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De acordo com Hobsbawn (1982: 44-45) em fins do século XVIII, “pela primeira vez na
história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades
humanas, que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, e até o
presente ilimitada, de homens, mercadorias e serviços.” Segundo o autor, não se tratou de um
episódio com um princípio e um fim, mas de algo que tinha como essência a implantação de
uma mudança revolucionária destinada a se tornar norma, revelando-se assim, “o mais
importante acontecimento da história do mundo, pelo menos desde a invenção da agricultura e
das cidades”.
À frente das transformações contemporâneas, como um dos aspectos mais reveladores desta
nova etapa de desenvolvimento urbano e humano, houve uma completa alteração da dinâmica
social. Além de aumentar sensivelmente – em razão da queda da taxa de mortalidade,
melhoria da expectativa de vida entre outros fatores – a população passou a se movimentar
intensamente no território e em várias direções. De acordo com Moraes (2003: 241-242), as
migrações ocorriam naquela época, do campo para as cidades, ocasionadas pelo êxodo rural;
das pequenas para as grandes cidades, com o desenvolvimen
to do processo de urbanização; de
uma região para outra, sendo das mais pobres e rurais para as mais industrializadas; e
também, transoceanicamente, sobretudo para o continente americano devido ao barateamento
do transporte marítimo e em razão das precária
s condições de vida camponesa na Europa.
O homem moderno havia se tornado, “acima de tudo, um ser humano móvel”
(SENNETT,1997: 213) e, como não poderia deixar de ser, a alteração radical do conteúdo
social que passou a habitar as cidades se refletiu rapidamente no meio físico acarretando a
formação de novas unidades territoriais bem como a ocupação de áreas ociosas que viriam a
se tornar partes da cidade. Assim como o homem, as fronteiras urbanas também haviam
adquirido mobilidade. “A rapidez e o caráter
aberto das transformações que se desenvolveram
em poucos decênios não levaram a um novo equilíbrio estável mas deixaram prever outras
transformações cada vez mais profundas e mais rápidas” (BENÉVOLO, 2005: 552).
Entre muitos, dois movimentos principais de transformação territorial atuavam sobre a cidade
existente: um de adensamento e outro de expansão. Para Lefèbvre (2004: 26) algo descritível
como “implosão-explosão” da cidade, ou seja, uma “enorme concentração (de pessoas, de
atividades, de riquezas, de
coisas e de objetos, de instrumentos, de meios e de pensamento) na
realidade urbana, e a imensa explosão, a projeção de fragmentos múltiplos e disjuntos