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Com efeito, esse ambiente ideológico deve ser entendido com base nos contextos
econômico e político do pós-guerra, cujo impacto nas ciências foi a própria ênfase que
passam a ter conceitos como os de “modernidade” e “progresso”.
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Esses conceitos em
grande medida passaram a nortear o debate acadêmico, criando efetivamente, em vários
ramos das ciências sociais, uma “teoria do desenvolvimento”. Sem embargo, embora esse
debate fosse presente em centros de todo mundo capitalista, ele ganhou contornos de
especial destaque nas regiões chamadas de “terceiro mundo”, “países subdesenvolvidos”
ou, como eram caracterizados no jargão cepalino, “periferia capitalista”.
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A teoria do desenvolvimento ganharia pelas mãos do economista norte-americano
Walter Rostow sua expressão máxima. Em seu livro Etapas do crescimento econômico, de
1952, Rostow argumentava, em suma, que as diferenças entre as nações poderiam ser
enquadradas em uma “escala evolutiva” de desenvolvimento, cujo fim seria “a era do
consumo de massas”, ou seja, as economias subdesenvolvidas deveriam adotar uma série de
medidas para chegar ao mais alto estágio de desenvolvimento, que nada mais era do que
uma analogia à sociedade norte-americana da época.
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Como observa Theotônio dos Santos
(2000, p. 17), “A questão do desenvolvimento passou a ser, assim, um modelo ideal de
ações econômicas, sociais e políticas interligadas que ocorreriam em determinados países,
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De acordo com Santos (2000, p. 15), conformou-se uma nova realidade geopolítica no pós-guerra e “Era
inevitável, portanto, que as ciências sociais passassem a refletir essa nova realidade Elas haviam se
constituído, desde o século XIX, em torno da explicação da Revolução Industrial e do surgimento da
civilização ocidental como um grande processo social criador da ‘modernidade’. Esse conceito compreendia a
noção de um novo estágio civilizatório, apresentado, por vezes como o mercado, o socialismo ou as
burguesias nacionais”.
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Embora se possa fazer alguma diferenciação entre os conceitos de subdesenvolvimento/desenvolvimento e
periferia/centro, Rodríguez (1981, p. 42) observa que esses pares são menos divergentes do que muitas vezes
se argumenta: “Afirma-se, com freqüência, que os conceitos de centro e periferia diferem de outro par de
conceitos paralelos: desenvolvimento e subdesenvolvimento. Entende-se que os primeiros são alusivos à
estrutura do comércio mundial, [...] ao passo que os outros dois se referem às diferenças de estrutura
econômica entre países avançados e atrasados. Essa apreciação dos conceitos do centro e periferia é, sem
dúvida, unilateral, já que, como se pode ver, há entre eles uma diferenciação de funções no contexto da
economia mundial, que se expressa primordialmente na característica de intercâmbio comercial à qual se
acaba de fazer referência. [...] Os conceitos de centro e periferia têm, portanto, um conteúdo estático muito
similar ao dos conceitos correntes de desenvolvimento e subdesenvolvimento, pois assinalam a desigualdade
das estruturas produtivas entre os países avançados e atrasados”.
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Note-se que esse período histórico é marcado pelo embate entre projetos sociais distintos, pela Guerra Fria.
Não por um acaso, como bem se sabe, tal obra tem como subtítulo “um manifesto anticomunista” e, mais
tarde, seu autor foi consultor da CIA, dando suporte teórico a vários golpes de Estado que explodiram da
década de 1960 em diante em países subdesenvolvidos e que foram apoiados (inclusive militar e
financeiramente) pelos Estados Unidos.