prescrito e o trabalho real, porém quanto maior for o distanciamento entre o prescrito e o real,
maior será o sofrimento do trabalhador, porque terá que fazer adaptações, improvisações,
regulações que tornam o trabalho penoso.
De acordo com os autores (op cit), um dos caminhos para minimizar as contradições que
permeiam o trabalho prescrito e o trabalho real é:
[...] flexibilizar a organização do trabalho, de modo a deixar maior liberdade ao trabalhador para
rearranjar seu modo operatório e para encontrar os gestos que são capazes de lhe fornecer prazer,
isto é, uma expansão ou uma diminuição de sua carga psíquica de trabalho. Na falta de poder
assim liberalizar a organização do trabalho, precisa-se resolver encarar uma reorientação
profissional que leve em conta as aptidões do trabalhador, as necessidades de sua economia
psicossomática, não de certas aptidões somente, mas de todas, se possível, pois o pleno emprego
das aptidões psicomotoras, psicossensoriais e psíquicas parece ser uma condição de prazer no
trabalho (DEJOURS, ABDOUCHELI e JAYET 1994, p.31-32).
Para que isto efetivamente ocorra, é preciso que as gerências estejam entrosadas de tal
forma com os meandros da organização do trabalho, deixando de prescrever regras, normas,
rotinas distanciadas da realidade laboral, fugindo do papel de meras “ditadoras de ordens”,
“checadoras de escalas” e “fiscalizadoras”. Faz-se relevante que aqueles que prescrevem a
organização laboral conheçam como o trabalho é executado pelos trabalhadores, tentando
incansavelmente adaptar a tarefa ao trabalhador. Pois, como estabelecem Dejours, Abdoucheli e
Jayet (1994, p. 55), “mudar o poder de mãos na empresa não resolveria a questão do sofrimento e
levaria apenas a mudar a responsabilidade entre atores”.
Considerar estas situações que envolvem a organização do trabalho significa valorizar o
trabalhador em sua subjetividade e assegurar e/ou resgatar a sua saúde. Sobre este aspecto,
Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994) fazem uma importante análise:
Uma boa adequação entre organização do trabalho e a vida mental do trabalhador é possível, desde
que aquela considere as exigências intelectuais, motoras e psicossensoriais da tarefa com as
necessidades daquele que trabalha e que o conteúdo do trabalho seja fonte de uma satisfação
sublimatória. Para isto, é necessária uma análise precisa da psicodinâmica da relação homem-
trabalho (DEJOURS, 1994, p. 138).
Observa-se um aumento progressivo do número de trabalhadores de saúde atuando em
unidades hospitalares, ressaltando-se principalmente profissionais da equipe de enfermagem, que
em sua maioria desenvolvem suas práticas profissionais nos hospitais. Acerca da organização do
trabalho hospitalar, Pitta (1994) infere que:
O hospital tem sido um lugar nevrálgico de aglutinação de trabalhadores que inclui desde médicos,
enfermeiros, auxiliares, fisioterapeutas, telefonistas, nutricionistas, operadores de máquinas e
auxiliares outros, numa extensa lista de profissões e ocupações (PITTA, 1994, p.17).