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Nós, que trabalhamos na linha de frente, na área de agência, a gente sabe
disso, que é impossível hoje o empregado ter o conhecimento mesmo do
início até o fim de todo o processo. Ele pode ter um conhecimento
superficial, mas o conhecimento mesmo da questão operacional, isso não.
Nesse desabafo, emerge o sofrimento:
O outro segmento também não tá conseguindo atingir a meta que eles
colocaram. É muito alta. O pessoal fica todo se descabelando, fala que não
dorme, que leva troço pra casa pra tá fazendo, pega manual de habitação
pra tá levando pra casa pra estudar à noite...
Então o gerente é pressionado nesse sentido todos os dias. Todo problema
ele tem que resolver. E ele tem que atingir as metas que são cobradas por
ele. Então ele vira realmente o seu limite. E tem o nível de estresse, muitos
colegas que sofrem de estresse e, claro, tem momentos que você não
consegue nem dormir à noite, né? Algum tipo de problema, se você fez um
empréstimo e esse empréstimo inadimpliu e você fica pensando naquela
situação, porque hoje você tem um rendimento, um salário, você empresta
muito mais do que isso. Você tem uma meta hoje de milhões. Você ganha
mil. Você não sabe se todo processo tá correto, né? Você pode ter cortado
um documento, vamos se dizer, um rendimento, a renda da pessoa, pode
ter cortado alguma situação, uma vírgula que esteja errada no
processo....você é responsabilizado, então você tem essa preocupação.
Do sofrimento faz parte o medo de perder a função. Como veremos nos relatos
abaixo, é o fantasma (o terror) que ronda a vida dos gerentes. É a sanção que
podem sofrer, se não corresponderem ao que se “pede”. No caso da instituição
estudada, os gerentes não podem perder o emprego facilmente, a não ser por um
processo administrativo, uma justa causa, uma vez que todos os empregados são
concursados e têm certa estabilidade. No entanto, perder a função é, praticamente,
perder o emprego, principalmente pela redução salarial que sofrem, daí o medo que,
segundo Dejours (2001), gera condutas de obediência e submissão. Por outro lado,
não se render ao medo possibilita driblar melhor a situação que pressiona:
O mais importante é a experiência no cargo de gerente, porque você acaba
perdendo o medo e eu, por exemplo, não tenho medo de perder a função.
Eu sinto ainda que muitos colegas têm, mas eu não tenho medo de perder,
se eu perder: beleza! Eu vendo meu carro. Eu não preciso andar de carro,
não vou gastar gasolina, a minha casa é quitada, então vou viver, vou
colocar meus filhos numa escola pública e vou me virar, mas nada
desesperador, então a importância de você tá trabalhando tranqüilo,
principalmente em relação a seus superiores, é o fato de você tá tranqüilo
com a sua função. Aquela pessoa que tem medo de perder a sua função
não sabe administrar a situação.
Então você conheceu nosso antigo superintendente... mas você já deve ter
ouvido falar, o cara era o monstro, era terrorismo, então a grande angústia
de todos os gerentes hoje tá 20% do que era, é o medo de perder a função,
então eu acho que, a partir do momento que você não tem medo de perder
a função, você age com mais tranqüilidade, com mais imparcialidade, o
cara pode tá falando no seu ouvido em plena sexta-feira, eu sei que é