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Inúmeros artigos e matérias têm sido escritos falando sobre a crise vivida
pelas revistas em quadrinhos
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que, para muitos pesquisadores, não estão
formando novos leitores
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. Os fatores são diversos, como os avanços de
tecnologias como a Internet, os RPGs, os videogames e o próprio cinema
(GONÇALO JUNIOR, 2005), cujos filmes baseados nas HQs têm despertado
propagandas maciças, muita expectativa por parte do público e, acima de tudo,
um grande lucro não só por conta de sua arrecadação milionária, mas com os
produtos lançados no mercado mundial. Para GUSMAN (2005), um dos grandes
estudiosos de quadrinhos no Brasil:
O público leitor destas publicações envelheceu e os novos leitores não estão sendo
seduzidos. A razão para isso é que, por mais que o público goste do filme, ache muito
bom, quando sai do cinema e vai comprar a revista do herói, ele não vê a mesma
história que está na tela...
Sidney Gusman aponta, ainda, que a crise não se limita ao universo dos
quadrinhos, mas ao mercado editorial como um todo. O custo elevado do papel e
das gráficas faz com que, cada vez mais, tenha-se menos acesso à leitura de
modo geral. Para ele, a imensa quantidade de revistas disponibilizadas nas
bancas é reflexo da própria crise:
...parece um tremendo paradoxo que hoje haja tantos títulos nas bancas. Mas a razão
disso é que as editoras estão optando por trabalhar com tiragens pequenas, para públicos
específicos e fiéis, ou seja, margens pequenas, porém, garantidas de lucro. Isso é
MUITO preocupante, porque, no primeiro momento, isso é viável financeiramente, mas,
por outro, abandona-se de vez a formação de novos leitores, que é o que garantirá a
continuação de nosso mercado no futuro. E, se isso acontecer, quadrinhos se tornarão
cada vez mais pequenos nichos... (GUSMAN, 2005).
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Já em 1997, Will Eisner apontava um queda brusca na leitura de HQs. Segundo ele, as lojas
especializadas em quadrinhos, apenas nos Estados Unidos, caíram de 4500 para 3000 em 7
anos. E a queda nas vendas chegava a 40% entre 1995 e 1997. Fonte: O SPIRIT QUE ANDA.
Isto É. Disponível em: <http://www.terra.com.br/istoe/cultura/146527.htm> Acesso em 30
jul.2005. (Entrevista concedida a Sidney Garambone).
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Uma exceção à crise é o êxito editorial dos mangá, quadrinhos japoneses que têm conquistado
um público crescente em todo o mundo. As razões da preferência dos mangá com relação aos
quadrinhos convencionais são várias. Entre elas, o fato de tais revistas serem como uma novela,
encerrando-se depois de algum tempo, e o trabalho com muitos aspectos emocionais dos
personagens. (GUSMAN, 2005). Acreditamos, entretanto, que os alunos das camadas populares
(que constituem maioria nas escolas públicas do país) não tenham o mesmo acesso aos
quadrinhos japoneses em função de seu custo elevado. É o que demonstra a pesquisa citada
anteriormente e apresentada na ANPED Sul, em 2004.