chegá ali tem que matá a vaca, dez cabeça, e ai convidaram com os
índio, e os índio pra participá, ali, pra bastante mesmo. E ali que ela
ta lembrando, que a mãe dela conto história pra ela, não tinha
abrido nesse lado ainda. Não tem ligação [...] É esse lado aqui, pra
Douradina e Panambí, Bocajá também, não tem aberto ainda, então
isso que ela tá lembrando. Ele veio derrubô a vaca, dez, aqui em
cima da barra do córrego Hum, depois, pra baixo lá na Douradina,
tem outro acampamento também, lá na Vila Vargas, derrubô dez
também. E aqui no Panambí também derrubô dez também, prá nóis
não passá fome. E ai diz que todo mês tá fazendo. Isso mandô o
governo, mandô Mariano Cândido Rondon, que fizeram assim,
mandô fazê nesse tipo, ai. Então a mãe dela que contô história pra
ela. Dizia que quando ficô abrentando [aberto] ali no telex,que
veio os índios que limpava, roçava e varia aonde que tá roçando, se
pudessem arrancá, ele arranca as árvore, se não pudesse só deixa
toco, só ai limpavam abriam, então desse tipo fizeram.”
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Os índios Kaiowa tinham assegurado, através de Rondon, o direito a permanecerem
em seu território. Confere-se isso através da entrevista de Naílton Aquino, da aldeia
Panambizinho:
“Então aqui o primeiro, o Marechal Rondon foi demarcado aqui,
entregô a aldeia mesmo. Então ai ajuntá e trabalhá aqui no BR
[163], assim que fala aí, óh!, até no Rio Brilhante. Foi 3.000
pessoa, trabalhando com machete e machado, e pra ganha essa terra
[...] Então, fizeram aquilo ali [BR 163], óh! pra ganhá essa terra,
Marechal Rondon assentaram aqui [...] Então assim ganha essa
terra aqui óh, e a divisa é a barra, ali Vila São Pedro que vem
aquele córrego ali, óh!. Daí é a barra e chega até esse [córrego]
Sardinha. Então essa aldeia entregô. Então fizeram isso aqui óh!, é
o tio meu [bi]avô que comandava aqui, dois capitão, que chamava
Antônio e Hilário [...] Mais antigo é 1900, é muito antiga.”
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Em carta enviada por Jorge Coutinho Aguirre, administrador da CAND, ao prefeito
de Dourados, na época, José Elias Moreira, logo após ter concluído os trabalhos de
implantação da CAND, observa-se que o seu relato confirma a presença de indígenas no
local, que vai ao encontro às informações colhidas anteriormente entre os Kaiowa de seus
trabalhos na derrubada do mato:
“De imediato nos propusemos, a fazer o primeiro trecho da estrada
que fazia ligação Dourados-Rio Brilhante, na distância de 60 km
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Entrevista de Dorícia Pedro (Panambi). Fita 17, tradução de Valdomiro Aquino. Dorícia é filha de Pa’i
Chiquito e esposa de Lauro Conciança. Tem 85 anos. Nos dias de trabalho de campo, afirmou que nesta
época era recém nascida e que essas histórias foram relatadas por sua mãe. Entrevista concedida a Kátia
Vietta para o Relatório final da Perícia na Área Indígena Panambizinho, Distrito de Panambi, Município de
Dourados, Estado de Mato Grosso do Sul. Em 21 de agosto de 1998, p. 26-27.
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Entrevista de Nailton Aquino. (Panambi). Fita 01, concedida a Kátia Vietta para o Relatório final da
Perícia na Área Indígena Panambizinho, Distrito de Panambi, Município de Dourados, Estado de Mato
Grosso do Sul. Em 04 de junho de 1998, p. 29.