79
imagináveis, mas nunca chegaste a dizer qual é a essência do jogo de
linguagem e assim da linguagem. O que é comum a todos esses
processos e que os torna em linguagem ou em partes da linguagem.
Assim ofereces-te simplesmente a parte da investigação que em
tempos te deu as maiores dores de cabeça nomeadamente a que diz
respeito à forma geral da proposição
15
e da linguagem.
E é verdade. – Em vez de especificar o que é comum a tudo aquilo a
que chamamos linguagem, eu afirmo que todos estes fenômenos nada
têm em comum, em virtude do qual nós utilizemos a mesma palavra
para todos – mas antes que todos eles são aparentados entre si de
muitas maneiras diferentes, e por causa destes parentescos chamamos
a todos ‘linguagens’. (PI, §65)
Assim sendo, podemos perceber que, para existir um jogo de linguagem
é necessário somente falantes, utilizadores de uma língua e que, desta forma,
constituirão os jogos de linguagem em segmentos práticos do cotidiano onde
esses jogos ganharão sentido. Não é necessária a adesão consciente dos falantes
nesses jogos, ao contrário do jogo de xadrez, é necessário que os falantes se
predisponham a aprender as regras, no caso dos jogos de linguagem, não é
necessário.
O falante é introduzido nesses jogos e participa de forma ativa sem que
sejam ensinadas as regras explicitamente. Porém, as regras de alguma forma
são infringidas, o falante percebe automaticamente que algo está errado, a
jogada não teve o êxito esperado. Uma pessoa se coloca à disposição para
aprender xadrez, quando é de sua vontade. Já na linguagem, não existe essa
disposição. Somos como que mergulhados em situações, em jogos e em formas
de vida. Sem dúvida existe um aprendizado para se jogar, mas não existe
adesão consciente à regra como tal.
Quere-se dizer que aprender uma linguagem consiste em dar nomes a
objectos, como seres humanos, formas, cores, dores, estados de
15
Em sua fase inicial, a filosofia de Wittgenstein busca determinar a natureza da representação e
daquilo que é representado, o mundo. E o faz estabelecendo a essência da proposição. Vários
tipos de proposição se diferenciam quanto as suas formas lógicas, que devem ser descobertas
pela aplicação da lógica. Entretanto, tais formas possíveis possuem algo em comum que é
determinado a priori. O fato de que uma combinação de palavras possa constituir uma
proposição não é uma questão de experiência; é, antes algo implícito nas regras da SINTAXE
LÓGICA. A forma proposicional geral é a essência da proposição, as condições necessárias e
suficientes para que algo seja uma proposição em qualquer “notação”. (GLOCK, 1997, p.182)