Não voava, não nadava, nem andava de quatro patas. Pelo contrário,
erguia-se como o pescoço de uma girafa e parecia querer ser o rei dos
animais.
Decidiram vigiá-lo, não fosse ele perturbar o encanto daquele mundo.
Vigiaram dia e noite, noite e dia, sem interferir. E, ao longo dos
séculos, no correr dos milénios, não gostaram do que viram.
―Então que faz ele às árvores que eu ergui? ― interrogava-se o Sol.
―E que faz ele das águas que eu pus a correr? ― indignava-se a Lua.
De comum acordo combinaram assustá-lo. Mandaram fortes raios de
luz sobre a Terra, mas o animal protegeu-se em quantas sombras havia.
Mandaram trombas de água infindáveis, mas ele fechou-se no seu covil e
de lá não saiu enquanto os rios não voltaram ao normal.
E tudo o que Sol e Lua puderam fazer não foi suficiente para parar
aquela espécie, que ainda hoje habita um planeta chamado Terra e de
quem diz ser seu legítimo dono.
Vocês já ouviram falar dele?
Pois nunca esse bichinho reparou no trabalho do Sol, nem no labor da
Lua. Nem em quanto eles são apaixonados um pelo outro. Nem em
quanto eles querem bem a esse planeta perdido na imensidão do
Universo.
E é por tudo isto que vos contei, acreditem, que a Lua tem aquele ar
sempre tão triste, quando, nas noites em que está cheia, ela nos olha
sempre como num queixume.
E é também por causa disso que o Sol por vezes se esconde atrás de
nuvens sombrias: vai buscar conforto à Lua e lembrar-lhe, sim, que nunca
é de mais lembrar, o quanto ele é apaixonado por ela.
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