceu o senhor:
( ) retornou a sede do município ( ) foi para outro pesqueiro ( ) _____________
Algum dos seus tripulantes mora próximo da localidade onde o sr pesca:
( ) sim ( ) não
122
.
ANEXO I B
Questionário para pescadores de rabeta
Questionário _______ Data: ___/___/____
1. IDENTIFICAÇÃO:
Nome do entrevistado: ________________________________ Idade: _________
Município: __________________________ Estado: ________________________
Local de nascimento: ________________________________________________
O pescador vive somente pesca? ( ) Sim ( ) Não
Qual a outra atividade (s)? ____________________________________________
1.1. CARACTERÍSTICAS DA EMBARCAÇÃO
Comprimento: _________ (m); Largura_______ (m)
Marca do motor: _________; HP: _____; Combustível (D/G)
( ) Toda de tábua ( ) Casco + tábua ( ) Alumínio
1.2. ARMAZENAMENTO
( ) isopor: ______ unidades ____________________ litros
Capacidade para gelo: _________________________ (kg)
Capacidade gelo + pescado escama: ______________ (t/kg)
Capacidade gelo + peixe liso: ____________________ (t/kg)
2. ÁREAS PRINCIPAIS DE PESCA
SECA PESQUEIRO RIO COMUNIDADE + PRÓXIMA
Lago
Leito do rio
Ressaca
Boca do rio
Praia
Igarapé
Igapó
CHEIA PESQUEIRO RIO COMUNIDADE + PRÓXIMA
Lago
Leito do rio
Boca do rio
Igarapé
Igapó
2.1. ESPÉCIES MAIS PESCADAS PELA EMBARCAÇÃO
Durante a seca:
1 _________________; 4 _________________; 7 _________________;
2 _________________; 5 _________________; 8 _________________;
3 _________________; 6 _________________; 9 _________________;
Durante a cheia:
1 _________________; 4 _________________; 7 _________________;
2 _________________; 5 _________________; 8 _________________;
3 _________________; 6 _________________; 9 _________________;
123
.
3. APETRECHOS DE PESCA:
Malhadeiras
Quant. Malha
(mm)
Fio Valor
(R$)
Comp.
(m)
Alt.
(m)
Material de
confecção
Espécies-alvo
Outros apetrechos
Apetrechos # Custo (R$) Total em metros Material de confecção
Tarrafa
Arrastão
Espinhel
Caniço
Arpão
Tramalha
Currico
Zagaia
Apetrechos financiados por: _____________________________________________
4. CANOAS:
Material Quantidade Valor (R$)
Forma
Alumínio
Casco
Motor de popa
Canoa (s) financiada (s) por: ____________________________________________
4.1. CAIXAS:
( ) isopor _____ litros R$ __________ ( ) isopor _____ litros R$ _________
( ) isopor _____ litros R$ __________ ( ) isopor _____ litros R$ _________
4.2. COMPOSIÇÃO DOS CUSTOS POR VIAGEM:
Gasolina: ________ litros R$ _________; Óleo 2T _______ litros R$ ________
Gelo: ________ (kg) R$ ____________; Rancho R$ __________
Quem banca a viagem (%):
( ) próprio ( ) armador ( ) frigorífico ( ) comerciante ( ) _______________
Qual finalidade:
( ) rancho ( ) gelo ( ) combustível ( ) abono ( ) _______________
Forma de pagamento dos custos: ( ) dinheiro ( ) pescado ( ) ______________
124
.
4.3. NÚMERO DE VIAGENS NO ÚLTIMO MÊS: ______________
5. CAPTURA NO PERÍODO:
Espécie
(pescado/comprado)
Quantidade
(kg/cento/unidade/mil)
Apetrecho Valor total (R$)
6. MANUTENÇÃO DOS APETRECHOS:
Gasto com o conserto dos apetrechos R$ ________
Número de pessoas: __________ tempo gasto: ________
Valor do material gasto R$ ________; Mão-de-obra R$ _____________
Fonte do financiamento para o conserto:
( ) Próprio ( ) Armador ( ) Comércio ( ) ____________________
7. MANUTENÇÃO DA CANOA E DO MOTOR:
Tipo de manutenção Periodicidade Valor (R$) Onde faz
Motor
Calafeto
Pintura
Taxas Periodicidade Valor (R$) Onde faz
Colônia
Taxa de comercialização
8. COMERCIALIZAÇÃO:
Para quem ou onde o senhor costuma vender o peixe (em ordem de citação):
( ) consumidor ( ) mercado municipal ( ) feiras no município
( ) recreio ( ) marreteiros ( ) frigorífico
( ) residência ( ) _______________ ( ) _______________
9. DIVERSOS:
Quanto tempo faz que o senhor pesca? _________________________________
Pesca sempre no mesmo lugar: ( ) sim ( ) não
Pagou algo para pescar no lugar: ( ) sim ( ) não
O que (quanto): ________________________________________________
Pesca durante: ( ) ano todo ( ) verão ( ) inverno ( ) de vez em quando
Quantas vezes por mês: __________
A pesca é efetuada: ( ) de dia ( ) de noite ( ) noite e dia
Participa de alguma associação: ( ) sim ( ) não Qual? ____________________
Já teve que alterar sua rota de pesca devido a conflitos com moradores do local?
( ) sim ( ) não; Onde: _______________________________________________
Quando aconteceu o senhor:
( ) retornou a sede do município ( ) foi para outro local ( ) _________________
Qual a sua escolaridade: ___________________________________
Alguém da sua família mora na comunidade em que o senhor pesca? ___________
125
ANEXO II
Questionário de desembarque: Data: ____/____/____.
Entrevistado: __________________________________________ ( ) Canoa ( ) Barco ( ) ___________
Local (is) de pesca: __________________________________________ Comunidade próxima: _______________________
Data de saída: ____/____/20__. Data de chegada: ____/____/20__. Custo total da expedição de pesca: R$ _________
Tempo de chegada ao local de pesca: ___________ (h) Número de pescadores: ________________
Espécie capturada Apetrecho Captura total Quem comprou Local da venda R$
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
Composição dos custos
Item Quantidade Unidade (R$) Financ. Item Quantidade Unidade (R$) Financ.
01 Diesel Litros 05 Gelo Kg
02 Gasolina Litros 06 Rancho R$
03 Óleo 40 Litros 07 Adiantamento R$
04 Óleo 2T Litros 08 Taxa colônia %
P = próprio; A = armador; F = frigorífico; C = comerciante; O = ______________;
Forma de pagamento dos custos: ( ) dinheiro ( ) pescado ( ) _____________
126
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