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consciência permite ver de uma nova forma o que vinha sendo visto distraidamente, ou
valorizar aquilo que passava desapercebido, ou quase.
Dentre os procedimentos oferecidos pela etnografia adotou-se a entrevista em profundidade,
para levantar a percepção do ambiente efetivada pelo morador. Ele é solicitado a avaliar o
ambiente onde reside, em narrativa livre. Por esta razão não se aplica questionário, com
perguntas previamente estabelecidas. Os itens abaixo listados são referências para estimular o
entrevistado, se ele não se mostrar fluente sobre a questão. Entretanto, a recomendação da
abordagem qualitativa é no sentido de deixar o entrevistado à vontade, o mais possível, para
falar livremente. A importância dessa diretriz fica ainda mais evidente, quando se percebe,
que "freqüentemente, as mais vivas recordações afloravam depois da entrevista, na hora do
cafezinho, na escada, no jardim, ou na despedida no portão" (BOSI, 1983: 3), quando então
já não estava presente o menor indício de intenção acadêmica e então se podia "bater-papo" e
falar das coisas da vida... Por isso também as eventuais omissões, com relação ao roteiro,
terão significado e deverão ser analisadas. Nesse sentido, o roteiro abaixo serve como quadro
de referência também para a posterior análise das entrevistas.
a. O morador está atento ao ambiente urbano do local onde reside?
b. Quais os aspectos do ambiente presentes na avaliação do morador?
d. O morador correlaciona qualidade do ambiente com a intensidade do tráfego que passa por
sua rua? O morador estabelece relação entre o traçado da rede viária e a intensidade do
tráfego?
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e. O morador está atento às transformação de seu bairro, e aos riscos de desqualificação desse
ambiente, decorrentes dessas transformações?
f. O morador visualiza potenciais de melhoria de seu bairro?
g. Quais a ações desenvolvidas pelos moradores para promover a manutenção ou a melhoria
da qualidade do ambiente de seu bairro?
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O destaque dado ao tráfego (com seus efeitos de ruído, poluição e insegurança para o pedestre), deve-se à
responsabilidade a ele atribuída, por diferentes autores, como um dos fatos urbanos preponderantes na
desqualificação do ambiente urbano, e na constituição de não-lugares, (AUGÉ, 1994: 74, 75, 87; BOSI, 2003:
27,28; CAMPOS FILHO, 1992: 113; CAMPOS FILHO, 2004: 34; HILLMAN, 1993: 55, 56, 59, 61, 63, 64;
MARX, 1987: 88, 90, 91; RIO, 1990: 42; SANTOS, 1985: 24); O traçado viário é considerado "um dos
elementos mais claramente identificáveis tanto na forma de uma cidade como no gesto de a projetar" sendo que
"é o traçado [viário] que define o plano – intervindo na organização da forma urbana" (LAMAS, 2004: 98).