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pertencentes aos dois exércitos. Por Roma lutariam os irmãos Horácios, por Alba Longa os
Curiácios. Ao final de uma dramática batalha, Roma venceu, perdendo, entretanto dois dos
seus três lutadores (XXII - XXV). Porém, a festa da vitória foi interrompida por um
acontecimento inesperado:
O Horácio, trazendo os tríplices espólios diante de si, ia na frente. Sua irmã, uma
jovem, noiva de um dos Curiácios, foi ao encontro dele defronte à Porta Capena.
Tendo reconhecido sobre os ombros do irmão o manto militar que ela própria
confeccionara para o noivo, soltou os cabelos e aos prantos chamou pelo nome do
seu noivo morto. Os lamentos da irmã, em meio à sua própria vitória e à tamanha
alegria do povo, perturbaram o espírito do jovem feroz. Assim, desembainhada a
espada, traspassou a moça ao mesmo tempo em que a repreendia com estas palavras:
“vai-te daqui com o teu amor imaturo, vai para junto do teu noivo, tu, esquecida dos
teus irmãos mortos e do vivo, esquecida da tua pátria. E assim morra qualquer
romana que chorar o inimigo” (XXVI).
O ato do Horácio foi visto pelos senadores e pela plebe como um “crime atroz”. Como
era um crime inusitado, o réu foi levado ao rei para o julgamento. Tulo, por sua vez, institui
duúnviros para julgarem o crime. O jovem Horácio foi condenado, mas, apoiando-se no rei,
apelou da sentença.
A apelação foi discutida junto ao povo, os homens comoveram-se naquele
julgamento, sobretudo quando o pai, Públio Horácio, proclamou que julgava
merecida a morte da filha; se não fosse assim, ele já teria punido o filho com o
direito paterno. Depois, suplicou aos que pouco antes o tinham visto com uma
egrégia família que não o privassem desse filho. O velho, que entre tais palavras
abraçava o jovem e mostrava os espólios dos Curiácios fixados naquele lugar que
agora é chamado Coluna Horácia, disse: “Ó cidadãos, por acaso este que vós vistes
ainda há pouco marchando condecorado e aplaudido por sua vitória, podeis vê-lo
preso sob uma forca em meio a chicotes e instrumentos de tortura? Pois nem os
olhos dos albanos poderiam suportar uma visão tão degradante. Vai, lictor, amarra-
lhe as mãos, essas mãos que armadas, ainda há pouco, trouxeram o poder para o
povo romano. Vai, cobre a cabeça do libertador dessa cidade, pendura-o num
patíbulo, chicoteia-o dentro do pomerium, mas entre aqueles dardos e espólios dos
inimigos, ou então fora do pomerium, mas entre os sepulcros dos Curiácios. Para
onde podeis conduzir este jovem sem que as suas honras não o vinguem da tamanha
repugnância dessa pena?” (XXVI).
O jovem foi perdoado, tendo recebido apenas uma pena de purificação. A sua irmã foi
sepultada no mesmo local em que foi golpeada.
A Vestal Tarpéia queria um bracelete de ouro, a jovem Horácia se desesperou por ver
os despojos do seu amado. Seus crimes, embora tenham sido duramente condenados,
revelavam imaturidade, conforme disse o Horácio furioso ao executar a irmã. Porém, já
próximo ao final da monarquia, quando os sinais de decadência se evidenciam em Roma,