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O filme de Charles Chaplin continua na ordem do dia. O
assunto tem provocado as maiores controvérsias, e o
próprio Carlitos não tem deixado passar uma ocasião sem
atirar um graveto na fogueira. O embaixador alemão
protesta, protesta o sr. Goebels, protesta o sr. Hitler, e
protesta o comediante também contra tanto protesto. A
intolerância de certos grupos políticos, diz Carlitos, torna
impossível o desenvolvimento das artes. Antes de aparecer
o sr. Hitler, eu já usava bigodes, e não acredito que suas
Tropas de Assalto me obrigarão a raspá-lo... Ah! Isto é que
não... Os protestos parece que nada adiantarão, diante da
formidável campanha anti-nazista que Hollywood vem
empreendendo com o apoio do governo americano. E dizem
que o cinema é pouca coisa nesse mundo...
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Os cineastas hollywoodianos pareciam empenhados em uma campanha
contrária à expansão nazista. Em 1939, Koutzii apontava
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Confissões de um
Espião Nazista como um alvo privilegiado de discussões. O governo argentino,
depois de proibir sua exibição, reconsiderava a ordem por determinação do
Congresso, cujos membros teriam assistido à película em sessão especial. No
Chile, o embaixador alemão ameaçou o país com represálias econômicas caso
o filme fosse exibido. O Poder Executivo não teve dúvidas em declarar ao
representante diplomático os princípios da Constituição chilena, onde a
democracia o impediria de lavrar o decreto proibitivo. Em uma de suas últimas
colaborações com a Revista do Globo, o crítico flertava com os admiradores de
Carlitos ao apontar que:
Carlito já tem pronto não somente o argumento do seu novo
filme “O Ditador” como também já escolheu os seus
principais colaboradores. Sabe-se, por exemplo, que
Paulette Godard, a sua esposa, ou ex-esposa, terá o papel
feminino principal. O seu famoso estúdio já foi inteiramente
adotado a essa sua nova criação que, ao que parece, vai
superar “Tempos Modernos”. Um repórter que visitou
recentemente o estúdio de Carlito, adiantou que a filmagem
até já foi começada, pois lá encontrou um local que
representa uma rua superatravancada de uma cidade
qualquer da Europa, onde se passa grande parte do filme.
Carlito trabalha em silêncio!... porque seus filmes são uma
bomba!
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MORAES, Plínio. O Ditador. Revista do Globo, Porto Alegre, nº. 255, p. 70, julho 1939.
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MORAES, Plínio. Hollywood X Nazismo. Revista do Globo, Porto Alegre, nº. 258, p. 70, agosto 1939.
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MORAES, Plínio. Para os admiradores de Carlito. Revista do Globo, Porto Alegre, nº. 260, p. 64,
setembro 1939.