Refiro-me à pintura na sua expressão natural, desde as telas de
museu até os grandes murais. E, quanto à gravura não
considero o processo de simples reprodução de obras pintadas,
mas a gravura autônoma, a que é, em si mesmo criação. Então
se desenha o contraste das aparências numa e noutra arte, a
diferença de linguagens; a diversidade de efeitos sobre o
espectador.
Enquanto as telas, na amplidão de sua superfície, no vigor
de seu colorido, no brilho de sua matéria, no esplendor de sua
composição, deslumbram os que as vêem, já de longe, como se
falassem a grupos ou, talvez, a multidões, no simples relancear
dos olhos, curiosos e atraídos, pela magia da técnica pictórica,
— as gravuras escondem-se numa humildade discreta. En-
quanto as telas, destinadas a palácios e templos, convidam
cortesãos e fiéis ao culto dos poderosos ou das crenças,
conclamando, pelo efeito das vastas superfícies pintadas, à
contemplação, paradoxalmente imediata e ilimitada — as
gravuras não desfrutam desse poder de sedução, decorrente,
naquelas, da festa das cores aos olhos do público. Enquanto as
telas, dominadas pelo sentimento de beleza, procuram
corresponder aos temas nobres da mitologia, da religião, da
história, da aristocracia, do poder, ou aos motivos estáticos da
figura, da paisagem ou das flores, com que buscam deslumbrar
o espectador e conquistar o favor fácil dos amadores de arte —
as gravuras se permitem os mais diversos registros, na efetiva
modéstia de seus processos. Sim, a gravura é bem diferente!
Intima, reservada, reduzida a pranchas pequenas, permite toda
sorte de aproveitamento. Não oferece obstáculos materiais: a
placa