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dependentes politicamente dos grandes fazendeiros. Eles trabalhavam como peões
de tropas, carreteiros, aprendizes de profissão, enfim, um estudo deste tipo poderia
aprofundar e complexificar as formas de representação da história de Pelotas
95
.
Por muito tempo, o termo “fronteira” ficou relacionado aos limites da relação
oposicionista entre a civilização e a barbárie. A partir das construções dos estados-
nações, houve a necessidade da expansão dos territórios, que, dentro dos contextos
da América Latina, foram sendo conquistados através da dizimação dos grupos
étnicos indígenas. Assim, as ditas “civilizações” legitimavam suas conquistas com o
argumento da civilização de povos bárbaros, atrasados
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, visão supostamente
compartilhada pelas autoridades da Vila de São Francisco de Paula.
Um ofício do sub-delegado de polícia em 1847 pode nos mostrar isso. Ele
reclamava um segundo suplente para seu cargo alegando que existia no distrito
“uma imigração considerável, a maior parte de gaúchos desordenados que difícil tem
sido contê-los”. Continuava ele “sendo a entrada para esta cidade franca para todos
os andantes que vem da campanha pelo muito tráfico de tropas aonde necessita
uma completa pesquisa, não há de quem lançar mão para conter a ordem”
97
.
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Sobre este assunto além de FILHO, Walter Fraga. Mendigos, moleques e vadios na Bahia do
século XIX. São Paulo / Salvador: HUCITEC / EDUFBA, 1996, ver: FRANCO, Maria Sylvia de
Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. São Paulo: Kairós, 1983. SOUZA, Laura de Mello e.
Desclassificados do Ouro. A pobreza mineira no século XVIII. 2ª edição, São Paulo, Graal, 1986.
SCHWARCZ, Roberto (org.). Os Pobres na Literatura Brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1983.
CHALHOUB, Sidney . Trabalho, Lar e Botequim. São Paulo, Brasiliense, 1986.
96
Lídia Xavier nos traz reflexões sobre as idéias construídas pelo Historiador norte-americano
Frederick Jackson Turner, no final do século XIX, a cerca do processo de formação do território
norte-americano, que de acordo com ela, “[...] acompanhou a produção de uma ideologia nacionalista
e expancionista, que procurou explicar as origens e características nacionais, tendo como referência
os efeitos de uma constante fronteira de colonização” (XAVIER, Lídia de Oliveira. Fronteira: reflexões
sobre teorias e historiografia. In: Em tempos de Histórias. Revista dos alunos de Pós-graduação em
História. Nº 5, ano5, 2001. p. 114). Mais informações a respeito das discussões historiográficas sobre
o termo “fronteira”, ver CLEMENTI, Hebe. El espacio libre e a descobrir y el concepto de frontera. La
frontera como clave integradora. In: La frontera em América. Uma clave interpretativa de la Historia
Americana. Buenos Aires: Leviatan, 1987; LOPEZ, Claude. A fronteira. Uma explicação da história
americana? In: A América Anglo Saxônica de 1815 à atualidade. São Paulo: Pioneira/EDUSP, 1981;
PRADO, Maria Lígia Coelho. Natureza e identidade Nacional nas Américas. In: América Latina:
Tramas, Telas e Textos. Bauru: EDUSC, 1999, p. 179-216.
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AHRGS. Fundo: Polícia. Sub-delegacia de polícia. Correspondência expedida. Pelotas, 2 de junho
de 1847.