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recursos muito reduzidos, tender-se-ia a obter um retorno muito pequeno com os
títulos escolares conquistados tão esforçadamente. Ainda que o bom desempenho
escolar desempenhe um papel na escolha da orientação dos estudos, para o autor
“o determinante principal do prosseguimento dos estudos seja a atitude da família a
respeito da escola, ela mesma função, como se viu, das esperanças objetivas de
êxito escolar encontradas em cada categoria social” (BOURDIEU, 1998, p. 50).
Isso significa, em suma, que o investimento no mercado escolar das classes
populares tenderia a gerar um retorno muito baixo e incerto. Diante dessas
circunstâncias, as aspirações desses grupos com relação à escola seriam
moderadas. As famílias esperariam que os filhos estudassem para manterem-se ou
elevarem-se ligeiramente em relação ao seu próprio nível socioeconômico. Nogueira
aponta também que a educação dos filhos se caracterizaria pelo liberalismo: “não
haveria uma cobrança intensiva em relação ao sucesso escolar dos filhos, e sua
vida escolar não seria acompanhada de modo muito sistemático, diferentemente de
outras categorias sociais, particularmente das camadas médias” (NOGUEIRA, 2004,
p. 73).
Contudo, se a relação das classes populares, ou seja, dos proletários com o
sistema de ensino já é marcada por tantos obstáculos, a relação dos subproletários
é ainda pior. Apesar de Bourdieu não se referir diretamente à vida escolar desta
classe, podemos realizar uma série de deduções a partir de seu estudo sobre os
subproletários argelinos em sua obra O Desencantamento do Mundo: estruturas
econômicas e estruturas temporais (1979). De acordo com ele,
As disposições econômicas e políticas não podem ser
compreendidas senão por referência à situação econômica e social
que estrutura toda a experiência pela mediação da apreensão
subjetiva do futuro objetivo e coletivo; essa apreensão depende em
sua forma, em sua modalidade e em seu conteúdo, das
potencialidades inscritas objetivamente na situação, isto é, do futuro
que se propõe a cada agente como sendo acessível, a título de
futuro objetivo da classe à qual ele pertence. Na Argélia, assim
como na maioria dos países em vias de desenvolvimento, a
delimitação mais nítida é a que separa dos trabalhadores
permanentes, manuais ou não manuais, a massa dos
desempregados e dos trabalhadores intermitentes, diaristas,
serventes ou pequenos comerciantes, outras tantas condições
intercambiáveis, que cabem muitas vezes sucessivamente ao
mesmo indivíduo. De fato, a cada uma das condições econômicas e
sociais corresponde um sistema de práticas e de disposições
organizado em torno da relação ao futuro que aí se acha implicado.