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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
JUVENTUDE, RELIGIÃO E A UTOPIA DA
CIVILIZAÇÃO DO AMOR
Estudo de Caso das Pastorais da Juventude do Brasil
LOURIVAL RODRIGUES DA SILVA
GOIÂNIA
2006
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
JUVENTUDE, RELIGIÃO E A UTOPIA DA
CIVILIZAÇÃO DO AMOR
Estudo de Caso das Pastorais da Juventude do Brasil
LOURIVAL RODRIGUES DA SILVA
ORIENTADOR
:
Prof. Dr. Luigi Schiavo
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado
em Ciências da Religião como requisito para
obtenção do grau de mestre.
GOIÂNIA
2006
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Dedico em especial às mulheres da minha família: Abigair
Rodrigues Ferreira (mãe), Benedita Rodrigues Lisboa (avó), Helena
e Maria (tias), Marlucia (irmã), pela resistência, insistência com que
enfrentam a vida e ainda sorriem.
A meus irmãos: Altair, Marcos Antônio, Waschington e Alex.
Aos meus sobrinhos e sobrinhas.
Carlos Eugenio pela lealdade e companheirismo neste tempo
de
desafios
e descobertas e aos amigos e amigas, que são partes
do meu existir.
Sonho Impossível
Sonhar, mas um sonho impossível,
Lutar, Quando é fácil ceder,
Vencer, o inimigo invencíve
l,
Negar, quando a regra é venc
er.
Sofrer, a tortura implacável,
Romper, a incabível prisão,
Voar, no limite improvável,
Tocar o inacessível chão.
É minha lei, é minha questão,
Virar esse mun
do,
Cravar esse chão.
Não me importa saber
Se é terrível demais,
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz.
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão,
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão.
E assim, seja lá co
mo for,
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão.
J. Darion/M. Leigh.
AGRADECIMENTOS
À Vanildes Gonçalves, Carmem Lúcia, Edina Lima, Arilene, Kelly e Elmira, mulheres
que pelos seus olhares e forma de se colocarem no mundo, me fazem sentir na
obrigação da coerência e presença. Azésio Barreto,
Eder,
Rezende Bruno, Victor
Martins
e Willian Bonfim pela energia que exercem na minha vida, também pela
cumplicidade profissional e afetiva.
À coordenação Casa da Juventude Pe. Burnier: Ana Trindade, Carmem, Geraldo,
Vanildes, Itamar, Elmira, Divino, Kelly, Garcia e Fábio, porque acreditaram, investiram e
possibilit
aram
o tempo necessário para a realização deste estudo. Igualmente
importantes: Epitácio, Gardene, Berg, Edmilson, Elaine, Wolney, Vilma, Paulo, Maria,
Josiane, Gil
sana
, Cleber, Leonardo e Diana, que no dia-a-
dia
nos possibilitam a
comunhão de sonhos.
Às Pastorais da Juventude do Brasil, berço que me proporcionou a socialização para
conviver com tanta gente
especial e também por terem colaborado com este trabalho.
À Ângela Falqueto e Hilário pela amizade, o carinho, a dedicação à causa juvenil e pela
colaboração neste projeto.
À ADVENIAT, na pessoa do Norbert, pela bolsa concedida e que possibilitou este
trabalho.
Ao
Prof. Luigi Schiavo pela atenção da PALAVRA
, por seus conselhos e orientação.
Aos
professores
(as), direção e funcionários (as) do Mestrado em Ciências da Religião
da UCG, pelo carinho e a atenção concedida neste tempo de estudo. Aos colegas e
amigos de turma deste mestrado e Gleisson T. Araújo pela colaboração.
Ao Divino Pai Eterno que na Trindade acompanha este seu filho.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1
-
Estados
125
FIGURA 2
-
Sexo
1
26
FIGURA 3
-
Faixa etária
1
27
FIGURA 4
-
Tempo de participação
1
28
FIGURA 5
-
Motivos da ida para o grupo
1
28
FIGURA 6
-
Papel das PJs na sociedade
130
FIGURA 7
-
Papel dos jovens na sociedade
132
FIGURA 8
-
Porque os jovens não participam
135
FIGURA 9
-
Ser lideran
ça é
1
36
FIGURA 10
-
Porque participam
1
39
FIGURA 11
-
Em quem se inspiram
141
FIGURA 12
-
Quem são os que mais criticam
142
FIGURA 13
-
Representação das PJs em suas vidas
144
FIGURA 14
- Significado da Civilização do Amor 1
45
FIGURA 15
-
Papel da religião para eles
1
49
FIGURA 16
-
O que é a igreja segundo os jovens
150
GLOSSÁRIO
CEJU
Centro de Estudos da Juventude
CEBs
Comunidades Eclesiais de Base
CELAM
Conferência Episcopal Latino Americana
CF
Campanha da Fratern
idade
CNBB
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
JAC
Juventude Agrária Católica
JEC
Juventude Estudantil Católica
JIC
Juventude Independente Católica
JOC
Juventude Operária Católica
JUC
Juven
tude Universitária Católica
ONGs
Organizações Não
-
Governamentais
ONU
Organização das Nações Unidas
OMS
Organização Mundial de Saúde
PJs
Pastorais da Juventude
RCC
Renovação Carismática Católica
SEBRAE
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas em
presas
TFP
Tradição Família e Propriedade
UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância
UNFPA
Fundo de População das Nações Unidas
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e a
Cultura
SUMÁRIO
RESUMO
12
ABSTRACT
13
INTRODUÇÃO
14
CAP
Í
TULO I
-
PÓS
-
MODERNIDADE E A SITUAÇÃO DA RELIGIÃO
17
1.1.
PÓS
-
MODERNID
A
DE: ENTRE PASSADO, PRESENTE E FUTURO
17
1.1.
1.
A
c
ris
tandade
17
1.1.2.
A
m
odernidade
19
1.1.3.
Pós
-
modernidade
25
1
.1.
4.
Globalização
27
1.1.
5.
Fim da
h
istória e crise das
utopias
32
1.2
. A
RELIGIÃO NA PÓS
-
MODERNIDA
DE
36
1.
2
.1.
O Sagrado e sua
função
so
cial
37
1.
2
.2.
A religião no
mundo globalizado e pós
-
mode
rno 40
1.
2
.3. Desafios para a religião neste novo cenário
42
CAP
Í
TULO II
-
A JUVENTUDE
E
A INFLU
Ê
NCIA DA ATUAL CULTURA
45
2.1.
AS DEFINIÇÕES DA JUVENTUDE
45
2.1.1
Polissemia conceitual
45
2.1.2.
Juventude e conflito de geraçõ
es
52
2.2.
OS JOVENS NA CULTURA ATUAL
54
2.2.1
A comunicação hoje e
seu
s efeitos sobre a juventude
55
2.2.2
Influência da comunicação
virtual
56
2.2.3
A
influência da cultura da
imagem
58
2.2.4
Nova su
bjetividade
59
2.2.5
Me
rcado de consumo
60
2.2.6
A cultura refletida sobre o corpo da juventu
de 62
2.2.7
O imediatismo nas socializações dos jovens e s
e
us grupos
65
2.3.
O JOVEM E A PARTICIPAÇÃO SÓCIO
-
POLÍTICA
68
2.3.1.
Participação política da década de 60 aos dias atuais
68
2.3.2.
Participação p
olítica e democracia representativa
69
2.3.3.
Dados sobre a participação dos jovens 70
2.3.4.
A juventude e as novas alternativas de participação
73
2.3.5.
Os novos marcos legais para
as
política
s públicas de juventude
76
2.4.
OS JOVENS E A RELIGIÃO
78
2.4.1
Religião de emoção e
interesses imediatos
83
2.5.
BREVE CONCLUSÃO SOBRE O ROSTO ATUAL DA JUVENTUDE
85
CAPÍ
TULO III
- A CIVILIZAÇÃO DO AMOR ENTRE UTOPIA E
REALIZAÇÃO
92
3.1.
A CONSTRUÇÃO DA UTOPIA
92
3.1.1.
A ilha de Thom
as Morus
94
3.1.2.
O que é utopia
95
3.1.3.
Utopia e ordem social
97
3.2.
UTOPIAS
D
OS JOVENS PÓS
-
MODERNOS EM TEMPO DE CRISE
98
3.2.1
. A
crise
das
utopia
s
99
3.2.2
. As promessas da pós
-
modernidade aos
joven
s
100
3.
2.3. Conseqüências das promessas utópicas sobre os jovens
101
3.3
. U
TOPIAS RELIG
IOSAS PARA A JUVENTUDE 103
3.
3.
1.
História dos
jovens na Igreja Católica
1
03
3.
3.
2.
Paulo VI e a
Civilização do
A
mor
107
3.3.
3
.
A Civilização do Amor
na
Igreja Católica
da
América Latina
112
3.3.
4. C
ivilização do
A
mor
uma proposta para o hoje 113
3.3.
5. Civilização do Amor e a transformação da
sociedade
1
17
CAP
Í
TULO IV
AS
PASTORAIS DA JUVENTUDE NA
CONSTRUÇÃO DA
CIVILIZAÇÃO DO AMOR
12
0
4.1.
PASTORAIS DA
JUVENTUDE NO BRASIL
1
20
4.
1
.1. O que
são
e como
funcionam
1
20
4.
1
.2. Opções pedagógicas
e plano de ação
1
22
4.2.
DESCRIÇÃO
DA
PESQUISA
1
24
4.3.
I
DENTIFICAÇÃO DO PAPEL
DOS JOVENS NA IGREJA E NA
SOCIEDADE
1
30
4.4.
PARTICIPAÇÃO E LIDERANÇA SEGUNDO OS JOVENS DAS P
Js
1
34
4.5.
I
NFLUÊNCIA DA IGREJA SOBRE OS JOVENS E SUAS
PASTORAIS
1
41
4.6.
SIGNIFICADO DA CIVILIZAÇÃO DO AMOR PARA OS JOVENS 1
45
4.7.
A R
ELIGIÃO PARA OS JOVENS DAS PASTORAIS DA JUVENTUDE
1
48
4.8.
FINALIZANDO O CAPÍTULO
150
CONCLUSÃO
1
55
BIBLIOGRAFIA CITADA
162
BIBLIOGRAFIA DE
REFER
Ê
NCIA
17
3
ANEXOS
RESUMO
Silva, Lourival Rodrigues da.
Juven
tude,
Religião e a Utopia da Civilização do Amor .
Um estudo de caso das Pastorais da Juventude do Brasil.
Goiânia,
UCG, 2006.
Esta dissertação trata dos aspectos da pós-
modernidade
, da
religião
e da juventude
brasileira. Aborda a questão da utopia hoje e, de modo especial a Civilização do Amor
que é proposta para a juventude católica. Faz uma
abordagem
da
modernidade, da
pós
-modernidade e da situação da religião. É uma reflexão
sobre
as diferentes
concepções de juventude: influências da cultura atual
sobre
as novas
geraç
ões
,
sobretudo a comunicação, com suas tecnologias, virtualidades, padrões
de
comportamento
e subjetividade. Considera a juventude e sua pr
esença
na religião,
levantando
de que tipo de religião os jovens estão à procura. destaque à
participação política dos jovens ao longo da história, com suas reivindicações,
contradições
e
formas
de se organizar. Discute a utopia na perspectiva de sonho
oferecid
o aos jovens da cultura pós-moderna. Levanta quem propõe a Civilização do
Amor aos jovens católicos,
pontuando
o modo como esta foi assumida pela Igreja e
pelos jovens.
Traz
uma visualização das pastorais da juventude no Brasil com suas
forma
s de organiza
ção
, seus objetivos e planos de ação, a
presenta
ndo
as
compreensões que
estes jovens
têm sobre a Civilização do Amor .
Palavras
-
Chave:
Juventude, Religião, Utopia, Pós
-modenidade, Civilização do Amor
ABSTRACT
Silva, Lourival Rodrigues da. Youth, Religion and "Civilization of Love"
.
As s
tudent
of
brasilian youth´s
pastora
ls course
.
Goiânia, UCG, 2006.
This
dissertation
deals with the aspects of post-
modernity
, the
religion and Brazilian
´s
youth. It approaches the question of today s utopia and
,
in a
special way, the "Civilization of
Love"
which is a proposal for the Catholic youth.
It
makes
a reassessment of modernity, post-modernity and the situation of religion. It is a
reflection on the different conceptions of youth: influences of the current culture on the
new generations, over communication, with its technologies,
virtuality
,
standards of
behavior and subjectivity. It considers youth and
their
participation
in the religion,
surveying what type of religion the young are seeking
.
Emphasizes youth s political
participation throughout history through their demands, contradictions and forms of
participation and organization. The utopia in the perspective of the dream offered to the
youth of today s post-
modern culture.
It discloses who proposed
the Civilization of Love
to young Catholics and gives emphasis
on
how this concept was r
eceived by church and
the youth. It brings a visualization of the pastora
ls
of youth in Brazil
,
how they organize
,
their objectives and action of
plans
, presenting the understandings that these young
ers
ha
ve
on the "Civilization of Love".
Key
-
word:
Youth
, Religion, Utopia, Post
-modernity, Civilization of Love.
INTRODUÇÃO
Esta dissertação tem como finalidade abordar a religião na pós-modenidade e
especificamente a juventude com suas utopias
e,
de modo especial a Civilização do
Amor ,
que é propos
ta
feita pela Igreja Católica
para a juventude
.
O universo pesquisado fo
ram
a
s lideranças
d
as Pastorais da Juventude da Igreja
Católica do Brasil. A hipótese básica é a de que essa organização desenvolve uma
proposta de atuação a partir da Civilização do Amor , tendo como suporte a
intenção
da Igreja Católica
de construir um referencial simbólico e utópico que bus
que
possibilitar
aos jovens a participação e a transformação da realidade. Essa utopia se apóia num
imaginário de raízes históricas, com base nas tradições
cristãs
que influenciam,
sociologicamente, o envolvimento dos/as cristãos/ãs nas questões da realidade social.
I
ntui
-se que os jovens pertencentes a essa pastoral se sentem despertados e
motivados a se engajar na proposta feita pela igreja para a construção da Civilização
do Amor .
As perguntas fundamentais destinam-se a identificar qual a relevância simbólica
que tem a Civilização do Amor para os jovens que fazem parte das Pastora
is
da
Juventude; o que estes jovens perseguem, entendem e
com
qual finalidade se mantê
m
fiéis à utopia, se tem ações de transformação alternativas
que
revelam a assumência
desse projeto e que interferências são capazes de gerar
.
A metodologia primou pela pesquisa qualitativa, em que se aplicou
questionário
com
pergu
ntas abertas que permit
isse
m uma amostra do universo da organização da
s
Pastora
is
da Juventude do Brasil, objetivando traçar o perfil das lideranças
entrevistadas e suas compreensões acerca de seu papel eclesial e social a partir das
aspirações propostas e proclamadas pela Civilização do Amor . As informações foram
acrescidas com análises das respostas obtidas e sistematizadas em gráficos e falas
diretas dos jovens.
O primeiro capítulo é problematizado na perspectiva de retomar como a
modernidade
se
constr
uiu e se sustentou na promessa de liberdade, felicidade e
realização humana
e
como se deu o surgimento do paradigma da pós-
modernidade
.
Conclui
-se este tópico com um panorama da conceituação de religião e seu papel
social, abordando como ela tem
-
se estrutu
rado para resistir neste novo cenário.
O segundo capítulo é uma reflexão
sobre
a situação da juventude na cultura
atual. Inicia fazendo uma retomada das diferentes concepções de juventude,
fixando
-
se
porém
no conceito juvenil trazido pela UNESCO, que defi
ne
esta categoria a partir d
a
faixa etária dos quinze aos vinte e quatro anos. Por isso este trabalho vai considerar os
jovens como sujeitos de direito, portadores de
capacidade
s e potencialidade para a
atuação
, participação,
intervenção
e definição dos
ru
mos de suas vidas e não somente
como dependentes das concepções e limites impostos pelo mundo adulto. Consi
dera
a
juventude
enquanto grupo geracional
que
constrói
sua
s identidades e suas utopias
entre seus iguais e no confronto com a geração que esta a sua
frente.
Trabalha as influências da cultura atual
num
contexto de mudança e sua
interferência sobre esta geração, destaque, sobretudo à comunicação com suas
tecnologia
s e virtualidades. Levanta, também, a imposição de um padrão de
comportamento e a tendência da afirmação de uma nova subjetividade. Apresenta a
situação da juventude na religião, levantando que tipo de religião os jovens procuram.
Conclui dando destaque à participação política dos jovens ao longo da história.
Trazendo dados da participação juvenil, com suas reivindicações, contradições e com
novas formas de proposição sobre o jeito de participar e se organizar.
No terceiro capítulo investiga-
se
o significado de
utopia
na perspectiva de sonho
desejado e buscado pela sociedade. Fez-se a investigação das utopias oferecidas aos
jo
vens no contexto da cultura pós-
moderna,
buscando interpretar as influências que
esta realidade provoca no imaginário da juventude e discute as condições para sua
reali
zação
, esperança
s,
desejos
e sonhos.
Faz um resgate de quais são as fontes e quem propõe a utopia Civilização do
Amor aos jovens católicos, destacando como esta foi assumida pela Igreja da América
Latina e de que forma ela é recebida pelos jovens e o que representa, em termos de
conteúdos e de
valores defendidos.
O quarto capítulo é a visualização das pastorais da juventude no Brasil com sua
forma de se organizar, seus objetivos e planos de ação. Apresenta o resultado e análise
da pesquisa feita junto às lideranças das Pastorais Juventude no que se refere à visão
destes a partir da igreja, da sociedade. Por fim, traz
compreens
ões sobre a Civilização
do Amor , identificando os problemas, os sonhos e as aspirações dos jovens da Igreja
Católica,
que buscam um caminho para construir um outro modelo
de sociedade.
CAPITULO I
PÓS-MODERNIDADE E A SITUAÇÃO DA RELIGIÃO
1.
PÓS
-
MODERNID
A
DE: ENTRE PASSADO, PRESENTE E FUTURO
A compreensão da modernidade e da pós-
modernidade
,
possibilita uma
ampliação dos conceitos e características que interferem na questão da crise de
paradigma na qual vive a atual sociedade. Visualiza as diferentes matrizes que
prepararam o terreno das mudanças que o mundo vem enfrentado, permitindo uma
compreensão
da modernidade e da pós-modernidade com suas influências, causas e
conseqüências.
1.1. A Cristandade
Para falar da modernidade é necessário buscar o que existia antes e o que
orientava a vida das pessoas e da sociedade. Antes da modernidade a humanidade
viveu o tempo chamado de Idade Média. Nela predominava o sistema feudal, que era
sustentado nas estruturas político-religiosas: reis, clero, nobreza e povo. A sua
economia se firmava nas terras e nos ofícios dos artesãos. Esse período da
humanidade é entendido como Cristandade.
A Cristandade teve como base de orientação o pensamento filosófico único do
teocentrismo
. Quer dizer: a centralidade de Deus na visão da vida, sociedade e do
cosmos.
Deus era a referência máxima de valor, e todas as manifestações que
estivessem fora destes limites eram reprimidas. Para José Comblin a cristandade é
marcada pela mistura do discurso das elites dirigentes para a nobreza e para as
massas dos camponeses, o discurso do clero monástico ou secular. Esses discursos
sustentavam as classes sociais da cristandade e o poder pertencia, sobretudo, à
nobreza e ao clero (COMBLIN, 1986, p. 122).
O autor afirma que a cristandade continuou até a Revolução Francesa. Segundo
ele os discursos da cristandade continuou
sendo, por muito tempo, o linguajar do clero,
mesmo nos lugares em que a cristandade tinha praticamente desaparecido. Ainda
hoje muitos discursos do clero retomam os temas da antiga cristandade (COMBLIN,
1986, p. 123).
Nos discursos da cristandade, a pessoa é cristã sem ter feito escolha, é cristã
pelo fato de pertencer à sociedade à qual pertence. Deixar de ser cristão é cortar os
laços sociais. Na cristandade, para ser cidadão é preciso ser cristão (COMBLIN, 1986,
p. 125). Quem falava de Deus, falava para a sociedade toda e não apenas para uma
pequena elite espiritual (COMBLIN, 1986, p. 145). Para o autor, na cristandade
medieval havia uma só palavra, um só discurso imposto como uma verdade particular,
como verdade geral.
Desta maneira a cristandade se firmou como algo natural, dado. Pablo Richard
define a cristandade de forma ampla afirmando que em um regime de cristandade a
Igreja procura assegurar sua presença e expandir seu poder na sociedade, utilizando,
antes de tudo a mediação do Estado
(RICHARD, 1984, p. 09).
É por isso que os chefes da igreja e do Estado legitima
vam
-
se
no modelo de
sociedade da época. Para Comblin, o discurso da cristandade era sustentado pelos reis
e demais chefes do povo que estavam a serviço da Igreja. O povo
devia
-
lhes
obediência
, como se obedecia a Deus. Assim a cristandade se achava imutável, a
úl
tima etapa na história do mundo, considerada a maior perfeição na terra
(COMBLIN,
1986, p. 145).
A promessa central da Cristandade foi a de que a felicidade seria alcançada
após a morte, no paraíso. A modernidade mudou essa
visão
cristã. Por essas razõ
es
que se acredita que dentro da própria cristandade nasceu a cultura moderna, com um
discurso que se apresentou como rival e sucessor do cristianismo (COMBLIN, 1986, p.
204).
1.2. A Modernidade
Como foi visto anteriormente a modernidade nasce do rompimento com a
tradição, com os modelos de conduta e autoridades que eram sustentadas pela tradição
e pela religião
e
que fo
ram
perdendo seu caráter de cosmovisão global e única.
Na busca de conceituar esse paradigma
Anthony
Giddens defende que a
modernidade refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram
na Europa a partir do século XVII (GIDDENS, 1991, p. 11).
Alain Touraine defende também que a modernidade surgiu pela capacidade
dos indivíduos romperem com a Cristandade
. D
iz e
le que a modernidade:
Definiu
-se como o contrário de uma construção cultural, com a revelação de uma
realidade objetiva. A modernidade é a antitradição, a derrubada das convenções,
dos costumes e das crenças, a saída dos particularismos e a entrada no
univ
ersalismo, ou ainda a saída do estado natural e a entrada na idade da razão
(TOURAINE, 1995, p. 118).
O surgimento da modernidade está marcado também pela constituição de um
novo pensamento do grupo chamado de modernista. Segundo Comblin, os modern
istas
p
ensavam que:
Iam oferecer ao mundo uma forma superior de viver, uma humanidade realmente
superior a tudo o que se tinha vivido anteriormente. Para os cristãos essa visão
era blasfêmia. Ela destruía toda a pretensão cristã de ser a última idade do
mundo, a fase mais adiantada da história humana, o ponto mais alto do ser
humano
(COMBLIN, 1986, p. 204).
Um outro fator que possibilitou o surgimento da modernidade foi o deslocamento
do poder religioso, para o poder profano, o que provocou a dissolução da unidad
e
religiosa e fez aparecer a formação de novos princípios de organização de caráter
nacional. Ocorreu também o crescimento de outras visões sobre o cosmos, o que levou
a religião a ficar reduzida a uma particularidade (ZAMORA, 2004, p. 02).
Nos conceitos trazidos pelos autores sobre a modernidade é possível perceber
algumas recorrências: a modernidade é uma mudança na visão e compreensão do
mundo, que estavam condicionadas ao aspecto religioso.
A modernidade trouxe consigo um discurso carregado de promessas e com nele
surge a classe burguesa, com uma nova concepção de realidade social. No novo
discurso o
sacerdote
perdeu o monopólio da palavra pois antes eu falava sozinho,
agora tem mais gente falando também e mais ainda foi substituído pelo intelectual,
o
que significa agora outro fala em meu lugar . Assim surge o discurso moderno
fundamentado na vida individual e na ação das classes dos intelectuais. Estas são as
que passam articular a sociedade moderna (COMBLIN, 1986, p. 204).
Emerge
, assim, a universalidade de um discurso centrado nos seguintes
princípios: razão, felicidade, liberdade e mercado. Na modernidade tudo gira ao redor
desses temas
(COMBLIN, 1986, p. 204). Para Comblin, na razão, o homem se
conhece a partir de si próprio e se opõe a costumes, tradições, preconceitos,
autoridade, intuição, instinto e sentimento.
Quatros foram as principais promessas da pós-modernidade: razão, felicidade,
liberdade e mercado. A seguir uma breve síntese de cada uma destas.
A idéia de razão foi encarnada no Estado que passou a se apresentar como
entidade política dos cidadãos ativos com capacidade de se auto-organizarem a partir
de um conjunto de direitos civis, políticos e sociais. Assim, a razão passa a ser a
centralidade e se torna uma conquista moderna. Ela permite que a pessoa submeta
tudo ao conhecimento e só aceite o que passou pela experimentação.
A razão deu origem a racionalização científica, outro fator que também contribuiu
significativamente para o surgimento da modernidade, em que a imagem do mund
o
passou a ser fundamentada em observações controladas, repetidas e quantificadas de
maneira objetiva. Surge daí a imagem de mundo desencantado, a partir da separação
entre o real (objetivo) e o desejado (imaginado) pela subjetividade humana.
O segundo princípio que vai dar sustentação à modernidade, para Comblin, é a
idéia de felicidade. Para ele a felicidade ocorre quando o homem pode satisfazer as
suas necessidades vitais em primeiro lugar e, depois, os seus outros desejos:
biológicos, psicológicos, sociais, consumo, movimento, atividade corporal e mental,
produção material e cultural, amor, sociabilidade, paz (COMBLIN, 1986, p. 209).
O autor afirma que esse discurso aparece como uma mensagem que chama o
individuo a se libertar das estruturas que o impediram de desenvolver a sua
personalidade
, propondo o desenvolvimento completo das virtudes humanas: viver
bem, gozar de tudo, sem limites e culpabilidades.
Para Comblin, trata
-
se de:
Um apelo à emancipação de todas as formas de constrangimento que o suje
ito
experimenta em si mesmo: tabus, medos de viver ou agir, temor ante as forças
do mundo, temor ante o desconhecido, angústia sem motivo. A modernidade
desfaz os complexos , oferece a realidade inteira como aberta, disponível, sem
restrições
(COMBLIN, 19
86, p. 209).
Junta
-
se
à idéia de liberdade os conceitos de cidadania, dignidade individual que
possibilit
aram
uma subjetividade focada no individuo. Surge o sujeito capaz de criar
suas leis e soberania. Essa felicidade é uma proposta de emancipação de mui
tas
dependências: mulheres, trabalhadores, das classes exploradas. Passa a ser um
discurso que permite rebelar
-
se
contra a
idéia de sacrifício.
Para Comblin no discurso da modernidade a felicidade está à disposição do
homem, para que este não viva em função do outro. Ela é resultado de conquista de
várias lutas: família, clã, tribos. Segundo o autor, nasce da luta contra as exigências de
solidariedade do grupo. É uma conquista contra os privilégios d
as
classes dos nobres,
dos proprietários.
Por isso que Zygmunt Bauman defende que a modernidade penetrou na
consciência coletiva, modelou o pensamento e que, assim, reflete a cultura da beleza,
da limpeza e da ordem. Para o autor, essa modernidade pensou a si mesma como uma
atividade da cultura ou civilização (
BAUMAM, 1997, p. 07).
Outro fator que vai dar sustentabilidade à modernidade é a idéia de mercado
como regulador das relações sociais que se dão através da divisão social do trabalho,
fundamentada no princípio da propriedade privada e na inclinação do homem para a
satisfação de suas necessidade e na competição entre os interesses individuais e
coletivos (ZAMORA, 2004, p. 03).
Para Boaventura Sousa Santos, a modernidade, é um projeto muito rico, capaz
de infinitas possibilidades e, como tal, se torna muito complexo e sujeito a
desenvolvimentos contraditórios. A modernidade se fundamentou também sobre o pilar
da regulação, com o princípio do Estado e da comunidade a partir da concepção de
emancipação, com a racionalidade expressiva da arte e da literatura, da moral e do
direito, e da ciência da técnica (SANTOS, 2003, p. 76).
A promessa de realização humana, de felicidade, liberdade e da possibilidade de
acesso em igualdade de condição a tudo que a sociedade poderia oferecer. Criou uma
individualidade nas pessoas, transformando-as em agente, responsáveis e autores de
seus sonhos, desejos e democracia. A sociedade aceitou essas promessas como
escolha, para uma nova forma de produção, de consumo, comunicação e assim ela
passou a se identificar com o espírito da l
ivre iniciativa.
Propunha
-se uma melhor qualidade das formas de vida para a pessoa, a
ecologia, a paz, a solidariedade internacional, a igualdade de relações, a
democratização política, a democratização radical da vida pessoal e coletiva, o
alargamento do campo da emancipação via democracia representativa e a democracia
participativa.
Para Boaventura o projeto da modernidade é ambicioso, revolucionário, com
possibilidades muito amplas e, por serem amplas, são excessivas e difíceis de serem
cumpridas (SANTOS, 2003, p. 78). O autor aponta como conseqüência da não
realização desse paradigma o surgimento de sinais evidentes de crise, pois não se
confirmava o brilho prometido da ciência, com soluções privilegiadas para a vida social
e individual.
Bauman defende que os mal-estares da modernidade provinham de uma
espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da
felicidade individual (BAUMAN, 1997, p. 10). Para o autor o sonho foi abandonado e
não realizada a expectativa de suprir as desigualdades sociais geradas, de garantir ao
indivíduo humano possibilidades iguais de acesso a tudo de bom e desejável que a
sociedade pode oferecer (BAUMAN, 1997, p. 195).
Para Helmut Thielen, a crise da modernidade tem sua gravidade na economia
capitali
sta porque se firmou nas características centrais da exploração da mão-
de
-
obra,
na desvinculação da economia capitalista e da sociedade civil. Essa concepção
econômico
-
sócio
-política gerou uma crise de desigualdade social, que causou o
aumento da miséria social, com impacto sobre as questões econômicas, ambientais e
que, por fim, resultou na dependência do chamado Terceiro Mundo (THIELEN, 1998,
P. 19).
Cristián Parker afirma que um desencanto crescente das massas populares
em relação às promessas de salvação secular que provinham da classe política, tanto
tradicional como revolucionária (PARKER, 1996, p. 333).
O não cumprimento das promessas da modernidade tem gerado uma sensação
de perda, de fragmentação, o que levou a um esvaziamento dos grandes rel
atos
produtores de sentido. Hoje já se percebe uma tentativa de volta às questões da
religião, do papel do Estado, da dimensão da emancipação da pessoa e da relação da
natureza com o homem.
1.3. Pós-
modernidade
Na segunda metade século XX acontece
ram
uma serie de transformações que
provoc
aram
um horizonte além da modernidade. Essa fase de transição para muitos se
caracterizaria pela sociedade de informação ou a sociedade de consumo . Esse
contexto apontou para eventos inovadores que ainda hoje fogem ao entendimento
completo e a qualquer controle.
Estaria nestas transformações o surgimento do paradigma da Pós-
modernidade
que segundo Moreira, se baseia no fim das grandes narrativas, também denominadas
de pós
-
modernismo.
Pós
-modernismo é aquilo que teorizado e expresso nas diferentes orientações
científicas e artísticas, constituindo um indicador de práticas mais amplas de uma
cultura pós-moderna, consumo e circulação de bens e práticas culturais. Tais
tendências teriam assumido proporções epocais e de civilização e assinalariam
um movimento em direção à pós
-
modernidade
(MOREIRA, 2004, p. 02).
O certo é que no interior da literatura, das artes plásticas e da arquitetura, se
espalhou o sentimento que passou a definir o movimento da estética e o estilo de vi
da.
Assim o termo pós-modernidade passa a ficar mais marcado pela reformulação de
todas as referências construídas anteriormente pela modernidade. Esse termo, porém
não é consenso entre os teóricos.
Plínio Freire Gomes diz que a vertigem que chamamos de p
ós
-
modenidade está
associada a um duplo fenômeno: o advento da velocidade e a internacionalização das
relações econômicas (GOMES, 2002, p. 01). Este autor defende que esse é um
processo paradoxal situado entre a degradação das idéias da modernidade e as
inovações que estariam em pleno andamento com as novas relações (pessoais,
mercadológica, cultural, religiosa). Essas transformações têm contagiado inúmeras
tradições artistas, culturais e intelectuais.
Giddens chega a defender que não basta inventar novos termos, como pós-
modernidade e o resto (GIDDENS, 1991, p. 11).
Para ele a
sociedade ainda não entrou
na pós-
modernidade,
sendo
que a modernidade está se radicalizando. Afirma que a
sociedade está vivendo uma fase de radicalização, provocada pelo declínio da
hegemonia européia, que facilitou a criação de civilizações regionalizadas em outras
partes do mundo.
O termo pós-modernidade é, assim fruto do desenvolvimento administrativo,
industrial, da complexidade política e econômica. O termo seria resultado da dificuldade
das ciências sociais em mapear o universo cultural da desintegração do mundo
tradicional (MOREIRA, 2004, p. 01).
Os diversos autores, mesmo não concordando com o termo pós-
modernidade,
apontam que as mudanças provocadas pelos desenvolvimentos acontecidos nos
últimos anos apresentam conseqüências, como o surgimento de novas organizações
sociais divergentes das criadas pelas ins
tituições modernas.
Na falta de consenso sobre o que está acontecendo com a modernidade, a pós-
modernidade, ou modernidade tardia, alguns
autores
preferem denominar esse
momento de A nova cultura ou cultura atual . O certo é que é necessário considerar
que estas questões fazem parte do dia-a-dia e que também são fruto da ampliação
sofrida pelo mundo, agora
entendida
global
mente
.
1.4
. Globalização
Não há como negar que o desenvolvimento tecnológico é um dos grandes
contribuidores para que o mundo fosse compreendido para além do continente
europeu. Começando pelas navegações mercantilistas, passando pela Revolução
In
dustrial até as infinitas possibilidades atuais da comunicação. Todos esses aspectos
tiveram um papel definitivo na forma de ver e se relacionar dos diferentes países. Nos
últimos vinte e cinco anos, acumularam
-
se mais conhecimentos tecnológicos do que em
toda a história da humanidade (DOWBOR, 2000, p. 10).
Dadas as transformações geo-
hi
stóricas em curso no século XX, são bastante
evidentes os desenvolvimentos da transnacionalização, mundialização ou, mais
propriamente, globalização. São transformações que não só atravessam a nação
e região, como conformam uma realidade geo-histórica de envergadura global
(IANNI, 2000, p. 17).
Otavio
Ianni afirma que a visão do mundo passa ser compreendida por várias
metáfo
ras que se combinam entre si:
Economia
-mundo , sistema-mundo , Shopping center global , Disneylândia
global , nova visão internacional do trabalho , moeda global , capitalismo
global , mundo sem fronteiras , tecnocosmo , planeta Terra , desterritorização ,
miniaturização , hegemonia global , fim da geografia , fim da história
e outras
mais
(IANNI, 2000, p. 16).
Para o autor cada uma dessas visões possui um ângulo de argumentação e
análises que priorizam os aspectos econômicos, político, geográfico, histórico, cultural,
religioso, lingüística entre outras. Na perspectiva de Ianni não se pode negar a
existência da formação de uma comunidade mundial com várias possibilidades
diferentes e com instrumentos diversos de comunicação eletrônica avançada (IANNI,
2000, p. 16). Essas tecnologias permitem que se desloque de um ponto a outro com
muita facilidade. Esse cenário de mudanças sobre a visão do mundo é que vai
possibilitar o surgimento do paradigma da globalização.
Segundo
Aldaíza Sposati a globalização é um processo de reforço do
mecanismo de elitização de um lado e da apartação de outro (SPOSATI, 2000. p. 44).
A autora defende que a globalização não é um processo que surge por causa da
modernidade ou pós-queda do muro de Berlim mas um processo que se iniciou com a
cristianização da socieda
de.
O sonho de um mundo sem fronteira, unificado na
comunidade de classes trabalhadoras, encontrou eco no pensamento socialista. Rosa
de Luxemburgo, Trotsky e o próprio Marx, enxergavam um mundo socialista
(SPOSATI, 2000. p. 44).
Sposati
afirma que
o
que acontece é que antes os conquistadores não poder
iam
contar com toda a agilidade da comunicação por vias virtuais que hoje existem e que,
por isso mesmo
,
o processo
agora
é muito mais complexo, mais ágil e eficiente.
A globalização passou a ser um paradigma recorrente para o entendimento da
modernidade
, se tornando referência para as questões econômicas, culturais, sociais e
religiosas. Enzo Pace conceitua a globalização como processo objetivo de progressiva
independência nas diferentes sociedades humanas espalhadas pelo planeta (PACE,
1999, p. 25).
Para melhor entender as características da globalização será feita a seguir uma
breve abordagem de dois aspectos que a caracteriza:
o
primeiro relacionado com as
questões econômicas e sociais e o segundo, c
om as questões culturais e simbólicas.
No tocante aos aspectos econômicos e sociais, a globalização pode ser vista
também
como produção, distribuição de bens e de serviços, na perspectiva da
expansão da economia de mercado e do consumo. É a possibilidade d
e
o capital se
expa
ndir e se acumular. Uma das características desta globalização mercadológica
seria o surgimento de uma massa popular consumidora sensível a mensagens globais
(MOREIRA, 1996. P. 2).
A globalização se pautaria então, em uma unidade planetária a partir das
questões econômicas direcionadas ao mercado de consumo. O mercado capitalista
funciona sobre as bases de seu próprio ritual sacrificial, com suas próprias vítimas,
imoladas aos deuses do mercado, ritual operado pelos novos sacerdotes do templo-
mercado e legitimados pelos novos sábios e profetas do mercado e da sociedade de
consumo (PARKER, 1996, p. 341).
O aspecto econômico, com a globalização, ganha relevância especialmente com
o aumento das grandes corporações, com transnacionalização do capital: toda
economia nacional, seja qual for, torna-se província da economia global (IANNI, 2000,
p. 18).
Dentro da idéia da globalização um dos pilares de sua sustentação
é
a visão da
economia global, que Octavio Ianni apontou da seguinte for
ma:
Além das mercadorias convencionais, empacotam e vendem-se as informações.
Estas são fabricadas como mercadorias e comercializadas em escala mundial.
As informações e entretenimento e as idéias são produzidos, comercializados e
consumidos como mercadori
as
(IANNI, 2000, p. 16).
No
s aspectos culturais e simbólicos está fala se de indústria cultural
1
, que
revive, as fantasias simbólicas e rituais da magia e do mistério,
qu
e passam a funcionar
para a lógica da troca. A globalização está relacionada também com as questões
culturais
e simbólicas que interferem na identidade e no modo de ser dos diferentes
povos.
Esse processo é reforçado com a concentração e fusão de empresas e capitais
que oferecem informação, entretenimento, atividades culturais, música, cinema, shows,
revista, esporte e lazer. A globalização, com esses instrumentos, faz uma aproximação
das fronteiras, dos sistemas simbólicos e leva à homogeneização dos gostos e
comportamentos (MOREIRA, 1996, P. 5).
Como resultado dessa visão ampliou-se o contato com outras culturas e a
difusão de bens culturais e ideológicos, com a criação de marcas mundiais e estilos de
vida. Essas novidades
são
fruto do desenvolvimento e dos avanços tecnológicos
recentes, que ampli
aram
e mundializ
aram
a economia e a cultura. A globalização
possibilitou uma consciência global, planetária, nos indivíduos e nas sociedades do
mundo
.
1
- A conceituação de Industria Cultural é usada aqui para entender como se dão as novas relações
mediadas pela produção desenvolvida pela publicidade a mídia, impressa e eletrônica, misturada com
jornais, revistas, livros, programas de rádio, emissões de televisão, videoclipe, fax, redes de
computadores e outros meios de comunicação, informação (IANNI, 2000, p. 19
).
Assim consolida-se a sensação de que todos fazem parte de um mesmo globo e
de uma sociedade civil planetária, que se caracteriza pela ultramodernidade que faz
surgi
r
um conjunto de não lugares (o metrô, os aeroportos, grandes centros comerciais)
da multiplicação das zonas francas, nas quais diferentes culturas se encontram.
Aparecem novos lugares simbólicos, onde cada um pode consumir coisas de di
versos
lu
gares e significados.
A globalização, segundo Octavio Ianni, tem sido vista como abertura de
fronteiras e geração de espaço comum e que, assim, o planeta se encolheu e qualquer
pessoa ou lugar pode ser alcançado através do teclado do telefone, da televisão ou do
computador (IANNI, 2000, p. 07).
Desse modo a globalização trouxe consigo algumas conseqüências tais como o
crescente processo de desculturalização, que leva à perda de identidade cultural e da
capacidade de identificação simbólica com coisas e lugares. É essa identificação que
faz com que a pessoa se sinta diferente do outro,
através da qual
ela pode vir a negar a
si ou se to
rnar o outro
.
A globalização é um processo de decomposição e recomposição da identidade
individual e coletiva que fragiliza os limites simbólicos dos sistemas de crença e
pertencimento. A conseqüência é o aparecimento de uma dupla tendência: ou a
abertura
à mestiçagem cultural ou o refúgio em universos simbólicos que
permitem continuar imaginando unida, co
erente e compacta uma realidade social
profundamente diferenciada e fragmentada
(PACE. 1999, p. 32).
Pace diz que o paradigma da globalização possibilita entender como se dão os
processos de dominação de uma sociedade sobre as outras. Seria uma nova forma de
colonização moderna das consciências, imposta pelos modelos das sociedades
dominantes.
Todos esses fatores juntos devem ser levados em conta para compreender como
se dão as
influ
ên
cias no modo das pessoas se organizarem
em
sociedade
na
busca da
reali
zação das promessas da modernidade e também para
se
situar frente à pós-
modernidade ou modernidade tardia.
1.5
. Fim da
h
istória
e crise das utopias
Boaventura diz que a sociedade liberal moderna defrontou-
se
com alguns
problemas fundamentais e que, entre eles, se nota a oposição feita pelos movimento
s
social
ista e comunista.
A sociedade moderna não só acabou por neutralizar esta oposição como
resolveu todos os grandes problemas que lhes foram postos. Por esse motivo é
legítimo admitir que estamos perante o fim da história, uma posição a que
Fukuyama (1992) deu recentemente grande notoriedade (SANTOS, 2003, p.
284).
A expressão O fim da história surgiu com artigo escrito pelo Francês Fukuyama
em 1992, e depois foi aprofundada no livro El fin de la história e el último hombre . A
sua pergunta principal é se existe uma direção na história do homem? Segundo ele a
sociedade atual vive sobre duas lógicas: a lógica da ciência moderna, que apresenta
um amplo horizonte de desejo, oferecido através do processo econômico, e a lógica da
luta por reconhecimento, que também perpassa a sociedade e que segundo Fukuyama
é o motor da história.
Fukuyama defende que a democracia liberal poderia pôr um ponto final na
evolução histórica da humanidade e isso é o que marcaria o Fim da História . Alerta o
autor para não se confundir Fim da História com sucessão de fatos e acontecimentos,
mas tomar a história como um processo único, evolutivo e coerente das experiências de
todos os povos em todos os tempos (FUKUYAMA, 1998
, p. 11).
Isso não significaria que o ciclo natural de nascimento, vida e morte chegavam
ao fim, ou que acabariam os acontecimentos importantes. Significava que não haveria
mais novos processos no desenvolvimento dos princípios e instituições subjacentes,
porque todos os problemas realmente cruciais haveriam sido resolvidos (FUKUYAMA,
1998, p. 13). Assim, segundo Fukuyama, tem sentido falar de uma história direcional,
orientada e coerente por duas razões: uma econômica e outra pela luta por
reconhecimento
(FUKUYAMA, 1998, p. 13).
Desta maneira a pós-modernidade teria surgido porque a sociedade vive uma
crise de utopias que alguns chamam de crise civilizatória. Essa crise seria moral e ética
e diria respeito ao modelo de pessoa se que busca.
A crise repercutiria nas pessoas, nas instituições e provocaria o
desencantamento. No campo político essa situação de crise causa uma apatia política,
de distanciamento entre eleitores e eleitos, com progressiva repressão da sociedade
sobre o pensamento político e da mar
ginalização dos políticos em relação aos eleitores.
Resulta disso, segundo Boaventura, uma patologia da participação, através do
conformismo e do abstencionismo (SANTOS, 2003, p. 22).
A
lgumas
características da crise de utopias podem ser notadas na
s
s
egu
intes
questões:
econômicas, políticas, geográficas, culturais e no imediatismo.
Quanto
à questão econômica, a expansão extensiva do mercado e do consumo,
que converte os bens da natureza em produto e que leva á progressiva acumulação de
capital. Esses produtos são oferecidos para o consumo, gera
ndo
uma mecanização da
vida dos bens e serviços e provoca
ndo
novas relações sociais, mundiais e a perda das
classes em sua capacidade de negociar com o capital e com o Estado.
O
Estado tem perdido a vontade e a capacidade de regular a produção social.
P
ercebe
-se uma crescente deslegitimação das lutas, o aumento da diversidade
conflitiva, o não acreditar na possibilidade de lutar para mudar a realidade
.
A ampliação do mundo o tornou uma aldeia global . Cada vez mais a
globalização econômica separa e diferencia o centro, a semiperiferia e a periferia
global. Há uma constante mobilidade e transnacionalização através das ciências, do
turismo, dos refugiados, das migrações e das
empresas
multinacionais.
Essa situação faz com que os Estados nacionais percam o controle do seu
próprio território, surg
indo
assim, algo parecido com o desenraizamento, como uma
conseqüência da globalização, favorecendo a perda das imagens estáveis do mundo e
de sua tradição cultural
.
Aparecem novas interações globais, com a perda das fronteiras que leva ao
surgimento de novos costumes, de novas linguagens e ideologias. Existe um crescente
desabrochar de novas identidades regionais e locais, com a valorização das raízes, de
novos territórios simbólicos e imaginários entre o real e o hiper-real. Valoriza-se a
particularização do gosto.
O pensamento de Fukuyama, sobre o Fim da História , junta se ao mecanismo
da provisoriedade e do imediatismo, que teria levado a humanidade à sugestão de que
tudo
agora é permitido. O que importa é viver aqui e agora.
A sociedade passa a viver sob a busca do desejo e do reconhecimento, que é
um elemento do neoliberalismo e se tornou o motor da história, interferindo na cultura,
na religião, no trabalho, no naciona
lismo e nas guerras.
Assim as conseqüências da pós-modernidade podem ser sentidas no individuo e
na sociedade. No que diz respeito às influência sobre os indivíduos a pós-
modernidade
traz um novo horizonte que se baseia na especialização progressiva, do c
onhecimento
da subjetividade com o surgimento de uma nova faceta das questões da liberdade.
Ser livre, ser sujeito, ser humano são considerados sinônimos dentro dessa nova
cosmo
-visão. Afirma-se o valor absoluto da subjetividade
2
, ou seja, a
autoconsciênc
ia como critério ultimo e supremo do bom, do belo e do verdadeiro
(MOREIRA, sd, p. 2).
Cada pessoa enquanto sujeito vive uma realidade de múltiplos sujeitos.
Todos nós, cada um de nos é uma rede de sujeitos em que se combinam
rias
subjetividades correspondentes às várias formas de poder que circularam na
sociedade. Somos arquipélagos de subjetividades que se combinam
diferentemente sob múltiplas circunstancias pessoais e coletivas (SANTOS,
2003, p. 107).
A pessoa é colocada sob o domínio da expectativa constante do futuro
e
com
isso
, uma curiosidade pela experimentação e pela busca dos limites, que gera
a
crise de sentido das sociedades avançadas (MOREIRA, sd, p. 2).
na sociedade, criam-se novos padrões de transformação social e aparecem
as novas agências de publicidade, que vão produzir a nova religião, posta a partir da
2
-
A
subjetividade envolve
à
s idéias de auto
-
reflexibilidade e de
a
uto
-
responsabilidade, a materialidade
do corpo e as particularidades potencialmente infinitas que conferem cunho próprio e único à
personalidade (SANTOS. P. 240)
imposição de um sentir e desejar.
Assim
, tudo se torna mais próximo, e as populações
se encavalam nos espaços urbanos e o precipício econômico e social entre estas
populações aum
enta rapidamente (DOWBOR, 2000, p. 11).
2
. A RELIGIÃO NA PÓS
-MODERNIDADE
Interessa
às Ciências da Religião entender os sistemas simbólicos que dão
sentido à existência da pessoa e a forma como se articulam nas estruturas sociais. A
religião é a ligação que une céu e terra. É uma estrutura simbólica que se preocupa em
dar sentido à existência humana, baseada
num
sistema de crenças e comportamentos
,
que representam os valores e os ideais sociais. Ela dita a maneira de ser no mundo,
interpretando a história
, o tempo, o espaço, a natureza (SCHIAVO, 2004, p. 73).
Para Durkheim todas as religiões são legítimas (
verdadeiras
) em sua forma e
buscam
responde
r à
s
condições humanas
.
Buscam e servem para manifestar a
natureza da vida religiosa. Existem para responder às condições humanas e às
necessidades do homem (DURKHEIM, 1986, p. 31)
.
É necessária para oferecer
explicação e regulação daquilo que é excepcional e anormal nas coisas, tendo como
tarefa essencial manter o curso normal da vida. C
umpre
a
função de orientar as
relações
com o sobrenatural, com o mistério, o incompreensível, do que não acontece
no mundo ordinário. Faz parte da especulação, do que escapa
á
ciência e pede uma
explicação.
A religião faz parte do germe da humanidade e atua enquanto elemento de
coesão social. Pertence a um grupo e se torna fator social, para dar uma ordem entre o
mundo natural e o sobrenatural, o profano e o sagrado. No
conceito
apresentado por
Durkheim
, a religião é resultado das relações sociais. São representações coletivas
que exprimem realidades coletivas. Seriam coisas sociais, produtos do pensamento
coletivo
(DURKHEIM, 1989, p.38)
.
2
.1.
O
sagrado
e sua função social
Durkheim faz uma relação entre a
religião
e a
sociedade
para dizer que, da
mesma forma como a religião co
nsagra as coisas, a sociedade exerce sobre a pessoa o
mesmo efeito
.
Para ele os conceitos de religião e de sociedade estão intrínsecos e
presente
s nas consciências individuais, na forma de o homem se organizar e consagrar
as coisas, principalmente as idéia
s.
A sociedade tem tudo o que é preciso para despertar o espírito do homem e por
isso ela exerce poder sobre os que a ela pertencem. A sociedade causa uma
sensação de poder divino, de ser superior aos homens. Desta forma, para os
homens a sociedade é superior a eles mesmos e de quem acreditam depender
(DURKHEIM, 1989, p.260).
Aquele que acredita na sociedade se obrigado a agir de determinadas
maneiras que lhes são impostas, por causa da sua natureza, dos princípios que lhes
são sagrados e com os quais se sente em relação. A sociedade exige que as pessoas
se esqueçam de si, de seus interesses, e que cada um se torne seu servidor. Impõe
toda espécie de incômodos, de privações e de sacrifícios sem os quais a vida social
seria impossível e é por esse motivo que a cada instante as pessoas se em
obrigad
as a se submeter a regras de comportamento e de pensamento. A submissão à
sociedade se a partir da lógica do respeito moral e da forma de autoridade que ela
cria sobre a pessoa (DURKHEIM, 1989, p.261).
As
sim, a sociedade é para o homem como um deus, é uma autoridade da qual
as pessoas dependem. Assim como consagra os homens, a sociedade também
consagra as coisas, principalmente as idéias (DURKHEIM, 1989, p.268).
Bourdieu
afirma que a religião funciona como princípio de estruturação que
constrói
as formas das relações sagradas para dizer como se devem comportar as
pessoas no mundo natural e no mundo social. No conceito deste autor, a religião é
capaz de converter o
ethos
humano
num
sistema de comportamento que regula e
legitima as forças materiais
,
simbólicas que estruturam as classes e grupos sociais.
Este autor defende que o homem tem necessidade de viver em
nomia
. O
homem precisa situar-se em uma perspectiva. Precisa reunir meio para integrar-
se
num
sistema coerente. Isso para perceber-se e ser percebido. Para isso busca uma religião
que possa servir de instrumento para dar sentido à sua existência. Dentro destes
instrumentos ele recorre a mitos para estruturar o seu mundo, suas funções sociais e
econô
micas (BOURDIEU, 2004, p. 28).
O sistema simbólico da religião permite ao homem organizar o mundo natural e
social dentro da classe a que pertence e torna
-
se visível na arte, na política e em outros
veículos de poder que diferencia e legitima as contradições sociais. Ele tem como
função a conservação da ordem social e a legitimação dos domínios domésticos sobre
os dominados. Por isso a religião organiza e se especializa em seu trabalho para que,
investida de poder, cumpra a sua função social e política em f
avor de diferentes classes
sociais.
Essa função tem sucesso, pois a religião possui uma forte virtude de eficácia
simbólica (BOURDIEU, 2004, p. 33).
A religião está disposta a assumir função ideológica e prática política
de
absolutiza
r o relativo e legitima
r
o arbitrário assegurando e legitimando tudo o que
define socialmente este grupo ou classe na medida em que ele (grupo ou classe) ocupa
uma posição determinada na estrutura social.
A legitimação acontece através de duas modalidades: primeiro, através de
sanções santificantes e o segund
o,
quando inculca nas pessoas ou grupos um sistema
de práticas e representações consagradas. Esta modalidade de legitimação se
via
reprodução das estruturas de relações econômicas, sociais, na contribuição para o
reforço
de suas sanções de limites e barreiras, impostos por um tipo determinado de
condições materiais de existência. Surge em função de interesses religiosos ligados às
posições na estrutura social de um grupo ou classe, determinando a prática e a crença
religi
osas através da produção, reprodução, difusão de consumo de determinado bem
de salvação e da função de reforço do poder de legitimação do arbitrário, contido na
religião com sua força material e simbólica (BOU
R
DIEU,
2004
, p.
46
).
Para Bourdieu a religião cumpre funções sociais conforme esperam os leigos
para a justificação do existir, do livrar-se das angústias, da solidão, da miséria, da
doença, dos sofrimentos e da morte. Eles esperam que a religião forneça justificações
para o existir em uma determinada função social, com todas as propriedades que lhes
são inerentes (BOU
R
DIEU,
2004
, p.
49
)
.
Será mais eficaz e terá sucesso a religião quando conseguir satisfazer aos
interesses religiosos, aos grupos de leigos e se exercer o efeito simbólico, ou seja
,
capa
z de mobilização.
2.2
.
A religião no
mundo globalizado e pós
-
moderno
Com o advento da modernidade as pessoas deixaram de viver
num
mundo
orientado pela visão do sagrado, como produtor único do sentido da existência humana
e da ordem das coisas. O homem se sente emancipado para a possibilidade e a
liberdade de imaginar, refletir e explicar a sua existência para além da e também da
ciência.
Essas mudanças levaram o homem a se desvincular racionalmente da
subjetividade do mundo mágico e encantado. O resultado é que o homem vive sobre a
orientação de um outro tipo de sagrado.
O desencantamento possibilitou o surgimento da modernidade, produziu uma
nova ordem social que levou à perda da cosmo
-
visão produtora de sentido e unificação.
A sociedade se sente confusa frente a esse desencantamento, pois a atual cultura, as
novas tecnologias, o mercado econômico e a política universal não conseguem
explicar, dar respostas seguranças a todas as perguntas.
Frente à perda de uma cosmo-visão religiosa unificadora, o individuo se sentiu
mais livre das prisões ambientais e foi chamado a fazer a sua própria liberdade
responsável. A autonomia do sujeito, o pluralismo cultural e o funcionalismo
homogeneizado das práticas sociais de produção e organização coletiva são os
fenômenos característicos desta sociedade moderna que parece instalar-se em
seu dinamismo planetário na totalidade das sociedades
(MARDONES,
1998,
p.
135).
Para Sérgio Sauer, o desencantamento do mundo se deu por meio da diminuição
do poder do sagrado, e teve como conseqüência a liberação do potencial da
racionalidade na ação comunicativa, em que a linguagem passou assumir uma forma
mais racional na função social da religião, dos processos de interação societal e
construção do consenso (SAUER, 2003, p. 5
9).
Faustino Teixeira diz que no final do século passado foi possível testemunhar a
dissolução de substanciais narrativas e utopias que guarneciam de sentido a vida de
inúmeras pessoas. Para ele, a perda de referenciais de sentido deixou os indivíduos
des
protegidos diante de ameaças globais cada vez mais intensificadas (TEIXEIRA,
2005, p. 01).
Assim
, segundo ele, a crise das grandes narrativas são chaves para entender e
compreender a situação da religião no mundo pós-moderno e globalizado. Como fica a
re
ligião neste novo cenário? Mesmo que a religião não seja mais a única fornecedora
das imagens estáve
is
do mundo, com sua autoridade reconhecida de geração em
geração, na pós-
modernidade
ela
vem ganhado força, pois os indivíduos estão à
procura do sentido e da emoção que a religião é capaz de oferecer, o contrário do
que
defendia
m
os modernos sobre a Morte de Deus.
No novo contexto da cultura pós
-
moderna há uma surpreendente abertura para o
transcendente e o sagrado, Jorge Boran afirma que está surgindo uma nova
consciência de que o mistério e a transcendência são realidades profundas na vida
humana. Estudos em diferentes países mostram que uma reanimação mundial da
religião, especialmente nos países em desenvolvimento
(BORAN, 2005, p. 09).
A re
ligião
,
porém, vive um momento de perda do controle institucional, pois os
indivíduos tomaram-na como algo de sua
gestão
e da sua livre iniciativa. Assim a
pessoa passa a buscar e ter novas fontes de imaginação simbólica, fazendo surgir uma
religião pessoal com
no
vas sensibilidades e roupagem e
sem
a preocupação com os
pudores e ocultações
impostas pelas autoridades do sagrado
.
Boran afirma que se trata
agora de uma religião mais privada, sem preocupação pelas necessidades dos outros
(BORAN, 2005, p. 09).
A pós-modernidade possibilita que a pessoa sinta-se livre para beber em
diferentes expressões religiosas, criando um terreno fértil para o transitar em diferentes
modelos. Surge assim a idéia do Word-religião
,
que se alimenta de todos os
movimentos que reinventam uma tradição, que interpretam os símbolos de um
patrimônio ou vários para construir assim a sua identidade.
Posso sentir-me um fervoroso católico freqüentando um grupo pentecostal
marginal, no fundo a Igreja Católica oficial, aproximar-se da ioga e descobrir a
mensagem do asceta Sai Baba, peregrinar até a Índia aproximar-se dele e na
volta fundar um círculo de seguidores do guru indiano para freqüentá-lo nos
domingos à tarde depois de ter ido à missa pela manhã e ter invocado os
carismas do Espírito no
sábado anterior pela tarde
(PACE1999. p. 34).
Essa tendência seria causada pela necessidade do
homem
de
moderno
se sentir
mais adaptado para
entrar em um mundo de segurança, de se sentir protegido sem
abrir mão da modernidade técni
co
-econômica, com os valores da quietude interior, da
orientação moral e espiritual da religiosidade tradicional que pede à religião a
benç
ão
para todo seu agir
(MARDONES,
1998.
p.
125)
2
.3.
Desafios para a religião no
novo
cenário
A religião neste novo cenário pós-moderno terá que enfrentar alguns desafios,
entre eles ser
ão
apontados aqui quatro: revisão do seu papel, enfrentamento do
tradicionalismo e do fundamentalismo, o reencantar-se em um mundo globalizado e
adequar
-
se
à
s novas demandas pós
-
modernas.
Quanto à revisão do seu papel na sociedade pós-moderna a religião terá que se
rever uma vez que a globalização coloca no horizonte da religião características de
predo
minância neoliberal
3
de cunho econômico, cultural, pois
nesta
perspe
ctiva
a
religião também se pergunta como
ser protagonista nesta nova realidade globalizada?
Para Mardones um outro desafio para a religião será enfrentar a tendência do
crescimento da religiosidade tradicional que vem se
junta
ndo com
o
fundamentalismo,
dando ênfase à tradição e aos modos tradicionais de sentir e de viver a religião.
Esse
fenômeno vem ocorrendo não na religião mas também na sociedade, sendo essa
uma característica da modernidade tardia em que te
êxito
a religiosidade
fundamentalista
, a exemplo do protestantismo latino america
no
, o pentecostalismo
africano, coreano
e
o fundamentalismo islâmico (MARDONES,
1998,
p.
123)
.
O reencantamento ainda se reveste do sagrado. O sagrado deixou
ser
propriedade somente dos redutos eclesiais e passeia livremente por todos os aspectos
sociais e culturais. Não existe um lugar na sociedade onde não se encontra a sua
presença. O sagrado foi apossado pela
cultura,
pela
política,
a
ciência,
o
sexo,
a a
rte,
o
esporte. Tudo tem um cheiro de aromas litúrgicos, gestos sacralizados
(MARDONES,
1998,
p.
1
40).
Mardones aponta para a necessidade de uma religião capaz de proporcionar
uma experiência profunda do sagrado, com a proteção divina, com adultez e
independência na tarefa de afrontar situações e dimensões do mistério
(MARDONES,
1998. p.
143)
.
3
- Está ligado à idéia do liberalismo, que surgiu na segunda metade do século XVIII, que parte do
individuo afim de resgatar a identidade e, a autonomia pessoal, a identidade e a que assumiu a lei do
laissez
-f
ai
re laissez
-
passer, como principio de sua concepção econômica. O neoliberalismo est
á
centrado
na prática do mercado livre (MESQUITA, 1998. p. 46).
A partir desta perspectiva teria a religião que definir se irá se adequar à pós-
modernidade, com seus aspectos neoliberais, aliando-se ao desenvolvimento
tecnológico, cedendo ao fascínio e à promessa de melhora material e de consumo,
criando, a
ssim,
novos sentidos
e
orient
ações para o sagrado
.
As tendências de adequação
são
tidas por alguns como a possibilidade de auto
proteção da religião frente à
pós
-modernidade para sentir-se segura, protegida,
dinâmica frente aos desafios
,
sobressaltos do contexto e da cultura
.
O mundo globalizado estaria forçando a religião a ficar mais difusa, eclética,
bebendo de várias fontes, buscando se adaptar e responder às pessoas preocupadas
com saúde, desequilíbrio psíquico, ameaça à biosfera, t
orna
ndo
-se uma espécie de
colagem religiosa: sagrado, energia misteriosa, consciência cósmica, vida universal,
que abraça e engloba o cosmo-
bio
-
psico
-divino. Esta religiosidade é uma saída às
necessidades religiosa do individuo do neoliberalismo e da globalização.
Não se pode esquecer que a religião é uma espécie de manto protetor que dá
segurança e sentido frente ao mundo cheio de ameaças. Para isso ela se respalda nos
seus símbolos e ritos atuando como um contrapeso
ao mercado flutuante,
à
impotência
do estado e
a
os traumas da modernidade
(MARDONES,
1998,
p.
128)
.
CAPITULO II
A JUVENTUDE FRENTE A INFLUENCIA DA ATUAL
CULTURA
1. DEFINIÇÕES DE JUVENTUDE
Ao abordar a temática da juventude nada melhor do que entrar no mundo dos
jovens sem cair nos preconceitos ou reforçar idéias do senso comum. Exige também
um olhar atento para evitar a ingenuidade de vê-los como culpados do contexto de um
mundo pós-moderno e globalizado, para não responsabilizá-los e
lhes
dar o papel de
únicos responsáveis pelas mudanças e transformações necessárias na so
ciedade.
Falar de juventude exige ter uma abordagem conceitual para além do estado de
espírito, de ânimo, energia e força.
1.1. Polissemia conceitual
A juventude tem sido marcada na sociedade por diferentes visões conceituais. É
considerada, por muitos, como sendo o momento primordial para as relações da vida
46
grupal, da relação entre seus iguais e das experiências que interferem nos resultados
de buscas, encontros, desencontros, inseguranças, curiosidades, medos, confusões,
indefinições, mudanças, crises
e crescimentos.
Poucos o os que defendem que a juventude seja uma fase em que se tem
permissão para viver com mais intensidade os questionamentos, discernimentos,
entendimentos, sonhos. No geral cobra
-
se da juventude uma postura de compromisso e
respons
abilidade. Na verdade todas as visões conceituais vêm carregadas de valores e
características da categoria social que a define. O que está em jogo é como cada grupo
(instituições) deseja garantir que a juventude seja.
Por esses motivos conceituar a juventude é um desafio, pois seu entendimento
passa por uma situação polissêmica. Assim, para melhor entender essa questão será
trabalhado o conceito de juventude a partir dos seguintes aspectos: biológico,
antropológico, sociológico e psicológico. Essas abordagens conceituais se fazem
necessárias para entender essa fase intermediária entre a infância e a vida adulta.
Também porque tal período etário necessita de olhares para além do tempo marcado
por mudanças físicas do corpo humano.
Biologicamente
a definição de juventude está marcada pela questão das
transformações no corpo, que está deixando de ser infantil e se constituindo como um
corpo que se tornará adulto. Essas mudanças corporais nem sempre são enfrentadas
com tranqüilidade pelos jovens. Elas vêm acompanhadas de reflexões pessoais que
interferem na construção de sua identidade.
Acontecem nesta fase as alterações hormonais que passam a influenciar
psicologicamente e de maneira drástica a pessoa do jovem. É comum, hoje, a
constatação de que as questões de alimentação, de comportamento social e a
47
qualidade de vida afetiva também interferem no amadurecimento e no prolongamento
da juventude.
A juventude é marcada centralmente por processos de desenvolvimento, da sua
breve passagem da infância para a maturidade, com a tarefa exclusiva de preparação
para a vida adulta. Biologicamente, está precedida pela puberdade e pela adolescência.
Na juventude estão conformadas as transformações anatômicas e fisiológicas que
devem ocorrer na adolescência. É na juventude que se consolidam os processos
biológicos e psicossociais (BORREGO, 2005, p. 07).
Psicologicamente
não são todas as correntes que falam de juventude. Para a
grande maioria o que existe é a adolescência. A conceituação de juventude na
perspectiva da psicologia porém contribui para se perceber que não são somente os
aspectos biológicos que interferem na pessoa que vive esse período. A sua vivência e
emoções também vão influenciar na construção de sua identidade.
A psicologia entende que os adolescentes necessitam vencer três lutos: o luto
pela perda do corpo infantil, tendo que se adaptar a um novo corpo e com a maneira de
lidar com ele e também com a forma como as pessoas os observam; o luto pela perda
dos pais da infância: os que antes tinham todo um modo especial de lidar e de cuidar,
agora repreendem e exigem uma adaptação à condição de alguém que não é mais
criança e, ainda, lidar com a morte do mito das figuras paterna e materna, que deixam
de ser herói/heroína para revelarem os limites e fragilidades; e o luto pela perda da
identidade infantil, pois têm que enfrentar as suas próprias crises e dar rumos aos seus
atos e história (ABERASTURY, 1981, p. 71).
Passada a etapa descrita acima vem a juventude, tida psicologicamente como
momento de descoberta de valores culturais e espirituais. É o tempo dado para as
48
pessoas viverem e acomodar as crises de reforma ou de inquietação pessoal, social,
familiar e religiosa.
Maria Alice Foracchi é uma pioneira no Brasil que buscou conceituar a juventude.
Ela concebe a juventude como fase da vida em que a pessoa é portadora de força
renovadora, que motiva os jovens a construírem novidades e enfrentarem desafios:
A juventude é uma fase da vida, uma força social renovadora e um estilo de
existência, se concebermos como uma etapa que antecede a maturidade e que
apresenta características singulares, notaremos que ela corresponde a um
momento definitivo da descoberta da vida e da história, é a fase dramática do eu
(FORACCHI, 1977, p. 302).
Sociologicamente
a conceituação da juventude leva em conta que os jovens
enfrentam o desafio de se adaptarem a um mundo totalmente diferente do que haviam
enfrentado até então na infância. Vêem-se obrigados a uma inserção social complexa,
que lhes traz novas significações e questões para as quais os jovens ainda não têm
respostas integralmente formuladas. Sua identidade social ainda está em conformação.
As preocupações estão voltadas mais para a experimentação intensa em diferentes
esferas que se apresentam em seu horizonte
.
Por essas razões, para que se conceitue sociologicamente a juventude é
necessário entendê-la dentro de um contexto no qual os jovens estão inseridos. É
preciso considerar que nem todos passam pelas mesmas experimentações da
realidade. diferenciações que interferem no seu modo de
se
situar e de se
comportar. Por isso é preciso aprofundar, verificar e identificar a realidade e como esta
interfere no momento
em que os jovens estão
vivendo.
49
Segundo o Projeto Juventude
4
, a conceituação de juventude passa pela condição
e o contexto atual em que vivem os jovens no Brasil. Esta condição é dada pelo fato de
os jovens estarem vivendo um período específico do ciclo da vida, em um dado
momento cultural, histórico.
Sociologicamente a juventude pode ser entendida então para além do
período
correspondente ao tempo em que se completa as formações físicas, intelectuais,
psíquicas, sociais e culturais, em que os jovens se encontram, pois são nelas que se
tecem suas redes simbólicas e criam suas organizações. Por esse motivo entende-
se
qu
e a juventude não é homogênea, não é uniforme.
É na etapa da juventude que se processa a passagem da condição de
dependência que os jovens têm em relação a sua família original, para que tenham
autonomia. É quando a pessoa torna-se capaz de produzir (trabalhar), reproduzir-
se
(ter filhos e criá-los), manter-se e promover-se a outros, participar plenamente da vida
social com direitos e responsabilidades (JUVENTUDE, 2004, p. 10).
Essa fase da vida vem marcada por ambigüidades e contradições quando os
jovens, ao se defrontarem com a realidade, passam a questionar, desejar e
experimentar mudanças que os adultos nem sempre estão dispostos a negociar. Por
causa disso os jovens contemporâneos vivem uma constante tensão entre a busca de
emancipação pessoal e a subordinação aos ditames da sociedade de consumo e das
imagens da juventude veiculadas pela mídia (JUVENTUDE, 2004, p. 12).
Essa mudança de lugar, porém, nem sempre significa autonomia e emancipação
que os faça se sentirem incluídos. Segundo Libânio, essa diferença entre jovens e
4
- O Projeto Juventude resultou em um documento elaborado em 2004 pelo Instituto Cidadania e
apresentado para o Governo Federal como fonte documental para a proposta de criação da Secretaria
Nacional de Juventude.
50
adultos é mais marcada nas sociedades tradicionais (LIBÂNIO, 2004, p. 13). Esse
aspecto fica mais confuso na atual realidade, marcada pela cultura pós-
moderna.
Muitos autores se recusam a conceituar a juventude a partir do recorte etário, e
preferem falar a partir dos aspectos sociológicos e econômicos. Para Novaes no
entanto, esses limites de idades não são fixos. Para os que não têm direito à infância, a
juventude começa mais cedo
5
(NOVAES, 2002, p. 121).
É lugar comum começar a falar de juventude lembrando que esse é um conceito
construído historicamente. As definições sobre o que é ser jovem, quem e até
quando se pode ser considerado jovem têm mudado no tempo e no espaço e
refletem disputas no campo político, no campo econômico e também entre as
gerações
(NOVAES, 2002, p. 121).
Para Novaes:
Aumento da expectativa de vida e as mudanças no mercado de trabalho
permitem que parte deles possa alargar o chamado tempo da juventude até os
29 anos. Com efeito, qualquer que seja a faixa etária estabelecida, jovens da
mesma idade vão sempre viver juventudes diferentes (NOVAES, 2002, p. 121 -
122).
Segundo dados do censo do IBGE 2000, dos 169,7 milhões de habitantes no
país, 34 milhões se enquadram na faixa etária de quinze a vinte e quatro anos, o que
corresponde a 20% da população. Esta foi a primeira vez que o IBGE trouxe essa
definição de juventude, com esse recorte de idade. Incluídos os brasileiros entre vinte e
cinco e vinte e nove anos (13,8 milhões), também classificados como jov
ens adultos, no
5
- O Brasil tem mais de 21 milhões de adolescentes na faixa etária dos doze aos dezoito anos
incompletos.
51
Brasil, chega-se a 47,9 milhões de cidadãos (28,2% do total da população) (LEON,
2002, p. 31).
A Antropologia também é uma corrente que disputa a conceituação da
juventude através do grupo que se ocupa do estudo do homem e seus agrupamentos
cultural e social. Nesta corrente alguns pensadores e educadores, que refletem e
atuam com juventude, que afirmam que a conceituação de juventude é resultado de
uma construção social, o que explicaria as várias concepções de acordo com o
momento histór
ico.
Para João Batista Libânio O termo jovem remonta a outra etimologia. Jovem faz
ecoar o adjetivo
aiutans
do verbo
aiutare
, ajudar. Jovem é aquele que atingiu a idade de
poder ajudar (LIBÂNIO, 2004, p. 18). Concepção que ainda hoje é vigente, pois,
se
gundo o autor desde sempre as famílias necessitaram da ajuda econômica de seus
filhos.
De forma mais intensa, no final dos anos de 1940 o termo juventude foi sendo
amplamente retomado, fosse pelas questões sociológicas da consideração dessa nova
categoria
ou pela perspectiva do mercado, que aproveitou para se organizar, oferecer e
criar desejos em torno dos mais diferentes produtos. Por isso alguns autores defendem
que a juventude é fruto do mercado, com a finalidade de criar uma categoria propensa a
consu
mir marcas e produtos identificados com essa faixa etária.
Foi porém a partir de 1985, Ano Internacional da Juventude , criado pela ONU,
que a temática juventude ganhou mais expressão nas universidades, organizações
sociais e populares. Esta preocupação se baseava no aumento da população juvenil
que ocorreria na América Latina no final do século passado.
52
A questão é que a juventude passou a ter destaque histórico pela emergência
das modernas sociedades de massa, entendida aqui a partir da idéia da urbaniz
ação,
dos meios de comunicação e da produção em escala. A juventude se tornou um ator
social e político diferenciado, porém sem poderes para influenciar processos de
transformação social. Ela
passa
a
ser
considerada a partir da ótica do lugar da
produçã
o, onde ela está presente, mas não tem voz ativa, de
decis
ão
.
Como
exemplo
s
podem
-se notar os movimentos da juventude organizada enquanto
camponeses,
estudantes
e
operários de fábricas.
1.2. Juventude e conflitos de gerações
Mannheim, ao analisar o problema sociológico das gerações, vai defender que é
necessário ter presente neste conceito que cada grupo está situado em uma realidade
histórico
-
social.
A situação da geração está baseada na existência de um ritmo biológico na vida
humana
os fatores de vida e morte, um período limitado de vida e o
envelhecimento. Os indivíduos que pertencem à mesma geração, que nasceram
no mesmo ano, são dotados, nessa medida, de uma situação comum na
dimensão histórica do processo social
(MANNHEIM, p. 71).
Pensar a juventude enquanto geração desperta a possibilidade de um olhar
diferenciado sobre essa categoria, para entender seu comportamento. Para Mannheim
as questões de gerações possuem aspectos da antropologia e da biologia que ajudam
a situar os fenômenos de vida e morte, com as mudanças mentais, espirituais e físicas
que acompanham o envelhecimento enquanto tal (MANNHEIM. p. 72).
53
Para o autor é preciso compreender a geração como um tipo particular de
situação social (MANNHEIM. p. 72). Pertencer à mesma classe, geração ou grupo
etário faz com que seja comum a participação no processo histórico e social, com a
mesma gama de experiência, potencial e predisposição de pensamento.
Isso não quer dizer, porém que todos vão passar pelas mesmas experiências
intelectuais e emocionais, pois, segundo o autor, cada pessoa consegue ter acesso
a uma fração de toda a herança e riqueza cultural de sua sociedade. A situação etária
é determinada pelo modo como certos padrões de experiências e de pensamento
tendem a ser traduzidos à existência pelos dados naturais da transição de uma outra
geração
(MANNHEIM. p. 73)
Constantemente surgem assim novos grupos de pessoas que vivem processos
culturais, enquanto que outras pessoas vão deixando seus processos ou
desaparecendo. Cada pessoa participa de forma particular dos aspectos culturais de
um processo histórico. Cabe a cada um a transmissão constante da herança cultural
acumulada. Uma geração é seguida por outra e, assim, as acumulações culturais nunca
são concretizadas pelos mesmos indivíduos. Resulta então que contínuos grupos
etários vão surgindo.
Os contatos originais assumem uma parte importante na vida da pessoa quando
ela é forçada pelos acontecimentos a abandonar o seu grupo social e a entrar
em um novo. Em todos os casos ocorre uma transformação bastante visível e
impressionante na consciência do indivíduo em questão. Uma modificação no
ajustamento mental e espiritual do ser humano. O contato original é um
acontecimento na biografia individual
(MANNHEIM. p. 75)
54
Se não existir essa mudança de gerações, não haverá participante da cultura
que provocará novas atitudes e mudanças de acordo com a herança transmitida, o que
pode levar a modificações históricas e sociais no pensamento e na prática.
A sociedade cria em seus sistemas padrões ideais de adultos , para que seja
garantida e sintetizada as suas normas, aspirações, ambições, seus valores e suas
características. Tudo que possa garantir a essência de seu
ethos.
O ideal de adulto
provoca e exige da sociedade demonstraçõ
es de potencialidades, justiça e moral. Estas
são condições plenas para se adquirir status. São os ideais que sustentam e definem a
condição de adultos perante a sociedade (FORACCHI, p. 19).
Será adulto o indivíduo que conseguir garantir as condições sociais e humanas
para a perpetuação das vontades das classes às quais pertence. Cada pessoa procura
assumir os ideais para a sua existência, de acordo com as etapas biológicas. Repetindo
esse ciclo na vida adulta e no envelhecimento. Por esse motivo cada etapa da vida é
compreendida em contraposição e em contraste com a anterior ou com a subseqüente.
Surge assim a distinção entre as gerações, que são marcadas pelas idades.
Para Foracchi, encontra
-
se ai a razão principal dos conflitos de geração:
Os conflitos de gerações nada mais seriam senão a luta de uma geração com os
valores básicos que não sabe ou não quer preservar. O conflito se estabelece
quando a crítica não é absorvida, quando as tradições mais ricas perecem na
apatia, no conformismo, na negação de si. As barreiras de idade são irrelevantes
nesse conflito que é de valores, de adesões prévias
(FORACCHI, 1972, p. 25).
2. OS JOVENS NA CULTURA ATUAL
Este tópico quer aprofundar a influê
ncia
do contexto da atual cultura pós-
moderna sobre a juventude. O mundo globalizado e neoliberal são fatores que também
55
se juntam nessa reflexão, pois os novos paradigmas se tornam facilmente assimiláveis
pela juventude e influ
em
no modo de ser, pensar e se comportar
na sociedade. A tarefa
permitirá verificar, identificar e entender como essa mesma realidade interfere no
momento em que os jovens estão vivendo, além de visualizar as opções e crises que os
inquietam e provocam.
Outra finalidade será entender como a cultura pós-moderna aliada às novas
tecnologia
s atua com seus diferentes instrumentos sobre os jovens, que, por viverem
um tempo de construção de referenciais, estão mais abertos a propostas
que
lhes
possibilitem visualizar e ter acesso a um mundo mais amplo, sem fronteiras.
N
a
perspectiva das influências da pós-modernidade sobre a juventude é
necessário diferenciar o que é próprio deste período etário e o que é fruto da atual
sociedade e com isso, e
specula
-se, que a juventude seria uma presa fácil do mundo
pós
-moderno, e que estaria mais vulnerável às conseqüências dessas transformações.
A seguir serão aprofundados alguns aspectos desse momento cultural e a sua
influência sobre o modo de ser e de se comportar da juventude hoje.
2.1. A comunicação hoje e seus efeitos sobre a juventude
Com o advento das novas tecnologias, os meios de comunicação social se
tornam veículos facilitadores das relações entre os grupos e pessoas. Surge um padrão
de mensagens e informações a serem levadas para os receptores. A comunicação
ganhou poder, sendo considerada para alguns um quarto poder. Os meios de
comunicação passam a serem c
hamad
os
de a grande mídia e a sociedade atual não
56
vive sem os diversos instrumentos da comunicação, que possibilitam a interação das
idéias, pessoas, grupos e organizações.
Os meios de comunicação social in
fluência
m diretamente na vida das pessoas,
sobretudo da juventude. Sabe-se que os meios de comunicação utilizam-se de novos
símbolos para vender seus produtos através de conteúdos visuais, sonoros, que
trafega
m por veículos os mais rápidos e se tornam globa
is
, apresentando a todos um
mesmo padrão cultural, uma mesma matriz
.
Há que se considerar também
que
a realidade neste novo contexto pós-
moderno
está mais complexa e justaposta entre vários fatos, noticias, particularidades e a
fragmentação da sociedade, fatores que dificultam perceber todas as suas nuanças.
Assim, o mundo global coloca através
da
s redes de comunicação uma infinidade de
mistura de culturas, linguagens, códigos de comunicações e relações.
2.2. Influência da comunicação
virtual
A Introdução da microeletrônica nos processos de comunicação e produção
gerou o tempo da comunicação e da informação. A realidade hoje se apresenta como a
era da informática, da civilização eletrônica, da imagem e do mundo da comunicação
por vias virtuais.
Com a Int
ernet
, a virtualidade traz a linguagem dos computadores: é uma nova
língua/linguagem que têm mudado também as formas de se relacionar. Para os jovens
que tem acesso a esse meio
,
o tempo e o espaço passa
m
a ser
em
distinto
s
;
pois
tempo
e espaço desaparecem nas vias da Internet. Permite que se estabeleça contato em
tempo real com outra pessoa a milhares
quilômetros de
dist
â
ncia.
57
Segundo Mario Sandoval
6
,
a TV e a Internet passam a socializar a j
ovens
pelos
conteúdos das telas das imagens. Por isso a forma de
st
es se relacionarem é
diferente.
Como resultado dessa influência, os símbolos mudam. A linguagem juvenil é
cada vez mais curta, direta. Os jovens usam menos palavras, ou palavras
acompanhadas de um gesto que significa coisas distintas.
Os grupos de jovens virtuais cada vez são maiores, estão
a
cada
dia
mais
próximos virtualmente e distantes fisicamente uns dos outros. Somente uma
percentagem pequena da juventude, porém vive em redes, a maioria têm pouco
acesso,
ou possuem acesso limitado a algumas comunidades. ainda, nessa maioria
que não tem acesso e não sabem lidar, os chamados analfabetos digitais, originando
um processo de elitização e de exclusão que se aprofunda. Quem não tem acesso à
Internet não precisa ser pobre, mas é excluído. Não se integra, não existe. É uma
exclusão partindo d
o que se pode chamar de
elite.
Não se trata aqui de demonizar
as
novas tecnologias. É necessário considerar
que a falta de acesso de uma grande parte dos jovens brasileiros a esses meios
diz
respeito à situação econôm
ica
, que tem gerado uma crescente exclusão aliada ao
Estado que não consegue garantir a todos o acesso ao saber, à cultura, ao lazer e ao
desporto. A perspectiva neoliberal faz o Estado se ausentar de seu papel de garantir os
direitos sicos da população no que se refere aos serviços de segurança, saúde,
transporte, lazer e educação, que se apresentam cada vez mais precários, insuficientes
e mal distribuídos.
6
- Mário Sandoval,
esteve
no seminário 25 anos de opção pela Juventude na América Latina ,
realizado pela Casa da Juventude Pe. Burnier em novembro de 2005. Ele é assessor da Comissão
Episcopal de Juventude do Chile, Professor de Sociologia na Universidade Alberto Hurtado, dos Jesuítas
em Santiago do Chile. Diretor do CEJU da Universidade Católica Cardenal Raúl Silva Enriquez
(Santiago), membro da Rede Latino
-
Americana de Pesquisadores em Juventude.
58
Os meios de comunicação hoje cumprem o papel de agentes socializadores da
juventude. A mídia, para exercer esse papel pedagógico de socializador, utiliza-
se
principalmente da
publicidade
e suas propagandas para transmitir códigos. A juventude
se encanta, e deseja essa comunicação veloz, desafiadora, se identifica com esse
modelo de comunicação, pois fo
i educada por ela. Hoje as crianças já são atraídas pela
propaganda
subliminar, que não visa convencer, mas seduzir. Apela para o
inconsciente. Quer criar felicidade e hábitos de fidelidade forjando empatia, criando e
comandando o desejo, o gosto. Atua com modelos de imitação. Utiliza-se do bom
humor para ficar na memória. Fustiga o desejo, o olhar e causa uma insaciabilidade.
Para concluir Sandoval afirma que a sociedade sempre trabalhou com a idéia de
que, para ser grupo, é necessário o caráter da presen
ça
. Apresenta-se aqui o desafio
de entender como será a socialização da juventude que vive grande parte do seu tempo
em contato com a realidade virtual (SANDOVAL, 2005. p. 20).
2.3. A influência da c
ultura d
e
image
ns
Os jovens de hoje são a geração da TV a cabo
,
acreditam no que vêem. Os
jovens armam sua visão de mundo a partir daquilo que vêem na TV. A grande maioria
pouco. O mundo da pós-modernidade se baseia na especialização progressiva, do
conhecimento, que cria novos padrões de transformação social, novas agências de
publicidade e que vai produzir a nova religião, pronta para impor um sentir e desejar.
Essa nova contextualização impõe aos jovens novos padrões de consumo, de maneiras
de se perceber e desejar.
59
Essa nova era leva a juventude a construir seu imaginário dentro da cultura do
visual. Essas imagens são firmadas através de ícones e símbolos que se tornam mais
expressivos a cada descoberta feita e desejada.
Nessa fase contemporânea, a juventude transforma-se em marca criada pela
mídia, impo
ndo
-lhe um estilo de vida, de consumo, como padrão para outras
idades. Crianças são atraídas para serem jovens, enquanto adultos permanecem
tentados a assumir de maneira desajeitada, ridícula e tardia comportamentos
juvenis
(LIBÂNIO, 2004, p. 38).
Assim,
como foi
mencionado,
a proposta pós-moderna para os jovens é o da
aprendizagem que passa pela revista ilustrada, pela propaganda, pelo slogan, pela
insistência da iconografia da moda e pela cultura televisiva (ZEFERINO, 2002, p. 2).
2.4.
Nova Subjetiv
idade
Outra característica da sociedade pós-moderna é a tendência de enfatizar a
subjetividade da pessoa. Afirma-se o valor absoluto da subjetividade, ou seja, a
autoconsciência como critério último e supremo do bom, do belo e do verdadeiro, do
eternamente
jovem.
Para Boaventura Sousa Santos, esse comportamento desperta nas pessoas as
idéias de auto-reflexibilidade e de auto-responsabilidade, a materialidade do corpo e as
particularidades potencialmente infinitas que conferem cunho próprio e único à
personalidade (SANTOS, 2003, p. 240)
60
Essa subjetividade provocou na geração uma preocupação com suas
necessidades pessoais, com seus sentimentos, com a melhora de sua auto-
estima,
com sua confiança e libertação dos traumas (BORAN, 2005, p. 08)
Emerge um outro modelo cultural, centrado na auto-realização, baseado na
autonomia, onde é útil e faz sentido o que faço em função do meu eu pessoal e não
do coletivo. Isso provoca nos jovens o desejo da auto-realização e do auto-
desenvolvimento
, fazendo com que esta geração, olhando para o futuro, queira
responder seus interesses em primeiro lugar. Interesses esses voltados para a sua
pessoa, sua realização, sua profissão revelando uma mudança para o auto-centrismo e
para a diluição do
coletivo.
Para Sandoval, as questões da subjetividade tem provocado uma mutação para
um novo modelo cultural,
em que
o conjunto de símbolos, signos,
s
ignificações, valores,
interesses, necessidades e efeitos que dão sentido à vida e definem o que é belo,
adequado, pertinente lógico
(SA
NDOVAL, 2005. p. 22)
.
2.5. Mercado e consumo
O mercado é espaço de integração em que se dão as
transaç
ões de bens e
serviços (comprar e vender). A educação e o trabalho permitem que as pessoas se
integrem na sociedade. Na conjuntura global e neoliberal, nem a educação nem o
trabalho estão cumprindo seu papel como integradores sociais.
O mercado está integrando os jovens, mas é uma integração individual, não
coletiva, que transforma o conceito cidadão/cidadã. Ser cidadão ou cidadã é
transformar
-se em cliente, consumidor. O tipo de cidadão que necessita desta
sociedade é a sociedade dos supermercados. Na venda, o grande produto que gera
61
lucros é o crédito, não mais o produto. O dinheiro de plástico se torna acessível a todos
e com ele o acesso ao crédito. Isso cria a fantasia de poder comprar sem dinheiro, isto
é, ter acesso ao consumo.
O mercado se torna o espaço da socialização. As novas gerações se socializam
com os códigos do mercado. O mercado entrou no coração das sociedades. Os jovens
têm no seu horizonte o desafio da busca do que lhe é desconhecido, ausente e a
possibilidade do
consumo
se torna para estes jovens uma janela de oportunidade, que
nunca se fecha, sempre surgem novos objetos desejáveis.
A cultura pós-moderna forja uma propaganda para que o indivíduo consuma o
máximo possível. Nem todos os jovens, no entanto, conseguem ter acesso e condição
de consumo como o mercado deseja. Assim, cria
-
se nos jovens uma ilusão de que tudo
está a disposição de todos. Pouquíssimos, p
orém
, são aqueles que podem consumir
tudo que
a propaganda oferece
.
A juventude se constituiu em um dos grupos que mais se sentem aguçados com
a espera dos lançamentos do cinema, da TV ou da informática. Os jovens acreditam e
esperam, porque se identificam, reconhecem-se na propaganda e no desejo que ala
cria.
A geração Veja, Reader`s Digest não tolera ler livros volumosos. Falta-
lhe
paciência e tranqüilidade para sentar-se diante de um livro e ir degustando
página por página. Às vezes, nem ver um programa de televisão mais longo
suporta. Daí a doença do zapping, saltitando de canal em canal, de programa em
programa
(LIBÂNIO, 2004, p. 110).
62
A mídia enquanto aliada do mercado de consumo desperta na pessoa uma
insatisfação, que leva à exploração da vontade interna de ter o que o out
ro tem. A mídia
estimula a imitação do outro e desperta o desejo mimético de ser o outro.
2.6. A cultura refletida sobre o corpo da juventude
Na temática da cultura pós
-
moderna o corpo ganha lugar de destaque, pois é por
natureza um instrumento de comunicação. A etapa da juventude é um momento em
que o corpo está cheio de vigor e capacidade de se expressar socioculturalmente.
Sobre o corpo recai uma mensagem de interlocução constante, tornado-o assim, um
instrumento de comunicação visual.
O tempo da juventude é entendido como potencialidades e esse tempo reflete
diretamente no corpo dos jovens. Com isso a pessoas adultas querem ter a vitalidade
da juventude, desejam energia. Essa concepção de corpo juvenil está ligada à visão
mecanicista de utilidade, capacidade e de aparência. Ninguém quer ser velho ou
incapaz. Hoje tudo passa pela experiência, pela vivência dos sentidos e dos órgãos do
corpo.
Nessa nova cultura, o corpo desempenha um papel fundamental. É o órgão
através do qual se emite e se recebe mensagem. É o lugar da possibilidade do
encontro com o outro. Se tudo passa pelos sentidos, isto equivale dizer que deve
passar pelo corpo. Ele ganhou espaço, tornou-se mais visível. As roupas
encurtam e ele está à mostra, as academias e outras formas de cultivo do corpo
ganharam força, as tatuagens na pele chamam a atenção de todos, as roupas
transparentes mostram os contornos numa brincadeira de vela e desvela
(ZEFERINO, 2002, p.4).
63
diversos cenários para envolver a juventude no que se refere ao corpo. A
soci
edade pós-moderna atua com a expectativa do estético. Faz um investimento no
gosto da juventude, cria uma roupagem de modernidade e atua com propostas para
esse corpo que está em evidência. No campo afetivo, a paquera, o ficar e as relações
acabam sendo temporárias e sem compromissos. São indicações de que as relações
são articuladas na base do sentimento (ZEFERINO, 2002, p.5).
Essas novas formas da cultura ver o corpo produz ritmos, espaços e símbolos da
indústria cultural adultocêntrica, em que o corpo juvenil passa ser encarado como
máquina, horizonte de desejo, de satisfação, das possibilidades todas do imaginário.
O tempo da leitura foi substituído pelas horas de academia com a malhação e
outros cultivos corporais. As preocupações deslocam-se para técnicas sexuais,
meditações transcendentais, cuidados do corpo, remédios contra a crise da vida
adulta, psicoterapias ao alcance da mão, exercícios corporais, massagens,
saunas, dietética macrobiótica, vitaminofilias, bioenergia (LIBÂNIO, 2004, p.
106).
Os
padrões de beleza masculinos e femininos têm influência sobre os jovens e o
corpo tornou-se o lugar e templo do lazer, da arte que se submetem às filosofias
estéticas que não
correspondem
em sua maioria com a cultura a que pertencem.
O tema da sexualidade é da máxima importância, porque este é um ponto de
ruptura com
as gerações tradicionais. Muitos jovens não aceitam mais as imposições d
e
instituições como a família e
igreja
, quanto à moralidade sexual. O tema da moral
sexual é de grande tensão entre os jovens e a igreja. Para os jovens a igreja diga o
que queira, eu faço o que quero. Se a igreja fala o que quer, eu também posso fazer o
que quero
.
64
A juventude hoje não tem seu corpo como lugar de controle, do pec
ado
ou de
uma identidade corporal fixa a modelo das gerações passadas. Para eles e elas
as
identidades são moveis.
O corpo nesta nova cultura é forçado a ser lugar de prazer e de
disciplinamento
de formas e
atitudes.
T
orna
-se um horizonte de satisfação para os jovens e a
possibilidade de gozo e
terno.
No que diz respeito à sexualidade a virgindade, por
exemplo, já não se constitui regra e condição para o casamento e iniciações sexuais
são cada vez mais precoces: 14 anos para os meninos e 15 para as meninas. A
educação sexual ainda e deficiente e muitas adolescentes e jovens passam por
complicações decorrentes de gestação não planejada, tendo que aprender a cuidar de
uma criança, adaptar horário ou abandonar a escola.
As famílias ainda não falam abertamente com seus filhos sobre o assunto da
sexual
idade.
É crescente o número de infectados pela AIDS, entre os adolescentes e
jovens, que, mesmo tendo informações, não estão sensibilizados para essa questão ou
simplesmente não têm acesso ao preservativo ou
ao
dinheiro para comprá-lo. Perto
destes dados e
st
á a questão dos adolescentes e jovens
tima
s da violência e
de
a
exploração sexual inf
a
nto juvenil.
Concluindo, o corpo na cultura pós-moderna é apresentado como fonte do gozo
visual para a juventude que por sua vez, exige o máximo de desempenho sexual e
estético. O corpo é o lugar das relações interpessoais, mas também funciona como
inspiração para as utopias dos milagres rápidos, biológicos, farmacológicos e eufóricos
(PEREIRA, 2005, p. 08)
65
2.7. O imediatismo nas socializações dos jovens e seus gru
pos
Quando se fala em juventude como um período cheio de mudanças e decisões,
é preciso entendê-la como um fenômeno social de uma determinada geração, que
representa um tipo particular de identidade que está se construindo dentro do processo
social ao qual ela pertence historicamente. Entender essa questão é o que possibilita
verificar se a juventude é realmente imediatista.
É próprio da juventude inicialmente o tempo da experimentação e depois a fase
projetiva. Os teóricos da psicologia dizem que a etapa da juventude seria o tempo da
moratória. Acontece que a cultura pós-moderna, neoliberal e globalizada provoca nas
pessoas, na sociedade e, sobretudo na juventude uma fragmentação, um sentimento
de provisoriedade e o tempo da experimentação .
Os jovens processam essas propostas de vivência e velocidade da pós-
modernidade e, conseqüentemente, a sua fragmentação. O aqui e agora bate
constantemente na porta de todos: jovens, adultos e idosos. uma influência do
tempo controlado pelo relógio, pelo desejo de se realizar, ter sucesso. Diante do futuro
incerto e do salário que não chega para os 30 dias do mês o melhor é aproveitar.
O
imediatismo reflete também nas mudanças e no sentido do trabalho, em que
passa a vigorar a lógica do menor esforço, de menos sacrifícios e o máximo de
resultado. A sociedade passa a ser governada
pela
cultura do imediato, da performance
e do rendimento (princípios das empresas). As pessoas t
êm
que competir para ganhar
e render. Daí a cultura da simulação em que se a pessoa não co
nseguir
competir, ter
bons resultados, vencer. Precisará simular o vencimento, o empenho para ser aceita e
reconhecida.
66
O imediatismo desperta nos jovens uma idéia de viver a vida como o final da
festa e assim, para alguns o horizonte da busca pelo prazer, sobretudo do prazer
sexual
, é o que importa. Os meios de comunicação veiculam um sem número de
promessas,
p
roduto
s de mercado em que os jovens entram, provam, tentam, como
quem consome um prato de comida, uma roupa
ou
uma distração.
Hoje tudo passa pela experiência e pela vivência dos sentidos e dos órgãos do
corpo. Os jovens, alguns anos atrás, diante de uma proposta, diziam deixa-
me
pensar e depois decido . Agora, diante das propostas, dizem: deixa-me experimentar
pra ver se vale a pena . Hoje e
xpe
rimentar indica ação, experiência, algo vivencial
(ZEFERINO, 2002, p.4).
Segundo Sandoval como conseqüência a juventude mais que outras gerações
toma gosto pela intimidade e convivência, mas com relações curtas, pouco duradouras.
Por isso os jovens se casam mais tarde e mais velhos. É a lógica do desejo e da
intensidade, resumida na paixão, na emoção e na adrenalina. Busca do prazer e d
a
auto
-
realização pessoal
(SANDOVAL, 2005, p
.
24).
Como conseqüência os jovens de hoje partilham de um sentimento de medo
de
sobrar, porque não podem planejar seu futuro. Nos resultados de pesquisas sobre
juventude é comum o medo de sobrar. Valoriza-se mais o flexível, o momentâneo,
anseia
-se gozar o momento presente, com poucas perspectivas para o futuro. Têm-
se
dificuldades
com o silêncio interior.
Como
conseqüência
existe hoje uma dificuldade de as
pessoas
e isso se reflete
também na juventude
de
se comprometerem com experiências, nas decisões, opção de
vida e na entrega total.
67
Uma dessas conseqüências e que os jovens passam a serem educados na
mentalidade afirmativa, de poder, de superioridade, constrói um eu narciso , em que a
pessoa se volta para si mesma. Toda sociedade, e em especial a dos jovens, recebe a
mensagem de que cada um dos seus membros tem a responsabilidade de se
preocupar consigo mesmo (autocentramento).
Outra conseqüência da comunicação para a juventude e que provoca n
estes
a
idéia de que o importante para ele/a se comunicar é a cuidar da sua imagem, ser
notado/a.
Esses critérios têm levado não a juventude mas também as pessoas a
estarem permanentemente preocupadas com a sua autoconstrução.
Em conseqüência os jovens se tornam objeto direto do mercado em busca de
consumidores
. O mercado aliado à mídia cria desejos para que as pessoas os tenham
como uma necessidade. É preciso lembra que os seres humanos têm necessidades e
desejos naturais referentes a objetos que lhes são exteriores: alimento, bebida,
habitação e, acima de tudo, a conservação do corpo. Além disso,
o
homem
busca
ser
reconhecido, como um ser com certo valor e dignidade. Assim as pessoas acabam por
confundirem o que é desejo e necessidade.
Essa subjetividade
inculca
na juventude um
sistema de compreensão e interação
com o mundo para suas satisfações pessoais e quando estes não o conseguem
s
atisfazê
-
la
experimenta
-
se
uma
insegurança.
Para prevenir e impedir essa
insegurança a sociedade provoca um deslocamento da confiança nas relações de
proximidade e intimidade para a relação técnica. Como resultado têm-se juvent
udes
menos conceitua
is
, analí
tica
s
e organizada
s.
68
3. O JOVEM E A PARTICIPAÇÃO SÓCIO-
POLÍTICA
Este tópico traz uma análise da presença e participação da juventude no campo
político na sociedade brasileira contemporânea. A preocupação com a dimensão da
participação
política
da juventu
de
, é necessária para seu desenvolvimento integral e
inserção social.
A participação política dos jovens está interligada com sua construção enquanto
sujeitos do direito e cidadania, para que se tornem atores sociais capazes de assumir
plenamente seu lugar na sociedade, contribuindo para modificar seu
meio
social e
realizar seus projetos de vida. Esse ideal aponta para a necessidade de requisitos para
uma socialização satisfatória, com capacidade de vínculos, identificação e integração
com um projeto de so
ciedade.
3.
1. Participação política da juventude a partir da década de 60 até os dias atuais
Não é possível negar a participação da juventude em momentos diferentes da
história em mobilizações e acontecimentos políticos. Em meio a essa conjuntura a
participação política dos jovens envolve uma certa visão mítica de que os jovens de
hoje não participam de ações e atividades políticas e que a geração dos anos 60,
sobretudo 68, foi a que deu a sua contribuição.
Pesquisas têm demonstrado que nem todos os jovens se envolvem diretamente
em participação política. A não participação da grande maioria dos jovens deve ser lida
no sentido de interpretar qual é o recado que a juventude está dando à sociedade.
quem defende, e acredita que a juventude tem que ser como era em 68. A
juventude deste milênio possui traços diferenciados em relação àqueles dos jovens de
décadas passadas, pois sofrem influências diretas do mundo pós-moderno e
69
globalizado. Como foi dito o que decididamente não significa apatia ou resignação.
Significa sim, mudanças nas maneiras de, se expressar e de até, reivindicarem direitos
(YOUSSEF, 2002, p. 38).
Segundo Mary Castro, representante da UNESCO no Brasil, as mobilizações dos
jovens dos anos 60 e 70 foram mais políticas e que, nos anos 80 e 90 as ações o
mais culturais. Segundo a autora, cultura, aqui, deve ser entendida como modo de ser,
de estar no mundo; a maneira como as pessoas se organizam para fazer as coisas o
que envolve participação política (CASTRO, 2002. p. 85).
Para Abramo, a participação da juventude está vinculada à preocupação com o
futuro da sociedade: Os jovens são, como geração, os herdeiros da sociedade, de
seus sistemas e códigos de funcionamento. São eles que vão definir a continuidade ou
mudanças da sociedade e suas
instituições (ABRAMO, 2004, p. 13).
3.
2
. Participação política e democracia representativa
A palavra participação envolve uma atitude de movimento. Participar significa
tomar parte, definir os rumos. Participar é ato político inerente ao ser humano, é
comprometer
-se com o exercício da discussão nos espaços de debate de idéias, com
finalidades e objetivos a serem alcançados. No ato de participar está implícita a ação
coletiva, que envolve riscos, conflitos, desafios e posturas.
A democracia representativa criou uma visão elitista da capacidade de participar
e dar opinião. Esses critérios de representação criam um funil em que poucos são
envolvidos e escutados. Para Helena Abramo, o sistema político possui traços
autoritários, que dificultam a democracia e a capacidade de incorporar um número
significativo de diferentes atores sociais. Essa situação aponta para o fato de que a
70
participação é um desafio que a sociedade brasileira e Latino Americana tem que
enfrentar (ABRAMO, 2004, p. 09).
Segundo essa autora, mesmo com a redemocratização acontecida após os
regimes militares, não muitos avanços em bem-estar e participação. As políticas
sociais não conseguiram suprir as carências existentes e as sociedades se tornam cada
vez mais desiguais. Existe descrença com relação à política institucional e insatisfação
com a democracia reconquistada.
Os jovens dos setores de baixa renda são os mais afetados pelas situações de
exclusão. Eles enfrentam problemas de inserção social que refletem diretamente nas
expectativa
s e condições sócio-educacionais e de ocupação profissional. Essa
condição os inferioriza nas aspirações de serem destinatários das promessas dos
meios de comunicação, da escola e do sistema político.
que se considerar também que a juventude, uma vez marginalizada, terá
dificuldade de participação política pela falta de formação, dificuldade de acesso a
espaços de participação em suas próprias localidades. Mesmo com todos esses
desafios os jovens têm procurado superar a sua auto-negação, assumindo sua
re
alidade e auto-estima, criando uma imagem positiva, com códigos para a construção
de sua opinião sobre questões que influem em sua vida.
3.3. Dados da participação política dos jovens
Existe hoje um desencanto geral com a vida pública e isso seria um traço da
sociedade pós-moderna. Os jovens participam desse desencanto e, como iniciantes na
política, sentem as contradições entre os valores pregados e as práticas.
71
A aparente ou real desmobilização dos jovens seria resultado não de uma
aprovação ou conformismo otimista com a situação reinante, mas de uma apatia
provocada por falta de aderência, interesse, convicção ou confiança nos
mecanismos de interferência pública
(ABRAMO, 2004, p. 15).
Sobre a participação política existe por parte dos jovens duas posturas: na
primeira, eles acreditam na política e sentem que ela é importante; na segunda, a
maioria não tem disponibilidade e motivação para as formas tradicionais de se fazer
política.
Segundo dados de pesquisa realizada pela Assessoria Especial da Juventud
e da
Prefeitura Municipal de Goiânia, publicada em 2001, 89 % dos jovens goianienses
acreditam que podem contribuir e muito para mudar a sociedade, e somente 09 %
disseram que podem contribuir pouco. o interesse pela política revela outros dados:
44 % afirmam que lêem matérias ou assistem a noticiários sobre política; 46 % o fazem
de vez em quando e apenas 10 % afirmam nunca se interessarem pelo assunto. A
maioria diz que conversa de vez em quando com outras pessoas sobre política; 26 %
conversam sempre e 22,5 % nunca conversam a respeito. De certa forma estes dados
mostram que a política faz parte da vida dos jovens goianienses.
A participação ativa porém é mínima: 2,5 % afirmam que sempre participam de
associações ou grupos comunitários para resolverem questões de seu bairro ou cidade
e 81,5 % declaram que nunca participam. Apenas 3% participam de reuniões de
partidos políticos e 82,5 % declaram que nunca fazem pedido a políticos e funcionários
públicos. 53 % alegam nunca assinarem manifesto público e 15
% indicam que assinam
e apóiam. 63 % nunca participam de manifestações em favor ou contra o governo, 12 %
72
afirmam fazê
-
lo. 30 % dizem participar de algum grupo, sendo que 70 % não participam
de nenhum grupo.
Alguns dados demonstram que os jovens querem mudar o mundo mas que não
estão dispostos a fazê-lo de forma mais explícita. Ficaria então a pergunta: por qual
mecanismo acreditam que seja possível uma mudança social?
Existem também expectativas entre os jovens. Quando perguntados sobre os
grupos de que fazem parte, à frente desponta o religioso, com 45,4 %. Na seqüência
aparecem os grupos de futebol (30 %), música (15 %), movimento estudantil (14 %) e o
partido político (2,5 %). A pesquisa de Goiânia revela que, no grupo religioso, a maioria
se constitui de mulheres e que, nos demais grupos, a maior presença é de homens.
Dos jovens entrevistados pela pesquisa, 75 % disseram que não confiam nos políticos.
A Pesquisa Perfil da juventude brasileira , realizada pelo Instituto Cidadania em
2003
7
, r
evelou
a
inda
que o conhecimento dos jovens sobre grupos culturais em suas
localidades está equilibrado, pois 46 % dizem conhecer a existência de
sses
grupos e
45 afirmam não conhecer. Já quanto à participação
nos
grupos somente 15 % disseram
fazer parte de algum deles. A grande maioria, porém,
85
%, não participam de nenhum
tipo de grupo
.
A metade, dos entrevistados (54 %), têm conhecimento de grupos culturais de
suas localidades tais como música, dança, rádio comunitária, teatro e grupos de
esportes radicais. Para o Projeto Juventude a percepção de que os jovens estão
distanciados da política não passa de um estereótipo ou mito que exige uma leitura
crítica, pois não é possível comparar dados estatísticos de hoje, que medem a taxa de
7
-
com 300 entrevistadores em 198 municípios, em áreas urbanas e rurais de todo o território nacional,
aplicou 3.501 entrevistas e poderá servir de base para ajudar na análise dos dados da pesquisa de
campo deste trabalho.
73
participação, com a dos jovens das décadas passadas. A juventude hoje tem interesse
de participar e isso se manifesta em canais diferentes dos tradicionais (JUVENTUDE,
2004, p. 15).
Essas taxas de participação política dos jovens não destoam muito daquelas da
população em geral. Entre os jovens entrevistados pelo Projeto Juventude, a proporção
da vontade de participar de algum grupo, de associações comunitárias ou profissionais,
entidades ligadas à defesa ambiental, racial, de assistência ou ainda em conselhos é de
40 a 60 %. Sendo que 85 % afirmam ser capazes de mudar o mundo. Para os
analistas da pesquisa esses dados revelam que mais entraves para a participação
do que o desejo de fazê
-
lo.
As instituições abrem espaço para a participação formal dos jovens, para a
execução de determinadas atividades, mas não para a definição e tomada de
decisão. Buscam provocar a participação dos jovens, mas não partem dos
interesses deles, nem das suas demandas
(ABRAMO, 2004, p. 17).
Para a autora essas questões estão vinculadas não aos jovens mas também
a outros grupos e que a falência de algumas instituições políticas, vinculadas às
incertezas, às chances de inserção social, atingiria a capacidade de desejar e estruturar
um outro futuro tanto no plano pessoal como no social. Esse quadro seria resultado da
falta de sonhos, de propostas de transformação, de uma energia utópica , identificada
nessa geração juvenil (ABRAMO, 2004, p. 17)
3.4. A juventude e as novas alternativas de participação
Os dados mencionados no item anterior não invalidam o fato de que os jovens
têm capacidade de propostas alternativas de mudanças. Nesta perspectiva pode-
se
74
imaginar que a não participação dos jovens seja uma forma de criticar e desejar uma
outra forma de participação e de fazer política, alternativa diferente do modelo que
receberam e que os acompanha no seu dia
-a-
dia.
É necessário considerar que hoje existem outras maneiras de participação
política da juventude. A sociedade pós-moderna possibilita uma maior pluralidade e
dinâmica, com tendência para a descentralização. Assim, os espaços tradicionais de
socialização sofrem mudanças, com novas exigências como a consideração da
diversidade, das práticas pluriculturais, e com uma maior tolerância e respeito às
diferenças.
As novas formas de participação política, inauguradas com o acirramento da
globalização neoliberal, guardam presença marcante da juventude. Tanto através
da participação constante, nas diversas mobilizações e encontros de jovens
muitas vezes desligados de qualquer instituição ou organização, como via
estruturas juvenis destacadas no cenário mundial e nacional que impulsionam e
dão vida aos movimentos, essa juventude inventou Seattle, o Acampamento
Internacional da Juventude do Fórum Social Mundial, as manifestações
simultâneas contra a guerra do Iraque, as manifestações via Internet, as
manifestações festivas e irreverentes
(PRESTES, 2005, p. 93).
As agendas hoje para a participação da juventude estão voltadas para as
questões de raça, gênero, arte, ecologia, defesa de direitos. Os jovens procura
m
diferentes formas de participar, manifestar e realizar coisas. Eles possuem uma outra
linguagem, com outros enfoques.
Existe uma diversidade de juventudes que estão construindo suas identidades de
diferentes maneiras. Algumas dessas juventudes estão definindo suas identidade a
partir dos grupos mais diversos a que pertencem:
75
Juventude católica, evangélica, espírita, as galeras do futebol, do surf (segundo
esporte mais praticado no Brasil), do skate, da malhação, da capoeira, do judô,
do jiu-jitsu, a juventude do country , do Hip-Hop, do funk e os chamados
movimentos tradicionais , como os movimentos partidários e estudantis, entre
outras formas juvenis de expressão social
(MORAES, 2002, p. 35).
Todos esses grupos criam suas formas de se posicionar na sociedade. Cada um
à sua maneira reforça uma idéia, tem um tipo de questionamento, critica à sua maneira,
cria alternativas, demarca seus espaços e reações. Nem todos são legitimados e
reconhecidos pela sociedade adulta. Para Alexandre Youssef alguns grupos de
juventude exercem hoje o mesmo papel que os jovens dos anos de 1968. Para ele o
Hip Hop, pode ser considerado o 68 de 2002 (YOUSSEF, 2002, p. 38).
Estaria assim a juventude hoje contribuindo à sua maneira para a mudar a forma
de participação política, seja nos partidos, nos sindicatos ou nas i
grejas
? uma
diversidade de massa crítica, uma diversidade de lugares de realização de política
(CASTRO, 2002, p. 85). Essa autora entende que na atualidade existe um novo cenário
onde se dão as part
icipações políticas:
A política deixou de ser coisa exclusiva de políticos profissionais, deixou de ser
instância em separado da vida social. Hoje, a cultura política inclui micro política
e política molecular; política de defesa do status quo e política como projeto de
transformação social
(CASTRO, 2002, p. 85).
Existem diferentes formas que as juventudes encontram para participar e ter uma
ação coletiva: grupos culturais, ações voluntárias, entidades estudantis, ONGs,
movimentos sociais, com diferentes bandeiras, mobilizações de contestação
antiglobalização, redes de solidariedade ou campanhas libertárias, como aconteceu nas
76
Diretas , no Fora Collor , nos protestos em Genova, Seatle, nos acampamentos da
Juventude nos Fóruns Sociais Mundiais.
Outra forma de participação política da juventude são as redes que têm se
constituído como células para construção de vínculos entre os jovens em torno de um
objetivo comum. A idéia da rede carrega a leveza de uma estrutura descentralizada e
com maior liberdade de diálogo e de relações entre os participantes. Os jovens se
sentem muito atraídos por essas redes e a Internet é o maior exemplo disso.
3.5. Os novos marcos legais para a política pública da juventude
O Brasil viu crescer nos anos 90 a discussão sobre políticas públicas de
juventude.
A busca de políticas de juventude se insere no momento em que as
organizações têm reivindicado políticas inclusivas para juventude, mulheres, raça,
Direitos Humanos, ecologia e meio ambiente. As políticas de juventude neste
momento
buscam avançar e ir além da centralidade no foco da violência ou de trabalho. O que se
quer construir são políticas específicas e universais que possam atender às demandas
do mundo juvenil.
É bom lembrar que a expressão "políticas públicas de juventude" ganhou força
ao mesmo tempo em que se diagnosticavam as fragilidades da condição juvenil
nos dias de hoje. Afinal, pelo mundo afora, são os jovens os mais atingidos tanto
pelas transformações que tornam o mercado de trabalho restritivo e mutante,
qu
anto pelas distintas formas de violência física e simbólica que caracterizam o
século XXI. No Brasil, o debate veio a público na década de 90 quando
pesquisadores, organismos internacionais, movimentos juvenis e gestores
municipais e estaduais passaram a enfatizar a singularidade da experiência
77
social desta geração apontando para suas demandas, vulnerabilidades e
potencialidades
(NOVAES, 2005)
8
Para Novaes, neste processo de conhecimento e reconhecimento da juventude
brasileira, o ano de 2003 pode ser considerado um marco. Entre várias iniciativas da
sociedade civil, além da UNESCO, das ONGs e das Universidades que já vinham
produzindo sobre o tema, em 2003 destacou-se o Projeto Juventude, realizado pelo
Instituto Cidadania
e
que produziu uma ampla pesquisa, promoveu interlocuções com
movimentos juvenis, especialistas e organizações não governamentais e realizou
seminários nacionais e internaciona
is
. Ao mesmo, tempo no poder Legislativo, a
Comissão Especial de Políticas Públicas de Juventude se constituiu, fez audiências
públicas por todo o Brasil, promoveu visitas e conheceu experiências internacionais
.
Tudo isso cola
borou
para
uma proposta
de
Plano Nacional de Juventude.
Todas essas movimentações convergiam para a necessidade de criação de um
espaço institucional específico para a Juventude, em
que
os jovens pudessem, não
ser
presença, mas que suas vozes
fossem
escutadas e consideradas. O Brasil era um
dos únicos países da América Latina que o havia ainda dado este passo em direção
a seus jovens.
No dia de fevereiro de 2005, vinculada à Secretaria Geral da Presidência, foi
criada a Secretaria Nacional de Juventude. Neste âmbito, também foram criados o
Programa Inclusão de Jovens (o Pró Jovem) e o Conselho Nacional da Juventude.
8
- Contribuição de Regina Novaes, Presidente do Conselho Nacional de Juventude e Subsecr
etária
Nacional de Juventude, no seminário Evangelização da Juventude , promovido pela CNBB em outubro
de 2005.
78
Sabe
-se que muito ainda que se avançar na participação política da
juventude. uma ausência de capacitação juvenil para propor políticas articuladas e
transversais que atendam os diferentes sujeitos e a pluralidade da sociedade. É
também um desafio para que, ao serem estabelecidos os programas de políticas
públicas de juventude, os jovens façam o controle social dos mesmos.
4
. OS JOVENS E A RELIGIÃO
Na pós-
modernidade
existe uma busca para preencher um vazio que passou a
tomar conta das pessoas. No tempo do ser do aparecer todos querem ser aceitos,
reconhecidos, incluídos. Em grande parte essa busca leva as pessoas até a religião.
Quem
melhor atender essa necessidade e oferecer o que as pessoas buscam terá
maior sucesso.
A juventude de hoje nasceu na década de 70 e encontrou um mundo em
mudanças: pós-Guerra Fria e pós-descoberta da ecologia significaram elementos
novos. Os jovens sofrem
a
influência do desemprego, dos avanços tecnológicos, do
pluralismo cultural e religioso
(NOVAES, 2005, p. 266).
A oferta religiosa
es
ta mais g
eneraliza
da,
vai além dos sacerdotes enquanto
profissionais detentores do conhecimento e do sagrado. Há também a mensagem
bíblica que é encontrada pelos jovens nos meios de comunicação. Como foi descrito no
capítulo anterior os jovens estão diretamente orientados para uma religiosidade que
busca se adequar à realidade pós
-
moderna e globalizada.
A pesquisa do Projeto Juventude, já citada no item anterior, revelou que dentre
os
15 % dos jovens que
participam
de algum grupo, 04 % dizem que faz
em
parte de
79
grupos de jovens da igreja. Somente 1 % dos jovens se afirmaram ateus. Sendo o
temor a Deus um dos valores mais apontados. 65 %
se
declararam católicos; 22 %
,
evangélicos
; 15 %, pentecostais e 5 %
disseram
pertence
r
a outras igrejas
(Testemunha
s de Jeová, Mórmons, Legião da Boa Vontade, religiões afro-brasileiras e
espíritas) 11 % se consideram sem religião e 10 % dizem acreditar em Deus
sem
pertencer a
uma religião (NOVAES, 2005, p. 266).
Os jovens católicos, se comparados com os de outras religiões,
são os que estão
mais presentes nas cidades de pequeno porte, sinal da subsistência do catolicismo
como tradição histórica
9
. Estão nas diferentes regiões do país, são maiorias entre os
mais pobres, sendo precedidos apenas pelos jovens evangélicos pentecostais onde 45
%, se declaram brancos; entre os católicos 40 %, se declaram pretos ou pardos; 5 %,
indígenas e 4 %, amarelos
(NOVAES, 2005, p. 266).
Nas respostas estimuladas, 17 % afirmam que faz
em
parte de grupo religioso e
19 %
informou
que fiz
eram
parte. 26 % disseram que gostariam de fazer parte. 39 %
dos jovens expressaram que nunca fez parte e não gostariam
de participar
.
Mesmo com os dados apontados acima a igreja é a segunda instituição em
que
os jovens confiam totalmente, foi citada por 51 %,
do
s entrevistados, sendo que 39 %
9
- A religião tende a ser tradicional em uma
localidade
que se encontra integrada a uma sociedade
também tradicional. O catolicismo tradicional rural brasileiro foi uma edificação dos valores e normas e
que através destes legitima os papéis predominantes na sociedade. No catolicismo tradicional as
lideranças religiosas (sacerdotes) são substituídos por zeladores/as sobretudo mulheres leigas e c
om
característica carismática. Já a prática tem pouco conteúdo litúrgico e sacramental. Predomina a ênfase
nas rezas coletivas, na piedade familiar e o culto aos padroeiros. O ideal religioso tem conteúdo moral,
com dimensão mágica nas orações e dos santos com ênfase nas promessas para obtenção de favores
(CAMARGO, 1971, p. 10). Para Camargo a coletividade católica é um dos sistemas mais importantes
e
confere uma função social para as estruturas da sociedade. Isso é possível, segundo ele pelo papel que
o catolicismo ocupa na ordem social dominante (CAMARGO, 1971, p. 14). O catolicismo tradicional
urbano
,
para este autor
,
não orienta efetivamente a conduta das pessoas e nem constitui
-
se
n
o centro da
vida destas. A religião tradicional fica relegada ao rito. As decisões fundamentais de existência são
orientadas pelo mundo profanos característicos de uma sociedade competitiva e de uma ética leiga
(CAMARGO, 1971, p. 10).
80
por cento
disseram
confia
r até certo ponto e somente 08 % não confiam na igreja.
que
se
verificar como a igreja, enquanto instituição, explora essa confiança e que
proposta e retorno oferece aos jovens, considerando inclu
sive,
que 18 %
dos
entrevistados,
disseram que a atividade que mais gosta de fazer no tempo livre é ir à
missa/igreja/culto. 51 % afirmaram que vão á missa, culto religioso, sessão espírita a
cada 30 dias, contra 13 % que afirma
m
nunca
participou de ativid
ade religiosa
.
Os jovens que participam das atividades religiosas apontam
para
uma falta de
dinamização dos cultos, das missas, que acham
esses
eventos desinteressantes,
demorados, desatualizados. Reclamam ainda da hipocrisia, das proibições dogmáticas,
da
s cobranças, do autoritarismo, das cobranças de taxas por parte dos bispos, pastores
e padres (SCHMIDT, 1996, p.106).
Por essas razões se percebe nas igrejas uma movimentação no sentido de se
adequarem para oferecer espaços mais dinâmicos
e
aos jovens, uti
lizando
-se de
instrumentos musicais como baterias e guitaras,
o
que não se via nos encontros
tradicionais. Os Evangélicos e o Movimento Carismático Católico são os que mais têm
demonstrado abertura para a diversidade juvenil. Ouvem-se shows com danças e
músicas de rock pop, gospel, hip hop, funk, Country e até mesmo sertanejo, tudo em
contraste com os mantras dos mosteiros e os cantos reivindicatórios das CEBs. Os
jovens têm respondido a essa dinamicidade.
Em sua maioria as igrejas passaram a oferecer propostas de espiritualidade que
respondessem a essa procura. Oferece-se uma espiritualidade para a juventude que é
tida como desligada e descomprometida com a realidade. Vivem e propõem uma
espiritualidade horizontal do indivíduo e ao Deus no qual acredita. Assim, é crescente a
81
oferta de uma espiritualidade light , mais parecida com terapias psicológicas e
harmonizantes.
também, por parte dos jovens, resistências à postura da igreja frente ao
aborto, homossexualismo, métodos anticoncepcionais e a concepção de pecado. Ainda
não se pode esquecer
a
existência daqueles que preferem uma igreja com postura
conservadora (SC
H
MIDT, 1996, p.109).
Os jovens possuem três atitudes em relação religião: a primeira é a de que a
religião é importante e algo interior, que cabe a cada um acreditar do seu modo; a
segunda daqueles que acreditam e participam muito pouco, se limitando a participações
eventuais e a terceira dos que acreditam e participam ativamente dos grupos da igreja.
Estes últimos sentem que a religião sentido e influencia suas vidas, mas que isso
não os impede de fazerem suas críticas (SC
H
MIDT, 1996, p.111).
Os jovens, quando se dedicam a uma prática religiosa, carregam consigo todo
o
imaginário da perspectiva de pertencer a um campo específico ou da emoção que
possa lhe ser proporcionada. Criam uma maneira de pensar e de se colocar no mundo
e acreditam que têm uma tarefa a ser cumprida, uma missão a ser realizada por causa
do chamado a responder.
Assim como os adultos, os jovens buscam o espaço religioso motivados pela
necessidade de viverem uma experiência sagrada, que os alimentem e lhes sentido
à vida. É essa motivação, entre outras, que os levam a se organizarem em grupos. Eles
têm nas lideranças religiosas uma referência de modelo a ser seguido.
É essa vivência grupal que os possibilita se alimentarem através dos mitos, dos
ritos e de toda a simbologia que lhes permite se situarem na realidade, modificando seu
82
ethos
e visão de mundo. A crença dos jovens nas utopias religiosas é o que lhes
sentido de pertença a um grupo. É o que lhes permite seguir uma ritualidade no tempo
e no espaço.
A vivência religiosa como expressão cultural tem ocupado um papel importante
na vida dos adolescentes e jovens e está presente no cotidiano da sociedade. Ela é um
ele
mento catalisador dos medos, perspectivas e aceitações e permanece como valor de
busca vivencial entre os jovens.
Existe também o crescimento da religiosidade voltada mais para a religião da
Nova Era , que se apresenta como uma religiosidade difusa, eclética e que bebe nas
fontes das diferentes religiões e assim, não tem que se comprometer com nenhuma
forma de religião especifica. Ela tem respondido aos jovens preocupadas com saúde,
desequilíbrio psíquico, ameaça à biosfera e outros. Mardones diz que esta religiosidade
pode ser entendida como uma religiosidade adequada ao uniformismo funcionalista da
tecnologia e do domínio do consumismo mercantilista. Esta religiosidade é uma saída
para as necessidades religiosas do indivíduo do neoliberalismo e da global
ização
(MARDONES, 1998, p. 128)
A religião passa ser o manto protetor que devolve à juventude a segurança frente
ao descontrole do mundo e das ameaças. Fundamenta-se nos recursos dos anjos,
espíritos protetores dos antepassados, fenômenos paranormais, o inexplicável, as
visões e as viagens astrais. A religiosidade se apresenta como um contrapeso ao
mercado flutuante, à impotência do estado e aos traumas da modernidade
(MARDONES, 1998, p. 128).
Segundo o autor, com relação a religião a tendência desta geração parece ser
a afirmação da religião interior , que dispensa celebrações e vivências comunitárias
83
(SCHMIDT, 1996, p.112). Conclui-se que as igrejas na atual cultura, necessitam se
adaptar e fazer mudanças internas para integrar os jovens, pois suas pr
áticas
tradicionais não cativam nem respondem à maioria.
4.1.
A religião d
a
emoção e dos inter
esse
s imediatos
A religião católica deixou de ser a religião hegemônica nas nossas sociedades.
Hoje, muitos jovens se confessam cristãos, mas à minha maneira . Deixem me
tranqüilo; sou cristão como quero, quando quero. Tenho filhos, educo os filhos como eu
quero .
Na
raiz desta situação tão contrária à natureza do cristianismo está o fato de
que a Igreja não se renova. Não se renova porque primeiro, está faltando nela o relevo
geracional que origina as crises da transmissão da e segundo, porque não se
renova
na
procura
d
o contacto com
os
outros, com os diferentes.
Há muitos jovens que procuram uma religião centrada nas emoções e com
pouco
vínculo a valores institucionais, a uma estrutura de paróquia e à figura de
autoridade. nestes jovens uma volta ao sagrado, mas um sagrado mais privado,
light,
menos exigente
.
uma rejeição à religião institucionalizada, na qual os jovens não desejam se
envolver com a igreja. Para Boran é uma geração que quer uma espiritualidade
privatizada.
Supermercado
, onde se vai tirando das prateleiras o que convém e combina com
as suas próprias conveniências, é uma religião mais privatizada, sem
preocupação pelas necessidades dos outros, não está na moda defender os
pobres e grupos marginalizados
(BORAN, 2005, p. 10).
84
É crescente, também, a religião neopentecostal, que exerce sobre a juventude
uma atração ligada a experiências afetivas e pessoais. Nessa religião, qualquer pess
oa
pode ter acesso a falar em línguas, pregar e ter acesso direto a Deus, sem mediações.
Nela, as pessoas se sentem seguras frente aos desafios da pós
-
modernidade (BORAN,
2005, p. 11).
Este autor afirma que na Igreja Católica o movimento da renovação cari
smática
segue a mesma linha neopentecostal e
têm
forte influência sobre a juventude em razão
de deixar espaço para as emoções, a imaginação e a fé. Para ele acontece uma
absolutização das emoções, o que leva facilmente ao fundamentalismo, que reduz as
teor
ias, as utopias e os valores universais, limita a base social e a formação da
consciência crítica dos jovens sobre as estruturas injustas da sociedade (BORAN, 2005,
p. 12).
Esse modelo de espiritualidade emocional e de grandes eventos é aceita pelas
igr
ejas e reforçada como condição de sobreviver e de existir com maior número e sem a
perda de fiéis. Nessa opção, a perspectiva de futuro está no interesse e nos resultados
imediatos, de curto prazo, em detrimento do abandono e do não investimento em uma
eva
ngelização mais consistente e de acompanhamento da fé mais sistemática.
Além dessas questões os questionamentos que a juventude faz para as igrejas
no mundo da secularização
10
, os levam a se perguntarem sobre a necessidade e
eficácia da religião.
10
- A secularização é a perda de controle por partes das autoridades sobre a vida das pessoas e de
seu modo de proceder. Para Berger é a libertação do homem moderno da tutela da religião (BERGER,
1971, p. 118).
85
5.
BRE
VE CONCLUSÃO SOBRE O ROSTO ATUAL DA JUVENTUDE
Concluindo esse capí
tulo
, será apresentada uma ntese sobre o rosto da
juventude hoje, pontuando rapidamente
alguns
aspectos: unidade geracional,
educação, violência e drogas, trabalho, padronização cultural,
gênero e juventude.
A juventude é uma unidade geracional que cria, efeitos socializantes e
permitem
aos jovens terem contatos com seus semelhantes a partir de grupos concretos. São
essas experiências concretas de vivência de uma mesma geração que prepara
os
jovens para desenvolver atitudes integradoras e possibilita novas concepções sociais.
Os jovens se organizam a partir da necessidade de resistência e cooperação. No
contexto brasileiro podem-se perceber várias modalidades de socialização da
juventude
, tais como o movimento do h
ip
hop, que cri
am
toda uma forma de se
comportar, vestir, falar
.
os grupos que se encontram a partir das torcidas
organizadas, possuindo suas regras e códigos severos de atuação grupal e os grupos
considerados
tanto por jovens como por adultos como rebeldes: skaitistas, Punks,
roqueiros.
A juventude enfrenta o desafio de buscar formas de se incluir no mundo pós-
moderno. Hoje uma ideologização de que o estudo é um dos instrumentos exigido
pelo sistema a quem quer ter uma asce
nsão social.
Enio Pinto, gerente de Educação do Sebrae
11
diz que
dos
8, 7 milhões de jovens
que estão no ensino médio, apenas 2,7 milhões vão para o ensino superior . Ou seja,
somente 29% dos jovens brasileiros estão na série adequada da vida estudantil
.
Pesquisa feita pelo Sebrae revela que a educação figura em primeiro lugar como
11
-
Tele
-
conferencia realizada pelo Sebrae em agosto de 2003.
86
preocupação da juventude hoje: 38% deles disseram que ir à escola, fazer vestibular e
ir
à faculdade são questões fundamentais.
O Projeto Juventude revelou que existem hoje oito milhões de jovens no Brasil
com baixa renda e escolaridade. Essas pessoas estão com cinco anos de atraso
escolar em relação as suas idades
e
12% dos jovens não freqüentam a escola. O índice
de analfabetismo é de 13,6% entre a faixa de 15 a 24 anos e s
omen
te 2% dos jovens
brasileiros que chegam
à
universidade conseguem
concluir seus cursos
.
Nes
sa
perspectiva pode se perguntar qual será o horizonte profissional e os
projetos de vida, dessas pessoas privadas do direito ao acesso e à permanência na
escola
e a
universidade
. Que poder de consumo terão estes jovens em uma sociedade
globalizada que impõe o consumo como condição para ser e pertencer à sociedade?
Como pensar uma educação que possibilite que os sujeitos possam vir a ser em um
mercado
em
que falta
m vag
as?
A realidade tem sido marcada pelo empobrecimento global, e provoca um
colapso no sistema produtivo e o declínio das instituições Essas questões interferem
diretamente sobre uma grande parcela juvenil,
que
têm que lidar com o desemprego,
com a falta de
recursos físicos
e
materiais que possibilitem s
ua inclusão social.
Como conseqüência desse contexto no mundo juvenil, mais jovens se
envolvem
com o consumo de drogas e com a violência, seja pela dificuldade de realizarem suas
expectativas de vida (alimentada em grande parte por um estilo de vida imposto pelo
mercado e motivada pela comunicação), seja pelo desencanto com a realidade.
A questão das drogas para a juventude está ligada a mitos e
símbolo
s
.
Para
Novaes, os jovens conhecem a perversa conexão do narcotráfico, não localizada e que
funciona como rede no mundo todo. Não é possível falar em drogas sem falar de
87
lavagem de dinheiro. É muito difícil dizer onde se localiza
os n
o
s dessa questão
.
Não
se
trata apenas da Colômbia. Essa rede tem a ver com os jovens, com o constante
surgimento de
novos lugares de distribuição e o surgimento de novos mapas, chegando
até
a
o campo
(NOVAES, 2005, p. 3)
.
Para a autora, os jovens estão afetados pelo narcotráfico mas é pequena a
quantidade de jovens que estão envolvidos tanto
como
no consumo quanto com
o
trafico. O álcool é bem mais grave. O certo é que discriminação pelo local de
moradia
, considerando a conexão do local com pobreza, armamento e narcotráfico.
Essas visões
fazem com os jovens das periferias sejam tid
os como de comportamentos
transgressores às regras e considerados por muitos como irresponsáveis e
delinqüentes
(NOVAES, 2005, p. 3)
.
Os meios de comunicação também contribuem para que a juventude seja vista
assim, pois se preocupam em enfatizar o sensacionalismo, a exploração e o medo, os
conflitos, impondo temor e insuflando as pessoas. A mídia opera com o senso comum e
superdimensiona a sensação de insegurança.
A sociedade do conhecimento está exigindo, cada vez mais, recursos humanos
com alta especiali
zação e capacidade de adaptação às novas tecnologias (BAQUERO,
2004, p. 124). A juventude não tem sido preparada para responder a essa exigência
.
Dessa forma os jovens estão permanentemente na busca de um espaço capaz de
representá
-los e responder a suas
demandas (BAQUERO, 2004, p. 125).
Em decorrência disso, é possível que a tendência seja a de que os jovens terão
comprometido seu papel produtivo de cidadãos, uma vez que as instituições (família,
Estado, religião e escola) produtoras de sentido: não têm conseguido realizar a tarefa
de incluir as novas gerações.
88
Como decorrência da falta de oportunidade, em uma parte da juventude se
observa
o ceticismo, as desesperanças, o distanciamento e a desconfiança dos jovens
em relação às instituições que o se comprometem com suas demandas (BAQUERO,
2004, p. 121).
Existe hoje uma falta de vagas e de mudanças nas relações de trabalho e, com a
modernização, a tecnologia, a precarização do trabalho, a falta de vagas nos postos
formais, o que leva a juventude a buscar alternativas para a sobrevivência. Muitas
vezes, a solução encontrada é o mercado informal, podendo, em alguns casos, os
jovens serem aliciados pelo narcotráfico, levando-os ao uso de drogas, a
marginalidade, à formação de gangs, ao alcoolismo, migrações, êxodo rural, crime,
violência, a exploração do trabalho infanto juvenil e ao trabalho escravo. Toda essa
conjuntura leva os jovens à constante procura e à migração interna e externa.
Nesta procura, um item importante é o que se refere à experiência e capa
cidade.
Segundo Pochmann, o jovem não pode se sentir culpado por não
possuírem
a
experiência
exigida. Os problemas que os jovens enfrentam na busca de trabalho não
são de ordem individual. Não existe uma saída individual, porque não existe emprego
para to
dos (POCHMANN, 1999).
O melhor seria retardar a entrada dos jovens no mercado de trabalho e investir
mais na sua preparação, pois o destino dos jovens que não recebem esse investimento
é o mercado informal, onde mais ofertas de vagas para pessoas de bai
xa
qualificação, em que não se tem estabilidade, em que não registro em carteira
assinada, sem direitos como o 13º salário e férias remuneradas, diminuindo suas
possibilidades de ascensão.
89
Como conseqüência maior na juventude hoje uma visão negativa do campo
político, minando sua legitimidade e credibilidade, o que resultará em uma baixa
qualidade democrática, o aumento da postura individualista, a defesa particular de seus
interesses e pontos de vista.
Os impactos culturais das últimas décadas têm provocado interferências diretas,
sobre os jovens, alterando seu modo de viver e ver as coisas. uma certa
desconfiança na capacidade de rebeldia que tem se manifestado na juventude, pois
suas músicas, danças, linguagens e códigos estão ainda muito carregados da
mensagem consumista do mercado. Não há, na grande maioria dos jovens, uma atitude
de resistência e de enfrentamento da atual imposição cultural mercadológica
globalizada.
Os jovens da cultura pós-moderna sofrem algumas crises identificadas no
panorama sócio cultural do capitalismo, que fomenta a busca do prazer egocêntrico e
provoca nos jovens um individualismo que dificulta a tarefa de assumir relações mais
maduras, e levando
-
os à busca de prazeres momentâneos.
Quanto ao Gênero
12
na atual conjuntura da sociedade, o papel da mulher não
é
o mesmo do passado, pois a realidade tem pautado disputas iguais para homens e
mulheres e as mulheres, jovens também se inserem e exigem mais dos papéis
estabelecidos pelas tradições
que
estabelecem limites
simbólic
os construído
s
socialmente
e
que as diferenciam dos homens.
Ainda é forte o imaginário popular que
representa
a mulher como subordinada ao
homem. Para Zilda Ribeiro, essa visão é reforçada desde a crença na criação da
12
- A questão de gênero é trazida aqui não somente para identificação da categoria masculino e
feminino mas também como um conceito que ajuda a entender como estão organizadas as relações e a
maneira em que socialmente elas são construídas
.
90
humanidade (RIBEIRO, 2004. p. 154). A questão da visão sobre as mulheres vem
sendo construída na história de um peso hierárquico na questão sexual que para
Jussara Reis Prá, impõe à população juvenil códigos e princípios que configuram
situações de desigualdade e de dominação (PRÁ,
2004, p. 81).
A construção da identidade masculina ou feminina é alimentada no tempo e
estabelece assim o que é ser homem e o que é ser mulher. A questão de gênero entre
a juventude é relevante no que se refere
á
suas atitudes e comportamentos
e é
possível
identificar como se estabelecem as redes sociais e políticas por entre os gêneros. A
questão de gênero permite dimensionar
como
são atribuídos os pesos, os valores das
atividades, as competências nos espaços públicos e privados e sua i
ntera
ção com a
cultu
ra,
a política e a economia. Os jovens também acabam sendo envolvidos na
tentação e na armadilha imposta pela sociedade, para reproduzirem as ideologias e
pr
á
ticas sobre as relações de gênero.
Prá afirma que a mulher também é vista somente como reprodutora e não
ignorando que ambos (juventude e mulher) tem potencial social de intervenção. Esta
autora afirma ainda que, por causa dessas questões, o trabalho produtivo representa
para
as jovens a possibilidade de ingresso
que
se mediante a realização de ta
refas
de reprodução e cuidado (PRÁ, 2004, p. 84). Assim a
autora
defende que ser jovem ou
adolescente no feminino tem significado diverso de ser jovem ou adolescente no
masculino.
A transição de jovens para a vida adulta estaria sempre pautada pela
repro
dução de desigualdades sociais expressas, de um lado, pela condição social das
pessoas e, de outro, pela divisão sexual do trabalho
(PRÁ, 2004, p. 91).
E
ssas
e outras questões levam a compreender os limites que podem estar por
tr
ás
da pouca presença das mulheres na atual conjuntura e de suas identidades sociais
91
que vão sendo construídas em espaços bem demarcadas por um conjunto de
elementos para a manutenção de todo um sistema através da vida cotidiana, de
símbolos, costumes, tratamentos, crenças e argumen
tos.
P
ode
, enfim, se especular se os jovens e as jovens de hoje, com suas diferentes
condições sociais, educacionais e de classes estão dispostas a reproduzirem esse
sistema, acabando por delegar ás mulheres jovens o papel de mães e esposas ou
rompe
rem
c
om essa visã
o.
Nos capítulos seguintes serão
abordadas
as utopias e como estas
interage
m
com
a juventude e com a religião, em especial no estudo de caso das lideranças das
Pastorais da Juventude que têm na proposta da Civilização do Amor , o seu horizon
te
utópico.
92
CAPITULO III
A CIVILIZAÇÃO DO AMOR - ENTRE UTOPIA E
REALIZAÇÃO
1. A CONSTRUÇÃO DA UTOPIA
No primeiro capítulo deste trabalho foi visto que o fim da Cristandade
levou ao surgimento da modernidade, que se apresentou como possibilidade de
realização do indivíduo, da liberdade de escolhas e da emancipação, sobretudo do
poder religioso e da possibilidade de acesso aos bens e serviços. Essas promessas
possuíam uma infinidade de horizontes e que, por si só, ficavam inviabilizadas de se
rem
realizadas.
Viu
-
se
também que a pós-modernidade trouxe a globalização, tendo como
resultado novos desenvolvimentos e tecnologias, que possibilit
aram
uma ampliação do
mercado e provoc
aram
a perda das fronteiras, deixando o mundo como numa única
aldeia
global
.
Falou
-se ainda que a pós-modernidade estaria marcada pela crise da
modernidade, pela não realização das promessas originais e pelo desencantamento e a
falência das instituições produtoras de sentido, o que resultou
nu
ma profunda crise de
93
paradig
ma
s da sociedade. Esse novo contexto trouxe consigo a idéia de que as utopias
estavam fadadas ao fracasso.
A juventude é uma das categorias sociais que mais sofre influência dessas
mudanças que vem ocorrendo no mundo. Essa conjuntura influi diretamente em seu
jeito de se comportar, de socializar, construir sua identidade e participar da sociedade.
Frente à crise, as buscas de novos referenciais surgem para que o homem se
sinta seguro e protegido das turbulências da vida cotidiana. Assim, as utopias são o
s
novos nichos que alimentam e motivam as perspectivas de que a realidade possa vir a
ser outra. São as utopias que fazem os jovens permanecerem unidos a grupos,
instituições e na continuação de suas trajetórias de vida.
Este capítulo fará uma retomada da concepção de utopia, aprofundando,
especialmente, a utopia da Civilização do Amor proposta aos jovens pela Igreja
Católica,
como
uma das instituições que têm buscado garantir seu papel de ser
produtora de sentido, adaptando-se a esse novo contexto. Ela ainda é uma das molas
mestras que garantem,
nas pessoas
,
a utopia.
Por essas e outras razões a utopia se constitui como elemento teórico neste
projeto. Nos tópicos seguintes ela será abordada conceitualmente, a partir de suas
raízes históricas e das diferentes concepções acerca da idéia de utopia para, em
seguida, fazer uma relação com a situação da juventude e as utopias no mundo pós-
moderno. Será analisado como a proposta da Civilização do amor surgiu e como os
jovens entraram em contato com ela.
94
1.1
. A ilha de Thomas Morus
Como ponto de partida para a conceituação de utopia, João Batista Libânio
afirma que a idéia de utopia contém uma série de significações nos diversos aspectos:
político, religioso e literário: ora assume o papel de sonhos e quimer
as, ora veste
-
se da
seriedade das ciências sociais, ora colore-se de matizes teológicas (LIBÂNIO, 1989. p.
7).
Um dos primeiros registros que se tem sobre utopia foi feito por Thomas Morus,
na primeira metade do século XVI, na Inglaterra. Utopia para ele era a imaginação de
uma ilha, com águas calmas e pacíficas que a partir da conquista, foi possível se
transformar em um modelo de sociedade constituída por um povo que ultrapassa ainda
hoje a todos os outros em civilização (MORUS, 1956, p. 79).
A ilha de Morus é descrita como um conjunto de cinqüenta e quatro cidades.
Nestas cidades e campos existe todo um processo engenhoso para a produção e o
cultivo da terra. Nelas seus habitantes, os utopianos, convertem em pão os cereais;
bebem o suco da uva, da ma
çã
; bebem também água pura ou fervida com mel e
alcaçuz, que possuem em abundancia (MORUS, 1956, p. 80)
Todas essas cidades são semelhantes, têm toda uma organização urbana com
ruas, praças, edifícios, transporte e vastos jardins. Brilham de elegância e conforto
(MORUS, 1956, p. 82). Os seus habitantes aplicam o princípio do bem comum e
aboliram a propriedade individual. Na utopia de Morus as instituições sociais têm a
finalidade de promover as necessidades do consumo público e individual e de deixar o
maior tempo possível para libertar-se da servidão do corpo e cultivar livremente o
espírito, desenvolvendo suas faculdades intelectuais, pelo espírito da ciência e das
letras (MORUS, 1956, p. 93). Morus traz ainda
uma
descrição quanto à forma de
95
legislar
, de desenvolver a arte, a ocupação do tempo entre trabalho, lazer e descanso e
conclui dizendo que aí está a felicidade.
Nesta sociedade o bem estar e a abundância fazem parte da vida e devem ser
distribuídas entre todos. Nela a mediocridade e a miséria s
ão monstros desconhecidos.
Na Utopia, onde tudo pertence a todos, não pode faltar nada a ninguém. Naquele
país não se vêem nem pobres nem mendigos. Existe, na realidade, uma mais
bela riqueza de viver alegre e tranqüilo, sem inquietação. A república utopia
na
garante essas vantagens aos que, inválidos hoje, outrora trabalharam tão bem
quanto os cidadãos ativos aptos a trabalhar
(MORUS,
1956,
p. 166)
.
A utopia de Thomas Morus diz que a idéia de Utopia é fruto do desejo humanista
como uma forma de reação à sociedade inglesa de seu tempo. Seu pensamento
buscava fazer uma oposição entre a linguagem e o dinheiro.
Para Libânio a:
Utopia constitui uma espécie de arquipélago da imaginação política. Representa
na obra de Th. Morus uma ilha, país ideal, onde habita o povo dos utopianos .
Metáfora para a Inglaterra, essa ilha ideal e verdadeiro libelo de acusações dos
abusos do tempo
(LIBÂNIO, 1998, p. 18).
1.2. O que é utopia
Etimologicamente, Libanio apresenta duas maneiras de conceituar utopia:
O termo utopia permite uma dupla composição
13
no referente às raízes
etimológicas: utopia =
ouk + topos : não + lugar. = eu + topos : bom + lugar
. A
primeira composição: Utopia (ouk + topos) traduz a dimensão de irrealizabilidade,
de não lugar, de caráter fantástico, ideal, irreal da utopia. É o desejado
inalcançável, o lugar que não existe em nenhum lugar. É a presença ausente, a
13
-
Grifo do autor
96
realidade irreal, o alhures nostálgico, a alteridade sem identificação, regido pela
lógica do fantástico. A segunda composição: Utopia (eu + topos) quer traduzir,
não tanto o aspecto de ausência de lugar como a anterior -, mas a
dimensão
de fim (telos) da utopia. Ela quer ser uma realidade boa, melhor
(LIBÂNIO,
1989, p. 20).
Ivone Raimer também retoma a semântica da palavra utopia como termo g
rego
topos e derivados, que significa lugar, espaço, e pela partícula de negação u, sendo
que utopia, então, significa algo como o não-lugar (RAIMER, 2004, p. 113). Para a
autora, trata-se de um horizonte que convida a uma direção e que, no entanto, a ca
da
passo dado, se distancia da mesma.
No que diz respeito
à
utopia e
à
idéia de lugar, Libânio afirma:
É a aspiração de uma forma de convivência onde se implanta efetivamente uma
ordem de vida verdadeiramente justa. Irrompe como germe coletivo de um
mundo
social plenamente humanizado por ser capaz de responder na plenitude
possível aos sonhos e necessidades da vida humana. Representa uma
sociedade radicalmente outra com relação à existente, caracterizada por uma
capacidade de responder adequadamente às necessidades dos homens e
satisfazer as suas aspirações fundamentais
(LIBÂNIO, 1989, p. 26).
Mannheim diz que são utópicas as orientações que transcendem a realidade, e
que buscam mudar as condutas, que abalam a ordem constituída (MANNHEIM, sd, p.
216). Segun
do ele, as idéias de sonhos sempre existiram e somente se tornam utópicas
quando buscam mudar a ordem existente. Ela fica sancionada a impossibilidade de ser
realizada socialmente e podem assim afetar o
status quo.
Santos defende que a utopia tem a ver com a busca radical de algo diferente da
realidade em que se está:
97
A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades humanas, por via da
oposição da imaginação a necessidade do que existe, porque existe, em
nome de algo radicalmente melhor que a humanidade tem direito de desejar e
porque merece a pena lutar (SANTOS, 2003, p. 323).
Para ele a utopia será sempre utópica, pois ela gera novas combinações e
desejos além do que já existe. A utopia recusa a subjetividade do conformismo e cria a
vontade
de lutar por alternativas.T
rata
-se de uma arqueologia virtual porque
interessa escavar sobre o que não foi feito (SANTOS, 2003, p. 324). Seria uma
orientação para escavar a utopia em meio aos silenciados e orientá-
la
para estes, para
as experiências su
balternas, na perspectiva das vítimas.
Dos oprimidos, dos que estão à margem e na fronteira, na periferia, para os que
têm fome de fartura, para a miséria da opulência, para a tradição que deixou de
existir, para inteligibilidade nunca compreendida, para a
s línguas e estilos de vida
proibidos
(SANTOS, 2003, p. 324).
1.3. Utopia e ordem social
Como foi dito anteriormente a utopia interessa aqui para melhor compreender
como as pessoas no seu cotidiano, se alimentam de novos sonhos, esperanças e
possibili
dade como maneira de reagir ao contexto pós-moderno, global e neoliberal. Os
quatro autores trabalhados até aqui se assemelham quando ressaltam que utopia
nasce do desejo inconformado da realidade.
Mannheim diz que a utopia tende a transcender a situação social, pois ao
orientar as condutas, traz elementos que a realidade não contém. Assim é uma contra-
realidade que visa transformar a realidade histórica. Desta forma um grupo que sonha
vai sempre estar em confronto com outros grupos que mantêm a realidade e que
98
defendem que nada nela deve mudar. Os grupos de oposição aos que sonham sempre
dirão que as idéias destes são utopias. É utópico tudo o que ultrapassar a ordem
existente.
Esse enfrentamento da ordem existente leva a criar utopias e revoluções. O
cami
nho da história vai de uma topia, para outra utopia até a utopia seguinte
(MANNHEIM, sd. p. 221). Cada época permite surgir lutas novas por utopias, pois estas
nascem da necessidade de cada tempo e que estes desejos do que não existe é o que
apresenta lim
ites da ordem existente, pois as utopias visam romper esses limites. Assim
é possível que as utopias de hoje venham a ser a realidade de amanhã (MANNHEIM,
sd. p. 227).
Acontece
, segundo esse autor,
que
a utopia pode surgir como uma quimera de
uma única pessoa e que depois passa a serem incorporados a objetivos de grupos
políticos
(MANNHEIM, sd, p. 230). Assim, as idéias do indivíduo carismático podem
se tornar coletivas quando estiverem em contato com problemas correntes importantes
e esteja
m
vincul
ados a objetivos col
etivos.
2.
UTOPIAS
D
OS JOVENS
PÓS
-
MODERNOS EM TEMPO DE CRISE
Para Santo, a promessa da modernidade se fundou na qualidade das formas de
vida para a pessoa, a ecologia, a paz, a solidariedade internacional, a igualdade sexual
e a democratização política, a democratização radical da vida pessoal e coletiva.
Uma
das promessas era a emancipação desenhada pela modernidade.
99
2.1.
A c
rise das utopias
Como resultado do não cumprimento das promessas da modernidade
gerou
-
se
uma crise de regu
lação social, igual à crise de emancipação social
, d
ando assim a idéia
de que as sociedades não têm que cumprir nada que esteja além delas (SANTOS,
2003, p. 35).
Pode
-se notar os sinais dessa crise de utopias também nas questões da
expansão extensiva do m
ercado
,
do consumo, da perda das fronteiras, do surgimento
de novos costumes, de novas linguagens e ideologias; o desabrochar de novas
identidades regionais e locais.
A crise da modernidade marca a separação daquilo que estivera tanto tempo
unida, o homem e o universo, as palavras e as coisas, o desejo e a técnica. De
nada vale voltar atrás, em busca de um princípio de unidade absoluta
(TOURAINE, 1995, p. 244).
O contexto em que vive a juventude é marcado pela crise de paradigma da
atual sociedade. Isso tem influência sobre os jovens, fazendo com que se sintam
inseguros e fragmentados, dificultando sua inserção no mundo adulto com os
compromissos que lhes são apresentados. As ideologias atuais abrem caminhos e
buscas que envolvem uma carga de irresponsabilidade, de ceticismo, de libertinagem e
de hedonismo (PARKER, 1996, p. 344).
Mas também aspectos positivos neste novo contexto pois a juventude de
hoje encontra a oportunidade de expandirem sua visão do mundo, aumenta suas
possibilidade de encontro com a diversidade cultural da humanidade e também e
estabelecerem redes de trocas para novas formas de relacionarem.
100
A idéia de progresso tem se transformado em acumulação de capital, em que a
natureza é condição de produção.
O homem moderno está em crise, porque está em crise a relação consigo
mesmo e com o seu ecossistema. O homem está se cindindo e rompendo sua
harmonia original. Desmoronou-se todo um universo de valores e de categorias
que sustentou toda uma era de sonhos prometeicos, base das utopias
co
nservadoras, liberais, desenvolvimentistas e também dos socialismos histórico.
Presenciamos o desmoronamento do quadro de compreensão ordenado e
coerente do cosmo e da história como um curso ascendente, progressivo e
unilinear
(PARKER, 1996, p. 344).
2.2.
As promessas da pós
-
modernidade aos jovens
Várias são as promessas da pós-modernidade aos jovens.
Oferece
-se um leque
de possibilidades para que a juventude possa, em meio a abundâ
ncia
, construir seus
desejos, sonhos e utopias.
A sociedade hoje está orie
nt
ada para utopias e sonhos que têm em suas
proposta
s a promessa de realização da pessoa. Pessoas individuais, livres,
responsáveis por sua realização. É uma utopia que convida a juventude a se
comprometer com os ideais de independência, autonomia, realização, conquista e
capacidade.
Cada jovem é chamado a desempenhar papéis nos quais ele possa consumir e
assumir os valores que lhes são apresentados. A sociedade empurra o indivíduo ou
grupo em busca da sua liberdade através de lutas infindáveis contra a o
rdem
estabelecida e os determinismos sociais. Porque o individuo é sujeito pelo domínio
de suas obras, que a ele resistem (TOURAINE, p.222).
101
Promete
-
se
à juventude a possibilidade de acesso a novos territórios simbólicos
e imaginários entre o real e o hiper-real. Oferece-
se
a oportunidade de constante
mobilidade e transnacionalização através do turismo, do consumo, dos meios de
comunicação.
Este novo contexto cultural oferece à juventude um mundo que se baseia na
especialização progressiva do conhecime
nto.
A pós-modernidade propõe que a pe
ssoa
seja
capaz de se relacionar com os novos meios de comunicação em redes de
organizações nacionais e internacionais. O novo modelo sugere os jovens consumam e
dominem as novas tecnologias.
Oferece
à juventude e às pessoas em geral novas tecnologias cientí
fica
s que
possibilita
m diversas técnicas que prometem uma vida mais longa, fácil e confortável
,
como a revolução cibernética, que tem influência nas questões da biomedicina e que
oferece infinitas possibilidades para
a vida humana.
2.3. Conseqüência das promessas utópicas pós-
moderna
s sobre a vida dos
jovens
Como conseqüência, cresce no meio dos jovens um egocentrismo que se
preocupa somente com sua pessoa e com o momento presente. Para os que não
conseguirão se inserir neste contexto e realizar as promessas da utopia pós-
moderna
resta o sentimento de inutilidade, fracasso
e
inexistência.
Outra conseqüência é que a promessa de realização aqui e agora leva a uma
crescente deslegitimação das lutas, ao aumento da diversidade conflitiva, o não
acreditar na capacidade de lutar para mudar frente a questões como a explosão
102
demográfica, a globalização econômica que separa e diferencia cada vez mais o centro,
a semiperiferia e a periferia global.
que se analisar que muitas das utopias oferecidas à juventude têm uma
temporalidade descartável, de interesses classistas, que nem sempre estão orientadas
para o bem comum. Como foi visto no segundo capítulo o mercado oferece uma
utopia que mais que liberdade e sonho, gera uma d
itadura do
consumo e uma exclusão
de quem não tem capacidade e acesso ao desejado. A sociedade contemporânea,
chamada de sociedade do conhecimento e da comunicação, está criando,
contraditoriamente, cada vez mais incomunicação e solidão entre as pessoas.
Mesmo em meio a todas as promessas utópicas da pós-modernidade para a
juventude, não se pode esquecer que na história recente o movimento juvenil dos anos
de 1960 revelou a utopia da contracultura, que se inseriu na luta por direitos civis das
minorias. Par
a muitos essa década pertenceu aos jovens, quando eles foram os atores.
Hoje se fala que os jovens reinventam essa realidade, questionam o modo de
vida e geram espaços de identificação. Os jovens articulam suas demandas específicas
de trabalho, sexualidade e moradia com aquelas que lhes afetam de maneira
fundamental: o lazer, a saúde, a segurança, a educação e cultura. Eles modificam os
espaços de seu mundo social, subjetivo e da vida cotidiana e fazem de suas modas
juvenis estilos e expressões de seus sonhos e utopias de lugar no mundo.
Os
movimentos juvenis que estão organizados e reconhecidos atraíram outros jovens de
meios sociais extremamente distintos e têm, juntos, procurado criar redes de relações.
Associa
-
se
para o compromisso e com a possibilidade de prefigurar um estilo de
vida diferente e buscar sua concretização. Neste sentido, as utopias são
inerentes à vida humana. A utopia não morreu, como asseguram os pós-
103
modernista
s, vivemos um processo de reconstrução de utopias (ARCE, sd, p.
201).
Arce afirma que a idéia de futuro encontra-se intimamente ligada á imagem de
utopia e, assim, é possível o aparecimento de projetos alternativos para construir novas
formas de vida. Para ele a idéia de utopia se associa ao compromisso de construir um
estilo de v
ida diferente.
3. UTOPIAS RELIGIOSAS PARA A JUVENTUDE
Este tópico traz uma breve retomada histórica da presença dos jovens na Igreja
Católica e apresenta Civilização do Amor proposta pelo Papa Paulo VI e como esta foi
assumida pelos bispos da América
Latina para a juventude.
3.1.
His
tória d
os jovens na Igreja Católica
A Igreja Católica no Brasil desde sempre atuou com a juventude. Essa atuação
se deu no século passado através das escolas mantidas pelas congregações que
tinham como opção o trabalho
com a juventude.
A atuação dessas escolas valorizava, sobretudo, os chamados Movimentos
Marianos , que tiveram grande repercussão junto à juventude até o Concilio Vaticano
II. Esses movimentos eram marcados pela presença de adultos que davam à direção
uma característica de assistência e missão popular e que, mais tarde, resultou,
numa
dimensão de promoção social.
Por volta de 1930 e 1940 surg
iu
na América Latina a Ação Católica Geral vinda
da Itália e que muito influenciou a juventude católica. A Ação Católica dava prioridade à
104
militância dos leigos, formando-os para uma participação nos ambientes para a
promoção dos direitos da igreja na vida da sociedade
(CELAM, 1997, p. 71).
Fruto dessa experiência foi a Ação Católica Especializada, chamada conforme o
ambiente: Juventude Agrária Católica
JAC, Juventude Estudantil Católica
JEC,
Juventude Independente Católica
JIC,
Juventude Operária Católica
JOC e
Juventude Universitária Católica
JUC. A Ação Católica Especializada foi possível por
causa de uma pequena parte da igreja que sentia a necessidade de mudanças e novos
posicionamentos dos religiosos diante das desigualdades sociais do país.
A Ação Católica Especializada foi uma tomada de posição dos cristãos diante das
questões da realidade social e cultural, com uma nova pedagogia centrada no
testemunho e na metodologia indutiva do ver-julgar e agir, com objetivo de promoção
dos ambientes de atuação para a transformação social.
Angela Paiva afirma que a Ação Católica
Foi fundamental para novas propostas de participação cidadã, especialmente
porque vai propiciar que grupos excluídos da sociedade passem a contar com
novas condições, tanto em termos de recursos quanto de valores para uma nova
leitura do que é ser cristão; quando ser cristão passa a ter como fundamento a
participação radical na transformação das estruturas sociais que oprimem e
limitam
(PAIVA, 2003, p. 13).
Para a autora, a Ação Católica vai promover novos atores na religião, com novas
formas de pensar a ação social.
Assim
sendo, essa esfera adquire uma dimensão inteiramente nova e de grande
significação para
a
construção da cidadania plena, quando valores religiosos
fornecem um novo sentido para a vivência religiosa. E essa prática pode levar à
ampliação da visão de mundo necessária para a maior inserção do
105
cristão/cidadão
n
o contexto mais amplo
(PAIVA, 2003, p. 13).
Segundo Paiva, a Ação Católica foi um momento de mudança profunda no ethos
religioso, pois propôs uma nova leitura do que é ser cristão, por isso foram chamado
s
de católicos radicais ou de esquerda. Ela afirma que a Ação Católica foi capaz de
utilizar
-se da própria estrutura religiosa para o engajamento na esfera social (PAIVA,
2003, p. 165).
Com o fim da Ação Católica Especializada, nos anos 1970, surg
em os
cha
mados
Movimentos de Encontros que têm como metodologia o impacto emocional. São esses
movimentos que vão preparar o terreno para o surgimento da Pastoral de Juventude
nos anos de 1980. Essa pastoral vai surgir da necessidade de organização dos jovens
em di
ferentes níveis: paroquial, diocesano, regional e nacional.
Em meio a esse tempo a Igreja Católica Universal passa pelo fato inovador que
foi o Concílio Vaticano II, que trouxe uma nova revisão do papel da igreja na história,
com o objetivo de uma aproximação com os leigos, através de uma nova liturgia e
adaptação às linguagens nacionais. A conferencia dava também, um novo destaque à
inserção dos católicos no mundo, ao encontro da igreja com a sociedade e com o
desejo de empenhar-se para a transformação das estruturas que promoviam a injustiça
(PAIVA, 2003, p. 173).
Na América
Latina
a repercussão do Vaticano II foi visível nas conferências de
Medellín (1968) e Puebla e (1979). Essas conferências destacam como prioridades a
opção pelos pobres e pela juventude. As opções pelos pobres e pela juventude tiveram
como pano de fundo uma disputa entre, de um lado, os bispos da chamada Teologia da
Libertação, que percebiam a necessidade de uma maior inserção da igreja na realidade
106
sofrida da América Latina e, de outro os bispos da linha mais conservadora que
optaram pela juventude.
Tanto o Vaticano II como as conferências de Puebla e Medellin sofreram
influência da Teologia da Libertação. Essa teologia foi um conjunto de reflexões sobre
as experiências de leitura da bíblia em meio ao processo de injustiça sofrida por
homens e mulheres da América Latina. Ela foi possível por causa do desejo de uma
teologia que surgisse da experiência e do compromisso libertador dessa realidade.
A Teologia da Libertação pr
opunha
a
mudança radical, a libertação do homem e
a construção de uma sociedade justa e fraterna, na qual todos possam viver com
dignidade e ser agentes de seu próprio destino. É uma teologia crítica sobre a presença
do homem na história (GUTIERREZ, 1986, p. 10).
teremos uma autêntica teologia da libertação quando os próprios oprimidos
puderem alçar livremente a voz e exprimir-se direta e criadoramente na
sociedade e no seio do povo de Deus. Quando eles próprios se derem conta da
esperança de que são portadores. Quando forem agentes de sua própria
libertação
(GUTIERREZ, 1986, p. 250).
O autor defende que a teologia da libertação prega o compromisso com a
realidade como condição para acabar com a injustiça e construir a sociedade nova. É a
libertação de toda opressão, exploração e que o homem novo passa por essa luta.
Tudo isso levou a Igreja Católica
e
dar uma importância às pequenas comunidades
eclesiais e à necessidade de somar forças pastorais numa Pastoral de Conjunto.
Em 1968, a II Conferencia Geral do Episcopado Latino-Americana, reunida em
Medellín, estimulada pela importância que o papa Paulo VI deu à juventude
quando afirmou, em seu discurso inaugural, que era um tema digno do máximo
interesse e de grandíssima atualidade , dedicou seu documento nº 5 à
juventude.
107
Foi a primeira vez que se produziu, no continente, um documento oficial da Igreja
sobre o tema. Medellín foi, assim, a força geradora e renovadora do processo de
pastoral da juventude
(CELAM, 1997, p. 81).
Da mesma II Conf
erê
ncia sairia a de
cisão de propor, como meta e desafio para a
juventude latino-americana, a construção da Civilização do Amor (CELAM, 1997, p.
82)
, tema e objeto dessa pesquisa
.
Essa opção levou a Igreja a organizar a Pastoral da Juventude em todas as
Conferências na América Latina. Na década de 1980 e 1990 o Conselho Episcopal
Latino Americano, através da seção Juventude, passou a orientar a missão e a
animação da evangelização da juventude no continente. Iniciou uma série de encontros
de responsáveis nacionais pela Pasto
ral da Juventude.
Os encontros de responsáveis nacionais de pastoral da juventude se tornaram se
espaços privilegiados para a construção de um corpo de atuação da igreja com a
juventude. As reflexões constantes dos encontros resultaram na construção de um
a
p
roposta global de pastoral da juventude:
Construtora da Civilização do A
mor
, uma pedagogia para acompanhar os
processos de formação humana e cristã dos jovens; uma metodologia adequada
para o trabalho de grupo; uma espiritualidade para o seguimento de
Jesus e uma
organização participativa
(CELAM, 1997, p. 13)
3.2.
Paulo VI e a
Civilização do Amor
Na busca sobre a origem, a definição e as características da utopia da
Civilização do Amor , é necessário voltar ao ano de 1975. O termo Civilização do
Amor tem sua origem na homilia do Papa Paulo VI, no dia 25 de dezembro de 1975, no
108
discurso conclusivo do Ano Santo e no 10º aniversário do Concílio Ecumênico Vaticano
II. A homilia foi proferida na missa da meia noite de Natal, e foi vista por mais de 330
milhões de pessoas em 41 países, nos cinco continentes (ENSINAMENTOS, 1975, p.
485).
A seguir uma síntese dos discursos de Paulo VI sobre a Civilização do Amor :
Primeiro discurso
O texto da homilia do papa Paulo VI diz que o rito de abertura da Porta do Ano
Santo se faz com a invocação da misericórdia sobre a Igreja e o mundo. Para ele novas
utopias são necessárias para os homens daquele século que ele classificou como
esplêndido, babélico, trepidante e corajoso, que está a procura da revivência e a
reconciliação harmoniosa com o Deus da justiça e da bondade (ENSINAMENTOS,
1975, p. 486).
O discurso faz mensão ao êxito da religião em restabelecer a vida na
modernidade histórica, atual e civil. Esteja ela em estado de ceticismo, negação ou
indiferenç
a. Percebe-se se que a igreja quer reencantar o mundo a partir de uma
proposta religiosa como condição de mudar a realidade, mas para isso ela apresenta a
perspectiva da cristianização do mundo.
Para Paulo VI, o Ano Santo é sinal dos tempos e que o amor ao próximo e aos
homens surge das necessidades, da compreensão, da ajuda, do conforto e do sacrifício
à pessoa seja ela próxima ou distante. O discurso segue dizendo que o amor fraterno
caracteriza as obras cristãs e que irá manifestar uma nova fecundidade, vitoriosa
felicidade e regenerante socialibidade. Sua dialética não será o ódio, nem contendas,
nem avareza, mas, sim, o amor, o amor que gera amor, amor do homem pelo homem
109
(ENSINAMENTOS, 1975, p. 488).
Antes de concluir o discurso, o papa apresenta a proposta da Civilização do
Amor , como condição de amor a Cristo descoberto no sofrimento e na
necessidade de todo homem. A Civilização do Amor
prevalecerá sobre o afã das
implacáveis lutas sociais, e dará ao mundo a sonhada transfiguração da humanid
ade
fina
l
mente cristã
(ENSINAMENTOS, 1975, p. 488).
Paulo VI volta ao tema da Civilização do Amor em outros discursos e estes
possibilitam entender onde ele quer chegar com a proposta desta utopia e apresenta
também as características definidoras da Civilização do Amor .
Segundo discurso
Em 14 de janeiro de 1976 Paulo VI fala da Civilização do Amor num texto
sobre alegria e cruz.
Nós veremos geminar destas, outras palavras, outras fórmulas fecundas
14
, que
teremos gosto em cultivar e em fazer com que informem o
estilo
e o
programa
da nossa renovação cristã. A busca e a escolha de alguma fórmula simples
e sintética está no gênio do nosso tempo. Uma fórmula foi por nós alcançada
fugazmente, quando nos propusemos buscar na Civilização do Amor o fru
to
religioso, moral e civil do Ano Santo
(ENSINAMENTOS, 1976, p. 5).
É possível identificar no discurso acima algumas expressões e características
que o Papa desejava ao apresentar a Civilização do Amor e nota-se os termos
geminar , fórmulas , estilo , dando a idéia de algo que ainda está para ser construído
que dependerá de um programa, de busca e escolha.
14
-
Grifos meu
s
110
Nesse segundo discurso, Paulo VI se inspira em Santo Agostinho sobre a Cidade
de Deus, alertando para que não seja construída a cidade terre
na contrária ao amor de
Deus, o único que pode ser fundamento da cidade celeste, a cidade também única a
poder, no nosso pensamento, realizar a civilização do amor (ENSINAMENTOS, 1976,
p. 5).
O discurso da utopia da Civilização do Amor é concluído trazendo a idéia de
que o Reino de Deus começa na terra e que não se encontra em um estado definitivo e,
por isso, deve-se pedir que ele venha. Este desejo está no campo da fé, da esperança,
e que seja experimentável no amor.
Ainda neste discurso o Papa afirma que a Civilização do Amor é uma das
fórmulas para se chegar ao Reino de Deus, uma novidade trazida por Jesus Cristo.
Ensina Paulo VI que o primeiro a falar no Reino de Deus foi João Batista o que depois
se torna a centralidade da pregação de Jesus:
É necessário que esta doutrina do Reino de Deus seja por nós adquirida com
plenitude de adesão, prontos a gozarmos da alegria que lhe é própria...
F
azemos
dela argumento do nosso dialogo com o mundo profano que nos rodeia.
Venha
sim o Vosso Reino, ó Cristo; o Vosso Reino, o Deus; deveremos dizer sempre,
quando pensamos agimos e rezamos
(ENSINAMENTOS, 1976, p. 7)
.
Terceiro discurso
No terceiro discurso Paulo VI afirma que a Civilização do Amor é um feixe
luminoso que se expande em um mundo de sombras e de resplendores confusos. Para
ele, essa idéia é um título pleno de significado e programas.
Sim desejaríamos que a crônica dos dias que se seguem ao Ano Santo, bem
como dos anos futuros, se caracterizassem por esta fulgurante e animadora
111
corrente do amor evangélico, redescoberto e reacendido pela renovação e pela
reconciliação
(ENSINAMENTOS, 197
6
, p. 8
).
Segue o texto dizendo que as condições morais, sociais e políticas em que o
homem vive no mundo acabam se contradizendo, pois a terra encontra-se cheia de
problemas, agitações e conflitos o que torna ingênuo o desejo e a esperança da
Civilização do Amor . O Papa propõe então a reafirmação da vontade de fazer do amor
social, da caridade e do compromisso prioritário uma luta de encontro e persistência.
Para ele esse amor não é uma solução automática frente ao progresso apresentado
pela humanidade.
A Civilização do Amor tende para a paz, para a fraternidade. Trata-
se
precisamente de uma paz
dinâmica
e corajosa como é a paz animada pela
caridade.
Se compreendemos isso, podemos compreender também o caráter da
civilização que deseríamos surgir do amor; uma civilização que, precisamente
por ter a sua origem experiência no amor à humanidade e por
se propor levá
-
la a
gozar a feliz experiência do amor, deverá dedicar-se à busca dos autênticos e
plena dos valores da vida
(ENSINAMENTOS, 197
6
, p.
9).
Quarto discurso
O quarto discurso proferido em 08 de janeiro de 1976, aparece
novamente
a
utopia da Civilização do Amor ,
Quer dizer, fazemo-nos pensar num primeiro aspecto daquela desejada
renovação a que nós chamamos civilização do amor , e que outra coisa não é
senão o ágape, o amor, a caridade, primeira animadora da nossa maneira de
viver
(ENSINAMENTOS, 197
6
, p.
13).
112
3.3. A
Civilização do Amor na Igreja
Católica
da
América Latina
Na Conferência Episcopal de Medellin, Paulo VI referia-se à juventude como um
tema atual e digno de grande interesse, sendo ela considerada como uma grande força
nova de pressão e como um novo organismo social com valores próprios. Isso se deu
com a preocupação da igreja de que a juventude estava em uma época de crises, e que
segundo ela, uns aceitavam as formas burguesas da sociedade e outros as rejeitavam
(DICK, 2005, P. 01).
Essa tornou-se uma preocupação legítima para bispos, porque a juventude
desejava transformações profundas, que garantissem uma sociedade justa. A igreja viu
nos jovens sensibilidade aos valores novos. Para Dick a igreja percebeu que a
juventude era uma possibilidade de renovação da vida da humanidade, tendo nela um
sinal de si mesma e a convida a uma revitalização, mantendo a na vida e
conservando sua faculdade de alegrar
-
se com o que começa. O documento de Medellin
diz que a juventude é o símbolo da Igreja e que por isso deseja auscultar atentamente
as preocupações dos jovens para ter uma atitude diálogo e reconhecimento do seu
papel na missão profética. Por isso a igreja quer desenvolver, dentro da pastoral de
conjunto, uma autêntica pastoral de juventude, educando os jovens a partir de suas
vidas, permitindo
-
lhe
s plena participação na comunidade eclesial (DICK, 2005, P. 01).
A quarta conferência vai então fazer a opção concreta pela juventude junto com
a opção pelos pobres. Em Puebla propuseram aos jovens da América Latina um
projeto de vida que tem implicações nos planos pessoal, familiar, comunitário, social e
eclesial: construir a
C
ivilização do
A
mor
(CELAM, 1997, p. 147).
Com essas definições sobre a origem e as características da Civilização do
Amor , o tópico seguinte vai trazer como essa proposta foi incorporada pela Igreja da
113
América Latina e proposta à Pastoral da Juventude.
3.4. A Civilização do Amor : uma proposta para o hoje
Puebla afirma que a igreja dirige insistente convite para que os próprios jovens
busquem encontrar
na Civilização do Amor
o lugar de sua comunhão com Deus e com
os homens, a fim de continuarem
a utopia
e edificarem a paz na justiça
.
A Civilização do Amor é um conceito referencial da organização da Pastoral
da Juventude da América Latina, que desde o início da década de 1980, vem sendo
sonhada, trabalhada e buscada pelas lideranças que compõem esta pastoral em todo o
continente. Assim o projeto de Civilização do Amor foi sendo gestado e vivenciado
pelos jovens em suas experiências comunitárias, através de uma proposta peda
gógica
que foi sendo ao mesmo tempo sistematizada e t
ornou
-se um documento publicado
pela primeira vez em 1987, como resultado de uma série de
recopilações
e
sistematizações, com a colaboração de várias pessoas.
Em 1994 uma comissão foi
formada por pessoas leigas e sacerdotes
15
com representatividade de toda América
Latina, que tratou de dar uma nova redação ao documento sendo em 1995 publicado a
sua última versão como: Civilização do Amor: Tarefa e Esperança
Orientações para
a pastoral da juventude Latin
o-
Americana
. Com o objetivo maior de:
Contribuir para tornar mais efetiva a opção preferencial pelos jovens e,
especialmente, para apresentar uma proposta evangelizadora séria, capaz de
responder às exigências das mudanças culturais do mundo de hoje, entu
siasmar
os jovens no seguimento de Jesus e tornar real a tão desejada civilização do
amor
(CELAM, 1997, p. 13).
15
- Daniel Bazzano, (Uruguai) Juan Ramom Córdoba (El Salvador), Hilário Dick (Brasil) Derry Healy
(Chile), Alejandro Londonõ (Colômbia), Germán Medina (Republica Dominicana), Felicio Rodrigues (Porto
Rico), Horácio G. Penengo.
114
O documento da Civilização do Amor ganhou repercussão para a Pastoral da
Juventude da América, quando o Papa João Paulo II passou a ter a juv
entude como um
dos seus destaques. João Paulo II por diversas vezes escreveu aos jovens e lhes
dedicou apoio em seus encontros continentais e nas jornadas mundiais da juventude.
No documento Civilização do Amor: tarefa e esperança , em seu marco
doutrinal
que
afirma a Civilização do Amor foi apresentada pela Igreja aos jovens
católicos como um chamado de Deus Pai para que, junto com Jesus, a juventude fosse
testemunha de compromisso, entrega, profetas dessa civilização no continente. Sendo
essa uma resposta aos questionamentos existenciais dos jovens, para uma plenitude
de vida e comunidade.
Para a Pastoral da Juventude essa utopia é um conjunto de características e
valores próprios da cultura de um povo, diante do mundo em crise de civilização
(CELAM,
1997, p. 148). As Pastorais da Juventude afirmam que, frente à crise de
civilização atual do mundo, os valores e anti-valores tradicionais estão se perdendo e
surgindo novos valores e anti-valores. A Civilização do Amor se apresenta como uma
proposta fundada sobre valores universais de paz, solidariedade, justiça e liberdade,
que encontram em Cristo sua plena realização (CELAM, 1997, p. 148).
A Civilização do Amor está
descri
ta como aquele conjunto de condições
morais, civis e econômicas que permite à vida humana uma condição melhor de
existência, uma racionalidade plena, um feliz destino eterno (CELAM, 1997, p. 148).
Essa civilização deveria crescer na América Latina entre os pobres e os que sofrem.
Trata
-se da dignidade, libertação e pleno desenvolvimento da pessoa, da nova cultura
de vida e a solidariedade, verdade, justiça e libertação plena do amor. A Civilização do
115
Amor é um chamado a reconhecer que o Reino de Deus cresce na América Latina
entre
os que sofrem
(CELAM, 1997, p. 149).
A Civilização do Amor é descrita como serviço à vida, opção incondicional pelo
amor, capaz de gerar uma nova cultura de vida, em que estão valorizados cada homem
e mulher. Nesta civilização supõe-se acreditar no estilo de vida apresentado por Jesus,
com seus critérios e valores e que, desse pensamento é possível originar profundas
mudanças nas consciências, que farão surgir novas estruturas sociais, mais justas.
Defende ainda que é um esforço dos cristãos não no âmbito pessoal mas
também no social, sendo uma alt
ernativa que proporciona aos jovens uma outra cultura.
É um compromisso criador para novos modos de
encarnar
o amor.
O documento do CELAM diz que não se trata de uma ideologia, nem sistema
técnico e que o é papel exclusivo da igreja. Essa é uma tarefa de toda sociedade e
os cristãos contribuem com suas visões, propostas e valores.
É uma entrega e serviço. É critério inspirador e realização no tempo. É a luta
para que as normas
do
direito, as leis que estruturam a convivência, a ação
política, as relações trabalhistas e sociais, os projetos de cada país, as culturas,
os modos de ser, as novas sensibilidades
,
reflitam cada vez mais a escala de
valores que ela propõe
(CELAM, 1997, p. 150).
A Civilização do Amor é descrita como uma proposta total. Segundo os
autores, é um projeto de vida com conseqüência na vida familiar, nas relações, na fé,
na comunidade eclesial, no compromisso político e no trabalho, lazer, ciência, arte e
cultura. É um compromisso que exige esforço organizado e que significa sinais de vida,
unidade, ternura, esperança e paz. Os jovens têm a abundância deste espírito, com sua
audácia, dinamismo, espontaneidade, amizade, espírito de luta, solidariedade, alegria e
116
criatividade (CELAM, 1997, p. 151).
Defende o documento que é por isso que a idéia da Civilização do Amor é
uma
utopia
, pois se trata de transformar pelo amor, ideal atraente, grandioso e
fascinante.
É uma utopia pela qual vale a pena arriscar-se e entregar a vida. É um ideal,
contudo, que vai se concretizando e se historicizando nos pequenos e grandes
compromissos de cada dia que anunciam e fazem acreditar na possibilidade de
sua plena realização. A civilização do amor é tarefa e esperança. Não se trata de
um sonho adiável para o futuro, nem de um desafio que se pode realizar num
dia ou numa só geração
(CELAM, 1997, p. 152).
Por isso a Pastoral da Juventude defende que a Civilização do Amor é a
reafirmação de dez valores básicos como: sim à vida; sim ao amor como vocação
humana; sim a solidariedade; sim à liberdade; sim à verdade e ao diálogo; sim à
participação; sim ao esforço permanente pela paz; sim ao respeito pelas culturas; sim à
integração latino
-
americana.
E que assim essa civilização terá que dizer não: ao individualismo, à
absolutização do prazer, ao consumismo, à intolerância, à injustiça, à discriminação e à
marginalização, à corrupção, à violência. Afirma os autores que a Civilização do Amor
possuem os seguintes primados: primado pela vida humana sobre qualquer outro valor
ou interesse; primado da pessoa sobre as coisas; primado da ética sobre a técnica;
primado do testemunho e da experiência sobre as palavras e as doutrinas; primado do
serviço sobre o poder; primado de uma economia solidária sobre a produção de
riqueza; primado do trabalho sobre o capital; primado da identidade cultural latino-
americana sobre outras influencias culturais hegemônicas; primado da fé e da
117
transcendência sobre toda tentativa de absolutizar o ser humano.
A utopia da Civilização do Amor está composta de uma serie de reflexão e
ima
gens que formam o seu imaginário. Sua proposta traz considerações, expressões
sociais, capacidade de revitalização, conteúdos, pulsões, emoções coletivas. Assim o
imaginário dessa utopia visa forjar sentidos, identidades, desejos e os sonhos que
orientaria
m os jovens frente às representações da sociedade que eles querem tecer.
Conforme apresenta Swain o imaginário dessa utopia tem atravessado
diferentes linguagens, visa atuar na formação religiosa dos jovens da igreja católica e
modelar todo o conjunto das relações destes. É uma utopia que tem poder nos bens
simbólicos (SWAIN, s/d p.51).
Todo poder engendra formas de resistência, e um contra-imaginário está sempre
presente, tomando para si muitas modalidades do imaginário transformador,
aquele que cria dispositivos simbólicos outros, para assegurar a legitimidade de
novas relações de poder. O imaginário instaura relações de sentido, paradigmas
que se apresentam como verdades
(SWAIN, sd, p. 51).
Nesta perspectiva as idéias imaginárias da utopia Civilização do Amor estaria
para a criação de novos sentidos, que permitam um deslocamento para a implantação
de novas práticas ou reforçar a prática instituída.
3.5. Civilização do Amor e transformação da sociedade
Na concepção de utopia se percebe sempre no horizonte o sonho de uma outra
realidade, da transformação daquilo que um determinado grupo julga como
anomia
.
Poderia se especular sobre qual é a finalidade da Igreja Católica ao propor uma
utopia para ser seguida por seus jovens. Eric Hobsbawn defende que os grupos criam
118
propostas para se tornarem tradição e assim poder estabelecer um conjunto de práticas
e regras a serem aceitas. Elas visam inculcar valores e normas de comportamento e
que estas se dão através da repetição e têm relação de continuidade com o passado
(HOBSBAWN, 1984, p. 09).
Por trás da intenção da utopia proposta pelo papa Paulo VI está o desejo da
igreja voltar a regular as ações do sagrado frente ao mundo profano e em busca do
encantamento. A igreja deseja uma volta aos valores apregoados por ela. O projeto
dessa utopia teria como finalidade a coesão social de seus fiéis. Seria então a
Civilização do Amor uma invenção da igreja (do poder) para construir um novo
ethos
em meio à juventude? No texto inicial sobre a Civilização do Amor a
firma
-se que essa
é uma genial intuição que levou a propor aos jovens um projeto de vida com
implicações pessoais, familiares, comunitários, sociais e eclesiais (CELAM, 1997, p.
145) . Resta saber e verificar como tem sido exercido o controle dessa proposta junto
aos jovens,
Uma utopia nova surge da necessidade de mudança de valores em condições
novas. A questão da inovação faz parte da construção de identidade da juventude, por
características próprias e por estarem os jovens em tempo de construção e de
afirmação do seu lugar no mundo e assim, estão por natureza mais propensos à
assimilação ou à contestação das normas e valores de outra geração.
Pode acontecer que os fins últimos dessa nova utopia sejam a de excitar o
imaginário para que haja uma luta p
or
esperança, p
or
justiça e p
or
não tolerância. O
contrário, porém, também é possível, que essa utopia seja trazida pelos sacerdotes da
igreja para formarem lideranças que dêem continuidade as suas idéias de ordem,
direito, segurança e estruturas de poder.
119
Fato semelhante se nota nos conflitos entres as gerações que se cruzam nas
suas diferenças de idade, onde os mais velhos, sentem na responsabilidade, diante dos
jovens de serem os guardiões e defensores do acúmulo adquirido e que o melhor é
adaptar suas tra
dições para não serem ameaçadas pelos jovens.
É natural que as Pastorais da Juventude enquanto
pertencente
s a uma
organização que está em disputa com outros grupos, vá procurar se firmar e dar
respostas convincentes ao seu imaginário construído. Pois é isso que lhe sentido de
existência. Hobsbawn diz que a maioria das ocasiões em que as pessoas tomam
consciência da cidadania como tal permanecem associadas a símbolos e práticas semi
-
rituais, que em sua maior parte são inventadas (HOBSBAWN, 1984, p. 20).
O último capítulo deste trabalho faz uma apresentação da Proposta das
Pastorais da Juventude, e as percepções das lideranças desta organização acerca dos
seus pape
is
enquanto jovens e enquanto igreja na busca de construírem a utopia da
Civilização do Amor .
120
CAP
Í
TULO IV
PASTORAIS DA JUVENTUDE E A CONSTRUÇÃO DA
UTOPIA DA CIVILIZAÇÃO DO AMOR
1.
PASTORA
IS
DA JUVENTUDE
NO BRASIL
Esta primeira parte do capítulo é uma retomada breve sobre o que
são
as
Pastorais de Juventude hoje no Brasil
.
Foi pensado a partir de documentos que se
encontram facilmente nas livrarias ou bibliotecas especializadas em juventude, além de
outros trabalhos acadêmicos já realizadas em diferentes universidades sobre a temática
pastoral juvenil
.
1.1.
O que
são
e com
o funciona
m
As Pastorais da Juventude
PJs, se definem como uma ação organizada dos
jovens que são igreja, junto com seus pastores e toda a comunidade para aprofundar a
vivência da e evangelizar outros jovens. Seu caráter é de ser uma ação coordenada
121
de igreja, que articula organicamente as forças vivas que trabalham na evangelização
dos jovens, fazendo parte da Igreja do Brasil e assumindo suas diretrizes gerais.
As
Pastora
is
da Juventude do Brasil surg
iram
na década de 70 e têm sua
a
firmação nos anos
80 quando a Confer
ê
ncia Nacional dos Bispos do Brasil cria o
S
etor
Juventude.
Na
sua organização encontram-
se
quatro pastorais que formam esse
conjunto
: Pastoral da Juventude, Pastoral da Juventude Estudantil, Pastoral da
Juventude Rural e Pastoral da Juv
entude do Meio Popular.
As P
astora
is
da Juventude est
ão
organizada em 18 regionais do Brasil
(conjunto
de dioceses presentes em um ou mais Estados)
,
conforme orientações geográficas da
CNBB
16
, com diferentes realidades geográficas, culturais, sociais e asp
ectos
específicos como o econômico. As pastorais têm se identificado em seus documentos
como constituída por jovens cristãos católicos, organizados como ação da i
greja
evangelizando outros Jovens, para que, capacitados, atuem na própria Igreja e nos
movimentos sociais visando a transformação da sociedade em todo o Brasil. O objetivo
das Pjs é:
Despertar jovens para a pessoa e a proposta de Jesus Cristo e desenvolver com
eles um processo global de formação a partir da para formar líderes
capacitados a atuarem na própria PJ, em outros ministérios da igreja e em seu
meio específico, comprometidos com a libertação integral do homem e da
sociedade, levando uma vida de comunhão e participação
(CF. 1992, p
. 80)
A pastoral da juventude se organiza através de pe
quenos grupos de jovens e por
meios específicos, com coordenações nos diversos níveis (local/comunidade,
16
-
A Conferê
ncia Nacional dos Bispos do Brasil est
á
organizada por
17
regiões: Norte I e II
;
Nordeste I,
II, III, IV
e
V
;
Leste I
e
II
;
Oeste I
e
II
;
Centro Oeste
;
Noroeste
e
Sul I, II, III
e
IV.
122
paroquial/cidade, diocesana, regional, nacional, além de outros intermediários),
formando assim a PJ orgânica (FC. 1992, p. 38). Para a pastoral é essa organização
que permite a partilha e sistematização das experiências críticas e a memória histórica,
favorecendo a realização da missão evangelizadora.
O ponto de partida dessa organização é o próprio jovem assumido em sua
realidade. A pastoral quer leva
r o jovem a viver um processo:
Um conjunto de dinamismo que leva o jovem a abrir-se, a buscar respostas às
suas inquietudes, a valorizar o que constrói sua pessoa, a amadurecer
motivações pessoais profundas e a concretizar seu projeto de vida e sua opção
v
ocacional
(CELAM, 1997, p. 180).
1
.2
.
Opções pedagógicas
e plano de ação
A Pastoral da Juventude na América Latina estabeleceu cinco opções
pedagógicas que têm orientado a sua ação: a formação integral, o grupo, as pastorais
específicas, a organização, a
assessoria e o acompanhamento. Essas opções são:
Convite aos e às jovens para viverem um estilo de vida marcado pelo
seguimento de Jesus e pela experiência comunitária, que os capacita na tarefa
de construírem redes e de serem multiplicadores de outras experiências de vida
grupal
(CELAM, 2004, p. 46).
A primeira opção pedagógica é a Formação Integral, que compreende às
dimensões que a pastoral deseja trabalhar com os jovens através do desenvolvimento
de um processo de vivência grupal: psico-afetiva, social, política, mística e técnica. A
finalidade é possibilitar que os jovens possam ser, possuir
-
se, comunicar, comprometer
-
se, fazer, construir e transcender.
123
A vivência grupal em processo, segundo a pastoral, visa possibilitar que os
jovens façam à descoberta da importância da vida em grupo, da sua pessoa e situação
histórica. Quer levá-los a descoberta da comunidade, da sociedade, da militância e do
projeto de vida ou vocacional.
A segunda opção pedagógica está centrada nos pequenos grupos de base,
com
o local para a pastoral trabalhar a sua proposta. Nesses pequenos grupos os
jovens são motivados a viverem um estilo de vida. No grupo a juventude estabelece
relações com seus iguais e avança na construção da sua identidade.
Possui
de duas a
quatros lideranças responsáveis por acompanhar e fazer a representação nas
instâncias maiores: paróquia, forânias, diocese, regional, nacional ou Latino Americana
.
Cada um desses níveis de representação possui seus espaços de definição de projetos
e ações
.
A terceira opção pedagógica da pastoral da juventude se refere à organização
em pastorais específicas de juventude. Segundo a pastoral ela necessita desenvolver-
se em meios e ambientes próprios em que estão os jovens: escolas, universidades,
lugares de trabalho, comunidades indígenas, comunidades rurais ou urbanas, jovens
em situações de migração ou de marginalização.
A quarta opção pedagógica é a organização que foi tratada anteriormente. O
destaque está no fato de centrar a formação na ação, em buscar o protagon
ismo
juvenil, de ter estimulo para participação dos jovens através de lideranças ou
coordenações. A coordenação é a que suscita as novas lideranças e distribuem, da
melhor forma, as atividades dentro do grupo para que se gere participação (CELAM,
2004, p
. 46).
124
Por fim está o acompanhamento e a assessoria como outras opções
pedagógicas de pastorais da juventude. Esta opção esta centrada na pessoa do
assessor educador, preparado ou que se prepara para a escuta, e que expressar seu
olhar sobre o processo d
e caminhada da pastoral.
Essas opções pedagógicas fazem parte da proposta educativa da pastoral, que
tem por meta ser uma ação experiencial, transformadora e libertadora. Uma pastoral
comunitária, coerente, testemunhal, participativa, personalizante e per
sonalizada
(CELAM, 1997, p. 180).
A Pastoral da Juventude do Brasil desde 1995 tem buscado atuar dentro da
perspectiva de ter sua caminhada planejada a partir de linhas de ação e de um trabalho
chamado Plano Trienal . Esses planos têm sido elaborados nas assembléias que o
conjunto das pastorais da Juventude realiza a cada três anos, a partir de
três
prioridades: formação, espiritualidade e cidadania.
2
.
DESCRIÇÃO
DA
PESQUISA
O objeto desta pesquisa
foram
às
lideranças que fazem parte das coordenações
das
Pastora
is
da Juventude da C
onfer
ência Nacional dos Bispos do Brasil
CNBB
,
descrita no item anterior. A
pesquisa
utilizou
-se de entrevistas com aplicação de
questionário individual. O critério de escolha dos entrevistados se deu por serem essas
liderança
s que estão a frente das ações das pastorais de juventude e que trazem
o
conhecimento e a experiência da organização.
Fo
ram
selecionado
s no universo desta pastoral 64 coordenadores/as e
lideranças
escolhidas entre os estados do Amazonas,
Pará
,
Santa Catari
na
,
Rio
125
Grande do Sul e Ceará e Rio Grande do Norte. Dos 64 questionários aplicados foram
retornados 24
, Sendo a maior parte respondida pelas por jovens do estado do Pará.
Estado
54%
4%
4%
17%
13%
4%
4%
PARÁ
AMAPÁ
AMAZONAS
ST. CATARINA
RIO GRANDE DO SUL
CEARÁ
RIO GRANDE DO
NORTE
Figura 1
O questionário
distribuído
continha perguntas abertas
para
estabelecer
um perfil
das lideranças entrevistadas e sua compreens
ão
acerca da Pastoral da Juventude:
papel, interferências na vida eclesial
,
na sociedade e como percebem a si mesmos e
aos outros jovens. Algumas perguntas buscaram verificar as questões sócio-
políticas
,
identificando o que motiva e
/ou
frustra,
essas lideranças,
quais são
suas
aspirações em
relação à religião, ao poder e às transformações propostas e proclamadas pela
Civilização do Amor .
Para a análise das questões da pesquisa de campo procurou-se trabalhar os
conteúdos das manifestações levantadas pelos entrevistados. Uma vez
identificad
o
s
os
mesmo foram
organiza
dos
em categorias e conceitos que estiver
a
m mais recorrentes.
A reflexão a seguir visa socializar o resultado das questões respondidas pelos
entrevistados, a partir da organização das respostas do questionário por categorias que
foram mais relevantes nas respostas do conjunto.
O relatório foi organizado considerando as respostas sobre o que estes jovens
afirmam ou defende sobre a sua presenç
a na igreja e a Civilização do Amor . Optou-
se
126
por apresentar a maioria das respostas em gráficos, mais também foram registradas
falas diretas dos jovens, sendo identificados com as iniciais de seu nome, idade, local
de atuação, estado. Cada questão é seg
uida de uma análise das respostas.
No retorno dos questionários aplicados chama a atenção a presença do gênero
masculino:
Sexo
67%
33%
Masculino
Feminino
Figura
2
Esse dado levou ao questionamento sobre o que estaria por trás do papel que a
mulher, sobretudo jovem ocupa na sociedade em especial na igreja e ainda na região
norte, no caso o Estado do Pará. Dentro desta perspectiva vale lembrar que o
questionário foi aplicado às lideranças que estavam participando de um evento
estadual, com duração de três dias. Distantes na maioria dos casos de seus municípios
de origem. O que diretamente sofreria uma interferência dos pais, pois nem todos dão
permissão para que suas filhas viajem ou mesmo estejam distantes de casa por muito
tempo.
Observa
-se que a participação nas comunidades na igreja é constituída na sua
maioria de mulheres, porém os espaços de representação e poder são majoritariamente
constituídos de homens, refletindo os
índices
das demais organizações da sociedade,
127
em que os homens ocupam mais espaços de decisão e poder, ficando as mulheres
restritas a outras ocupações. que se considerar também outros fatores como os que
foram apontados no segundo capítulo na questão: o gênero e a juventude.
O gráfico abaixo é demonstrativo da idade dos entrevistados:
Faixa etária
21%
41%
25%
13%
16 a 20
21 a 24
25 a 27
Acima de 28
Figura
3
Com esses dados pode-se dizer que as lideranças que estão à frente das
P
astora
is
da Juventude do Brasil em sua maioria vêm chegando à faixa etária
considerada como etapa da juventude, 14 a 24 ou 25 anos, conforme classificação da
Organização Mundial da Saúde e também da
UNICEF, e que r
ecentemente
a juventude
tem recebido por parte destes organismos uma nova classificação à medida que
ultrapassam a faixa etária dita acima, com idade de 25 a 29 anos. Estariam na
chamada etapa de a
dultos jovens
ou jovens adultos .
Em alg
uns paises da Europa as
políticas de juventude têm considerado juventude até os 34 anos.
Após a identificação da pessoa, a primeira pergunta do questionário foi quando
e por que você foi para a pastoral da juventude . Nas respostas f
oi possível perceber h
á
quanto tempo os jovens entrevistados estão participando dos grupos, conforme mostra
a figura.
128
Tempo de participação
3
4
1
4
3
1 1
7
0
2
4
6
8
8 anos
7 anos
6 ano
s
5 ano
s
4 ano
s
3 ano
s
2 anos
S
e
m d
at
a
Seqüência1
Figura
4
Nestas respostas se identifica quem permanece por mais tempo fica por de cinco
a sete anos. Se forem consideradas as datas de entrada no grupo, v
erifica
-se que,
assumir a coordenação nessa organização, é necessário que as lideranças percorram
um tempo de participação no grupo.
Na segunda parte da
pergunta
, porque foi para a pastoral
,
desta
cam
-se as
seguintes razões, como se pode ver no gráfico de
figura 5:
Motivos da ida para o gruo
29%
21%
17%
25%
8%
Por convite
Por visita
Para ajudar
Por identificação
outras razões
Figura
5
A novidade trazida aqui pelos jovens sobre os motivos que os levaram ao grupo
é o fato de 17 % terem sido motivados pela necessidade de ajudar,
contribuir,
fazer
algo para as pessoas, para a
sociedade
. Demonstrando também o desejo de ter claro
129
seu papel de jovem. Esse dado é novidade porque desmistifica a idéia de que os jovens
em sua maioria vão a igreja por razões de fundo religioso, por causa de
Jesus Cristo
.
Os jovens disseram que buscam a convivência em grupo porque querem
conh
ecer outras experiências de
evangeliza
ção. Porque querem fazer parte de um
grupo de jovem com a mesma idade, onde se pudesse escutar e ser escutado. Alguns
entrevistados fizeram questão de responderem que a participação na pastoral lhes
possibilitou
a reflexão e aperfeiçoamento de sua prática pessoa
l,
comunitária e
deu
relevância
para um novo modelo de sociedade.
Comecei minha caminhada na pastoral em 1997 por um grupo de base em que eu acreditava
fazer um trabalho que viesse a contribuir com a sociedade e que me fizesse adquirir consciência
do meu papel como jovem nessa vida
(G.V.R. 23 anos, Belém, Norte II).
Entre as outras razões para a entrada na pastoral, além das
relacionada
s no
gráfico, os jovens disserem que sua participação se deu através de alg
um
a atividade
como,
pós
-
crisma
,
retiro, cursos, encontros e Dias Naciona
is
da Juventude
17
.
casos
de quem foi para a pastoral por
que
t
inha
uma vivencia comunitária, outros entraram
como uma forma de transgressão após terem sido rejeitados anteriormente, ou
impedidos de participarem de alguma ação, por razões de i
dade
ou modalidade da
atividade.
Alguns procuraram a pastoral por curiosidade, para saber como funcionava
,
pois a mesma era referência na comunidade ou mesmo p
ara conhecer uma pessoa
.
Nas respostas dadas pelos entrevistados pode se verificar que a pastoral da
juventude não possui instrumentos fixos de convocação dos jovens para a vida do
grupo, pois na maioria das respostas se verifica que o chamado é feito de forma
convencional como convites e
pós
-
crisma. Não se explora que muitos vão para o grupo
17
- Evento de massa realizado pelas Pastorais da Juventude em todo o Brasil sempre no ultimo
domingo de outubro, desde 1986. Sendo de caráter aberto a toda a juventude. Discutindo a cada ano um
tema social ligado a juventude.
130
por identificações relacionadas a juventude e o modo de ser da pastoral. Revela um
certo espontaneismo, e ausência de estratégias e planejamento, pois na maioria das
falas há uma espera de que o jovem
espontaneamente se apresentem aos grupos.
3. I
DENTIFICAÇÃO DO PAPEL DOS JOVENS NA IGREJA E NA SOCIEDADE
Após con
hecer o perfil do grupo e a suas motivações para entrada e participação
nas pastorais da juventude esta pesquisa tinha a de intenção levantar como as
lideranças dessa organização idealizavam sua prática cotidiana e também qual a
relevância da pastoral dentro da Igreja e para além dos limites dela. Outra finalidade era
levantar a sua capacidade de intervenção.
Nas respostas pode se perceber que o papel da pastoral envolve todo um
processo que implica atitudes, funções, ferramentas e ambientes onde se devem
cumprir essa finalidade. As respostas sobre o papel da Pastoral da juventude na
sociedade estão no gráfico abaixo:
Papel das PJs na Sociedade
29%
33%
21%
17%
Evangelizar os jovens Atuar com a Juventude
Formação de lideranças conscientização politica
Figura
6
Para alguns o papel da pastoral da juventude na sociedade é de
formar
lideranças cristãs e
militantes
, críticos para a igreja e para a sociedade. Para que se
131
tenham
os jove
ns
como protagonistas na formação de outros jovens, com a finalidade,
de serem ferramentas para contribuir com a sociedade. O papel das pastorais segundo
eles deve ser de criar consciência critica, para a promoção das políticas e para que
sejam
profetas
, de uma sociedade igualitária.
Fazer e compreender a integração entre as juventudes e suas organizações, contribuindo na
construção de homens e mulheres novos (as), rumo a uma sociedade igualitária
(G.S.A
, 23
anos
,
Monte Santo
, n
ordeste III)
.
Essa visão do papel da pastoral da juventude na sociedade está marcada não só
por desejos concretos ligados às questões da b
usca
da melhoria de vida e ampliação
de
oportunidades, como também a lutar,
por
políticas públicas para a juventude
18
.
A
abordagem de uma temática política na ação da pastoral da juventude segundo seus
documentos, faz parte de uma opção de trabalho de formação integral da pessoa
conforme descrito no início deste capítulo.
Os papéis das pastorais da juventude, devem ser de jovens evangelizando jovens, b
uscando
conscientizar a sociedade para buscar a justiça, fraternidade, solidariedade, paz, a
mor,
construindo o novo
(S.C.M
,
18 anos, Tailândia, norte II
).
Evangelizar e conscientizar a juventude para que seja conhecedora de seus direitos e deveres
perante a sociedade, lutando contra as injustiças em busca de dias melhores
(C.A.S
,
21 anos
,
Breu
Branco, norte II).
os que defendem que o papel das PJs está ligado a uma missão que a
religião, no caso, a igreja, tem na sociedade. Essa missão é, segundo eles, de levar a
palavra de Deus aos fiéis, de evangelizar os jovens, e conduzi-
los
ao coração de Deus.
Algu
mas respostas apresentaram condições para que esse papel aconteça na
sociedade:
18
- A temática da política pública de juventude vem sendo amplamente debatida e refletida p
elas
pastora
is de Juventude
desde 2001.
132
Fazer com que o jovem possa compreender a sua importância na sociedade, adquirir uma
consciência cristã e cidadã para poder interferir na busca de seus direitos
(A.
R.C.S
, 24 anos
,
Aurora do Pará
,
norte II
).
Nas afirmações do papel da pastoral da juventude na sociedade é possível notar
que a juventude terá capacidade de intervir se ela estiver preparada para enfrentar
os problemas sociais,
identifica
dos
pelos próprios nos
ambiente
s de educação,
trabalho, família, política, religião e saúde. De acordo com algumas respostas nas
realidades sofridas e esquecidas em que os espaços permitem a proposição e
intervenção nas realidades espec
í
ficas
que se considerar que a tarefa de preparar os jovens para terem um papel
social não cabe somente à religião, mas é necessário verificar se há, nos encontros e
nas pautas dos grupos de jovens da pastoral, o desejo, a articulação e o planejamento
para essa intervenção social, como
a Civilização do Amor propõe.
Outra finalidade da pesquisa foi levantar, através da consulta às lideranças das
Pastorais da Juventude, qual devia ser o papel dos jovens na sociedade. Conforme
apresenta o gráfico abaixo:
Papel social dos Jovens
25%
20%
20%
20%
15%
Tranformar e
questionar
Agir e lutar
Protagonismo e
participação
Trazer o novo
construir e renovar
Figura
7
133
Na grande maioria d
os
entrevistados
é possível verificar uma certa visão positiva
sobre
o papel d
a
ju
ven
tude
na sociedade. Esse otimismo pode ser identificado nas
respostas apresentadas, que atestam que o papel dos jovens é se
rem
agentes ativos e
protagonista da história.
Assi
m as lideranças reivindicam para si o papel de ser
em
dinâmic
os
,
en
tusiasta
s
,
da rebeldia, da ousadia, de serem revitalizantes e construtores da
felicidade pessoal. Respondem que querem lutar por seus direitos, ocupar os espaços
na sociedade e conseguir seus objetivos, além de
contribuír
em
para construção de
homens e mulheres novos
(as) rumo a sociedade igualitária.
Há, também, nas respostas um certo saudosismo por parte de alguns jovens de
um tempo passado que não foram vividos por eles:
Antigamente (outra realidade) de forma bem ativa e forte hoje em dia não tão expresso como
dantes, outros que são organizados, bem, bem informados, contribuem com sua cidadania pra a
comunidade e em particular para o jovem. É ter acompanhamento capacitado e
ele
desempenha
m um grande trabalho evangelizador (jovem evangelizando jovem) como vem
acontecendo timidamente
(R.G.S
,
26 anos, Manaus, norte I
).
A visão otimista não se confirma entre todos. Al
guns
fizeram questão de trazer
um outro olhar sobre o papel social que lhes cabe, dizendo que os jovens deveriam
questiona
r
a sociedade
e não serem
massa de manobra
, ou ficarem
acomodados
.
Os jovens que ao invés de lutar para mudar a realidade, se alienam perdendo os valores éticos e
morais acabam se afundando por falta de meta
s na vida
(
S.C.M
,
18 anos, Tailândia, norte II
).
Hoje o papel das juventudes é muito restrito, somente o grupo de jovem X conhece seu papel
(quando conhece). Devemos articular não as estruturas mas as idéias
(J.N.A.M
, 22 anos
,
Bragança, norte II
).
Essa postura sobre eles mesmos confirma a tendência de não acreditar que
os
jovens sejam cidadãos com capacidade de mudar a situação e, que vivem e preferem
permanecerem na visão individualista. Revela que nem todos os jovens estão
134
satisfeitos com a sociedade brasileira, pois se sentem inseguros, assustados e
indignados.
A expectativa de futuro melhor entre os jovens das Pastora
is
da Juventude
aparece
m se comparada com uma maioria que se encontra cética. Grande parte dos
jovens que não participam de grupo não acreditam que o futuro será melhor que o
presente. Na pesquisa Perfil da Juventude Brasileira , no item das perspectivas para os
próximos anos 48%, dos jovens responderam que o Brasil vai melhorar; 52 % acreditam
que seu bairro vai melhorar e 92 % que sua vida pessoal vai melhorar. Os mesmos
revelam que as expectativas são mais expressivas com relação a vida pessoal. Os
jovens acreditam que, com o esforço pessoal, promoveriam a melhoria das suas
condições de vida, reiterando o imaginário liberal em torno da importância do êxito
individual (SPOSITO, 2003, p. 24)
Com essas afirmações os jovens acabam revelando as mesmas idéias e
posturas da questão anterior, segundo os quais a sociedade esta em anomia e por, isso
necessitando de ajuste e que à juventude cabe a tarefa de contribuir, apontando outros
rumos.
4.
PARTICIPA
ÇÃO E LIDERANÇA SEGUNDO OS JOVENS DAS PJs
Foi também interesse
ne
ste trabalho, levantar como as lideranças das pastorais
da juventude percebem os outros jovens que não fazem parte de sua
organização, bem
como verificar a sua compreensão acerca do papel que eles desempenham. Na
questão da opinião sobre os jovens que não fazem parte de um grupo foram
identificadas
as
opiniões
do gráfico abaixo:
135
Porque os jovens não participam
13%
13%
37%
13%
24%
Por falta de oportunidade
Por falta de identificão com as PJs
Por falta de metodologia das PJs
Por serem alienados
Por não saber o que buscam
Figura
8
Para alguns a não participação dos jovens na vida em grupo se deve à
própria
pastoral
, alegam que uma falta
de convite
. Outros dizem também que essa ausência
dos jovens se deve à falta de oportunidade de estarem no grupo por estes não terem
descob
er
to
o sentido de ser jovem
.
Existem os
que alegam que as
razões
se
encontr
am
na
falta de metodologia da pastoral da juventude em inventar novos jeitos para inseri-
los na
organização.
Nós devemos criar novas estratégias para atrairmos as juventudes ou nos infiltramos para
plantar sementes de e
speranças
(J.N.A.M
,
22 anos
,
Bragança, norte II
).
Alguns admitem que uma falta de abertura na pastoral para
responder
em aos
anseios
dos jovens que não participam de grupos.
Falta de convite e até mesmo falta de método, que os grupos não tem para atraí-
los
(F.B.S
, 23
anos
,
Terra Santa
,
norte II
).
Um dos jovens aponta que a questão da participação dos jovens em grupo
envolve uma reflexão mais ampla:
Todo jovem participa de grupo, entretanto não são grupos eclesiais, a participação em um grupo
é uma necessidade primária do jovem e ele vai onde responde às necessidades (G.S. A, 23
anos, Monte Santo, nordeste III).
136
Essas respostas revelam a importância da socialização da vida em grupo. Para
Jussara Prá, o termo socialização vem de socializar, que significa tornar-se social,
reunir em sociedade, pôr sob regime de associação; assim, a socialização
(socializar+ação) pressupõe o ato de pôr em sociedade por meio de um processo de
integração mais intensa (PRÁ, 2004, p. 81)
A partir da idéia trazida por essa autora pode-se afirmar que o fato dos jovens se
envolverem com um grupo, seja ele escolar, familiar, religioso, oficial ou ilícito o coloca
em um espírito coletivo. Essa experiência possibilita a aprendizagem e as bases para a
formação da auto
-
imagem nas rela
ções e interações entre os indivíduos e a sociedade.
A pastoral da juventude, no que se refere a sua liderança, tem o papel de
transferir e transmitir a aprendizagem necessária para seus jovens conviverem na
sociedade. Essa socialização passa por uma rede
complexa de agentes e agências tais
como a família, a escola: passando por instituições religiosas, culturais, econômicas e
políticas das quais, emergem códigos de condutas e as sociabilidades que norteiam os
comportamentos em sociedade (PRÁ, 2004, p. 82
).
Quanto ao que é ser liderança na pastoral da juventude confira no quadro abaixo
as respostas:
Ser liderança é
17%
20%
21%
21%
21%
Testemunhar
Articular
Comprometer
Conviver
Participar
Figura
9
137
A liderança é identificada com qualidades e capacidades para a c
riatividade
,
c
idadania
e
autenticidade
,
é,
quando o
cristão é
capaz de
motivar os j
ovens para serem
protagonista
s
.
Afirmando que um líder é aquele que ajuda o jovem a refletir e discutir
assuntos, temas. É estar junto dos jovens, a
gir
,
desenvolver uma atuação integral de
todos os participantes
, e ter condição de se
comprometer com os jov
ens.
Para uma pessoa que venha a se tornar liderança nas PJs é necessária toda uma preparação,
organização e articulação da juventude para que se alcance esse objetivo. O líder nas PJs é
alguém que representa o anseio de muitos inspirando confianças, responsabilidade e
compromisso
(
G.V.R
,
23 anos, Belém, norte II
).
os que identificam a liderança com atributos da fé, afirmando que ser
liderança é ser testemunho de Jesus, ter compromisso com o Reino de Deus, c
uidar
dos jovens e estar a serviço da pastora
l
, realizar
a vontade de Deus.
A idéia de liderança em relação se firma quando a pessoa consegue estabelecer
metas comuns para um determinado grupo. Por isso se escolhem pessoas que os dirija.
A lideranças é imprescindível para qualquer grupo. Segundo Calderon e De Govia, líder
é quem tem a capacidade de aglutinar as pessoas. Entende-se por liderança as
funções que o grupo necessita realizar para alcançar seus objetivos (DE GOVIA, 1973,
p. 20).
Segundo estes autores, o líder é capaz de formar equipes, perceber os passos,
distribuir tarefas e fazer
-
se responsável.
As relações de liderança são a organização do grupo para o alcance de suas
metas. A evolução da liderança vai desde a centralizada em uma pessoa até
aquela em que a autoridade e responsabilidade são compartilhadas por todos os
membros. O bom líder é aquele que contribui para criar as condições para perder
sua liderança em favor de todos os membros do grupo
(DE GOVIA, 1973, p. 22).
138
A partir da descrição acima pode-se especular que tipo de liderança as Pastorais
da Juventude conseguem desenvolver nos jovens que fazem parte de sua organização
e que diferença as lideranças possuem, em relação ao desejo atual do mercado que
prima por líderes que sejam capazes de serem bem sucedidos, que mantenham o
controle do trabalho e que possam ser capazes de manipular ferramentas para agilizar
sua ação e evitar o desperdiço de tempo e recursos.
As Pastora
is
da Juventude defendem que seus líderes sejam capazes de serem
protagonista
s, multiplicadores, jovens evangelizando Jovens que estejam formados
integralmente. Teria espaço hoje na Igreja Católica para esse tipo de liderança que a
pastoral deseja? A conjuntura eclesial tem revelado que bispos e pastores
às
vezes
querem fiéis que digam amém, que sejam obedientes às normas e regras. Os que
assim se portarem terão espaço, pois a tendência da Igreja Católica é de centralidade
cada vez maior na postura de obediência, de respeito a autoridade e a hierarquia.
No que diz respeito às motivações as lideranças jovens das pastorais da
juventude para participarem, teve a finalidade de levantar as causas, eixos de atuação
e as motivações dos jovens que estão na busca de construir o capital social
19
. As
19
- O capital social é um dos conceitos mais difundidos na análise política, econômica e social dos
últimos anos segundo Schmidt. Capital social quer dizer a maneira como as pessoas estabelecem a
construção da democracia a partir de fatores de natureza subjetiva, a partir da confiança, da
solidariedade recíproca que se constroem na convivência, no estabelecimento de redes, de normas,
valores e cooperação entre as pessoas em busca de objetivos comuns.
Para João Pedro Schmidt, a idéia do capital social inclui diferentes metodologias e abrange
relações e organizações formais e informais. Essas metodologias são verificadas através dos níveis de
confiança que se estabelecem entre as pessoas, as atitudes favoráveis à cooperação com os outros. A
intensidade de relações familiares, vizinhança e a participação comunitária e religiosa. Possibilita medir o
grau de envolvimento das pessoas em organizações da sociedade civil com suas diferentes
manifestações (recreativas, esportivas, culturais, de classe), o envolvimento dos cidadãos em
voluntariado e filantropia. Bem como o grau de compromisso que estas pessoas conseguem estabelecer
nas questões cívicas, nos protestos, reivindicações, partidos e grupos de pressões (SCHMIDT, 2004, p.
147). Assim este conceito permite
levantar
as percepções dos jovens da pastoral da juventude nas
questões respondidas na pesquisa de campo. Pois a organização a que eles pertencem é uma
capacidade de se associar para a cooperação interna cujos objetivos finais
são
o de construir uma
139
respostas dos jovens sobre o assunto estão ligadas diretamente aos seus desejos de
ter um outro mundo, diferente da realidade cotidiana em que vivem, conforme mostra o
gráfico.
Porque participam
31%
27%
42%
Por um mundo
melhor
Por causa da fé
Pela justiça,
igualdade,
dignidade
Figura
10
Além das respostas apresentadas no gráfico, também motivações ligadas
com a questão da fé, do sagrado. Como cristãos, apresentam
Jesus
, como aquele que
lhes é motivador, testemunho, modelo e exemplo. Pontuam que lutam e participam
porque
m fé
.
Porque acredito no mundo melhor a partir das organizações e o que me motiva é o projeto de
vida que Jesus nos ensina
(F.B.S
,
23 anos
,
Terr
a Santa
,
norte II).
Porque quero contribuir na construção de uma vida melhor e tanto seguir a missão de Jesus,
agindo em busca da construção do Reino de Deus; tenho fé, esperança que somos capazes
(C.A.S
,
21 anos, Breu Branco, norte II).
Uma parte dos que responderam porque tem fé, disseram que esta é em
Jesus, faz
remete
r á descrição de sagrado feita por Rudolfo Otto,
em
que a presença
do sagrado provoca na pessoa o sentimento de que ela é uma criatura, que é uma
presença que esta além e que, diante dessa grandeza, a pessoa se torna um nada
frente
ao poder soberano do sagrado
.
É o esfacelamento da criatura diante de um
participação sócio pol
ítica a partir da sua fé, fundamentada nos valores proposta na utopia da
C
ivilização
do
A
mor
.
140
poder soberano. Não um poder qualquer, mas um poder soberano especifico (OTTO,
1985. p. 15)
.
Lutam e participam porque desejam uma ou
tr
a sociedade, lutam para ter um
mundo mais justo
,
digno
e por quer querem Um outro mundo é possível
,
p
ara
transforma
ra sociedade. As lideranças revelam em suas resposta a esperança e o
desejo de um mundo melhor sempre estiveram no horizonte das pessoas e, sobretudo
d
os jovens, que, através de suas contestações, reivindicam outra ordem social.
Em 2001 Brasil e no mundo surgiu uma nova perspectiva de lutar por uma outra
sociedade. Fruto das motivações de organizações e movimentos sociais para fazerem
fren
te aos paises ricos, criou-se o Fórum Social Mundial, que passou ser um espaço de
manifestação, de utopias de Um outro mundo possível .
Neste sentido as respostas dos jovens se assemelham com os debates e
proposições destes Fóruns Sociais, pois também querem uma outra forma de conceber
a realidade, na luta contra o capitalismo, a discriminação, a exclusão e a opressão. Pela
não violência e tantas outras bandeiras e reivindicações de quem não está de acordo
com a realidade que vive. Para Boaventura Sousa Santos, o Fórum Social Mundial,
pretende realizar a utopia num mundo desprovido de utopias. Aquilo em que se aposta
não é tanto um mundo utópico, mas um mundo que permita as utopias
(SANTOS,
2005, p.13)
.
A Revista das Religiões de fevereiro de 2005, tro
uxe
uma reportagem sobre a
evangelização dos trabalhos comunitários dos jovens de diversas religiões. Na
reportagem de Adriana Reis, um dos jovens traz a fala de Luciano Azevedo, uma
liderança da pastoral da juventude que ajuda a ilustrar as motivações da luta enfocada
pela pesquisa de campo. Mostramos aos jovens, que também depende dele criar uma
141
ação transformadora que ajude na construção da civilização do amor. Ele aprende a ter
um projeto de vida (REIS, 2005, p. 43).
5. INFLUÊ
NCIA DA IGREJA SOBRE O
S JOVENS E SUAS PASTORAIS
Sendo as pastorais da juventude uma das organizações da Igreja Católica
buscou
-
se
verificar como os jovens percebem suas relações e de que forma a questão
do poder influi sobre as PJs serem e que reações tem a igreja hierárquica
sobre estes.
Em relação às pessoas que os jovens se inspiram para a atuação a pesquisa
revelo
u
que a maior inspiração vem da própria igreja, conforme mostra o quadro abaixo.
Em quem se inspiram
64%
8%
8%
8%
8%
4%
JESUS CRISTO
COMPANHEIROS
PJ
NECESSIDADES
JOVENS
OUTROS
Figura 11
64 % dos jovens apontam Jesus Cristo e sua pessoa, como o maior insp
irador
para sua participação pastoral. A segunda inspiração se refere as necessidades do
povo,
e
dos jovens. Em terceiro lugar aparece a própria pastoral como motivação para
participação.
Foi citada também, em menor numero, que a inspiração vem da
caminhad
a, dos cristãos, de Maria , que aparece somente uma vez. Os companheiros
de pastoral foram citados como inspiração duas vezes. Somente uma jovem cita outras
pessoas além de Jesus:
Jesus Cristo, Gandhi, Madre Teresa, Che Guevara, Martin Luter king, Francisco de Assis
(C.A.S
,
21 anos, Breu Branco, norte II
).
142
Jesus é visto como r
efer
ê
ncia
de
vida, caminhada, ações, exemplo de pessoa
obstinada na construção do Reino do Pai. Trazem que Ele é o grande libertador do
povo oprimido, pobre. Reconhecem em Jesus um
re
volucionário de sua época.
Revelam que Jesus é um irmão, companheiro de caminhada, exemplo de vida e de
opção pelos mais empobrecidos.
Foi perguntado também quem são as pessoas, grupos e organizações que mais
criticam, com a finalidade de visualizar quem faz oposição à proposta das pastorais da
juventude e quais seriam, na percepção das lideranças, as causas dessas reações.
Quem são os que mais criticam
33%
12%
21%
7%
10%
10%
5%
2%
PADRES
BISPOS
MOVIMENTOS
IGREJA
GRUPOS COORDENAÇÕES
PARTIDOS
ENTIDADES
Figura 12
Em primeiro lugar os jovens
apont
am que as pessoas que
mais
reagem
às
proposta
s da pastoral fazem parte da instituição a que eles pertencem, ou seja,
estão
no próprio espaço da igreja. Eles apontam que o clero e as
congregações
são os que
mais reagem, seguidos pelos
movimentos
. Entre estes últimos foram citadas pelos
jovens a Renovação Carismática Católica
RCC e o movimento Tradição, Família e
Propriedade
-
TFP.
143
Em terceiro lugar os jovens disseram que os
bispos
estão entre os que fazem
oposição à proposta da pastoral
.
Citam diretamente as coordenações de pastorais
(
dizimistas
)
e comunidades, como críticos. Com
poucas cit
ações
está o político, partido,
poder público, sindicatos.
Na opinião dos jovens, as pessoas e grupos agem assim porque não conhecem
a identidade, o processo,
o
funcionamento,
metodologia e a proposta da pastoral, p
or
não gostarem do novo, da mudança. Ou mesmo por causa do modelo de pastoral.
Alguns jovens são mais radicais dizendo que as pessoas e grupos fazem assim porque
querem uma pastoral de resultados, por não compreenderem a capacidade de
mudança da juventude. Porque os jovens não contribuem finance
iramente.
Os entrevistados afirmam que muitas pessoas se sentem incomodadas e
questionadas com os jovens. Alegam falta de compreensão com o modo de ser
diferente dos jovens. Para os jovens isso é resultado da postura preconceituosa de
alguns adultos, pois para eles essas pessoas não acreditam no trabalho e no
compromisso dos jovens
somente
pelo fato de serem jovens. olham o negativo, n
ão
aceitam a rebeldia dos jovens, a linha de evangelização, orações, posturas, atitudes
e
a
forma de trabalho
da
organiza
ção.
Aqui é bom recordar que as utopias nascem da reação social de um grupo em
relação aos grupos dominantes
e e
las enco
ntram oposição ao tentar colocar em pr
á
tica
suas propostas a partir d
os
ideais. A sociedade permite que cada grupo e pessoa
sonhe, mas não está disposta a aceitar qualquer proposta e experiência que venha
mudar a ordem e
stabelecida
. Por isso a ordem vigente procura de todas formas fazer
uma eliminação de qualquer possibilidade, assim aconteceu com a destruição de
Palmares, Canudos e Anjo
s.
As cidades ideais podem existir, mas em sonho, na
144
utopia,
enquanto que,
na realidade
,
não é permitida.
As Pastorais da juventude conseguem se organizar em todo o território nacional
e articular cerca de 30 mil grupos, estimando atingir diretamente 500 mil jovens. Uma
outra questão desta pesquisa tinha como finalidade levantar como esta organização
permanece se articulando frente a tantas críticas e oposições por parte das igrejas
locais e da igreja oficial. O que os animam? O que a mesma representa no seu projeto
pessoal de vida. O gráfico a seguir traz um pouco das respostas apontadas pela
verificação do campo.
Representação das PJs em suas vidas
Projeto de
vida
37%
Organizão
Juvenil
26%
Espaço de
formação
37%
Projeto de vida Organizão Juvenil Espaço de formação
Figura 13
Para muitos jovens a representação da pastoral da juventude está ligada à
idéia
de organização, sendo espaço em que estes encontram para
luta
r por justiça,
para
ader
irem à proposta de Jesus Cristo e por ser a forma dos jovens se organizarem na
igreja.
Uma forma dos (as) jovens se organizarem na Igreja, para cumprir sua missão e contribuírem na
construção de uma nova sociedade.
(G.S
.A
,
23 anos, Monte Santo, nordeste III).
As respostas revelam que as pastorais são tidas pelos jovens como a
ção
profética para uma igreja libertadora. Para essas lideranças é a forma de organizar os
145
jovens que tem sonhos,
que
planeja
m e trabalham para um mundo melhor.
Representa
a oportunidade de conhecimento sobre a vida.
Representa uma união muito linda, jovens com objetivos de mudanças de luta e coragem. Ela é
uma escola que aprendemos a planejar, analisar, ganhar, perder. Aprendi muito com a pastoral
(
G.G.O
.
23 anos, Santarém
,
norte II)
.
4.
SIGNIFICADO DA CIVILIZAÇÃO DO AMOR PARA OS JOVENS
Todos entrevistados trouxeram consigo expectativas a cerda das transformações
da sociedade em um lugar melhor para se viver. Sobre a representação da Civilização
do
amor estes revelaram também qual o significado em suas vidas.
Significado da Civilização do amor
21%
21%
17%
28%
13%
Igualdade, justiça e dignidade
Sociedade e mundo novo
Proposta cristã p/ o mundo
Vida e amor ao proximo
Sonho e utopia
Figura 1
4
Suas respostas revelam os conteúdos e também como eles a vivenciam e a
colocam em prática a mesma, bem como sua implicação na vida pastoral e pessoal.
A
lguns
trazem que o significado da Civilização do Amor
est
á
diretamente
ligado a
questões de valores ou
ao
modo de organizar a sociedade de maneira mais justa
socialmente
.
Civilização do Amor é uma forma de manter a memória e o imaginário cristão
para os jovens. As utopias dos jovens cristãos estão ligadas diretamente à memória do
146
povo de Deus, aos saberes e ensinamentos acerca da doutrina e da cristã recebidos
na catequese. É na vivencia grupal que essas questões têm maior capacidade de
assimilação pelo povo e pela juventude. As utopias cristãs fazem parte do imaginário e
se mantém vivas no presente. Elas o relatadas e contadas para incentivar as
gerações futuras (VASCONCELOS, 2003, p. 75).
A pesquisa revelou que para os jovens a Civilização do Amor é um horiz
onte
em que podem ser consideras suas necessidades e sua história. É a possibilidade de
serem incluídos. É uma utopia que os tornam portadores da Boa Notícia Evangélica
para a Juventude que vive em busca de lugar e de mudanças sociais. Os idéias da
Civilização do Amor para os Jovens assim vai além do controle pretendido por alguns
bispos.
A Civilização do Amor atua com a perspectiva da esperança, sendo, assim,
contrária ao presentismo, o imediatismo ou mesmo à idéia de que o aqui e agora é o
que importa e conta. Faz oposição ao Fim da História . Para as PJs estes são os
valores que agregados aos jovens quando vão participar dos grupos.
As falas sobre a liderança e seus objetivos estão intimamente ligados com a
opção e a forma de se organizarem para despertar na juventude uma espiritualidade
integradora na sociedade, que tem como finalidade a construção de outra realidade, da
proposição de Políticas Públicas, de cidadania e de direitos. Os jovens das PJs desta
forma, estão na contramão da tendência atual dos bispos e da sociedade de uma igreja
voltada para o individuo, para a religião como algo privado.
Quanto aos instrumentos para realizar a Civilização do Amor
teve como
resposta por parte dos jovens que ela é pode ser colocada em prática a partir de at
itude
de c
oragem
, de ousadia e do
sonh
o
.
Afirmam que é uma questão de não terem
medo
147
da mudança, do novo, de lutar por direitos iguais e formar integralmente nossa
juventude.
Para eles isso exige conscientização popular para a libertação. É c
ontrapor
-
se ao
atual sistema e construir alternativas, experiências dessa civilização
.
Construção nova sociedade composta de pessoas cheias de amor. Disposta a construir o Reino.
(G.C.M
.
18 anos, Torres,
s
ul 3).
Os lideres pontuam que é necessária união em torno de um ideal, seja social ou
espiritual
, para se cultivar de valores. Outros dizem que os instrumentos são as
p
essoas, pastorais e igreja organizada
; s
erviço pastoral a exemplo de Jesus de Nazaré
;
o d
iscernimento
, amadurecimento da vida de
comunidade
povo de De
us
.
Dizem
também que
igreja,
as
Cebs, os movimentos e as pastorais são instrumentos para
realizar essa civilização sonhada.
Nas respostas das lideranças a questão da e da religião está muito presente,
pois trazem que é preciso crer em Jesus Cristo e acreditar nele, c
onhecer
seu
projeto
,
ter humildade, compreensão. Saber escutar, perdoar
,
pensa
r no bem comum.
No
diálogo, na
persistência,
no
carisma,
na
fidelidade,
na
coerência e na d
isposição
d
a
para se construir essa a Civilização do Amor
.
Os instrumentos mais evidentes seriam: o amor pela pátria; o amor por aquilo em que acredita;
na verdade, na justiça, na solidariedade, na solução pelas desigualdades sociais e pela
superação de nossas diferenças
(G.V.R
,
23 anos, Belém, norte II).
As respostas do
grupo demonstram uma atitude mais de passividade, com pouco
ou quase nada de enfrentamento direto das questões da realidade que vive a
população e em especial a juventude e que é contrario à sociedade sonhada e
anunciada em questões anteriores. Não pode ser desconsiderado também que as
questões da pós-modernidade: individualismo, imediatismo, inseguranças, sejam
causadoras desse medo de engajar.
148
Essas atitudes teriam a ver com o fato de que à religião cabe o papel de lutar
pela construção do Reino de Deus. Revelam também que a juventude, tanto quanto a
Igreja em geral, é carente de uma formação social que ligue e vida, para uma
engajada e solidária. Estariam essas respostas ligadas a alguma questão messiânica
20
em que para a igreja, Jesus é tido como a solução para resolver as questões da
sociedade?
Outra curiosidade é o fato de apresentarem a religião, a fé, a igreja e Jesus como
instrumentos para a construção da Civilização do Amor . nas respostas uma
distância do engajamento da militância da pastoral. O grupo cita genericamente a
palavra organização, e não aponta nenhum nome ou referência de organização social,
partidária, associativa ou juvenil.
7. A RELIGIÃO PARA OS JOVENS DAS PASTORAIS DA JUVENTUDE
Este item tem como finalidade fazer uma breve retomada da incidência da
questão papel da religião para as lideranças que estão a frente desta pastoral. O
quadro abaixo traz o que é para os jovens a o papel da religião.
20
-
O messianismo anuncia a mudança aqui e agora
, a
través da figura de um redentor ou Messias.
T
em
na vinda de
ste
a solução para a realidade presente. O movimento messiânico seria, então, a salvação
coletiva trazida por um messias, um redentor, um líder carismático, enfim (VASCONCELLOS, 1991, p.
29). No Brasil
e na América Latina
é possível identificar algumas utopias ligadas a questões messiânicas,
uma dezena de exemplos delas: Canudos, a república negra dos Palmares, os Mucker, Padre
Cícero, Contestado, Santa Dica,
a
Terra sem males dos tupi-guaranis, a republica indígena Mapuche.
Essas utopias nasceram no meio do povo e todas acreditavam na criação de uma sociedade histórica.
Elas não foram só palavras, mas busc
aram
-
se realizar aqui na terra.
149
Papel da religião
Ligar a
Deus
13%
Lutar pelo
mundo
21%
Seguir o
projeto de
Jesus
17%
Fortalecime
nto da fé
17%
Evangelizar
a juventude
32%
Figura 15
Grande parte dos lideres entrevistados revelam entender que o papel da I
greja
est
á voltado para eles mesmos, ou seja que a religião deve cuidar da juventude
.
Levar
o jovem para o caminho certo, que na opinião das deles é o Reino de Deus. Que o
papel da
liderança
e das PJs é ser fermento, mobilizador, animador, contribuindo na
organização dos jovens. Devendo assim cuidar dos jovens c
hamá
-los e
atraí
-los para a
e
vangeliz
ação
. Nota-se as respostas delegam um papel à religião mesmo estando em
conflito com seu clero, bispos e outros grupos de (congregações, movimentos e
co
ordenações).
Nas respostas é possível verificar que a Igreja é identificada como uma
organização, instituição, mas também trouxeram a missão que os jovens acreditam que
é preciso que a igreja viva.
150
O que é a igreja segundo os jovens
16%
17%
20%
13%
17%
17%
Instituição de Deus Instrumento de servo
Povo de Deus Igreja de Cristo
Comunidade organizada Espaço de comuno
Figura 16
As lideranças das pastorais de juventude revelam uma visão de igreja nos
moldes do
Vaticano
II
que
ampliou e colocou para todos os fieis católicos a
possibilidade de conhecer e se inteirar da igreja através da idéia da comunhão e
participação. O Papa João Paulo fez de seu mandato um tempo para divulgar a Igreja
Católica pelo mundo e usou de estratégias de nomear bispos que estivessem afinados
com o seu modelo de igreja. Isso implica em uma outra formação do clero com
centralidade em Roma.
8. FINALIZANDO O CAPÍTULO
Dentre
as várias questões que a pesquisa com os jovens abordou e que já foram
analisadas e refletidas, duas serão destaque para a conclusão deste capítulo: primeiro
a religião, a igreja e a Pastorais da Juventude enquanto produtora de sentido e
construtora do capital social e a segunda a instituição e sua forma de se relacionar com
os jovens.
A religião tem encontrado na igreja uma das formas de se expressar no mundo, é
o lugar da manifestação do sagrado. Assim ela se torna produtora de sentido para as
151
pessoas e, sobretudo, para os jove
ns, que têm encontrado na pastoral uma significação
para sua existência. É nela que eles têm construído seu capital social.
A religião, com seu sistema de práticas consegue influenciar no modo de ser e
se comportar dos jovens que estão dentro da pastoral,
apresentando
-lhes motivações e
simbologias para seu existir, propondo formas para os jovens se socializarem e olhar o
mundo. Ela tem influência porque oferece uma mensagem forte através do monopólio
que ela detem do capital da graça sacramental, que é fonte de informação para agir,
controlar e ajustar.
Os jovens internaliza
m
esse processo da religião, que contribui para o
surgimento de valores
,
conhecimentos e ideolo
gi
as
.
Segundo Camargo,
a
internalização da religião serve para dar um conteúdo ético aos jovens que vivem em
um
processo de mudança (CAMARGO, 1971, p. 08).
E
st
a pesquisa acabou revelando ricos
elemento
s do capital social que a religião
através da Igreja Católica e das Pastorais de Juventude proporciona aos jovens, pois
traz novos conceitos que dão significados ao lugar que estes ocupam na sociedade.
Aqui poderia esta o maior mérito da proposta da Civilização do Amor trabalhada ao
longo dos anos pelas PJs. Ela acabou se desdobrando em orientações sobre a
concepção de evangelização
, da
presença
e
do modo de se cristão na sociedade.
Como foi visto no item anterior a religião é produtora de sentido para a juventude.
Ela não é produtora de sentido como também limita, impõe e diz qual o lugar que os
jovens devem ocupar no mundo e na própria igreja, e faz isso através do poder de
gestão que ela tem sobre os bens de salvação. A religião exerce esse poder sobre os
jovens porque os mesmos são consumidores destes bens de salvaçã
o que ela oferece.
152
Para exercer esse poder sobre as pessoas, a religião ut
iliza
-se da racionalização
e da hierarquia e passa, através do funcionário do sagrado,
a
controlar o acesso dos
jovens as estas estruturas do poder a ela conferido. Não se pode negar, contudo que a
Civilização do Amor foi uma
impo
sição aos jovens, pois f
oi
uma proposta que partiu do
papa Paulo VI e dos bispos e não dos próprios jovens.
Acontece que a juventude por estar em um tempo de busca de referência, de
lugar, e, conseqüentemente, de poderes que ainda não tem, entra em conflito com as
autoridades
que estão à frente do poder eclesial. Isso foi percebido na pesquisa no item
sobre quem mais reage a proposta de organização e atuação das pastorais da
Juventude. É difícil para os jovens entenderem essa situação de poder, e percebê-
la
como parte das relações humanas. Para a juventude isso é difícil porque ela ainda não
foi investida de poder pelo mundo adulto para decidir sobre a sua própria vida. Não se
pode esquecer que o poder confere status, reconhecimento social e mantém a ordem.
É natural que quem detém o poder submeta, obrigue, limite e castigue os
demais. Quem tem o poder está disposto a tudo para não perdê-lo. Poderia ser uma
dessas as razões da reação dos bispos, padres e lideranças que estão à frente da
I
greja
ao criticarem e resistirem aos jove
ns que questionam a estrutura e a forma destes
reagir
e
m.
Nos encontros das pastorais da juventude em âmbito nacional, muito jovens
relatam proibições da existência da pastoral por parte de bispos e clero. Reclamam
também que a atual conjuntura dos bispos não quer o modelo das P
astora
is
da
J
uventude
.
Isso leva a refletir que não é que a igreja e os bispos não desejem a presença
dos jovens. Desejam, sim, mas
prefer
em e exigem que as P
astorais
da J
uventude
153
busque
m envolver toda a juventude (das pastorais e movimentos), alegando a
necessidade d
e
diálogo e da viv
ê
ncia da espiritualidade mais animadora.
Os jovens sentem que essa exigência não respeita sua proposta, não considera
as metodologias de ação e a diversidade de realidades e carismas. Na realidade se
percebe que a organização das P
astora
is
da Juventude mal consegue dar respostas
para seus desafios internos. que se considerar que esse é um desejo do clero e
dos bispos, uma vez que tais propostas não partem dos jovens, sejam eles das PJs ou
dos mov
imentos.
Por trás dessas questões e exigências sobre a juventude estão dois modelos
de
igreja que convivem internamente na I
greja
C
atólica
e influem diretamente sobre os
jovens. Um é o modelo centrado na perspectiva da ação processual na comunidade,
que tem nos grupos e nas pastorais sua expressão maior, com proposta de intervenção
social como forma de mudar a realidade e anunciar a mensagem evangélica.
A segunda tendência forte é o modelo centrado na hierarquia que tem na
estrutura a sua principal orientação, fundamentada na doutrina e na autoridade, com
uma pastoral de massa e de eventos, que defende a observância da a partir do
modelo da
I
greja de Roma.
A concorrência entre esses dois modelos sobre a juventude pode ser notada na
postura de apoio de parte de um grupo aos
movimentos
centrados no louvor e na
espiritualidade, de um lado e, de outro, as pastorais da Juventude, que insistem na
formação integral e na inserção social. Essa questão pode ser notada no projeto do
Papa João Paulo II, que
reforç
ou
os movimentos, criando a Juventude do papa ,
através do
investi
mento
nos grandes eventos de massa, como jornadas mundiais da
154
Juventude , encontros continentais dos jovens , enfraquecendo a
ssim,
as P
astora
is
da
J
uventude em níve
is
diocesanos e nacionais
.
Nestas questões se encontram as razões da falta de apoio de parte do clero às
Pastorais da Juventude, revelada nas respostas à pergunta sobre quem mais reage e
critica a proposta das PJs. Deve ser levado em conta que, se a igreja age assim, é
porque existem outros grupos e movimentos juvenis com perspectivas eclesiais e
espirituais que estão dispostos a aceitar as regras, a normas apresentadas pela
I
greja.
O que está em disputa entre esses dois modelos é a polarização entre a idéia de
igreja popular e movimento carismático, que tem se revelado no embate político-
religioso de tendências no interior do catolicismo que são intimamente opostas (SILVA,
1998, p. 1.427).
Assim, dependerá das Pjs estabelecer estratégias para saber como se situar em
meio a essa realidade, sabendo o que ela poderá negociar, ou se assumirá a postura
de resistir e insistir na sua proposta da Civilização do Amor , revitalizando-a e
dimensionando
-a de forma a ser capaz de agregação e produção de sentido junto á
juventude e mostrando aos bispos que a forma de se organizar das PJs responde às
buscas que a juventude faz no que diz respeito à religião no mundo pós-
moderno
globalizado.
155
CONCLUSÃO
Esta dissertação teve
a
pretensão
de fazer uma reflexão sobre a juventude e
sua
situaç
ão quanto à religião, às utopias e às influências da pós-
modernidade
. Entre seus
objetivo
s, pretendia fazer uma abordagem dos aspectos centrais da pós-modernidade e
a situação da religião, refletindo sobre como a cultura atual interfere na juventude
brasil
eira a partir da utopia e, de modo especial, a Civilização do Amor enquanto
proposta para a juventude católica e, por fim
revelar
as percepções que as lideranças
de PJs têm
.
A hipótese era a de que as Pastorais da Juventude propõem aos jovens um
projeto
de formação que considera a pessoa integralmente para, que esta, a partir da
vida em grupo, esteja preparada para atuar na igreja e na sociedade com princípios
cristãos.
A preparação que esta organização oferece está centrada nas orientações da
utopia Civilização do Amor
e por causa das pautas e temáticas apresentadas por este
156
ideal
, as pastora
is
buscam despertar os jovens para o engajamento na realidade em
que vivem, e construírem um outro modelo de sociedade.
As an
álises e constatações que embasaram a temática desta pesquisa foram:
1- A j
uventude
, principalmente na concepção trazida por Regina Novaes
,
que defende
que a mesma sofre influência dos interesses econômicos, políticos e que o pode ser
definida somente no recorte etário,
pois
cada jovem está sobre a influência do contexto
social onde vive. Próximos desta mesma concepção outros autores como Helena
Abramo, Marilia Sposito, possibilitaram assinalar e ver a importância e recorrência da
temática
.
2- A
Religião
,
segundo o pensamento de Durkheim,
que
afirma que as
religiões existem
para responder às condições humanas e às necessidades do homem e que o homem
assim organizaria suas
relações
na sociedade sobre os mesmos moldes. T
ambém
Bourdieu
, que foi utilizado por defender que a religião funciona como
princ
ípio de
estruturação
, que constrói as formas das relações sagradas, para dizer como se devem
comportar as pessoas no mundo natural e no mundo social.
3- A
utopia
, no
conceito
de Thomas Morus em que aparece como uma imaginação de
um modelo de sociedade e de
Mannheim
, que concebe as idéias utópicas enquanto
orientações que transcendem a realidade e que buscam mudar as condutas e abalar a
ordem desta mesma realidade. Visam romper com as amarras da ordem existente.
4- Por fim, a Civilização do Amor , promulgada pelo Papa Paulo VI e assumida pelas
Pastora
is
da Juventude na América Latina e no Brasil como horizonte para a formação
e a
viv
ência grupal da juventude, com a finalidade de que os jovens sejam presença
cristã frente
à
realidade e
,
assim
,
a partir
da
visão cristã construir um outro mundo.
157
Ao longo deste trabalho fic
ou
constatada que à juventude é apresentada uma
multiplicidade de escolhas em que ela se influenciada a partir das propostas da pós-
modernidade globalizada
.
E que esta juventude vive marcada p
ela
cultura que valoriza
as questões da subjetividade, do imediatismo, do horizonte consumista imposto pelo
mercado através da mídia. Essa influência sobre os jovens se dá,
nu
m momento que
estes estão buscando se inserir e encontrar o seu lugar no
mundo adulto.
C
ontatou
-
se
que, mesmo em meio à forte tendência à a
patia
por parte da
juventude
, pelas questões políticas e participação nos tradicionais canais de debates e
engajamento social, 15% dos jovens participam de grupos, e 85% desejam e acreditam
que são capazes de contribuir para a mudança social do país. 4% dos jovens que
participam estão no espaço religioso, que também tem grande confiabilidade dos
jovens. A religião, assim, tem forte influência sobre os jovens enquanto produtora de
sentido e de
explicação de suas existência.
Outra descoberta foi a de que a utopia da Civilização do Amor , ainda que
assumida por uma pequena parte da juventude da Igreja Católica, se apresenta como
refer
ê
ncia para que
esta juventude
interfira na sociedade com valor
es cristãos.
A pesquisa
trouxe que
os jovens das pastorais da juventude não estão satisfeitos
com a atual sociedade a que pertencem, pois querem um mundo mais próximo do
modelo apresentado pela visão cristã. Eles acreditam que a igreja e as pastorais
os
pr
epa
ram
para serem os agentes dessa mudança, que é tarefa não deles mais
também da Igreja.
Acreditam e defendem que a sua experiência religiosa feita nos grupos, lhes
possibilita adquirirem as habilidades e valores necessários para construírem uma outra
sociedade a partir da presença, do engajamento, bem como do compromisso cristão,
158
para criarem a Civilização do Amor . Sabem que
ter
ão que enfrentar o desafio de
construír
em
seu papel de transformadores n
uma
sociedade que aponta para a
centralização na pessoa e na subjetividade, nas quais as reivindicações
coletivas
não
têm
tanto
sentido.
Sabem que mesmo que
receb
am formação
,
orientações
acerca das
esperanças e sonhos, est
as
não são suficientes nas exigências de construir um outro
modelo de sociedade
.
Fico
u clara que no atual momento uma ausência de atuação ostensiva das
lideranças das Pjs nas esferas mais amplas da sociedade tais como cooperativas,
movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos e ONGs, pois não ficou evidenciado
nas respostas
,
serem
estes espaços
instrumentos para se construírem a Civilização do
Amor . A idéia do engajamento é
tímid
a e restrita ao universo da igreja e suas
comunidades,
podendo ser que essa questão fi
que
protelada p
or
influ
ência do contexto
pós
-moderno da globalização e do neoliberalismo, que deixa as pessoas inseguras e
voltadas para sua autoconstrução.
A pesquisa revelou ainda que o horizonte desejado, de mudanças da realidade
da sociedade está marcado sobremaneira por uma visão de mundo e ethos religioso
inspirado
em Jesus Cristo como centro, o que parece ser uma volta
à
Cristandade como
condição de salvação da humanidade.
As P
astora
is
da Juventude se constitu
em
como uma pequena célula dentro da
imensidão dos fiéis da Igreja Católica no Brasil e, além disso, enfrentam dificuldades
com a hierarquia (bispos, padres) e movimentos, por falta de estratégias de diá
logo,
comunicação e pela linha de pastoral pela qual as Pjs faz
em
opção.
Possuem poucos
quadros
de acompanhantes,
revela
ndo
uma ausência de planejamento para a
mpliar
suas bases.
159
Se a proposta da Civilização do Amor é uma perspectiva a ser construída
pelos
jovens das PJs terão estes que
enfrenta
rem alguns
limites
:
a)
A forte oposição que tem crescido de uma grande parte da hierarquia que não
mais acredita no modelo de igreja em pastoral, que
priva
cada vez mais os
jovens de investimento em uma formação processual
,
sistemática
que
os
preparem para uma intervenção social. As Pjs, as CEBs e as pastorais sociais
estão em busca de espaço e resistência dentro da tendência da Igreja Católica,
que tem centrado
atenção
na estrutura e na autoridade clerical a sua forma de
evangelização. Es
te limite
foi confirmad
o
na pesquisa quando os jovens apontam
que as maiores resistências e críticas a sua proposta de ação est
ão
na
hierar
quia: padres, bispos;
b)
Conseguir agregar um número maior de jovens em seus grupos e em outros
ambientes
de presença juvenil;
c)
Retomar os conceitos da Civilização do Amor e possibilitar que mais jovens
possam se apropriar das idéias e valores nela propostos para que as novas
gerações das PJs tenham a mesma como horizonte que orientem
suas
expectativas de construir uma outra sociedade diferente da
qual
eles estão
inseridos.
Portanto a Civilização do Amor é uma utopia
coerente
, pois orienta e é
referencial p
ara as
P
astorais de
J
uventude frente ao mundo que tem outras ofertas para
as pessoas. A realização da Civilização do Amor está
na perspectiva da concepção de
utopia, pois é sonho, quimera, aponta para frente, nunca se alcança em sua totalidade.
Carrega e
m si o elemento da oposição à realidade dominante
com a
qual um grupo não
est
á
de acordo e sonha com outra realidade
.
160
Neste sentido, para as lideranças das pastorais da juventude ela foi traduzida
para o desejar um mundo de justiça, de liberdade, que considera a pessoa como um
todo, que respeita a natureza, a diversidade e a pluralidade de cultura. Ela acontece
quando estes jovens reivindicam políticas públicas, quando insistem em viver a
experiência de comunidade, quando tomam atitudes contrá
rias
à
pregada
pela
sociedade neoliberal.
Vista por este prisma se entende por
que
os jovens
ao
serem
pergunta
dos sobre
o
que desejam, responde
ra
m Um outro mundo possível . Para eles a Civilização do
Amor acontece no seu modo de ser e de se comportar. Está mais presente nas idéias,
orientações e valores que os jovens assumem em seus projetos e engajamento.
Aparece nos documentos, em seus encontros, na forma de fazer e construírem seus
espaços de formação e vivência.
Após esta longa aná
lise
, acredita-se que a presente dissertação seja mais uma
contribuição para a Academia na sua forma de pensar a juventude, bem como
possibilitar
que
a Igreja Católica retome e recupere a preocupação com esta geração,
para clarear qual é a utopia cristã que ela quer propor aos jovens na atual realidade
contemporânea. Espera-se ainda que possa contribuir para que as pastorais da
juventude re
cuperem
as concepções que fizeram dela uma pastoral expressiva dentro
da Igreja Católica. Que os resultados possam vir a ser fonte para elaboração d
e
estratégias e ações quanto à juventude ou mesmo que sirva de base para novas
reflexões e pesquisas acerca da temática.
Fica
ainda em
aberto
, para o futuro,
em
razões d
os
limites desta pesquisa,
o
aprofundamento
de questões da juventude no que diz res
peito
à f
amília
e a
sexualidade.
161
Finalizando,
é necessário considerar que os bispos e lideranças
das
P
astorais da
Juventude que aceitaram a proposta da Civilização do Amor , não tem mais força ou
postos
dentro da hierarquia da Igreja Católica que os possibilitem defenderem essa
utopia. Assim ficam as seguintes perguntas: teria espaço e estaria disposta a I
greja
Católica hoje em colaborar com
o
modelo de C
ivilização
do Amor proposta por ela
mesma às PJs? Estaria sendo gestada pelos bispos
um
a outra u
topia
para responder
aos tempos atuais, para fazer frente à proposta de Paulo VI? De que forma e até
quando estarão dispostas as PJs a defenderem no Brasil e na América Latina a
proposta da Civilização do Amor ? Ou e
staria
esta u
topia
condenada a ser um
projeto
saudosista para uma elite vanguardista das experiências feitas nas décadas de
19
80 e
19
90 do século passado?
162
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