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Portanto, com o propósito de construir o caminho que, ao mesmo tempo, une
e separa saber inconsciente de saber constituído, optamos por realizar uma breve
exposição do processo de constituição do sujeito, tentando associar cada um de seus
tempos lógicos ao esquema proposto por Dunker (2004)
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, visando abordar o saber
em suas diferentes dimensões: como meio de gozo, alienação, separação e laço
social, compreendendo, respectivamente, a entrada do sujeito na linguagem, na fala,
na escrita do gozo e no discurso.
Deste modo, somos referidos a um tempo mítico, referente à fase pré-edípica
do processo de estruturação psíquica, a fim de verificarmos como se dá a entrada do
sujeito no campo da linguagem.
Calligaris (1986) aborda essa questão apontando para a existência, neste
momento, de uma heterogeneidade entre o que ele demarcou como sendo o campo
do Outro e o campo do sujeito, circunscrevendo uma problemática à qual o conceito
de estrutura vem a responder – por meio da construção do fantasma, no que
concerne ao seu eixo imaginário, e do sintoma, no que se refere à dimensão
simbólica.
No que tange ao Outro, estaríamos frente ao campo da linguagem, do qual se
pode dizer que “Isso fala”, condição que, por si só, traz como conseqüência a
suposição de um saber que se representa na hipótese de que “Isso deseja”, o que não
implica ainda na existência de um objeto como alvo desse desejo, já que para haver
objeto, faz-se necessário que antes o desejo se transforme em demanda.
Por ora, pode-se inserir neste contexto a noção de saber como meio de gozo,
à medida que ele se introduz como substrato da incidência do significante,
produzindo um ponto de perda, configuração que designará, em termos lacanianos, o
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Dunker, C.I. L. Esquema apresentado na ocasião do Exame de Qualificação. Universidade de São
Paulo. São Paulo, Agosto/2004.