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muito rico, senhor de um país onde as casas eram de ouro e pedras preciosas, e que
cinco reis haviam de lhe beijar a mão, achando-se entre eles seu pai.
O monarca, zangadíssimo com a filha, declarou que se ela sonhasse outra vez
semelhante coisa, e tivesse coragem de lhe relatar outro sonho, assim tão soberbo,
mandaria matá-la.
As duas irmãs ficaram tristes, quando souberam do sonho de Amanda e foram
lhe pedir para não contar outro, que por ventura tivesse, no mesmo sentido, sendo nesse
caso preferível mentir.
– Papai disse que te mandaria matar. Ora, bem sabes que palavra de rei não volta
atrás. Por isso acho bom nada mais lhe narrares.
No dia seguinte a menina quis enganá-lo. Mas como não sabia mentir, chegou-se
para ele chorando muito, e lhe contou entre lágrimas, o sonho da véspera, que se
repetira naquela noite.
Marval enfureceu-se com a desobediência da filha, pensando, que ela estava
procedendo prositadamente. Mandou, pois, que os criados a levassem para uma floresta
distante, e a matassem; trazendo-lhe o dedo mindinho, como prova de sua morte.
As irmãs, tendo notícia da sentença, de joelhos, pediram ao rei que a perdoasse,
pois se Amanda havia contado o sonho, foi porque lho tinha sido ordenado; que elas
duas lhe haviam aconselhado não repetir a narração, mas, como era muito verdadeira,
não quis mentir, e confiara na bondade do pai para absolvê-la.
– Antes papai a mande presa para a torre dó castelo, opinou Rosa, sem poder
sair, senão uma vez por ano.
Continuando a suplicar o perdão da irmã, ou, pelo menos, a comutação da pena,
Rosa e Alice inventaram mil castigos. O rei, todavia, foi ínflexível; não revogou a
ordem, e as meninas saíram dali com o coração cheio de dor, pela próxima perda da
irmãzinha que tanto estimavam.
No outro dia, assim que rompeu a madrugada, a princesa Amanda partiu para a
Floresta Negra, toda de luto, com um véu preto, que lhe cobria completamente o rosto, a
ponto de torná-la desconhecida.
Ordenara-lhe Marval o uso desse véu, para que a corte ignorasse o fato, e não
começasse a propalar a sua maldade.
Os próprios criados de confiança, que foram designados para matar a princesa,
não sabiam quem era aquela moça toda de preto, com um véu tão espesso, que não
deixava ver sequer a sua fisionomia.
Antes de chegarem à Floresta Negra, os emissários reais encontraram uma
velhinha, uma mendiga, que todos os dias ia receber esmolas que Amanda lhe dava.
Essa velhinha, que era adivinha, ao ver passar aquela gente tão cedo, ainda de
madrugada, conheceu logo a princesa, e gritou:
– Adeus, princesa Amanda, minha benfeitora, filha do muito poderoso rei
Marval! Desejo-lhe muitas venturas. Vá depressa, que seu noivo está à sua espera!...
A moça, que ia muito triste, pensando na sua sorte desgraçada, mais triste ficou,
por se lembrar que a pobrezinha ia passar sem esmolas.
Não obstante não poder parar, nem um segundo, sob hipótese alguma, a
carruagem que ia, teve ela ainda tempo de atirar uma moedinha, que se achava acaso no
bolso do vestido.
A velha, compreendendo o bom coração da menina, exclamou:
– Deus nunca desampara os bons, princesa Amanda! Nossa Senhora há de
acompanhá-la e protegê-la!
Ora, entre os criados que haviam ido levar a princesa, para matá-la na Floresta
Negra, achava-se um, de nome João, já velho, que a tinha criado. Sabendo, pelas