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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Área de Concentração: Gestão de Negócios
A MULHER EMPREENDEDORA NO SETOR
AGROPECUÁRIO: UM ESTUDO DE CASOS
Dissertação de Mestrado
KÁTIA DA SILVA TÓFFOLO
Londrina - Pr
2002
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KÁTIA DA SILVA TÓFFOLO
A MULHER EMPREENDEDORA NO SETOR
AGROPECUÁRIO: UM ESTUDO DE CASOS
Dissertação apresentada à Universidade
Estadual de Maringá e Universidade Estadual
de Londrina como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em
Administração com ênfase em Gestão de
Negócios, para a obtenção do título de Mestre.
Orientador:
Prof. Dr. Fernando Antonio Prado Gimenez
Londrina - Pr
2002
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FOLHA DE APROVAÇÃO
KÁTIA DA SILVA TÓFFOLO
A MULHER EMPREENDEDORA NO SETOR
AGROPECUÁRIO: UM ESTUDO DE CASOS
Dissertação aprovada como requisito para obtenção do grau de Mestre no Programa
de Pós-Graduação em Administração, Universidade Estadual de Maringá e
Universidade Estadual de Londrina, pela seguinte banca examinadora
_______________________________________
Prof. Dr. Fernando Antonio Prado Gimenez (UEM)
_______________________________________
Profª. Dr. Antonio Artur de Souza (UEM)
______________________________________
Profª. Drª. Hilka Pelizza Vier Machado (UEM)
Londrina, 27 de agosto de 2002.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que me
deu condições físicas e psicológicas para
estar em contínuo processo de aprendizado
e interação com as demais pessoas que
fizeram parte deste período de minha vida.
Minha família que colaborou para que eu
pudesse manter a tranqüilidade e equilíbrio
mesmo em períodos de turbulência.
Ao CNPq que ao me fornecer uma bolsa de
estudo, possibilitou com que houvesse
dedicação exclusivamente à elaboração
deste trabalho.
Meus Professores, cuja participação foi de
extrema importância e colaboração na
explicação de assuntos nunca analisados
anteriormente.
As Mulheres agropecuaristas que se
interessaram e se dispuseram a participar
do estudo, fornecendo informações valiosas
para análise e discussão dos casos.
Meus Amigos que buscaram entender
minha ausência e me receberam bem no
retorno.
Enfim à todos que fizeram com que este
estudo se concretizasse, colaborando com
motivação, apoio, coragem e amor:
FAÇO ESTA DEDICATÓRIA.
SUMÁRIO
ILUSTRAÇÕES ....................................................................................... III
LISTA DE TABELAS ................................................................................ III
LISTA DE QUADROS .............................................................................. IV
LISTA DE FIGURAS ................................................................................ VI
LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................. VII
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ................................................... VIII
RESUMO ................................................................................................. IX
ABSTRACT ............................................................................................. X
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 1
Problemática ........................................................................................... 3
Justificativa ............................................................................................... 7
Objetivos .................................................................................................. 9
Estrutura da dissertação .......................................................................... 9
2 EMPREENDEDORISMO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .................. 11
2.1 Empreendedorismo .................................................................................. 11
2.2 Representações Sociais e a mulher empreendedora ............................. 20
2.2.1 A mulher empreendedora ........................................................................ 27
2.2.2 A representação da mulher no meio rural enquanto empreendedora ..... 31
3. CONCEITUAÇÃO DAS DIMENSÕES EM ESTUDO .............................. 34
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................ 44
4.1 Natureza do estudo .................................................................................. 44
4.2 Objeto de estudo, amostra e coleta de dados ......................................... 45
4.3 Instrumento de pesquisa .......................................................................... 47
4.4 Modelo de análise .................................................................................... 48
5. A MULHER EMPREENDEDORA NO SETOR AGROPECUÁRIO: UM
ESTUDO DE CASOS .............................................................................. 55
5.1 Apresentação dos casos .......................................................................... 56
5.2 Origem ..................................................................................................... 58
5.3 Visão ........................................................................................................ 65
5.4 Conceito de si .......................................................................................... 71
5.5 O trabalho como empreendedora ............................................................ 75
5.6 Auto-avaliação ......................................................................................... 89
5.7 A empresa ................................................................................................ 112
CONCLUSÃO .......................................................................................... 138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 147
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................ 156
ANEXO 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA .................................................. 158
ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 : Distribuição de mulheres ocupadas – Brasil (1998-1999)........ 3
TABELA 2 : Distribuição de mulheres ocupadas, segundo ramos de
atividade – Brasil (1997-1999) ................................................. 4
TABELA 3 : Rendimento médio dos ocupados, por sexo, segundo setor
de atividade – Brasil (1995-1999) ............................................ 23
TABELA 4 : Rendimento médio dos ocupados, por sexo, segundo nível
de instrução .............................................................................. 24
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Economistas que se preocuparam em estudar o
empreendedorismo .................................................................. 14
QUADRO 2: Comportamentalistas que se preocuparam em estudar o
empreendedorismo .................................................................. 15
QUADRO 3: Características mais freqüentemente atribuídas aos
empreendedores de acordo com os comportamentalistas ...... 16
QUADRO 4: Invenções e conquistas do século XX ..................................... 17
QUADRO 5: Classificação de valores apresentadas por Rokeach .............. 36
QUADRO 6: Erros no processo de percepção das pessoas ........................ 38
QUADRO 7: Perfil das mulheres empreendedoras agropecuaristas ............ 56
QUADRO 8: Roteiro para análise da Origem da empreendedora
agropecuarista .........................................................................
58
QUADRO 9: Ocupação dos pais das mulheres agropecuaristas ................. 61
QUADRO 10: Ocupação anterior e atual das agropecuaristas ...................... 64
QUADRO 11: Roteiro para análise da Visão da empreendedora
agropecuarista ......................................................................... 65
QUADRO 12: Roteiro para análise do Conceito de Si da empreendedora
agropecuarista ......................................................................... 71
QUADRO 13: Características de personalidade na auto-avaliação das
empreendedoras agropecuaristas .............................................
73
QUADRO 14: Características de personalidade consideradas importantes
nos dias atuais ......................................................................... 73
QUADRO 15: Valores terminais das mulheres agropecuaristas .................... 74
QUADRO 16: Roteiro para análise do Trabalho como empreendedora na
empresa ................................................................................... 75
QUADRO 17: O trabalho na empresa das mulheres agropecuaristas ........... 76
QUADRO 18: Roteiro de análise para a auto-avaliação da mulher
agropecuarista ......................................................................... 90
QUADRO 19: A importância das relações externas e internas na percepção
das mulheres agropecuaristas ................................................. 92
QUADRO 20: Percepção de fracasso por parte das mulheres
agropecuaristas ................. 100
QUADRO 21: O significado da intuição para as mulheres agropecuaristas .... 106
QUADRO 22: Tipo de atividade desenvolvida pelas mulheres
agropecuaristas ........................................................................ 114
QUADRO 23: Quadro de colaboradores das propriedades das
agropecuaristas ........................................................................ 116
QUADRO 24: Potencialidades e fraquezas da empresa agropecuária .......... 120
QUADRO 25: Participação das mulheres empreendedoras agropecuaristas
em associações, cooperativas e sindicatos ............................. 125
QUADRO 26: O modo de produção e comercialização utilizado nas
propriedades das agropecuaristas ........................................... 126
QUADRO 27: Direcionamento de esforços nas propriedades das mulheres
agropecuaristas ........................................................................ 129
QUADRO 28: Metas nas empresas das agropecuaristas .............................. 132
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2: Modelo de auto-aprendizado apresentado por Dolabela ................. 40
FIGURA 3: Modelo de análise para o estudo de casos: mulher
empreendedora no setor agropecuário ............................................ 49
FIGURA 4: Modelo de análise para a dimensão Origem e Visão ....................... 50
FIGURA 5: Modelo de análise da dimensão Conceito de Si .............................. 51
FIGURA 6: Modelo de análise da dimensão Trabalho como empreendedora
........................................................................................................... 51
FIGURA 7: Modelo de análise da dimensão auto-avaliação ...................... 52
FIGURA 8: Modelo de análise da dimensão Empresa ............................... 53
FIGURA 1: Elementos de suporte do processo visionário .................................. 35
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1: Setor de participação das empreendedoras nos negócios ...... 5
GRÁFICO 2: Porte do negócio das empreendedoras ................................... 6
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CATIVA Cooperativa Agropecuária de Londrina Ltda
COAMO
Cooperativa Agropecuária Mouraoense Ltda
COFERCATU
Cooperativa Agropecuária dos Cafeicultores de Porecatu
Ltda
COROL
Cooperativa Agropecuária Rolândia Ltda
CONFEPAR
Confederação das Cooperativas Centrais Agropecuárias
do Paraná; Cooperativa Central Agro Industrial Ltda
DERAL
Departamento de Economia Rural
EMATER
Empresa Paranaense de Assistência Técnica Extensão
Rural
IAPAR
Instituto Agronômico do Paraná
NOVA
PRODUTIVA
Cooperativa Nova Produtiva – Santa Fé (PR)
SEAB
Secretaria de Agricultura e Abastecimento
VALCOOP
Cooperativa Agropecuária Vale do Tibagi Ltda
RESUMO
TÓFFOLO, Kátia da Silva. A Mulher Empreendedora no setor agropecuário: um
estudo de casos. Londrina (Pr): UEL, 2002.
(Dissertação – Mestrado em Administração de Empresas).*
Através deste estudo pretendeu-se analisar o comportamento de um grupo de
mulheres agropecuaristas identificando a postura adotada por elas na condução dos
negócios, seu modo de trabalho, suas origens e a empresa em si. Avaliou-se
também, a percepção tida em relação ao sucesso e sugestões dadas a quem deseja
iniciar um negócio. Por meio deste estudo foi possível traçar o perfil das mulheres
que estão engajadas neste tipo de atividade. As 10 mulheres analisadas fazem parte
de um grupo de 72 mulheres que se encontram associadas à Sociedade Rural do
Paraná, situada em Londrina (Pr) e que desempenham a atividade agropecuária na
própria ou em outra região e até mesmo em outro país. Como método de estudo foi
utilizado o qualitativo considerando que a pesquisadora estava interessada na
qualidade do que seria analisado e não na freqüência com que determinado
fenômeno acontecia. Desta forma, o instrumento adotado para coleta de dados foi
um questionário estruturado com questões abertas, onde as entrevistadas puderam
expor sua maneira de pensar e seu modo de atuação nos negócios. A análise
seguiu as três fases apresentadas por Ander-Egg (1978) apud MARCONI &
LAKATOS (1990), na qual se estabeleceu a unidade de análise, depois
determinou-se quais categorias seriam analisadas e por fim, selecionou-se uma
amostra do material em análise. Na análise buscou-se compreender a identidade da
mulher agropecuarista, tendo como base a(o): 1) Origem e Visão; 2) Conceito de si;
3) O trabalho como empreendedora; 4) Percepção; e 5) A empresa.
Palavras-chave: Mulher, Empreendedor, Agropecuarista.
* Orientador: Fernando Antonio Prado Gimenez - UEM
ABSTRACT
TÓFFOLO, Kátia da Silva. A mulher empreendedora no setor agropecuário: um
estudo de casos. Londrina (Pr): UEL, 2002.
(Dissertação – Mestrado em Administração de Empresas).*
This study intended to analyze the behavior of a group of female agropecuaristas
identifying the posture adopted by them in running their businesses, their work way,
their origins and the company. It was also evaluated, their perception about success
and suggestions given to those who wants to start a business. Through this study it
was possible to trace the women's profile that are engaged in this activity type. The
10 analyzed women are part of a group of 72 that are associated to the Rural Society
of Paraná, located in Londrina (Pr) and that carry out the agricultural activity in their
own or in another area and even in another country. The study method was
qualitative considering that the researcher was interested in the quality of what would
be analyzed and not in the frequency with that certain phenomenon happened. Thus,
the instrument adopted for collection of data was a structured questionnaire with
open questions, where the interviewees could expose their way of thinking and their
style of performance in the businesses. The analysis followed the three phases
presented by Ander-Egg (1978) apud MARCONI & LAKATOS (1990), in which the
unit of analysis was established, then it was determined which categories would be
analyzed and finally, a sample of the material was selected for analysis. The analysis
looked for to understanding the identity of the female agropecuarists, based on: 1)
Origin and Vision; 2) concept of self; 3) the work as entrepreneur; 4) perception; and
5) the company.
Key-Words: Woman, Entrepreuner, Agropecuarist.
* Adviser: Fernando Antonio Prado Gimenez - UEM
1. INTRODUÇÃO
Muitas são as pesquisas desenvolvidas no campo do
Empreendedorismo que enfocam um número pequeno de variáveis e possíveis
associações (McClelland,1987; Blais & Toulose, 1991; Cromie, 1994). Em
grande parte destas pesquisas o objetivo é identificar e analisar quais variáveis
têm contribuído para que inúmeras pessoas optem pela atitude
empreendedora. Nestes estudos sobre empreendedorismo a dimensão
comportamental vem sendo muito utilizada, pois através dela o comportamento
pode ser analisado sob três óticas: 1) Teoria dos traços e personalidade; 2)
Abordagens psicodinâmicas; e 3) Abordagens sócio-psicológicas (Machado,
2002).
Acredita-se que o empreendedor “é a personalidade criativa; sempre
lidando melhor com o desconhecido, perscrutando o futuro, transformando
possibilidades em probabilidades, caos em harmonia” (Gerber, 1996: 31). Nele
estão presentes características de comportamento como: iniciativa,
persistência, capacidade para assumir risco, exigência de qualidade e
eficiência, comprometimento com trabalho, além da tolerância à ambigüidade,
autonomia, insatisfação e desejo constante de melhorar padrões. Em muitos
casos, a influência exercida pela família e/ou conhecidos pode levar uma
pessoa a empreender (Machado, 2002: 14-17), ou seja, modelos de atuação
são seguidos para se atuar no mundo dos negócios.
Desta forma, o empreendedor é uma pessoa que necessita dirigir e
gerenciar os negócios de forma criativa e inovadora, valendo-se das inovações
tecnológicas pela qual a sociedade vem passando. Até pouco tempo, tinha-se a
idéia que procedimentos e atitudes padronizadas bastavam para o sucesso nos
negócios. Porém tal idéia encontra-se em processo de transformação, uma vez
que, as próprias condições nas quais as empresas são criadas atualmente são
muito diferentes que no passado. As transformações que estão acontecendo
em nosso meio, tanto em nível local quanto global, mostram um aumento do
número de pessoas que investem em um negócio próprio, ou de terceiros,
utilizando uma administração diferenciada e dinâmica.
2
E dentre este grupo de pessoas empreendedoras, está um número de
mulheres cuja participação vem aumentando consideravelmente nos últimos
anos. Segundo uma Pesquisa Nacional de Amostragem do IBGE, de 1995,
apurou-se que as mulheres correspondem a 20% do total de empregadores,
representando uma fatia de 534.437 mulheres empregadoras em todo o país
(Almeida, 1997). A análise do trabalho das mulheres tem apresentado que elas
possuem características próprias de gerenciamento, que talvez estão
possibilitando com que pouco a pouco ocupem lugares ocupados
exclusivamente por homens.
As experiências profissionais e pessoais contribuem muito para o
desenvolvimento dos empreendedores, porém é importante identificar outros
aspectos que influenciam na decisão pessoal de cada empreendedor ao optar
por uma categoria de negócio. Desta forma, o presente estudo busca no meio
social a resposta para esta nova tendência do mercado, que apresenta um
crescimento significativo de mulheres em cargos tidos anteriormente como
exclusivamente masculinos. Para alcançar seus objetivos, o estudo buscou
uma linha de análise histórica sobre a evolução do Empreendedorismo e da
figura do empreendedor além de abordar sobre a questão das representações
sociais.
A preocupação em estudar empreendedorismo e representação social
está em traçar uma correlação entre o papel que é desempenhado pela mulher
na sociedade, enquanto agente de mudança na estrutura organizacional e
cultural de um determinado grupo de indivíduos. Estudar a representação
social da mulher enquanto empreendedora permite que se identifique o onde, o
como, quando e o por quê de se atuar no espaço doméstico e no ambiente de
trabalho. Desta forma, o presente estudo faz uma análise histórica da vida de
cada mulher agropecuarista integrante desta amostra, buscando na maneira de
condução dos negócios de cada uma delas, fatores que condicionaram a
atuação enquanto empreendedora no setor agropecuário.
3
Problemática
Nas últimas duas décadas, o número de mulheres empreendedoras
aumentou consideravelmente em vários setores, ou seja, elas vêm pouco a
pouco conquistando espaços tidos como tradicionalmente masculinos. No
Brasil, a presença feminina está avançando rapidamente em diversos meios e
campos de atividades. Esta presença é notada não só na pesquisa científica,
administração empresarial, vida acadêmica, medicina, política, magistratura,
comunicação, cultura e artes, como em atividades profissionais, especialistas e
empreendedoras (O Estado de SP, 9/03/2001: A3). Na tabela 1 é possível
identificar as principais ocupações femininas no período 1998-1999.
Tabela 1: Distribuição de mulheres ocupadas,
Brasil 1998-1999 (em %)
Posição na ocupação no
trabalho principal
1998 1999
Empregados 45,1 43,9
Trabalhadores Domésticos 16,9 17,2
Conta própria 16,1 16,1
Empregadores 2,3 2,2
Não-remunerados 11,4 12,3
Trabalhadores na produção
para consumo próprio
8,0 8,2
Trabalhadores na construção
para próprio uso
0,1 0,1
Sem declaração 0,0 0,0
Fonte: IBGE,PNAD - Elaboração: DIEESE
Observe que ainda grande parte das mulheres tem como ocupação o
trabalho assalariado (43,9%) e doméstico (17,2%). Entretanto neste estudo
buscou-se trabalhar mais com a questão das mulheres empregadoras e
trabalhadoras por conta própria, tendo em vista que a abordagem adotada para
análise trabalha com o Empreendedorismo feminino, buscando identificar os
setores de atuação e o estilo de gerenciamento utilizado pela mulher em
4
quanto empreendedora. Na tabela 2 verifica-se a distribuição das mulheres nos
diferentes ramos de atuação.
Tabela 2: Distribuição de mulheres ocupadas, segundo ramo de atividade
Brasil 1997-1999. (em %)
Ramos de atividade 1997 1998 1999
Agrícola 20,2 19,3 20,4
Indústria de transformação 8,8 8,4 8,4
Indústria da construção 0,4 0,7 0,6
Outras atividades industriais 0,4 0,5 0,4
Comércio de mercadorias 13,2 13,7 13,5
Prestação de serviços 30,2 29,4 29,4
Serviços auxiliares da atividade econômica 3,2 3,3 3,3
Transporte e comunicação 0,9 1,0 0,9
Atividade social 17,2 18,1 17,4
Administração pública 3,9 3,9 3,9
Outras atividades maldefinidas ou não declaradas 1,7 1,7 1,7
Fonte: Adaptação dos dados do IBGE, PNAD. Elaboração: DIEESE.
Os setores onde há maior concentração de mulheres são: 1) prestação
de serviços (29,4%); 2) atividade agrícola (20,4%); 3) atividade social (17,4%);
e 4) comércio de mercadorias (13,5%), sendo que os maiores níveis de
participação da mulher nestes setores alocam-se na execução e no apoio ao
planejamento das atividades (Migliciano, 2001: B8).
De acordo com os dados do PNAD feito pelo IBGE em 1998, as
mulheres eram donas de 22,4% das empresas, contra 17% em 1991 (Souza,
2001). Sendo que a maior atuação se encontra localizada no comércio (53%),
serviços (32%) e indústria (15%), ou seja, setores cujas atividades se voltam
mais ao meio urbano que ao rural (gráfico 1) e são classificadas como de
pequeno porte (gráfico 2).
5
Gráfico 1: Setor de participação das empreendedoras nos negócios
15%
53%
32%
Indústria
Comércio
Serviços
Fonte: Sondagem feita pelo Sebrae com 1044 empresas em novembro de 2000. Revista
PEGN, ano XIII, n. 150, jul./2001, p. 23.
A atuação nestes setores tem atingido representação significativa graças
à postura adotada pelas mulheres em relação aos negócios, considerando que
elas: a) arriscam mais nos negócios; b) conseguem trocar facilmente de papéis,
de funções, de ramos e de produtos; c) obtêm maior harmonia no trabalho
realizado em equipe; d) organizam e mantêm as redes de contatos; e)
possuem vocação inata para administrar recursos escassos; f) planejam melhor
pelo fato de terem que se envolver com várias tarefas ao mesmo tempo; além
de g) estarem mais atentas às necessidades dos outros (Souza, 2001: 24). De
acordo com o gráfico 2, as empresas das empreendedoras na maioria dos
casos, correspondem à microempresa, considerando que os investimentos
iniciais e as cargas tributárias são mais baixos e os incentivos oferecidos pelo
governo são maiores.
6
Gráfico 2: Porte do negócio das empreendedoras
70%
30%
Microempresa
Pequena Empresa
Fonte: Sondagem feita pelo Sebrae com 1044 empresas em novembro de 2000. Revista
PEGN, ano XIII, n. 150, jul./2001, p. 23.
Além de várias pesquisas apresentadas por instituições ou órgãos
especializados no assunto, muitos autores se preocupam em abordar a
questão do empreendedorismo relacionado ao gênero. Contudo verifica-se que
grande parte deles ao abordar sobre o tema empreendedorismo busca analisar
mais o meio urbano do que rural. Tal fato tem acontecido de “forma natural no
contexto das grandes mudanças deste século e, se intensificarão no decorrer
dos próximos anos, quando um dos fatos mais importantes é a emergência da
mulher como profissional qualificada no mercado de trabalho” (Bastiani &
Rocha, 2000: 2). Poucos são os trabalhos que enfocam a mulher no meio rural
– Bastiani (1999), Bastiani & Rocha (2000), Apelqvist (2000), Cunha (1998),
Edris (1999), Lukkarinen (2000), Pinho (1999), Soares (1999) e Tamori (2000),
entre outros. Estes trabalhos freqüentemente têm focado a contribuição que as
mulheres vêm dando para o desenvolvimento de sua região ou país, buscando
estimular o potencial empreendedor em grupos de mulheres rurais vinculadas a
uma cooperativa agropecuária.
7
Ao se analisar a atividade agropecuária, constata-se que geralmente
ela está relacionada com a tradição familiar de vivência, onde os filhos
aprendem com os pais as tarefas, rotinas, modos de produção, estilo de vida e
padrões de conduta em família e perante a sociedade em geral (Machado et al,
2000). Desta forma, os indivíduos principalmente os homens da casa, não têm
muitas alternativas de investimentos disponíveis no mercado, ou seja, se vêm
obrigados a dar continuidade aos negócios que durante muito tempo se
encontram nas mãos da família Bastiani (1999). Diante deste fato, este estudo
levantou a questão da mulher empreendedora agropecuarista a fim de
compreender o processo pelo qual ela vem se inserindo neste tipo de atividade,
além de identificar o papel desempenhado por ela na propriedade e o modo
como conduz as atividades na propriedade.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração é que a
propriedade rural, em muitos casos, corresponde a uma empresa-familiar, e é a
que mais abriga mulheres no comando, considerando que a mulher raramente
precisa abdicar de quem ela é para seguir a vida profissional (Lodi, 2002).
Diante deste quadro, neste estudo buscou-se avaliar a capacitação da mulher
em relação ao setor agropecuário, bem como os fatores que vêm colaborando
para que atuem neste setor, o tipo de atividades que são desenvolvidas nas
propriedades e o modo como as atividades são conduzidas.
Justificativa
O Paraná é um estado localizado no Sul do Brasil, cujo número de
propriedades é de 425 mil propriedades rurais e que ocupam uma área de 16
milhões de hectares. Além disto é responsável por mais de 25% da produção
de grãos do país, sendo que deste percentual: 50% correspondem a trigo, 29%
a algodão, 27% a milho, 22% a soja e 20% a feijão. Assim como a agricultura,
a pecuária e a atividade florestal também são praticadas no Estado. De acordo
com o DERAL & SEAB (1999), a atividade de agronegócio conta com mais de
160 mil associados distribuídos entre as 70 cooperativas existentes na região e
geram 17 bilhões de reais, cerca de 34% do Produto Interno Bruto (apud
Barbosa, 2000: 158).
8
Em Londrina (Pr) está localizada a Sociedade Rural do Paraná, que é
responsável por estimular as atividades agropastoris no Estado e que em 1999
contava com a participação de 1123 associados, sendo que destes cerca de 72
são mulheres. Grande parte dos seus associados reside no próprio Estado nas
cidades de “Londrina (66%), Cornélio Procópio (3%), Maringá (1%) e Paranavaí
(0,5%)”. Com percentuais mais reduzidos aparecem outras 47 cidades de
outros Estados, dentre elas, “São Paulo (SP) - 2%, Presidente Prudente (SP) -
2%, Rio de Janeiro (RJ) - 0,5% e Eldorado (MS) - 0,5%” (Barbosa, 2000:
155-156).
Tendo em mãos estas informações buscou-se identificar, entre as
mulheres agropecuaristas associadas à Sociedade Rural do Paraná, as que
exerciam a função de gerenciamento ou administração da propriedade, a fim
de estudar e analisar sua história de vida e apresentar os conceitos a respeito
do próprio trabalho como empreendedora, assim como, o modo que conduzem
o negócio. Considerando a não existência de trabalhos nesta área junto às
mulheres agropecuaristas, o presente estudo justifica-se como mecanismo
para apresentar as características e visão das mulheres deste setor,
possibilitando que as informações obtidas sejam cruzadas e comparadas com
pesquisas realizadas em outros setores da Economia. Desta forma, será
possível analisar a representação da mulher enquanto empreendedora,
traçando um quadro comparativo entre as características e diferenças
peculiares entre as mulheres empreendedoras deste setor com as de outras
áreas de atuação.
9
Objetivos
O objetivo geral deste estudo foi identificar, descrever e analisar os
fatores que influenciaram as mulheres agropecuaristas selecionadas para o
trabalho, a exercer a atividade empreendedora no setor agropecuário, além de
compreender a postura adotada na condução dos negócios.
Para isto, se pretendeu atingir os seguintes objetivos específicos:
a) Descrever a história de vida de cada empreendedora;
b) Identificar fatores pessoais, sociológicos, experiência de vida e
profissional que contribuíram para que a mulher exercesse atividade
no setor agropecuário;
c) Avaliar a percepção destas mulheres quanto aos fatores
organizacionais (equipe de trabalho, estratégia, estrutura, cultura,
produto,...) e ambiente de trabalho (propriedade agropecuária).
Estrutura da dissertação
O presente estudo vem buscar no meio social a resposta para esta nova
tendência do mercado, que apresenta um crescimento significativo de mulheres
em cargos tidos anteriormente como de ocupação exclusiva masculina. Para
alcançar seus objetivos, a dissertação encontra-se estruturada em 5 capítulos.
No primeiro capítulo encontra-se a introdução, a fim de que o leitor tenha noção
do que é trabalhado no material. No segundo capítulo, a abordagem volta-se
ao estudo do Empreendedorismo, buscando, por intermédio da evolução
histórica, compreender tal fenômeno e a figura do empreendedor enquanto
agente de mudança e transformação da sociedade. O comportamento das
mulheres em estudo é analisado como uma das várias representações sociais
assumidas pela mulher, baseando-se nas atitudes empreendedoras e no modo
pelos quais dirigem as empresas rurais.
10
No terceiro capítulo são apresentadas as conceituações das dimensões
escolhidas para trabalho. No capítulo 4 são apresentados os procedimentos
metodológicos adotados no decorrer do estudo de forma que fossem
destacados a natureza do estudo, o objeto de estudo, a amostra, a coleta de
dados, o instrumento de pesquisa, o modelo de análise e o modo como os
dados foram tratados. No capítulo 5 inicialmente é apresentada a
caracterização dos 10 casos e em seguida, busca-se detalhar as 5 dimensões
escolhidas para o estudo: 1) visão; 2) conceito de si; 3) o trabalho como
empreendedora; 4) a auto-avaliação em relação à conceitos como liderança,
criatividade, intuição, entre outros; e 5) a empresa em si.
Finalmente, na conclusão buscou-se traçar o perfil de comportamento e
atuação adotado pelas mulheres agropecuaristas entrevistadas, além de
destacar alguns pontos que não foram alcançados pelo estudo e possíveis
contribuições que novos trabalhos dentro desta área possam dar não só em
âmbito regional, mas estadual e nacional, a fim de identificar quem são
realmente as mulheres que estão atuando no mundo agropecuarista.
11
2. EMPREENDEDORISMO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Neste capítulo será abordada a questão do Empreendedorismo,
buscando compreender o processo histórico de inserção deste conceito na
sociedade e a questão da figura do empreendedor. Além disto buscar-se-á
apresentar as representações sociais, considerando que os indivíduos em
grande parte de suas vidas se encontram em contínuo processo de
representatividade tendo em vista que fazem parte de uma sociedade, onde
predominam regras, valores e culturas que exigem que certos padrões de
comportamento sejam adotados. Desta forma, neste capítulo a questão do
Empreendedorismo é correlacionada com as Representações Sociais, a fim de
compreender a representação feminina enquanto trabalhadora e
empreendedora nos diversos setores da Economia e em particular no meio
agropecuário.
2.1 Empreendedorismo
A abordagem do Empreendedorismo tem grande importância para este
estudo considerando que, por intermédio dela é possível identificar a figura do
empreendedor, ou seja, o sujeito da ação empreendedora, sujeito este
constituído de habilidades e características que contribuem para que se
destaque em relação a outros indivíduos que se aventuram na atividade
empreendedora.
A retrospectiva histórica cria condições para que se faça uma análise da
utilização do termo tendo como base o momento histórico em que ele surge.
Desta forma, o empreendedor do século XII terá atribuições bem diferentes do
empreendedor do século XXI, ou seja, as transformações pelas quais a
sociedade vem passando, exigem que a própria conceituação do que venha
ser o empreendedor sofra alterações também (tendo em vista que é necessário
acompanhar os avanços tecnológicos cada vez mais freqüentes).
12
Levando-se em consideração que o empreendedorismo não é tema
recente, é válido identificar qual o significado do termo, uma vez que existe
certa confusão a respeito do seu verdadeiro significado. Dolabela (1999a: 43)
apresenta que, empreendedorismo “é um neologismo derivado da livre
tradução da palavra entrepreneurship”, geralmente utilizada para designar os
estudos referentes à figura do empreendedor, seu perfil, origens, sistema de
atividades e o seu universo de atuação. Além disto, se envolve com a área de
criação de empresas, trabalhando com outros temas como: a) geração do auto-
emprego (trabalhador autônomo); b) empreendedorismo comunitário (como as
comunidades empreendem); c) intra-empreendedorismo (o empregado
empreendedor); d) políticas públicas (políticas governamentais para o setor)
(Dolabela, 1999b: 29).
É importante ressaltar que, assim como outros termos utilizados na
literatura, o empreendedorismo também apresenta uma linha histórica de
desenvolvimento, ou seja, suas atribuições foram se alterando de acordo com
as transformações sofridas no mundo como um todo. Quando se aborda
empreendedorismo é muito difícil não relacioná-lo à figura do empreendedor,
considerando que o termo isoladamente se apresenta vago, sem a devida
importância. O termo em si não cria ou realiza nada, na verdade o
empreendedor é o sujeito do processo de transformação e desenvolvimento
social no decorrer da história.
Greatti & Senhorini (2000: 22) comentam que o empreendedor do século
XII era tido como uma “pessoa que incentivava brigas”. No início do século XVI,
a palavra empreendedor era utilizada para designar “os homens envolvidos na
coordenação de operações militares” (Blatt & Okamoto, 2000) ou, segundo
Hisrish, o indivíduo que assumia riscos e tinha disposição para criar algo novo
(apud Dornelas, 2001: 27). O primeiro uso do termo Empreendedorismo foi
creditado a Marco Polo, que tentou estabelecer uma rota para o Oriente e,
como empreendedor, assinou um contrato com um homem que possuía muito
dinheiro (hoje mais conhecido como capitalista) para vender as mercadorias
deste. O capitalista, nesta época, assumia os riscos de forma passiva, ao
13
passo que o empreendedor assumia papel ativo, correndo todos os riscos
inerentes da atividade (Dornelas, 2001).
Na Idade Média, o termo empreendedor foi utilizado para definir aquele
que gerenciava grandes projetos de produção. Esse indivíduo não assumia
grandes riscos, apenas gerenciava os projetos, e utilizava-se de recursos
disponíveis e oriundos freqüentemente do governo do país (Dornelas, 2001:
27). Será que realmente nesta época este indivíduo era um empreendedor, ou
era apenas um mero instrumento utilizado pelo governo para conduzir seus
projetos? – ou seja, o gerente que gere ou administra negócios (Dicionário
Brasileiro Edelbra, 2000).
No século XVII, o empreendedor era considerado como uma pessoa que
criava e dirigia um empreendimento, portanto, os empreendedores eram as
pessoas inovadoras, que corriam riscos em busca de oportunidades de
obtenção de lucros (Greatti & Senhorini, 2000: 22). Vários pesquisadores,
dentre eles Blatt & Okamoto (2000), Dornelas (2001), Filion (1999a; 2000),
Lima et al (2000) e outros, atribuem a Richard Cantillon (1697-1734) o
pioneirismo no campo do empreendedorismo, entretanto Say e Schumpeter
também se preocuparam em analisar a questão do empreendedorismo.
Assim como Cantillon buscou diferenciar o empreendedor (aquele que
assumia riscos) do capitalista (aquele que fornecia capital) (Dornelas, 2001:
28), Say também trabalhou com a distinção entre o empreendedor e o
capitalista, bem como entre os lucros de cada um deles. Entretanto observa-se
que tanto Cantillon como Say acreditavam que “os empreendedores eram
pessoas que aproveitavam as oportunidades com perspectiva de obterem
lucros, assumindo os riscos inerentes” (Filion, 1999a).
Um outro economista – Schumpeter, associou o empreendedorismo à
inovação e apresentou sua verdadeira importância para o desenvolvimento
econômico (Filion, 1999a). Para Schumpeter o termo entrepreneur
relacionava-se com alguém que fazia novas combinações de elementos,
introduzindo novos produtos ou processos, identificando novos mercados de
14
exportação ou fontes de suprimento, criando novos tipos de organização (Blatt
& Okamoto, 2000). Tal definição, segundo Oliveira (1995), é a que parece
melhor se aplicar ao termo, apesar das poucas variações existentes.
Outros pesquisadores também se preocuparam em estudar o fênomeno
do empreendedorismo, dentre eles, outros economistas (quadro 1) e os
comportamentalistas (psicólogos, psicanalistas, sociólogos e outros
especialistas do comportamento humano) – (quadro 2).
Quadro 1: Economistas que se preocuparam em estudar o
empreendedorismo
Baumol (1968; 1993)
Broehl (1978)
Buchanan & Di Pierro (1980)
Casson (1982)
Clark (1899)
Ely & Hess (1893)
Hayek (1937; 1959)
Higgins (1959)
Hoselitz (1952; 1968)
Innis (1930; 1956)
Kihlstrom & Laffont (1979)
Kent, Sexton & Vesper (1982)
Kirzner (1976; 1983)
Knight (1921)
Leff (1978; 1979)
Leibenstein (1968; 1978; 1979)
Mill (1848)
Penrose (1959)
Oxenfelt (1943)
Schloss (1968)
Smith (1776)
Fonte: Adaptado de FILION (1999a, p.5-28).
Porém a recusa, por parte dos economistas, em aceitar modelos
não-quantificáveis, apresentava limitações para desenvolver adequadamente
os conhecimentos na área e, no século XX, o foco para compreender os
fenômenos relacionados ao empreendedor voltou-se para os aspectos da
criatividade e intuição. Desta forma, abriu-se espaço para que “psicólogos,
psicanalistas, sociólogos e outros estudiosos do comportamento humano
analisassem o empreendedor não como fenômeno, mas como indivíduo dotado
de capacidades e habilidades específicas” (Lima et al: 2000).
15
Quadro 2: Comportamentalistas que se preocuparam em estudar o
empreendedorismo
Fonte: Adaptado de FILION (1999a, p.5-28).
A preocupação por parte dos comportamentalistas era definir o que são
os empreendedores e quais suas características. “Um número significativo de
pesquisas foi realizado a partir da década de 50, com enfoques diversos
1
, para
dar caráter de cientificidade a um perfil mais ou menos homogêneo do
empreendedor” (Lima et al, 2000). Dentre estas pesquisas a mais importante é
atribuída a McClelland, que “mostrava que as pessoas que seguem carreiras
semelhantes à de empreendedores têm uma necessidade de realização social
além de gostarem de correr risco, fato que as levam a despenderem maiores
esforços” (Greatti & Senhorini, 2000: 22-23). Apesar do resultado das inúmeras
pesquisas terem “sido surpreendentes, não foi possível traçar um perfil
psicológico do empreendedor” (Filion, 2000). Na verdade o que se obteve foi
1
Qualidades empreendedoras que devem ser destacadas em uma pessoa para que obtenha
êxito como empreendedor; a personalidade empreendedora; as diferenças no estilo de
empreender e de gestão associadas ao gênero; as diferenças de comportamento associadas
com atividades empreendedoras em diferentes estágios do ciclo de vida; associação de
características pessoais, valores, estilos administrativos, características organizacionais para
iniciar o negócio; e a existência da relação entre tipo de personalidade executiva e
comportamento estratégico (Gimenez et al, 2000).
Bannock (1981)
Brockhaus (1982)
Burdeau (1979)
Chell (1985)
Collins & Moore (1970)
Collins, Moore & Unwalla (1964)
David C. McClelland (1961;
1971)
Durand (1975)
Durand & Shea (1974)
Du Toit (1980)
Ellis (1983)
Eysenk (1967)
Filion (1988; 1990; 1991; 1999)
Gasse (1978; 1982)
Gibb & Ritchie (1983)
Gunder (1969)
Hornaday (1982)
Hull, Bosley & Udeel (1980)
Hundall (1971)
Kennedy (1988)
Kets de Vries (1985)
Kunkel (1965)
Lynn (1969)
Lorrain & Dussault (1988)
Marx (1844; 1848)
Max Weber (1930)
McGuire (1964; 1976)
Meredith, Nelson & Neck
(1982)
Neck (1971)
Newman (1981)
Patel (1975)
Rosenberg & Birdzell (1986)
Rotter (1966)
Scase & Goffee (1980)
Schrage (1965)
Sing (1970)
Sing, N. & Sing, K. (1972)
Stanworth & Curran (1973)
Tawney (1947)
Timmons (1971; 1973;
1978)
Toulouse (1979)
Toulouse & Brenner (1992)
Toynbee (1976)
Vachet (1988)
16
uma listagem com inúmeras características mais comuns atribuídas aos
empreendedores (quadro 3).
Quadro 3: Características mais freqüentemente atribuídas aos
empreendedores pelos comportamentalistas
Inovação
Liderança
Riscos
Moderados
Independência
Criatividade
Energia
Tenacidade
Originalidade
Otimismo
Orientação para
resultados
Flexibilidade
Habilidade para
conduzir situações
Necessidade de
realização
Autoconsciência
Autoconfiança
Envolvimento a longo
prazo
Tolerância à ambigüidade e à
incerteza
Iniciativa
Capacidade de
aprendizagem
Habilidade na utilização de
recursos
Sensibilidade a outros
Agressividade
Tendência a confiar nas
pessoas
Dinheiro como medida de
desempenho
Fonte: Hornaday (1982); Meredith, Nelson & Neck (1982); Timmons (1978) (apud FILION,
1999a).
No final do século XIX e início do século XX, os empreendedores foram
confundidos com gerentes ou administradores, considerando que organizavam
a empresa, pagavam os empregados, planejavam, dirigiam e controlavam as
ações desenvolvidas na organização (Dornelas, 2001: 28-31). Durante muitos
séculos houve a preocupação em se estudar o empreendedor, contudo ainda
hoje prevalece a discordância sobre a conceituação do termo empreendedor.
Geralmente quando se busca na literatura adotar uma definição para utilização
não é raro ter opção de escolha. O grande número de estudos realizados é
reflexo da problemática em se explicar o termo empreendedorismo/
empreendedor.
Desta forma, muitos estudiosos se preocuparam e se preocupam em
trabalhar com o termo empreendedorismo, relacionando-o a outras variáveis, a
fim de contribuir para a explicação de tal conceito. Mas, qual a importância de
se conceituar e/ou definir os termos? Na verdade, tais conceitos “são pontos de
17
partida dos pesquisadores para os estudos das condições que levam o
empreendedor ao sucesso. É através desse entendimento que é possível
ensinar alguém a ser empreendedor. Por isso, o estudo do perfil de
empreendedores é o tema central das pesquisas e tem sido de grande valia
para a educação na área” (Dolabela, 1999b: 29).
Cada vez mais, principalmente com o avanço tecnológico (quadro 4), os
empreendedores têm sido forçados a acompanhar as exigências do mercado, a
fim de que estejam preparados para atuar como agentes de transformação e
inovação.
Quadro 4: Invenções e conquistas do século XX
1903: Avião motorizado
1915: Teoria geral da relatividade de Enstein
1923: Aparelho televisor
1928: Penicilina
1937: Nylon
1943: Computador
1945: Bomba Atômica
1947: Descoberta da estrutura do DNA abre caminho
para a engenharia genética
1957: Sputnik, o primeiro satélite
1958: Laser
1961: O homem vai ao espaço
1967: Transplante de coração
1969: O homem chega à Lua;
Início da Internet, Boeing 747
1970: Microprocessador
1989: World Wide Web
1993: Clonagem de embriões humanos
1997: Primeiro animal clonado: ovelha Dolly
2000: Seqüenciamento do genoma humano
Fonte: Dornelas (2001: 20).
Mas, quem são estes indivíduos ou equipes de trabalho? Huxley acredita
que este indivíduo, ou seja, o empreendedor “é a personalidade criativa;
sempre lidando melhor com o desconhecido, perscrutando o futuro,
transformando possibilidades em probabilidades, caos em harmonia(apud
Degen, 1989). Quando se aborda a figura do empreendedor deve-se pensar
nele como um dos papéis assumidos pelo indivíduo na condução dos negócios
(Gerber, 1996), relacioná-lo com o meio no qual está inserido (Filion, 2000) e
por fim considerar que a forma de trabalhar de quem é empreendedor é o
reflexo de si próprio e do meio em que vive (Souza, 1998). Portanto, neste
estudo o empreendedor é uma pessoa, homem ou mulher, que busca dirigir e
18
gerenciar os negócios de forma inovadora e criativa, tendo como base as
inovações tecnológicas pelas quais a sociedade vem passando.
Apesar das inúmeras pesquisas que são realizadas na área do
Empreendedorismo verifica-se que não existe concordância a respeito do que
venha a ser o empreendedor, entretanto Filion considera que o empreendedor
geralmente desenvolve maneiras de ser e de fazer as coisas que se diferem
daquilo que é o padrão da sociedade (apud Dolabela, 2000). Freqüentemente o
empreendedor consegue desenvolver formas de saber ser e saber fazer
diferentes daquelas que são modelos de sucesso veiculados na maior parte
das sociedades, mas os seus modelos de aprendizagem, de saber aprender e
de vir a ser manifestam-se de maneira variada.
Gerber (1996: 21), nos força a imaginar o típico empreendedor como
alguém que tem ou revela força extraordinária, ou seja, “um homem ou mulher
enfrentando, sozinhos os elementos hostis, lutando corajosamente contra
obstáculos quase invencíveis, escalando faces de ameaçadores penhascos –
tudo apenas para realizar o sonho de criar o seu próprio negócio”. Mas será
que esta afirmação consegue realmente resumir a figura do empreendedor?
Será que o empreendedor não é muito mais que isto, uma vez que o meio onde
atua e vive se encontra em contínuo processo de transformação?
Em qualquer estudo sobre o empreeendedorismo encontra-se pelo
menos os seguintes aspectos referentes ao empreendedor: 1) iniciativa para
criar um novo negócio e paixão pelo que faz; 2) utilização de recursos
disponíveis de forma criativa transformando o ambiente social e econômico
onde vive; e 3) aceitação em assumir os riscos e a possibilidade de fracassar
(Dornelas, 2001). A figura do empreendedor pode ser considerada como um
dos papéis que o indivíduo assume diante de determinada circunstância. Tal
papel normalmente é assumido quando o indivíduo percebe, no meio em que
vive, fatores externos, ambientais, sociais e até mesmo, aptidões pessoais que
possibilitarão com que inicie um negócio. Muitas pessoas fazem com que este
momento prevaleça durante toda a sua atuação nos negócios, entretanto
existem pessoas que só têm entusiasmo no momento em que iniciam e com o
19
passar dos anos vão perdendo o interesse pelo que fazem e esquecem-se de
manter viva a chama que as conduzem no caminho do empreendedorismo. E
como manter viva esta chama do empreendedor?
O primeiro passo é buscar atuar com base nas atitudes positivas, pois
elas fazem com que o exercício do trabalho se torne mais estimulante e
interessante. O resultado de um trabalho bem feito não só irá satisfazer o
empreendedor, como também a equipe de trabalho que se encontra a sua volta
e os indivíduos que fazem uso do produto ou serviço oferecido pela
organização. O segredo é trabalhar com ânimo, coragem, experiência e
perseverança a fim de que se obtenha êxito no empreendimento.
O empreendedor é uma pessoa qualquer, ou seja, sem distinção de
sexo, origem, crença e costume, mas uma pessoa que sabe assumir seu papel
por inteiro e que tem capacidade de descobrir e avaliar oportunidades de
negócios, reunindo desta forma recursos necessários para aproveitá-los e
trabalhando de forma adequada para que obtenha êxito em suas atividades,
não importando qual a área que se dispôs a atuar (Souza, 1998). Onde estão
estes empreendedores? É uma atividade exclusiva do mundo dos negócios?
Freqüentemente o empreendedor está mais relacionado com a área de
negócios considerando que este é o campo de estudo do empreendedorismo,
cujo tema volta-se ao estudo de “pessoas que inovaram sem temer riscos, que
buscam o próprio espaço e não fogem do compromisso de melhorá-lo”
(Dolabela, 2000). Apesar dos estudos e pesquisas estarem direcionados para
esta área de estudo, é importante estimular o desempenho deste papel não só
na área de negócios, mas em todos os ramos de atividade humana como as
artes, o esporte, a política, a música, entre outras (Blatt & Okamoto, 2000), a
fim de que cada vez mais existam pessoas que busquem realizar feitos que
agreguem valor não só econômico como cultural, à sociedade, contribuindo
para o desenvolvimento do indivíduo e do meio a que pertencem. Entretanto,
para que isto ocorra, deve-se, em primeiro lugar, compreender as relações
mantidas pelo indivíduo com a sociedade, para que depois o estimule a atuar
20
enquanto agente de transformação e inovação no ramo de atividade em que se
encontra alocado.
2.2 Representações Sociais e a mulher empreendedora
Abordar a questão do empreendedorismo feminino no meio rural
associando-o com representações sociais permite que se analise a postura e a
conduta assumida pela mulher na sociedade da qual faz parte. A
representação social da mulher enquanto empreendedora agropecuarista é
objeto de estudo, inicialmente por se tratar de um setor de atividade
considerado por muito tempo como de domínio exclusivamente masculino, no
qual as mulheres se encontravam na retaguarda, auxiliando seus familiares
(pai, marido) ou atuando como trabalhadora rural.
Entretanto, o que se vem notando é que existe um número crescente de
mulheres atuando neste setor, não só como trabalhadoras, mas como
proprietárias e empreendedoras. Tal atuação abre espaço para que
pesquisadores busquem analisar como a mulher tem trabalhado com sua
representação social e qual a importância que é dada a este papel, enquanto
agente responsável pela geração de novos negócios e empregos na
sociedade.
A Teoria das Representações Sociais nasceu e cresceu buscando
explicar certas contradições e dilemas existentes no meio social. Uma das
principais contradições diz respeito a relação indivíduo-sociedade, ou seja, o
modo como este tipo de relação se constrói e se mantém (Jovchelovitch, 1995:
63). Na verdade as representações sociais expressam a realidade, explicando-
a, justificando-a e até mesmo questionando-a (Minayo, 1995: 89), a fim de
identificar como determinados fatores a influenciam.
Três grandes autores clássicos (Durkheim, Marx e Weber) abordam o
conceito de representações sociais, cada um expressando uma corrente de
pensamento. Para Durkheim, as representações sociais são expressas como
21
“categorias de pensamento através das quais determinada sociedade elabora e
expressa sua realidade”, ou seja, elas correspondem a fenômenos reais que
possuem propriedades e comportamento específico baseando-se na realidade
social da qual se originam (apud Minayo, 1995: 90).
Em Weber, as representações sociais são apresentadas como juízos de
valor que os indivíduos dotados de vontade possuem. Enquanto Weber utiliza-
se dos termos: idéias, espírito, concepção e mentalidade como sinônimos para
expressar a visão do mundo que as pessoas possuem, Marx adota-se a
categoria consciência para explicar as representações sociais, considerando
que “as idéias, os dogmas, as ilusões são produzidos e reproduzidos” pela
consciência humana (Minayo, 1995: 97).
Analisando a caracterização de cada autor clássico é possível afirmar
que as representações sociais demonstram um retrato da realidade, onde os
indivíduos são atores permanentes e responsáveis pelas transformações que
ocorrem na sociedade. Tal afirmação justifica as funções essenciais
apresentadas por Abric (1994) em relação às representações sociais: a) função
de saber – compreensão e explicação da realidade; b) função identitária –
posicionamento dos indivíduos e grupos no campo social; c) função de
orientação – orientação do comportamento e práticas; e d) função justificadora
– justificam as tomadas de posição e os comportamentos.
Assim como as funções apresentadas anteriormente, verifica-se a
importância do indivíduo no processo de representação social, que consciente
ou inconscientemente através de suas atitudes, sentimentos e condutas,
influencia o meio. Doise argumenta que as representações sociais expressam
a subjetividade individual a partir do momento em que são entendidas como
“princípios geradores de tomadas de posição ligadas a inserções específicas
num conjunto de relações sociais” (apud Craemer et al, 2001: 50). Tais
representações são traduzidas na comunicação e nas práticas sociais, é
através da linguagem que o indivíduo poderá exercer certa intervenção nas
relações de poder e nas restrições impostas pela situação podendo mudar todo
um comportamento social pré-estabelecido.
22
A participação crescente de mulheres brasileiras no mercado de trabalho
é uma das mudanças sociais mais notáveis no país desde os anos 60. Com ela
padrões e valores relacionados ao papel social da mulher têm passado por
mudanças, ou seja, reformulação de conceitos e atribuições tradicionalmente
instituídos pela sociedade. O trabalho feminino permite que a mulher: 1) possa
alcançar sua independência econômica, além de contribuir no orçamento
familiar; 2) complemente a renda familiar; e 3) aumente suas expectativas de
consumo (Rossini, 2002).
Desta forma, entender a representação social da mulher possibilitará
que se avalie como esta inserção no mercado vem se processando, tanto em
relação ao trabalho assalariado ou empreendedor no meio rural ou urbano. As
representações coletivas trarão à tona como o grupo se avalia nas relações
com objetos que o afetam, ou seja, quais fatores ou aspectos traduzem suas
expectativas e valores sociais dentro do setor no qual estão inseridos.
Graças a uma revolução que ocorreu no recém-terminado século 20 foi
possível que a situação e o papel da mulher na sociedade fossem reavaliados.
Entretanto, esta transformação ocorreu em parte devido a uma luta
reivindicatória semelhante à empreendida pelas minorias sociais e como
conseqüência de todos os avanços do conhecimento humano. Mesmo com a
reavaliação do papel da mulher na sociedade, é importante frisar que muitas
das injustas diferenças de tratamento entre homem e mulher, principalmente a
remuneração do trabalho, ainda não foram superadas (Tabela 3) .
23
Tabela 3: Rendimento Médio (1) dos Ocupados, por sexo, segundo
setor de atividade
Brasil 1995-1999 (em reais)
Setor de
1995 1999
Atividade
Total (2) Mulheres Homens Total (2) Mulheres Homens
Agrícola
176,50 44,16 218,36 162,88 48,03 199,73
Industria de Transformação
622,20 381,01 712,20 538,74 358,77 613,26
Construção Civil
472,70 691,78 468,39 393,18 330,58 395,57
Outras Indústrias
732,23 545,90 769,85 718,08 589,65 742,57
Comércio
542,52 362,18 657,06 488,12 350,49 580,63
Prestação de Serviços
313,32 208,68 486,50 306,02 206,30 464,56
Outros Serviços
751,87 540,77 972,74 727,10 559,43 897,84
Administração Pública
796,34 723,16 832,68 834,16 748,65 877,81
Outros Setores
1159,91 957,03 1267,67 1048,62 945,81 1109,71
Fonte: Fundação IBGE. Tabulações Especiais da PNAD de 1995 e 1999; Fundação Seade.
(1) Em 1995, valores inflacionados pelo INPC com base em setembro de 1999 e expressos em
salários mínimos de 1999.
(2) Inclusive outras atividades maldefinidas ou não declaradas.
Analisando os resultados apresentados pela tabela 3, verifica-se que
mesmo trabalhando mais, a mulher continua recebendo bem menos do que um
homem que exerça a mesma atividade profissional. De acordo com os dados
do IBGE, em 1999 os percentuais variaram de 320% a 20% em quase todos os
setores de atividade, apenas na categoria Administração Pública e Outros
Setores é que as diferenças foram menores, ou seja, permaneceram em torno
de 17,26%.
24
Tabela 4: Rendimento Médio (1) dos Ocupados, por sexo, segundo
Nível de Instrução (2)
Brasil 1995-1999 (em reais)
Setor de
1995 1999
Atividade
Total Mulheres Homens Total Mulheres Homens
Menos de 1 ano de estudo (4)
164,46 104,26 194,19 158,26 101,80 182,47
1 a 3 anos de estudo
228,99 125,83 280,36 207,71 125,53 246,54
4 anos de estudo
352,31 187,39 445,64 313,55 178,66 389,77
5 a 7 anos de estudo
332,65 203,15 406,97 297,19 182,58 359,81
8 anos de estudo
500,37 301,15 617,02 427,45 277,26 517,04
9 a 10 anos de estudo
447,50 288,81 564,77 365,57 250,73 451,77
11 anos de estudo
740,61 491,50 972,03 619,08 427,14 798,52
12 anos ou mais de estudo
1639,89 1046,94 2227,43 1469,09 1029,47 1922,70
Sem declaração
320,03 197,05 418,65 294,75 222,63 349,53
Fonte: Fundação IBGE. Tabulações Especiais da PNAD de 1995 e 1999; Fundação Seade.
(1) Em 1995, valores inflacionados pelo INPC com base em setembro de 1999 e expressos em
salários mínimos de 1999.
(2) Anos de estudo concluídos.
Um outro aspecto a ser observado é que mesmo estando qualificada
para exercer uma atividade, a mulher obtém rendimentos inferiores além de se
deparar com barreiras como o fenômeno do teto de vidro
2
, que a impedem de
assumir posições mais elevadas, permanecendo assim em ponto de
estagnação. Na tabela 4 estas diferenças de rendimento podem ser
destacadas, observe que em 1999 a diferença percentual mais alta se
encontrava no nível de instrução “4 anos de estudo “ (118%), e o menor no
nível “Menos de 1 ano de estudo“ (54%).
No decorrer da história são encontradas muitas mulheres que sempre
trabalharam no campo. Apesar de trabalharem mais obtinham menos
privilégios e direitos legais que os cedidos aos homens, mesmo sendo
consideradas “o esteio sobre o qual repousava a sociedade inteira” (Muraro,
2
“Este conceito foi introduzido na década de 80 nos Estados Unidos, e foi utilizada esta
representação simbólica para descrever a existência de uma barreira sutil, transparente e forte,
que impossibilita a ascensão de mulheres aos níveis mais altos da hierarquia organizacional
(Munhoz & Rodrigues, 2000: 140).
25
1995: 127). Ainda hoje, o trabalho é maior para a mulher do que para o
homem. Observe que:
as mulheres trabalham mais do que os homens. Na verdade, o uso do
tempo da mulher é muito diferente do homem. O tempo remunerado é
maior entre os homens e o não remunerado é maior entre as mulheres.
A mulher gasta em média, mais de 30 horas de trabalho por semana
com afazeres domésticos. Em certos ciclos da vida, o trabalho se torna
extremamente intenso. Isso ocorre quando se combinam o trabalho fora
de casa, com os afazeres domésticos e o cuidado das crianças
pequenas (Pastore, 2002).
Um aspecto importante a ser trabalhado diz respeito à questão de classe
social, que interfere nas diferenças do modo de vida e até mesmo na
concepção que a mulher tem sobre o trabalho a ser executado. É possível
afirmar que a condição social da mulher varia muito de acordo com a classe
social a que pertence. As mulheres que pertencem à classe média, na maioria
dos casos, possuem condição financeira e recebem incentivos por parte da
família para estudar. Tais estímulos possibilitam que estudem e cursem uma
universidade, ao passo que para a mulher de classe social mais baixa isto se
torna bem mais difícil. Geralmente na classe média “a presença feminina no
sistema formal de educação praticamente equipara-se à masculina, chegando
mesmo a superá-la no segundo e terceiro graus” (Ammann, 1997: 101). Na
universidade, as mulheres correspondem a mais da metade dos estudantes e,
junto com as operárias e camponesas, somam quase 40% da força de trabalho
(Muraro, 1995: 157).
Um outro aspecto que também pode ser ressaltado é a elitização do
Ensino Superior, ou seja, um percentual cada vez maior de mulheres
pertencentes às classe média e alta têm acesso ao ensino superior. De 53,7%
em 1992 a participação saltou em 1999 para 57,1% (Almanaque Abril, 2002),
ou seja, cada vez mais as estudantes de classe média e alta buscam
profissionalização através de um curso superior. Entretanto um outro contexto
é apresentado nas classes mais pobres, onde a maioria das mulheres é
26
analfabeta e as que possuem estudo geralmente se limitam a nível primário.
Tal situação é caracterizada pela necessidade de tais mulheres serem as
responsáveis pela manutenção do lar e cuidado com os filhos, que as
impossibilitam de continuarem seus estudos. É nesta classe que se concentra
o maior número de lares monoparentais considerando que a mulher nestes
lares é a chefe de família
3
. Ela é a responsável pela renda familiar, geralmente
oriunda do trabalho doméstico e/ou informal que realiza. De acordo com a (OIT,
1995: 4), a situação das mulheres desta classe só vem confirmar a frase que
diz que: “Mais de dois terços dos pobres do mundo são mulheres” (apud
Ammann, 1997: 99), considerando que os níveis de remuneração são muito
baixos e as condições de vida são extremamente deploráveis.
Já na classe dominante é encontrado duplo padrão de comportamento,
ou seja, “explicitamente a mulher tem um discurso puritano e familiar, mas por
debaixo dos panos” rompe sem culpa nem punição a muitas regras impostas
pela sociedade. Tal comportamento contribui para que estruturas como a da
família e da Igreja refaçam seus valores e moral, possibilitando que filhos do
sexo masculino rompam também as regras do setor privado, as normas da
legalidade do Estado e da economia, beneficiando a si próprio e a classe social
da qual faz parte (Muraro, 1995: 157-158).
Hoje a mulher é vista em muitos redutos antigamente tidos como
tipicamente masculinos, ou seja, ela “vem conseguindo derrubar clichês que
apresentam seu gênero como intelectualmente limitado” e demonstra
“capacidades e aptidões para ocupar espaços que lhe eram vedados”
(Ammann, 1997: 101). Muitas mulheres já ocupam posições de destaque em
todos os meios e campos de atividade, quer seja “na pesquisa científica, na
administração empresarial
4
, na vida acadêmica, na medicina, na política, na
magistratura, na comunicação, na cultura, nas artes” (Estado de SP,
09/03/2001). “No Brasil, um levantamento do grupo Catho, especializado em
3
Em 2000, de acordo com os dados do IBGE, as mulheres chefiavam 26% das famílias. Tal
fato está relacionado com a separação de casais, pois quase sempre com a ruptura do
casamento, a guarda dos filhos é repassada a ela e então passa a dirigir a família.
27
recursos humanos mostra que nos últimos anos a participação das mulheres
na cúpula das empresas brasileiras – nas posições de presidente ou principal
executiva – aumentou em significativos 49%” (Maerker, 2000: 14).
Tal participação demonstra que além do papel de filha, esposa, amante,
mãe e trabalhadora, a mulher tem se inserido em outros meios além do
doméstico. Uma identidade importante que também vem sendo assumida pela
mulher é a de mulher empreendedora e/ou empresária. Mas o que significa ser
uma mulher empreendedora nos dias atuais? Quais qualidades são
consideradas importantes para desempenhar tal papel?
2.2.1 Mulher empreendedora
Souza (1998: 121) considera a mulher empreendedora como aquela
“que tem a capacidade de descobrir e avaliar oportunidades nos negócios, de
reunir os recursos necessários para aproveitá-los e de trabalhar de forma
apropriada para conseguir êxito”. Contudo, ressalta que qualidades como: a)
confiança em si própria; b) consciência de tarefa necessária e do resultado
buscado; c) consciência de assumir riscos; d) originalidade; e) consciência do
futuro; f) flexibilidade; g) necessidade de realização e h) grande desejo de ser
independente são muito importantes para o desempenho deste papel.
Possuir qualidades para ser uma empreendedora não é o suficiente para
que a mulher desempenhe este papel, antes de tudo é necessário que exista
toda uma estrutura pessoal e familiar que contribua para o êxito das atividades.
Porém é válido identificar como a mulher vem se posicionando perante o
trabalho e a família ao exercer o papel de empreendedora e/ou empresária.
Silva (2001), argumenta “que negócio e família não estão em pólos opostos: há
vantagens que o negócio traz para a família e vice-versa”, ou seja, entre ambos
existe um sistema de troca que contribui para o desenvolvimento profissional
da mulher. Em Cramer et al (2001: 52) verifica-se a existência de “uma certa
4
Inclui-se também a atividade agropecuarista exercida pela mulher empreendedora conforme
apresentado por Tóffolo (2001) considerando que tal atividade é considerada como
tradicionalmente masculina.
28
concorrência da atividade empreendedora com a dedicação à família”, ou seja,
existe “um desestímulo, por parte dos familiares, à abertura de um negócio por
estes desacreditarem de sua competência para gerir e administrar a atividade
com sucesso”.
Deve-se ressaltar que apesar das inúmeras transformações no que diz
respeito à participação da mulher no mercado de trabalho, percebe-se que
muitas mulheres enfrentam “muitas barreiras, como a hierarquia tradicional e
até mesmo as pressões familiares”. Geralmente, as barreiras que impedem as
mulheres de atingir o sucesso estão relacionadas a fatores externos (empresa
e família) e internos (medo, insegurança e falta de conhecimento). “A melhor
estratégia que elas podem usar para vencer tais barreiras é seguir o exemplo
das mulheres que tomaram a dianteira e alcançaram o sucesso profissional e
pessoal apesar de tudo” (Brooks, 1999: 145). Para que tais barreiras sejam
superadas “um dos principais antídotos para isso é manter a mente aberta,
ativa, atualizada, deixando em segundo plano o que a maioria das pessoas
classificam de “limites do possível”.
O mundo é grande demais e está aí para nos oferecer uma gama
ilimitada de possibilidades e oportunidades. “Essa capacidade de trabalhar com
possibilidades, prevendo o que está por vir, entre problemas, fatos e atos que
ainda não aconteceram, é aspecto fundamental para o sucesso, sempre”
(Maerker, 2000: 21-24). Hoje, para que a mulher atue neste ambiente é
necessário antes de tudo que disponha de conhecimentos gerais para analisar
as situações, e que se mantenha aberta ao aprendizado, buscando através de
seus relacionamentos identificar e perceber o que realmente contribuirá para
êxito em suas atividades.
Além de munir-se de conhecimento, a mulher precisa contornar a
resistência exercida tanto no ambiente de trabalho, quanto no ambiente familiar
fazendo-se impor de maneira que consiga provar e comprovar que tem
capacidade de gerir e manter negócios de sucesso. Contudo, para que tais
resistências sejam superadas é necessário que a mulher mantenha-se em
constante processo de transformação e luta, considerando que vivemos em
29
uma sociedade onde as representações e aspectos culturais que associam a
mulher aos papéis tradicionais ainda estão instituídos. Como interpretar o
comportamento da mulher diante da dicotomia do ambiente de trabalho e
familiar? Qual o posicionamento desta mulher no ambiente de trabalho? Qual a
concepção de trabalho que possui?
Desde os primórdios das civilizações o ser humano utiliza-se do trabalho
para sobreviver, contudo sua concepção vem sendo alterada de acordo com as
diferentes concepções de sociedade (Mourão & Borges-Andrade, 2001: 60). O
trabalho está relacionado a um processo, ou seja, uma forma:
através do qual a espécie humana transforma a natureza com o objetivo
de construir objetos de cultura e extrair dela satisfação de suas
necessidades com sentido de permanência histórica. É o elemento que
estrutura a organização da sociedade, sendo categoria analítica mais
objetiva para desvendar as relações humanas no tecido social
(Santorum, 1995:62).
Segundo Mourão & Borges-Andrade (2001: 60), vários estudos
realizados nos últimos quinze anos, encontrados na literatura estrangeira ou
nacional, destacam que “a maior ou menor importância do trabalho relaciona-
se aos valores que cada indivíduo associa ao ato de trabalhar”, ou seja, pode-
se relacionar o “significado do trabalho à percepção que o indivíduo tem de seu
trabalho e da importância que atribui a ele”. Para Harpaz, a maioria das
pessoas expõe o significado do trabalho por três proposições: 1) a de que a
sua maior função é instrumental ou econômica; 2) a de que o trabalho é algo
inseparável da natureza e das necessidades humanas; e 3) de que o trabalho
tem uma natureza sócio-psicológica (apud Mourão & Borges-Andrade, 2001:
60).
O ato de trabalhar quase sempre é tido pela proposição econômica, pela
qual o indivíduo cria condições de oferecer a si próprio e à sua família melhores
condições de vida, tanto em nível econômico, social e/ou religioso. Entretanto
em alguns casos, principalmente quando se trata de uma classe social mais
30
elevada, tal proposição assume diferentes significados considerando que o ato
de trabalhar pode estar mais relacionado com um hobby, prazer e até mesmo
como uma maneira de dar continuidade a algo que foi herdado (Tóffolo, 2001).
É válido ressaltar que o conceito de trabalho da mulher que hoje é
encontrado na sociedade passou por um processo de transformação também,
pelo qual algumas relações sociais de gênero são percebidas. “O lugar
diferenciado dos homens e das mulheres nos espaços público e privado bem
como nas atividades de trabalho é fruto da construção social da diferença de
gênero” (Oliveira, 2002). Nesta construção social são encontrados símbolos,
representações, normas e práticas que estão calcados mais no aspecto
biológico de cada sexo. Desta forma, a divisão do trabalho existente entre
homens e mulheres, está assentada em uma distribuição desigual de status,
onde o que tem mais valor é o gênero e não a capacidade de cada indivíduo
enquanto ser humano.
Em uma pesquisa realizada por Machado (2002: 91-120) com 10
mulheres empreendedoras que iniciaram e que possuem pelo menos 50% do
capital da empresa, constatou-se que o significado do trabalho assume
conceituações diferentes, levando em consideração o estágio de crescimento
das empresas. “... aquelas em estágios de crescimento ressaltaram um valor
maior ao trabalho do que as que desejam apenas a consolidação da empresa”.
Pode-se afirmar que o significado do trabalho assumiu as seguintes
caracterizações: 1) Como potencial de realização e de participação; 2) Como
sendo o centro da vida, tanto atualmente, como no passado; e 3) Como uma
fonte de prazer. (Machado, 2002: 119-120).
Assim como Machado (2002), Mondardo et al (1998: 118) caracteriza o
trabalho como sendo uma “fonte de realização, de inserção social, de
gratificação emocional e financeira”. Em Oliveira (2002), o trabalho da mulher,
principalmente nas classes média e baixa, é tido “como uma das muitas
estratégias, utilizadas pelo grupo familiar, para garantir a sua sobrevivência,
manutenção e ascensão social”. Com base nestes autores é possível constatar
que, dependendo da posição social em que a mulher se encontra, o significado
31
do trabalho assume concepções mais diversificadas, uma vez que, nesta
construção, estarão inseridas as necessidades pessoais, profissionais e em
muitos casos o próprio meio de se manter a sobrevivência familiar.
Dentro da concepção do trabalho é válido identificar como a mulher
enxerga o trabalho, ou seja, será que o trabalho tem suas recompensas? Que
tipo de recompensas é possível obter por intermédio do trabalho realizado além
da financeira? Quais as barreiras a serem superadas para que seja realizado
um bom trabalho?
2.2.2. A representação da mulher no meio rural enquanto empreendedora
Assim como no passado, as mulheres continuam a desempenhar
atividades no setor rural e são “atualmente a maioria da população rural
mundial, produzindo alimentos, mas apenas 2% das terras são de propriedade
delas“ (Machado et al, 2000). Segundo Fallau et al (1999), as atividades das
mulheres estão ligadas a três diferentes papéis: 1) reprodutivo – que diz
respeito ao cuidado e atenção ao grupo familiar, especialmente crianças e
velhos, e as atividades do lar; 2) produtivo – relacionado com sua inserção na
produção agrícola; e 3) mantenedora de laços comunitários – através de sua
participação em grupos sociais.
A representação da mulher no meio rural pode ser visualizada em duas
vertentes: 1) a ocupação da mulher enquanto indivíduo responsável pela
administração e gerenciamento das propriedades rurais (empresária e/ou
empreendedora) e 2) como mão-de-obra utilizada no processo produtivo
(trabalhadora rural ou bóia-fria). A condição das mulheres em áreas rurais
geralmente caracteriza-se como a de trabalhadoras, na qual: 1) o trabalho é
precário; 2) a mulher busca o equilíbrio entre os papéis produtivo e reprodutivo;
3) o nível de pobreza é absoluto; e 4) o trabalho feminino não utiliza novas
tecnologias agrícolas (Rossini, 2002).
Na condição empresarial e/ou empreendedora, as mulheres estão
procurando “conquistar seu espaço profissional num ambiente
32
predominantemente machista, onde são mantidos todos os resquícios de
dominação do anterior código civil brasileiro” (Bastiani & Rocha, 2000). Apesar
das dificuldades encontradas, percebe-se que as mulheres estão vencendo
preconceitos e ganhando pouco a pouco espaço num setor dominado por
homens e pela tradição, fazendo com que gradativamente a participação
feminina se torne notável não só no meio urbano como no rural. Riveras
(2001), destaca a entrada de Regina Ruette em um seleto e pouco conhecido
grupo: o das mulheres que ocupam cargos de comando em usinas de açúcar e
álcool; quase todas familiares e tradicionais, e a atuação de Valéria Nardini
Machado
5
neste mesmo setor. Muitas destas mulheres trabalham não por
necessidade financeira, mas porque gostam e buscam um desafio em suas
vidas, ou seja, querem tornar suas empresas mais saudáveis e competitivas no
mercado.
No Brasil, principalmente nos anos 90 muito foi difundido o conceito
agrobusiness, ou agronegócio em todos os setores da sociedade, e com isto
uma nova postura e dimensão foram assumidas neste setor. Segundo
Graziano (1999), a constituição desta dimensão passou a possuir quatro
grandes subconjuntos: 1) uma agropecuária moderna baseada em
commodities e intimamente ligada a agroindústrias; 2) um conjunto de
atividades de subsistência baseada na agricultura rudimentar e criação de
pequenos animais, que visa primordialmente manter relativa superpopulação
rural e um exército de trabalhadores; 3) um conjunto de atividades não
agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de
serviços; e 4) um conjunto de “novas” atividades agropecuárias, localizadas em
nichos específicos de mercado (apud Machado et al, 2000).
Bastiani & Rocha (2000) alertam sobre a questão do empreendedorismo
feminino no meio rural como sendo algo complexo, tendo em vista que as
relações e inter relações que a mulher exerce no meio produtivo rural, ainda
são decorrentes de um conjunto de valores impostos por uma sociedade
caracteristicamente patriarcal e machista. Logo, estudos que têm o intuito de
5
As usinas encontram-se localizadas em Catanduva (SP) e Nossa Senhora Aparecida (SP).
33
analisar a mulher empreendedora devem se preocupar em identificar: a) a
possibilidade da mulher encontrar espaço de trabalho enquanto
empreendedora no meio rural; b) as principais barreiras encontradas; c) o tipo
de atividade desenvolvida pela mulher neste meio; e d) os requisitos em termos
de profissionalização necessários para a atuação.
Seguindo a mesma linha de pensamento de Bastiani & Rocha (2000),
neste trabalho buscou-se caracterizar a mulher enquanto empreendedora
agropecuarista como: aquela responsável pela administração e gestão do
negócio, atuando lado a lado com sua equipe de trabalho e instigadora da
criatividade na realização dos trabalhos. Além disto, avaliou-se a entrada da
mulher neste setor identificando que fatores propiciaram esta participação, bem
como as barreiras encontradas e a questão da profissionalização e assessoria
técnica utilizada como suporte da atividade agropecuária.
A Teoria das Representações Sociais foi associada à questão do
Empreendedorismo como forma de analisar a postura assumida pela mulher no
meio rural, enquanto agente do processo de criação e/ou gerenciamento de
propriedades agropecuárias. Tal análise permite que se trace o perfil de
comportamento da mulher empreendedora agropecuarista, levando em
consideração as origens, o conceito que a mulher tem a respeito de si própria,
o trabalho como empreendedora, o modo como visualiza e conceitua
determinados termos, além de avaliar o funcionamento da empresa.
34
3. CONCEITUAÇÃO DAS DIMENSÕES EM ESTUDO
Origem
A origem busca identificar as causas que levam o indivíduo a optar por
se tornar um empreendedor, analisando a existência de empresários na família,
a ocupação dos pais, os modelos de atuação adotados pelos indivíduos, a
formação escolar e profissional, bem como a ocupação anterior e atual do
indivíduo que optou pelo empreendedorismo.
Filion (1991) ressalta que algumas “pesquisas indicam que as famílias
de empreendedores têm maior chance de gerar novos empreendedores de
sucesso e que quase sempre têm um modelo, alguém que admiram e imitam”
(apud Dolabela, 1999b: 33). Entretanto, quando o indivíduo não pertence à
família empreendedora geralmente o que ocorre é que ele elege uma pessoa
que vai servir como modelo. Geralmente estes modelos vão servir como
espelhos, ou seja, são “pessoas com visão empreendedora, que não têm medo
das coisas, que não se satisfazem com pouco” (Machado, 2000: 31) que serão
a inspiração do indivíduo.
Visão
A visão é uma imagem projetada de uma situação de futuro desejada, ou
seja, um sonho realista e alcançável que depende do nível de conhecimento do
empreendedor. Nela está inserida a idéia de se tornar empreendedor, o
planejamento para atuação nos negócios, a forma e os recursos utilizados na
abertura do negócio. “Quanto mais completo for o conhecimento do
empreendedor e, ainda, sua imagem e entendimento de um setor de negócios,
tanto mais realista será seu negócio” (Filion, 1999b). No processo de
construção da visão é necessário que o empreendedor inicialmente identifique
qual o setor de negócios que lhe interessa, para que busque conhecimento
sobre o setor e faça um planejamento para atuar no nicho de mercado
desejável.
35
Conceito de si
O auto conceito é considerado por Machado (2000: 28), “um atributo
significativamente importante no comportamento empreendedor”. Tal afirmação
vem ao encontro do pensamento de Dolabela (1999a), uma vez que, as
pessoas só realizam algo quando realmente se julgam capazes de fazê-lo e o
fazem. O conceito de si é tido como a imagem que o indivíduo tem de si
próprio, ou seja, nele estarão contidos os valores de cada um, sua forma de ver
o mundo e sua motivação.
Figura 1: Elementos de suporte do processo visionário
Fonte: Filion (1991) (apud Dolabela, 1999a: 77).
O conceito de si sofre variações de acordo com o contexto em que o
sujeito está inserido, ou seja, depende das relações (internas e externas)
mantidas pelo indivíduo, bem como o conhecimento sobre determinado setor
de atuação e a visão que é construída do mundo afetivo, suas conquistas e
fracassos (Dolabela, 1999a). Na verdade, o que ocorre é um constante
processo de transformação e adaptação por parte do indivíduo, pois por menor
que seja a mudança isto irá provocar alterações no conceito de si (figura 7),
bem como em outras variáveis que participam do processo.
Existem “vários tipos de empreendedores com estilos diferentes, porém
as características básicas não mudam”. (Morais, 2000: 103), o que ocorre são
Compreensão
do setor
Visão
Relações
Conceito
de Si
Energia
Liderança
36
variações de comportamento justamente pelo conceito de si de cada
empreendedor. Alguns empreendedores podem utilizar-se de modelos, ou seja,
pessoas com as quais se identificam, para espelhar sua atuação como tal.
Whetten & Godfrey destacam que “a identidade pode ter esse caráter
relacional, ou seja, a auto-imagem é também o resultado da interação com os
outros” que sofre variações de acordo com o contexto no qual o indivíduo está
inserido (apud Machado, 2000: 30).
Valores
“Os valores constituem verdades que os indivíduos estabelecem para si.
São formados a partir das referências obtidas ao longo da vida do indivíduo,
como também através dos processos sociais pelos quais, ele encontra-se
submetido” (Machado, 2000: 20-21). Conforme é apresentado no quadro 13, os
valores podem ser subdivididos em valores instrumentais (orientado para os
meios) e valores terminais (orientados para os fins).
Quadro 5: Classificação de valores apresentada por Rokeach
INSTRUMENTAIS TERMINAIS
Honestidade, responsabilidade, competência,
sinceridade, inteligência, educação,
criatividade, disciplina, coragem, racionalidade,
alegria, fraternidade, independência,
generosidade, tolerância, ambição, afetividade
e obediência.
Uma vida confortável, uma vida excitante,
senso de realização, um mundo de paz, um
mundo de beleza, igualdade, segurança
familiar, liberdade, saúde, harmonia interior,
maturidade no amor, segurança nacional,
prazer, salvação, auto-respeito,
reconhecimento social, amizade verdadeira e
sabedoria.
Fonte: Adaptado de Machado (2000).
Trabalho como empreendedora
O trabalho como empreendedora compreende: a área de atuação das
agropecuaristas, a rotina mantida dentro das propriedades, a delegação de
poder (divisão de responsabilidades), a parceria no negócio, a participação em
outra atividade, a ajuda dos filhos e de secretária(o), o controle de informações
utilizado pelas agropecuaristas, o número de horas destinadas a atividade
37
produtiva, as férias, a aposentadoria, o estilo de gerenciamento e por fim, a
identificação do que tem feito com que o processo de empreender se tornasse
prazeroso.
Auto-avaliação
A auto-avaliação relaciona-se com a percepção adotada por cada
mulher agropecuarista para avaliar alguns conceitos utilizados neste estudo
(relações externas e internas, oportunidade, aprendizado, solução de
problemas, fracasso, erro, poder, criatividade, imaginação, intuição, incerteza e
ambigüidade, sonhos, liderança). Na abordagem de Maximiano (2000b: 270),
“a percepção é o processo de selecionar, organizar e interpretar os estímulos -
eventos, informações, objetos, outras pessoas – que o ambiente oferece”.
Considerando que os indivíduos reagem de forma diferente ao mesmo
estímulo, é possível afirmar que cada observador representa a realidade de
sua maneira. Neste processo de avaliação, dois fenômenos são identificados:
a) A percepção seletiva, no qual apenas uma pequena parte dos estímulos
é percebida, podendo algumas vezes produzir julgamentos apressados;
b) A adaptação sensitiva, onde a percepção busca ajustar-se a variações
no comportamento dos estímulos, e com o tempo deixam de ser
percebidas (Maximiano, 2000b: 272).
As simplificações desempenham papel importante no processo de
percepção e julgamento das outras pessoas. Porém, erros como o efeito halo,
o contraste, a projeção, a estereotipagem e preconceito (quadro 14) podem ser
identificados, impossibilitando que os julgamentos carreguem “verdades” do
que é avaliado.
38
Quadro 6: Erros no processo de percepção das pessoas
EFEITO HALO
Um traço de comportamento serve de base
para uma generalização a respeito da conduta
de uma pessoa.
CONTRASTE
As pessoas são percebidas dentro de um
contexto e contrastadas com outras, o que
produz impressões favoráveis ou
desfavoráveis.
PROJEÇÃO
Os outros são exagerados segundo as
perspectivas do observador, que faz
julgamentos baseados em suas
características.
ESTEREÓTIPOS E PRECONCEITOS
As características de um grupo social são
simplificadas e projetadas em todos os seus
integrantes.
Fonte: Maximiano (2000b: 277).
Idéia e oportunidade são coisas distintas
Se compararmos as definições de oportunidades apresentadas por
Dolabela (1999a) e Dornelas (2001), veremos que:
Oportunidade é uma idéia que está vinculada a um produto ou serviço
que agrega valor ao seu consumidor, seja através da inovação ou
diferenciação. Ela tem algo de novo e atende a uma demanda dos
clientes, representando um nicho de mercado. Ela é atrativa, ou seja,
tem potencial para gerar lucros, surge em um momento adequado em
relação a quem irá aproveitá-la – o que a torna pessoal – é durável e
baseia-se em necessidades insatisfeitas (Dolabela, 1999a: 87).
As oportunidades é que geralmente são únicas, pois o empreendedor
pode ficar vários anos sem observar e aproveitar uma oportunidade de
desenvolver um novo produto, ganhar um novo mercado e estabelecer
uma parceria que o diferencie de seus concorrentes (Dornelas, 2001:
49).
Nas duas definições apresentadas acima é possível identificar que
oportunidade está relacionada com a inovação e com a possibilidade de
geração de lucros, ou seja, a partir da identificação de uma necessidade social,
o indivíduo pode estar buscando “alternativas” que venham solucionar os
39
problemas de determinados grupos de indivíduos. Portanto é válido diferenciar
oportunidade de idéia, considerando que:
A idéia pode constituir uma armadilha... Toda idéia é gerada em estado
de paixão, mas, por isso mesmo, muitas vezes faz com que seu criador
não tenha o distanciamento para avaliá-la (Dolabela, 1999a: 88).
Uma idéia sozinha não vale nada. Em empreendedorismo, elas surgem
diariamente. O que importa é saber desenvolvê-las, implementá-las e
construir um negócio de sucesso (Dornelas, 2001: 50).
Baseando-se nas definições colocadas anteriormente, é válido afirmar
que para trabalhar com oportunidade, inicialmente o indivíduo necessita
desenvolver a capacidade de diferenciá-la de idéia, depois precisa de
condições adequadas (recursos financeiros, tecnológicos e humanos) para
desenvolvê-la e por fim deve estar preparado para gerenciá-la, a fim de que
tenha condições de obter êxito na execução. Identificar oportunidades tem
papel central na atividade empreendedora considerando que, através delas, o
empreendedor poderá desenvolver novos produtos e/ou diferenciá-los dos
demais. Entretanto existe a necessidade de avaliar a oportunidade, uma vez
que, pode ser oportunidade para uns e para outros não.
Identificar e agarrar as oportunidades não é questão de técnicas de
avaliação e checklists, mas da própria capacidade do empreendedor (Dolabela,
1999a: 89). As oportunidades podem estar em qualquer lugar, entretanto é
necessário que o indivíduo tenha esta capacidade e habilidade para identificá-
la. Para isto, antes de tudo é necessário manter-se em constante processo de
aprendizagem e interação com o meio em qual está inserido, participando de
cursos, reuniões, viagens, etc, a fim de que tenha condições de ganhar
experiência para perceber o que está no ar.
Dolabela (1999a: 115) apresenta que “o processo de aprendizagem do
empreendedor, na pequena empresa, é essencialmente baseado em ações”. O
40
aprendizado se dá de forma contínua, ou seja, se parar de aprender, também
irá parar de ter sucesso. Gibb acrescenta que o empreendedor aprende: a)
solucionando problemas; b) fazendo pressão; c) interagindo com os pares e
outras pessoas; d) através de trocas com o ambiente; e) aproveitando
oportunidades; f) copiando outros empreendedores; g) pelos próprios erros: é
uma área em que se podem cometer erros (pequenos), porque há liberdade; h)
através de feedback dos clientes (apud Dolabela, 1999a, 115).
Figura 2: Modelo de auto-aprendizado apresentado por Dolabela
Fonte: Dolabela (1999a ).
O auto-aprendizado é composto de dois processos: 1) pró-atividade (no
qual a motivação antecede a busca de conhecimento); e 2) aprender fazendo
Bagagem
pessoal
A
ç
ão
Objetivos,
metas: onde
chegar
Atender a um
desejo
Auto-realização
Sonho
Aprendizado,
Inovações
Erros,
problema
s
Menção a um
desejo, situação
de real interesse
Busca de
soluções
sozinha, de
f
Criatividad
Pessoas,
concorrentes
, livros,
feiras,
internet,
outros
países,
Criatividade
Aprender
sozinho
fazendo
Pró-
atividade
Motivação
Gatilho
Início
41
(pelo qual se aprende através dos erros). Nestes processos existem algumas
variáveis que possibilitam que certos objetivos sejam alcançados (figura 8).
Erro
De acordo com Dolabela (1999a), o erro é tido como uma fonte de
aprendizado. Entretanto quando o erro ocorre é necessário que o indivíduo
tenha consciência de seu ato e busque através dele buscar uma outra forma,
de preferência mais elaborada, de realizar a mesma tarefa. O erro na verdade
é reflexo que algo não está bem dentro da empresa, ou seja, reavaliar os
procedimentos utilizados é o primeiro passo para depois analisar qual o melhor
método para conduzir os negócios.
Criatividade
Existem muitas definições para o termo criatividade, considerando que
ela pode assumir o papel de criatividade eminente ou criatividade cotidiana, ou
seja, a criatividade de determinadas pessoas pode gerar grandes produtos,
como nas ciências e nas artes ou não. Freqüentemente o que ocorre é que a
criatividade pode estar presente em pequenos atos que ocorrem no dia-a-dia,
podendo ou não ser reconhecida. Daí entra outra questão, a esfera pública e a
privada onde, em uma existe reconhecimento ou aclamação por instituições e
em outra pode ou não ocorrer este mesmo reconhecimento ou aclamação
(Firestone, 1998: 23-24). Mas quando ocorre o processo criativo?
Dolabela (1999b: 61) acredita que “a criatividade surge durante o
processo de solução de problemas, que, por sua vez, depende do
conhecimento”, ou seja, este processo é influenciado pelas concepções e
experiências que o indivíduo tem em relação ao meio em que está inserido.
Intuição
42
A intuição é caracterizada como um dom, que algumas pessoas têm e
outras não; entretanto, é possível afirmar que a intuição nada mais é do que “o
subproduto direto do treinamento e da experiência que foram estocados como
conhecimento” (Dolabela, 1999b: 61). Nos negócios ela pode ser utilizada
como um instrumento de identificação de uma boa oportunidade, porém a
utilização dela varia muito de pessoa para pessoa considerando que existem
indivíduos mais sensitivos do que outros.
Liderança
Há muitas definições de liderança e em grande parte delas são
ressaltadas as relações sociais e interpessoais mantidas pelos indivíduos neste
processo. Segundo Prentice (1961):
Liderança é a realização de metas por meio da direção de
colaboradores. A pessoa que comanda com sucesso seus
colaboradores para alcançar finalidades específicas é líder. Um grande
líder tem essa capacidade dia após dia, ano após ano, numa grande
variedade de situações (apud Maximiano, 2000b: 326).
Geralmente, o líder conduz os seus colaboradores (liderados), de forma
que estes contribuam para o alcance das metas estabelecidas. Seguindo esta
mesma linha de pensamento, Jago (1982) destaca que a:
Liderança é o uso da influência não coerciva para dirigir as atividades
dos membros de um grupo e levá-los à realização do objetivos do grupo
(apud Maximiano, 2000a: 388).
Desta forma, ao se abordar sobre liderança é importante destacar não
só a figura do líder, como também a de seus seguidores e a missão a ser
atingida. A interação mantida por estes três fatores permite que a liderança se
desenvolva, pois o que adiantaria ter um líder sem seguidores ou seguidores
sem um líder e uma missão a ser alcançada. Compreender as motivações que
fazem com que os indivíduos se deixem conduzir possibilita com que o líder
43
identifique o tipo de estratégia a ser utilizada, bem como quais incentivos
poderão ser utilizados para que estas pessoas participem do processo
produtivo.
Empresa
A empresa corresponde a uma organização, neste caso, à propriedade
rural, onde determinado tipo de atividade é desenvolvida (criação de gado,
plantio de grãos,...) e cuja lucratividade depende da participação e atuação dos
colaboradores, assistência técnica e consultoria externa. Além destes aspectos
ressalta-se as potencialidades e fraquezas existentes na organização e a
adoção de políticas e sistema de gestão, possibilitando com que metas sejam
estipuladas e cumpridas. A participação em associações, cooperativas e
sindicatos garante que informações referentes ao setor de atuação cheguem a
seus associados além de posicionar os produtos no mercado e garantir o
escoamento da produção da propriedade rural.
44
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo, o leitor poderá entender a metodologia utilizada para o
desenvolvimento da pesquisa. Para tal, serão apresentados de forma
detalhada os procedimentos realizados durante todo o processo: a) A natureza
do estudo; b) O objeto de estudo, a amostra e a coleta de dados; e o c) O
modelo utilizado para análise.
4.1 Natureza do estudo
Para este estudo foi utilizada a descrição dos fatos, de maneira que
fossem apresentar as características, comportamento e as relações de cada
empreendedora com o mundo que está a sua volta. Além de explorar como e
por que tais mulheres se empenharam em tornar-se empreendedora em um
setor tido como característico de homens. Contudo para o desenvolvimento do
trabalho a metodologia utilizada baseou-se nas oito descrições de Cooper &
Schindler (1995: 130-133):
a) Tendo como intuito responder às perguntas propostas na pesquisa
pode-se considerar este trabalho de cunho exploratório, com a utilização
de técnicas qualitativas, uma vez que, se pretendeu identificar algo a
mais a respeito do problema levando em consideração sua característica
e natureza.
b) O método utilizado na pesquisa foi o interrogativo ou de comunicação. A
pesquisadora coletou os dados por meio de entrevistas pessoais
utilizando-se de um roteiro de entrevista conforme apresentado no tópico
instrumento de pesquisa.
c) Como a pesquisadora só pode relatar o que aconteceu ou está
acontecendo sem interferir nas variáveis, pode-se considerar o projeto
como ex post facto.
d) Tendo em vista que o objetivo foi descobrir quem, o quê/qual, onde,
quando ou quanto em relação ao problema apresentado, o estudo
trabalhou com a descrição dos fatos.
45
e) O estudo pode ser caracterizado como transversal, pois foi realizado
apenas uma vez e representou um determinado período do tempo.
f) A proposta de trabalho foi a do estudo de casos uma vez que se
desejou realizar um estudo mais aprofundado do assunto, sem perder
dados que fornecem discernimentos valiosos para a resolução de
problemas, avaliação e estratégia.
g) O cenário da pesquisa foi o ambiente real das entrevistadas.
h) Pretendeu-se conduzir a entrevista de modo que não houvesse
nenhuma variação das rotinas do dia-a-dia das mulheres
agropecuaristas.
Best descreve a pesquisa descritiva como aquela que “delineia o que é”,
ou seja, a que aborda aspectos como: a descrição, o registro, a análise e a
interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no
presente (apud Marconi & Lakatos, 1990: 19). Na pesquisa descritiva realiza-se
a observação, registro, análise e correlação dos fatos ou fenômenos (variáveis)
sem manipulá-los. Procura-se descobrir, com precisão, a freqüência com que
um dos fenômenos ocorre, sua relação com outros, sua natureza e
características. Busca-se conhecer as diversas situações e relações que
ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do
comportamento humano, tanto do indivíduo isoladamente como de grupos e
comunidades mais complexas (Cervo & Bervian, 1996: 49-50).
4.2 Objeto de estudo, amostra e coleta de dados
No estudo optou-se por analisar a figura da mulher empreendedora
agropecuarista, ou seja, mulheres que estão ligadas à Sociedade Rural do
Paraná, situada em Londrina (Pr) e que realmente se encontram na direção
das propriedades. Desta forma, a população que compôs esta pesquisa é
formada por mulheres empreendedoras que estão à frente dos negócios
agropecuários e que residem na região de Londrina (Pr), situada no sul do
Brasil. Localização e tamanho da propriedade, tempo de atuação no setor,
classe social, formação educacional e profissional não foram requisitos
46
primordiais na escolha. A escolha foi realmente pela atuação enquanto
responsável pelo trabalho na propriedade, tendo em vista que o foco de estudo
está voltado para análise dos fatores: a) história de vida; b) fatores pessoais,
sociológicos, experiência de vida e profissional; e c) percepção quanto aos
fatores organizacionais.
A escolha pelo setor agropecuário partiu, justamente, da necessidade de
desvendar se realmente existiam mulheres atuando como empreendedoras,
em um setor tradicionalmente masculino. No processo de identificação da
população, o resultado foi surpreendente, “dos 1123 sócios existentes”
(Barbosa, 2000: 155), cerca de 72 mulheres faziam parte, ou seja,
aproximadamente 7% dos associados. Destas 72 mulheres, foram
selecionados, aleatoriamente, dez nomes da listagem. O contato para
agendamento das entrevistas foi realizado por meio de telefone e a partir do
momento em que foi completada a quantidade estipulada de 10 mulheres
cessaram-se os contatos com as demais. Como se trata de um estudo de
casos, adotou-se a recomendação de Einsenhardt (1989) que aconselha “como
limite de análise para estudos de casos não mais que 10, o que dificultaria
sobremaneira a análise dos dados”. Londrina (Pr) foi tida como região de
estudo considerando, que historicamente foi pólo de grande parte da produção
agrícola do país, principalmente de café, durante as décadas de 50 e 60. Além
disto, grande parte da população é constituída de descendentes de imigrantes
das mais diversas etnias, que ainda hoje mantêm os vínculos com
propriedades rurais em sua região ou em outras regiões do país.
A amostragem foi do tipo não-probabilística intencional, uma vez que a
pesquisadora escolheu determinados elementos da população, mas que são
representativos da mesma para obter os relatos necessários a respeito do seu
objeto de pesquisa, sem se dirigir necessariamente a toda a população. A
pesquisadora estava interessada na função desempenhada pelos indivíduos
dentro da organização e não nos elementos representativos da população.
Além disto, deve-se atentar que não foram utilizadas fórmulas estatísticas para
o cálculo da amostra (Marconi & Lakatos, 1990: 38-47).
47
A coleta de dados foi efetuada por meio de entrevista pessoal, com
duração média de 60 a 90 minutos. Pesquisadora e entrevistada se
encontraram para uma conversa com o intuito de obter as informações
necessárias sobre quais fatores podem influenciar na conduta de se tornar
empreendedor e o por quê. A entrevista teve como base um roteiro estruturado
e padronizado onde as perguntas que foram feitas estavam predeterminadas.
Segundo Lodi, tal padronização permitirá com que as entrevistadas dêem
respostas às mesmas perguntas, possibilitando que todas as respostas “sejam
comparadas com o mesmo conjunto de perguntas, e que as diferenças devem
refletir diferenças entre os respondentes e não nas perguntas” (apud Marconi &
Lakatos, 1990: 84-86). A proposta inicial para o registro das respostas foi a
utilização de gravador, a fim de se obter maior fidelidade e veracidade das
informações. No caso de recusa por parte da entrevistada em relação a este
mecanismo de registro, foi proposta a anotação de algumas das respostas em
papel.
4.3 Instrumento de pesquisa
O instrumento de pesquisa (roteiro de entrevista) que foi utilizado na
pesquisa é uma adaptação dos modelos de Dolabela (1999b: 187-188) e
Gimenez et al (2000) – (anexo 1). Através deste roteiro de entrevista foi
possível investigar aspectos como:
a) A origem do empreendimento,
b) O conceito que a empreendedora tem a respeito de si própria,
c) A visão e modo de trabalho enquanto empreendedora,
d) O número de horas utilizadas para dedicação aos negócios,
e) O sistema de liderança utilizado na estrutura de negócios,
f) A maneira de lidar com os erros,
g) A criatividade utilizada para gerenciar os negócios,
h) A gestão do negócio (estrutura organizacional, pessoal, objetivos,
metas, políticas, etc...),
i) E possíveis colocações espontâneas por parte da empreendedora.
48
4.4 Modelo de análise
O modelo de análise utilizado neste estudo seguiu as três fases
apresentadas por Ander-Egg, que trabalha com: 1ª) Estabelecimento da
unidade de análise - constituída no elemento básico da investigação
(palavras-chave, termos, vocábulos, tema, etc.); 2ª) Determinação das
categorias de análise – que é muito variável em relação a seleção e
classificação das informações; e 3ª) Seleção de uma amostra do material em
análise – que depende muito dos objetivos, questões e hipóteses estabelecidas
na pesquisa (apud Marconi & Lakatos, 1990: 117-118).
O modelo apresentado na figura 3 é decorrente das leituras realizadas
sobre o fenômeno do Empreendedorismo e das Representações Sociais
assumidas pelo indivíduo dentro do meio social. Para facilitar o trabalho, o
modelo iniciou sua análise no Empreendedorismo, partindo em seguida para a
questão das representações sociais assumidas pelo indivíduo na sociedade.
Em seguida buscou-se compreender a representação empreendedora
assumida pela mulher, mais especificamente a representação da mulher
agropecuarista que se encontra em uma atividade tida por muito tempo como
de ocupação exclusiva por homens. Após contextualizar a mulher no setor
agropecuário, o modelo analisou as cinco dimensões apresentadas no
instrumento de pesquisa: 1) Origem e Visão; 2) Conceito de si; 3) O trabalho
como empreendedora; 4) Auto-avaliação em relação a alguns conceitos; e 5) A
empresa.
Em todas as dimensões estão contidas informações muito importantes,
que permitem avaliar o processo de inserção da mulher no meio agropecuário
bem como, identificar o modo como as agropecuaristas visualizam-se como
pessoa, como trabalham, como se relacionam no nível interno e externo à
propriedade agrícola, além de entender o funcionamento da empresa rural em
si. Cada uma destas dimensões foi tratada por um modelo de análise
específico conforme delineado nas figuras 4, 5, 6, 7 e 8.
49
Figura 3: Modelo de Análise para o estudo de casos: mulher empreendedora
no setor agropecuário
AUTO-AVALIA
Ç
ÃO
EMPREENDEDORISMO
REPRESENTAÇÃO SOCIAL
DA MULHER
REPRESENTAÇÃO SOCIAL
EMPREENDEDORA
ORIGEM E VISÃO
CONCEITO DE SI
TRABALHO COMO
EMPREENDEDORA
MULHER
AGROPECUARISTA
A EMPRESA
50
Figura 4: Modelo de análise da dimensão - Origem e Visão
O intuito de trabalhar com origem e visão foi de reconhecer na própria história
de vida de cada agropecuarista: a) a existência de empresários na família; b) a
ocupação dos pais; c) a existência de modelo para atuação no negócio; d) a área de
formação escolar e profissional da agropecuarista; e e) ocupação anterior ao atual.
Além de conhecer os motivos pelas quais a mulher se inseriu no meio agropecuário,
se insere aqui a idéia do negócio, o planejamento para atuação, a forma e recursos
que foram utilizados para a abertura assim como, as dificuldades encontradas para
atuação neste setor da economia.
ORIGEM E VISÃO
ORIGEM VISÃO
Existência de empresários na
família;
Ocupação dos pais;
Modelo de atuação;
Formação escolar e profissional;
Ocupação anterior e atual.
Idéia de se tornar
empreendedora;
Planejamento para atuação no
negócio;
Forma que iniciou o negócio;
Recursos utilizados;
Primeiros tempos como
empreendedora.
51
Figura 5: Modelo de análise da dimensão - Conceito de si
Na dimensão conceito de si, cada agropecuarista pôde expor quais as
características que considera mais importante em si e quais os valores terminais que
regem sua vida e seu negócio.
Figura 6: Modelo de análise da dimensão - Trabalho como empreendedora
CONCEITO DE SI
Características pessoais Valores terminais
Área de Atuação;
A rotina;
Delegação de poder;
Parceria no negócio;
Participação em outra atividade;
A ajuda de filhos e secretária (o);
Controle de informações;
Horas trabalhadas;
Férias;
Aposentadoria;
Estilo de gerenciamento;
Prazer no processo de
empreender.
O TRABALHO COMO
EMPREENDEDORA
52
O trabalho como empreendedora, agrega informações sobre a área em que a
agropecuarista mais gosta de se concentrar ou está posicionada, além de fornecer
dados sobre o modo como o trabalho na propriedade é realizado e quem são os
indivíduos que a auxiliam nas atividades.
Figura 7: Modelo de análise da dimensão - Auto-avaliação
A dimensão auto-avaliação vem complementar a dimensão anterior, uma vez
que aqui são expostas as avaliações por parte da mulher agropecuarista em relação
a vários fatores que fazem parte do negócio (relacionamentos, oportunidade,
aprendizado, problemas, fracasso, poder, etc), ou seja, nesta dimensão são
apresentados conceitos que a mulher agropecuarista tem em mente ao conduzir seu
negócio.
AUTO-AVALIAÇÃO
QUANTO A (O)
Relações externas
e internas;
Oportunidade;
Aprendizado;
Solução de problemas;
Fracasso;
Poder;
Erro;
Criatividade;
Imaginação;
Intuição;
Incerteza /
ambigüidade;
Sonhos;
Liderança;
53
Figura 8: Modelo de análise da dimensão - Empresa
Por fim, a caracterização e o modo de atuação da empresa pode ser
visualizado analisando assim o tipo de atividade desenvolvida na propriedade, além
de identificar as potencialidades, fraquezas, trabalhos, políticas, sistema de gestão,
etc. Nesta dimensão a agropecuarista expõe o que lhe dá mais satisfação ao
comandar a empresa e qual fator é considerado mais importante para a obtenção de
sucesso nos negócios. As informações obtidas junto às mulheres agropecuaristas
possibilitaram que fossem identificadas as causas que contribuem para sua inserção
no meio agropecuário bem como caracterizar o modo como as mulheres se
relacionam neste setor.
Na análise dos dados optou-se por identificar semelhanças e diferenças em
relação às dimensões escolhidas para estudo. Considerando que nas entrevistas foi
coletada a história de vida de cada empreendedora, tornou-se viável a utilização da
técnica de história de vida, a fim de obter por intermédio dos depoimentos de cada
entrevistada novos detalhes sobre o mesmo acontecimento, utilizando-se das várias
perspectivas das entrevistadas (Fontes, 2002).
A EMPRESA
Tipo de atividade
desenvolvida;
Colaboradores;
Assistência técnica e
consultoria;
Potencialidades e fraquezas;
Trabalhos e políticas;
Sistema de gestão;
Participação em associações,
cooperativas e sindicatos;
Posição dos produtos no
mercado;
Argumentos de persuasão;
Direcionamento dos esforços;
Metas;
Satisfação ao comandar a
empresa;
Fator mais importante para o
sucesso da empresa.
54
Alguns estudiosos consideram esta técnica indispensável, principalmente na
fase inicial da pesquisa, por possibilitar a exploração dos dados e fornecer certa
flexibilidade em descobrir os dados mais relevantes e pertinentes ao trabalho
científico. Na técnica de história de vida, a pesquisadora pode captar as reações
espontâneas das entrevistadas diante de certos acontecimentos e têm condições de
fazer através da entrevista a reconstituição global da vida do indivíduo, tentando
evidenciar aqueles aspectos em que está mais interessado (Marconi & Lakatos,
1990: 121).
O indivíduo em estudo não é visto isoladamente, mas sim como um ser
complexo possuidor de dimensões diferentes resultantes da interação e convívio
social. Desta forma, neste estudo a pesquisadora apresenta a história de vida de
cada mulher agropecuarista, avaliando suas origens e destacando alguns fatores
que podem ter influenciado no processo de tomada de decisão em atuar no setor
agropecuário. Paralelamente a isto os dados obtidos foram comparados entre si, a
fim de destacar as variáveis que condicionaram o processo empreendedor.
Como a pesquisa visou um estudo aprofundado (análise qualitativa) em
relação aos fatores pessoais, sociológicos, de experiência de vida e profissional
obtidos nas entrevistas, a técnica utilizada foi a de análise de conteúdo. Tal técnica
constitui-se de “um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.
Esta técnica visa o conhecimento de variáveis de ordem psicológica, sociológica,
histórica, etc., por meio de um mecanismo de dedução com base em indicadores
reconstruídos a partir de uma amostra de mensagens particulares” (Bardin, 1977:
31-38).
55
5. A MULHER EMPREENDEDORA NO SETOR AGROPECUÁRIO: UM ESTUDO
DE CASOS
O estudo de casos “A Mulher Empreendedora no Setor Agropecuário”
apresenta uma análise do comportamento feminino na atividade agropecuária,
focando a atuação de dez mulheres que possuem sob seu comando propriedades
rurais e que diretamente estão em contato diário com as atividades desenvolvidas
nas mesmas. Inicialmente é apresentada a caracterização dos dez casos
analisados, possibilitando ao leitor que tenha noção sobre qual o tipo de mulher em
discussão. Cinco dimensões foram trabalhadas: 1) a origem e visão; 2) o conceito de
si; 3) o trabalho como empreendedora; 4) a auto-avaliação em relação a alguns
termos; e por fim 5) a empresa - a fim de explicar o processo empreendedor não só
em relação ao papel de atuação como empreendedora agropecuarista, mas também
a forma como o trabalho é realizado e conduzido nas empresas rurais.
56
5.1 Apresentação dos casos
No quadro 7 são apresentadas algumas informações como idade, estado civil,
número e idade dos filhos, escolaridade, ocupação anterior e atual, que facilitarão no
entendimento de alguns dados da pesquisa no decorrer da análise.
Quadro 7: Perfil das Mulheres empreendedoras agropecuaristas
Caso
Idade
(anos)
Estado
civil
Formação Nº de
filhos
Idades
dos
filhos
(anos)
Ocupação
anterior
Descendência
E1
50 Casada Artes 3 30/26/24 Do lar;
Empresária
(sócia)
Espanhola e
Italiana
E2
58 Separada Ciência de
Alimentos
4 39/37/
36/29
Professora
Universitária
Espanhola e
Portuguesa
E3
63 Viúva Magistério 3 36/31/30 Professora Árabe
E4
61 Casada Arquitetura 3 43/40/34 Arquiteta Portuguesa e
Italiana
E5
54 Viúva Magistério 2 32/31 Do lar Italiana
E6
48 Viúva Letras 0 * Do lar Portuguesa
E7
46 Separada Matemática 3 25/24/18 Professora;
Administradora
Hospitalar
Espanhola
E8
48 Casada Colegial 2 23/21 Empresária Espanhola
E9
48 Viúva Pedagogia 3 30/28/25 Do lar Italiana e
Espanhola
E10
49 Separada Colegial 3 28/26/23 Professora Italiana e
Portuguesa
Dados relativos à idade das empreendedoras indicam que são mulheres cuja
idade varia de 46 a 63 anos. Seis agropecuaristas possuem idade concentrada na
faixa etária, abaixo de 50 anos, duas estão na faixa etária de 51 a 60 anos e outras
duas possuem idade acima de 60 anos. Na amostra escolhida é possível identificar
que das 10 mulheres selecionadas para a entrevista: 3 são casadas, 3 são
separadas e 4 são viúvas. O número de filhos varia de 0 a 4, porém verifica-se que
grande parte delas possuem em média três filhos, sendo exceção apenas E2 e E6
cuja quantidade corresponde respectivamente a 4 e 0.
Tais mulheres agropecuaristas são oriundas das etnias: espanhola, italiana,
portuguesa e árabe. Em todos os casos, a ocupação anterior não tem vínculo algum
57
com a atividade atual, considerando que em muitos casos quem gerenciava as
propriedades eram os pais, marido e/ou filhos.
Quanto à formação educacional, percebe-se que as agropecuaristas são
mulheres cuja formação se divide em: 1) nível secundário e 2) nível superior.
Nenhuma delas possui formação específica na área agropecuária, ou seja, não
freqüentaram cursos de Agronomia ou Veterinária, ou áreas afins. O conhecimento
que possuem da área está ligado a(o): 1) contato que tiveram desde cedo com a
terra (família); 2) convívio em fazendas; 3) realização de cursos específicos na área,
palestras; e 4) as experiências de outras pessoas que se dedicam à agropecuária.
São auxiliadas por: agrônomos, veterinários, advogados e contadores que possuem
uma visão mais técnica sobre o negócio. Em cinco casos, os filhos as auxiliam na
função de administrador, agrônomo ou veterinário, sendo que tal participação deve-
se à formação que possuem na área e/ou especialização na área rural.
Algumas das mulheres agropecuaristas passaram a atuar nas propriedades
junto com seus maridos e filhos em virtude do casamento. Em outros casos, pela
separação tiveram que dar continuidade aos negócios como forma de garantir renda
para manutenção dos filhos e de si própria e, por fim as que enviuvaram também se
viram diante da situação de assumir a posição do marido e dar continuidade aos
negócios. No grupo de agropecuaristas em estudo constatou-se que em três casos,
as mulheres adquiriram as propriedades por intermédio da compra.
A intenção da compra deveu-se em primeiro lugar, à necessidade de
concentração da propriedade em único lugar, a fim de melhorar o controle das
atividades evitando perda de tempo em idas e vindas às propriedades mais
distantes. Em segundo lugar, como forma de expansão, ou seja, como mecanismo
de diversificação das atividades (agricultura ou criação de gado) e, em terceiro lugar
como forma de manter-se em contato com o meio rural, uma vez que, sempre houve
este contato com a atividade, em virtude da própria criação ou atividade profissional
dos familiares.
5.2 Origem
58
A análise da origem da empreendedora constituiu-se da(o): existência de
empresários na família, modelo para atuação nos negócios, ocupação dos pais,
formação escolar e profissional, aprendizado, ocupação anterior, tempo de
permanência e ocupação atual (quadro 8) .
Quadro 8: Roteiro para análise da origem da empreendedora agropecuarista
Existência de empresários na família: pessoas que se dedicavam à atividade
empresarial.
Ocupação dos pais: tipo de atividade desenvolvida pelos pais.
Modelo para atuação nos negócios: pessoas que serviram como modelo de
atuação.
Formação escolar e profissional: Atuação como aluna / nível de escolaridade
/ cursos e especializações.
Ocupação anterior: tipo de atividade/tempo de permanência na atividade.
Ocupação atual: atividade desempenhada atualmente.
Existência de empresários na família e ocupação dos pais
Neste tópico, o interesse foi identificar a presença de empresários na família,
considerando que alguns “empreendedores nascem por influência do meio em que
vivem” (Dolabela, 1999b: 30) e que determinadas atitudes ou comportamentos nada
mais são do que o reflexo de uma convivência com certos grupos, que
inconscientemente podem influenciá-lo ou não diante de uma escolha de tipo de
vida. Entretanto, outro tipo de empreendedor pode ser encontrado, ou seja, aqueles
que em sua maioria, são donos dos seus negócios e, embora com pais ricos ou não,
“adquiriram sua riqueza por esforço próprio ou aumentaram significativamente o
patrimônio da família. Tiveram coragem de entrar em empreendimentos e
oportunidades comerciais que implicavam considerável risco” (Morais, 2000: 103).
Com o intuito de verificar se na família das mulheres agropecuaristas havia ou
não empresários, foi abordado a respeito da origem da empreendedora. Cada
agropecuarista expôs sua origem da seguinte forma:
59
E1: Sou de origem de uma família de pioneiros de Londrina (Pr), sempre me
envolvendo com o meio rural e de empresários também. Somos em três irmãos, dois
irmãos – o mais velho e o mais novo – eu sou a do meio. O mais velho trabalhou
com a área empresarial e hoje tem a parte de pecuária dele e o mais novo também.
Todos trabalhamos no mesmo ramo já. A pecuária continua porque herdamos de
nosso bisavô, então continuamos nesta linha mesmo. Atuamos nos transportes e no
meio rural.
E2: Meu pai era imigrante espanhol. Ele veio para cá muito pobre e começou a
trabalhar em fazenda (a família dele toda) de café em São Paulo (SP), depois se
enveredou para o comércio. Veio para o norte do Paraná e foi pioneiro, veio para cá
em 1936 e aqui ele começou com comércio e depois agropecuária. Assim foi durante
todo o resto da vida dele, trabalhando com comércio e agropecuária. A família de
minha mãe é de portugueses. Ela é brasileira, mas também sempre vivendo em
fazenda de café no estado de São Paulo. Veio para Londrina (Pr) em 1933. Os dois
eram pioneiros e se casaram em 1936. Minha mãe sempre acompanhou meu pai na
fazenda, nos trabalhos todos. Quando eles começaram em Ibiporã (Pr), eles
começaram com açougue onde matavam porco e faziam lingüiça, sem água e sem
luz.
E3: Meus pais são de origem árabe e sempre foram comerciantes. Meu marido
também sempre foi comerciante. A atividade principal era o comércio, mas depois
que meu marido faleceu eu preferi entrar para a agropecuária.
E4: Meu pai é advogado. Além do Direito passou a ser agricultor atuando em
fazenda de gado e de café também. A família de meu pai é praticamente toda de
intelectuais (professores, advogados, físico), todos estão mais voltados para o lado
intelectual e burocrático do que comercial.
E5: Meu pai foi empresário, tinha armazém de cereais em Londrina (Pr) e em São
Paulo (SP) em sociedade com os irmãos dele. Eram os maiores cerealistas de arroz
e feijão da região. Todos os meus tios por parte de pai faziam parte desta
sociedade. Por parte de minha mãe tinha tios empresários também – donos de
frigorífico e profissional liberal.
E6: Venho de uma família de agricultores/ fazendeiros. Meus avós eram fazendeiros
e meu pai assim como meu avô deu continuidade aos negócios. Meu pai era
advogado, mas trabalhava paralelamente com fazenda. Então praticamente eu nasci
60
no meio de agricultores e sempre tive contato com esta área. Temos profissionais
liberais na família, mas sempre atuamos com o lado de fazenda também (agricultura
e pecuária), uma coisa que sempre nos acompanhou.
E7: Sou de São Paulo (SP) nascida e criada lá. Minha família é toda bem urbana.
Meus avós é que trabalharam em fazenda, são espanhóis e vieram na época da
colonização. Trabalharam em fazenda de café, Catanduva - Estado de São Paulo, e
depois foram para São Paulo (SP) onde começaram a trabalhar em firma e se
esqueceram da parte rural.
E8: Eu sou a quarta filha de seis. Sou de uma família modesta. Meu pai sempre
trabalhou com agricultura não como proprietário, mas como administrador. Meus tios
são voltados mais para a parte de indústria. Em minha família a parte mais voltada
para a agricultura é a do meu marido, fora meu pai.
E9: Os meus tios vieram para esta região na época da colonização. Fizeram
agricultura assim como meus pais – foram fazendeiros na região de Maringá (Pr).
E10: Meu pai foi o primeiro radialista da cidade. Trabalhava com alto-falante no
calçadão e tinha uma loja que se chamava “Casa da Música”, onde vendia discos e
radiolas. Meu tio tem uma farmácia. Acho que foi a primeira de Londrina (Pr), é a
“Farmácia Central”. Está vivo e até hoje continua lá.
Baseando-se nos depoimentos de cada agropecuarista constatou-se que em
oito casos, havia a existência de empresários na família (bisavós, avós, pais e tios).
Em outro caso, o marido assumiu a posição de empresário, e em apenas um caso
não foi identificado nenhum empresário na família. A questão da ocupação dos pais
(quadro 9), também foi analisada a fim de identificar entre as agropecuaristas, quais
delas possuíam pais ligados com a atividade empresarial. Para este estudo o
empresário foi definido como, aquele que tem um negócio na área urbana
(empresário, comerciante, etc) ou na rural (agropecuarista).
61
Quadro 9: Ocupação dos pais das mulheres agropecuaristas
Caso Pai Mãe
E1 Empresário;
Agropecuarista
Empresária
E2
Comerciante;
Agropecuarista
Do lar
E3
Comerciante;
Agropecuarista
Do lar
E4
Advogado;
Agropecuarista
Do lar
E5
Cerealista;
Agropecuarista
Do lar
E6
Advogado;
Agropecuarista
Do lar;
Empresária
E7
Gráfico Enfermeira
E8
Usineiro Bibliotecária
E9
Empresário;
Agropecuarista
Do lar
E10 Comerciante Do lar
Entre os dez casos, foram identificados oito pais cuja ocupação era a
empresarial (empresário, comerciante, agropecuarista). Entretanto à maioria das
mães foi atribuída a ocupação doméstica, ou seja, a manutenção da casa e o
cuidado com os filhos e marido. Apenas em quatro casos a ocupação das mães não
foi exclusivamente a do lar. Tais resultados refletem a condição da mulher em uma
cultura onde prevalece o patriarcalismo, no qual o homem ainda é o responsável
pela manutenção do lar (financeira) e a mulher tem como ocupação exclusiva o
cuidado com a casa e filhos.
O caso E7 que não apresentou empresários na família foi confirmado através
da ocupação dos pais, tendo em vista que o pai ocupava-se da atividade gráfica e a
mãe da atividade como enfermeira. Apesar dos pais terem atuado na área rural, eles
não eram os donos do negócio, mas sim funcionários que em determinado momento
de suas vidas resolveram sair do campo e ir para o meio urbano atuar em outras
atividades. No caso E8, em que o marido é o empresário, constatou-se que os pais
da agropecuarista exerciam atividade profissional enquanto funcionários (usineiro e
bibliotecária) e não como empresários. Estes dois casos reforçam a questão do
modelo de atuação, tendo em vista que não são todas as pessoas oriundas de
famílias de empresários, ou seja, existe interferência de outras pessoas no processo
empreendedor, conforme é apresentado a seguir.
62
Modelo de atuação nos negócios
Na pesquisa com 10 (dez) mulheres agropecuaristas constatou-se que: 1)
cinco mulheres consideraram os pais como modelo; 2) uma, o sogro; 3) duas, um
empresário ou agropecuarista; 4) uma, o próprio marido; e 5) duas não mencionaram
nenhum modelo de atuação. Estes resultados vão ao encontro do pensamento de
Dolabela (1999b), que acredita que é o nível primário a principal fonte de formação
de empreendedores, podendo em algumas situações receber influências dos níveis
secundário e terciário também.
No caso das mulheres isto foi comprovado tendo em vista que das dez
entrevistadas, sete têm seus modelos a nível primário e apenas três baseiam-se no
nível secundário, ou seja, freqüentemente seus maiores exemplos de atuação
permaneceram entre as relações familiares. Foram os exemplos que tiveram em
casa que as orientaram para permanecerem ligadas à atividade agropecuarista, ou
seja, a oportunidade de terem pessoas inseridas na área rural contribuiu muito para
gostarem da atividade. A agropecuarista E1 resume bem esta idéia através de sua
fala:
Tenho como modelo de atuação os meus pais. Modelo de responsabilidade e
que sempre mantiveram os vínculos familiares também. Eu acho que é uma
das maiores heranças que eu herdei, e que quero passar para os meus filhos.
Formação escolar e profissional
Quanto à formação escolar e profissional, as mulheres agropecuaristas
entrevistadas apresentaram-se divididas em: a) nível secundário (magistério ou
colegial); e b) nível superior (Artes Plásticas, Bioquímica, Arquitetura, Letras,
Matemática ou Pedagogia). Nenhuma delas possui formação específica nos cursos
de Agronomia e/ou Veterinária, geralmente o que ocorre é que tais mulheres
recebem suporte técnico de profissionais especializados nas atividades, agrônomos
63
e/ou veterinários, que as auxiliam no controle do plantio e/ou criação de gado. Das
dez entrevistadas, apenas três buscaram especialização na área rural. Duas
optaram em fazer curso de especialização na área de Administração Rural e outra
especialização em Ciência de Alimentos. Contudo, todas elas buscaram e ainda
buscam orientação técnica através de cursos sobre atividades agropecuárias.
Ocupação anterior e atual
Tanto as mulheres com formação superior quanto as com nível secundário
dedicaram parte de suas vidas à atividade doméstica, ou seja, dedicaram de 10 a 20
anos aos cuidados da casa e dos filhos. Um outro aspecto a ser ressaltado diz
respeito à atuação no meio público. Dentre as mulheres que tinham uma atividade
anterior, quatro delas exerciam o papel de “professora” – profissão há muito tempo
atribuída à mulher perante a sociedade. Na verdade, isto reflete claramente todo um
conceito da época em que foram criadas e educadas, quando as atribuições da
mulher se restringiam aos cuidados com a casa, filhos e marido. Caso a mulher
quisesse estudar, o que lhe restava era estudar para ser professora e somente se
houvesse necessidade é que iria trabalhar.
Quadro 10: Ocupação anterior e atual das agropecuaristas
Caso Atividade Anterior Tempo de
permanência na
atividade anterior
Atividade Atual
E1
Do lar;
Empresária (sócia)
20 anos Empresária (sócia);
Agropecuarista
E2
Professora 2 anos Agropecuarista
E3
Professora 3 anos Administradora de
Imóveis;
Agropecuarista
E4
Arquiteta 11 anos Tabeliã;
Agropecuarista
E5
Do lar 17 anos Agropecuarista
E6
Do lar 20 anos Agropecuarista
E7
Professora;
Administradora
Hospitalar
10/12 anos
Agropecuarista
E8
Empresária 6 anos Agropecuarista
E9
Do lar 10/12 anos Empresária (sócia);
Agropecuarista
E10
Professora 3 anos Agropecuarista
64
Dentre as entrevistadas, quatro romperam esta barreira social e se
aventuraram por outros caminhos, assumindo os papéis de empresária, arquiteta e
administradora hospitalar. Outras, um pouco mais adiante é que assumem o controle
de outras atividades como é o caso de E3, que alterou sua ocupação de professora
para administradora de imóveis. Entretanto, quando se faz uma análise global da
situação das dez empreendedoras, verifica-se que todas elas passaram por um
processo de transformação, ou seja, devido a alguma circunstância em suas vidas,
assumiram o papel de agropecuaristas. Duas entrevistadas, que já exerciam a
atividade de empresária, continuaram a exercer tal atividade, apenas agregando
mais uma ocupação. Nenhuma delas anteriormente havia ocupado posição de
agropecuarista, a atuação nesta atividade foi resultado de um acontecimento que
ocorreu em suas vidas.
5.3 Visão
O intuito deste tópico é justamente identificar como ocorreu o processo
visionário da mulher empreendedora no setor agropecuário, apresentando como
surgiu a idéia de se tornar empreendedora, a forma como iniciou o negócio, o tipo de
recursos que foi utilizado, se houve planejamento em atuar no setor e por fim,
destacar as principais dificuldades encontradas nos primeiros tempos como
empreendedora.
Quadro 11: Roteiro para análise da visão da empreendedora agropecuarista
Idéia de ser tornar empreendedora: o que levou a se tornar empreendedora
Houve planejamento para atuar: a agropecuarista pensou muito antes de atuar neste negócio ou
já havia considerado a possibilidade.
Forma que iniciou o negócio: a atividade resultou de herança, compra, fundação, franquia,
outros.
Recursos utilizados: fora utilizado capital próprio, empréstimo familiar ou empréstimo bancário.
Primeiros tempos de empreendedora: como a atividade se desenvolveu? Quais foram as
dificuldades?
A idéia de se tornar empreendedora
65
Neste tópico buscou-se trabalhar a fim de avaliar os fatores que contribuíram
para que a mulher atuasse na atividade agropecuária. Ao se questionar sobre como
surgiu a idéia de se tornar uma empreendedora agropecuarista, cada entrevistada
resumiu sua idéia de atuação da seguinte forma:
E1: Eu acho que tudo é uma tendência. Desde menina eu gostava de acompanhar
meu pai na fazenda e esse meio rural sempre foi me envolvendo. Quando menina ia
para a fazenda e gostava de brincar, depois na adolescência gostava de participar
mais na área social e depois de casada eu achava importante levar meus filhos para
ter aquela vivência que eu tive e poder deixar aflorar aquele amor pela terra.
E2: Eu fazia parte de uma empresa familiar com meu pai e meus irmãos e meu ex-
marido trabalhava junto. Depois eu comecei a trabalhar em uma propriedade que era
só do meu ex-marido, onde eu aprendi as coisas básicas da atividade. Com a
separação eu passei a trabalhar em outra empresa familiar junto com meus filhos e
nós tocamos hoje esta empresa.
E3: Eu fiquei viúva de repente e me vi na condição de por o negócio para frente e
assumir. Daí eu fui à luta.
E4: Meu pai faleceu e eu recebi a propriedade como doação. Como meu marido é
preso ao cartório, tem que dar assistência constante e não podia sair, eu falei para
ele que eu e meu filho iríamos dar um jeito de tocar as propriedades e ele então nos
daria o apoio financeiro. Eu me sinto a tábua de salvação, pois se eu não assumisse
as propriedades, quem iria assumir?
E5: Isso veio através da minha separação. Não tão forte porque meu filho me ajudou
a tomar conta da fazenda e eu estava pensando que ele iria pegar mais e eu apenas
iria ajudá-lo. Mas com o falecimento de meu marido eu tive que assumir mesmo.
E6: Foi até uma imposição porque veio e eu tive que cuidar. É uma herança, uma
coisa que já era minha e eu tive que assumir o resto. Foi assim uma coisa meio
imposta, inesperada.
E7: A fazenda foi uma parte da nossa partilha no momento da separação. Como ele
era médico, ele ficou com os hospitais e eu fiquei com uma propriedade.
E8: Não foi bem que surgiu a idéia, foram as circunstâncias que me levaram a tornar
administradora das propriedades.
66
E9: Foi continuidade da vida. Nós já tínhamos propriedade agropecuária na época
em que eu fiquei sozinha e daí eu dei continuidade com isto.
E10: Foi quando me separei e fiquei com a fazenda para tomar conta.
Analisando os depoimentos das agropecuaristas percebe-se que todas elas
tiveram maior influência das relações primárias, considerando que todas as
propriedades são consideradas empresas familiares. E2 foi a única agropecuarista
que realmente estava inserida no meio, trabalhando constantemente na atividade e
cuja atuação não se resumia apenas as relações primárias, mas as secundárias e
terciárias. Os fatores que mais influenciaram as entrevistadas a atuar no setor
agropecuário estão relacionados com a: 1) Separação; 2) Viuvez; 3) Realização
Pessoal; 4) Morte dos pais; e 5) Necessidade de ocupação. Na verdade, muitas
delas procuraram dar continuidade ao negócio já existente e aprenderam sobre o
setor no dia-a-dia, ou seja, aprenderam fazendo.
Planejamento para atuar como empreendedora
Um outro ponto importante de ser tratado diz respeito ao planejamento para
atuação nos negócios, pois após se detectar uma oportunidade o passo seguinte
seria a elaboração de um plano de atuação. Para cada agropecuarista o
planejamento para atuar como empreendedora foi relatado como:
E1: Parece que tudo tem o seu tempo, as coisas foram acontecendo e eu fui
absorvendo. Existe momento de você deixar de pensar muito naquelas coisas
materiais, elos afetivos e começar a ser mais objetiva. O recomeço que às vezes é
muito difícil, mas é preciso ter coragem.
E2: Na verdade já existia um esquema que era de outra fazenda que já estava
organizada e informatizada. Então quando houve a separação desta empresa
familiar, houve uma separação de patrimônio e know-how. Nós trouxemos junto a
organização e inclusive alguns funcionários. Eu não precisei reinventar nada, eu
reestruturei a partir de um conhecimento que eu já tinha, inclusive a qualidade de
67
todo um cartel que havia sendo desenvolvida há muitos anos. Eu herdei isto também
e continuo com meus irmãos.
E3: Não deu tempo de pensar, eu tive que assumir imediatamente.
E4: Olha, quando meu pai nos deu a fazenda a princípio eu falei com meu filho e ele
falou: “Não, mamãe, venda”. Daí eu falei: “Não, no momento eu não penso em
vender. Se vocês quiserem me ajudar eu estarei feliz porque terei o apoio de vocês,
caso contrário eu farei sozinha”. Aí ele resolveu aderir e estamos juntos até hoje.
E5: Na propriedade eu tive que assumir imediatamente, não deu para pensar.
Quando eu vi já estava na fazenda junto com meu filho e depois no posto de
gasolina. Não entendia nada. Aprendi tudo na marra em pouco tempo.Mas quando
eu tinha 30 anos me deu uma crise, acho que a crise dos 30 anos. Deu vontade de
abrir um negócio. Meus filhos já estavam crescidos e eu pensava em alguma coisa
na cidade, eu queria uma loja de perfumes que sempre foi meu sonho. Mas meu
marido não admitiu, ele disse que com o dinheiro desta loja ele comprava gado. Eu
na época era submissa, criada à moda antiga me calei, mas sempre sofrendo muito.
Apesar do serviço em casa, eu tinha muito tempo ocioso, inútil e entrava em
parafusos com isso.
E6: Foi uma imposição até. Não foi assim: Eu vou ser uma empreendedora e tudo
bem.
E7: Não, nunca tinha pensado não. Como nós fomos para uma região agrícola onde
o forte era a parte agrícola, e ele começou a ganhar dinheiro como médico e a
região investe em agricultura – nós acabamos caindo no meio agrário meio sem
pensar. Nunca imaginei que esta fosse minha profissão real, ela foi surgindo
sozinha.
E8: Não, nós vínhamos pensando sim. Nós tínhamos paralelo ao mercado terras no
Mato Grosso, que nós pensávamos que em determinado momento o meu marido se
aposentaria e a gente realmente gostaria de tocar uma propriedade rural.
Principalmente ele, porque minha experiência era muito pequena. Então já era uma
coisa pensada e quando surgiu o dinheiro e a possibilidade de comprar esta
propriedade, nós fizemos.
E9: Eu sempre gostei. Isso vem um pouco por herança mesmo quando meus tios e
pai vieram para cá e tiveram esta atividade. Eu sempre tive este contato e quando
68
eu me casei foi que me afastei um pouco deste contato, mas em uma determinada
hora a gente começou com a atividade e foi quando eu enviuvei e assumi.
E10: Nunca pensei, nunca questionei. Apareceu, surgiu aquela situação: vamos
dividir ou não? E assim que dividiu, meu ex-marido escolheu a parte que ele queria
trabalhar e o que sobrou eu resolvi trabalhar, não questionei muito.
Analisando os depoimentos das agropecuaristas percebe-se que sete
agropecuaristas não haviam pensado na possibilidade de atuarem como
empreendedoras no setor. Isto demonstra a falta de preparo por parte de muitas
empresas familiares, que não se preocupam em fazer um plano de sucessão, ou
seja, deixar os futuros sucessores habilitados para desempenharem a função
enquanto dirigentes e/ou proprietários das empresas. Na pesquisa apenas três
agropecuaristas se preocuparam em planejar a atuação no setor, relacionando a
atuação com: 1) anteriormente ter atuado em outra empresa familiar; e 2) própria
realização pessoal de ter uma propriedade.
Forma que iniciou o negócio e recursos utilizados
A forma mais comum identificada neste trabalho ao que diz respeito ao início
do negócio, em nove casos deve-se em grande parte ao recebimento de herança.
Dentre estas nove agropecuaristas apenas duas atuam na atividade devido à
compra também, ou seja, buscaram concentrar as propriedades em um único local
ou optaram por expandir a quantidade de propriedades a fim de aumentar a
atividade agrícola ou pecuária. A única agropecuarista que realmente já tinha feito
planos para adquirir uma propriedade mesmo exercendo outra atividade paralela foi
a E8. A decisão por atuar neste setor mesmo sendo responsável por outro negócio
está relacionada mais com a questão de satisfação pessoal e afinidade com o setor.
Outro aspecto importante a ser ressaltado diz respeito à fonte de recursos
financeiros utilizados para a abertura do negócio. Neste ponto, verifica-se que todas
as entrevistadas utilizaram-se de recursos próprios para conduzir a abertura do
negócio, tendo em vista que tais mulheres pertencem a uma classe social mais
elevada e cujas famílias possuem condições financeiras suficientes para se
69
sustentar. Apenas no caso E4 foi mencionada a utilização de empréstimos
bancários, uma vez que, os recursos que possuía na época não eram suficientes
para fazer um investimento adequado na propriedade que recebera como herança.
Primeiros tempos como empreendedora
O intuito de se trabalhar com os primeiros tempos como empreendedora foi
de identificar quais as dificuldades encontradas pelas mulheres agropecuaristas
durante a atuação neste setor. Os fatores ressaltados pelas agropecuaristas dizem
respeito a: 1) Estruturar a parte física da propriedade; 2) Convencer os funcionários
a trabalharem de acordo com os objetivos propostos; 3) Falta de segurança,
principalmente por atuar em outro país; 4) Falta de conhecimento e experiência na
área; 5) Queda do preço de certos produtos; 6) Presença de certos funcionários que
impediam o crescimento das atividades na propriedade; 7) Interferência do fator
emocional - viuvez, separação; 8) Dificuldade no relacionamento com os
funcionários; 9) Falta de pessoas que a auxiliassem na condução dos negócios
(filhos, marido); 10) Deslocar um dos filhos para assumir a gerência da propriedade;
11) Muito conhecimento sobre a teoria e pouco na prática; 12) Falta de
infra-estrutura básica de moradia para os funcionários; 13) Falta de criatividade dos
funcionários; 14) Tentativa de expressar tudo que era feito em números; 15)
Estabelecimento de carga horária de trabalho; e 16) Práticas de trabalho, ou seja,
não deixar crianças trabalharem.
A dificuldade em se estabelecer uma carga horária de trabalho, citada por
E10 baseia-se na afirmação de que a atividade rural diferencia-se da urbana, tendo
em vista que ao estar no campo você tem que trabalhar no momento que é
necessário sem levar muito em consideração dia da semana e horário, ou seja, se
você tem que plantar ou colher não importa se é domingo ou feriado, se é dia ou
noite, mas sim que o trabalho tem que ser feito dentro das condições favoráveis do
tempo.
70
5.4 Conceito de Si
Na análise do conceito de si, buscou-se identificar como a mulher
empreendedora do setor agropecuário se vê como pessoa, apresentando assim,
suas características pessoais mais importantes e seus valores terminais, que podem
influenciar na condução e sucesso dos negócios.
Quadro 12: Roteiro para análise do conceito de si da empreendedora
agropecuarista
Características pessoais: as características pessoais mais importantes para a sua empresa
Valores terminais: valores terminais mais importantes (vida confortável, mundo excitante,
senso de realização, mundo de beleza, igualdade, segurança da família, liberdade, felicidade,
harmonia interior, maturidade no amor, segurança nacional, prazer, salvação, amizade
verdadeira, sabedoria, reconhecimento social, auto respeito, ...)
Características pessoais
O intuito de se resgatar as características pessoais de cada agropecuarista é
justamente identificar como ela se vê e se descreve enquanto pessoa, levando em
consideração características de personalidade que auxiliam na direção dos
negócios. A seguir é possível visualizar como cada uma das agrocupecuaristas se
auto-avaliou:
E1: Eu me vejo como uma pessoa muito calma de temperamento e ao mesmo
tempo persistente. Mas ao mesmo tempo percebo que tem algumas coisas que me
tiram do sério. Eu tenho um temperamento no íntimo muito forte, mas eu procuro me
controlar porque a gente precisa ter muita sabedoria para viver.
E2: Eu sou uma pessoa extremamente honesta, muito franca e absolutamente não
falo mentira. Acho que sou uma pessoa confiável. Tenho uma enorme energia e
grande capacidade para o trabalho. Sou autoritária, o que me leva a entrar em atrito
algumas vezes.
E3: Me considero uma pessoa otimista, com garra e um pouco líder, por já ter sido
convidada a participar de algumas associações.
71
E4: Eu gosto de coisas certas e corretas. Gosto de trabalhar tranqüila e para
trabalhar tranqüila e em paz você deve estar dentro daquilo que é correto.
E5: Eu me vejo como uma lutadora, eu não desisto. Às vezes eu me vejo lá
embaixo, derrubada.
E6: Eu me vejo uma pessoa firme, decidida e quando eu quero uma coisa eu sou
muito objetiva e vou atrás. Tenho inseguranças, é lógico, e às vezes fico apreensiva.
Tenho muitos amigos, me relaciono facilmente com as pessoas, entretanto, não sou
muito de me envolver. Sou mais aberta para as pessoas virem. Se precisar de
qualquer coisa, converso, dou atenção, mas eu não sou muito aberta com minhas
coisas pessoais.
E7: Me sinto uma vencedora porque enfrentei bastante coisa na vida, nunca fugi
delas. Determinada e organizada, dentro do possível. Não sou autoritária, mas gosto
das coisas dentro de uma técnica. Considero-me uma boa empresária dentro da
minha atividade.
E8: Sou bastante ambiciosa, determinada. Traço uma determinada meta e sigo.
E9: Sou uma pessoa bastante determinada, resolvida e organizada. Eu me sinto
realizada com isto.
E10: Uma coisa marcante que os outros falam que eu tenho é a coragem. Eu não
tenho, ou, eu não busco ter medo de mudar.
Neste estudo de casos, as características de personalidade identificadas nas
empreendedoras agropecuaristas podem ser visualizadas no quadro 13:
72
Quadro 13: Características de personalidade na auto-avaliação das
empreendedoras agropecuaristas
1. Calma 11. Correta
2. Persistente, perseverante 12. Lutadora, guerreira
3. Honesta 13. Firme
4. Franca 14. Decidida, determinada
5. Verdadeira 15. Objetiva
6. Confiável 16. Aberta ao diálogo
7. Enérgica 17. Vencedora
8. Autoritária 18. Organizada
9. Otimista 19. Ambiciosa
10. Líder 20. Corajosa
Analisando as características identificadas nas empreendedoras
agropecuaristas é possível constatar que tais características de personalidade
identificam-se com algumas das encontradas por Timmons (1994) e Hornaday
(1982) em relação ao otimismo, a energia e a liderança (apud Dolabela, 1999b: 37-
38), e com algumas das características apresentadas por Maerker (2000) no quadro
14 – perseverança, guerreira e líder. Entretanto diferem dos encontrados por
Machado (2000: 33), cujas características destacadas foram: a intuição, a agilidade,
a ousadia e a praticidade.
Quadro14: Características de personalidade consideradas importante nos dias
atuais
1) Visionária;
2) Perseverante;
3) Sensível (intuição);
4) Comunicativa;
5) Intelectual;
6) Estrategista;
7) Guerreira;
8) Líder;
9) Flexível;
10) Empreendedora;
11) Solidária;
12) Diplomata;
13) Elegante;
14) Ética;
15) Polivalente.
Fonte: Adaptado de Maerker (2000).
Valores Terminais
73
Ao se abordar sobre a questão dos valores pretendeu-se identificar como tais
valores orientam o comportamento e modo de ser das pessoas, ou seja, a maneira
pelas quais pensam, agem e sentem. Normalmente a própria maneira de ser do
indivíduo é a responsável por seus valores e forma de julgamento. Observe no
quadro 15 os valores terminais apresentados pelas agropecuaristas:
Quadro 15: Valores terminais destacados pelas mulheres agropecuaristas
Caso E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10
Senso de realização X X X
Mundo de paz X X
Segurança familiar X X X XXXXX
Liberdade X
Saúde X X
Harmonia interior X X X X
Maturidade no amor X
Trabalho/ Negócio X X X X
Deus X X
Neste estudo as agropecuaristas destacaram com principal valor terminal a
segurança familiar, ou seja, existe grande preocupação com a família. Em segundo
lugar, foram destacados a harmonia interior e o trabalho ou negócio, e em terceiro
lugar o senso de realização. Esta pesquisa apresentou resultados diferentes da
realizada por Solomon & Fernald, onde as mulheres valorizaram mais: 1) Saúde, 2)
Auto-respeito, 3) Segurança familiar, 4) Liberdade e 5) Senso de realização (apud
Machado, 2000: 22). Entretanto vai ao encontro da pesquisa realizada por Machado
(2000) com dirigentes de pequenas empresas no Paraná, onde a classificação dos
valores se restringe a: 1) Segurança familiar, 2) Felicidade, 3) sabedoria e 4) Auto-
respeito. É importante acrescentar que por parte das empreendedoras
agropecuaristas existe muita preocupação em manter a estrutura familiar, isto é,
tanto o lado financeiro quanto o afetivo. E para que as atividades sejam
desenvolvidas com êxito, a harmonia interior e com a própria família contribui muito
para que tudo vá caminhando de acordo com os objetivos pretendidos.
74
5.5 O Trabalho como Empreendedora
Na análise do trabalho como empreendedora buscou-se analisar em quais
atividades a agropecuarista está mais envolvida e o modo como executa seu
trabalho. Entretanto para melhor compreensão, o trabalho na empresa foi
subdividido em: área de atuação, rotina, delegação de poder, parceria no negócio,
participação em outra atividade, a ajuda de filhos e secretária(o), controle de
informações, horas trabalhadas, férias, aposentadoria, estilo de gerenciamento e
prazer no processo de empreender.
Quadro 16: Roteiro para análise do trabalho como empreendedora
Área de atuação: as áreas onde mais se concentra.
Rotina: existe ou não envolvimento com a rotina das atividades.
Delegação de poder: atribui a cada indivíduo responsabilidade.
Parceria no negócio: existe ou não parceiros no negócio (membros da família,
funcionários,...).
Participação em outra atividade: desenvolve outra atividade além da agropecuária.
Ajuda de filhos e secretária (o): trabalha com o auxílio dos filhos; possui secretária(o) que
a auxilie.
Controle de informações: como é realizado o controle das informações que acontece na
propriedade.
Horas trabalhadas: qual o tempo destinado para o desenvolvimento das atividades.
Férias: a freqüência com que se ausenta das atividades agropecuárias.
Aposentadoria: como encara o aspecto de aposentar-se.
Estilo de gerenciamento: estilo utilizado para gerenciar a atividade e diferencial desde o
início da atividade.
Prazer no processo de empreender: o que lhe dá mais prazer no processo de
empreender.
No quadro 17, as informações obtidas junto às entrevistadas foram resumidas
a fim de possibilitar com que o leitor tenha uma visão globalizada do trabalho
desempenhado pela agropecuarista em sua propriedade.
Quadro 17: O trabalho na empresa das mulheres agropecuaristas
Caso Área de
maior
Se
envolve
Número
de
Delega
poder
Parceiros
no
Outro
negócio
Possui
secretária (o)
75
atuação com a
rotina
pessoas
reportadas
negócio
E1
Adm Sim 20 Sim Sim Sim Sim
E2
Adm Sim 20/25 Sim Sim Sim Sim
E3
Adm Sim 18/30 Sim Sim Sim Sim
E4
Adm Sim 5 Sim Sim Sim Não
E5
Adm Sim 5 Sim Sim Não Não
E6
Adm Sim 14 Sim Sim Não Sim
E7
Adm Sim 4 Sim Sim Não Não
E8
Adm Sim 6 Sim Sim Não Não
E9
Adm Sim 6 Sim Sim Sim Sim
E10
Adm Sim 2 Sim Não Não Não
Legenda: Adm = Administrativa.
A seguir serão apresentadas de forma mais detalhada, cada um dos tópicos
do quadro 16.
Área de atuação, rotina e parceria no negócio
Por intermédio das entrevistas foi possível identificar em qual(is) área(s) as
mulheres agropecuaristas estão mais envolvidas, assim como a importância que é
atribuída a atividade desempenhada pela agropecuarista dentro das propriedades.
E1: Na propriedade é mais um trabalho de formiguinha, que às vezes não está
escrito. Não tem um título o que eu faço, mas eu tenho consciência que é muito
importante o que eu faço. Como a dona da fazenda, a parte feminina hoje é muito
atuante e eu em relação aos funcionários tenho um certo conceito. A parte que me
cabe é passar confiança, credibilidade e equilíbrio – esta parte maternal que eu acho
muito importante – afinal você está lidando com pessoas.
E2: Trabalho na área administrativa da qual eu não gosto por ser aquela coisa mais
rotineira. Gosto muito de lidar na fazenda, mais na agricultura do que na pecuária
embora seja uma atividade que a gente faça em menor escala. Acho que sou uma
agricultora nata, gosto de plantar, ver crescer e colher.
76
E3: Trabalho na área administrativa, controlando a parte de pecuária mais do que a
agricultura.
E4: A minha função na propriedade é mantê-la em ordem. Não gosto de nada caído,
despencando, então esta parte de manutenção é por minha conta (erosão e
vegetação).
E5: Eu gosto mais do gado e gosto do que faço. Trabalho com leite e com a criação
de gado também. Eu sou uma criadora. Não sei se é meu instinto maternal, mas eu
adoro mexer com minhas vacas e bezerros.
E6: Meu trabalho é na administração, no gerenciamento. Eu fiscalizo tudo, faço as
compras de gado, as compras, as vendas, vou à fazenda e olho o serviço.
E7: Eu trabalho com o gerenciamento da propriedade, a administração. Eu gosto de
fazer compras e vendas, ou seja, da comercialização e do planejamento.
E8: Eu sou a administradora da fazenda. Gosto muito do trabalho a campo, da parte
prática da atividade, mas até por uma série de circunstâncias eu tenho que abranger
outras também. Mas na verdade, eu gosto de lidar na leiteria (sala de ordenha). É
parte prática do trabalho que eu mais gosto.
E9: Eu agora hoje estou mais na organização dos projetos, na elaboração disto e o
campo eu tenho dividido com meu filho. Não deixo de estar gerenciando com ele
todos os aspectos. A área que eu gosto muito é da genética porque você procura os
embriões e depois de períodos você vê ali o resultado.
E10: Em tudo, pois sou a proprietária, a gerente, a administradora. Eu atuo em tudo.
Tendo como base, as informações do quadro 17 e os depoimentos de cada
mulher agropecuaristas, constata-se que todas elas atuam mais na área
administrativa, o que significa que estão no comando dos negócios, gerenciando
todas as atividades que acontecem nas propriedades. O trabalho mais pesado
geralmente é executado por funcionários, cujo número é variável em cada caso
estudado.
Todas as mulheres empreendedoras agropecuaristas procuram manter
contato com a rotina do dia-a-dia da(s) propriedade(s). Este contato geralmente é
feito através de presença contínua e interação sobre o tipo de atividades que estão
sendo desenvolvidas na propriedade. Outro aspecto importante de ser ressaltado é
77
que dentre as agropecuaristas, existem aquelas que: a) permanecem durante a
semana na propriedade e retornam à cidade no final de semana; b) vai e volta quase
todos os dias devido à proximidade das propriedades; c) algumas vezes por semana
vão até a propriedade para se interar do que está acontecendo, permanecendo
alguns dias lá e depois retornam. Todas as agropecuaristas apresentaram, durante
as entrevistas, preocupação em se manter informadas do que ocorre em sua
propriedade, uma vez que, ressaltaram a importância da presença física e o controle
de informações.
Dos dez casos, nove deles possuem parceiros no negócio, ou seja, estes
parceiros são os próprios membros da família, funcionários e/ou cooperativas. No
caso E10 não se atribuiu parceria ao negócio, tal resposta vem de encontro ao
período de transição
6
pelo qual a propriedade está passando. Entretanto, E10 já tem
firmado um contrato de 10 anos com uma cooperativa para o plantio de cana em
parte de sua propriedade, tendo em vista que ainda não tem em mente a qual
atividade irá se dedicar daqui para frente.
6
A agropecuarista E10 está fazendo uma análise sobre qual tipo de atividade é mais viável para ser
desenvolvida em sua propriedade.
78
Participação em outra atividade, delegação de poder e ajuda dos filhos
Em cinco casos, a atividade desenvolvida é tida como ocupação exclusiva por
parte da agropecuarista, ao passo que, em outros cinco casos a mulher
agropecuarista divide esta ocupação com outra, sendo membro (sócia/proprietária)
de algumas empresas.
Percebeu-se que todas as agropecuaristas procuram delegar poder,
considerando que as atividades são distribuídas e cada indivíduo é responsável por
determinado tipo de tarefa, ou seja, cada funcionário tem a responsabilidade de se
preocupar em desempenhar bem o papel que lhe é destinado.
Devido ao fluxo de tarefas a serem executadas, cinco das agropecuaristas
optaram em contar com o auxílio de um(a) secretário(a), a fim de, se manterem mais
atualizadas sobre o que ocorre na(s) propriedade(s) quando não estão
pessoalmente lá. Outras cinco agropecuaristas optaram por não utilizar os serviços
de secretária, uma vez que têm seus próprios filhos responsáveis por esta parte ou
porque diariamente estão lá para estar a par do que está acontecendo na
propriedade. Nos casos E1, E2, E3, E4 e E9, os filhos auxiliam suas mães
desempenhando as funções de administrador, agrônomo ou veterinário, devido à
própria formação que possuem na área e/ou especialização na área rural.
Controle de informações
A abordagem sobre a obtenção de informação visa identificar o processo pela
qual a empreendedora se mantém informada do que está ocorrendo na propriedade
e como é que ela faz para manter o controle das atividades que estão sendo
desenvolvidas na fazenda.
E1: Eu tenho ficado na fazenda durante 15 dias depois retorno para a cidade e vou
me reinteirando sobre o que está acontecendo na empresa. Quando estou na cidade
fico como que teleguiando o que está acontecendo lá, apesar de ter o apoio do filho
que passa a semana lá e retorna na sexta-feira ou no sábado. Nós vamos ao final de
79
semana e meu filho passa quatro dias se relacionando com a parte de vendas e com
a rotina do dia-a-dia.
E2: No dia-a-dia é por telefone. Eu ligo e por telefone obtenho informações de quais
atividades estão sendo desenvolvidas na Fazenda do Mato Grosso – por ser algo
mais rotineiro, pessoal mais de campo, eu não tenho tanto problemas. No Paraná
onde é um gado puro é necessário ter mais cuidados, controle e atenção. Também
tem a agricultura que exige um envolvimento maior no decorrer do ano agrícola,
onde você sempre tem que estar preparando a terra. Por isso é que eu acompanho
por telefone
E3: Sempre telefono e também tenho relatórios, balancetes, mapas de gado que
meu secretário faz para mim. Agora meu secretário está indo para uma fazenda uma
semana sim e outra não para me trazer as informações também.
E4: Nós sempre estamos lá – uma ou duas vezes por mês - sempre estamos à
frente de tudo além de contar com o meu administrador.
E5: Eu tomo conhecimento porque vou todo dia praticamente à propriedade. Marco
tudo o que estou fazendo, o que está acontecendo porque senão eu me perco
também.
E6: Para obter as informações eu vou em locus para ver o que está acontecendo e
participar. Uma vez por semana eu vou às fazendas aqui perto, cada dia uma. Na
fazenda de Cascavel (Pr) eu vou a cada 20 dias e no Mato Grosso (MT) eu vou a
cada 2 meses. Fora isto o meu funcionário vai sozinho e eu vou sabendo o que está
acontecendo lá, geralmente por telefone e depois pessoalmente.
E7: Quando não estou lá, controlo principalmente por telefone.
E8: Primeiro, eu fico muito na propriedade e geralmente eu tomo conhecimento das
coisas na hora em que está acontecendo. No final de semana ou quando eu tiro
férias ou coisa assim nós temos um caderno (diário da propriedade) onde estão
todas as anotações. E uma outra coisa, nós temos com estes funcionários
responsáveis uma reunião de fechamento para discutir e debater o que foi feito ou
não.
E9: Na propriedade mais distante o contato é feito via rádio, telefone, sistema de
comunicação. O controle das atividades é feito por contato com nosso gerente que
administra todas as fazendas e nos passa as informações
80
E10: Quando não estou na propriedade eu ligo. Quando saio da propriedade deixo
uma lista de atividades a serem feitas e depois só vou averiguar se foram cumpridas.
Analisando o relato de cada agropecuarista é possível afirmar que o controle
das informações referentes às atividades que estão sendo e/ou vão ser
desenvolvidas nas propriedades é feito por intermédio de quatro mecanismos: 1)
Presença física; 2) Telefone ou outro meio de comunicação; 3) Administrador,
gerente; e 4) Formulários de controles (balancetes e relatórios). Na verdade, as
agropecuaristas procuram monitar o funcionamento das atividades, sem
necessariamente utilizar-se de força física para atingir os resultados. Isto é uma das
muitas atitudes dos empreendedores e que podem ser atribuídas às
agropecuaristas.
Horas trabalhadas, férias e aposentadoria
É importante destacar que a quantidade de horas utilizadas para a execução
de atividades na propriedade rural diferencia-se da atividade urbana, tendo em vista
que, não existe um horário específico para desenvolver as tarefas. Neste tipo de
atividade, o indivíduo precisa seguir as condições metereológicas, ou seja, se as
condições climáticas estão propícias para o plantio ou colheita, é necessário fazê-lo
sem se importar muito com horários. As agropecuaristas E1 e E7 destacam a
necessidade de acompanhar o horário que os funcionários trabalham:
Eu acho que quando a gente convive na fazenda, a gente segue o ritmo de lá.
Tem que acordar mais cedo, ver o que está precisando para dar aquele
enfoque para atingir os objetivos. (E1)
Quando eu estou lá, eu acabo me envolvendo muito com o trabalho. Na
leiteria, por exemplo, o trabalho começa às 5 horas da manhã e acaba às 8
horas da noite. Eu procuro sempre estar com os funcionários pelo menos
nestes dois horários mais críticos, que são as primeiras horas do dia e as
últimas. O trabalho é bastante. O agricultor não tem muito feriado, sábado e
81
domingo, quando é época de plantio você tem que plantar sábado, domingo e
feriado - se for o caso. (E7)
No depoimento de E6 comprova-se a necessidade de se trabalhar em dias
fora da semana e a sobrecarga que existe em determinados dias mesmo estando no
escritório:
Eu trabalho a hora que precisar, não tem sábado. Se precisar ir ao sábado
para a fazenda e ficar trabalhando, eu vou. Se precisar ir ao domingo, eu vou.
Eu não tenho um horário fixo. Eu trabalho na hora que precisar. Normalmente
eu fico aqui no escritório de manhã e a tarde quando eu estou em Londrina
(Pr) tem muita coisa para resolver o dia inteiro.(E6)
Em todos os casos estudados a quantidade de horas trabalhadas
mencionadas pelas agropecuaristas segue o ritmo da fazenda, ou seja, se é
necessário começar às cinco horas da manhã e encerrar as dez da noite, elas estão
lá até o fim. E se é preciso trabalhar aos sábados, domingos ou feriados por uma
questão de aproveitamento do clima (plantio, colheita), lá estão elas prontas para
acompanhar as atividades. Isto demonstra claramente que a quantidade de horas
destinadas à realização do trabalho rural é muito variável, pois existem dias ou
períodos que se trabalha de sol a sol e outros em que o ritmo de trabalho tende a
diminuir, até mesmo por condições climáticas e períodos de plantio ou colheita.
Apenas três agropecuaristas destacaram que trabalham de 6 a 8 horas no escritório
quando permanecem na cidade, isto se deve a presença diária do filho e/ou gerente
nas propriedades que monitoram as atividades, entretanto quando estão na
propriedade buscam acompanhar as atividades de perto.
Ao se questionar sobre férias, as mulheres empreendedoras agropecuaristas
as expuseram da seguinte maneira:
E1: De vez em quando a gente precisa tirar umas férias. Eu acho que sei conciliar o
dia-a-dia com um pouco de lazer também. Acho que é importante isso. Não ficar
82
esperando muito por umas férias, mas sim aprender a ter qualidade de vida, porque
com o mundo moderno é muito importante isso.
E2: Eventualmente tiro. Não tem especificamente datas, geralmente são datas em
que tenho menos trabalho (fora de temporada, depois da exposição).
E3: Tiro férias de vez em quando. Vou visitar minha filha que mora no exterior.
E4: Nós tiramos férias em abril. É o mês que o meu marido pode sair. Nós temos
que dar férias para os funcionários que têm filhos na escola, em janeiro. Então nós
podemos sair depois de fevereiro.
E5: Eu tiro, mas não é todo ano não.
E6: Eu tiro férias. Não digo que agora eu vou sair um mês. Eu tiro férias assim, às
vezes eu tiro uma semana, pois não dá para sair muito. As coisas ficam
desorganizadas e quando eu chego, a minha mesa está enorme, cheia de coisa
para resolver.
E7: Tiro, mas sem época específica, uns 7 ou 15 dias.
E8: Tiro, mas não tem muita data não.
E9: Tiro uma vez por ano quando meu marido tira.
E10: Tiro e isto é sagrado. Tiro 15 ou 20 dias de férias, meio que aleatório.
Analisando os depoimentos de cada agropecuaristas concluiu-se que todas
elas procuram tirar uns dias de férias; entretanto, percebe-se que procuram conciliar
suas férias com as dos funcionários. Quando saem, buscam não permanecer muitos
dias longe das atividades agropecuárias. Com exceção das agropecuaristas E2 e E3
que têm datas pré-estabelecidas, as demais saem da rotina meio que
aleatoriamente.
Em relação às mulheres empreendedoras do setor agropecuário verificou-se
que dentre as dez entrevistadas, apenas E8 apresentou sua disposição em se
aposentar ao passo que as outras nove afirmaram não pensarem sobre isto. Em
relação a pensar em se aposentar, cada agropecuarista apresenta sua versão:
E1: A minha meta não é muita esperança na aposentadoria não. As coisas parecem
que vão ficando mais difíceis, o tempo da gente já não rende tanto então é
83
importante fazer e, estar construindo sempre. A gente tem que estar muito animado
com estes objetivos aí. O importante é sempre estar em ação.
E2: No momento ainda não penso em me aposentar. Cada vez que me aproximo de
uma idade mais avançada, menos eu penso em me aposentar. Acho que é medo de
morrer.
E3: Não acho bom me aposentar. Não gostaria, acho que ficaria doente.
E4: É um aposentar fictício porque você pode se aposentar para ser remunerada ou
porque a lei exige, mas na realidade você continua na atividade. Trabalhando mais
ou da mesma maneira que antes.
E5: Não penso em me aposentar e não tem como isto. Acho que meus filhos vão me
aposentar na marra. Acho que vou tocar até não ter como. Talvez eu diminua o
ritmo.
E6: Eu acho terrível a aposentadoria. Eu acho que trabalhar é a melhor coisa.
Trabalhar é melhor.
E7: Não, acho que não. Primeiro por até agora não estou pagando nada de
aposentadoria, agora é que fui me alertar para isto e meu contador vai ver o quê eu
preciso fazer. Eu vou começar a pagar, mas eu não quero parar de trabalhar não.
Acho que o que me mantém viva até hoje é o trabalho.
E8: Eu acho que sim. Eu nunca pensei nisto.
E9: Não penso em me aposentar, nem pensei nisto ainda. A gente tem que estar
preparado para a aposentadoria, tem que estar preparado para envelhecer. Vou
continuar atuando até “sair desta para melhor”, este é meu objetivo.
E10: Não penso em me aposentar. Acho que isso que fiz é quase uma
aposentadoria. Agora que minhas filhas já estão casadas, independentes e meu filho
já está trabalhando e estudando, eu não tenho mais que me preocupar com
sobrevivência. Acho que tudo isso contribuiu para que eu fizesse parceria com a
cooperativa. Eles até comentaram: isto é uma boa aposentadoria.
Em relação à aposentadoria verifica-se que grande parte das mulheres
empreendedoras agropecuaristas não se preocupa muito em se aposentar. Este
posicionamento em relação a aposentadoria pode estar relacionado com a faixa
etária deste grupo de mulheres agropecuaristas. Na verdade estas mulheres buscam
no meio agropecuário um lugar para realização pessoal e descanso, ou seja, para
84
elas, estar em contato com a terra ou animais têm um significado muito especial que
é o de estar trabalhando em um setor de identificação pessoal. Geralmente quando
pensam em aposentadoria percebem que ela acarreta certa privação em
relacionar-se com as atividades e que as deixam muito próximas da morte.
Entretanto E4 e E7 ressaltam que o ato de se aposentar é uma exigência por lei,
entretanto se trabalha da mesma forma que antes ou até mais. O trabalho é
encarado como uma fonte de vida, um incentivo para continuar caminhando. Outro
ponto destacado por E9 diz respeito a estar preparada para a aposentadoria e
envelhecimento, sem deixar de lado o trabalho. A agropecuarista E10 considera a
parceria com uma cooperativa de cana-de-açúcar como um bom rendimento, ou
seja, uma boa aposentadoria, tendo em vista que este recurso é para uso próprio e
não dos familiares.
85
Estilo de gerenciamento e prazer no processo de empreender
Ao se trabalhar com o estilo de gerenciamento, buscou-se identificar o
comportamento da mulher agropecuarista na condução das atividades de sua
propriedade. A seguir é possível visualizar como cada uma expôs seu modo de
gerenciamento:
E1: A gente fica muito com o pé no chão e não tão consumista. Você fica muito
amadurecida. São valores que se aprende e que são impossíveis de serem
negados. No trabalho com a terra é importante que você tenha percepção para que
você vá lá e busque o que é a realidade, as dificuldades e saiba perceber a
qualidade de vida.
E2: Com certeza eu me capacitei mais e a medida que a gente se capacita mais a
gente muda. Eu mudei também por causa da experiência adquirida. A gente
aprendeu muitas coisas com os erros e buscou solucioná-lo de alguma forma ou
com uma técnica. A tecnologia é uma coisa que eu tenho procurado fazer e eu
mudei.
E3: Gerencio diferente porque meu filho entrou para me ajudar e daí ele passou a
ajudar na administração do negócio fazendo um planejamento de trabalho,
financeiro, de compra e venda, de investimentos além de auxiliar na contratação de
funcionários.
E4: Eu amadureci um pouco mais, é diferente de quando você entra no negócio.
Hoje por exemplo eu participei de várias palestras excelentes, fiz viagens, ...
E5: Eu era medrosa, insegura, tímida para me dirigir a um empregado porque não
tinha segurança sobre tudo aquilo lá e não entendia nada. Eu tinha muito medo, mas
eu aprendi muito com meu empregado que ficou lá por cinco anos e busquei
também me abrir mais. Fui atrás para não dar bola fora e não errar. Participei da
Associação de Mulheres de Negócio, onde aprendi bastante através dos cursos e
palestras e também pela Sociedade Rural do Paraná.
E6: Hoje eu tenho mais facilidade para lidar com os negócios, às vezes eu até me
surpreendo. Eu acho que eu era muito boazinha, conversava, apaziguava as coisas.
Eu acho que mudei muito nisto, eu não sou tão boazinha. Me considero às vezes
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meio dura porque você não pode ser boazinha, você tem que enfrentar a situação e
ser firme.
E7: Meu estilo de gerenciamento mudou completamente em tudo, porque no
começo eu não tinha nenhum conhecimento. Eu fiquei com esta propriedade na
separação e lidava com ela, como se ela não precisasse de mim, como que as
coisas fossem milagres.
E8: Mudou bastante, principalmente neste aspecto de motivação, de trabalhar em
equipe. No começo eu me perdia bastante porque eu achava que se eu
determinasse as coisas elas aconteceriam, elas seriam feitas e não é bem assim.
Não é o determinar, mas o fazer junto.
E9: A gente tem feito mudanças para crescer e buscado ser flexível a estas
mudanças, aceitando o direcionamento que os filhos tem dado, isto é, a utilização de
técnicas uma vez que, eles têm uma formação melhor do que a minha.
E10: Vem mudado sempre, nunca é igual. Mas a preservação da mata, da água,
floresta é tudo uma coisa que permanece comigo desde o começo. Não sei de onde
que veio, mas era uma preocupação que eu tinha e que eu não tinha tempo para me
dedicar a isto.
De acordo com os depoimentos das agropecuaristas pode-se classificar os
estilos de gerenciamento em 8 níveis: 1)Melhoria Contínua; 2) Firmeza para conduzir
os negócios; 3) Utilização da percepção; 4) Bom relacionamento com os
funcionários; 5) Baseado no conhecimento; 6) Trabalho em equipe; 7) Utilização de
técnicas; e 8) Preservação do meio ambiente. Todas elas modificaram seu estilo de
gerenciamento desde o início de atividades, considerando que foram necessárias
algumas adaptações e adequações a desempenharem a atividade agropecuária,
tendo em vista que, era uma atividade totalmente nova para todas elas.
Tais agropecuaristas procuraram introduzir um diferencial em suas atividades,
adotando uma postura gerencial um pouco mais elaborada do que outros
agropecuaristas que se dedicam ao mesmo tipo de atividade, sem se preocupar em
fazer algo de forma inovadora e que agregue valor às atividades que são
desenvolvidas na propriedade.
87
Ao se questionar sobre o diferencial no gerenciamento da empresa foram
citados os seguintes aspectos: 1) reflexão antes de agir; 2) preocupação em tratar
bem o cliente; 3) o dinheiro não é visto em primeiro lugar; 4) muita dedicação ao
negócio; 5) participação ativa nas atividades da propriedade; 6) preocupação em
manter o indivíduo em contínuo processo de desenvolvimento pessoal; 7) respeito
por outros produtores; e 8) a manutenção de uma boa relação entre patrão e
funcionários. Entre as dez mulheres agropecuaristas, apenas duas agropecuaristas
não mencionaram diferencial em relação ao estilo de gerenciamento, observe:
“Não visualizo” (E3).
“Acredito que ainda estou engatinhando” (E4)
Empreendedores de sucesso “buscam realização pessoal, controle dos seus
próprios destinos e realização de seus sonhos. O dinheiro é visto como uma
ferramenta” (Dolabela, 1999b: 79). Outros aspectos da vida ocupam lugar de maior
importância (boa saúde, longevidade, felicidade, uma família harmoniosa,
autoconfiança, bons amigos,...) além do dinheiro, ou seja, o dinheiro na verdade
serve como um boletim de avaliação dos negócios (Morais, 2000: 87-88). Para as
mulheres agropecuaristas, o prazer de empreender está relacionado a:
E1: O sucesso de você ter vencido um monte de dificuldades. Aí você está
prosperando e vencendo. Vencer é importante. Vencer as batalhas.
E2: Eu acho que aquele meu lado de engenheira de produção está realizado.
Organizar toda esta coisa me dá prazer. Eu acho que o quê mais me dá prazer é o
resultado.
E3: Os resultados, a produtividade, a satisfação de ver seu trabalho pronto.
E4: Primeiro, eu gosto das coisas que marquem. Nós temos que nos preocupar em
deixar marcas para que quando as pessoas lembrarem da gente se lembrem de
coisas boas.
E5: São os resultados mesmo. Na hora em que você joga as sementes o maior
prazer é na hora em que você vai colher.
E6: É a busca de melhores resultados.
88
E7: Na verdade são as dificuldades. Cada dificuldade vencida faz com que eu me
sentia cada vez mais forte. São batalhas que eu vou vencendo no dia-a-dia e que
depois eu consigo chegar no fim e dizer: Eu ganhei. Isto me emociona.
E8: É ver resultados.
E9: A atividade. Você estar ativo no negócio, você estar buscando isto é que me dá
mais prazer.
E10: Eu acho que é essa energia de vida em todos os sentidos. Eu estou
empreendendo em tudo, não só nos negócio, mas em todos os relacionamentos.
O prazer no processo de empreender, de acordo com as agropecuaristas, é
classificado em: 1) ver os resultados; 2) vencer as dificuldades; 3) trabalhar com a
organização do negócio; 4) deixar marcas para futuras gerações; 5) atuar no
negócio, ou seja, estar ativa; e 6) atividade como energia de vida.
5.6 Auto-avaliação
Neste tópico, buscou-se identificar a auto-avaliação que a agropecuarista
possui a respeito de conceitos como: a) relações externas e internas; b)
oportunidade; c) aprendizado; d) solução de problemas; e) fracasso; f) erro; g)
criatividade; h) imaginação; i) intuição; j) incerteza; k) ambigüidade; l) sonhos; e m)
liderança.
89
Quadro 18: Roteiro de análise para a auto-avaliação da mulher agropecuarista
Auto-avaliação: a maneira como a agropecuarista se posiciona em relação as relações
externas e internas, oportunidade, aprendizado, problema, fracasso, erro, criatividade,
imaginação, intuição, incerteza, ambigüidade, sonhos e liderança.
Relações externas e internas
A abordagem a respeito das relações internas e externas na empresa tem o
intuito de identificar como as agropecuaristas se relacionam com seus fornecedores,
clientes e pessoas de influência, ou seja, qual a importância que é dada a estes
tipos de relações que mantêm no seu dia-a-dia. Os relacionamentos mantidos por
estas mulheres se apresentam como:
E1: Tudo é um vínculo muito importante que se forma. Meu marido desenvolveu
muito esta parte de comerciante e eu não tive esta experiência. Faltou-me até
mesmo trabalhar atrás de um balcão para saber negociar e entrar no mercado
mesmo. Quando você tem um negócio é necessário participar, não dá para se omitir.
E2: Eu acho fundamental porque a gente tem que ter um bom relacionamento com
os funcionários e eles entre si. As relações externas (fornecedores, clientes e outros
produtores) são um dos pontos altos da nossa empresa porque nós mantemos o
contato com nossos clientes dando garantia de nossos produtos e atendendo suas
necessidades. Desta forma, eles se sentem seguros e tornam a relação muito boa.
E3: Contato com fornecedores, clientes, veterinários e funcionários é muito
importante.
E4: Tudo isto é fundamental – conhecimento, relacionamentos – tudo na vida é
política. Se você não tiver acesso a determinados setores e pessoas influentes, às
vezes você não consegue nada, acaba até dificultando a sua vida. Então se você
tiver o privilégio de ter acesso a determinados veículos da sociedade, te facilita
bastante a vida.
E5: Eu acho que tem tudo a ver, pois a gente depende de todo este pessoal e ter um
bom relacionamento é muito bom. Por isto eu procuro ter um bom relacionamento
90
com veterinários, agrônomos e casas agropecuárias, afinal de contas eu aprendo
muita coisa com este pessoal.
E6: A gente tem que fazer contato com fornecedores (insumos, adubo, produtos
veterinários...) via telefone e quando não eles vem aqui no escritório para nos passar
informações sobre algum produto, serviço e nos convidar alguma loja que eles tem
aqui - é uma troca. Na época da exposição é que a gente encontra mais com o
pessoal, nós vamos ao estande de um e outro e acabamos trocando informações.
E7: Muito importante. Eu acho que tudo é um conjunto. Cada um tem a sua
importância, mas dentro da propriedade interessa mais as relações entre técnicos e
funcionários. Para o negócio em si interessa bastante a parte de fornecedores e
comprador porque eu preciso de certa maneira realizar boas compras, ganhar na
compra e na venda. E lá dentro meu funcionário tem que se relacionar muito bem
com o meu técnico para que cumpram o objetivo traçado, então eu acho que todos
têm uma importância fundamental para o negócio. Só que a parte de
comercialização é mais comigo, meu funcionário não toma conhecimento de quanto
eu pago pelo produto, quanto eu recebo pela soja. Isso não, ele é bem relacionado
com o técnico.
E8: É muito importante. Eu acho que uma empresa só funciona quando há um bom
relacionamento principalmente externo (fornecedores e clientes) senão você não
comercializa. O equilíbrio da equipe também é importante.
E9: É muito importante porque você tem que estar dentro de um mercado de
trabalho - fornecedores, cliente, situação econômica em que passamos – e isto tudo
influencia dentro da atividade. Eu acho de extrema importância você estar conectado
com o que está acontecendo.
E10: Hoje eu tenho pouco contato com isto porque estou em uma fase de transição.
Acredito que a relação com fornecedores é complicada, pois você acaba ficando na
mão de uma marca, de uma multinacional que controla tudo e isto me dá um pouco
de desespero.
No quadro 19, é apresentada a correlação das relações com um fim, ou seja,
porque as mulheres consideram ou não as relações e como estas relações
contribuem para o desempenho de suas atividades.
91
Quadro 19: Importância das relações internas e externas para mulheres
agropecuaristas
Caso A fim de / devido a A fim de/ devido a
E1
Trocar informações
E6
Trocar informações
E2
Manter a credibilidade
E7
Realizar um bom trabalho
E3
Manter-se assessorada e informada
E8
Comercializar os produtos
E4
Obter certas “facilidades”
E9
Trocar informações
E5
Trocar informações
E10
Dependência
A maioria das mulheres agropecuaristas considera importante manter as
relações internas e externas em sua atividade, considerando que tais relações lhes
proporcionam certas vantagens como: 1) Aprendizado através da troca de
informações; 2) Manter a credibilidade diante do mercado; 3) Facilidade no processo
de comercialização dos produtos; 4) Manter-se assessorada; 5) Uma maneira de
conduzir para a realização de um bom trabalho; e 6) Obter certas “facilidades” em
determinadas situações. Apenas uma das empreendedoras considerou as relações
complicadas, tendo em vista que fora concentrada atenção maior aos fornecedores.
Esta afirmação diz respeito à dependência que a produtora tem que manter durante
o plantio, por exemplo.
Você tem que usar determinado tipo de semente senão vem uma praga e
acaba com tudo. Se quiser se proteger contra possíveis pragas tem que usar
um tipo específico de inseticida e assim por diante (E10).
Tal posição assumida por esta empreendedora reflete claramente, que em
alguns casos existe forte dependência por parte de agricultores e pecuaristas no que
diz respeito aos produtos que necessitam ser utilizados durante o processo
92
produtivo. Entretanto percebe-se a grande importância que é dada à relação com
clientes, pessoas de influência, a fim de manter uma rede de comunicação, com o
intuito de aprender através de experiências de outros agropecuaristas, de técnicos
da área e até mesmo como forma de se manter integrado ao mercado do qual fazem
parte.
Oportunidades e aprendizado, desafios e fracassos
Identificar oportunidades tem papel central na atividade empreendedora
considerando que, através delas, o empreendedor poderá desenvolver novos
produtos e/ou diferenciá-los dos demais. Entretanto existe a necessidade de avaliar
a oportunidade, uma vez que, pode ser oportunidade para uns e para outros não. Ao
se trabalhar com as mulheres empreendedoras agropecuaristas a respeito de como
identificam uma oportunidade, as respostas se ativeram às seguintes afirmações:
E1: Para identificar uma oportunidade você tem que dar prioridade ao que é mais
importante. Se você puder investir eu acho que vale a pena.
E2: Eu não sei, você tem que ter feeling para isto, de repente você tasca. Aconteceu
comigo quando eu comecei a lidar com a fazenda maior.
E3: Você deve agarrar a oportunidade porque não é sempre que elas aparecem.
E4: Você tem que ver as circunstâncias que estão ou que se apresentam à sua
frente. Você tem que saber se realmente é uma oportunidade boa ou não, isso vai
um pouco da intuição.
E5: A oportunidade é como um perfume que você sente no ar. Por tudo que você já
sabe, por tudo que você passou, pelos prós e contras você consegue identificar se é
uma boa coisa.
E6: Eu acho que neste ponto a gente tem que ter um pouco de intuição. Lógico que
você está vendo a coisa acontecer, está acompanhando o mercado, está por dentro
da situação acompanhando o movimento todo. Você consegue captar as
oportunidades. Agora é hora disto, agora é hora daquilo.
E7: Oportunidade é você conseguir fazer algo novo e diferente. Identificar uma
oportunidade é questão de pesquisa, você sempre estar no meio a fim de tomar
conhecimento do que está acontecendo na área.
93
E8: Primeiro você tem o seu objetivo e para você atingir tais objetivos estas
oportunidades surgem no caminho. São coisas que aparecem no meio do caminho e
você questiona: “Se eu fizer desta aonde é que eu chego, sem fugir da minha
meta?”.
E9: Aquela que você não deixa passar, aquela que você vê com a possibilidade de
realização e batalha por ela. Esta é a maneira como eu identifico oportunidades.
E10: Eu acho que a oportunidade sempre está aí. Para nós identificarmos uma
oportunidade é necessário estar sempre aberta para situações e pessoas, daí tudo
acontece.
Avaliando as respostas verifica-se que existe por parte de duas
agropecuaristas a preocupação em saber diferenciar oportunidade de idéia, tendo
em vista que, através da identificação, o indivíduo poderá analisá-la e transformá-la
em um negócio rentável. No processo de identificação de uma oportunidade foi
apresentada por três agropecuaristas a utilização de feeling ou da intuição como
recurso de auxílio na diferenciação; entretanto E7 complementa o processo de
identificação de oportunidade abordando sobre a questão de pesquisa, ou seja,
como um instrumento importante de auxílio. Assim como E1 acredita que na
identificação de oportunidade, o indivíduo necessita avaliar quais são as prioridades
para depois partir para a identificação, E9 acrescenta que a oportunidade deve ser
possível de realização, ou seja, não adianta que seja uma boa oportunidade se não
pode ser executada e/ou praticada. Enquanto a agropecuarista E3 afirma que as
oportunidades não aparecem sempre, E10 e E8 mencionam que as oportunidades
estão sempre presentes e aparecem no decorrer do caminho.
Identificar a maneira pelas quais estas empreendedoras buscam o
aprendizado para desempenharem suas atividades dentro da propriedade é
fundamental, a fim de avaliar quais meios são utilizados (pessoas, literatura técnica,
relatórios de pesquisa, cursos, etc) para que se mantenham informadas a respeito
dos mais variados assuntos. “O empreendedor aprende em um clima de emoção e é
capaz de assimilar a experiência de terceiros” (Dolabela, 1999b: 36). A seguir é
apresentada a forma pela qual cada mulher empreendedora agropecuarista se
mantém em processo de aprendizado:
94
E1: Acredito que cada um tem que ter o seu método mesmo. Eu sou muito de
observar e perguntar, e como nós estamos muito envolvidos na Sociedade Rural a
gente observa os amigos, o que estão fazendo, ouço palestras além de ir sentindo o
que o mercado está pedindo. É preciso estar muito alerta com o negócio
E2: Eu acho que sempre nós temos que nos assessorar, basicamente é isto. Tem
que achar gente que saiba e que possa nos ensinar.
E3: Eu sempre recebo revistas relacionadas à agropecuária, boletins e participo de
leilões para me manter atualizada. Sempre tem que estar atualizado porque o
mercado, a agropecuária é tudo muito rápido.
E4: Eu acho que o método próprio de aprendizado é não se fechar, você tem que
caminhar. A pessoa que está na ativa jamais poderá ficar fechada e enclausurada,
deverá estar a campo, visitando outras propriedades e fazendo cursos. Com isto
tudo você estará crescendo. É fundamental não se fechar.
E5: Lendo, indo atrás de profissionais (agrônomos e veterinários), perguntando,
fazendo cursos e participando de palestras. Este é meu método.
E6: O método de aprender é sempre procurar informações. Eu sempre procuro
informações. Vai ter um curso de pecuária, de tal coisa – eu vou lá e faço. Vai ter
uma palestra sobre pecuária, genética, alimentação animal – eu procuro ir. Eu estou
sempre aprendendo desta forma.
E7: Eu aprendo muito com outros produtores, principalmente no que se refere a
idéias e experiências. Além disto existe uma ajuda da EMBRAPA e IAPAR, que
oferece cursos em diversas áreas e que ajudam muito.
E8: Eu acho que continuo aprendendo assim: com o técnico, no dia a dia e até
mesmo com os funcionários. Toda a oportunidade que eu percebo de pessoas que
saibam mais que eu, saibam no sentido de estarem fazendo melhor do que eu,
busco me aproximar e saber como é feito.
E9: Eu aprendo muito me comunicando, lendo, pesquisando dentro das minhas
atividades paralelas. Tudo leva à realização e quando você está realizado
profissionalmente, tudo flui.
E10: Eu aprendo vivenciando, trocando, lendo e buscando. Não tenho assim um
método. Eu não sou muito das regras, destas coisas.
95
Grande parte das mulheres agropecuaristas procura aprender com outras
pessoas, ou seja, pessoas que tenham maior qualificação e experiência na área e
que venham a contribuir de maneira positiva na condução dos negócios. Em
segundo lugar, encontra-se a leitura e participação em cursos e palestras e por fim
foram citados: a) a participação em feiras e leilões; b) a utilização de pesquisas; e c)
realização de viagens. Geralmente, tais mulheres buscam solucionar seus
problemas tendo como ponto de referência pessoas experientes e especializadas
além do material de apoio, pois afinal de contas os problemas surgem e é
necessário solucioná-los. Mas afinal o que é um problema? Como identificá-lo?
Em muitos casos, os problemas são tidos como algo desagradável e
desconfortável para milhares de pessoas, entretanto é a partir deles que o indivíduo
é forçado a buscar alternativas para solucioná-los da melhor maneira possível. É
justamente neste momento de solucionar um problema que muitas pessoas dão a
cartada final, eliminando-o(s) de suas vidas. Porém para solucionar os problemas a
mente deve e precisa estar livre de preocupações, a fim de que seja utilizado um
método adequado para solucioná-los, mesmo que seja o menos complexo que
exista.
Muitos indivíduos buscam esquematizar um modelo para solucionar
problemas, ou seja, possuem um método específico para determinados problemas.
Para os casos em estudo, optou-se em trabalhar com as mulheres empreendedoras
agropecuaristas buscando identificar se elas possuem um sistema de solução de
problemas e como elas encaram os problemas. Logo, cada uma das agropecuaristas
expôs esta preocupação da seguinte forma:
E1: Problemas existem e a gente tem que procurar resolvê-los da melhor maneira
possível. Onde existe o ser humano sempre vai existir problemas. Para que
pequenos problemas não se agravem e se acumulem é muito importante o diálogo e
a vivência.
E2: Cada problema a gente analisa e vê de que jeito solucioná-lo. Eu não tenho um
sistema. Eu acho que cada problema é um problema. A gente analisa e tenta buscar
uma determinada solução para aquele tipo de problema.
96
E3: Cada problema tem uma característica então são vários problemas. Não existe
uma fórmula.
E4: Eu acho que a solução de problemas não tem uma regra. Conforme surge o
problema você tem que ver qual a solução será tomada. Não existem regras. A única
regra básica que eu acho que teria que existir seria o equilíbrio. Agora dizer qual
método, qual maneira isto depende do problema.
E5: Eu sempre penso assim: se existe um problema, a única solução para o
problema é o resolver. Às vezes eu tenho dois ou três problemas para resolver,
sempre eu vou pelo que têm mais urgência e adio os outros. Até falo para os meus
empregados: ”Vamos tratar do que é mais urgente, o que você pode deixar para
depois deixa para depois”. Às vezes demora um mês para resolver tudo porque não
dá para resolver vários problemas em um único dia.
E6: A gente tem que enfrentá-los e solucioná-los, mas às vezes eu me exalto um
pouco porque estou trabalhando muito e quando a coisa vem eu fico brava e
nervosa. Depois eu me acalmo e reflito que para tudo tem solução.
E7: Penso que os problemas devem ser defrontados. É preciso sentar, conversar e
analisar, para depois tomar as decisões adequadas àquele problema.
E8: Geralmente eu procuro visualizar o que pode acontecer. Não gosto muito desta
coisa de eu chegar na propriedade para resolver um problema. Eu procuro evitar os
problemas, quando eles surgem e que não tem como - por exemplo: uma doença de
animal, um problema com funcionário – aí sim se administra no momento,
geralmente com muita serenidade.
E9: O meu sistema é: levantar o problema, buscar uma solução, deixar maturar isto
e verificar qual resultado será melhor.
E10: Eu tenho um método e isto eu acho que é importante porque problema e
oportunidade surgem juntos. Hoje quando surge o problema, eu falo: “Que bom”. O
primeiro passo eu acho que é uma questão de agradecimento mesmo, porque está
surgindo a oportunidade de você crescer e mudar – é assim que eu vejo. Eu acho
que o problema existe porque você está focando de uma maneira. O mesmo
problema se tiver outro enfoque é a solução, a oportunidade para crescer.
De acordo com os depoimentos das mulheres agropecuaristas o sistema de
solução de problemas é variável, justamente porque cada problema é um problema
97
a ser solucionado. Não existem regras pré-estabelecidas que vão conduzir o
processo, entretanto percebe-se que existe a necessidade de se dar prioridade em
não deixar que pequenos problemas se transformem em grandes problemas.
Quando se refere a uma forma de solucionar o problema, o proposto é que
inicialmente se identifique o problema, faça uma análise com o intuito de se buscar
uma solução e a partir daí implementar esta decisão. Um outro aspecto levantado
por E10, diz respeito a problema e oportunidade surgirem praticamente juntos, ou
seja, esta agropecuarista acredita que o problema é uma forma de verificar que o
trabalho não está sendo realizado adequadamente e necessita ser alterada a
maneira de condução dos negócios. Entretanto, nas atividades, são encontradas
inúmeras pessoas que não conseguiram encontrar uma solução adequada e
fracassaram de alguma forma, ou seja, o resultado que desejavam alcançar não teve
êxito.
Isto ocorre principalmente quando o empreendedor não se preocupa em
mudar de idéias, não utiliza um tempo adequado para comunicar-se com sócios,
funcionários, colaboradores, fornecedores e clientes, e procurar fazer muito sem
buscar o aprendizado (Dolabela, 1999b: 63-64). Entre as mulheres agropecuaristas
a auto-avaliação do fracasso foi apresentada como:
E1: O fracasso quando depende da gente é muito forte e difícil de se enfrentar. Eu
tenho muito sucesso e insucesso mais no que diz respeito à sociedade. Tudo tem a
hora e o por quê, então você tem que saber ir conduzindo. Assim como você conduz
o sucesso você tem que saber lidar com o inverso dele. Graças à Deus eu nunca me
deparei com o fracasso.
E2: É muito difícil. Uma das características que eu esqueci de falar é que sou
onipotente, então lidar com o fracasso é difícil para quem se julga onipotente. É
difícil lidar com o fracasso, mas a gente tem que ter humildade, pensar sobre esta
sensação de mal-estar, analisar e ver os motivos, buscando assim uma saída, uma
solução para aquilo. Isto é o que eu procuro fazer.
E3: Procuro encarar o fracasso com otimismo e religiosidade, seguindo em frente.
E4: O fracasso é uma coisa normal de todo mundo que trabalha. Às vezes, você
entra em muitas concorrências e nem sempre é a vencedora. São vários fatores,
98
números que fazem parte. Você precisa saber entrar nesta competição e aceitar a
escolha favorável ou não. Tudo faz parte do dia a dia.
E5: Abate a gente, mas depois dá mais força. Eu sempre sinto. É instigante, é um
desafio. Agora quando é um fracasso consumado não adianta você chorar por ele,
aí você tem que pensar e fazer outra coisa.
E6: Fracasso é até uma história, não vou dizer que é fracasso, pois acho que é uma
palavra muito forte e negativa. Por isso eu não vou dizer que tenha fracassado em
alguma coisa, mas sim tenha tido algumas frustrações. Você tem um resultado que
não conseguiu atingir da maneira que havia imaginado e isto gera um certo prejuízo.
E7: O fracasso para mim é alguma coisa que acontece que te impulsiona para cima,
impulsiona a vida.
E8: Eu não entendo muito de fracasso. Eu acho que alguma coisa que não dá certo
é sempre uma experiência para que você não repita. São experiências que você usa
para melhorar. Eu acho que não exista fracasso, erros sim.
E9: O fracasso para mim é a não realização dos objetivos. Quanto aos objetivos
realizados, normalmente eu indago o por quê e desde a hora em que aparece o por
quê, eu aceito e fico feliz por isto.
E10: O fracasso é aquele problema que vemos e eu não consigo mudar o enfoque.
Eu vou viver aquele problema, ficar sofrendo por aquilo aí sim acaba sendo o
fracasso. A partir do momento que eu mudo o enfoque eu não sei se aquilo é
fracasso porque ele já muda e pode ser até uma oportunidade.
Esquematizando a idéia de como o fracasso é encarado por estas mulheres,
temos as seguintes afirmações (quadro 20):
Quadro 20: Percepção de fracasso por parte das mulheres agropecuaristas
Caso Fracasso é tido
como:
Caso Fracasso é tido como:
E1
Insucesso
E6
Frustração
E2
Um problema
E7
Impulso
E3
Um problema
E8
Experiências
E4
Fator de competição
E9
Objetivos não alcançados
E5
Desafio
E10
Um problema
99
A auto-avaliação de fracasso por parte das agropecuaristas resume-se a: 1)
em seis casos como um problema, insucesso, frustação ou objetivos não
alcançados; e 2) em outros quatro casos, as mulheres conseguiram visualizar o
fracasso sob outro aspecto, ou seja, atribuíram a ele como sendo um fator de
competição, desafio, impulso e experiência. Entre as dez entrevistadas prevalece a
percepção negativa do fracasso, onde o indivíduo se coloca em posição
desfavorável, uma vez que é uma situação que este não gostaria de estar
vivenciando.
Estes resultados são bem diferentes dos encontrados por Machado (2000: 28)
em uma pesquisa realizada com algumas mulheres empresárias, com maior
experiência na atividade. Para estas mulheres o fracasso empresarial está
relacionado com: 1) o não pagamento de suas despesas; 2) realização do trabalho
sem o auxílio de pessoal qualificado; 3) falta de bom relacionamento com clientes e
funcionários; e 4) preocupação exclusiva com o financeiro e não com a parte
emocional da empresa.
Outra questão trabalhada no estudo trata do conceito de erro. Ao se trabalhar
com o erro, buscou-se, através das entrevistas, identificar como as mulheres
empreendedoras o encaram, se em suas propriedades ocorrem muitos erros e como
tratam seus funcionários quando erram. Analisando as respostas das
agropecuaristas verifica-se que existem cinco avaliações em relação ao erro, ou
seja, ele pode corresponder a: 1) uma falha ou falta; 2) uma dificuldade; 3) algo
comum na vida do ser humano; 4) uma forma de crescimento; e 5) uma
oportunidade para melhorar.
Quanto à ocorrência de erros, percebe-se que todas as agropecuaristas
afirmaram que não têm ocorrido muitos erros na empresa, tendo em vista que
procuram não deixar que pequenos problemas se transformem em algo que venha
acarretar prejuízo no desenvolvimento de suas atividades. Estas afirmaram sim que
ocorrem pequenos erros, porém nada tão alarmante que não possa ser resolvido
sem nenhuma dificuldade. Geralmente o método utilizado por estas mulheres para
corrigir um erro cometido por seus funcionários é o diálogo, situação em que elas
100
procuram identificar as causas do erro e verificar porque que aquilo ocorreu. Caso
ocorra persistência do erro, aí sim elas fazem um alerta ou advertência.
Criatividade, Imaginação e Intuição
Neste estudo optou-se por trabalhar com a criatividade levando em
consideração, quais aspectos tem propiciado com que as agropecuaristas se tornem
criativas.
E1: Eu acho que faz parte da minha vida. A criatividade é uma coisa importante a
cada dia, então a vida para mim não passa a ser uma rotina. Quando eu estou na
fazenda aquele dia em especial é aquele dia. O dia de vivenciar a parte que mexe
com o plantio, depois a outra que mexe com a pecuária. Então dá para você
diversificar e tomar conhecimento de muitos setores.
E2: Acho que sou uma pessoa criativa por natureza. Sempre gostei de criar coisas,
inventar métodos e de organizar as coisas. É legal você conhecer outros caminhos
porque você vê outras oportunidades, outras coisas. Às vezes você conhece um
caminho mais fácil e se diverte.
E3: Acho importante fazer viagens, conhecer novas tendências de mercado, fazer
cursos, ler artigos especializados, participar de palestras para que através deste
conhecimento eu possa desenvolver minha criatividade.
E4: Quando você quer fazer alguma coisa que realmente preencha suas
necessidades e satisfaça seu ego também.
E5: O próprio negócio em si, que eu gosto por estar muito ligado à natureza. Me dá
muita satisfação.
E6: A criatividade vem da necessidade de você querer melhorar, daí você fica
pensando positivamente, procura observar mais e aí vem a criatividade.
E7: O fato de sempre pensar positivamente, mesmo quando as coisas não
caminham bem. Em relação aos funcionários, utilizo também o incentivo financeiro.
E8: Essa busca de novos caminhos para facilitar as coisas e a vida da gente.
E9: Busco me desenvolver, o mercado, a situação como um todo. Você acaba tendo
que tomar posições que dentro do seu negócio você tem que criar oportunidades e
estar sempre no processo.
101
E10: Eu acho que é a vida mesmo, essa energia que a gente tem que cria tudo.
Analisando as falas das mulheres agropecuaristas concluiu-se que o que as
torna criativas é: 1) diversificação e conhecimento; 2) busca de novos caminhos; 3)
identificação com aquilo que realmente goste de fazer; 4) o próprio negócio; e 5) a
necessidade de melhorar e pensar positivamente.
Além da criatividade buscou-se avaliar a importância da imaginação para a
obtenção do sucesso nos negócios agropecuaristas. Cada agropecuarista fez a
seguinte colocação:
E1: Eu acho que a imaginação tem tudo a ver. É uma parte muito íntegra, uma troca,
faz parte da personalidade da pessoa com quem você está convivendo e da sua
personalidade também. A auto-estima também tem que ser muito bem trabalhada.
E2: Quando você vai empreender um negócio novo você não tem nada, tem que
pegar e bolar uma idéia e a imaginação tem tudo a ver com isto.
E3: É muito importante para o crescimento profissional do indivíduo.
E4: É importante porque hoje nós temos que fazer as coisas pensando em serem
utilizadas lá na frente de uma outra maneira.
E5: Acho que 80%. É bom ter imaginação, sem ela você fica parado.
E6: A imaginação é bastante importante porque vem de um lado emocional seu.
Você tem que imaginar o que gostaria, tem que pensar. Imaginação e criatividade
andam juntas.
E7: Muito importante. Você tem que realmente imaginar porque não existe técnica,
não existe nada.
E8: Acho que a imaginação teria 80% de importância porque é a imaginação que a
torna criativa.
E9: Eu acho que a imaginação é muito importante porque desde que você está
imaginando, você está trabalhando, criando, está dando alicerce para poder agir no
dia seguinte.
E10: A imaginação é importante, mas você precisa ter controle. O que vai dar
controle nesta mente é você deixar a imaginação seguir pelo lado da essência
mesmo.
102
Todas as mulheres empreendedoras agropecuaristas dão grande importância
à utilização da imaginação para atingir o sucesso. Nos depoimentos constatou-se
que seis delas relacionaram a imaginação com a criatividade, uma delas até
estipulou um percentual (80%), em relação a sua importância para a obtenção do
sucesso. As agropecuaristas acreditam que para se criar algo novo ou melhorar o
existente é necessário que a pessoa pare e reflita sobre as possíveis alternativas de
criação, e por fim faça uma avaliação se é algo viável ou não. Outras relações foram
apresentadas pelas outras quatro agropecuaristas ao se referirem à utilização da
imaginação: 1) como meio de troca de informações entre os indivíduos; 2) como
forma de crescimento profissional do indivíduo; e 3) para deixar coisas que possam
ser utilizadas futuramente.
A intuição, em alguns casos, pode auxiliar na tomada de decisão, pelo fato de
estar relacionada com uma “percepção imediata e clara de verdades, sem recurso
ao raciocínio”, ou seja, é utilizado bem mais o instinto do que a razão (Dicionário
Edelbra: 456). Neste trabalho foi questionado sobre o significado e a importância da
intuição para o desenvolvimento das atividades. As mulheres agropecuaristas
acreditam que:
E1: A intuição é uma tendência que você tem, talvez a assertividade, mas você
enxerga muita coisa e consegue conduzir de uma maneira, você enxerga lá na
frente que aquilo vai ser melhor, é uma positividade. É muito importante. Você tem
que contestar, conviver e ver porque está ocorrendo isto ou aquilo.
E2: Eu acho fundamental. Importante mais do que a imaginação ainda. Intuição é
uma coisa que de repente eu senti que ia dar certo.
E3: Intuição é você saber envolver todas as pessoas que estão trabalhando e
identificar quem é bom para o cargo. Ela é importante e a utilizo um pouco, faz parte.
E4: Intuição é você ter uma certa visão do presente e pelos acontecimentos
presentes você ver o reflexo no futuro. É importante e esta intuição exige que você
esteja atualizada com o mundo exterior, ou seja, você não pode se fechar.
103
E5: A intuição é como um perfume que você sente. É aquilo que você tem que fazer.
Uma coisa que vem lá de dentro. Acho que a importância da intuição é de 50%, ou
seja, a metade. O resto é você botar em prática. É intuição e ação.
E6: É aquela coisa de você observar melhor uma coisa e dizer que isto vai dar certo
ou não. A intuição é muito importante em qualquer negócio, qualquer área porque
ela faz com que você perceba coisas que ajudam a facilitar o desenrolar das coisas.
E7: Eu não gosto muito da intuição não. Acho que quando você tem uma intuição
você tem que identificar se ela tem fundamento ou não.
E8: Eu acho que vai dar certo, que eu vou fazer – isto é intuição. É importante em
determinados momentos para você tomar decisão porque a gente tem muitas
dúvidas na hora de decidir e aí a intuição ajuda em alguma coisa.
E9: É aquilo que eu amanheço pensando. Tem sido um direcionamento para os
negócios.
E10: É a hora em que eu sereno a mente e aí o primeiro palpite, a primeira coisa
que vier é aquilo. Tudo é muito importante só que é difícil você ter este controle da
intuição.
Esquematizando as idéias das agropecuaristas, a visualização do que venha
a ser intuição e sua importância é apresentada no quadro 21.
104
Quadro 21: O significado da intuição para as mulheres agropecuaristas
Caso A intuição corresponde a Caso A intuição corresponde a
E1
Uma tendência de assertividade
E6
Algo interior que diz que vai
dar certo
E2
Algo interior que diz que vai dar certo
E7
Identificação do quê é melhor
E3
Identificação de quem / o quê é melhor
E8
Algo interior que diz vai dar
certo
E4
Trabalhar o presente voltando-se para
o futuro
E9
Algo que você acorda
pensando
E5
Algo interior que diz que vai dar certo
E10
A um palpite
A intuição por parte de todas as agropecuaristas é tida como importante. Para
grande parte delas, a intuição está relacionada a um sentimento interior que faz com
que acredite que uma certa idéia irá dar certo, ou seja, aquela tendência de se
escutar o que o instinto está dizendo.
Incertezas, sonhos e liderança
Neste tópico, inicialmente buscou-se avaliar a maneira como a mulher
agropecuarista lida com a incerteza e ambigüidade dentro da atividade em que está
envolvida, levando em consideração que este tipo de atividade depende muito do
fator clima e solo, de pessoas e da intervenção política exercida pelo governo na
atividade agrícola. A maneira como estas mulheres têm se comportado diante da
incerteza e ambigüidade é apresentado a seguir:
E1: Às vezes a gente fica em uma corda bamba e você tem que se cuidar para
procurar uma posição em que você sinta mais firmeza. Onde você sente mais
firmeza você tem que dedicar toda a sua intenção. Então eu acho assim: os
momentos de indecisão, os difíceis vão passar mesmo para cada um de nós. O mais
importante é você achar que nunca tem tudo, aí você conseguiu visualizar alguma
coisa e vai em frente. Você tem que ter um foco.
E2: A incerteza é um negócio complicado e que me dá ansiedade. Eu procuro
analisar a situação toda para limpar estas incertezas para que eu possa caminhar da
forma mais correta. No nosso negócio eu acho que não tem está coisa de
105
ambigüidade. A gente tem um caminho bem definido, tem metas e estamos
seguindo isto da maneira que a gente pode.
E3: Procurando consultas de especialistas na área, lendo revistas especializadas.
E4: Com as incertezas é melhor você rezar e pedir a Deus que você esteja
acertando. A ambigüidade é um fator meio difícil. Temos que aceitar e ver como é
que vamos resolver isto.
E5: Eu dou um tempo, deixo a coisa em banho-maria, meio que cozinhando. Eu
acho que daí a resposta vem.
E6: Eu paro para pensar, vou com calma, deixo de lado algumas coisas e procuro
direcionar da melhor maneira possível. Se vai dar certo, eu não sei. É um risco.
Quase que todo dia você está em frente a isto, incerteza e ambigüidade.
E7: Quem trabalha com a agricultura vive na incerteza porque nunca existe um
momento certo e ideal para fazer as coisas. Você tem muito pouco tempo para fazer
tudo o que tem que fazer no momento certo, então a gente tem correr riscos. A
agricultura é a arte de correr riscos porque você depende de um fator que você não
domina, que é o tempo.
E8: Existem incertezas e ambigüidades, mas eu trabalho mais assim: acreditando
muito naquilo e as coisas acabam dando certo.
E9: Eu não fico muito tempo com incerteza de alguma coisa não. Como a incerteza
está bem perto da intuição, eu direciono mais para esta intuição e já vou resolvendo,
vou pondo em prática. Eu não fico muito preocupada com ambigüidade. Existe
ambigüidade para lá e eu trabalho para cá porque se eu ficar na incerteza, nas
decisões dos outros, como vai ser isto ou aquilo eu não trabalho.
E10: É nesta hora que a gente precisa serenar a mente, buscar e tomar atitudes que
são melhores. É melhor você errar do que permanecer na dúvida. Porque você fica
na mesma por muito tempo e aquilo vai te angustiando, então eu sou mais de agir ,
de tentar.
O modo como estas agropecuaristas têm se comportado diante das
incertezas e ambigüidades podem ser apresentados como: 1) Pára e analisa a
situação, a fim de buscar uma solução; 2) Busca manter um foco para trabalho; 3)
Procura assessoramento de especialistas e leitura de materiais na área; 4) Trabalha
106
com a incerteza, mas procura identificar os momentos certos; e 5) Conduz os
negócios sem dar muita atenção a isto.
Outro aspecto foi avaliado: o sonho - Sonho que faz parte da vida de grande
parte das pessoas. Quem é que nunca sonhou em estar em um lugar diferente,
ocupar determinada posição, alcançar determinados objetivos na vida? São poucos
os que diriam que não, pois todo indivíduo tem um sonho por menor que seja.
Analisando este aspecto, na pesquisa foi abordado a respeito de como a
agropecuarista trabalha com as pessoas na realização do seu sonho. Será que ela
cria condições para que o seu sonho e os sonhos dos seus funcionários sejam
realizados? Observe como cada uma expôs sua percepção em relação à realização
do sonho:
E1: Às vezes é como um jogo, você tem que começar a falar. Eu acho que a
comunicação é importante porque você fala uma, duas, três vezes e com certeza
aquilo não faz parte só para você. Você já passou a idéia e de repente as pessoas já
estão falando o que você falou é como uma semente bem plantada. Você tem que
ter a responsabilidade para falar de maneira certa porque eu acho que é assim que
a gente vai construindo.
E2: Eu acho que é muito limitada a possibilidade da gente fazer com que as pessoas
realizem seu sonho porque a realização do sonho de cada um depende da luta de
cada um. Eu como empresária tenho condições de possibilitar com que meus
funcionários estudem, progridam e então neste caso eu estaria contribuindo para a
realização de um sonho. Mas é uma coisa bastante limitada porque a solicitação
também é limitada. Se eles tem sonhos eles não falam. O grande problema do
pessoal que trabalha no meio rural é exatamente esta falta de perspectiva, eles não
buscam muita coisa e se eles buscam eles não contam para a gente e nenhum
momento também eu facilitei.
E3: Se eu puder encorajar, indicar um caminho e a pessoa aceitar seria muito
gratificante ver uma pessoa realizar um sonho.
E4: Bem, é meio difícil das pessoas realizarem seu sonho, mas com jeitinho às
vezes você chega lá. Tudo vai de habilidades, da maneira de você conduzir, da
107
maneira de você tratar isto é, tudo vai da sua conduta. Se você não tiver habilidade
você não chega a lugar nenhum.
E5: Eu tenho um jeito assim muito meu. Até meus filhos brigam comigo porque eu
sou muito boazinha. Mas eu não faço isto com interesse por trás. Sou uma pessoa
muito dada, converso, trato eles muito bem e não faço diferença e acredito que é por
aí.
E6: Eu acho que para as pessoas realizarem seu sonho é necessário incentivá-las a
viver melhor. Eu acho que para o empregado ter um retorno melhor e você também
e para ele trabalhar mais tranqüilo, você tem que dar condições. Primeiro a moradia,
tem que ser uma casa boa para eles morarem para que eles estejam satisfeitos no
lugar onde estão.
E7: Procuro envolver as pessoas no sonho, a fim de que elas passem a sonhar
comigo. O instrumento que utilizo é a própria força de vida que a gente tem.
E8: Como nós trabalhamos com uma equipe pequena nós tentamos fazer através
de: prêmios de produtividade, de um conforto onde eles moram e um atendimento
que a gente pode dar a este pessoal. Nós tentamos fazer com que eles vistam a
camisa, que o meu sonho também seja o sonho deles de crescimento.
E9: Isto tem um jeitinho todo especial. Eu me relaciono bem com as pessoas e
desde que você se relacione bem com elas, elas te ajudam a realizar os sonhos e
objetivos propostos.
E10: Aí entra a oportunidade de novo. Você tem que ficar atenta porque às vezes a
gente fica demorando muito para mudar e isto é que determina – a colaboração das
pessoas e a mudança. Nesta hora de você abrir e aceitar que existe um problema,
aquilo pode se tornar uma oportunidade e aí vai de aparecer a pessoa certa e você
não precisa ir nem atrás. A pessoa aparece, sugere ou oferece e aí você topa ou
não topa.
Com base nos depoimentos de cada agropecuarista, constatou-se que nove
delas buscam estimular as pessoas a participar do seu sonho, mostrando que é
possível obter melhores condições de vida e trabalho através da colaboração neste
sonho. Para isto é necessário atuar com certa habilidade no tratamento com as
pessoas, sem sobrepor seus valores e limites pessoais. A agropecuarista E2
ressaltou uma coisa comum do meio rural, que é a falta de perspectiva do pessoal,
108
ou seja, existem pessoas que param de sonhar e acreditam que o que têm está bom
para continuar a viver. Isto é um grande problema que os futuros empreendedores
precisam solucionar, incentivando as pessoas do meio rural a buscar melhoria no
nível de vida e profissional como um meio de começarem a sonhar, mesmo que seja
um pequeno sonho. Ser líder pode contribuir para que as pessoas busquem sonhar,
entretanto, será que a empreendedora se vê como líder? Como ela se descreveria
em tal posição? Mas afinal, o que é o líder e qual seu papel dentro da organização?
O líder é o indivíduo que movimenta toda a organização, ou seja, busca
transformá-la continuamente introduzindo novos conceitos, técnicas de trabalho e
possibilitando que seus colaboradores trabalhem ao seu lado na execução das
tarefas. Será que a mulher agropecuarista se sente confortável nesta posição? Qual
o seu comportamento?
E1: Eu acho que a gente se sente constrangida de falar, mas eu tenho esta
consciência sim. Eu sou líder embora do meu jeito, de não estar escrevendo na
testa, mas na minha maneira e conduta que leva a isto. Como líder eu me vejo como
uma pessoa com muita responsabilidade e a vivência tem me dado suporte para
tudo isto.
E2: É um negócio complicado isto porque é uma empresa familiar, antes de ser líder
eu sou mãe então a minha opinião é respeitada. Aqui não dá para saber se eu sou
respeitada por minhas características e capacidade de líder ou por ser mãe do meu
filho que trabalha comigo. Por parte dos empregados não sei se estou errada, mas
acho que eles gostam de trabalhar comigo e isso é reflexo de uma liderança que eu
exerço. Não sei, mas me parece que eles gostam de trabalhar comigo. É bastante
complicado fazer esta insinuação porque eles são funcionários e trabalham porque
precisam trabalhar também. Agora eles trabalham bem e talvez isto seja reflexo
deles gostarem de estar na fazenda e isso porque sou uma chefe que consegue
levar bem as coisas todas de forma a exercitar minha liderança de forma positiva. Eu
não tenho nada que possa confirmar que realmente é isto.
E3: É bem difícil me descrever seria mais fácil que as pessoas de fora
descrevessem. Eu procuro ser justa e incentivar as pessoas.
109
E4: É muito difícil hoje ser líder. O líder tem que ter o pé no chão e se fazer impor.
Você tem que saber o que você quer, tem que ter conhecimento do que você quer
para poder ser líder. Se você não tem conhecimento de causa, de determinado
acontecimento você não lidera nada.
E5: Eu me vejo como uma pessoa que ainda está aprendendo. Eu me vejo como
uma lutadora dentro da propriedade.
E6: Acho que exerço uma certa liderança porque a gente vê pelo respeito que eles
têm por você. Eu me considero firme, mas acessível. Existe uma troca, uma
conversa, não é que eu quero que faça assim e ponto final, mas geralmente eu falo
porque que não fazemos desta forma para ver qual a melhor maneira. Acho que
exerço uma liderança em troca de informação.
E7: Eu sou líder porque sou eu que comando. Eu consigo atingir na minha
propriedade uma maneira gostosa de trabalhar, não sinto que eles fazem o quê
fazem forçado ou pelo salário que ganham. Eu penso que somos todos uma equipe
e participamos de tudo o que está acontecendo, porque no final nós vamos ganhar a
lavoura ou nós vamos perder a lavoura.
E8: Eu acho que me considero líder porque tenho conseguido esta harmonia e
tranqüilidade para trabalhar.
E9: Eu me considero líder. Eu sempre fui líder desde criança. Eu me considero líder
desta forma, tendo o cuidado para que o inter-relacionamento seja positivo e na hora
que tem que ser dura. Eu sou dura.
E10: Eu não me vejo como líder. Eu não sei direito se eu sou líder. Se você é o
patrão ou a patroa nem sempre você é líder porque os funcionários ficam meio que
escravos. Talvez eu desempenhe esta liderança, este papel deste poder de delegar
com mais tranqüilidade porque eu não me coloco muito nesta posição. Hoje o que
eu falo, eles fazem.
As mulheres agropecuaristas demonstram comportamento diferenciado uma
das outras, pois existem aquelas que se consideram líderes ao passo que outras
não conseguem se enxergar nesta posição. Das que se consideram líder, verifica-se
que a liderança que exercem está relacionada a um modo de atuação, pois o ser
líder envolve toda uma responsabilidade e respeito com as pessoas que estão
envolvidas no processo. A explicação por parte das que não se vêem como líderes
110
está relacionada ao fato: a) de ser uma empresa familiar; b) ainda estar
engatinhando nos negócios; c) de uma outra pessoa atribuir se é líder ou não.
5.7 A empresa
A empresa neste estudo corresponde à propriedade rural onde são realizadas
atividades relacionadas com a agricultura (plantio de grãos e cana de açúcar) e
criação de gado (leite e corte). Assim como em qualquer outra empresa, ela
necessita de pessoal com certa habilidade para desempenhar as atividades
relacionadas com a terra e com a lida com animais. Ao se analisar a empresa
buscar-se-á caracterizar o tipo de atividade desenvolvida em cada propriedade, ou
seja, o que é realizado dentro da propriedade de cada mulher agropecuarista,
levando em consideração a utilização de tecnologias no processo produtivo, a
preocupação com o meio ambiente e a diversificação de produtos, além de avaliar
se houve aumento ou diminuição na área produtiva desde que a mulher
agropecuarista se posicionou a frente dos negócios.
Outros aspectos relacionados à empresa também serão abordados
(colaboradores e contratação; assistência técnica e consultoria; potencialidades e
fraquezas; trabalhos e políticas; sistema de gestão; participação em associação,
cooperativas e sindicatos; posição dos produtos; argumentos de persuasão;
direcionamento de esforços; metas) a fim de que se possa identificar a maneira
como o trabalho é realizado na propriedade agropecuária. Por fim será apresentado,
de acordo com o modo de pensar de cada agropecuarista, 1) o que lhe dá satisfação
ao comandar a empresa; 2) o fator mais importante para o sucesso; e 3) as
recomendações para quem deseja iniciar um negócio.
111
Tipo de atividade desenvolvida
Neste tópico é realizada uma breve caracterização das atividades
desenvolvidas na empresa agropecuária além de alguns aspectos relacionados com
o próprio processo produtivo (quadro 22).
Quadro 22: Tipo de atividade desenvolvida pelas mulheres agropecuaristas
Caso Atividade
desenvolvida
Utiliza
tecnologia
Preocupação
com o meio
ambiente
Diversifica
a produção
Aumentou ou
diminuiu a área
desde que assumiu
o comando
E1
Plantio de grãos;
Gado de corte e de
leite.
Sim Sim Sim Aumentou mais de
100%.
E2
Plantio de grãos;
Gado de corte e
puro.
Sim Sim Sim Aumentou mais de
50%.
E3
Gado de corte. Sim Sim Sim Aumentou 50%.
E4
Plantio de palmito;
Gado de corte.
Sim Sim Sim Aumentou cerca de
80% o plantio de
palmito; O gado se
mantém estável.
E5
Plantio de grãos;
gado de leite;
Arrendamento do
pasto para gado de
corte.
Sim Sim Sim Aumentou entre 70%
e 80% o nº de
cabeças de gado; A
área cultivada se
mantém estável.
E6
Gado de corte Sim Sim Sim Aumentou em 30%
tanto a área de
produção quanto o nº
de cabeças de gado.
E7
Plantio de grãos e
cana de açúcar;
Gado de leite.
Sim Sim Sim Aumentou, mais ou
menos 60% pois antes
era tudo pasto.
E8
Plantio de grãos e
cana de açúcar;
Gado de leite.
Sim Sim Sim Aumentou o plantio
de: cana (20%), soja
(50%) e café (100%).
Diminuiu a área de
pasto.
E9
Gado de corte Sim Sim Sim Se mantém estável.
E10
Plantio de cana de
açúcar;
Arrendamento de
terra (plantio)
Sim Sim Não Aumentou 100% a
agricultura pois antes
era tudo pasto. O
arrendamento (80%)
Observe que dos dez casos analisados, oito deles tem suas atividades
voltadas ao gado de corte e de leite sendo que destes oito casos, em sete se
desenvolve a atividade de plantio também. Em apenas três casos a atividade
predominante é a criação de gado de corte, ao passo que nos outros sete casos
112
existe uma atividade complementando a outra. Todas as agropecuaristas afirmaram
utilizar tecnologia no processo, considerando que buscam melhorar a qualidade de
seus produtos e desejam atingir melhores índices de produtividade.
Um outro ponto destacado trata da conservação do meio ambiente, onde é
possível constatar que em todos os casos foi apresentada esta preocupação. A
conservação do meio ambiente foi exemplificada principalmente pela existência de
mata ciliar ou reserva florestal, além da utilização de produtos que não tragam tantos
prejuízos à natureza e do processo de reciclagem do lixo que é produzido nas
propriedades. No que diz respeito a diversificação da produção constata-se que
todas as agropecuaristas têm esta preocupação, por isso é que freqüentemente
fazem a rotação de culturas e procuram a cada ano alterar o plantio a fim de não
esgotar o solo, deixando-o mais produtivo.
Entre as dez mulheres agropecuaristas constata-se que existe o predomínio
de aumento de área produtiva ou de número de cabeças de gado, apenas em três
casos foi apresentada a estabilidade da área cultivada e da quantidade de gado.
Este aumento está relacionado ao próprio processo tendo em vista que a cada ano
estas mulheres utilizam-se de recursos que possibilitem atingir maiores índices de
produtividade, tanto na agricultura quanto na pecuária. Das que diminuíram algumas
áreas, percebe-se que elevaram outras, ou seja, apenas optaram em se dedicar
àquela e não a esta cultura ou criação.
Colaboradores, assistência técnica e consultoria
Colaboradores, neste estudo, correspondem a todas as pessoas que estão
relacionadas com a atividade que é desenvolvida dentro das propriedades. Aqui
estão todos os funcionários que, de uma forma ou de outra, colaboram para que os
objetivos propostos possam ser atingidos com sucesso. Nestes dez casos verifica-se
que o número de colaboradores é muito variável, tendo em vista que as
propriedades possuem características e tamanhos próprios.
113
As atribuições dos colaboradores dentro das propriedades agropecuárias são
ligadas à atividade agrícola (plantio e colheita) e criação de animais (gado de leite,
gado de corte e gado puro). As funções atribuídas a cada indivíduo podem ser
visualizadas no quadro 23, de acordo com cada caso em estudo. É importante frisar
que, embora tenha sido feita a caracterização de funções, existem outras que não
foram citadas. Algumas agropecuaristas afirmaram utilizar a mão-de-obra de
diaristas de acordo com as necessidades de suas propriedades, considerando que
não é durante todo o ano que precisam deste tipo de ajuda na execução das
atividades.
Quadro 23: Quadro de colaboradores das propriedades das agropecuaristas
Caso Nº de colaboradores
fixos
Função
E1
20 Caseiro; Tratorista;
Administrador; Ordenhador;
E2
20/25 Veterinário; Secretária;
Administrador; Encarregado;
Peão; Tratorista; Braçais;
E3
18/30 Encarregado; Peão;
Tratorista; Capataz;
E4
5 Administrador; Cozinheira;
Serviços gerais;
E5
5 Tratorista; Roceiro;
Retireiro;
E6
14 Gerente; Fiscal;
Tratorista;
E7
4 Tratorista; Administrador
E8
6 Responsável; Ordenhador;
Criador de bezerro; Ajudante;
E9
6 Gerente; Tratorista;
Capataz; Administrador
E10
2 Serviços gerais
Para selecionar este pessoal, geralmente as agropecuaristas utilizam como
recursos para seleção: a entrevista pessoal e posterior confirmação dos dados, ou o
anúncio em rádios, além da indicação feita por outras pessoas (referências). O
114
importante é que o indivíduo saiba lidar com a terra ou o gado, ou seja, que tenha
habilidades básicas para atuar neste tipo de negócio.
Resumidamente é possível afirmar que todas as agropecuaristas utilizam-se
da entrevista pessoal como fonte de informações a respeito do futuro colaborador
que virá a atuar conjuntamente na propriedade, entretanto algumas delas procuram
delegar a contratação e demissão de funcionários aos encarregados (administrador,
secretário ou gerente) que estão praticamente todos os dias na propriedade. A
averiguação dos dados que são coletados também foi destacada como de grande
valia, uma vez que, é através destas informações que será possível identificar
antecedentes criminais e experiências de trabalho assim como também buscar
traçar um perfil da pessoa que está se dispondo a trabalhar. Verifica-se também que
em apenas um dos casos (E7) foi citada a utilização de anúncios para seleção de
pessoal além das referências de outras pessoas.
Eu coloco um anúncio na rádio local e às vezes no sindicato. Tenho alguns
termos que para mim são básicos: mínimo de escolaridade, saber ler e
escrever, conhecer o maquinário, não ter nenhuma passagem pela polícia e que
tenha família. Utilizo um questionário em que eu faço uma série de perguntas e
consigo perceber mais ou menos o perfil da pessoa. Mudo de vez em quando e
já o reformulei três vezes porque eu fui percebendo algumas necessidades (E7).
Assim como em qualquer outro tipo de atividade, além da mão-de-obra existe
um apoio técnico que possibilita que a mulher agropecuarista se muna de
informações adequadas e necessárias para o desempenho de suas atividades. Com
o intuito de se identificar quem são estes profissionais que trabalham em conjunto
com as mulheres agropecuaristas, foi questionado a cada uma delas que tipo de
profissionais as assessoram.
A classe de profissionais que assessora estas mulheres agropecuaristas foi
classificada em: a) agrônomos; b) veterinários; c) advogados; e d) contador.
Agrônomos e veterinários trabalham vinculados a uma cooperativa ou prestam
assessoria particular a estas agropecuaristas, depende muito da necessidade de
115
cada uma delas. Advogados foram apresentados como suporte para as relações
trabalhistas, comerciais e de direito e o contador como suporte financeiro e fiscal do
negócio em si.
Potencialidades e fraquezas
Na atividade agropecuária buscou-se identificar o que cada mulher
agropecuarista considera como potencial e fraqueza de sua empresa, ou seja,
avaliar a que tipo de fraqueza este tipo de negócio está sujeito, assim como o que é
tido como potencial em relação a um outro tipo de atividade. Cada mulher
empreendedora agropecuarista visualiza as potencialidades e fraquezas da empresa
como:
E1: Nossa potencialidade é, estar sempre preocupados em reinvestir na propriedade
de forma que seja possível acompanhar as tendências do mercado. Já as fraquezas
estão mais relacionadas ao nosso maquinário que precisa melhorar ainda além da
intervenção que ocorre por conta do fator clima.
E2: Como potencialidade nós temos o potencial genético tem melhorado a cada
geração. Eu acho que nós temos potencial para atingir um patamar mais elevado,
que é o de vender genética. Como fraqueza a gente tem que atingir um nível melhor
de tecnologia dentro de nossa fazenda. O treinamento dos funcionários está um
pouco deficiente. Nós precisamos melhorar o nível de alguns funcionários pelo
menos.
E3: Meu potencial é saber comprar na hora certa, já que eu não tenho cria eu tenho
que saber comprar na hora de baixa para depois ter algum lucro.
E4: Nosso potencial em modéstia parte, são as crias excelentes que nós temos. A
fraqueza talvez seja a falta de capital para chegar ao nível que eu queira.
E5: O potencial seria a própria terra em si, a área e o clima. A fraqueza é de estar
muito ligada à política agrícola.
E6: Na agricultura você mexe muito com o fator tempo, meio ambiente e clima. As
adversidades na minha área são a seca e a geada. Depois vem a intervenção de
preço e de governo. O potencial é a produção que cuidando muito bem tem um
potencial de produção muito grande.
116
E7: De potencial eu tenho a terra de onde eu posso tirar os frutos. Eu trabalho com
uma terra mista de mais difícil manejo, própria para agricultura perene. Não é uma
terra boa para agricultura, mas eu teimo em ter agricultura porque eu já tive pecuária
e não tive bons resultados. Talvez esta seja uma fraqueza da própria propriedade.
E8: Fraquezas são coisas que eu tenho dificuldades. Eu tenho dificuldade nesta
parte financeira da empresa. Uma conquista muito grande que a gente está tendo
com o relacionamento pessoal é uma potencialidade que eu desenvolvi e que está
me deixando muito satisfeita.
E9: Potencialidade é estar procurando sempre crescer. Você está sempre se
cercando de tecnologia para que a qualidade do seu produto esteja de acordo.
Fraqueza seria de, de repente, a gente deixar por conta do evidente, erros que
poderiam ser administrados.
E10: Minha potencialidade está em trabalhar com dinamismo, ou seja, não ter medo
de encarar as mudanças que forem necessárias. Quanto às fraquezas, eu acredito
que seja o despreparo das pessoas com o qual trabalhamos, considerando que são
pessoas que não possuem qualificação. Desta forma, é necessário prepará-las e
muitas vezes elas acabam indo embora, pois não se adaptam ou vão trabalhar em
outro lugar.
Analisando o que foi dito por cada uma delas é possível relacionar
potencialidades e fraquezas no quadro 24, observe:
Quadro 24: Potencialidades e Fraquezas da empresa agropecuarista
Caso Potencialidade Fraqueza
E1
Reinvestimento na propriedade Maquinários
E2
Grande potencial genético A utilização de tecnologias;
Despreparo das pessoas com o qual
trabalhamos
E3
Comprar no momento adequado ---
E4
Qualidade do produto Falta de capital
E5
A terra em si, a área e clima Política agrícola
E6
Grande potencial de produção Tempo, meio ambiente e clima
E7
A própria terra como recurso para
trabalho
O tipo de terra onde o trabalho é realizado
117
E8
Bom relacionamento pessoal Despreparo na parte financeira
E9
Busca de crescimento contínuo Não se preocupar com determinados erros
E10
Trabalhar com dinamismo Despreparo das pessoas com o qual
trabalhamos
Entre as dez agropecuaristas, constatou-se que enquanto E5 considera a
terra e o clima como potencialidade, E6 atribui a estes fatores como fraqueza da
empresa. Entretanto E7 visualiza a terra ao mesmo tempo como potencial e
fraqueza da organização, considerando que a terra de sua propriedade possui
características próprias que dificultam um pouco o trabalho neste tipo de solo.
Trabalhos desenvolvidos, políticas adotadas e sistema de gestão
Ao que diz respeito aos trabalhos e políticas desenvolvidos na empresa,
buscou-se descrever como são realizados e se existe a preocupação por parte das
mulheres agropecuaristas em discriminar o que deve ser feito na propriedade e
quais as diretrizes utilizadas para a execução das atividades. Quando se questionou
sobre a existência da descrição escrita dos trabalhos e políticas da empresa, cada
mulher empreendedora respondeu da seguinte forma:
E1: Tudo na vida é um aprendizado. O que está escrito e está certo é fácil de ser
seguido. Agora o que é novo você tem que ter muito critério para conseguir ver se
este novo é certo, para que daí você direcione da melhor maneira possível.
E2: Não tenho descrição dos trabalhos e políticas da minha empresa.
E3: Tenho a descrição no escritório. Na parte operacional também cada pessoa tem
a sua função.
E4: Eu acho que no meu porte atual não há a necessidade de tomar nota. Mas a
política da boa vizinhança você tem que ter. É fundamental porque nós não vivemos
isolados do mundo.
E5: Não escrevo, tenho assim como um todo na minha cabeça.
E6: O trabalho da empresa está tudo escrito. Faço um diário de tudo o que está
acontecendo lá. Política não. A minha política eu acho que é mais por conversa,
não está escrita, mas é falada.
118
E7: Do trabalho eu tenho tudo marcado em uma caderneta de evolução, onde estão
as coisas que devem ser feitas em um cronograma de trabalho durante o ano.
E8: Tenho o planejamento agrícola e pecuário que seria a descrição de todos os
trabalhos.
E9: A gente tem realmente um planejamento anual que você coloca, mas nesta área
é muito difícil seguir à risca este planejamento.
E10: Tenho um regulamento que eu procurei fazer sem muitas negativas, mas são
coisas que devem ser respeitadas e aí eles vão se baseando naquilo. A partir de
reuniões é que vou solidificando estas normas, políticas e tarefas para que eles não
se sintam perdidos.
O termo “trabalhos” neste estudo de acordo com as mulheres
agropecuaristas, está relacionado com as atividades que devem e são executadas
no decorrer do ano na propriedade, ou seja, corresponde a um cronograma onde se
determina o que será feito. Percebe-se que entre as entrevistadas existem aquelas
que afirmaram ter por escrito estes trabalhos, enquanto outras afirmaram não terem
isto em papel, mas em suas cabeças. Todo o planejamento é realizado
mentalmente, ou seja, fazem todo o controle dos trabalhos em suas cabeças,
alterando-os quando necessário. No caso E1 é ressaltada bem esta dificuldade em
seguir aquilo que está escrito, pois nem sempre o que se escreve pode realmente
ser o mais viável e melhor para ser utilizado. A interferência do fator clima, presente
no setor agropecuário exige da pessoa que conduz esta atividade, ter muito jogo de
cintura para realizar os trabalhos na hora ou momento mais adequado, a fim de
alcançar os melhores resultados possíveis. Um outro significado para o termo
“trabalhos” identificado nas entrevistas, diz respeito às atribuições que cada
indivíduo possui dentro da organização.
Quanto às políticas, percebe-se que política caracterizou-se como sendo um
padrão de comportamento adotado para se relacionar com outros agropecuaristas,
os colaboradores, etc. Assim como foi apresentado em relação a trabalhos, o
mesmo acontece com as políticas, em seis casos foram afirmados que não há a
descrição em papel da política de trabalho porque estas se encontram em suas
mentes.
119
O sistema de gestão está relacionado com a forma pela qual o indivíduo
gerencia os negócios. Muitas vezes o sistema de gestão empresarial se desenvolve
tendo como base as “características da personalidade do empresário ou da
empresária” (Craermer et al: 2001). Desta forma, o sistema de gestão pode variar de
indivíduo para indivíduo, uma vez que, cada um apresenta características próprias
(personalidade, idéias, valores,...) e experiências passadas. No caso destas
empreendedoras percebe-se pelos seus depoimentos preocupações diversas ao
que tange o sistema de gestão, observe:
E1: Primeiro é a minha religião. Eu sou católica e acho que tenho objetivos principais
a serem cumpridos, vivenciados e isto já facilita muita coisa. A primeira coisa é a
ética. Acho importantíssimo a pessoa ter critério para lidar porque o resto é só
acréscimo.
E2: Ele é intuitivo. Não é baseado em nenhuma ideologia, não tem a maior formação
profissional no que diz respeito à administração e gestão. Minha empresa é pequena
e dá para eu conduzir da maneira em que estou fazendo.
E3: O principal é o planejamento para obter resultado porque sem planejamento a
gente não obtém resultados algum.
E4: A ideologia é você estar partindo sempre para o melhor. Procurar fazer e fazer o
melhor.
E5: Eu nunca parei para pensar. Talvez eu tenha isto meio que intuitivamente. Eu
acho que a ideologia seria de que tudo o que você fizer tem que fazer com muita
garra e amor.
E6: Minha ideologia é sempre melhorar. Você tem que melhorar para ter resultados
e satisfação.
E7: Baseia-se na organização do negócio.
E8: Está claro. É motivação de equipe, trabalho de equipe.
E9: Você sempre busca aquilo que te leva a realizar o seu trabalho da melhor
maneira possível. Na condição de agropecuarista existem situações que não são
regras, não tem um modelo certo então você vai se adaptando.
120
E10: Não sei se é uma ideologia pré-estabelecida, mas eu às vezes falo que eu
quero fazer um grande parque, um grande jardim naquela fazenda. Eu acho que é
uma forma de reconstrução e agradecimento à natureza.
O sistema de gestão utilizado pelas mulheres empreendedoras
agropecuaristas apresentou-se bem variado, apenas duas agropecuaristas
utilizam-se do mesmo sistema, as demais apresentaram sistemas diferentes umas
das outras. O sistema de gestão adotado pelas agropecuaristas baseiam-se na(o):
1) religião e ética; 2) intuição; 3) planejamento; 4) melhoria contínua; 5) realização
de um trabalho bem feito; 6) organização do negócio; 7) motivação da equipe de
trabalho; 8) adaptação a mercado; e 9) reconstrução do negócio e meio ambiente.
Participação em associações, cooperativas e sindicatos
O intuito deste tópico é de apresentar quais são os vínculos mantidos pelas
empresas em relação à participação em associações, cooperativas e sindicatos. Na
verdade tais ligações demonstram o interesse da organização manter-se em
constante processo de troca de informações, uma vez que, através das reuniões,
palestras e encontros com outros agropecuaristas é possível avaliar o que está
sendo feito e quais os resultados que podem ser atingidos ou não. Além de estar em
contato com outros produtores e políticas agrícolas, existe também a questão de
atuar em conjunto com cooperativas, ou seja, realizar acordos para ajuda técnica
assim como acordos de comercialização dos produtos oriundos da propriedade. O
quadro 25 sintetiza as informações coletadas sobre o envolvimento com entidades
de classe e cooperativas.
121
Quadro 25: Participação das mulheres agropecuaristas em associações,
cooperativas e sindicatos
Caso Associação Cooperativa Sindicato
E1
Sociedade Rural do
Paraná;
Associação de Mulheres de
Negócios.
COAMO
Sindicato Rural de Londrina
(Pr)
E2
Sociedade Rural do
Paraná;
Associação de Mulheres de
Negócios de Londrina (Pr);
---
Sindicato Rural de Londrina
(Pr);
Sindicato Rural de Nova
Andradina (MT)
E3
Sociedade Rural do
Paraná;
Associação de Mulheres de
Negócios de Londrina (Pr);
---
Sindicato Rural de Londrina
(Pr)
E4
Sociedade Rural do
Paraná; Associação de
Mulheres de Negócios de
Londrina (Pr);
Rotary
---
Sindicato Rural de Londrina
(Pr)
E5
Sociedade Rural do Paraná CATIVA;
VALCOOP
Sindicato Rural de Londrina
(Pr)
E6
Sociedade Rural do Paraná VALCOOP;
NOVA PRODUTIVA
Sindicato Rural de Londrina
(Pr)
E7
Sociedade Rural do
Paraná; Associação Rural
de Centenário do Sul (Pr)
COROL;
COFECATUR.
Sindicato Rural de Londrina
(Pr)
E8
Sociedade Rural do
Paraná;
Sociedade Rural Brasileira
COROL;
COFERCATU;
CATIVA;
CONFEPAR
Sindicato Rural de Centenário
do Sul (Pr);
Sindicato Rural de Alvorada do
Sul (Pr)
E9
Sociedade Rural do Paraná --- Sindicato Rural de Londrina
(Pr)
E10
Sociedade Rural do Paraná COROL Sindicato Rural de Londrina
(Pr)
No que diz respeito ao vínculo com associação constatou-se que das dez
agropecuaristas:
a) todas procuram manter ligação com a Sociedade Rural do Paraná
localizada em Londrina (Pr);
b) 4 participam da Associação de Mulheres de Negócios de Londrina (Pr);
c) 6 já participaram da Associação de Mulheres de Negócios de Londrina
(Pr);
d) 1 pertence à Sociedade Rural Brasileira;
e) 2 estão ligadas com o Rotary ou outra associação.
122
Em relação a cooperativas, foram identificadas as parcerias com a: COAMO,
CATIVA, VALCOOP, NOVA PRODUTIVA, COROL, COFERCATU e CONFEPAR.
Tais cooperativas auxiliam as mulheres empreendedoras agropecuaristas na
produção e no escoamento dos produtos oriundos das atividades (grãos, cana de
açúcar, leite,...), entretanto a venda direta ocorre principalmente em relação ao gado
de corte e palmito.
Comercialização, posição dos produtos no mercado e argumentos de persuasão
Conforme pode ser observado no quadro 26, as empreendedoras que não
estão vinculadas a alguma cooperativa buscam orientação técnica com profissionais
da área e o modo que comercializam seus produtos é através da venda direta, ou
seja, a comercialização é realizada diretamente com frigoríficos ou em leilões. As
agropecuaristas que estão ligadas as cooperativas recebem assessoria de
profissionais das áreas, porém existem algumas que preferem atuar com um
profissional (veterinário ou agrônomo) particular também.
Quadro 26: O modo de produção e comercialização utilizado pelas mulheres
agropecuaristas
Caso Modo de comercialização Quem ajuda na produção e/ou comercialização
E1
Cooperativa; Venda direta; Cooperativa;
E2
Venda direta; Veterinário e agrônomo;
E3
Venda direta; Veterinário;
E4
Indústria; Venda direta; Veterinário e agrônomo;
E5
Venda direta; Indústria; Cooperativa; Veterinário e agrônomo; Cooperativa;
E6
Venda direta; Cooperativa; Veterinário e agrônomo; Cooperativa;
E7
Cooperativa; Veterinário e agrônomo; Cooperativa;
E8
Cooperativa; Veterinário e agrônomo; Cooperativa;
E9
Venda direta; Veterinário e agrônomo;
E10
Cooperativa; Cooperativa;
Após identificar a maneira como são comercializados os produtos da
propriedade, buscou-se identificar como estes produtos estão posicionados no
mercado. Neste aspecto constatou-se que as mulheres agropecuaristas atribuem a
seus produtos o seguinte posicionamento:
123
E1: A gente tenta fazer o melhor, mas existe a competição no mercado que é muito
grande. Você tendo um bom produto você pode se considerar um bom
empreendedor. Estar no comércio é um grande acontecimento.
E2: Eu posso dizer que nós temos um conceito bom tanto do ponto de vista dos
produtos que a gente vende quanto da credibilidade.Todos são confiáveis porque é
de boa qualidade e eventualmente se tiver algum problema a gente vai garantir.
E3: É bem aceito o meu produto no mercado. Procuro melhorar a genética dos
animais.
E4: É um mercado ascendente. Eu espero acompanhar este mercado que a cada
dia cresce mais, tanto para o gado como para o palmito.
E5: Neste negócio é mais ou menos assim, se você produzir um milho ou uma soja
ruim, cheio de impurezas na hora em que você vende na indústria já é feita uma
seleção e a partir daí vai depender da qualidade o preço. Por isso é que eu tenho
procurado colher melhor.
E6: É uma posição relativa, pois quem dá o valor não é você, então fica-se à mercê
do mercado. Não é uma questão de oferta e procura, existe mais oferta do que
procura.
E7: Eu comercializo basicamente tudo com a cooperativa. Não tenho problemas de
colocação.
E8: São bem aceitos apesar de todo produto agrícola ser meio cíclico. Até por isso
esta nossa diversificação.
E9: São bem aceitos porque eu vendo pelo preço do mercado.
E10: São bem aceitos.
De acordo com as agropecuaristas, o posicionamento dos produtos deve-se
principalmente a: 1) qualidade do produto; 2) credibilidade já conquistada pelo
produto; 3) crescimento do mercado; 4) oferta existente no mercado; e 5) preço
praticado. Apenas E7 ressaltou que não tem tido problema de colocação do seu
produto considerando que tudo o que ela produz é absorvido pela cooperativa.
Além de se avaliar qual o posicionamento dos produtos no mercado foram
analisados quais os argumentos de persuasão utilizados pelas mulheres
124
agropecuaristas para convencer as pessoas, cooperativas, etc, a comprarem seus
produtos. Os argumentos foram apresentados como:
E1: Uma das prioridades mesmo deste ramo é a tradição do setor, tanto no gado
nelore quanto no girolando. Tem um passado, transmite credibilidade então fica mais
fácil. A credibilidade é a palavra-chave hoje em dia. Você tem que saber o que está
vendendo e acreditar no que vende.
E2: O melhor argumento é a qualidade daquilo que a gente põe ali para vender, o
que as pessoas conhecem de nosso produto.
E3: O melhor argumento é a pessoa ver o produto e avaliar que realmente é bom.
E4: Estou tendo facilidade na compra. Eu tenho um comprador da minha cria que
tudo o que eu produzo ele compra. E a pupunha nós temos a indústria que compra
tudo o que nós produzimos porque existe falta de matéria-prima.
E5: Eu acho que o melhor argumento é o meu produto mesmo. Se eu produzir bem
eu nem preciso de argumentos.
E6: A própria qualidade do produto.
E7: Eu não utilizo porque entrego a produção na cooperativa e eles é que fazem a
comercialização.
E8: Eu acho que não é muito argumento. É uma coisa que você constrói a imagem.
Nós nunca tivemos problema com fornecedores por causa da qualidade que nós
temos.
E9: Meu argumento é a própria qualidade do produto.
E10: Ali a gente não tem muito argumento. Tudo o que eu produzia já ia direto para
a cooperativa, então quem comercializava era a cooperativa.
O principal argumento de persuasão utilizado por oito das dez
agropecuaristas é a qualidade do produto. Tal afirmação vem de encontro as
exigências que a cada dia têm sido impostas pelo mercado, ou seja, se o produto
não é bem quisto e não possui qualidade está fora do processo de comercialização.
E4 afirmou não utilizar argumentos pelo fato de ter um acordo de fornecimento de
toda a produção de palmito que sai de sua propriedade. E7 também menciona sobre
a não preocupação com a qualidade, tendo em vista que quem se preocupa com isto
é a cooperativa. E10 foi outro caso que também não atribui argumentos de
125
persuasão por ter firmado um contrato com a cooperativa durante 20 anos para que
ela se responsabilize pela produção e comercialização.
Direcionamento dos esforços e metas
Neste tópico buscou-se abordar a respeito do direcionamento dos esforços e
metas, ou seja, quais os aspectos que são considerados no momento da tomada de
decisão no processo de condução dos negócios.Tendo em vista os argumentos que
são utilizados para que os clientes comprem o produto, o estudo analisou a forma
como as mulheres agropecuaristas têm conduzido os esforços ao comandar a
empresa agropecuária. No quadro 27 é apresentada a relação dos esforços.
Quadro 27: Direcionamento de esforços nas propriedades das mulheres
agropecuaristas
Em cada caso em estudo observou-se que os esforços têm sido direcionados
para sentidos diferentes, considerando que as empreendedoras possuem
prioridades diversas em relação a atuação nos negócios. No caso E1 os esforços
estão sendo direcionados para benfeitorias e maquinários, uma vez que sua
fraqueza está concentrada nesta área. E2 se preocupa com a tecnologia porque
necessita estruturar-se melhor a fim de garantir melhores resultados. Além da
tecnologia, atenta-se à área administrativa e aos clientes. A área administrativa está
recebendo esforços a fim de que as informações possam ser buscadas a qualquer
momento, e clientes também recebem atenção porque afinal de contas eles é que
movimentam todo o comércio de produtos e se não forem bem atendidos com
certeza buscarão outro fornecedor.
Caso Direcionamento de esforços Caso Direcionamento de esforços
E1
Benfeitorias e maquinários
E6
Sucesso das atividades
E2
Área administrativa, tecnologia e clientes
E7
Tomada de decisões
E3
Atividade pecuarista
E8
Geração de lucros
E4
Plantio de palmito
E9
Integração do negócio
E5
Para toda a produção
E10
Preservação e reconstraução
126
A agropecuarista E3 direciona seus esforços à atividade pecuarista porque
este é o seu forte, logo necessita buscar conhecimento do que está acontecendo na
área quer a nível de tecnologias bem como comercialização. O direcionamento de
esforços para o plantio de palmito colocado por E4, deve-se principalmente porque é
uma atividade pouco explorada e que tem ganhado mercado de forma
surpreendente. Tal investimento neste setor possibilitará com que E4 aumente a
área plantada e obtenha maiores lucros. A agropecuarista E5, contrária as demais,
se preocupa em direcionar os esforços para toda a produção, uma vez que, existem
em sua propriedade três atividades (plantio de grãos, gado de leite e arrendamento
de pasto para gado de corte).
A busca pelo sucesso das atividades é o esforço pretendido por E6, porém
para que chegue a este resultado considera-se necessários trabalho e dedicação.
Enquanto E6 direciona os esforços para o sucesso das atividades, E7 se preocupa
em tomar as decisões acertadas, ou seja, encontrar alternativas que se encaixem
adequadamente ao seu negócio. A empreendedora E8 direciona seus esforços para
a geração de lucros enquanto E9 pretende integrar o negócio e E10 se esforça para
reconstruir e preservar o meio ambiente.
Para que haja o direcionamento dos esforços é importante que se tenha
metas de atuação, pois elas possibilitam com que se trace todo um plano de ação
para se chegar a determinados objetivos. Assim como em qualquer negócio
buscou-se identificar se as mulheres agropecuaristas acreditam em metas e se as
estabelecem para conduzir suas atividades.
E1: Meta para mim é ter sucesso. Minha meta é essa aí, começar a ter sucesso. A
mola mestra para todos nós.
E2: Eu e meu filho estabelecemos metas e procuramos alcançá-las de forma
razoável. Nada que não se possa atingir.
E3: As metas são fixadas através do planejamento.
E4: Sem metas nós não vamos a lugar nenhum. Nós temos que ter metas para
saber qual caminho trilhar.
127
E5: Estabeleço. Só que a meta que eu estabeleço é de sempre aumentar aquilo que
eu tenho.
E6: Estabeleço. As metas eu estabeleço assim: eu quero ter tantas vacas de cria na
fazenda. Eu estou trabalhando para chegar a este objetivo.
E7: Estabeleço metas por produtividade e sempre quero ter uma produtividade maior
que a do ano passado.
E8: Estamos sempre estabelecendo metas. Nós temos que produzir este ano mais
do que no ano passado.
E9: Procuro estabelecer metas pois elas para mim estão relacionadas aos objetivos
que desejo atingir.
E10: As metas são específicas para cada um. É uma coisa mais relativa à
produtividade.
Enquanto para Dolabela (1999a) meta significa “um objetivo a ser atingido
pelo empreendedor naquele caminho”, para as mulheres agropecuaristas metas
apresentaram outros significados (quadro 28).
128
Quadro 28: Metas nas empresas das agropecuaristas
Caso Metas correspondem a Caso Metas correspondem a
E1
É sucesso.
E6
Estão relacionadas aos objetivos.
E2
São tangíveis.
E7
Direcionam.
E3
São fixadas por intermédio de planejamento.
E8
Direcionam.
E4
Direcionam
E9
São objetivos a serem atingidos.
E5
Forma de crescimento.
E10
São específicas para cada indivíduo.
As metas estipuladas pelas agropecuaristas em suas empresas servem para:
1) obtenção do sucesso; 2) serem atingidas; e 3) direcionarem. Tais metas são
fixadas através de um planejamento prévio e podem variar de indivíduo para
indivíduo. Assim como Dolabela (1999a) descreve meta, E6 e E9 seguem a mesma
linha, ou seja, metas correspondem a objetivos a serem alcançados. Para E5 as
metas são uma forma de crescimento, pois através do cumprimento de uma meta é
possível se traçar metas um pouco maiores e mais difíceis.
Satisfação ao comandar a empresa e fator mais importante para o sucesso da
empresa
Um outro aspecto levantado no estudo com mulheres empreendedoras
agropecuaristas diz respeito à satisfação ao comandar a empresa, ou seja, através
das entrevistas foi questionado sobre qual fator tem contribuído para que a mulher
agropecuarista se sinta realizada em estar a frente dos negócios. A resposta a esta
questão foi apresentada da seguinte maneira:
E1: De perceber o quanto é importante você ser patrão e teu funcionário ficar
ansioso para receber não só a parte monetária, mas também o apoio do patrão. Esta
troca é o mais importante. O patrão que está ali respeitar o funcionário e vice-versa.
E2: Eu acho que me dá muita satisfação saber, perceber e verificar o retorno de um
trabalho realizado.
E3: Ver os resultados e bons resultados. Daí a gente fica mais animada.
E4: A satisfação ao comandar é o resultado final, o lucro. Se não houver lucro você
vai se sentir frustada.
129
E5: Quando você percebe que o quê você planejou deu certo. Ver que funcionou,
está rendendo frutos e que você consegui.
E6: São os resultados. Você vai lá na fazenda, vê a bezerrada nascendo forte e
bonita, tudo correndo bem, o gado melhorando e a fazenda ficando mais
estruturada.
E7: A parceria mantida com os funcionários porque a partir daí o comando passa a
ser algo natural e participativo, onde os funcionários podem participar das decisões
junto comigo mesmo que eu tenha algo em mente.
E8: É atingir o resultado. Por exemplo: você ver um crescimento de produtividade de
área.
E9: Esta realização de integrar. De um ambiente bom de trabalho, lógico que me
dando resultados.
E10: Eu acho que é este contato direto com a natureza, de sentir esta integração.
Eu gosto muito.
A principal satisfação mencionada pelas agropecuaristas está relacionada
com os resultados obtidos, de preferência bons resultados. Esta afirmação de ver os
resultados corresponde em saber que o trabalho foi feito corretamente e que foi
possível atingir o nível de produção pretendido ou fixado anteriormente. Tanto as
mulheres que herdaram as propriedades quanto as que compraram as propriedades
apresentaram o mesmo elemento de satisfação, ou seja, para elas o importante é a
visualização dos resultados a fim de avaliar e melhorar o processo caso haja
necessidade.
Das dez mulheres pesquisadas apenas três demonstraram outro tipo de
satisfação, que diz respeito a: a) importância da relação que é mantida dentro da
propriedade entre patrão e empregado; e b) o próprio contato que é mantido com a
natureza ao estar no comando da propriedade. As empreendedoras E1, E7 e E9
demonstraram preocupação não só com os resultados, mas também com as
pessoas que participam do processo e a relação mantida entre elas e os
funcionários, ao passo, que E8 ressaltou a preocupação com a produtividade da
área cultivada.
130
Não é por acaso que o sucesso acontece nas empresas, ele é reflexo de
certa postura e conduta adotada pelas pessoas que se mantém na direção dos
negócios. Desta forma, na tentativa de identificar qual o fator mais importante do
sucesso da empresa as mulheres agropecuaristas foram abordadas em relação ao
assunto. Cada uma delas expôs sua idéia da seguinte forma:
E1: A responsabilidade eu acho fundamental.
E2: A credibilidade. Isto é em função de um trabalho honesto e bem realizado.
E3: A boa vontade, o incentivo que a gente pode se valer para ter boa produtividade.
E4: O importante é o financeiro. Sem o financeiro você na faz nada. Depois a
qualidade. Sem a qualidade você não entra no mercado.
E5: É você não desistir do negócio. Enfrentar os problemas, resolver os problemas,
ficar a par do quê está acontecendo referente ao negócio e buscar aprender cada
vez mais é muito importante.
E6: Eu acho que é a administração. A empresa deve ser bem administrada.
E7: Para que a propriedade tenha sucesso nós temos que ter lucro. Se não tiver
lucro eu não tenho como mantê-la e dar continuidade às atividades.
E8: Primeiro é você ter objetivos bem definidos e depois é toda está motivação de
pessoal. Neste trabalho de equipe é importante a parte de tecnologia, estar muito
bem amparado nisto aí. Ter um bom assistente, um bom agrônomo que nos
acompanhe e veja o que nós conseguimos no ano passado e neste ano tem que ser
melhor.
E9: A qualidade do negócio, a qualidade do que se faz.
E10: A disciplina. Você acreditar que é aquilo que você tem que fazer.
Os fatores apresentados pelas agropecuaristas resumem-se em: 1) Trabalho
realizado com responsabilidade; 2) Dedicação ao negócio; 3) Manter-se estabilizada
financeiramente; 4) Enfrentar os problemas de frente; 5) Buscar aprender cada vez
mais; 6) Administrar bem o negócio; 7) Traçar objetivos bem definidos; 8) Manter a
motivação do pessoal; 9) Utilizar tecnologias; 10) Trabalhar com pessoas
qualificadas; 11) Oferecer produtos de qualidade; e 12) Manter a disciplina.
131
As recomendações apresentadas pelas agropecuaristas, a quem deseja
iniciar um negócio e obter êxito foram resumidas como:
E1: Ser persistente com seus objetivos a fim de que estes realmente possam sejam
alcançados. Para que se tenha sucesso nos negócios, em primeiro lugar é
importante que a pessoa tenha ética, isto é, que respeite o ser humano sendo um
grande empreendedor e se responsabilizando pelos seus atos.
E2: A utilização de tecnologia é importante. Você tem que trabalhar com
determinação a fim de que venha a ter credibilidade naquilo que você faz. Eu vejo
uma pessoa bem-sucedida como aquela que saca, que tem uma idéia brilhante e vai
em frente. Eu acho importante a imaginação nisto, mas é fundamental ter os pés no
chão. Só a imaginação não basta.
E3: Para se obter sucesso é importante que a pessoa seja honesta, confiável e
trabalhe corretamente além de trabalhar com pessoas confiáveis e que tenham
conhecimento na área em que vá atuar. Saber deslumbrar novos horizontes de
maneira que atue realmente como uma pessoa empreendedora sem medo do que
possa ocorrer futuramente.
E4: Buscar sempre aprender cada vez mais sobre aquilo em que deseja atuar.
E5: Primeiro, ter conhecimento sobre a área em que tem interesse em estar
atuando. Segundo, a organização pois sem organizar não tem como trabalhar.
E6: Para ter sucesso é importante muito trabalho, dedicação e amor ao que se faz. E
acreditar ser capaz de realizar as mais difíceis tarefas sem medo de enfrentar.
E7: Estude muito o mercado antes de começar.
E8: Buscar apoio de técnicos capazes e experientes. Se preocupar com inovação
todo o ano, pois há um avanço muito grande em relação a máquinas e tecnologias.
Preparar os funcionários, ou seja, buscar reciclar o conhecimento que eles têm.
Buscar trabalhar motivando o funcionário não só financeiramente, mas também
possibilitando que eles tenham condições de vida adequadas e mostrando que “eu”
apenas gerencio a propriedade e eles é que são os responsáveis por toda a
produção. Se eles produzirem mais, maior será a participação nos lucros. Trabalhar
com funcionário que realmente goste do que faz e que trabalhe de acordo com os
objetivos do proprietário. Enxergar o sítio não apenas como uma propriedade rural,
132
mas como uma empresa que necessita ser estruturada e muito bem controlada,
principalmente na área financeira.
E9: Muita determinação para realizar um negócio bem feito.
E10: Muita disciplina, perseverança e fé. Acreditar naquilo que você está fazendo
Observando o que foi apresentado por cada mulher agropecuarista verifica-se
que para atuar nos negócios inicialmente é importante que exista identificação com
aquilo que se vai fazer, ou seja, que realmente goste daquilo. Em segundo lugar,
vem o conhecimento sobre o negócio e o aprendizado por parte do indivíduo que
deseja atuar em determinado setor, quer seja urbano ou rural. A estruturação do
negócio corresponde a uma fase onde é feita toda uma análise do que é necessário
para começar as atividades, aí entra estrutura física, parte financeira, pessoal,
equipamentos, matérias entre outros. Buscar pessoas qualificadas e comprometidas
com a participação do negócio possibilitará com que o futuro(a) empreendedor(a)
tenha condições de traçar metas e objetivos e alcançá-los, desde que se trabalhe
muito, haja dedicação por parte de todos e organização na execução das tarefas.
Munir-se de tecnologia faz parte do processo, considerando que diariamente
existem novas invenções e aperfeiçoamento de técnicas possibilitando com que
ocorra um aumento de produtividade e melhor qualidade dos produtos. O que
adianta trabalhar por trabalhar sem se preocupar com as exigências que são
apresentadas pelo mercado? Quem irá comprar um produto de má qualidade ou
sucateado? Diante destes fatos, o futuro empreendedor deve manter-se informado
continuamente sobre o que tem de novo no mercado, participando de feiras, eventos
de sua área, cursos e palestras, além de buscar assessoria de pessoal que possam
auxiliá-lo na condução dos negócios. No caso do setor agropecuário, os dirigentes
das propriedades devem se alertar sobre o fato de estarem trabalhando com um
pessoal menos instruído e qualificado. Logo, deve haver a integração entre os
profissionais qualificados e os funcionários a fim de que possam ser trocadas
informações sobre a melhor maneira de trabalhar, tanto na agricultura como na
pecuária. Isto é o chamado trabalho em equipe, onde existe participação de todos no
processo produtivo tanto a nível de conhecimento técnico quanto de mão-de-obra,
133
ou seja, a parceria entre os indivíduos que estão diariamente em contato com a terra
ou animais.
Além de todo o aparato técnico e financeiro, existe o fator motivacional que
possibilita com que os indivíduos se sintam motivados a participar do processo.
Manter pessoas motivadas exige com que o empreendedor tenha certa habilidade
de relacionar-se, pois cada ato ou palavra poderá auxiliá-lo ou não na obtenção da
lealdade e credibilidade dos funcionários. Iniciar um negócio exige persistência,
determinação, perseverança e disciplina, somente mantendo a mente aberta para o
aprendizado e trabalhando muito é que se poderá algum dia atingir sucesso nos
negócios.
“Empreendedores de sucesso nunca param de aprender” (Filion, 1999b), ou
seja, o processo de aprendizagem deve ser contínuo e freqüentemente uma forma
bem detalhada de monitoração-reflexão-digestão do que está acontecendo para que
se atinja determinada posição ou objetivo.
134
CONCLUSÃO
Através deste estudo constatou-se que as agropecuaristas são mulheres cuja
idade encontra-se localizada na faixa etária de 43 a 63 anos, com estado civil
casada, viúva ou separada e com a média de três filhos. São descendentes de
espanhóis, italianos, portugueses e/ou árabes. Em grande parte dos casos, a
ocupação anterior não se relaciona com a atividade atual, considerando que as
ocupações anteriores apresentadas foram as de professora e do lar, seguidas pela
atividade empresarial, administrativa e arquitetura com menor freqüência.
O contato com o setor agropecuário deve-se em grande parte ao contato que
mantiveram desde a infância com o setor, ou seja, por seus pais
7
terem
permanecido ligados à atividade, tanto como proprietários ou colaboradores. É
válido ressaltar que o convívio com este setor não é algo recente, mas algo que tem
passado de geração em geração, uma vez que, são propriedades oriundas de outra
geração (bisavós, avós, pais ou tios) e que em grande parte dos casos estudados se
mantém até os dias atuais. A atuação neste setor não se baseia exclusivamente na
realização pessoal, percepção de oportunidade de mercado ou falta de perspectivas
de carreira, como foi apresentado por Gimenez et al (2000), mas, sobretudo como
mecanismo de continuidade das atividades desenvolvidas nas propriedades.
É possível afirmar que tanto a ocupação dos pais quanto a dos maridos,
interferiram muito neste processo de inserção, principalmente quando se trata de
empresas familiares, onde a posse das propriedades é repassada de pais para filhos
e exige que filhos e esposas(os) as gerenciem futuramente. Desta forma, verificou-
se que as propriedades são obtidas principalmente por intermédio de heranças,
embora em alguns casos exista a opção pela aquisição através da compra, o que foi
observado em alguns casos estudados anteriormente. Tais posturas vêm ao
encontro de Filion (1991) apud Dolabela (1999b), Dolabela (1999b) e Gimenez et al
(2000), que trabalham com a questão de modelos de atuação, ou seja, pessoas que
servem como espelhos de atuação nos negócios. Neste estudo verificou-se que nos
7
Oriundos de famílias pioneiras no Paraná, cujas etnias são: espanhola, italiana, árabe e portuguesa
e que se dedicavam à atividade agrícola, como produtores ou como comerciantes.
135
casos em que a mulher não teve pais ou parentes, donos de propriedades o que
aconteceu foi que seus maridos o eram, contribuindo assim para a inserção neste
tipo de atividade. Em sete casos, os modelos de atuação concentram no nível
primário e apenas três, no nível secundário.
Assim como apresentado por Gimenez et al (2000) para o início das
atividades, o principal recurso financeiro utilizado foi o capital próprio, em apenas um
dos casos foi citado o empréstimo bancário, tendo em vista que o capital que
possuía na época não era suficiente para um investimento eficaz na propriedade,
principalmente por se tratar do plantio de palmito. A formação profissional das
agropecuaristas concentra-se em seis dos casos em nível superior, entretanto
verifica-se que os cursos não são direcionados especificamente à atividade rural.
Apenas em dois casos constatou-se a especialização em cursos como Engenharia
de Alimentos e Administração Rural, que servem de suporte às atividades
agropecuárias. Tais mulheres aprenderam através de pessoas que já atuavam na
atividade (parentes e/ou funcionários) e o conhecimento que possuem provém de
cursos oferecidos por alguns órgãos de apoio à atividade agropecuária (Sociedade
Rural do Paraná, IAPAR, EMATER, cooperativas e outros), ou seja, existe todo um
pessoal que oferece suporte técnico à execução da atividade. Além do apoio de
instituições e órgãos específicos na atividade, existe também a colaboração dos
filhos que assessoram a mulher empreendedora agropecuarista, nas ocupações de
agrônomo, veterinário e/ou administrador da fazenda. Na verdade, os filhos destas
agropecuaristas principalmente os que já estão engajados em profissões próprias do
setor, além de colaborarem com a empresa-familiar estão se preparando desde cedo
para assumir quando necessário o comando das propriedades que algum dia
8
estarão em suas mãos.
Os fatores que mais influenciaram na atuação das mulheres no setor
agropecuário, diz respeito a determinados fatos que ocorreram em suas vidas: a
separação, viuvez, morte dos pais, realização pessoal e necessidade de ocupação.
Entretanto verifica-se que não houve preocupação em se planejar a atuação,
136
fazendo com que em um momento inesperado diversos membros da família (tio,
marido e/ou filhos) passassem a colaborar na condução do negócio. A questão das
dificuldades encontradas por estas mulheres é algo importante de ser destacado,
principalmente por terem se inserido em um setor tradicionalmente masculino que
discrimina a atuação das mulheres, considerando-as despreparadas e incapazes de
executar e gerenciar as atividades no setor. Apesar das dificuldades destacadas nos
depoimentos das agropecuaristas, as entrevistadas consideraram capazes de
assumir os negócios apresentando um conjunto de vinte características que refletem
suas personalidades na condução dos negócios.O principal valor terminal que as
orientam é a segurança familiar, uma vez que, entre elas recaem as
responsabilidades pelo cuidado com os filhos e a manutenção da estrutura familiar.
O trabalho das mulheres agropecuaristas é caracterizado principalmente
como o trabalho administrativo, onde a mulher elabora todo um plano de atuação e
produção, e atua lado a lado (contato diário) com os colaboradores de forma que
exista a colaboração e vontade de crescer junto com os objetivos propostos. Há
preocupação por parte das entrevistadas em fazer com que os colaboradores
participem dos mesmos objetivos, metas e sonhos que são traçados para a
empresa. Em alguns casos estudados os colaboradores são os parceiros do
negócio. Entre as entrevistadas, 50% dos casos há dedicação exclusiva a atividade
agropecuária, enquanto para os outros 50% a preocupação e o tempo é
compartilhado com outra atividade empresarial. Para manter o controle do que corre
nas propriedades, as mulheres buscam ir sempre que possível às propriedades, e
quando não possuem pessoas que as mantêm informadas do que ocorre por lá.
A aposentadoria não é considerada de extrema importância, pois a atuação
no setor agropecuário é tida mais pelo aspecto de realização pessoal e satisfação do
que como uma obrigação. Na verdade, as propriedades são tidas como lugares de
encontro entre diversas gerações, ou seja, é o local no qual as pessoas vão para se
sentir bem, estando em contato com a natureza e animais. Férias sim, são
consideradas importantes, pois possibilitam com que o indivíduo tenha um período
8
Está afirmação se relaciona com a faixa etária no qual as mulheres agropecuaristas entrevistadas
estão inseridas, entre 46 e 63 anos, ou seja, ainda há tempo para a próxima geração se preparar
137
de descanso, entretanto nas entrevistas verificou-se a preocupação não só com as
férias das agropecuaristas como também com as dos colaboradores e seus filhos.
O estilo de gerenciamento adotado pelas agropecuaristas se refere a melhoria
contínua, firmeza na condução dos negócios, utilização da percepção, bom
relacionamento com os colaboradores, utilização da tecnologia (processos), trabalho
em equipe e conservação do meio ambiente. Desta forma, buscam diferenciar-se
não só em relação à atividade em si, mas no relacionamento com clientes e
fornecedores. O dinheiro não é visualizado como o principal indicador de
desempenho, mas como uma das variáveis que demonstram que o trabalho está na
direção certa. Empreender corresponde mais ao processo de ver bons resultados,
enfrentando para isto os desafios e dificuldades decorrentes da atividade, do que a
simples atitude de apenas visualizar lucros. Somente por intermédio da organização,
conhecimento e busca de novos nichos de mercado é que o indivíduo poderá ver em
seu trabalho, resultados satisfatórios não só em relação aos objetivos
organizacionais como ao que diz respeito aos objetivos individuais (próprio e dos
colaboradores).
A liderança é vista pelas agropecuaristas como algo que surge de forma
natural, mais como forma de respeito do que liderança mesmo, ou seja, os
funcionários respeitam a mulher agropecuarista porque ela se encontra em posição
de comando e gerenciamento das propriedades e em determinados momentos até
duvida de sua capacidade, principalmente nos primeiros tempos de atuação onde as
dúvidas são freqüentes e a experiência inexistente. Somente com o passar do tempo
é que os funcionários passam a respeitar a mulher como dirigente da propriedade
agropecuária, por duvidarem da capacidade de comando que ela possuem.
Características como: persistência, organização, honestidade, confiança,... são as
apresentadas pelas agropecuaristas que podem auxiliar na condução dos negócios,
tendo em vista que o trabalho realizado necessita de qualidade e comprometimento
não só por parte do(a) proprietário e/ou dirigente, mas sobretudo da equipe de
trabalho que auxilia no processo de produção e transformação. As entrevistadas
destacaram a importância da parceria com os funcionários, a fim de que o trabalho
para o comando e gerenciamento da(s) propriedade(s).
138
seja desenvolvido com base na troca de informação, experiências passadas e
delegação de poder, de forma que os resultados alcançados melhorem com o
passar dos anos.
Além do envolvimento com colaboradores, as entrevistadas demonstraram a
preocupação em trabalharem com suporte técnico, tendo em vista que não são
especialistas no assunto. Dá-se grande importância às relações com agrônomos,
veterinários e outros profissionais que as auxiliam na condução do negócio
agropecuário. Tais profissionais fornecem o conhecimento teórico, bem diferente do
conhecimento generalizado que as mulheres agropecuaristas possuem a respeito do
próprio negócio. As mulheres entrevistadas buscam trabalhar com as informações
de modo que tenham condições de se manterem informadas do tipo de atividade
que está sendo desenvolvida na propriedade, bem como das necessidades
existentes na atividade ao qual se dedica. Tal controle geralmente se dá
regularmente pela presença física e quando não, pelo contato telefônico, presença
de administrador ou gerente além de relatórios e balancetes de atividades
desenvolvidas. O controle de informações não é realizado somente em horário pré-
estabelecido para a execução dos trabalhos nas propriedades, mas em outros
períodos também. Este diferencial se dá principalmente, porque a atividade agrícola
e pecuária não segue a carga horária dos grandes centros, ou seja, o trabalho é
realizado de acordo com as condições climáticas e a necessidade de cada
propriedade agropecuária.
O trabalho realizado pelas mulheres agropecuaristas nas propriedades é tido
como fonte de vida e incentivo para continuar caminhando, de forma que a maioria
das entrevistadas não anseia muito pela aposentadoria. Estar trabalhando no meio
rural tem um significado muito especial porque o estar trabalhando não é uma
obrigação, mas um gosto, uma forma de manter aquilo que foi herdado e que poderá
ser repassado às próximas gerações. Entretanto percebe-se que as agropecuaristas
buscam trabalhar de forma que tenham condições de melhorar e aperfeiçoar a
atividade, utilizando para isto de conhecimento técnico adequado além de
acompanhar as exigências do mercado, fazendo com que seus produtos sejam
aceitos principalmente pela qualidade. A utilização da imaginação e intuição permite
139
com que se identifique uma oportunidade de mercado, possibilitando que seja feito
um investimento em uma nova técnica e até mesmo em um novo produto.
A busca do aprendizado contínuo foi algo mencionado pelas agropecuaristas
como mecanismo de crescimento, considerando que somente através do
aprendizado é que o indivíduo tem condições de desenvolver sua criatividade e
buscar meios de fazer com que seus sonhos se tornem realidade. Para que isto
ocorra em primeiro lugar é necessário que saiba onde se deseja chegar para que
depois, se elabore um plano de atuação e busque recursos, não só financeiros como
humanos, para a concretização e realização do projeto de negócio. O trabalho do
empreendedor é um trabalho diferente dos demais, pois exige disciplina, motivação
e identificação com o negócio. Através deste comportamento do empreendedor é
possível que problemas oriundos da atividade possam ser solucionados sem muita
dificuldade, facilitando assim a administração dos negócios. As entrevistadas
utilizam-se de diferentes sistemas para solução dos problemas, principalmente por
ser tratar de um contexto no qual existe o envolvimento de pessoas, ou seja, as
reações são diferentes a determinadas situações. Quem teria gosto ou disposição
para trabalhar em um setor com o qual não se identifica? Como seriam os
resultados?
É justamente este ponto que vale a pena ressaltar sobre as mulheres
agropecuaristas. As mulheres deste estudo se encontram inseridas neste setor
porque durante o processo de crescimento e socialização houve o contato com o
meio, ou seja, foram criadas neste meio e quando receberam as propriedades não
recearam em conduzí-las. Mesmo com algumas dificuldades, principalmente a de
estruturação do negócio e conhecimento sobre o negócio, não desistiram de
administrar e conduzir as atividades. O que fizeram foi buscar o suporte técnico
necessário e alguns cursos que possibilitassem com que pudessem estar lado a lado
com a equipe de trabalho, exigindo participação, comprometimento e produção, não
só visando os lucros, mas se preocupando, sobretudo com o capital humano e a
modo de produção empregado nas propriedades agropecuaristas.
140
Algumas limitações podem ser destacadas no estudo, em primeiro lugar a
dificuldade em se diferenciar dentre as entrevistadas as que realmente são
empreendedoras e as que apenas gerenciam os negócios. Tal dificuldade pode
estar vinculada a omissão de algumas informações que poderiam ser a chave de
análise do assunto. Outro ponto a ser ressaltado diz respeito a própria falta de
conhecimento por parte de algumas agropecuaristas do que venha a ser o
empreendedor, que faz com que elas mesmo não sejam empreendedoras se
considerem como tal. Seria interessante que se adotasse uma metodologia de
trabalho que permitisse com que estas agropecuaristas fossem avaliadas com certa
freqüência, a fim de identificar se houve alguma mudança de comportamento em
relação ao “gerenciamento” das propriedades, ou seja, inovações, novos métodos
de trabalho, entre outros – foram implantados e avaliados freqüentemente ou
permanecem constantes.
Tendo em vista que este estudo abordou um certo segmento da sociedade -
as agropecuaristas do município de Londrina (Pr) – deve-se atentar os resultados
aqui apresentados não podem ser generalizados a todos os casos de mulheres
agropecuaristas existentes. Estes resultados são válidos dentro da amostra
estudada, servindo como base para que pesquisadores e estudantes desenvolvam
estudos semelhantes e mais complexos no setor. Um estudo com um número maior
de agropecuaristas
9
possibilitaria que as informações obtidas complementassem as
coletadas neste estudo e aos poucos delineasse o comportamento gerencial e
empreendedor das mulheres não só de um município como do Estado e da Nação,
tendo em vista que existe carência de trabalhos que foquem a questão do
Empreendedorismo Feminino no meio rural. Futuros trabalhos poderão abordar
questões como: 1) o tamanho da área cultivada; 2) controle financeiro da
propriedade rural; 3) a manutenção e conservação do meio ambiente; 4) o
agronegócio brasileiro; além de 5) traçar um plano de negócios para quem tem
interesse em atuar neste setor, não só como produtor, mas também utilizando a
propriedade para o turismo rural.
9
Como foi o trabalho realizado por Moore (1997) com 129 mulheres norte-americanas
empreendedoras (Machado, 2000).
141
Apesar da abordagem em torno da dimensão origem ter focado o porquê das
mulheres estarem inseridas neste meio, constatou-se que ficam algumas dúvidas a
respeito da inserção no setor agropecuário, principalmente por se tratar de mulheres
que passaram a atuar nas propriedades devido ao recebimento de heranças de
familiares. Este ponto abre espaço para que outros estudos abordem a questão da
origem, a fim de identificar outras formas possíveis além da herança para que a
mulher atue neste setor. Neste estudo percebeu-se que grande parte das mulheres
foi forçada a assumir as responsabilidades de condução e gerenciamento das
propriedades. Seria importante avaliar não só a postura destas agropecuaristas,
como também a de mulheres que optaram pela compra das propriedades como
forma de investimento e crescimento pessoal e profissional. Outra questão a ser
trabalhada poderá estar enfocando as diferenças regionais, que podem estar
contribuindo para que cada vez mais um número maior de mulheres atue no
gerenciamento de propriedades rurais, não só como proprietárias, mas como
administradoras.
Caberia aqui colocar que todas as informações obtidas junto as
agropecuaristas tiveram autorização de serem divulgadas, principalmente por se
tratar de um trabalho de cunho acadêmico e que poderia estar trazendo colaboração
não para o conhecimento científico como para a sociedade em geral. Algumas
adaptações foram necessárias até mesmo por questão de tempo e espaço
disponível para debate, bem como para adequação aos tópicos discorridos durante
as entrevistas.
142
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151
ANEXOS
152
ANEXO 1: ROTEIRO DE ENTREVISTA
* Faça uma breve caracterização pessoal abordando: Nome, idade, estado civil, nº
de filhos, escolaridade e ocupação atual.
Origem
1. Fale um pouco sobre as suas origens, sua família, pais tios e primos.
Existe algum empresário em sua família?
Tem alguém como modelo?
O que seus pais fazem?
Você poderia falar um pouco sobre sua formação?
Foi boa aluna? Gostava de estudar? Como você aprende
mais?
Qual sua ocupação anterior? Quanto tempo permaneceu dela?
Conceito de Si
2. Como você se vê como pessoa?
Quais na sua opinião são as características pessoais mais
importantes para a sua empresa?
Quais são seus valores terminais (mais importantes) ?
(vida confortável, mundo excitante, mundo de paz, senso de
realização, mundo de beleza, igualdade, segurança da família,
liberdade, felicidade, harmonia interior, maturidade no amor, segurança
nacional, prazer, salvação, amizade verdadeira, sabedoria,
reconhecimento social, auto respeito, ...).
Visão
3. Como surgiu a idéia de ser empreendedora?
O que a levou a se tornar empreendedora? (realização
pessoal, perda de emprego, crise pessoal (separação), conflito
em sociedade anterior, falta de perspectiva na carreira
anterior, percepção de oportunidade de mercado,
terceirização, mudança de cidade, outras)
4. Como é que sua empresa começou?
153
De que forma você iniciou seu negócio? (Herança, compra,
fundação, franquia, outros)
Qual a fonte dos recursos utilizados para a abertura do
negócio? (capital próprio, empréstimo familiar, empréstimo
bancário)
Você pensou sobre isso por muito tempo antes de realmente
começar o negócio? Já havia considerado a possibilidade de
abrir um negócio como uma opção de vida?
Conte-me sobre seus primeiros tempos de empreendedora
O trabalho como empreendedor
5. Como você identifica uma oportunidade?
6. Como você aprende hoje? Têm um método próprio?
7. Tem um sistema para a solução de problemas?
8. Como lida com o fracasso?
9. Qual é o seu trabalho na empresa?
Quais são as áreas onde você gosta de se concentrar?
Você se envolve com a rotina, com as operações do dia-dia?
Você tem quantas pessoas que se reportam a você? Você
delega?
Você tem parceiros no negócio?
Você é membro de grupos/conselhos de outras companhias?
Você tem uma secretaria?
10. Como é que você obtém informação sobre o que está acontecendo na
empresa, e como é que você controla as coisas?
Energia
11. Quantas horas você trabalha por dia? Sábado, Domingo?
Você tira férias?
Você pensa em se aposentar?
154
Relações
12. Qual a importância que você dá às relações internas e externas na
empresa? Quais contatos são mais importantes: fornecedores, clientes,
pessoas de influência?
Liderança
13. Como você faz com que as pessoas realizem seu sonho?
14. Como você descreveria a si próprio como líder da sua empresa?
Você poderia explicar como sua equipe se desenvolveu?
Quais métodos você desenvolveu para encorajar as pessoas a
serem mais criativas?
O que você diria que é diferente na maneira como você
comanda seus negócios?
Para onde você direciona seus esforços ao comandar a
empresa?
Você vê as coisas de forma diferente, mudou o seu estilo de
gerenciamento desde que fundou sua empresa?
O que lhe dá mais satisfação ao comandar uma empresa?
O que você pensa sobre o poder como instrumento de
comando?
Criatividade e imaginação
15. O que você acha do erro? Como trata os colaboradores que erram? A
sua empresa erra muito?
16. O que é que lhe dá mais prazer no processo de empreender? O que é
que o torna criativo?
17. O quanto você diria que a imaginação é importante para o sucesso?
18. O que é intuição para você? Qual a importância da intuição no seu
negócio?
19. Como você lida com a incerteza e ambigüidade?
155
A empresa
20. Você como empreendedora participa de alguma entidade de classe ou
associação?
21. Quantos são os colaboradores em sua empresa? Quais as funções?
22. Qual o fator mais importante para o sucesso da sua empresa?
23. Quais são as principais potencialidades e fraquezas de sua empresa?
24. Você utiliza consultores e outros profissionais, como advogados?
25. Quais critérios você utiliza na seleção de pessoal?
26. Fale de seu sistema de gestão. Ele é baseado em alguma ideologia?
27. Você tem descrição escrita dos trabalhos e políticas da empresa?
28. Você estabelece metas?
29. Qual é a posição de mercado dos seus produtos/serviços?
30. Quais argumentos você utiliza para persuadir os clientes a comprar os
seus produtos?
Encerramento
31. O que você diria a alguém que está pensando em iniciar um negócio?
32. Há algo mais que você gostaria de dizer, que nós não abordamos?
Agradecimentos
“Muito obrigado pelo tempo que me foi concebido. Espero que esta entrevista não tenha sido
totalmente inútil para você e que tenha sido um momento de reflexão”.
Filion (1991), Timmons (1994).
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