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180
A brutalidade da situação vivenciada pelos condenados e seus algozes não é fruto
exclusivo do despreparo e da crueldade desses últimos.
145
É, antes, o resultado de uma conjunção
de fatores desfavoráveis que, apesar de não isentar de culpa seus atores, tende a levá-los a reações
extremas, ditadas pela natureza humana.
146
Não se deseja com este argumento incorrer no erro de
diluir e dissipar a responsabilidade dos fatos envolvidos nesse embate ou, mesmo, daqueles que
acabam por impor o presídio como única solução para imposição de leis em uma sociedade.
147
O
que se pretende é, antes, conhecer melhor os agentes dessa conjuntura e as forças de interação
que os relaciona, tendo em vista uma ação mais acertada no campo que nos compete.
Voltando ao edifício, as característica do conjunto quanto à distribuição espacial, ao
partido arquitetônico e à filosofia construtiva permitem enquadrá-lo no tipo “poste telegráfico” –
corrente inaugurada na tipologia prisional pelo estabelecimento penal de Wormwood Scrubs
(1874, FIG. 79), em Londres, e pela prisão em Fresnes-lès-Rungis (1894, FIG. 82), próxima a
Paris.
148
Um exemplo da utilização da mesma tipologia em um hospital pode ser tomado no
Herbert Hospital, em Woolwich, na Inglaterra (1859, FIG. 80).
145
No verão de 1971, foi levada a cabo, por um pesquisador da Universidade de Stanford, uma experiência que
simulava o ambiente prisional e, aleatoriamente, distribuía o papel de condenados e policiais entre voluntários,
convocados por meio de anúncio de jornal. Aos voluntários foi dito que receberiam uma quantia em dinheiro
para desempenhar a dada função, em benefício de um estudo psicológico das relações entre presos e funcionários
do sistema prisional. O período de duração da simulação, programado para duas semanas, teve que ser
interrompido ao final de seis dias – para alívio dos condenados, mas sob os protestos dos pretensos policiais –
por recomendação expressa de uma psicóloga, colega do empreendedor do evento. O estado emocional a que
foram levadas ambas as partes assim o exigia, dado o nível de sadismo de um lado e de estresse físico e
emocional de outro. Vale lembrar que a aleatoriedade na escolha dos papéis desempenhados reforça a teoria que
advoga ser a situação uma das componentes que participam “ativamente” do processo até seu desfecho.
Sabemos, pelo acompanhamento da pesquisa, que o ambiente físico também cumpriu importante função no
resultado final, geralmente como elemento de barganha, opressão ou castigo. Apesar da dificuldade em avaliar o
quinhão de participação da arquitetura no processo abordado, a recorrência de sua utilização endossa a conclusão
de sua efetividade. O experimento ficou conhecido como Stanfod Prison Experiment. Disponível em:
<http.www.prisonexp.org/discuss.htm>. Último acesso em 09/05/2005.
146
Para a uma visão pragmática e útil da natureza humana no campo da política, por elegê-la com baliza para
procedimentos diversos, cf.: MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe; Escritos políticos. Trad. Lívio Xavier. 3. ed.
São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Pensadores)
147
Uma opinião nesse sentido foi emitida por Michel Foucault, em que ele diz ser o presídio a “detestável solução de
que não se pode abrir mão.” O que a frase não diz, e que parece ser verdade, é que a imprescindibilidade do presídio se
deve ao fato de ser ele a forma contemporânea de assegurar a liberdade. Cf.: FOUCAULT, 2001, p. 196.
148
JOHNSTON, 2000, p. 96, 117; JOHNSTON, 1973, p. 42-45; PEVSNER, 1979, p. 168.