No seu início, sob o reino de Elisabeth, a Companhia das Índias Orientais foi autorizada, para que
exercesse melhor seu comércio com a Índia, a exportar 30.000 libras esterlinas, em prata e/ou em moedas
estrangeiras. Isso feria todos os preceitos da época, e Thomas Mun, fazendo uma exposição dos
fundamentos do "sistema mercantil" em um "Discurso sobre o comércio da Inglaterra com as Índias", e
nele admitindo que os metais preciosos eram a única riqueza real que um país poderia possuir, foi forçado
a sustentar, ao mesmo tempo, que sua exportação podia ser tolerada sem temor uma vez que o balanço de
pagamentos pendia em favor da nação exportadora. Ele assegurava também que a maioria dos bens
importados das Índias Orientais eram re-exportados para outros países, donde se obtinha uma quantidade
de numerário bem maior que a necessária para pagar por essas mercadorias da Índia. No mesmo espírito,
sir Josiah Child escrevia um "Tratado no qual é demonstrado que o comércio das Índias Orientais é o mais
nacional de todos os comércios estrangeiros". Pouco a pouco, os partidários da Companhia das Índias
Orientais tornaram-se mais audaciosos e pode-se notar, como uma curiosidade nessa estranha história
indiana, que os monopólios do comércio na Índia foram os primeiros apóstolos do livre cambismo na
Inglaterra.
Novamente a intervenção parlamentar foi reclamada com respeito da Companhia das Índias Orientais, não
pelo pessoal do comércio, mas pela classe industrial em todo o decorrer dos últimos anos do Século XVII
e durante a maior parte do XVIII; foi então proclamado que a importação de tecidos de algodão e de sedas
das Índias Orientais arruinariam as pobres manufaturas inglesas. Essa opinião foi avançada na obra de
John Pollexfen intitulada "A incompatibilidade da política manufatureira da Inglaterra e das Índias
Orientais" (Londres, 1697), um título estranhamente confirmado um século e meio mais tarde, mas num
sentido totalmente diferente. O Parlamento interviu então. Pelos atos 11 e 12 Guilherme III, capítulo 10, o
porte de sedas manufaturadas e de peças impressas ou tingidas, importadas da Índia, da Pérsia e da China,
foi proibida e toda pessoa que as possuissem ou vendessem eram passíveis de uma multa de 200 libras
esterlinas. Leis análogas foram promulgadas sob George I, II e III em consequência das lamentações
reiteradas dos manufatureiros brutânicos, tão "esclarecidos". Assim, ddurante a maior parte do Século
XVIII os produtos manufaturados indianos foram geralmente importados pela Inglaterra para serem
vendidos no continente, estando excluídos do próprio mercado inglês.
Outra intervenção parlamentar nos negócios das Índias Orientais era solicitada pelos ávidos
manufatureiros da metrópole por época de cada renovação da carta pelos mercadores de Londres,
Liverpool e Bristol, para que esforços fossem feitos para destruir o monopólio comercial da Companhia e
para participar nesse comércio, considerado como uma verdadeira mina de ouro. Como consequência
desses esforços, uma disposição foi introduzida no ato de 1773, extendendo a carta da Companhia até
primeiro de março de 1814, pela qual as pessoas privadas britânicas estavam autorizadas a exportar para
as Índias e os empregados da Companhia a importar para Inglaterra quase toda espécie de mercadorias.
Mas essa concessão continha condições que aniquilavam seus efeitos em relação às exportações de
mercadorias pelos mercadores privados na Índia. Em 1813, a Companhia foi incapaz de resistir à pressão
de vastos meios comerciais e, se o monopólio do comércio com a China era mantido, o comércio com a
Índia foi aberto à livre concorrência, sob certas restrições. Na renovação da carta de 1833, estas últimas
foram enfim descartadas, a Companhia se viu proibida a todo gênero de comércio, seu caráter comercial
lhe foi retirado, assim como seu previlégio de banir os cidadãos britânicos do território indiano.
Nesse meio tempo o comércio das Índias Orientais tinha sofrido três sérias modificações, alterando
totalmente a atitude das diversas classes na Inglaterra. Durante todo o Século XVIII os tesouros que
afluiam da Índia para a Inglaterra eram bem menos o fruto de um comércio comparativamente
insignificante do que da exploração direta deste país e das fortunas colossais que lhe eram extorquidas e
tranferidas para a Inglaterra. Em pouquíssimo tempo, após 1813, o comércio com a Índia mais que
triplicou. Mas isso não era tudo. O caráter inteiro desse comércio tinha mudado. Até 1813 a Índia havia
sido principalmente um país exportador, tornando-se agora importador, e essa progressão foi tão rápida
que desde 1823 a taxa de câmbio que havia geralmente sido de 2 shillings e seis pences por rúpia havia