RESUMO
Este estudo teve como objetivo investigar as relações interpessoais estabelecidas
pelas crianças durante as interações com o brinquedo construído por elas mesmas,
em dois contextos, durante a construção e o desenvolvimento de atividades com o
brinquedo na sala de aula e na própria casa da criança. No capítulo um foi realizado
uma extensa pesquisa bibliográfica sobre os brinquedos, suas considerações
históricas e implicações sobre o desenvolvimento infantil. A Teoria Biecológica, base
deste estudo, foi abordada no segundo capítulo. Os procedimentos metodológicos,
descritos no capítulo três, demonstram os caminhos percorridos pelo estudo, no qual
foram analisadas trinta e seis crianças, de ambos os sexos, com idade entre 5 e 6
anos, da instituição PRODECAD/UNICAMP (Programa de Desenvolvimento e
Integração da Criança e do Adolescente). Foram desenvolvidas doze aulas de
construção de brinquedos, em cada aula as crianças construíram um brinquedo
diferente utilizando materiais alternativos e sucatas. Após a construção
desenvolveram atividades motoras de exploração livre e dirigida e brincadeiras com
estes e, ao final, os levaram para a sua residência. As aulas foram registradas por
dois observadores não-participantes, a professora e a auxiliar da sala, no diário de
campo, que foi estruturado conforme os pressupostos da Teoria Bioecológica de
Urie Bronfenbrenner (1996, 2005). Ao levar o brinquedo para a casa, a criança
recebia um questionário para os pais responderem; este buscava informações sobre
o que a criança desenvolveu com o brinquedo em sua residência. Para uma análise
mais completa foram filmadas duas aulas, a sexta e a décima segunda. A análise e
discussão dos dados foram realizadas com base na Teoria Bioecológica
investigando os fatores que contribuíram ou limitaram o estabelecimento das
interações sociais. Estes resultados apontaram que os atributos das crianças, tais
como as disposições pessoais, os recursos e as demandas exerceram influência
sobre as relações interpessoais, de modo que disposições positivas fomentaram
estas interações. A atividade de construção e interação com os brinquedos foi
considerada como molar, em ambos os microssistemas, devido aos fatores como
empenho das crianças e o significado adquirido. As ligações entre os
microssistemas, advinda das interferências e da comunicação interambiente,
culminaram na formação efetiva do mesossistema, aumentando o impacto
desenvolvimental deste. Por outro lado, propriedades das crianças como recusar-se
a construir, retirar-se de brincadeiras, desentender-se com terceiros, entre outras,
limitaram e, em alguns momentos, romperam as interações sociais. A falta de
incentivo da família também constituiu um fator limitante. Porém, as atitudes
positivas prevaleceram, bem como o estabelecimento das relações interpessoais. A
identificação destes fatores positivos e negativos foi amplamente facilitada pelas
diretrizes da Teoria Bioecológica, como também as influências exercidas pelo
macrossistema sobre o meso e de um micro sobre o outro. Concluímos que as
interações sociais que foram estabelecidas pelas crianças em função dos
brinquedos, nos fazem compreender as forças exercidas pelos atributos destas e
pelo potencial dos ambientes, variáveis que, segundo a natureza da teoria
biecológica, jamais poderiam ser entendidas separadamente.
Palavras-chave: Criança – Educação Infantil – Brinquedo – Teoria Bioecológica