nome. Cidade Jardim é um bairro de alta sociedade, de casas grandes antigas,
jardins cultivados e poucos lotes vagos. A partir de uma conversa com um
proprietário num posto de gasolina onde estávamos pedindo informação sobre um
outro lote, fomos direcionados para o bairro Nova Granada da Regional Oeste de
Belo Horizonte. Lá, numa realidade diferente da nossa, encontramos-nos num
terreno vago, no meio de uma área aberta, indefinida (Figura 7). Digo indefinida,
porque, apesar de ser de propriedade particular, não mostrou limites, cercas,
plantações ou construções. Impressionados pela indeterminação dessa área,
fizemos um plano de saliências do terreno de 2.000 m² e das vizinhanças.
Descobrimos um lugar onde predomina a história de um antigo lixão e de projetos
urbanísticos falidos
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. O lote não pareceu existir como um lugar em si, mas como
memória de um passado recente e, hoje, como acesso a duas frações do Morro
das Pedras, uma região residencial informal, ou seja, uma favela.
Passagens constantes, trânsito de pessoas, animais, bicicletas e carros
fazem a área parecer de todos e de ninguém. O vazio como ausência, terra sem
lei, liberdade irrestrita, drogas, violência, lixo, ratos e cachorros transformam o lote
em uma ilha de projeção de medos e, simultaneamente, de esperanças. Os
moradores, o proprietário, a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte – URBEL
–, a Superintendência de Limpeza Urbana – SLU –, a prefeitura, as crianças, as
mães, os adolescentes, trabalhadores e aposentados, todos demonstraram
demandas particulares que fazem do lote um campo fértil de idéias. Entretanto, as
infinitas possibilidades, misturadas com apatia, incertezas e falta de dinheiro
resultam numa inércia total. O convite ao uso de uma caçamba para a melhoria de
vida dos vizinhos do proprietário não se transforma em uma ação coletiva. A
presença de um poder oculto e estranho impossibilita qualquer articulação no lote.
Um terreno vago, sujo, fedorento, desprotegido, indefinido e nós, no
centro em contemplações repetidas, com os nossos questionamentos estéticos e
éticos. Usamos o lote para observar o entorno. Sentimos uma incapacidade de
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Um projeto de parque ambiental tampando o antigo lixão cuja construção foi iniciado, mas não
terminado, e o Conjunto Esperança no Barreiro para onde foram os moradores do lixão.